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AS 3 QUESTÕES SOBRE O SÁBADO:

O CONFLITO ENTRE JESUS E OS FARISEUS

O CONTEXTO HISTÓRICO

Para se entender o conflito de idéias entre Jesus e os Fariseus neste


estudo, é necessário perceber o contexto histórico de como o judaísmo farisaico
se desenvolveu.
Quando o povo judeu retornou do cativeiro babilônico, os líderes
espirituais recordaram que a razão para o cativeiro tinha sido a desobediência
às leis de Moisés. Esdras começou uma escola chamada Escola dos Soferim, ou
escola dos escribas. Sua idéia era estudar cada um dos 613 mandamentos que
Deus tinha dado a Moisés e expo-los ao povo judeu.
Eles achavam que se fosse dado ao povo um conhecimento claro acerca
da lei e de como guardá-la, eles não sofreriam mais uma disciplina divina
semelhante ao cativeiro babilônico. Quando a primeira geração dos Soferim se
passou, a segunda geração levou essa tarefa mais a sério ainda. Eles diziam:
"Expôr a lei não é o suficiente; devemos construir uma cerca em volta
dela".Essa cerca que seria construída em volta da lei, consistiria de novas
regras e regulamentos que logicamente se derivavam dos 613 mandamentos
originais. O princípio era: "Um escriba pode discordar com outro escriba, mas
ele não pode discordar da Tora", pois ela era santa. Por isso, não havia base
para negar a validade da lei. Ao se fazer essas novas leis e regulamentos, eles
poderiam discordar entre si, até que se chegasse a uma decisão por maioria de
votos.
Uma vez que a decisão fosse alcançada, isso tornava-se mandatório para
todos os judeus em qualquer parte do mundo para onde eles fossem. Este
processo de se construir uma cerca em volta da lei começou em torno de 450
a.C.e finalmente terminou em 30 a.C.
Normalmente isso era passado de rabino a rabino. A escola dos escribas,
segundo se crê, durou de Esdras, o escriba, até ao tempo de Hilel, quando veio
a ter um fim.
Tempos depois, uma segunda escola de rabinos chamada Tannaim, que
significava "professores". Esses Tanaim revisaram todo o trabalho dos Soferim
e declararam: "Ainda existem muitos buracos nesta cerca". Eles continuaram o
processo durante 250 anos, começando em 30 a.C. até o ano 220 A.D. No
entanto, o princípio de operação mudara. O novo princípio era: " Um
`professor'(Tanna), pode discordar com um `professor', mas ele não pode
discordar com um Sofer(escriba)". Isso significava que desde 30 a.C. todas as
milhares de leis e regulamentos passadas pelos escribas eram agora
consideradas sagradas e com o mesmo valor das escrituras.
Para fazer com que o público judeu validasse a idéia de que as leis dos
escribas (Soferim) eram iguais às leis de Moisés, eles elaboraram um ensino
que todo judeu ortodoxo acredita e ensina até hoje. Seu ensino era que o que
realmente aconteceu no monte Sinai, foi que Deus deu a Moisés duas leis: A lei
escrita e a lei oral. A primeira lei é chamada de lei escrita porque contém 613
mandamentos que na época Moisés escreveu nos livros de Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio. A segunda lei é chamada de lei oral porque Moisés
não escreveu esses mandamentos; ele os memorizou. Pela memorização, eles
foram passados até Josué, que então os passou aos Juízes, que os passaram
aos Profetas, que os passaram aos Soferim (escribas). Sendo assim, os
escribas não inovaram aquelas leis e regulamentações; eles as receberam dos
profetas, que as receberam dos juízes, que as receberam de Josué, que as
recebeu de Moisés, que as recebeu de Deus. Na realidade, de 450 a.C. até 220
a.D. essas regras nunca tinham sido escritas. Rabinos e escribas as tinham
memorizado, e milhares e milhares de leis sobreviveram através da técnica de
memorização. Elas não foram escritas por aproximadamente 6 séculos. Por
volta de 220 a.D. cada vez menos pessoas eram capazes de memorizar tais
leis, logo eles finalmente as escreveram sob as ordens de Judas HaNassi, o
patriarca da região. Isso marcou o término do período dos Tanaim.
O trabalho dos escribas e dos Tanaim agora é chamado de Mishná. É a
Mishná que se tornou a causa do conflito entre Jesus e os Fariseus. A
concepção farisaica acerca do messias, era que ele seria um fariseu; Ele estaria
submisso às leis da Mishná; de fato, Ele iria se unir a eles no trabalho de se
fazer novas leis para "tapar os buracos da cerca".
Um messias que não fosse um fariseu que estivesse debaixo da
autoridade da Mishná poderia não ser o verdadeiro messias. Sempre que os
termos LEI DA MISHNÁ, LEI FARISAICA, LEI RABÍNICA ou LEI ORAL são
usadas, eles se referem àquilo que agora é chamado de Mishná.
O sábado tornou-se a maior observância no judaísmo farisaico, porque
era considerado aquilo que marcava Israel como a noiva de Deus, a rainha do
Senhor. Quando se perguntava: "Por que Deus criou Israel"? a resposta era
"Deus criou Israel para honrar o sábado". Portanto, Israel foi feito para
o sábado. Enquanto o messias e os fariseus debatiam sobre a autoridade da
Mishná de um modo geral, uma área específica do debate era a maneira própria
de guardar a observância do sábado.
Este estudo sobre as três questões sobre o sábado é dividido em três
sessões: A cura de um paralítico, a questão sobre as espigas e a cura de um
homem com a mão mirrada.

