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PoP

07 R$ 8,00
vembro 20
nº 02 . No

especial
anos 80

rock br
os sons
as bandas
a década

jrcomunicações
...............................
CAPA Philippe vocalista e guitarrista da Plebe
Rude em show realizado em São Paulo

2
FOTO: FLÁVIO COLKER

.............................
..............................
80´s
A década perdida.

A década que todos preferem esquecer.

A década trash.
O que não destrói a memória da década de 80, a fortalece.

E nada é capaz de apagar tanta atitude.

Era o fim a didatura, e o começo da atividade.

Da rrrrrádio atividade de Evandro Mesquita e dos exageros do Cazuza nas noites no Madame Satã, ou na tenda do Circo Voador.

A vida era leve e urgente.

Parte dessa leveza se perdeu na sombra da AIDS, mas a juventude nunca morre. Ela muta e resiste à própria morte como Cazuza, Júlio Barroso
e Renato Russo fizeram.

Uma geração inteira se deu conta de que todos os dias quando acordava, não tinha mais o tempo que havia passado.

O encontro do espaço criativo com o existencial possibilitou o nascimento de movimentos musicais influenciados pelo planeta inteiro, agora mais
próximo e mais acessível.

Tudo era possível, tudo era permitido.


Do Golpe Militar, só ficou a lembrança de que era proibido proibir.

A criação foi tamanha que é impossível citar todo mundo.

Falamos com Luiz Calanca, da Baratos Afins e com Cadão Volpato, do Fellini. Recebemos textos exclusivos de gente que ajudou a pavimentar
a cultura musical perdida em paradas globais fabricadas e falamos com muita gente.

Os verdadeiros filhos da revolução são aqueles que fizeram parte dela.

Tanta gente que não cabe apenas um hino, mas muitas vozes perguntando em coro:

Que país é esse?


25
ro
Elaine Gomes

15 ck
as bandas,
br os estilos, a década

inventando
5 37
moda
drops
linkin park reiventa seu som
,
renatta de lucca abre
H2SO4
o baú da falamos com
patti sm ith lança disco
as novidades do mundo mu
de cov ers,
sical
21 cadão
o teatro é mágico! a febre

11 nos porões dos musicais nos palcos e

noturnos 41
o barato
guia
relatos esclaredores

de calanca
das noites paulistas
conheça a
MOJO BOOKS!

............................
............
....wonder
........claudia ......
Rio 85: o ano do
PoP fellini rock no Brasil
zero

DROPS
página 8

FOTO: DIVULGAÇÃO

Kid Abelha: visual no


começo da carreira

Seus olhos Paula flertava com as bandas


universitárias, mas recusava convites
para fazer parte delas por ser muito
grande público pela Fluminense FM.
Distração foi ao ar pela Fluminense
em 82 e dois anos mais tarde, a
seus pensamentos, deixa eu ser seu
espião...” arrebatava uma multidão
de jovens, cheios de sonhos e

no retrato tímida. Até o dia em que ela resolveu


aceitar e as coisas caminharam para
a banda Kid Abelha e os Abóboras
WEA lançava Seu Espião, primeiro
disco de ouro daquela geração.
Com letras simples e músicas bem
conflitos, recém saídos do colegial.
Chico Buarque de Hollanda adora
Paula Toller, que adora surf music.
por elaine gomes
Selvagens (homenagem à banda compostas, aliadas aos solos de sax Na quadrilha musical brasileira,
pop norte americana Kid Creole incomuns no repertório geral das Paula conduz o Kid Abelha (hoje
Leoni amava Paula, que amava
and the Coconuts), com a chegada demais formações; o Kid em Seu sem as Abóboras Selvagens) como
Herbert. Os três estudavam na
de George Israel e Bruno Fortunato. Espião, falava de amor, de ciúmes uma das bandas mais estáveis, com
PUC do Rio, e eram amigos. Paula
Pouco tempo depois, Leoni acabou e de sentimentos colegiais ainda a formação de sempre, independente
Toller namorou Leoni até conhecer
se desentendendo com os integrantes presentes na maioria dos jovens das carreiras solo que ela e George
Herbert Vianna e virarem um novo
do Kid (mais especificamente Paula que compravam seus discos com a Israel desenvolvem.
casal.
e Herbert – que não fazia parte da avidez de quem estava cansado de
A troca de recados entre os dois,
banda, mas estava sempre presente) esperar um representante digno. 3
e saiu para formar seu Heróis da Quando Paula, afinadíssima,
nas canções, fazia a alegria dos
Resistência, sem muito êxito. cantava o dia a dia no colégio: “as Faixas: Nada tanto assim/ Alice/ d
fãs. Paula pedia que ele tirasse a
bermuda, avisando que os solos
No Rio de janeiro, na época, uma minhas notas todas vermelhas na Hoje eu não vou/ Fixação/ Como z
rádio chamada Fluminense FM, mesa do diretor, me dá nos nervos, eu quero/ Ele quer me conquistar/
de guitarra eram inúteis no campo
pedia no ar que os jovens enviassem eu só consigo fugir pro corredor”, Por que não eu?/ Homem com uma b
das conquistas em Como eu quero,
e Herbert respondia mais tarde que
fitas demo que eles selecionavam e ou a insegurança juvenil do amor: missão/ Pintura íntima. m
executavam. Onze entre Dez bandas “não que eu seja ciumento, é
não havia nascido de óculos em
cariocas foram apresentadas ao apenas precaução. Deixa eu ler
Óculos.
5
............................
...............................
zraio
X
d r o p s

FOTOS: ACERVO PESSOAL

Quando se fala de rock nos anos 80, as big bands


tupiniquins “Legião Urbana” e “Titãs” vêm a mente.
A POP pesquisou, e foi atrás dos “indies” da época.

Banda paulista que atuou


nas colunas das revistas
entre 84 e 90. Lançando
álbuns que muito se falou e
pouco se ouviu, Fellini tem
um som “estranho” com
uma mistura de estilos,
pop rock, samba, MPB...
uma mistura que a grava-
dora Baratos Afins apostou

fellini
na época. O som da banda
deu base a pessoas como

jardim das delicias Chico Science e Fred 04.

Wonder woman no Jardim das Delícias


por elaine gomes
A cena do Rock nacional parecia estar preparada para o im-
pensável; até aparecer Claudia Wonder em dezembro de 1985.
Mesmo para uma geração que cresceu sob os ensinamentos
demolidores do punk, mesmo para a garotada que se abrigava
sob os efeitos estéticos da new wave, mesmo para os hardcores
que não estavam nem aí pra nada, a presença de um transformer
nos palcos roqueiros era algo inusitado, estranho e terrivelmente
instigante. Claro que, a essa altura, já rolavam as provocações
sexuais de alguns grupos europeus, mas por aqui o povo gay não
se misturava às turmas mais avançadas. O explícito permanecia
difuso, distante, diluído. Ou restrito a atitudes raras como as
meninas das Mercenárias, ao glam nostálgico dos shows de Patrí-
cio Bisso e a raros vocalistas de opção sexual declarada. Afinal,
a Aids ainda espalhava terror no mundo. E ninguém parecia se
importar com nada além de diversão, vodka, pó, porões, rock,
idéias e ressacas.
violeta de outono
O show que lançou Claudia Wonder nesse redemoinho se cha- Banda de rock psicodélico paulista que, em 84, grava uma fita demo
mava “O Vômito do Mito” com a banda “Jardim das Delícias” e e começa a tocar nas rádios alternativas das cidade de S.Paulo e Rio
estreou no Madame Satã, o epicentro de experimentações da noi- de Janeiro. Em 86 gravam um compacto com três faixas e no ano
te paulistana. Era uma proposta performática: acompanhada por seguinte, 87, assinam com a RCA (atual Sony-BMG) o primeiro LP
cinco músicos e dirigida por Beto Ronchenzel, La Wonder entrava da banda. Em 91 o vocalista e guitarrista, Fabio Golfetti, se afasta da
em trajes de samurai (“para provocar o machismo nipônico”, diz
ela) e, zás-trás, arrancava tudo e virava uma mulher-morcego com

