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TEMPO PASCAL. SÉTIMA SEMANA.

SEXTA-FEIRA

94. OS FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO


– Os frutos do Espírito Santo na alma, manifestação da glória de Deus. O amor, o gozo e a
paz.

– Paciência e longanimidade. A sua importância no apostolado.

– Os frutos que se relacionam mais directamente com o bem do próximo: bondade,


benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade.

I. QUANDO A ALMA é dócil às inspirações do Espírito Santo, converte-se


numa árvore boa que se dá a conhecer pelos seus frutos. Esses frutos
amadurecem a vida cristã e são manifestação da glória de Deus: Nisto é
glorificado meu Pai, em que deis muito fruto1, dirá o Senhor na Última Ceia.

Estes frutos sobrenaturais são incontáveis. São Paulo, a título de exemplo,


menciona doze: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade,
longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência e castidade2.

Em primeiro lugar figura o amor, a caridade, que é a primeira manifestação


da nossa união com Cristo. É o mais saboroso dos frutos, aquele que nos faz
experimentar que Deus está mais perto, e que visa aliviar o fardo dos outros.
A caridade delicada e operativa com os que convivem ou trabalham connosco
é a primeira manifestação da acção do Espírito Santo na alma: “Não existe
sinal nem marca que distinga o cristão e aquele que ama a Cristo como o
cuidado dos nossos irmãos e o zelo pela salvação das almas”3.

Ao primeiro e principal fruto do Espírito Santo “segue-se necessariamente a


alegria, pois aquele que ama alegra-se na união com o amado”4. É uma
alegria que caracteriza o cristão e que permanece por cima da dor e do
fracasso. Quanto bem não tem semeado no mundo a alegria dos cristãos!
“Alegrar-se nas tribulações, sorrir no sofrimento, cantar com o coração e com
o melhor timbre quanto maiores e mais dolorosos forem os espinhos [...] e
tudo isto por amor – este é, juntamente com o amor, o fruto que o Vinhateiro
divino quer colher dos ramos da Vinha mística, fruto que somente o Espírito
Santo pode produzir em nós”5.

O amor e a alegria deixam na alma a paz de Deus, que ultrapassa todo o


conhecimento6. Existe a falsa paz da desordem, como a que reina numa
família em que os pais cedem sempre aos caprichos dos filhos, sob o pretexto
de “ter paz”; ou como a da cidade que, com a desculpa de não querer
contristar ninguém, deixa que os malvados perpetrem os seus crimes. A paz,
fruto do Espírito Santo, é ausência de agitação – é “a tranquilidade na ordem”,
como a define Santo Agostinho7 –, e é descanso da vontade na posse estável
do bem. Esta paz pressupõe uma luta constante contra as tendências
desordenadas das paixões.
II. EM FACE DOS OBSTÁCULOS, as almas que se deixam guiar pelo
Paráclito produzem ainda como fruto a paciência, que permite enfrentar com
equanimidade, sem queixas nem lamentações estéreis, os sofrimentos físicos
e morais que a vida traz consigo. A caridade está cheia de paciência; e a
paciência é, em muitas ocasiões, o suporte do amor. “A caridade – escrevia
São Cipriano – é o laço que une os irmãos, o fundamento da paz, o
entrelaçamento que dá firmeza à unidade... Tirai-lhe, porém, a paciência, e
ficará devastada: tirai-lhe o jugo do sofrimento e da resignação, e perderá as
raízes e o vigor”8. O cristão deve ver em tudo a mão amorosa de Deus, que
se serve dos sofrimentos e das dores para purificar aqueles que mais ama e
fazê-los santos. Por isso, não perde a paz diante da doença, dos
contratempos, dos defeitos alheios, das calúnias... ou mesmo dos seus
fracassos espirituais.

A longanimidade é semelhante à paciência. É uma disposição estável pela


qual esperamos de ânimo sereno, sem amargura, e durante o tempo que
Deus queira, as dilações queridas ou permitidas por Ele, antes de
alcançarmos as metas ascéticas ou apostólicas que nos propomos.

Este fruto do Espírito Santo dá à alma a certeza plena de que – se


emprega os meios adequados, se se empenha em lutar, se recomeça sempre
– esses propósitos chegarão a efectivar-se, apesar dos obstáculos objetivos
que possa encontrar, apesar das fraquezas, erros e pecados que possa
cometer.

No apostolado, a pessoa longânime propõe-se metas altas, à medida do


querer de Deus, ainda que os resultados concretos pareçam pequenos, e,
com santa teimosia e constância, não omite nenhum dos meios humanos e
sobrenaturais ao seu alcance. “A fé é um requisito imprescindível no
apostolado, que muitas vezes se manifesta na constância em falar de Deus,
ainda que os frutos demorem em vir. Se perseverarmos, se insistirmos, bem
convencidos de que o Senhor assim o quer, também à tua volta, por toda a
parte, se irão notando sinais de uma revolução cristã: uns haverão de
entregar-se, outros tomarão a sério a sua vida interior, e outros – os mais
fracos – ficarão pelo menos alertados”9.

O Senhor conta com o nosso esforço diário, sem pausas, para que a tarefa
apostólica dê os seus frutos. Se alguma vez esses frutos tardam em aparecer,
se o empenho com que procuramos aproximar de Deus um familiar ou um
colega parece estéril, devemos animar-nos com o pensamento de que
ninguém que trabalhe pelo Senhor, com recta intenção, o faz em vão: Os
meus eleitos não trabalharão em vão10. A longanimidade apresenta-se como
o perfeito desenvolvimento da virtude da esperança.