1 – A CURA DE UM PARALÍTICO (JO.5:1-47):

A) A CURA FÍSICA – JO.5:1-9

Os versos de 1 a 3 descrevem a cena: " Depois disso havia uma festa


entre os judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Ora, em Jerusalém há, próximo à
porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco
alpendres. Neste jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e
ressicados, esperando o movimento da água".
Sempre que se faz referência a uma festa como foi feito no verso 1,
geralmente, se a festa é mencionada mas não se dá especificamente o nome
dela, essa festa era a festa da Páscoa. Se esse for o caso, então essa é a
segunda festa da Páscoa mencionada no ministério público de Yeshua(Jesus)
que já durava um ano e meio.
Nos verso 2 e 3 Jesus aproximou-se de um homem próximo ao tanque de
Betesda, um tanque localizado na parte muçulmana da antiga cidade, que tem
sido descoberto em tempos recentes. O procedimento que Jesus usou com o
homem, é dividido em três passos mostrados nos versos 5 a 9: "E estava ali
um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo. E Jesus, vendo
este deitado e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe:
Queres ficar são? O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum
que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou,
desce outro antes de mim. Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito e
anda. Logo aquele homem ficou são; e tomou o seu leito e andava. E aquele
dia era sábado".
Primeiro passo: Jesus viu o homem. O homem não veio até Ele
porque não poderia fazer por si só, nem foi levado até Yeshua, como se fazia
para chegar ao tanque. Segundo passo: Cristo não exigiu nenhuma fé por
parte do homem. Neste ponto, em seu ministério público, a fé não era
necessária para se receber um milagre porque o propósito de seus milagres era
autenticá-lo como o messias e fazer as pessoas crerem nEle como tal.
Terceiro passo: Não havia indícios da messianidade de Jesus.
Inicialmente, Cristo não disse para o homem que Ele era o messias. Mais tarde,
no verso 13, quando o homem foi perguntado sobre quem o curara, ele disse
que não sabia quem Jesus era ou quem Ele dizia ser. No verso 5, Yeshua foi até
o tanque de Betesda e viu um homem que estava acamado havia 38 anos. No
verso 6, Jesus perguntou ao homem se ele queria ser curado e acabou
recebendo uma resposta positiva, conforme o verso 7. No verso 8, Jesus lhe
disse para fazer uma coisa que foi contrária à prática judaica daqueles dias. No
verso 9, o homem foi curado imediatamente.
João mencionou um detalhe adicional no verso 9: "E aquele dia era
sábado". O que Jesus mandou o homem fazer era uma abertura, uma fenda, na
concepção farisaica da guarda do sábado. Entre as 1500 regras de como se
guardar o sábado, havia uma que proibia a pessoa de carregar carga de um
lugar público para um lugar particular ou vice-versa. Yeshua sabia que ao pedir
ao homem para tomar seu leito, ia chamar a atenção quanto à sua
reivindicação de ser o messias, mas Ele queria que o povo e os líderes, em
particular, viessem a tomar uma decisão acerca dEle.

