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Augusto de Franco
Essa foi a tônica das manifestações de boa parte dos representantes dessa
geração nos últimos 30 anos, do alinhamento político-partidário ou eleitoral
no Brasil às mobilizações de Seattle. Tratava-se, então, não mais de liberar
as forças criativas e empreendedoras dos cidadãos, mas de colocar um freio
na desregulação que ensejava a desmesurada acumulação de poder
econômico e político por parte dos novos e impiedosos atores globais.
Tratava-se, portanto, não de trabalhar pela an-arquia e sim de produzir
superavits de ordem top down, a partir de estruturas centralizadas de
comando-e-controle, sempre segundo uma lógica política adversarial,
deslizada da arte da guerra e inegavelmente autocrática.
Mas a nova época, cuja gestação sua miopia não permitia entrever, não era,
por incrível que pareça, a da disputa pelos rumos da globalização e sim a da
efetiva trama subterrânea da glocalização. Não era a do surgimento das
novas potências no chamado terceiro mundo em contraposição ao poder do
Império (nem a desse outro besteirol designado pela sigla BRIC), como
novos atores no cenário global, supostamente mais comprometidos com a
erradicação da pobreza e das desigualdades (e que poderiam, com boa
vontade e uma overdose de proselitismo ambiental, ser convertidos à luta
contra o aquecimento global), mas a da emergência da sociedade em rede.
Uma sociedade cada vez mais pulverizada e mais desorganizada (segundo
os velhos padrões de ordem top down), porém cada vez mais
interconectada, distribuída e clusterizada (em miríades de novas
comunidades sócio-territoriais, setoriais ou temáticas, de prática, de
aprendizagem e de projeto). Uma sociedade cada vez mais vulnerável ao
swarming e ao crunching, em um mundo cada vez mais diverso e maior em
termos geográfico-populacionais e cada vez menor em termos sociais (small
world networks).