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TEMPO PASCAL. SÉTIMA SEMANA.

SÁBADO

95. O ESPÍRITO SANTO E MARIA


– Esperar a chegada do Paráclito ao lado da Virgem Santíssima.

– O Espírito Santo na vida de Maria.

– A Virgem Maria, “coração da Igreja nascente”, colabora activamente com a acção do


Espírito Santo nas almas.

I. ENQUANTO ESPERAVAM A VINDA do Espírito Santo prometido, todos


perseveravam unanimemente na oração juntamente com as santas mulheres
e Maria, a Mãe de Jesus...1 Todos estão num mesmo lugar, no Cenáculo,
animados pelo mesmo amor e por uma só esperança. No centro deles,
encontra-se a Mãe de Deus. A Tradição, ao meditar nesta cena, viu reflectida
nela a maternidade espiritual de Maria sobre toda a Igreja. “A era da Igreja
começou com a “vinda”, quer dizer, com a descida do Espírito Santo sobre os
Apóstolos reunidos no Cenáculo de Jerusalém, junto com Maria, a Mãe do
Senhor”2.

Nossa Senhora vive uma espécie de segundo Advento, uma espera que
prepara a comunicação plena do Espírito Santo e dos seus dons à Igreja
nascente. Este novo Advento é ao mesmo tempo muito semelhante e muito
diferente do primeiro, daquele que preparou o nascimento de Jesus. Muito
semelhante porque em ambos estão presentes a oração, o recolhimento, a fé
na promessa, o desejo ardente de que esta se realize. Maria, quando trazia
Jesus oculto no seu seio, permanecia no silêncio da sua contemplação.
Agora, Nossa Senhora vive profundamente unida ao seu Filho glorificado3.

Mas esta segunda espera é também muito diferente da primeira. No


primeiro Advento, a Virgem é a única que vive a promessa realizada no seu
seio; agora, aguarda-a em companhia dos Apóstolos e das santas mulheres.
É uma espera compartilhada, a da Igreja que está a ponto de manifestar-se
publicamente em redor de Nossa Senhora: “Maria, que concebeu Cristo por
obra do Espírito Santo, do amor do Deus vivo, preside ao nascimento da
Igreja no dia de Pentecostes, quando o próprio Espírito Santo desce sobre os
discípulos e vivifica na unidade e na caridade o Corpo místico dos cristãos”4.

O propósito da nossa oração de hoje, véspera da grande solenidade de


Pentecostes, é esperarmos a chegada do Paráclito muito unidos à nossa
Mãe, “que implora com as suas preces o dom do Espírito, o qual já na
Anunciação a havia coberto com a sua sombra”5, convertendo-a no novo
Tabernáculo de Deus. Nos começos da Redenção, Maria dera-nos o seu
Filho; agora, “através das suas eficacíssimas súplicas, conseguiu que o
Espírito do divino Redentor, já outorgado na Cruz, se comunicasse com os
seus prodigiosos dons à Igreja, recém-nascida no dia de Pentecostes”6.

“Quem nos transmite esse dado é São Lucas, o evangelista que mais
longamente narrou a infância de Jesus. É como se quisesse dar-nos a
entender que, assim como Maria teve um papel primordial na Encarnação do
Verbo, de modo análogo esteve também presente nas origens da Igreja, que
é o Corpo de Cristo”7. Para podermos estar bem preparados para uma maior
intimidade com o Paráclito, para sermos mais dóceis às suas inspirações, o
caminho é Nossa Senhora. Os Apóstolos assim o entenderam; por isso os
vemos ao lado de Maria no Cenáculo.

II. NO DIA DE PENTECOSTES, a Santíssima Virgem recebeu o Espírito


Santo com uma plenitude inigualável porque o seu coração era o mais puro, o
mais desprendido, o que amava de modo incomparável a Santíssima
Trindade. O Paráclito desceu sobre a alma da Virgem e inundou-a de uma
maneira nova. Ele é o “doce Hóspede” da alma de Maria. O Senhor havia
prometido a todo aquele que amasse a Deus: Viremos a ele e nele faremos a
nossa morada8. Esta promessa realiza-se sobretudo em Nossa Senhora.

Ela, “a obra prima de Deus”9, fora preparada com imensos cuidados pelo
Espírito Santo para ser tabernáculo vivo do Filho de Deus. Por isso o Anjo a
cumprimentou no momento da Anunciação: Ave, cheia de graça10. E aquela
que já estava possuída pelo Espírito Santo e cheia de graça, recebeu nesse
instante uma nova e singular plenitude: O Espírito Santo virá sobre ti e te
cobrirá com a sua sombra11. “Redimida de um modo eminente e em previsão
dos méritos do seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel,
Maria é enriquecida com a sublime missão e a dignidade de ser a Mãe do
Filho de Deus e, por isso, Filha predilecta do Pai e Sacrário do Espírito Santo,
com o dom de uma graça tão extraordinária que supera de longe todas as
criaturas celestes e terrenas”12.