zero
visual meio punk. No final do show, o choque: numa banhei-
ra cheia de água vermelha tingida com groselha, ela se despia Tudo começa em 83 quan-
lentamente. Mulher com pau, menina veneno, bat-girl poderosa, do lançam o compacto com
transformer purificando o sangue do preconceito da ligação do “heróis” e “100-paixão”.
sexo gay à contaminação do vírus da Aids. Matava a cobra e Depois disso veio “passos
mostrava o pau. no escuro” que ganhou
disco de ouro vendendo
mais de 200 mil cópias.
3 Abriram o show da Tina
d “eu_adoro_Beatles,mas_com Turner no RJ e em SP e...
z doze_anos_eu_ainda pararam. Voltaram em 2000
ouvia_muita_trilhadenovela, com “eletro acústico” (in-
b muito_EltonJohn, dependente) que vende 10
m JacksonFive,StevieWonder...“ mil cópias, mediante a esse
fato a EMI fez a coletânea
de toda a sua obra.
6
.............................
.............................. DIVULGAÇÃO

o som das ruas


top
6
Música em todo lugar
Rock em Brasília, São Paulo, Rio e nas ruas? Culpe o walkman POP seleciona e
O walkman nasceu em 1979, quando um
dos sócios da Sony, o engenheiro Masaru
recomenda as 6 melhores
do rock oitentista
k
Ibuka disse ao outro sócio, o físico Akio
Morita, que gostaria de ouvir música o
tempo todo, mas não havia como carregar
o equipamento. Morita pensou, então,
que muitos jovens tinham esse mesmo
problema e pediu a seus funcionários que

1
que país é este?
desenvolvessem um aparelho portátil e
leve, com fones de ouvido confortáveis. Assim, em primeiro de Julho de
1979, chega às lojas o primeiro Walkman. Em dois anos, o aparelho vendeu
cerca de 1,5 milhões de unidades, e, na década de 80, se tornou uma febre
entre os jovens que se fascinaram com a possibilidade de escutar suas músi- Legião Urbana - Críticas ao governo,
cas favoritas a qualquer hora e em qualquer lugar. CLAUDIA URBANISKI som pesado e um pouco de esperança
ao povo. Tudo o que uma boa música
de rock brasileiro precisa ter.

“ a met
o des
ad
er
e
to
d
,
a
e
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a
éc
se
a d
gu
a
n
a
d
tr
a
av
a
es
fo
sando
gando-se 2 ska
Paralamas do Sucesso - Ritmo marcante
com ótimos arranjos. Contava ainda
com instrumetos de sopro, arrumadi-
nho como os Paralamas.

num oásis

dinho ouro pre
sobre os anos 80
to

3
ideologia
Cazuza - Eu quero um
Cazuza enxerga o fut
a pra viver.
uro, fazia mú-
sicas na década de 80
que poderiam

pato fu
vila mariana 08.06 4 marvin
Titãs - Uma história triste, porém, bem
tocada. Saber o destino de Marvin já
vale para esperar a música chegar ao
final.

rádio pirata

5
vios, marinha
RPM - Reis, guerras, na
ata s. Mistura
mercante e rádios pir
is de 1 mi lhã o de cópias
perfeita e ma
mais?
vendidas. Precisa falar

6
pintura íntima 3
Kid Abelha - Quem é d
que nunca
completou o refrão de
ssa música z
cantando em cima da
cama e embaixo
da escada. Um bom ref
rão não é tudo,
b

a
mas é 90%. m
guilherme isnard
vocalista da banda zero 7
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PoP + bandas
Rio 85: a cidade do rock
k Azul 29
O tecnopop do Azul 29 surgiu na
capital paulista no início da década
de 80. Influenciados pela new
FOTOS: ARQUIVO FOLHA ILUSTRADA
wave, que estava em alta naquele
Cenas de um dia
momento, a banda lança, em 83,
apoteótico: milhões seu primeiro compacto pela WEA.
se espremem em Em 84 veio o segundo. No mesmo
função do rock ano, participou da trilha do filme
“Bete Balanço”. De curta duração,
não gravou LP.

Absyntho
A influência da new wave esteve
presente, também, na banda carioca
Absyntho. Com estilo pop-rock, a
banda, formada em 82, fez sucesso,
no ano seguinte, com a música “Meu
Ursinho Blau Blau”, que vendeu
350 mil cópias. Lançou, ainda, um
compacto com a música “Palavra
Mágica” e um único LP, com o hit
“Balanço do Trem”. Para alegria de
todos, a banda acabou em 87.

Metrô
Um festival de música estudantil, em
79, apresentou ao público a banda
Gota Suspensa. Um estilo meio rock
progressivo, umas letras em francês.
Em 83 gravam o primeiro LP. Passam
a tocar rock romântico e decidem
O dia em que o Rio virou Woodstock trocar seu nome para Metrô. Em
84 gravam o compacto “Beat
por vinicius gonçalves Acelerado”, que rodou o Brasil
e, por conta do enorme sucesso,
garante à banda a gravação de
1.600.000 litros de bebidas, 4 mi- lha, Lulu Santos, Ney Matogrosso, um LP, o “Olhar”. Com o excesso
lhões copos, 9000.000 sanduíches, Paralamas do Sucesso, Gilberto Gil, de shows, o cansaço e a pressão
7.500 quilos de macarrão, 500.000 Rita Lee, Ivan Lins, Moraes Moreira... de todos os lados, a banda se
pedaços de pizza, 800 quilos de gel enfim uma trupe de grandes músi- desestrutura com a
para cabelo e um recorde mundial cos. Grandes bandas, que fizeram saída de Virginie, a
um grande espetáculo que mudou ‘mocinha-vocalista’,
para o Mc Donald’s, que vendeu 58 mil
em 86, bem no auge
hambúrgueres em um único dia!Esses os olhares, tanto do Brasil quanto do da fama. Numa
são grandes números para um grande Mundo, sobre os eventos tupiniquins. tentativa de continuar,
evento. E esse evento começou em uma contratam um novo
sexta-feira, dia 11 de janeiro de 1985. Esse evento consagrou o Brasil como vocalista, Pedro Parq,
um dos grandes pólos para receber mas fracassam e, em
Os portões se abriram, já começou! O shows internacionais.Deu tão certo 87, a banda termina.
maior evento já realizado até aquele que foi repetido mais duas vezes no
dia. Equivalente a cinco Woodstocks. Brasil, 1991 (Maracanã) e em 2001 CLAUDIA
10 dias de shows, 90 horas de musica, numa nova “Cidade do Rock” no URBANISKI
5400 minutos de emoções e de recor- mesmo local onde foi construída a
des. Tudo isso localizado na Barra da primeira. Não contente com isso o
Tijuca, Rio de Janeiro, em um terre- Rock in Rio virou um festival itineran-
no com 250 mil metros quadrados, te que atravessou o Oceano Atlântico
5mil só para os palcos, que foram e chegou na “terrinha” (Portugal) e
divididos 80 para o principal e mais hoje já existe a proposta de se orga-
3 palcos móveis. Alem de dois hos- nizar um Rock in Rio nos arredores
pitality center (camarotes especiais), de Madri, mais precisamente na co-
dois fast foods gigantescos, dois Beer munidade de Arganda del Rey. Essa
Gardens e shopping centers. Alem de “brincadeira” vai custar a bagatela de
50 lojas e dois Helipontos. Consumiu 30 milhões de euros! Alem de ter o
a mesma quantidade de energia elé- seu palco principal telões que usa-
trica de uma cidade de 189 mil habi- ram a luz do sol como base energé-
3 tantes. Mas isso não chega aos pés tica do evento, pois o evento agora é
d da grandiosidade que o evento teve adepto ao programa “carbono zero”.
e das bandas que lá se apresentaram.
z
b Bandas como: ACDC, Ozzy Osbour- Vamos cantar, em uma só voz, para
ne, Rod Stuwart, Scorpions, White nossos irmãos hispânicos. “E ago-
m Snake, Yes, Queen, Iron Maiden… ra....nós vamos invadir sua praia!...”
alem das nacionais: Barão Verme-
lho, Blitz, Elba Ramalho, Kid Abe-
8
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.fofuce mimuce boura amores viés caio
sophia gregório cosme emily cookie
sabido fofuce mimuce boura amores
viés caio sophia gregório cosme em-
ily cookie sabido fofuce mimuce boura
amores viés caio sophia gregório cosme
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ra amore lesma de sofá-
caio sophi blogspot.com egório
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boura amores viés caio sophia gregório
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mimuce boura amores viés caio sophia
gregório cosme emily cookie sabido sa-
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baratos afins
PoP O motor das bandas independentes.
Misto de gravadora, produtora e loja,
a baratos afins acolhia e distribuía a
produção musical “indie” da época.

