RESUMO
INTRODUÇÃO
2
que vão se instalar para atender aos alunos com necessidades educativas
especiais nas escolas regulares. A implantação das classes especiais encontra
respaldo na Lei 5.692/71 que afirma em seu art. 9o:
3
preferencialmente na rede regular de ensino, para pessoas com necessidades
educacionais especiais. Trata-se de um conjunto de recursos e serviços
educacionais de apoio que devem estar à disposição de todos os alunos
oferecendo diferentes alternativas de atendimento e perpassando toda a
educação básica.
A oferta de Educação Especial tem início na faixa etária de 0-6
anos de idade. (Art. 58) e os sistemas de ensino assegurarão: a) currículos,
métodos, técnicas e recursos educativos específicos para atender as pessoas
com necessidades educacionais especiais; b) terminalidade e aceleração de
estudos nos casos específicos; c) professores com formação especializada
para esse atendimento; d) educação especial para o trabalho e acesso
igualitário a benefícios dos programas sociais suplementares. (Art. 59)
Em relação ao financiamento a lei proclama: Os órgãos
normativos caracterizarão as instituições de atendimento que não têm fins
lucrativos para apoiá-las técnica e financeiramente. Há ainda um compromisso
do poder público em ampliar o atendimento as pessoas com necessidades
educacionais especiais na rede pública regular de ensino. (Art. 60)
Na tentativa de melhor explicitar o que está posto na atual LDB
tem-se as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica
(2001). Conforme este documento, a Educação Especial passou a ter uma
dupla função: atender a todos os alunos com necessidades educacionais
especiais que requerem atendimento nas modalidades específicas da
Educação Especial e apoiar os docentes a cujo cargo este aluno se encontra.
Para dar suporte a escolarização dos alunos, bem como à prática
dos educadores (especialistas ou não), a Educação Especial deverá ser
otimizada através de currículos, metodologias e recursos didáticos próprios a
considerar a heterogeneidade do alunado e seu fluxo (deste a Educação
Infantil ao Ensino Superior).
Embora a legislação preconize que o atendimento educacional as
pessoas com necessidades educativas especiais deve se dar
preferencialmente no sistema regular, as alternativas educacionais para esse
grupo vão desde o atendimento em instituições especializadas de caráter
educacional, até às filantrópicas e assistenciais, que continuam existindo,
sendo apoiadas e reconhecidas pelo poder público.
4
O princípio da inclusão ganhou reforço com Convenção da
Guatemala, de 2001. Esta proíbe qualquer tipo de diferenciação, exclusão ou
restrição baseadas na deficiência das pessoas. Sendo assim, mantê-las fora do
ensino regular é considerado exclusão e crime.
Conforme as políticas públicas atuais, a Educação Especial é
entendida como a modalidade de ensino, que tem como objetivo quebrar as
barreiras que impedem a criança de exercer a sua cidadania.
5
inclusão de todos os alunos, mas também, a escola em sua totalidade. Por
esse motivo, a educação especial procura afastar-se das práticas pontuais,
isoladas fazendo opção por um projeto global de educação que garanta a todos
o acesso e a permanência na escola. Assim, devem existir conjuntamente com
outros elementos da escola ações a serem propostas para os alunos,
contribuindo de forma efetiva para aprendizagem, possibilitando a inserção de
todos como protagonistas num projeto de sociedade mais democrática, que
tem como princípios a ética, a solidariedade e a justiça social.
Acrescenta-se que na rede municipal de ensino do Recife as
possibilidades no atendimento aos alunos com necessidades educativas
especiais não se reduzem à classe regular, classe especial e serviço de
itinerância, mas inclui também, a sala de apoio pedagógico (SAPE). Trata-se
de um ambiente provido de recursos educacionais específicos e adequados
para os alunos com necessidades educacionais especiais. Esse serviço
configura-se como um apoio educacional nas áreas específicas de deficiência
(visual, surdez, mental, múltipla, condutas típicas e físicas). Nessa sala o aluno
é acompanhado por um professor itinerante devidamente qualificado que lhe
oferece apoio de modo a facilitar o seu processo de inclusão e aprendizagem
no contexto sócio-escolar.