B) A CURA ESPIRITUAL - (JO.5:10-18)


Depois de ser curado próximo ao tanque de Betesda, ele foi rapidamente
confrontado no verso 10: "Então os judeus disseram àquele que tinha sido
curado: É sábado, não te é lícito levar o leito". O homem foi novamente
questionado pelos fariseus nos versos 11-13: "Ele respondeu-lhes: Aquele que
me curou, ele próprio disse: Toma o teu leito e anda. Perguntaram-lhe, pois:
Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda? E o que fora curado
não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão de naquele lugar
haver grande multidão". A resposta do homem no verso 11 foi que Aquele que
o curou o tinha mandado fazer aquilo (carregar o leito). No verso 12, eles o
perguntaram quem o havia curado. No verso 13, o ex-paralítico disse que não
sabia.
A cura espiritual do homem é registrada nos versos 14-15: "Depois Jesus
encontrou-o no templo e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para
que não te suceda alguma coisa pior. E aquele homem foi e anunciou aos
judeus que Jesus era o que o curara". No verso 14, depois da cura, Jesus
encontrou o homem novamente, dessa vez no templo onde ele talvez estivesse
agradecendo a Deus por sua cura e participando das festividades da Páscoa.
Yeshua disse ao homem, "Eis que já estás são; não peques mais, para que não
te suceda alguma coisa pior".Isso mostra a cura espiritual do homem. Nesse
momento, ele descobriu quem Jesus era, e ele informou isso aos outros,
conforme o verso 15. Não há necessidade de se ver algo de sinistro aqui como
se o homem estivesse "dedurando" Jesus aos líderes judeus. Embora a resposta
dos ouvintes fosse negativa, o que motivou o ex-paralítico a fazer isso pode ter
sido nada mais que dar a informação que eles estavam procurano. Este
incidente levou a duas acusações contra Jesus nos versos 16-18. A primeira
acusação pode ser vista no verso 16: "E por esta causa os judeus perseguiram
a Jesus e procuravam mata-lo, porque fazia estas coisas no sábado".
A primeira acusação era que Ele tinha curado alguém no dia de sábado.
Isso não violava as leis de Moisés, mas quebrava a lei farisaica que proibia a
cura no sábado, exceto numa situação em que houvesse risco à vida. Como a
vida do homem não estava em perigo, ele não deveria ter sido curado naquele
dia. João declarou que isso foi a principal razão par que eles perseguissem a
Jesus. A resposta de Jesus é dada no verso 17: "Mas Jesus lhes respondeu:
Meu pai trabalha até agora e eu trabalho também". A segunda acusação veio
no verso 18: "Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque
não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio pai,
fazendo-se igual a Deus". Sua resposta levou à segunda acusação. Para o
público judeu, chamar a Deus de seu próprio pai significava o mesmo que
fazer-se igual a Deus. Alguns grupos sectários negam a deidade de Cristo,
freqüentemente com base no fato de que o filho é menos que seu pai; por isso,
se Yeshua é o filho de Deus, ele deve ser obrigatoriamente menos que Deus.
Isso não era verdade na mentalidade dos judeus, porque o filho primogênito é
considerado igual ao pai na crença deles. A questão principal é: O que fez com
que o público judaico entendeu quando Jesus declarou que Ele era filho de
Deus? Quando Ele declarou: "Meu pai trabalha até agora e eu trabalho
também", eles claramente entenderam que Ele estava reivindicando ser igual a
Deus. Não havia ambigüidade na mente dos judeus sobre o que Ele estava
falando.
C) A DEFESA DO MESSIAS – (JO.5:19-29)