ENTREVIST
FOTOS: VINICIUS GONÇALVES

3
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10
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TA luís calanca
Dipit utem nul- LUIZ ERA UM ADOLESCENTE
lam quismod
magna consendip
normal da sua geração. Gostava de sair e ouvir
música com os amigos, como todos. “Era comum
irmos à casa de alguém, cada um levava um disco
e ouvíamos. Uma ação em grupo, o som tocava e
conversávamos sobre as músicas”. Além disso, se
divertia tocando em festinhas. 
Tempos depois, Calanca, perto do nascimento
de sua filha, cogitou abrir uma loja de vinis para
“pagar o enxoval da menina”. “Eu tinha uns dois
mil vinis, e um dia fui vender um. Quando cheguei
à loja e vendi o disco tive a idéia. Vou abrir uma
loja de discos!” Então, pegou todo o seu acervo de
discos e álbuns, falou com o cunhado, que já havia
tido uma loja. “Ele me deu mais uns dois mil. Aí fui
até a Galeria do Rock e falei com o dono de um
ponto. Acabou que o cara trocou o ponto por uma
coletânea do Roberto Carlos”. Mas isso não bastava
para Calanca. 
A loja era diferente de todas as outras. Tinha discos
de pop eletrônico no chão, como carpete, “sei que
foi uma coisa feia, mas fazia parte do movimento
da época” – diz Calanca, rindo. A loja ainda não
tinha nome. “Pensei assim, a idéia era comercializar
discos comuns a um valor acessível, e os que eu
achava bom cobrar o valor justo por eles. Daí veio 3
o nome Baratos Afins, eram palavras que tinham d
tudo a ver com a época, e que também falavam z
sobre a idéia da loja”, mas a história guardava outro b
m
rumo para a vida deste comerciante. 
11
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PoP
Enquanto abria a loja, continuou com a
sua discotecagem em festas. E assim Dipit utem nul-
organizou um show do Mutante lam quismod
magna consendip
Arnaldo Baptista. “Fiz de tudo. Colei essequat lorerae

k
cartazes, panfletei, vendi ingressos,
bilheteria, produção...” O show deu
certo, mas algo terrível aconteceu
pouco tempo depois. 
 Após ser internado em um Hospital
de São Paulo, Arnaldo, cai do terceiro
andar e sofre um traumatismo
craniano que o deixaria com seqüelas
permanentes do prédio da clínica.
Sua mulher procurou Calanca: “ela me
chamou para terminar o novo disco do
Arnaldo, e eu fiz, porque eu adorava
o cara. Estava realizando um sonho”.
O disco saiu e com ele veio uma nova
“Quando eu comecei, achava
idéia: produzir músicas. E foi que sei que não sabia e ainda n
ele passou a fazer, foi garimpando,
garimpando, procurou aqui e ali e
achou. Descobriu e produziu algumas
das melhores bandas dos anos 80.
Bandas como Voluntários da Pátria,
Smack, Ratos de Porão, Mercenárias,
Kafta, Fellini, Coke Luxe, Vultos, Akira
S. e as Garotas que Erraram, Gueto e 3
Hombres, entre outras.
O tempo passa e traz a mídia digital.
Mas isso não desanima Luis que logo
faz uma campanha pró vinil “eles
estavam falando que o vinil não servia
para nada. E eu me questionava, como
assim não serve para nada? Então todo
3 o meu trabalho, até hoje, não serve de
d nada? Acho que não viu.” E começou
z uma campanha pró LP.
b
m
“Eu sempre produzi o que gostava. Não é um
Embasado em vários argumentos, estilo único. Esse fato fez com que a Baratos
12
incluindo a sonoridade, amplificação, Afins tivesse o rótulo de não ter rótulos”
.............................
...............................
qualidade e durabilidade, Luis começa
a defender que o LP é melhor que
as mídias novas em alguns aspectos.
“Hoje, se você for pegar qualquer
mídia: o CD, MP3, MP4 e outras, e
amplificá-las, para tocar em uma festa
é visível a queda na qualidade do som;
enquanto com o vinil essa qualidade
quase não se perde. A mesma coisa
pode se aplicar entre o vinil e os rolos
de fita. A qualidade do rolo é superior.
Mas é pouco viável levá-lo para cima e
pra baixo.” 
Quando questionado sobre o processo
que usa para encontrar as bandas,
Calanca diz que “Eu sempre produzi
que entendia de música. Hoje o que gostava. Não é um estilo único.
Esse fato fez com que a Baratos Afins
não sei nada sobre música.”  tivesse o rótulo de não ter rótulos”
e emenda “por esse motivo tive a
sorte de lançar estilos de música que

k
nem existiam aqui na época e só
descobrimos isso depois.” Ele se refere
à 1ª banda de Rockabilly nacional, o
1º CD de blues e à primeira banda de
Heavy Metal nacional a Arpta e ao Ratos
de Porão, que depois descobrimos ser
uma banda Crossover “não sabíamos
fazer nem heavy nem punk daí saiu
aquilo lá” brinca Calanca. 
E hoje, com mais de 167 álbuns
editados, a filha formada em Radio e
TV, uma loja conceituada no 2º andar
da Galeria do Rock e uma gravadora,
Calanca diz:  3
d
 “Quando eu comecei, achava que z
“Hoje, se você for pegar qualquer mídia: o CD, entendia de música. Hoje sei que b
m
MP3, e amplificá-las, para tocar em uma festa é não sabia e ainda não sei nada sobre
visível a queda na qualidade do som” música.”  VINICIUS GONÇALVES
13
.............................
PoP

INVENTANDO
AMODA
nos porões
ESCUROS
A
música ditava a moda
e o comportamento
da juventude com
uma força nunca vista. Todos
queriam usar os óculos do
Devo, os Creepers feitos à mão
3
d
da Dr. Phibes e as ombreiras
z dos Davids Bowie e Byrne
b
m
fotos: renata de lucca
14
O

just my luck 3
d
é o segundo disco z
b

da banda
m

15
Um Creeper era um sapato de bico fino feito sob um soladão de

PoP
borracha confortável e disputado a tapas, já que era caro e feito à
mão pelos meninos da Dr. Phibes. Demorava muito pra aparecer
uma leva nova, e quando aparecia já estava vendida (consegui
com muito custo, comprar dois pares e um deles tenho e uso até
hoje – para desgosto de minha filha adolescente).
As ombreiras eram lei, vinham tanto nos paletós que a gente
comprava nos brechós quanto nas peças caras das lojas bacanas
da Rua Augusta. Até sutiã vinha com ombreira. Fazia parte da
desconstrução da farda militar e de todo o simbolismo que
ela trazia. Até hoje a meninada Punk e Skinhead usa coturno e
vestes militares em diferentes alusões aos militares.
Os homens tinham duas opções de estilo, o brechó chic retrô
ou o bom e velho jeans com camiseta que dependendo dos
acessórios virava Rock a Billy ou Punk.

David Bowie era (e ainda é) uma referência na vanguarda da


moda. O cara não erra nunca (desconsideremos a fase Ziggy
Stardust, que isso fez parte de um passado que até ele quer
esquecer). Sempre elegante, sempre bem.
Os góticos se vestiam como ainda hoje: sobretudo preto e
aquela cara de quem não sente calor com aquela roupa toda...
Mas o bom mesmo era ser diferente daquilo que se esperava. A
3 ordem era a desordem e a desconstrução.
d
z Conversei com Renata de Lucca, dona da grife HSO4, objeto de
b desejo dos descolados da época:
m

16
3
d
z
b
m

17
PoP

3
3
d
d
z
z
b
b
m
m elaine gomes
18
18
O fato é que realmente queríamos ser diferentes. Quanto
mais melhor. Quem começou a usar saias foram esses dois
das fotos, o Marco e o Rodrigues, hoje mais conhecido como
Jeová Rodrigues. Eu e o Marco inventávamos e cortávamos
as roupas, algumas vezes a gente se inspirava na ID, que era
uma revista de vanguarda Inglesa que eu assinava. Mas a
maioria das peças era criação nossa.

