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B2 Economia

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SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Em qualquer modelo, BC independente



✽ antes: travado, super-regulamen- bem os juros. E inversamente. cados pelo chefe do governo e biente mundial favorável. Mas o mente decretaria “vocês são uns
CARLOS ALBERTO tado,comcargatributáriaelevada O objetivo é alcançar o maior aprovados pelo Congresso, têm regime de metas foi crucial. idiotaseataxaéde5%”?Epor que
SARDENBERG egastospúblicospesados,omode- crescimentopossível,comainfla- mandatos fixos, em geral passan- José Serra disse em entrevista à agentedeveriaacreditarnasupos-
lo europeu tem baixa capacidade ção na meta. Bobagem, portanto, do de um governo para outro. rádio CBN que o Banco Central ta sabedoria dele?
de crescimento. dizer que o BC só se preocupa Nocasobrasileiro,aautonomia não é a Santa Sé e que pode ser Ou seja, ninguém está nervosi-
Nos EUA a crise é mais doloro- com a inflação. não está na lei, mas foi respeitada criticado. Ora, é óbvio. Mais do nho porque o candidato Serra cri-

A
crise de 2008/2009 des- sa, porém mais curta. Na Europa, O BC toma decisões com base na prática pelos presidentes FHC que isso, o BC évigiado,comenta- tica o Banco Central. O que todos
moralizou o capitalis- a rede de proteção social ameniza em ampla análise de dados. Não é eLula.Essaautonomiaevitaapoli- do e criticado o tempo todo. Faz gostariam desaber, a começar pe-
mo americano e, por a crise, mas o modelo impede a secreto. A cada três meses, o BC tização da decisão, garantindo parte do ritual. Mas, quando o BC los eleitores que desfrutam da in-
oposição, levantou o recuperação de bons níveis de publica o Relatório de Inflação, que seja a mais técnica possível. A tem credibilidade, quando as pes- flação baixa, é o que ele colocaria
prestígio do modelo europeu. Aí, crescimento. alentadodocumentoemquereve- prática mundial tem demonstra- soas e o mercado acreditam que no lugar de um BC autônomo.
bemnomomentoemqueaecono- Asopçõesestãodenovoàmesa. la como vê as economias brasilei- do que funciona. O Brasil pratica ele tem o poder e a capacidade de Serra também tem dito que al-
mia mundial acelera a recupera- ra e mundial. Além disso, o BC le- esse regime desde 1999, ano que entregar a inflação na meta, a taxa go está errado com os juros, mui-
ção,vemacrisedospaísesdoeuro Banco Central. Mas Banco Cen- va em conta o “cenário de merca- de juros necessária para isso é ca- to elevados, e o dólar, muito bara-
com um problema tão antigo tral (BC) independente é comum do” – as análises produzidas por Isso não é imposição da vez menor. to, no Brasil. Muita gente pensa
quanto fazer contas, o excesso de aos dois modelos. E isso, autono- instituiçõesfinanceiras,consulto- Ao contrário, quando se perce- igual, de modo que essa não é a
gasto público. mia ou independência do BC, não rias e institutos de pesquisa, tam-
do mercado, muito bequeoBCémanipuladopelogo- questão. O candidato precisa di-
O que a gente faz agora? Obser- é uma imposição do mercado, bém publicadas. menos um capricho de vernantedomomento, todoosis- zer, primeiro, qual a opinião dele
ve-se o pós-primeira crise. A eco- muito menos um capricho de jor- A cada seis semanas se reúne o jornalistas nervosinhos tema desmorona. Por que a gente sobre a causa disso. Os juros são
nomia americana,aberta, flexível, nalistas econômicos nervosi- Comitê de Política Monetária, o perderiatempodecifrandooRela- altosporqueoBCéimbeciloupor-
jáserecuperaevoltaacriarempre- nhos. É uma condição necessária Copom, formado pelos diretores fechou com a inflação em 9% (pe- tório de Inflação e as Atas do Co- que,porexemplo,adívidapública
gos, com ganhos de produtivida- do regime de metas de inflação, do BC. São duas tardes de discus- lo IPCA) e a taxa básica de juros a pomse aopiniãodopresidenteda é muito elevada e o gasto público,
de. Enquanto isso, países da políticabaseadaemsólidateoriae sões e, por fim, a votação sobre a 19%, tendo chegado a picos de República é a que conta? expansionista?
União Europeia padecem de dois na prática bem-sucedida de mais taxadejuros.Tambémnãoésecre- 45%.Dezanosdepois,oPaísregis- Serra também disse que, eleito Apartirdaí,ocandidatoprecisa-
problemas. No curto prazo, saí- de uma centena de países. to. Uma semana depois, a Ata da trou inflação de 4,3%, com juros a presidente, vai intervir quando riadizerqualoseuplanoparader-
ramdacrisecomdéficitspúblicos Funciona assim: o governo de- Reunião explica a decisão. 8,75%.Issoemaisaatuaçãonacri- achar que o Banco Central come- rubar juros e desvalorizar o real,
muito elevados, em cima de dívi- termina ao Banco Central a meta Funcionaassimnomundointei- se deram ao BC brasileiro sólida teu um erro clamoroso. Ora, em sem que isso cause a inflação que
das anteriormente altas. Ou seja, de inflação. O BC persegue esse ro. Há muita discussão para aper- reputação internacional. quaisestudosSerrasebaseariapa- tem na Argentina, por exemplo.
caíramnaclássicaquestãodacon- objetivo fixando a taxa básica de feiçoaro sistema, mas com amplo Houve outros fatores essen- ra decretar que o BC está errado?
fiança: será o governo capaz de juros – a taxa mínima, o custo do acordosobreaimportânciadeau- ciais de estabilidade, como a Lei Reparem: o procedimento e as ✽
honrar seus compromissos? dinheiroparaosbancos.Seainfla- tonomia. Nos regimes mais efi- de Responsabilidade Fiscal e as análises do BC são conhecidos de É JORNALISTA. E-MAILS:
O segundoproblema, demédio çãoe,maisimportante,asexpecta- cientes, o BC tem independência privatizações, o ajuste nos Esta- todos. O presidente da República SARDENBERG@CBN.COM.BR / CARLOS.
e de longo prazos, é o mesmo de tivas de inflação estão em alta, so- prevista em lei. Os diretores, indi- dos, a reforma financeira, o am- faria a mesma coisa ou simples- SARDENBERG@TVGLOBO.COM.BR