A filosofia da inclusão defende uma educação eficaz para todos,
sustenta que as escolas, enquanto comunidades educativas, devem satisfazer
as necessidades de todos os alunos, sejam quais forem suas características
pessoais, psicológicas ou sociais.
Desse modo, diante do que vem sendo preconizado pelas
políticas educacionais como educação inclusiva nosso problema de pesquisa
incide sob a seguinte questão: quais as estratégias utilizadas pelos
professores para viabilizar o princípio da inclusão? Quais os sentidos e
significados a ele atribuídos?
Nesse sentido, nossos objetivos são: analisar as estratégias
utilizadas por professores de escolas públicas para concretizar o princípio da
inclusão preconizado pelas políticas públicas atuais propostas pela rede
municipal de educação do Recife e identificar os sentidos atribuídos à inclusão
pelos professores de escolas municipais.
6
METODOLOGIA
Participantes
7
Quadro II
Tempo de exercício profissional das professoras entrevistadas
Intervalo (em anos) f
1 ano a 5 anos 4
6 a 10 anos 1
11 a 15 anos 3
16 a 20 anos 2
TOTAL 10
Quadro III
Faixa etária das professoras entrevistadas
Intervalo (em anos) f
25 a 30 anos 3
31 a 36 anos 4
37 a 42 anos 3
TOTAL 10
8
A entrevista, de caráter semi-estruturado, (roteiro em anexo) foi
aplicada a dez professoras de sala de aula regular, que vêm recebendo alunos
com necessidades educativas especiais para promover a inclusão. As
entrevistas foram agendadas previamente por telefone e realizadas durante o
intervalo das aulas dessas professoras.
As sessões de entrevistas ocorreram na própria escola em que as
professoras lecionam durante cinco dias. Sua aplicação se dava em local
reservado, com o mínimo de ruído possível. Todas as entrevistas foram
gravadas, após prévia autorização das professoras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
9
impotência e até desespero. Isso é o que sentem pelo menos num primeiro
momento a maioria das professoras.
10
O princípio de inclusão: significados para as docentes
11
consideradas normais... Eu acredito que a inclusão ela é
importante, ela tem que ser feita mesmo.(P1)
Os Benefícios da Inclusão
12
Quando se fala em benefícios que a inclusão traz, o primeiro
pensamento que surge é o de que as pessoas com deficiência têm mais
chances de se desenvolver. Mas, todos ganham ao exercitar a tolerância e o
respeito.
A metáfora do caleidoscópio é o que melhor traduz a idéia da
inclusão escolar, isto é, um sistema educativo no qual todas as crianças devem
estar, necessariamente, matriculadas em escolas regulares e, nelas, freqüentar
as classes comuns. No caleidoscópio todos os pedacinhos são importantes e
significativos para a composição da imagem. Quanto maior a diversidade, mais
complexa e mais rica se torna a figura formada pelo conjunto das partes que a
compõem. Levando essa imagem para as classes do ensino regular, a idéia é a
de que a presença de alunos com necessidades educacionais especiais,
embora torne o conjunto da turma de alunos mais heterogêneo e complexo,
também o torna mais rico. Portanto, como mostra a metáfora, essa diversidade
na realidade estudada está na mistura de alunos (especiais com os ditos
normais) que as professoras relatam, ser de grande importância por gerar
ganhos principalmente no aspecto social.
13
[...] eu não tenho esse tempo todo pra me dedicar. Eu
tenho 32 alunos. Não tem quem assista ele (aluno
especial). Ele gosta muito de brincar com blocos de
madeira e letras. E também atividades, que eu peço a
outras professoras para ele. (P8)
14
Todo aluno possui características, interesses,
capacidades e necessidades de aprendizagem que são
singulares. Os sistemas educacionais devem ser
projetados e os programas educativos implementados de
tal forma a considerar a ampla diversidade dessas
características e necessidades. As escolas devem
acomodar todos os alunos independentemente de suas
condições físicas, lingüísticas ou outras. O desafio para
uma escola inclusiva é o de educar com sucesso todos
os alunos incluindo aqueles com deficiências severas.