Jesus se defendeu chamando a atenção para quatro coisas nos versos


19-29. O primeiro ponto de sua defesa é dada nos versos 19-21: "Mas Jesus
respondeu e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que o filho por si
mesmo não pode fazer coisa alguma, se não vir fazer o pai; porque tudo
quanto ele faz, o filho o faz igualmente. Porque o pai ama ao filho e mostra-lhe
tudo o que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos
maravilheis. Pois, assim como o pai ressuscita os mortos e os vivifica, assim
também o filho vivifica aqueles que quer".
Ele estava fazendo o trabalho do pai de três maneiras. Primeiro, no verso
19, Ele tem um relacionamento igual com o pai; o que um faz o outro faz. Os
trabalhos do pai também são os do filho. Segundo, no verso 20, também há um
amor igual entre o pai e o filho; ambos são equivalentes em seus trabalhos.
Terceiro, no verso 21, existe igualdade de poder; o filho compartilha com o pai,
o poder de dar vida. O dom da vida era uma habilidade divina; por isso, Ele
tem que ser divino. Pelo simples fato de que Ele faz os trabalhos do pai,
trabalha da maneira como só Deus trabalha, isso significa que Ele é Deus.
O segundo ponto de sua defesa é que o filho julgará todos os homens,
conforme os versos 22-23: "E também o pai a ninguém julga, mas deu ao filho
todo o juízo; para que todos honrem o filho, como honram o pai. Quem não
honra o filho, não honra o pai que o enviou". No antigo testamento, o juízo final
é prerrogativa de Deus. Se o filho é quem fará o julgamento,
conseqüentemente o filho também é Deus. Isso também significa que o filho
tem honra igual com o pai.
O terceiro ponto de sua defesa é que Ele tem o poder de dar a vida
eterna, conforme o verso 24: "Na verdade, na verdade vos digo que quem
ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não
entrará em condenação, mas passou da morte para a vida". No velho
testamento, o único que tem a habilidade de prover a vida eterna é Deus.
Portanto, se o filho tem o poder de dar a vida eterna, então Ele só pode ser
Deus também.
O quarto ponto a ser considerado em defesa de Cristo, foi que Ele será
Aquele que ressuscitará os mortos, conforme descrito nos versos 25-29: "Em
verdade, em verdade vos digo que vem a hora e agora é, em que os mortos
ouvirão a voz do filho de Deus e os que a ouvirem viverão. Porque assim como
o pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao filho ter a vida eterna em
si mesmo; e deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o filho do homem.
Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos
sepulcros ouvirão a sua voz". No velho testamento, somente Deus traz os
mortos à vida. Se o filho será aquele que ressuscitará os mortos, isso quer
dizer que Ele também é Deus. Por isso, Jesus é o homem-Deus, e isso é
declarado aqui em forma de título. No verso 25, Ele é o "filho de Deus",
enfatizando Sua deidade; no verso 27, Ele é o "filho do homem", enfatizando
Sua humanidade. O verso 29, mostra, que haverá 2 tipos distintos de
ressurreição. Para o crente, isso será a "ressurreição da vida", ou o que o
livro de Apocalipse chama de "primeira ressurreição" (Ap.20:5). Para os
descrentes, será a "ressurreição do juízo", também conhecida como a
"segunda ressurreição", que conduz à "segunda morte" (Ap.21:8).

D) AS QUATRO TESTEMUNHAS DA MESSIANIDADE DE CRISTO –


(JO.5:30-47)

"Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim
julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a
vontade do pai que me enviou. Se eu testifico de mim mesmo, o meu