Humor S.A.

Perigo à vista: a situação O lado perverso


fiscal continua a piorar da alternância

✽ tes, o que significa completa de-
turpação do conceito de meta
operações compromissadas –
conduzindo o endividamento

✽ mais permissividade com rela-
ção à inflação. Isso implicaria,
poder.Issoseaplicatanto àdire-
toria do Banco Central quanto
MAILSON DA fiscal. Apenas a título ilustrati- bruto a 60,4% do PIB, em março
MARCELO DE entretanto, o sucateamento do ao presidente da República.
NÓBREGA E vo, suponha que o governo ven- – e pelo efeito benéfico do cres-
PAIVA ABREU regime de metas de inflação, hi- Nemosdiretores doBancoCen-
FELIPE SALTO ça suas deficiências gerenciais e cimento do PIB sobre os indica- pótese ainda não ventilada pelo tral nem os candidatos a presi-
gaste, com o PAC, 3,3% do PIB dores fiscais, os movimentos candidato, embora seja eviden- dente da República são infalí-

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ntre a segunda metade em 2011,o equivalente à metado contínuos de concessão de cré- herança mais impor- te a sua antipatia visceral por es- veis. O candidato parece reco-
dos anos 1980 e os anos superávitprimárioparaoexercí- dito devem manter a dívida bru- tante a ser legada pelo sa forma de condução da políti- nhecer apenas a falibilidade dos
2000, o Brasil deu pas- cio. Isso significa que um esfor- ta pressionada. governoLulaéosuces- ca monetária. banqueiros centrais.
sos vigorosos na cons- ço efetivo nulo permitiria ao go- A dívida líquida segue aparen- so de sua política eco- A repercussão negativa da en- A crítica de Serra à política
truçãodeinstituiçõesfiscaismo- verno “cumprir” a meta anual. temente sob controle, mas a ex- nômica e, em menor medida, de trevista suscitou tentativas de monetária abriu espaço para
dernasesólidas.ALeideRespon- Nos últimos dias, o Ministé- pansãoda dívidabrutanãomen- suas políticas sociais. Com to- remendo não muito convincen- que a candidata da situação se
sabilidade Fiscal (LRF) consti- rio do Planejamento disse que te. A situação está ficando peri- das as qualificações que possam tes. Mencionou-se até a “inter- apresentasse, em contraste
tuiu o coroamento dessa trajetó- enviaráprojeto deleimodifican- clitante – não tanto o cenário no ser feitas, consolidou-se a recu- venção” dos governos europeus comsua postura nopassado, co-
ria. Hoje considerada um padrão do o PLDO e incluindo um limi- curto prazo, que será auxiliado peração da credibilidade do no Banco Central Europeu para mo defensora do Banco Cen-
a ser seguido por outros países, a tepara osreferidosgastos.Reco- pela recuperação da atividade, País iniciada no governo ante- equacionar a crise financeira tral. Configura-se uma situação
LRF – cujos dez anos acabam de mendável, ainda que insuficien- mas sim sob a ótica dos efeitos riorecriaram-secondiçõesbási- grega e o seu contágio. O argu- esdrúxula na qual o candidato
ser comemorados – tem resisti- te, já que os abatimentos conti- que produzirá no médio prazo. casparaocrescimentosustenta- mento parece potente para ex- do PSDB consolida sua postura
doàstentativas de eliminaçãode nuariam a valer. Está prevista emissão adicional do. É essencial preservar essa plicar exatamente o contrário. de crítico da política econômica
suas amarras. O PT, que votou Desse modo, a prudência fis- de títulos do Tesouro em favor conquista. De fato, a despeito da autono- herdada pelo governo Lula do
contra o projeto e tentou derru- cal vai para o brejo. O governo do BNDES de mais R$ 80 bi- É dessa perspectiva que deve mia do Banco Central Europeu, governo Fernando Henrique