Essas estampas de rosas Colocávamos ferragens em Fizemos muita roupa com


sobre tecido preto, nas algumas roupas e muitos tecido para estofamento
blusas, foram criação zíperes. Rendas também, eu de sofás e vestimos muitos
minha, eram pintadas no adorava misturar rendas, músicos e artistas na época,
tecido já cortado, antes ficava uma coisa gótica saímos na mídia, inclusive
de montar as blusas e romântica. Ficava bonito no programa da Hebe com
fizeram muito sucesso. mesmo. Bom, vendíamos desfile da HSO4.
Estampávamos também bem e o que mais gostavam Tudo da nossa grife naquele
sobre tecidos já estampados, é que a HSO4 fazia roupas ano foi pra mídia. Saímos em
você pode ver blusas listadas exclusivas, não havia muitas matérias de revistas e 3
com estampas de cavalos duas peças iguais, nem as jornais: Folha de SP, Folha d
marinhos feitas à mão. camisas eram iguais, pois a da Tarde, Jornal da Tarde, z
Também usávamos tecidos e estampa sempre diferia. Estadão e Revista Cláudia. b
costuras do avesso. Fazíamos Fizemos coleções inusitadas: O legal, o mais importante, m
vestidos com as laterais No War, Bebês de Cubatão... acima de tudo era ser
abertas e presos por tiras... Coisas bem malucas. totalmente diferente. 19
asdfr

no madame satã...

QUEM
éDIFERENTE é diferente!

asdfr
rtyuil

“ Não sei bem como fui parar no


Madame Satã pela primeira vez,
ainda que hoje pareça o caminho
natural migratório de todos os
jovens esquisitos da década.
O Satã era um misto de portal
com outro lado do espelho, onde
você se encontrava e se perdia.
Onde qualquer excesso era natural
e as pessoas eram parecidas de


tão diferentes.
elaine gomes

3
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rtyuil
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21
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PoP

A Pista do Satã:
misto de euforia
e subversão

3
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b
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asdfr
22
rtyuil
Tudo fervia junto naquele felizmente insuportável. Cultural Madame Satã. O
caldeirão. Aos sábados era a noite mais
nome foi uma homenagem

N
Descer a Conselheiro Ramalho fraca, as festas geralmenteao famoso malandro carioca,
UMA NOITE eu eram em dias de semana,
depois das 11 da noite era uma por estar sempre à frente de
passava horas com e com a fila na porta cheia
festa. Ali se encontravam, de seu tempo. O que começou
uma Dinamarquesa de “desavisados”, nossa
terça a sábado, componentes diversão era barrar os como um restaurante virou
riquíssima, esposa de um
de bandas, grupos de teatro, curiosos implicando com o antro sujo (já dizia Arrigo
banqueiro que sustentava a
gente da noite e quem Barnabé) de onde saiu boa
os figurinos “papai-é-rico-e-
amante do Presidente João
importava na cidade. eu-sou-bestinha”. Aparecer parte da criação cultural de
Figueiredo. Duas músicas
Era vanguarda? Tava no Satã. muito colorido ou muito uma década.
depois rachava um Martini
Dividir a pista com o Renato arrumadinho era pedir pra Ninguém sabe ao certo como
(eca, a gente adorava essa ficar do lado de fora. Quando o
Russo não era nenhuma toda aquela gente foi parar
porcaria encefalizante) com o Kiko Zambianchi fez sua festa
novidade (e era quase uma no Satã, mas eu sempre achei
Heitor Werneck e fumava um de aniversário no Rose, fomos
temeridade dançar com ele), que era porque, uma vez do
maço de Benson&Hedges com especialmente escalados
nem com o Cazuza, Rita Lee, (e pagos, o que era raro) lado de dentro, éramos iguais,
o Caio Fernando de Abreu.
e todos os componentes das pra ficar na porta barrandoinvisíveis e especiais.
O porão (pista de dança)
bandas da época. as pessoas! Eu me sentia a Ninguém se chocava nem
enchia e esvaziava numa
Como alunos de uma mesma própria Rainha de Copas reparava muito em nada. Cada
velocidade tamanha, que
escola, nos indentificávamos do filme Alice no País das um fazia o que bem entendia,
os DJs Marquinhos e Magal
como fulano “do Satã”, e era Maravilhas, bradando: cortem
desde passar a noite olhando
sabiam na hora se estavam
a senha pra entrar de graça a cabeça! As coisas eram assim,
pro teto, até cheirar metros
agradando. Pra encher, era
em shows e nas outras casas exclusivas. A sensação é que a
de cocaína.
só ouvirmos aquela bateria
Ninguém te incomodava,
maravilhosa na introdução
de Inbetween Days do The “Numa noite eu passava horas nem ligava pro teu modo de
dançar (até porque não dava
Cure, ou Incertain Smile
do The The ou Smiths e
com uma Dinamarquesa pra enxergar muito na pista).
O Satã ainda existe como a
One Thousand Violins, e riquíssima e fumava com o juventude da década de 80.
pra esvaziar bastava que o
Paulo Ricardo subisse no Caio Fernando de Abreu” Resiste ao envelhecimento,
sapateia, inventa e produz,
palco. Era senso comum
mas sente que o tempo passou
odiar o RPM e adorar o Ira!.
noturnas. Era raro, mas havia noite começava assim que a e que nada mais chegará perto
A música não precisava ser
as noites de festa no Rose ou gente chegava, e não poderia de uma única noite vivida
dançante, bastava ser boa
no Napalm, Anny 44, Carbono ser melhor. naquelas temperaturas.
que descíamos todos para
14 ou Val improviso que
quem é?
a pista e ficávamos ouvindo
valiam uma escapada, mas Receita da Fervura
maravilhados, assim era
ninguém voltava pra casa sem O Satã foi uma idéia de dois
com o Durutti Column e
passar no Satã. casais de irmãos: Wilson e Elaine de
Cocteau Twins (que tocou
As turmas eram diferentes, o Williams Santos, e Márcia e Almeida
no meu casamento no final
povo mais engomadinho ia Miriam Dutra. O local, na Rua Gomes tem
da década!). O Satã era 42 anos, é
ao Radar Tantã, Radio Clube, Conselheiro Ramalho, bairro
estranho, desconfortável e editora e
Aeroanta ou no Dancing. do Bexiga, era um antigo
descabido. Exatamente como estudante
Nos domínios satânicos, só show room de uma fábrica de de jornalismo. Assídua
nos sentíamos com 18 anos.
entravam convidados. Éramos balanças industriais que, com frequentadora dos porões
Era perfeito.
uma panelinha hermética e a reforma, virou o Restaurante satânicos.