III. DEPOIS DOS FRUTOS que relacionam a alma directamente com Deus
e com a sua própria santidade, São Paulo enumera os que visam em primeiro
lugar o bem do próximo: Revesti-vos de entranhas de misericórdia, de
bondade, de humildade, de mansidão [...], suportando-vos e perdoando-vos
mutuamente11.

A bondade de que o Apóstolo nos fala é uma disposição estável da


vontade que nos inclina a querer toda a espécie de bens para os outros, sem
excetuar ninguém: amigos e inimigos, parentes e desconhecidos, vizinhos e
gente distante. A alma sente-se amada por Deus e isto impede-a de ter
ciúmes e invejas, levando-a a ver nos outros filhos de Deus, a quem Ele ama
e por quem Jesus morreu.

Não basta querer o bem para os outros na teoria. A caridade verdadeira é


amor eficaz que se traduz em actos. A caridade é benfazeja12, anuncia São
Paulo. A benignidade é precisamente essa disposição do coração que nos
inclina a fazer o bem aos outros13.

Este fruto manifesta-se nas diversas obras de misericórdia, corporais e


espirituais, que os cristãos realizam no mundo inteiro sem distinção de
pessoas. Na nossa vida, manifesta-se nos mil pormenores de serviço que
procuramos ter com aqueles com quem nos relacionamos todos os dias. A
benignidade incita-nos a levar paz e alegria aos lugares por onde passamos e
a ter uma disposição constante de indulgência e de afabilidade.

A mansidão está intimamente ligada à bondade e à benignidade, e é como


que o seu acabamento e perfeição. Opõe-se às estéreis manifestações da ira,
que no fundo são sinais de fraqueza. A caridade não se irrita14, antes se
expande com suavidade e delicadeza, apoiando-se numa grande firmeza de
espírito. Aquele que possui este fruto do Espírito Santo não se impacienta
nem alimenta sentimentos de rancor para com as pessoas que o tenham
ofendido ou injuriado, ainda que sinta – e às vezes muito vivamente, pela
maior finura de sentimentos que adquire pelo trato com Deus – as asperezas
dos outros, os desaires, as humilhações. Sabe que Deus se serve de tudo
isso para purificar as almas.

À mansidão segue-se a fidelidade. Fiel é a pessoa que cumpre os seus


deveres, mesmo os mais pequenos, e em quem os outros podem depositar a
sua confiança. Nada é comparável a um amigo fiel, diz a Sagrada Escritura; o
seu preço é incalculável15. Ser fiel é uma forma de viver a justiça e a caridade.
A fidelidade é o resumo de todos os frutos que se referem às nossas relações
com o próximo.

Os três últimos frutos mencionados por São Paulo dizem respeito à virtude
da temperança, a qual, sob o influxo dos dons do Espírito Santo, produz frutos
de modéstia, continência e castidade.

Pessoa modesta é aquela que sabe comportar-se de modo equilibrado e


justo em cada situação, e que aprecia os seus talentos sem os exagerar nem
diminuir, porque sabe que são uma dádiva de Deus para serem postos a
serviço dos outros. Este fruto do Espírito Santo reflecte-se no porte exterior da
pessoa, no seu modo de falar e de vestir, de tratar as pessoas e de
comportar-se socialmente. A modéstia é atraente porque reflecte simplicidade
e ordem interior.

Os dois últimos frutos apontados por São Paulo são a continência e a


castidade. Como que por instinto, a alma está extremamente vigilante, a fim
de evitar tudo o que possa ameaçar-lhe a pureza interior e exterior, tão grata
a Deus. São frutos que embelezam a vida cristã, que a preparam para
entender as coisas que se referem a Deus, e que podem obter-se mesmo no
meio de grandes tentações, se se foge da ocasião e se luta com decisão,
sabendo que a graça do Senhor nunca há de faltar.

Ao terminarmos a nossa oração, aproximamo-nos da Virgem Santíssima,


porque Deus se serve d’Ela para produzir abundantes frutos nas almas por
influxo do Paráclito. Eu sou a Mãe do Amor formoso, do temor, da ciência e
da santa esperança. Vinde a mim todos os que me desejais, e enchei-vos dos
meus frutos. Pois o meu espírito é mais doce que o mel, e a minha posse
mais suave que o favo de mel...16

(1) Jo 15, 8; (2) cfr. Gal 5, 22-23; (3) São João Crisóstomo, Homilias sobre o incompreensível,
6, 3; (4) São Tomás, Suma Teológica, 1-2, q. 70, a. 3; (5) A. Riaud, La acción del Espíritu
Santo en las almas, 4ª ed., Palabra, Madrid, pág. 120; (6) Fil 4, 7; (7) Santo Agostinho, A
cidade de Deus, 19, 13, 1; (8) São Cipriano, Do bem da paciência, 15; (9) São Josemaría
Escrivá, Sulco, n. 207; (10) Is 45, 23; (11) Col 3, 12-13; (12) 1 Cor 13, 4; (13) cfr. A. Riaud,
op. cit., pág. 148 e segs.; (14) 1 Cor 13, 5; (15) Eclo 6, 1; (16) Eclo 24, 24-27.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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