(p. 6)
15
O aluno com deficiência mental tem dificuldade de construir
conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade cognitiva,
principalmente nas escolas que mantêm um modelo conservador de atuação e
gestão autoritária e centralizadora. Essas escolas apenas acentuam a
deficiência e, em conseqüência, aumentam a inibição, reforçam os sintomas
existentes e agravam as dificuldades do aluno com deficiência mental.
(CAVALCANTE, 2005)
Conforme preceitua a proposta de inclusão do município do
Recife, a prática escolar inclusiva deve provocar necessariamente a
cooperação entre todos os alunos e o reconhecimento de que ensinar uma
turma é, na verdade, trabalhar com um grande grupo e com todas as
possibilidades de subdividí-lo. Dessa forma, nas subdivisões de uma turma, os
alunos com deficiência podem aderir a qualquer grupo de colegas, sem formar
um grupo à parte, segregado. Pudemos observar através do depoimento de
uma das professoras, que em suas práticas em sala de aula, ela busca
desenvolver os princípios da inclusão quando coloca:
16
pra que eu pudesse dar mais atenção a ele, eu precisava
de mais uma pessoa. Como você viu, eu tenho vinte e
cinco meninos, são crianças agitadas tudo mais, eu
queria, gostaria muito que tivesse uma pessoa que me
ajudasse ... que com isso, tanto ia ajudar nas crianças
que tem dificuldade como nele. Eu ia dar muito mais
atenção. (P10)
17
Na nossa escola nós temos uma professora itinerante,
que nos respalda assim de acordo com nossas
necessidades com textos que traga reflexão sobre as
deficiências e buscar instrumentos de trabalho para que
agente possa realizar um bom trabalho. (P4)
... a gente pra conseguir uma rampa para ele foi uma
luta, no estacionamento tinha batente, vivia puxando e
empurrando cadeira, minha estagiária é muito magrinha
e ele muito grande ... pedi também uma mesa adaptada
para as coisas não caírem... quer dizer se tivesse esses
ajustes agente caminharia melhor, com certeza. Ele
precisa de adaptações, que até agora não vieram. Como
ele tem ataxia, ele precisava de objetos de peso pra ele
segurar os movimentos, então o lápis não ajuda, o
hidrocor não, que é muito fino... aí essas coisas assim
ele não tá conseguindo ... outro problema é a cadeira
que é pequena para ele e a família não tem recursos.
(P6)
18
acrescentam que para esse trabalho dar certo, além do apoio, o professor e o
aluno necessitam de acompanhamento permanente e condições materiais de
trabalho adequadas. Acreditar na inclusão e seus benefícios e trabalhar nessa
perspectiva são duas alternativas nem sempre correspondentes. É o que
afirma uma das professoras:... eu acredito na inclusão. Mas, assim você
acreditar e trabalhar são duas é, é... como posso dizer duas instâncias assim
diferentes... (P4)
Outra dificuldade apontada pelas professoras diz respeito aos
apoios. Sobretudo os recursos humanos e materiais, nem sempre disponíveis.
Indicam:
... o ano passado eu não tive muito problema até por que
ela (professora itinerante) era muito presente ... Esse
ano eu já tenho um probleminha, durante esse tempo
todo, só uma ou duas vezes ela falou comigo, e às vezes
eu vou atrás dela e pelo amor de Deus me dê esse
suporte pra trabalhar... Ela: “é assim mesmo, vá
levando”. É horrível fazer uma coisa que você nunca fez,
eu sinto dificuldade. E, ele é uma pessoa... ele não é
agressivo, mas ele é altamente é ativo, você tem que
está o tempo todo de olho... (P2)
19
revelando a necessidade dessa formação para a condução do trabalho. Como
ilustram os depoimentos:
20
organizar-se, enfim, adaptar-se: inclusão não significa, simplesmente,
matricular os educandos com necessidades educacionais especiais na classe
comum, ignorando suas necessidades específicas, mas significa dar ao
professor e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica.