k
rtyuil
PoP

R
De todo
libertin
amarra
a décad

3
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z
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26
ROCK
os os cantos um sentimento de euforia
na rondava o país. Jovens livres das
as da censura fizeram dos anos 80,
da do rock nacional por luis gerardi
br
3
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27
...............
PoP De norte a sul do país,
surge o Rock Brazuca
C
Atitudes improváveis até alguns passar em branco a oportunidade
om o desalento do regime militar e
poucos anos atrás. de se posicionar diante dos
da censura, roqueiros soltam o verbo acontecimentos políticos e
e dão início à febre do rock brasileiro O principal exemplo dessa sociais da época. Os Paralamas
O inicio dos anos 80 marcou o começo indignação é Que país é este? que, do Sucesso gravaram Patrulha
apesar de ter feito sucesso com a Noturna (1983) onde criticavam
da maioria das bandas consideradas Legião Urbana apenas em 1987, a polícia e Alagados (1986) sobre
ícones do rock até os dias de hoje. havia sido escrita por Renato a condição social do país. Cazuza,
Rock e política, rock e protesto, rock e Russo e vinha sendo executada que na maior parte dos anos 80
poesia, rock puro e ingênuo, às vezes pelo Aborto Elétrico desde o teve uma preocupação maior
final da década de 70. A música com a poesia de suas letras,
careta e quase sempre incorreto. deixa clara a podridão do sistema deixou para protestar apenas no
político e judiciário em Brasília e, final da década com Ideologia e
Rock e política, rock e protesto, motivo diferente para ancorar diante de tudo o que vemos nos Brasil (1988).
rock e poesia, rock puro e as letras de suas músicas em noticiários atualmente, parece
ingênuo, às vezes careta e quase algum tipo de movimento de até que a letra foi feita para O Rock brazuca ainda deve
sempre incorreto. protesto. É claro que todos eles retratar os tempos atuais. muito de sua fama a algumas
fizeram letras mostrando sua figuras excêntricas como Lobão,
O que eles queriam mesmo era insatisfação com o governo, No Rio de Janeiro a conversa era Marcelo Nova e Roger, que não
soltar o grito que estava preso na mas dentre os paulistas, por diferente, a classe média carioca, se enquadram nos padrões das
garganta, reprimido por mais de exemplo, a tendência era criticar salvo raras excHeções, estava bandas da época, criando rimas
duas décadas de censura imposta as diferenças raciais, a conduta mais preocupada com poesia e malucas e hipóteses improváveis
pelo regime militar. da polícia e a desigualdade literatura. Tinham mais estudo e como em Eu não matei Joana
social, como fizeram os Titãs melhor condição financeira que D’Arc (Camisa de Vênus - 1984)e
Cada um tinha uma forma em Televisão e o Ira em Núcleo a maioria das bandas do Brasil Nós vamos invadir sua praia
diferente de expressar sua Base, ambos em 1985. mas, nem por isso deixaram (Ultraje a rigor – 1985).
indignação com o autoritarismo
e de tentar aproveitar sua Enquanto os paulistas criticavam
liberdade. Seja o rock paulista, o governo de forma mais “O que eles queriam mesmo era
o carioca ou o de Brasília o esquiva, a abertura política
importante é que eles acertaram proporcionou ao pessoal de soltar o grito que estava preso na
os acordes e fizeram sorrir
uma nação inteira, agora livre,
Brasília total liberdade de
expressão, e eles iam com o
garganta, reprimido por mais de
chamada Brasil. dedo direto na ferida, aberta duas décadas de censura imposta
pelo golpe militar, criticando
Dependendo da região em que não só o sistema de governo pelo regime militar”
viviam, cada banda tinha um como também os governantes.

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26
.

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27
...............
PoP
a capital tamb A segunda é que a cidade ainda principais barzinhos da capital

D urante os anos 80, Brasília dividiu a


atenção da juventude que gostava
de rock com outras duas capitais, Rio e
não era muito grande e todo
mundo se conhecia. Foi daí que
surgiu o Aborto Elétrico, grupo
do país.
André foi o primeiro a deixar
a banda. Viajou à África do Sul
que, junto com a Plebe Rude de para servir ao exército na época
São Paulo. Mas o pessoal de Brasília tinha Philippe Seabra, André Mueller do Apartheid. Em seu lugar
duas grandes diferenças em relação aos e André X, acabou gerando as entrou o irmão de Fê, Flavio
grupos dos outros estados. outras duas bandas que resumem Lemos. A partir daí, AE e Plebe
o que foi o Rock de Brasília nos Rude, passaram a dividir o palco
A primeira é a proximidade física com anos 80: Capital Inicial e Legião inúmeras vezes nos principais
toda a estrutura do governo federal, o que Urbana. shows de Brasília.
os fazia estar mais ligados a tudo o que O AE foi fundado em 1980 por Em 1981, em um show histórico
acontecia na vida política e econômica da Renato Russo, Fê Lemos e André em Patos de Minas, Plebe Rude
Pretórios e, principalmente sob e Legião Urbana dividiriam o
nação. Várias músicas fazem questão de influencia de The Clash e The espaço novamente. Só que
retratar essa situação. Police, bandas ingleses de punk desta vem no xilindró. Neste
rock, passou a agitar a noite dos show, ainda sob a vigilância do

“com o cenário político


efervescendo e a chance de falar o
que queriam, essa tinha mesmo que
ser a pegada do Rock da capital
brasileira, música de protesto”

3
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28
................
bém era rock
regime militar, a Plebe cantou carreira como ‘trovador solitário’ época do Aborto, Veraneio Índios e Geração Coca-Cola
“Vote em Branco” e a Legião conheceu Dado Villa Lobos que Vascaína, que fazia duras críticas da Legião, Até Quando Esperar
“Música Urbana 2”, consideradas tocava guitarra e fundaram a à ação da polícia e Fátima sobre e Minha Renda da Plebe Rude
subversivas na época. Legião Urbana. a criminalidade e o capitalismo. e Veraneio Vascaína e Ficção
O Aborto Elétrico terminou em A Legião já começou com um Em 1985 mudaram-se para São Científica, para citar alguns
1982, depois de uma briga entre repertório incrível de sucessos Paulo, mas os tempos de Brasília exemplos, mas, se olharmos o
Fê Lemos e Renato Russo. Com escritos na época do Aborto ficaram marcados para sempre material produzido pelas três
a saída de Renato, a alma da Elétrico e da temporada solo nos trabalhos da banda. bandas de Brasília, entenderemos
turma, o final do Aborto Elétrico de Renato. Músicas como Que E não tinha outro jeito, com o facilmente o que eles tentavam
era inevitável. A partir daí, os país é este?, Música Urbana, cenário político efervescendo nos dizer.
irmãos convidaram Dinho Ouro Química e Faroeste Caboclo já e a chance de falar o que Só para completar, um dado
Preto, que além de ser um fã faziam sucesso no começo da queriam, essa tinha mesmo que importante, em 1999 o álbum
incondicional do Aborto, era década de 80, apesar de só terem ser a pegada do Rock da capital Que país é este? da Legião Urbana,
namorado de Helena, irmã de sido lançadas no final dela. brasileira, música de protesto, atingiu a marca de 1 milhão de
Fê e Flávio, e juntos fundaram o O Capital inicial também com boas letras e som no último cópias vendidas, sendo o único
Capital Inicial. aproveitou muito bem pelo volume. álbum de rock dos anos 80 a
Renato Russo, após uma curta menos duas das músicas da Foi assim com Que país é este?, receber o disco de Platina Tripla.

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29
............... FOTO: DIVULGAÇÃO

a alegria
carioca
contaminou
o Brasil
D as três principais regiões
consideradas berço do
rock brazuca dos anos
80 (São Paulo, Brasília e Rio
de Janeiro), o Rio era o lugar
cariocas sofreu forte influência
do reggae e do ska, gêneros
mais animados e descontraídos
do que o rock, principalmente o
rock inglês.
chegar. Cinema Mudo vendeu 90
mil cópias (quantia considerável
para a época) e emplacou pelo
menos três grandes sucessos,
Vital e sua moto, Cinema Mudo
“o Rio era o lugar
onde as bandas tinham menos e Patrulha Noturna. nham menos preocu
Partindo desse pressuposto,
preocupação com economia,
política e outros assuntos chatos, a Blitz, de Evandro Mesquita, Mas o meteoro Paralamas estava mia, política e outro
relacionadas à nova realidade Fernanda Abreu e, ao menos no apenas começando a subir, o
pós AI-5. início, Lobão, foi a precursora do grupo lançou, no ano seguinte,
movimento. Criada exatamente O Passo do Lui e atingiu de vez o
Das quatro maiores bandas no ano de 1980, o primeiro FOTO: DIVULGAÇÃO

de rock nacional de todos os álbum da banda, Você Não


tempos: Titãs, Legião Urbana, Soube Me Amar (1982), fez um
Barão Vermelho e Paralamas estrondoso sucesso, anunciando
do Sucesso, as duas últimas são que um novo ritmo chegava ao
cariocas. Além disso, o Rio tinha Brasil. Não era exatamente o
dois grandes centros da cultura rock pesado com que estamos
rock’n roll dos anos 80: o Circo acostumados, a Blitz apostava
Voador e o Noites Cariocas, que muito na performance de seus
viviam lotados, revelando ou integrantes e nas letras mais
confirmando talentos como e despreocupadas, sucesso que
Kid Abelha e Lulu Santos lhes rendeu uma vaga no palco
do primeiro Rock In Rio em
Explicar o sucesso do rock carioca 1985, um ano depois, a banda já
é fácil. Na antiga capital do país, anunciava seu final, voltando a se
a vida já era demasiadamente reunir ocasionalmente.
séria e a liberdade recém
conquistada gerou um tipo de Outra banda que participou
reação específica nos jovens. daquele Rock In Rio foram os
Eles queriam esquecer os Paralamas do Sucesso. Herbert
problemas e dificuldades da vida Vianna, Bi Ribeiro e João
e não tinham tempo a perder Barone (formação que dura
3
com coisas complicadas. até hoje) jamais imaginavam o
d tremendo sucesso que seriam os
z O rock era uma forma de Paralamas. A banda lançou seu
b libertação, inspiração que vinha primeiro disco, Cinema Mudo,
m principalmente da poesia, da em 1983 e a partir daí já dava
literatura e da maconha, sem para imaginar até onde podiam
30 falar que grande parte das bandas
..............
................ em 1986 veio o terceiro disco,
Selvagem? E a marca de 750 mil
cópias vendidas, disco de Platina
FOTO: DIVULGAÇÃO

triplo e mais uma porção de hits


tocados nas principais rádios do
país. Até o final da década de 80 a
banda ainda lançaria mais quatro
discos.

