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Negociação entre Mahmud Abbas e Benjamin Netanyahu é complexa

Princípio fundamental e inegociável de qualquer acordo: que se


reconheça final e definitivamente que Israel é o legítimo estado do
povo judeu – o único no mundo, no único lugar em que pode existir.

Artigo de Paulo Geiger

A questão da negociação com o presidente da Autoridade Palestina Mahmud


Abbas é complexa: por um lado, hoje ele é oficialmente o único interlocutor
palestino legitimado a negociar com Israel um acordo de paz; por isso não
pode e não deve ser descartado ou desautorizado, na esperança de que tal
negociação realmente leve à solução de dois estados para dois povos, com
reconhecimento mútuo e definitivo, convivendo em paz e segurança. Junto
com isso, e por outro lado, não se pode esquecer que: a) Abbas esteve
intimamente ligado a Arafat e à visão de Arafat, expressa na Carta Palestina
de 1964 (antes da guerra de 1967 e da ocupação, quando Israel existia
dentro das fronteiras do armistício de 1949), que dizia que toda conquista
palestina seria apenas um passo na direção do objetivo final – o fim de
Israel como estado judaico e sionista. Até hoje, Abbas recusa-se ao
compromisso de, mesmo num acordo de paz, reconhecer Israel como
estado judaico, abrindo assim caminho para, no futuro, sob a simpática
denominação de ‘estado binacional’, seguir rumo ao objetivo final de um
estado árabe (e muito possivelmente islâmico) com minoria judaica; b)
Abbas tampouco abriu mão do chamado ‘direito de retorno’ de milhões de
descendentes de refugiados palestinos não para o estado palestino, mas
para dentro de Israel, o que por si mesmo, por razões demográficas, levaria
ao fim de Israel como estado judaico, confirmando a posição de Arafat em
Camp David, que recusou a oferta de Barak de devolver 95% dos territórios
e a de um acordo quanto a Jerusalém; c) Abbas é obrigado a levar em
conta as posições do Hamas e outros movimentos islâmicos palestinos, que
recusam explicitamente qualquer reconhecimento de Israel como estado
judaico, advogam claramente o fim do estado judaico, por quaisquer meios,
e continuam a praticar o terrorismo e a atacar a população civil de Israel
com mísseis e tentativas de atentados; d) no plano interno, enquanto o
discurso oficial em inglês é ‘moderado’, Abbas honra e homenageia
extremistas e terroristas palestinos, que causaram a morte de dezenas e
centenas de civis israelenses em atentados.

A simples análise histórica do conflito, das declarações e atos das lideranças


árabes e palestinas ao longo de décadas, do comportamento dos governos e
da sociedade israelenses nesse mesmo período, leva à inquestionável
conclusão de que a ocupação de territórios por Israel e consequente
impedimento de uma solução nacional para os palestinos não é a causa do
conflito, mas a sua consequência. Desde o início as lideranças judaicas e
depois os governos de Israel aceitaram o princípio de dois estados na
Palestina, um judaico e outro árabe palestino. A visão estratégica dos
palestinos sempre foi a da negação de um estado judaico na Palestina. Essa
visão estratégica não mudou. Para uma parte das lideranças palestinas (não
para o Hamas e extremistas islâmicos, que continuam a praticar o terror e a
anunciar abertamente, com o apoio do Irã e do Hizbolá, a destruição do
‘estado sionista’ de Israel) mudaram algumas táticas (negociações em vez
de terror e confronto armado), que nessa visão devem levar ao mesmo
resultado: a deslegitimação de Israel, o fim do estado judaico, a negação do
direito do povo judeu de ter seu próprio estado na terra onde nasceu e se
estabeleceu há mais de 3.000 anos

Por tudo isso, ao mesmo tempo em que não se pode deixar de negociar
com Abbas como única tentativa de se chegar a um acordo de paz que leve
ao estabelecimento de um estado palestino ao lado de Israel, com
reconhecimento mútuo e convivendo em paz, os princípios fundamentais e
inegociáveis de qualquer acordo devem ser: a) que reconheça final e
definitivamente que Israel é o legítimo estado do povo judeu, o único no
mundo, no único lugar em que pode existir; b) que o estado palestino seja
desmilitarizado, em vista da própria posição estratégica de Abbas (recusa
em reconhecer a existência de um estado para o povo judeu), e da
precariedade de sua posição como líder palestino, ante a possibilidade de
assunção ao poder pelo Hamas, com interferência do Hizbolá e do Irã, entre
outros, explicitamente comprometidos com a destruição de Israel como
estado judaico; c) que descarte a possibilidade de que milhões de palestinos
tenham o direito de se instalar em Israel, estabelecendo na prática um
‘estado binacional’ que logo deixaria de ser um estado do povo judeu; d)
que admita medidas de segurança que garantam a Israel fronteiras seguras
não só na retórica dos acordos, mas na realidade do dia a dia.

Todas as outras questões, como certas áreas em Jerusalém, os


estabelecimentos judaicos nos territórios, o controle do vale do Jordão como
necessidade da segurança israelense, o muro de proteção contra incursões
terroristas, a cooperação econômica, os prisioneiros palestinos em Israel,
tudo pode ser resolvido em negociações e não deve ser pretexto a priori ou
condição prévia que impeça negociações.

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