bar a lei no Supremo, acabou por passou a adotar medidas que, na lhões, mesmo com o processo ser analisada a tempestuosa en- foipossível,emmeioàcrise,bus- Cardoso, enquanto Dilma tece
adotar suas regras. prática, reinstituem a malsina- derecuperaçãoeconômicaocor- trevista do principal candidato car ação coordenada que defen- loas à autonomia do BC.
Embora tenha abraçado os da “conta de movimento” do rendo a todo vapor. oposicionistaàeleição presiden- desse da melhor forma possível Quem tem boa memória se
princípios de responsabilidade Banco Central (BC) no Banco A mistura da contabilidade cial sobre a política econômica a estabilidade financeira euro- lembrará das reticências, quan-
fiscal que abominava, o governo doBrasil, a qual permitia às duas criativa com a alegre expansão do atual governo e, em especial, peia.Jáoposicionamentooficio- do não da discordância explíci-
do PT adotou nos últimos anos instituições prover crédito sub- da dívida do Tesouro via opera- apolítica monetária. O candida- so do PSDB envolve substancial ta, de José Serra a diversos as-
sucessivasaçõestendentesapio- sidiadosemlimite,àcustadaele- ções com o BNDES cria dois ní- to foi extremamente crítico da esforço em reescrever a história pectos da política econômica
rar o regime fiscal, ainda que veis de preocupação. Primeiro, atuação do Banco Central (BC), desde a implantação do Plano
sem agredir a LRF. A crise finan- É preocupante a mistura em relação à piora do regime fis- insistindo nas oportunidades Independentemente do Real – que levou à sua saída do
ceira mundial funcionou como cal, associada à deterioração perdidas para a redução da taxa Ministério do Planejamento ru-
uma espécie de senha para o
da contabilidade criativa dos princípios de responsabili- dejuros.Curiosamente, omitiu-
governo, a autonomia mo ao Ministério da Saúde –,
aprofundamento de gastos que com a alegre expansão dade fiscal, que pode vir a nos se quanto às crescentes peralti- do Banco Central deve que escalaram depois de 1999,
haviam sido criados antes dela. da dívida do Tesouro custarcaro no futuro, comapio- ces na políticafiscal do governo, ser preservada nosegundomandatode Fernan-
O governo as justificou como ra das avaliações sobre nossas conduzida,segundoele,por“ho- do Henrique Cardoso.
ações anticíclicas típicas dos pe- vação do endividamento públi- condições de solvência. mens sérios”. dacrise de 2008, trocando datas O argumento mais poderoso
ríodosdecontração doconsumo co, sem transparência e longe Emsegundo lugar, preocupaa Diversas alegações do ex-go- e detectando quase imaginária para justificar o voto em candi-
privado e do investimento. A do escrutínio do Congresso. expansão imoderada do endivi- vernador não correspondem deflação, com base no compor- datos de oposição é a alternân-
classificação é indevida. Gastos Éo queestá acontecendo com damentobruto.Ambos osmovi- aos fatos, como, por exemplo, tamento do Índice Geral de Pre- ciano poder. A coalizão liderada
anticíclicos são os temporários, osuprimentogenerosoderecur- mentos criam uma situação es- de que o Brasil aumentou juros ços – Mercado (IGP-M). Talvez pelo presidente Lula tem apare-
que podem ser suspensos após a sosdoTesouroainstituiçõesofi- quizofrênica. Numa ponta, um quando o resto do mundo os ha- não seja irrelevante lembrar lhado a máquina pública, com o
exaustão da crise. ciais de crédito, em especial ao BC atento aos riscos de descon- via reduzido. Em particular, foi que o índice de preços que bali- objetivo claro de dificultar a re-
A partir do ano passado, dian- BNDES. A dívida bruta aumen- troleinflacionárioaumentaata- ventilada uma revolucionária za o regime de metas é o Índice versão das políticas que lhe são