No âmbito do município do Recife, a Secretaria de Educação
através das gerências: de Serviços e Eventos e Formação e de Educação
Especial vêm promovendo ações de formação continuada para os professores,
gestores e comunidade da rede regular de ensino, objetivando sensibilizá-los e
oferecer melhores condições no desenvolvimento de suas práticas.
Conforme dados da SME do município desde 2003 vêm sendo
oferecidas capacitações em diferentes áreas com diferentes cursos como:
fundamentos teóricos metodológicos da educação especial abordando a
deficiência mental, deficiência auditiva, deficiência visual e deficiência motora,
curso de tipologia (abordando toda a área visual incluindo o Braille); curso de
libras e curso de gestores de educação inclusiva.
Mesmo admitindo que a rede municipal ainda precisa avançar
muito para atingir o ideal, observamos o esforço que vem sendo empreendido
neste processo de sensibilização dos membros da comunidade escolar através
de metas e projetos visando melhorar a qualidade de atendimento das
necessidades dos alunos incluídos e favorecendo aos professores subsídios
para suas práticas pedagógicas.
Sabe-se ainda que a formação inicial pouco aborda a educação
inclusiva e conhecimentos acerca das necessidades educacionais especiais
dos alunos. Contudo, é preciso considerar que a formação do professor deve
ser um processo contínuo. Não bastam informações e imperativos, mas
verdadeiros processos de reflexão. É fundamental considerar e valorizar o
saber de todos os profissionais da educação no processo de inclusão. A
apropriação de alguns conceitos é fundamental, contudo, é necessário articular
esses conceitos com as situações vividas em cada realidade escolar e na
experiência de cada profissional da educação. Este trabalho de articulação é
um processo cotidiano e sistemático. Não acontece de uma vez, mas através
da análise do fazer diário.
Não se trata apenas de incluir o aluno, trata-se de desencadear
um processo coletivo que busque compreender os motivos pelos quais esse
21
aluno não consegue encontrar um lugar na escola. Ao reconhecer que faz parte
de um sistema regulado por práticas já cristalizadas, o professor terá condições
de buscar mecanismos que possibilitem a discussão e análise das questões
que envolvem o seu fazer, ressignificando as relações entre sujeitos, saberes e
aprendizagens e criando novas práticas inclusivas.
É imprescindível, portanto, investir na criação de uma política de
formação continuada para os profissionais da educação. A partir dessa política,
seria possível a abertura de espaços de reflexão e escuta sistemática entre
grupos interdisciplinares e interinstitucionais, para acompanhar, sustentar e
interagir com o corpo docente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
22
participação de famílias corresponsabilizando a todos pelo processo de
inclusão.
Inclusão não se faz apenas com boa vontade e legislação
avançada. Deve-se ter a clareza de que promover a inclusão, não significa,
apenas permitir que o aluno especial adentre em uma escola regular, mas
principalmente, garantir que lhe sejam oferecidas condições de aprendizagem,
desenvolvimento social, cognitivo e afetivo, por ser ele um sujeito de direitos e
cidadão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
23
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. O
processo de integração escolar dos alunos portadores de necessidades
educativas especiais no sistema educacional brasileiro. Brasília: SEESP, 1995.
24
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura. Ministério da Justiça/ CORDE. Declaração de Salamanca e linhas de
ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: MJ/ CORDE, 1994.
25
ANEXO
• Caracterização da amostra:
Faixa etária; formação acadêmica; tempo de profissão; experiência com
educação inclusiva; nº de alunos portadores de necessidades especiais
atendidos em sala, tipos de deficiências mais comuns recebidas pela
escola.
26