DANIELA LABRA
Desde sua institucionalização como prática artística há mais de trinta anos, a arte da per-
formance – também nomeada arte de ação – reprocessou sua inicial tática antimercado e
hoje está presente em vernissages e eventos culturais diversos, além de festivais especia-
lizados, como o documentado neste livro. A atual voga da performance, porém, incentivou
uma proliferação de ações superficiais que se dão mais no plano do lazer que no da
reflexão. Estas diluem o impacto crítico que uma arte viva pode oferecer. Entretanto, uma
ação performática, pela sua natureza, não se esgota em um maneirismo fácil, sempre
havendo, portanto, espaço para pesquisas em que o enfrentamento com o real e o contex-
to seja mantido como ferramenta política e filosófica.
Os programas de vídeos exibiram obras com “potencial performático”1 em que recursos 1 Ver o texto de Rosangella Leote, “Video-
performance: linguagem em mutação”.
como edição e efeitos especiais são utilizados livremente. Nestas práticas, o tempo real é
um elemento a ser francamente manipulado e o artista assume-se como uma persona.
Também houve registros de ações ao vivo, seguindo a tradição da arte corporal para o
suporte videográfico que remonta aos anos 1970, quando a câmera se colocava como
primeira interlocutora da experiência do sujeito.
As palestras trouxeram nomes relevantes para uma reflexão sobre as relações entre per-
formance e as várias tecnologias ao nosso alcance. A artista francesa Orlan, cujo corpo é
plataforma para discussões éticas, estéticas e políticas, apresentou uma retrospectiva da
sua carreira; Bia Medeiros, responsável pelo grupo de performance telepresencial Corpos
Informáticos, apresentou os conceitos sobre os quais vem pesquisando e trabalhando há
dezesseis anos; e Ricardo Dominguez, membro do coletivo Critical Art Ensemble, falou em
teleconferência sobre táticas de ativismo e desobediência civil apoiadas nas redes
telemáticas. Todos os palestrantes contribuíram para este livro com textos inéditos que
resumem suas falas e suas idéias.
Esta publicação também reúne colaborações do curador argentino Silvio de Gracia, sobre
a cena da tecnoperformance; da teórica paulista Rosangella Leote, sobre sua noção de
videoperformance; e do artista Stelarc, sobre as práticas e conceitos de suas experiências
artístico-científicas de manipulação corporal desenvolvidas há mais de vinte anos em cen-
tros de pesquisa internacionais e espaços de arte. Igualmente, há registros fotográficos do
evento e seus artistas.
Após os três dias de ações efêmeras, este livro perpetua a mostra e sintetiza seu conceito.
Este material é um quadro de pensamento bem completo que contribui para o aprofunda-
mento crítico a respeito desta prática tão intrigante, e também tão em voga, que é a arte
da performance – aqui enfocada sob o viés de sua interação com suportes tecnológicos.