te da iminência de não cumprir ta, mas o valor dos aportes do xa de juros. Na outra, a equipe teoria sobre “efeitos psicológi- de Preços ao Consumidor Am- caras. É difundida a percepção
metas fiscais, o que poderia afe- Tesouro ao BNDES é deduzido. econômica adota um expansio- cos” na determinação da taxa de plo (IPCA), que teve comporta- de que esse processo foi muito
tar negativamente a credibilida- Por aí as autoridades econômi- nismo fiscal injustificado, o que juros: relevantes são as varia- mento diferente do IGP-M. além do desejável e que deveria
de, o governo começou a lançar cas podem expandir a dívida pú- atiça a demanda já excessiva. ções, e não os níveis das taxas. A A entrevista foi infeliz não ser revertido. A entrevista de
mão de artifícios para obscure- blica a seu bel-prazer, sem se Chegou a hora de pôr fim à bobagem deve ser levada a sé- apenas no conteúdo, como na Serra dá margem à interpreta-
cer os excessos, numa contabili- preocuparem, dado que não há complacência em relação à pio- rio, pois permite delinear o tipo forma.A julgar por suas declara- ção de que, caso eleito, a alter-
dade criativa sem paralelo nes- impactos na dívida líquida. ra da situação fiscal do País. O de interferência sobre o Banco ções, os que dele discordam ou nância se faria sentir de forma
tes anos de responsabilidade fis- A manobra já começa a ser de- contingenciamento de gastos Central que poderia ocorrer no são obtusos ou mal-intenciona- contundente na condução da
cal. Foi abatido do superávit pri- tectada, contudo, em grau cres- discricionários da ordem de R$ caso de vitória da oposição. dos. Não foi um bom trailer do políticamonetária.Seriaumala-
márioumvolumede gastosequi- centepelos que analisam a dinâ- 10 bilhões, ainda que modesto e A política monetária no Brasil que poderá ser o processo deci- mentável reversão que não con-
valente a 0,45 ponto porcentual micafiscal.Já nãodá paraescon- pouco efetivo para desaquecer a lida com limitações à redução sório de um eventual governo sulta os interesses do País. Tal-
do PIB. A meta de 2,5% do PIB foi der que a dívida bruta do gover- demanda, mostra que o governo da taxa de juros que têm que ver Serra.E,pior,relativizou ascríti- vez ainda haja tempo para que o
cumprida com um esforço fiscal no geral tem assumido patama- começou a se preocupar. Antes com o desempenho fiscal. Se as cas que são habitualmente fei- candidato reformule suas
de apenas 2,05% do PIB. res cada vez mais elevados, ten- tarde do que nunca. contas públicas forem efetiva- tas ao autoritarismo enfático da ideias.
Agora, no Projeto da Lei de Di- do passado de 56,4% do PIB, em mente postas em ordem, haverá candidata da situação.
retrizes Orçamentárias (PLDO) novembro de 2008, para 64,7% ✽ espaço para taxas de juros. Não Uma democracia madura re- ✽
para 2011, o Executivo propõe do PIB, em outubro de 2009. SÃO, RESPECTIVAMENTE, EX-MINIS- há milagre “psicológico” que re- quer um sistema de pesos e con- DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNI-
que o Programa de Aceleração Ainda que mais recentemente TRO DA FAZENDA E SÓCIO DA TEN- mova essa restrição. É claro que trapesos sofisticado para que se VERSIDADE DE CAMBRIDGE, É PRO-
do Crescimento (PAC) seja sim- os patamares tenham melhora- DÊNCIAS CONSULTORIA E ECONO- sempre haverá a possibilidade evitem abusos e sejam minimi- FESSOR TITULAR NO DEPARTAMEN-
plesmentedescontadosemlimi- do, por conta da redução das MISTA E ANALISTA DA TENDÊNCIAS de buscar o ajuste por meio de zados os erros no exercício do TO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

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