O sucesso dos Paralamas foi tão


grande que, de forma direta ou
indireta, foram responsáveis
pelo surgimento e influência de
outra grandes bandas da época
como os Engenheiros do Hawaii
e o Biquíni Cavadão.
Barão Vermelho:
euforia carioca plena Para se ter uma idéia completa
do que foi o rock carioca dos
anos 80, precisamos lembrar
estrelato. Elogiado pelos críticos
outra banda poderosa da época,
e aclamado pelo público do Rock
o Barão Vermelho.
In Rio, onde tocou ao menos
onde as bandas ti- cinco das dez músicas do disco, Fundada em 1981, por Guto
o álbum vendeu mais de 250 mil
cupação com econo- cópias e emplacou Óculos, Meu
Goffi, Maurício Barros, Frejat e
Dé, a banda misturava blues com
os assuntos chatos” Erro, e Ska, entre outras. um rock despojado, estilo Rolling
Stones e Deep Purple. Como não
Herbert Vianna com o Paralamas
era o lado engajado do rock
Mas o sucesso dos Paralamas carioca
tinha um vocalista fixo, de vez
não estava apenas no nome, e espalhou sua música por todo
em quando, Léo Jaime assumia o
microfone, mas, convidado para o Brasil. Na onda do sucesso de
fazer parte da banda, recusou, Bete Balanço, o Barão lançou em
indicando para o lugar aquele 1984 seu terceiro disco, Maior
Cazuza em ensaio fotográfico que seria responsável pela boca, Abandonado vendendo 100 mil
para o disco Exagerado o cérebro e o coração da banda... cópias em apenas seis meses.
Cazuza!
Em 1985 a banda foi convidada
Um dos maiores letristas que a abrir os shows no Rock in
o mundo já viu, dono de uma Rio, talvez o melhor momento
mente brilhante, e na maioria do Barão, que logo em seguida
das vezes perturbada, Cazuza perderia seu astro maior, Cazuza,
criou para o Barão a maior parte que cansado de fazer ‘aquele
dos sucessos do grupo. tipo de som’ decidiu se dedicar
à carreira solo.
Sucesso esse que não veio logo
de cara, o primeiro disco, Barão Frejat assumiu o vocal, mas a
Vermelho, foi um desastre de banda não conseguiu mais ser
crítica e público. Só no segundo a mesma, voltando a ter grande
LP, Barão Vermelho II, após sucesso apenas no começo da
um empurrãozinho de Caetano década de 90, após a morte de
Veloso, que incluiu a música Cazuza.
“Todo amor que houver nessa
vida” em seu show e reconheceu O rock carioca dos anos 80, com
as letras de Cazuza, a irreverência 3
Cazuza como um grande poeta é d
que a atenção da crítica voltou da Blitz e a eterna busca dos
Paralamas pelo ‘som perfeito’, z
seus olhos ao grupo.
jamais será esquecido por quem b
Logo depois a banda foi convidada viveu aquela época em que a m
a compor a trilha sonora do filme alegria carioca contaminou o
Bete Balanço, de Leal Rodrigues Brasil. 31
..............
................
sampa
PoP

D urante o início dos As primeiras apresentações do


anos 80, aconteceu grupo aconteceram em 1981,
no Brasil uma em palcos de colégios da capital,
verdadeira explosão como o Equipe, que apresentava
rock. A juventude da também artistas renomados como
época encontrou no Caetano Veloso e Gilberto Gil..
estilo musical uma forma A estréia oficial dos Titãs do Iê-
de cantar suas histórias. Iê (e não Iê-Iê-Iê) aconteceu
E de todos os centros em outubro de 1982 no Sesc
brasileiros onde o rock Pompéia, já com Branco Mello e
surgia, São Paulo foi, sem André Jung, que depois tocaria
dúvida, o mais eclético. no Ira.
Por aqui surgiu todo tipo
de banda que se pode Misturavam MPB com reggae
imaginar. e rock. Essa mistura, somada
a letras de protesto contra o
Em 1980, a cidade de São Paulo governo e as condições de vida
tinha pouco menos de 8,5 milhões da população foi, com certeza, o
de pessoas, sem contar o ABC, que que gerou o sucesso dos Titãs.
crescia com o apoio da indústria,
principalmente automobilística, Até 1984, os Titãs do Iê-Iê
instalada na região. tocaram no circuito underground
paulista, até o lançamento do
No final dos anos 70, inicio primeiro LP, ‘Titãs’, que trazia o
dos 80, o ABC paulista foi sucesso “Sonífera Ilha”, uma das
palco de inúmeras greves, que faixas mais executadas naquele
mostravam o descontentamento ano. A música levou o grupo a
da população com as condições fazer sucesso em outros estados
impostas pelo regime militar. do Brasil, através da apresentação
Nesse cenário surgiram grandes em programas como Chacrinha
bandas brasileiras de rock e Bolinha, entre outros.
como os Titãs, o Ira, RPM e o Daí em diante os Titãs lançaram
Ultraje A Rigor, que venderam mais cinco discos durante a
centenas de milhares de disco década de 80, emplacando
em todo o Brasil. músicas como Polícia, Família
Os Titãs surgem no final dos e Comida, e o LP Cabeça de
anos 70 da aproximação de uma Dinossauro, marco da luta contra
turma que gostava do estilo a censura que vendeu mais de
musical. Marcelo Fromer, Tony 300 mil cópias.
Belotto e Branco Mello eram o O Titãs é reconhecido até
Trio Mamão; Nando Reis e Paulo hoje como uma das grandes Capital Inicial: punks
Miklos faziam parte do Sossega bandas de rock brasileiro, fruto bem vestidos
Leão; Arnaldo Antunes fazia parte da qualidade de sua música e
da Aguilar e Banda Performática; da quantidade de ‘hits’ que o
Ciro Pessoa e Charles Gavin grupo emplacou. Mas o maior
3 eram Os Jetsons e Sérgio Britto
fenômeno do rock brasileiro
d não tocava com ninguém.
de todos os tempos tinha outro
z

as células
b
m

32
marvin!
..............
................
a “Capital Inicial, RPM, Ira!,
Titãs eram os representantes
do rock paulista”

nome... RPM Compondo músicas mesma época de Titãs e RPM foi


desde o final dos anos 70 e após o Ira (ainda sem exclamação).
muitas tentativas frustradas de A principal formação do grupo
deslanchar, Paulo Ricardo e tinhas os amigos Nasi e Edgard
Luiz Schiavon acertaram a mão Scandurra (que já havia tocado
apenas em 1985. Até então, o no Ultraje a Rigor), Dino e André
grupo se apresentava apenas em Jung (ex-Titãs).
shows em danceterias e colégios
paulistas, vestidos com roupas Em 1981 Nasi convidou
de couro e calças jeans, numa Scandurra para tocar num show
mistura de anos 60 com a roupa na PUC e assim começava a
usada por motoqueiros. nascer a banda.