testemunho não é verdadeiro. Há outro que testifica de mim e sei que o
testemunho que Ele dá de mim é verdadeiro"(Jo.5:30-32).
Após Ele fazer essas quatro reivindicações de ser o homem-Deus, Yeshua
então mostrou que haviam quatro testemunhas que provavam Sua
messianidade. Por que quatro? Na lei de Moisés, duas ou três testemunhas
eram suficientes para se estabelecer um caso. Yeshua providenciou quatro,
indo além do pedido pela lei.
A primeira testemunha era João Batista, conforme os versos 33-35:
"Vós mandastes mensageiros a João e ele deu testemunho da verdade. Eu,
porém, não recebo testemunho de homem; mas digo isto, para que vos salveis.
Ele era a candeia que ardia e alumiava e vós quisestes alegrar-vos por um
pouco de tempo com a sua luz". Foi João que identificou Jesus como O
"cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo"(Jo. 1:29).
A segunda testemunha eram Seus trabalhos e Seus milagres que O
autenticavam como o messias, no verso 36: "Mas eu tenho maior testemunho
do que o de João; porque as obras que o pai me deu para realizar, as mesmas
obras que eu faço, testificam de mim, que o pai me enviou".
A terceira testemunha era Deus o pai, nos versos 37-38: "E o pai que
me enviou, Ele mesmo testificou de mim. Vós nunca ouvistes a Sua voz, nem
vistes o Seu parecer. E a Sua palavra não permanece em vós, porque naquele
que Ele enviou não credes vós". Deus pai falou de maneira audível no momento
do batismo de Jesus, quando declarou dos céus "Este é o meu filho amado em
quem me comprazo"(Mt. 3:13-17; Mc. 1:9-11; Lc. 3:21).
A quarta testemunha eram as escrituras sagradas, nos versos 39-47.
As escrituras se sustentam como testemunhas porque Ele estava cumprindo,
completando as profecias de Sua primeira vinda, conforme o verso 39:
"Examinai as escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna e são elas
que de mim testificam".
Pelo fato de os fariseus não terem entendido as escrituras, eles falharam
em não compreende-lo e aceitá-lo como messias, nos versos 40-44: "E não
quereis vir a mim para terdes vida. Eu não recebo glória dos homens; mas bem
vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu
pai e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis.
Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros e não buscando a honra
que vem só de Deus?"
Porque eles não entenderam as escrituras, eles não tinham o amor de
Deus; eles procuravam a glória dos homens, não a glória de Deus. Por isso, a
própria lei de Moisés na qual eles colocavam suas esperanças, ela própria os
condenava, como lemos no verso 45: "Não cuideis que eu vos hei de acusar
para com o pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais".
Com tais testemunhas, haviam provas suficientes de que Jesus era
realmente o messias, mas o verdadeiro problema era que os fariseus falhavam
em não crer em Moisés, pois se eles crêssem, logicamente creriam em Cristo,
pois foi dEle que Moisés escreveu (Jo. 5:46).
Acusar os fariseus de não crerem em Moisés parece ser exagero. Seria
como se disséssemos a um judeu ultra-ortodoxo que ele não crê na lei de
Moisés. Quem é mais zeloso pela lei de Moisés que um judeu ultra-ortodoxo?
Mesmo assim isso era uma acusação válida. Os fariseus acreditavam na lei de
Moisés, da maneira como era interpretada pela Mishná. Eles não acreditavam
em Moisés da maneira como se estava escrito. Tivessem eles acreditado na lei
de Moisés da maneira como estava escrito, eles não teriam falhado em
reconhecer Jesus como messias.