Depois, ao longo da sua vida, Nossa Senhora foi crescendo no amor a


Deus Pai, a Deus Filho (seu Filho Jesus), a Deus Espírito Santo.
Correspondeu a todas as inspirações e moções do Paráclito e, de cada vez
que era dócil a essas inspirações, recebia novas graças. Em momento algum
opôs a menor resistência a Deus, nunca lhe negou nada; o seu crescimento
nas virtudes sobrenaturais e humanas (que estavam sob uma especial
influência da graça) foi contínuo.

No dia de Pentecostes, o Espírito Santo, que já habitava em Maria desde o


mistério da sua Imaculada Conceição, veio fixar n’Ela a sua morada de uma
maneira nova. Todas as promessas que Jesus tinha feito acerca do Paráclito
– Ele vos recordará todas estas coisas13, Ele vos conduzirá à verdade
completa14 – cumprem-se plenamente na alma da Virgem.

Nossa Senhora é a Criatura mais amada por Deus. Pois se a cada um de


nós, apesar de tantas ofensas, o Senhor nos recebe como o pai do filho
pródigo; se a nós, sendo pecadores, nos ama com amor infinito e nos enche
de bens de cada vez que correspondemos às suas graças, “se procede assim
com quem o ofendeu, o que não fará para honrar a sua Mãe imaculada, Virgo
Fidelis, Virgem Santíssima, sempre fiel? Se o amor de Deus se mostra tão
grande, quando a capacidade do coração humano – com frequência traidor –
é tão pequena, como não se manifestará no Coração de Maria, que nunca
opôs o menor obstáculo à Vontade divina?”15

III. TUDO O QUE SE TEM levado a cabo na Igreja desde o seu nascimento
até os nossos dias é obra do Espírito Santo: a evangelização do mundo, as
conversões, a fortaleza dos mártires, a santidade dos seus membros... “O que
a alma é para o corpo do homem – ensina Santo Agostinho –, isso é o
Espírito Santo no Corpo de Cristo que é a Igreja. O Espírito Santo realiza na
Igreja o que a alma realiza nos membros de um corpo” 16: dá-lhe vida,
desenvolve-o, é o seu princípio de unidade... Por Ele vivemos a vida do
próprio Cristo Nosso Senhor, em união com Santa Maria, com todos os anjos
e santos do Céu, com os que se preparam no purgatório e os que ainda
peregrinam na terra.

O Espírito Santo é também o santificador da nossa alma. Todas as


inspirações e desejos que nos animam a ser melhores, todas as nossas boas
obras, bem como as ajudas necessárias para terminá-las..., tudo é obra do
Paráclito. “Este divino Mestre estabeleceu a sua escola no interior das almas
que lho pedem e desejam ardentemente tê-lo por Mestre”17. “A sua acção na
alma é suave, a sua experiência é agradável e aprazível, e o seu jugo é
levíssimo. A sua vinda é precedida pelos raios brilhantes da sua luz e da sua
ciência. Vem com a verdade do genuíno protector, pois vem salvar, curar,
ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar, em primeiro lugar a mente
daquele que o recebe e depois, pelas obras deste, a mente dos outros”18.

E assim como aquele que se achava rodeado de trevas, em saindo o sol


recebe a sua luz nos olhos corporais e contempla claramente o que antes não
via, assim também aquele que é achado digno do dom do Espírito Santo fica
com a alma iluminada e, elevando-se acima da razão natural, vê aquilo que
antes ignorava.

O Espírito Santo não cessa de actuar na Igreja, fazendo surgir por toda a
parte novos desejos de santidade, novos filhos e, ao mesmo tempo, melhores
filhos de Deus, que têm em Jesus Cristo o Modelo perfeito, pois Ele é o
primogénito de muitos irmãos. E Nossa Senhora, pela sua colaboração activa
com o Espírito Santo nas almas, exerce a sua maternidade sobre todos os
seus filhos. Por isso é proclamada Mãe da Igreja, “quer dizer, Mãe de todo o
Povo de Deus, tanto dos fiéis como dos Pastores, que a chamam Mãe
amorosa. Queremos – proclamava Paulo VI – que de agora em diante seja
honrada e invocada por todo o povo cristão com esse título
gratíssimo”19.Santa Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós e ajudai-nos a
preparar a vinda do Paráclito às nossas almas.

(1) At 1, 14; (2) João Paulo II, Enc. Dominum et vivificantem, 18-V-1986, 25; (3) cfr. M. D.
Philippe, Mistério de Maria, Rialp, Madrid, 1986, págs. 348-349; (4) Paulo VI, Discurso, 25-X-
1969; (5) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 59, (6) Pio XII, Enc. Mystici Corporis, 29-VI-
1943; (7) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 141; (8) Jo 4, 23; (9) cfr. São
Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 292; (10) Lc 1, 28; (11) Lc 1, 35; (12) Conc. Vat. II,
op. cit., 53; (13) cfr. Jo 14, 26; (14) cfr. Jo 16, 13; (15) São Josemaría Escrivá, É Cristo que
passa, n. 178; (16) Santo Agostinho, Sermão 267; (17) F. Javiera del Valle, Decenario al
Espíritu Santo, 4º dia; (18) São Cirilo de Jerusalém, Catequese 16 sobre o Espírito Santo, 1;
(19) Paulo VI, Discurso ao Concílio, 2-IX-1964.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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