O que não tinha como dar Em 1983, lançaram o primeiro


certo acabou mudando de vez compacto, que continha “Gritos
a história do rock brazuca. Com na multidão” e “Pobre paulista” já
o lançamento de “Revoluções mostrava o tipo de som que a banda
por Minuto” o meteoro RPM se propunha a fazer: Rock pesado
mostrava sua cara. O disco com letras de protesto e Scandurra,
vendeu 600 mil cópias e a banda considerado um dos melhores
fez 260 shows no ano de 1985. guitarristas do país na época.
No ano seguinte, o RPM lançou
“Ao vivo”, com algumas músicas Mas foi em 1986, em seu segundo LP,
inéditas e regravações como que o Ira colocaria de vez seu nome
‘London London’, o disco vendeu na história do rock brasileiro,com
de cara 250 mil cópias, chegando o lançamento de “Vivendo e não
a 2.200.000 cópias vendidas, aprendendo” que emplacou Flores
recorde absoluto no Brasil. em você e o maior sucesso da
banda, “Dias de Luta”.
O sucesso que surgiu como um
meteoro, acabou da mesma São Paulo teve ainda o rock
forma. Era difícil de administrar escrachado de Roger e seu Ultraje
a fama, assim como o consumo à Rigor, que invadiu as rádios
de drogas de seus integrantes, com “Nós Vamos invadir sua
o RPM chegou ao fim em 1987 Praia”, “Marilou” e “Dinheiro”,
mas, pressionado pela gravadora, entre outras. A banda fez muito
ainda lançou mais um disco em sucesso, apesar de não seguir os
1988, chamado “RPM” mas que ‘padrões’ do rock da época.
também ficou conhecido como Teve também os ‘Garotos Podres’,
“Quatro Coiotes”. pessoal do ABC que cantava
temas como política, sociedade, 3
O LP foi um fracasso, os shows
violência, capitalismo e revolta d
não tinham a mesma graça e o
e os Inocentes, banda punk da z

s do rock
grupo acabou de vez em 1989.
periferia da cidade, ou seja, rock b
Outra banda que começou na para todos os gostos. m

33
..............
..rock............. A banda emplacou algumas
músicas de muito sucesso como
Refrão de Bolero e Infinita
nome, por acreditar que era de
díficl divulgação. Como o pedido
não foi atendido, o Camisa ficou
sem gravadora até 1985, quando

fora do eixo
Highway, só para citar as mais
conhecidas. lançou Batalhão de Estranhos,
com o sucesso Eu não matei
A verdade é que os Engenheiros Joana D’Arc.
nunca foram unanimidade.

N
Adorados pelo RS e odiados por O Camisa de Vênus correu o
ão só as três principais capitais do país grande parte dos fãs de rock, Brasil, quase sempre lotando
(Rio, São Paulo e Brasília) formaram a cada disco novo vinham os seus shows. Até o final da década
as melhores bandas brasileiras dos elogios e críticas quase que em a banda ainda lançaria mais
igual proporção. quatro discos e grandes sucessos
anos 80. Fora do eixo também era possível
como Simca Chambord, Bete
encontrar Rock’n Roll da melhor qualidade. Outro fenômeno do Rock Morreu, Silvia e Só o fim.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, quem aconteceu na Bahia. O Camisa
melhor se enquadra nesse perfil são os de Vênus, liderado por Marcelo
Nova e com fortes influências do
Engenheiros do Hawaii. “Engenheiros e
rei Raul Seixas, a banda fez sua
Fundado em 1984, graças a uma
greve na faculdade de arquitetura,
e coincidiu com a abertura
do Rock in Rio. A partir daí a
primeira apresentação na capital
Salvador em maio de 1982. No
Camisa de Vênus
Humberto Gessinger resolveu carreira da banda deslanchou, ano seguinte, o Camisa gravava eram as
reunir alguns conhecidos, dentre os Engenheiros eram cada vez seu primeiro LP pela Som Livre.
eles Carlos Stein que logo depois mais procurados para tocar em O disco, que levava o mesmo bandas-sensação
iria para o Nenhum de Nós, e
montar uma banda.
bares de todo o Rio Grande do
Sul. Desde o principio é possível
nome da banda, ainda lhes traria
problemas no futuro.
fora do eixo
notar a forte influência do Ska Rio-SP-Brasília”
A primeira apresentação foi e de bandas como o Police e os Logo depois da gravação do
apenas em janeiro de 1985 Paralamas, que já faziam muito primeiro disco a gravadora
num barzinho em Porto Alegre sucesso em todo o Brasil. exigiu que o Camisa trocasse de
FOTO: DIVULGAÇÃO

Engenheiros correm na
Infinita Highway

3
d
z
b
m

34
................
365
Absyntho
DeFalla
Detrito Federal
Kafka
Kid Abelha & Os consuma
A Cor do Som Dr. Silvana & Abóboras Selva-
Afrodite Se Quis- Cia gens Patife Band
er Ed Motta Kid Vinil Picassos Falsos
A Gota Suspensa Edgard Scan- Kiko Zambianchi Plebe Rude
Agentss durra Kongo Rádio Taxi
Akira S & As Eduardo Dusek Legião Urbana Ritchie
Garotas Que Er- Egotrip Léo Jaime Rosa Púrpura
raram Escola de Es- Lobão Roupa Nova
Alta Tensão cândalos Lúcia Turnbull RPM
Arrigo Barnabé Ethiopia Lulu Santos Salário Mínimo
Arte no Escuro Expresso (Ex- Luni Sempre Livre
Anjo Caído presso Rural) Magazine Sexo Explícito
Asdrubal Trouxe Fausto Fawcett Maria Angélica Sossega Leão
O Trombone & Os Robôs Não Mora Mais Skowa e A Máfia
As Mercenárias Efêmeros Aqui Smack
Azul 29 Fellini Marcelo Soviet American
Banda 69 Finis Africae May East Republic
Barão Vermelho Gang 90 Metrô Sylvia Patricia
Biquini Cavadão Golpe de Estado Mixto Quente Sylvinho
Black Future Gueto Muzak Titãs
Blitz Grupo Engenho Não Religião Tokyo
Blindagem Hanoi Hanoi Nau Tutti-Frutti
Brylho Harry Nenhum de Nós Ultraje A Rigor
Buana 4 Heróis da Re- Ness Uns e Outros
Cabine C sistência Neuzinha Brizola Varsóvia
Cambio Negro Herva Doce Obina Shok Vid & Sangue
Camisa de Vênus Hojerizah O Espirito da azul
Capital Inicial Inimigos do Rei Coisa Violeta de Outono
Celso Blues Boy Ira! Okotô Virginie & Fruto
Cheque Especial Itamar Assump- Os Eles Proibido
Civil ção Os Melhores Voluntários da
Clínica João Penca & Os Paralamas do Pátria 3
d
Cólera Seus Miquinhos Sucesso Vôo Livre z
Coke-Luxe Amestrados O Terço Vultos b
Claudio Zoli Joe Euthanázia O Último Número Vzyadoq Moe
m

Dalto Kaes Vadius Paulo Ricardo 37


................
PoP
FOTOS: CLAUDIA URBANISKI

Cadão

olá
morar perto de tudo, de todos na USP, entre os estudantes e eu
os points da época. O rock era um deles.
brasileiro estava nascendo, e eu
pude ver bastante coisa bem POP – O Fellini nasceu

fellini!
de perto. Ia caminhando pro assim?
Madame Satã, pros bares onde Cadão – Pois é. Um dia o
rolavam os shows, abrigava os Thomas [Pappon] chegou pra
colegas [gente como Renato mim e disse: “Eu quero formar
Russo] na minha casa... Era uma banda, quero tocar baixo
muito bom. e quero que você escreva todas