2 – A QUESTÃO SOBRE AS ESPIGAS (MT.12:1-8;MC.


2:23-28;LC. 6:1-5):

Em Lucas 6:1-2 lemos: "E aconteceu que, no sábado , passou pelas


searas e os seus discípulos iam arrancando espigas e esfregando-as com as
mãos, as comiam". E alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que
não é lícito fazer nos sábados? O verso 1 mostra o contexto histórico desse
conflito. O verso 2 registra o ataque dos fariseus, que ocorreu porque os
discípulos quebraram 4 leis daquelas 1500 que haviam sobre a guarda do
sábado. Primeiro, quando eles arrancavam as espigas, estavam sendo culpados
por estarem fazendo COLHEITA. Segundo, quando eles esfregavam as espigas
em suas mãos para limpa-las, estavam sendo culpados de DEBULHAR.
Terceiro, quando eles sopravam as espigas em suas mãos para separar a
sujeira, estavam sendo culpados de estarem PENEIRANDO. Quarto, quando
eles engoliam as espigas, estavam sendo culpados de ESTOCAR, ARMAZENAR
comida. Esta era a maneira extrema de se "construir uma cerca em volta
da lei", naqueles tempos.
Por causa dessas regras, alguns fariseus não se arriscariam a andar sobre
a grama no dia de sábado. Se fosse perguntado a um rabi daquela época: "O
que há de errado em se andar sobre a grama no dia de sábado?", a resposta
seria: "Nada. Você pode andar sobre a grama no dia de sábado". No entanto,
há um problema. Este simples campo gramado, poderia ter algumas sementes
crescendo nele. Uma pessoa que estivesse andando por esse campo, poderia
inadvertidamente pisar naquela semente, separá-la de seu tronco e assim
tornar-se culpada de estar colhendo no dia de sábado. Além do mais, se ela
pisasse na semente com força suficiente para separar a semente da casca, esta
pessoa seria culpada de estar debulhando no sábado.
Se ela continuasse a andar, e o vento deslocado por suas vestes fizesse
com que a casca da semente se separasse, seria culpada de estar peneirando
no dia de sábado.
Finalmente, se essa pessoa fosse embora e um pássaro ou um roedor
visse a semente e engolisse, ela seria culpada de estar estocando semente no
dia de sábado.
Yeshua respondeu fazendo 6 declarações. Primeiro, Ele relembrou um
fato histórico ocorrido com o rei Davi, nos versos 3-4: "E Jesus, respondendo-
lhes, disse: Nunca lestes o que fez Davi quando teve fome, ele e os que com
ele estavam? Como entrou na casa de Deus, e tomou os pães da proposição e
os comeu e deu também aos que estavam com ele, os quais não é lícito comer
senão só aos sacerdotes"? Ele mostrou que Davi também violou a lei farisaica,
ao comer os pães da proposição. Moisés nunca disse que um levita não podia
dar os pães da proposição a um não-levita. A lei farisaica, no entanto, dizia
isso. No caso dos fariseus, eles não poderiam dizer que Davi viveu antes da lei
oral, porque na teologia deles, Deus deu a lei oral a Moisés; por isso, a lei oral
já existia no tempo de Davi.
Se Davi podia quebrar a lei farisaica, então o principal dos filhos de Davi
também podia (Mt.12:3-4; Mc. 2:25-26).
Segundo, a lei do descanso sabático não se aplicava em toda ocasião,
conforme Mt.12:5: "Ou não tendes lido na lei que, aos sábados, os sacerdotes
no templo violam o sábado e ficam sem culpa"? Esta era a situação dos que
trabalhavam no templo. Para eles, o sábado não era um dia de descanso, mas
sim um dia de trabalho. De fato, eles tinham que trabalhar mais no dia de
sábado do que nos demais dias. Todos os dias tinham sacrifícios diários e
rituais, mas no sábado, todos os sacrifícios eram em dobro. Além do mais,
haviam rituais especiais realizados somente nos sábados. Por isso, o sábado
não era um dia de descanso para aqueles que trabalhavam no templo. Isso
mostra que a lei de Moisés permitia e ainda mandava que certos trabalhos
fossem feitos no sábado. Até mesmo os fariseus permitiam certos trabalhos
como por exemplo, a realização de partos, circuncisão e a preparação dos
cadáveres no dia de sábado. A questão era que a lei do descanso sabático não
se aplicava em todas as situações.
Terceiro, como Jesus era o messias, Ele era maior que o templo, em
Mt.12:6: "Pois eu vos digo que está aqui quem é maior que o templo". Se o
templo permitia certos trabalhos no sábado, mas sem violar o sábado, então
Ele poderia permitir certos trabalhos que não seriam considerados "quebrar" o
sábado.
Quarto, Ele mostrou que certos trabalhos eram SEMPRE permitidos no
dia de sábado, como declarado em Mt.12:7: "Mas se vocês soubessem o que
significa: Misericórdia quero e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes".
Citando Os.6:6, trabalhos de necessidade tal como se alimentar, e
trabalhos de piedade tais como curas, sempre eram permitidos no sábado.
Quinto, como messias, Ele era Senhor do sábado, em Lc.6:5: "E dizia-
lhes: O filho do homem é Senhor até do sábado". Como Senhor do sábado, Ele
poderia permitir aquilo que eles não permitiam e proibir aquilo que eles
permitiam. Como Ele não havia violado a lei de Moisés, eles não tinham
fundamento para nenhuma acusação contra Ele (Mt.12:8; Mc.2:28).
Em sexto e último lugar, Ele declarou que eles tinham interpretado mal o
propósito do sábado, em Mc. 2:27: "E disse-lhes: O sábado foi feito por causa
do homem e não o homem por causa do sábado". O judaísmo farisaico,
ensinava que a razão pela qual Deus havia criado Israel, era honrar o sábado.
Por isso, Israel foi feito para o sábado. Jesus, no entanto, ensinou que
exatamente o oposto é que era verdade. Israel não foi feito para o sábado; o
sábado foi feito para Israel. O propósito do sábado era dar a Israel um dia de
refrigério e descanso, e não escravizar Israel em leis sabáticas. As 1500 regras
e regulamentações criadas para se guardar o sábado, tinham o efeito de
escravizar os judeus ao sábado. Por isso, eles não entenderam o propósito do
sábado.
Na história da igreja, têm havido problemas similares. A igreja tem
entendido mal o propósito do sábado de duas maneiras. A primeira, é dizer que
o domingo é o "novo sábado". Em nenhum lugar das escrituras o domingo é
chamado de sábado. O sábado é, foi e sempre será do pôr-do-Sol de sexta-
feira até o pôr-do-sol de sábado. Hoje, sob a lei do messias, não há a obrigação
de se guardar o sábado; mas o dia de sábado não mudou.
A bíblia nunca chama o domingo de sábado, nem chama o domingo de
DIA DO SENHOR. Isso é o que se pode chamar de "Mishná cristã". É apenas
pela tradição que o domingo é chamado "Dia do Senhor". Nas escrituras, o
domingo sempre é chamado de "primeiro dia da semana". A igreja não tem
apenas definido o domingo como o novo sábado, mas também tem aplicado ao
domingo, as leis sabáticas. Como resultado, em alguns círculos, o domingo se
tornou o dia OBRIGATÓRIO para se fazer adoração pública e descansar.
Limitando-nos somente ao texto das escrituras, é mandado aos crentes
que se reúnam regularmente (Hb. 10:25). Isso não é uma opção; é um
mandamento bíblico. No entanto, o dia da semana é opcional (Rm. 14:4-11).
A segunda atitude errada que a igreja assume com relação ao sábado, é
pelo fato de se insistir que ele ainda é mandatório. Isso é baseado em um mal
entendido acerca do propósito mosaico do sábado. Moisés disse para ficar em
casa e descansar no dia de sábado, e não para se fazer cultos públicos. Os
fariseus entenderam isso. Então, como parte integrante do ditado "construir
uma cerca para a lei", eles declararam que era proibido andar mais do que
uma jornada de um dia de sábado de sua casa, o que era equivalente a 1Km.
Por isso, uma pessoa que se levanta sábado de manhã, liga seu carro e vai
para a igreja, está quebrando o sábado toda semana.
Mais tarde, o judaísmo rabínico fez do sábado, um dia de adoração
pública; no entanto, esse não era o propósito do sábado, conforme a lei de
Moisés. Além do mais, as sinagogas eram localizadas dentro de um perímetro
de 1Km. Culto público sob a lei de Moisés era permitido apenas onde o
tabernáculo ou o templo estavam, que por sua vez era em Jerusalém. Apenas
aqueles que estivessem em Jerusalém poderiam participar dos cultos de todos
os sábados, mas não aqueles que vivessem na Galiléia, que era distante 3 dias
de viagem de Jerusalém. Piedade para o judeu Galileu que tivesse que
participar dos cultos todos os sábados em Jerusalém!! Ele teria que andar por 3
dias até chegar a tempo para o culto de sábado, e então andar de volta 3 dias
para a Galiléia. Chegando na Galiléia, ele teria que voltar logo e novamente
andar durante 3 dias para chegar em Jerusalém a tempo de participar do
próximo culto de sábado. Ele estaria andando por 6 dias, em vez de estar
trabalhando por 6 dias. Por esta razão, a lei de Moisés ordenava que se fizesse
cultos públicos somente 3 vezes ao ano: Na festa da Páscoa, na festa das
semanas (Pentecostes) e na festa dos tabernáculos.

3 – A CURA DE UM HOMEM COM A MÃO MIRRADA (MT.


12:9-14; MC.3 :1-6; LC. 6:6-11):

A terceira questão sobre o sábado aconteceu na sinagoga. De acordo


com o relato de Lucas, Yeshua estava explicando as escrituras, no verso 6: "E
aconteceu também noutro sábado, que entrou na sinagoga e estava ensinando;
e havia ali um homem que tinha a mão direita mirrada". Naquele sábado havia
um homem entre o público que O ouvia, que tinha uma de suas mãos mirrada.
Isto era um problema médico, mas não era algo que proporcionasse risco à
vida. Novamente, a profissão de Lucas torna-se evidente. Ambos os relatos de
Mateus e Marcos, declaram que o homem tinha a mão mirrada; no entanto, o
doutor Lucas especifica que era a mão direita.
O verso 7 declara: "E os escribas e os fariseus observavam-no se o
curaria no sábado, para acharem de que o acusar". Parece que o homem
estava infiltrado entre eles com o propósito de armar uma cilada, porque
Mt.12:10 declara que perguntaram a Jesus se era lícito curar no sábado, com o
objetivo de o acusarem.
Desde então, eles estavam procurando um motivo para o acusarem e o
rejeitarem.
Conforme as leis do sinédrio daqueles dias, se qualquer movimento
messiânico aparecesse eles tinham que investigar em dois estágios: O estágio
de observação e o estágio de interrogação. No estágio de observação, uma
delegação era enviada apenas para observar o que estava sendo dito, ensinado
e feito, mas eles não faziam nada. Eles não poderiam perguntar nada e nem
levantar objeções. Eles não podiam falar nada. Tudo o que eles podiam fazer
era observar.
Depois de um período de observação, eles retornavam a Jerusalém para
relatar tudo e dar um veredito sobre se o movimento era significante ou não.
Se eles declarassem que o movimento era insignificante, o problema todo era
descartado. No entanto, se eles dissessem que o movimento era de
significância, então o estágio de interrogação tinha início.
A partir daí, uma segunda delegação era enviada. Dessa vez, eles fariam
perguntas, levantariam objeções e procurariam motivos para aceitar ou rejeitar
as reivindicações dessa pessoa (movimento).
Jesus claramente entendeu quais eram as circunstâncias, conforme o
verso 8: "Mas Ele bem conhecia os seus pensamentos; e disse ao homem que
tinha a mão mirrada: Levanta-te e fica em pé no meio. E, levantando-se ele,
ficou em pé". Todavia, Ele mostrou que Ele não aceitaria a autoridade farisaica
baseada na Mishná.
Ele começou lembrando a eles de suas próprias práticas, conforme se lê
no relato de Mateus nos versos 11-12: "E Ele lhes disse: Qual dentre vós será o
homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará
mão dela e a levantará? Pois, quanto mais vale um homem do que uma
ovelha? É, por conseqüência, lícito fazer bem nos sábados". Isso mostra que
até mesmo eles, os fariseus, reconheciam que era lícito fazer bem no sábado.
No entanto, Jesus os confrontou com uma questão em Lc. 6:9: "Então Jesus
lhes disse: Uma coisa vos hei de perguntar: É lícito nos sábados fazer bem, ou
fazer mal? Salvar a vida ou matar?" De acordo com Mc. 3:4, eles preferiram
permanecer em silêncio. Ele usou um tipo de argumento chamado Kal
V'chomer que faz uma argumentação a partir de um nível menor em
importância, indo até um nível maior. Ele declarou que se era permitido fazer
bem para um animal no dia de sábado, o que era algo de menor importância,
quanto mais fazer o bem a um ser humano, o que era de maior importância?
Ele repetiu 2 lições mencionadas anteriormente: Primeiro, obras de
necessidade e obras de misericórdia eram permitidas no dia de sábado, mesmo
para animais; segundo, cura era um ato de misericórdia; por isso, nenhuma
dessas coisas violava o sábado.
Havendo feito essa consideração, Ele acabou efetuando a cura da mão
desse homem, no verso 10: "E, olhando para todos em redor, disse ao homem:
Estende a tua mão. E ele assim o fez e a mão lhe foi restituída sã como a
outra". Ao fazer isso, Jesus estava novamente rejeitando a autoridade farisaica.
Conforme mostrado em Mc. 3:5, Cristo fez estas coisas para contrariá-los. Para
que o homem fosse curado, Jesus ordenou somente que ele esticasse a sua
mão direita. Ao fazer isso, o homem foi imediatamente curado. Yeshua não
perguntou ao homem se ele cria nEle ou se tinha fé; até aí, fé não era
necessário. Embora o homem pudesse ser alguém infiltrado entre a multidão a
pedido dos fariseus, Jesus prosseguiu em efetuar a cura, porque até este
momento em seu ministério, o propósito de seus milagres era autenticá-lo
como o messias de Israel.
A resposta dos fariseus a este fato e às controvérsias com relação ao
sábado em geral, é dada no verso 11: "E ficaram cheios de furor e
conferenciavam uns com os outros sobre o que fariam a Jesus". A resposta
deles foi demonstrada de três maneiras. Primeiro, no verso 11, eles foram
cheios de furor. Eles deixaram a emoção controlá-los. Eles não mais podiam
pensar de maneira lógica e racional. Segundo, de acordo com Mt. 12:14, eles
"formaram conselho contra Ele, para o matarem". Eles tramaram uma
maneira de como se livrar dEle de uma forma ou de outra e como rejeitar sua
messianidade, apesar de suas habilidades.
Terceiro, de acordo com Mc. 3:6 eles "tomaram conselho com os
herodianos contra Ele, procurando ver como O matariam". Os fariseus se
reuniram com os herodianos, contra Yeshua. Isto, de fato, soa muito estranho,
porque os fariseus e os herodianos estavam em lados opostos no contexto
político e eram inimigos ferrenhos uns dos outros. Os fariseus eram opositores
das leis romanas de qualquer forma, mas os herodianos protegiam as leis
romanas, se estas viessem da casa de Herodes. Com relação a Jesus, eles
tinham uma causa em comum.

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