T arde de terça-feira, hora do rush, trânsito lento, clima as letras e cante”. Nisso há
instável. Chego atrasada e esbaforida. Meu entrevistado POP – Conta como foi que se ressaltar que eu nunca
me espera calmo, tomando um chá. O local? Uma esse nascimento do rock tinha cantado na vida e tocava
livraria daquelas tão grandes que nos deixam desnorteados. O brasileiro na década de violão muito mal. Além de
80. que o Thomas era baterista
reconheço graças a um código, como nos filmes: “Eu vou estar
Cadão – O nosso rock nasceu e não baixista. Tomado pelo
com uma camisa listrada”, me disse ele, por telefone. Sento- do movimento punk, que entusiasmo do “faça você
me, desdobro-me em desculpas por conta do atraso e logo chegou por aqui com grande mesmo” eu disse ‘sim’ e a banda
percebo que a conversa vai ser boa. É muito simpático esse atraso. Na Europa já se vivia o surgiu em 1984.
rapaz... por cláudia urbaniski punk desde 1976. No Brasil esse
3 movimento chegou em 1981, 82 POP – E como vocês se
d POP – Na década de Íamos a pé a quase todos os e trouxe consigo a máxima do viravam, já que nem
80 vocês também lugares... Não era esse caos. “faça você mesmo”, que pregava sabiam exatamente o
z
enfrentavam problemas que qualquer um podia tocar, que estavam fazendo?
b POP – Vocês é que eram
como trânsito lento? mesmo sem saber, que qualquer Cadão – No início tudo era
m felizes... (risos) um podia fazer o seu estilo de cópia das bandas inglesas, o
(risos)
Cadão Volpato – Não! (risos) Cadão – Eu tive a sorte de música. Esse espírito germinou jeito de tocar, de cantar e até a
36
.............
................
sonoridade. Mas com o tempo,
e não era preciso muito, cada
um foi criando seu próprio
pra conseguir ouvir o som
que rolava lá fora. Ou eles
compravam os discos, ou os
mas depois, passada a raiva
(risos) muita gente foi buscar
inspiração na bossa nova, por
passado não leva a nada.

Agradeço e desligo o gravador,


estilo, sua identidade. Com a pais traziam do exterior. E exemplo. a entrevista terminou. Uma
maioria das bandas da época isso se imprimia também no volta pela imensa livraria, uma
acontecia isso. A gente começou comportamento deles. Eles POP – A produção aula sobre punk rock diante da
a valorizar a new wave, que era eram mais punks, calças mais musical da década de 80 prateleira de CD’s. Cadão me
o pós-punk, e se inspirar nela. O rasgadas, um som mais pesado, entrou para a história. ensinou muito sobre a década
resultado era até que bom. as letras mais politizadas. Eles É uma década que não de 80. Saí dali feliz: aprendi
conseguiam gravar discos, morre. Os anos 2000 muito e bati um papo super
POP – “Até que bom”? tinham grana pra isso. A gente têm alguma chance, agradável com esse cara pra lá
Cadão – Ah, a gente tem que ralava a vida toda pra gravar por musicalmente falando? de especial.
considerar que mais de 80% um selo independente, e olhe Cadão – É com infelicidade que
do que se produziu naquela lá. Não que isso seja ruim. eu acredito que não. Não se fez
época era inaudível. (risos) Mas nada de significativo nos últimos
a molecada se esforçava, criava POP – Quem gravava anos. O que vemos é uma Cadão Volpato é jornalista,
desde letras inspiradíssimas, até de forma independente explosão de bandas, de sucessos escritor e músico. Foi repórter
as composições mais malucas tinha mais autonomia, instantâneos, de cantoras com na área de cinema da Veja,
que se pode imaginar. não é? a mesma voz, de letras que não editor do caderno de Turismo
Cadão – Claro! A gente falava dizem nada, de sons que na da Folha de S. Paulo, editor
POP – Uma coisa que o que quisesse, não devia causam nada... A música tem da SET, editor da Interview,
me chamou atenção satisfações... sofrido com essa mediocridade. redator-chefe da Capricho,
foi o fato de que os editor de Cultura da revista
músicos tocavam em POP – Mas pagavam o POP – Os anos 80 Época e apresentador de TV.
várias bandas ao mesmo preço... lhe causam nostalgia, Atualmente, além de ministrar
tempo. Como era isso? Cadão – É... éramos ‘marginais’. saudade? cursos sobre Rock e trabalhar
Cadão – Era tão difícil ter um (risos) Cadão – Não. Eu vivi, e muito na TV Cultura, ele prepara um
cara com a pegada certa que bem, o que tinha pra ser programa de rádio.
acabávamos fazendo um rodízio POP – Onde se vivido na época. Lembro com
de músicos. O mesmo cara que concentravam as felicidade daqueles anos, mas
tocava no bar da esquina saia grandes gravadoras? estou longe de ser saudosista.
correndo do show pra ir tocar Cadão – No Rio de Janeiro. Acho que a gente tem que
com a outra banda do outro Engraçado é que as bandas andar pra frente. Ficar preso ao
lado da cidade. saíam de Brasília, passavam
por São Paulo e depois iam
POP – Que loucura... gravar no Rio. Foi assim que eu
Mas a produção foi conheci, e abriguei (risos) o
intensa e o movimento Renato Russo. Foi numa dessas
parecia enorme. ‘escalas’, antes de chegar ao Rio.
Cadão – Só parecia (risos) Era
sempre o mesmo grupo de POP – Falando no Rio
pessoas, indo de show em show, de Janeiro, como era o
tocar com essa ou aquela banda. movimento lá?
Não passava de 30 caras que Cadão – Aquela coisa de carioca
se misturavam e formavam 50 (risos). Eles tinham uma onda
bandas diferentes... meio reggae embutida no rock
deles.
POP – Isso era geral,
acontecia no Brasil todo? POP – E a relação do
Cadão – Tô me concentrando rock dessa época com a
mais em São Paulo. Em Brasília, MPB?
por exemplo, a coisa era bem Cadão – Era a MPB quem ditava 3
diferente. Aqui a gente precisava as regras, eles estavam no d
juntar grana e unir esforços comando. E não era uma música z
pra importar um disco. Lá o alegre, era deprê, baixo astral. b
movimento era formado por No início a gente queria era m
filhos de diplomatas que não fazer oposição, manifestar nosso
precisavam se esforçar muito repúdio à supremacia da MPB,
.............. 37
PoP

o ano da
BLITZ
3
d
z
b
m

38
A alegria da Blitz: rock

1982. Regina Casé,


descompromissado

Luis Fernando Guimarães,


Perfeito Fortuna e Evan-
dro Mesquita faziam
parte do grupo “Asdrúbal
trouxe o Trombone”
junto a outros amigos.
O grupo trazia uma pro-
posta de desconstrução
da dramaturgia habitual,
com interpretações de-
spojadas e textos basea-
dos na criação coletiva.
As peças do grupo eram
todas muito musicais, e
as pessoas começaram a

Z
chamar as apresentações
do Asdrúbal de “shows”.
Daí em diante, o grupo foi sen- Resgatando a felicidade perdida tro só se ouvia a voz de Evandro aBlitz_
do chamado para abrir shows de em algum ponto entre o golpe Mesquita dizendo “nada nada
rock. Numa dessas aberturas, eles de 64 e o AI-5, a Blitz era alegre nada nada nada...” (outra parte inaugurou
cantavam na passagem de som da e sorridente, e fez tanto suces- de Você não soube me amar). a_mais
banda da cantora Marina Lima. O so com suas letras engraçadas e divertida_e_
ensaio foi tão bom, que começou cheias de detalhes, encaixadas A Blitz gravou um vídeo clipe
a juntar gente e assim nasceu a em melodias pobres, mas vibran- (assim eram chamados) para a espontAnea
Blitz (ainda sem nome). A leveza tes e contagiantes, que foi capa Globo e aquele rock diferente, aventura_do
e o astral da bossa nova. A trucu- alegre e sem postura política
lência infantil da Jovem Guarda. O
da revista Isto É com o título “Ok
aparente enlouqueceu o país. O
pop_
você venceu” (frase de Você não
apelo estético do tropicalismo. O soube me amar). Compacto Você não soube me nacional.
impacto cênico dos Secos & Mo- amar vendeu mais de um milhão
lhados. O senso pop dos Mutan- Entre o lançamento e a consagra- de cópias. No LP seguinte, “As Bulcão, no começo de 86. A ban-
tes. E muito mais. Quando “Você ção popular, Lobão caiu fora. Antes aventuras da Blitz” a censura ve- da, pensando em gravar o quarto
Não Soube Me Amar” pegou um de a banda assinar o contrato com tou duas faixas (prova de que em disco (batizado de O Último da
Brasil recém-saído da ditadura de a EMI, o baterista percebeu que outros assuntos, qualquer ousa- Blitz), ainda tenta sobreviver, mas
surpresa, a Blitz inaugurava a mais toda agitação em torno do grupo dia era mal vista), mas o disco já se desintegra oficialmente no dia
divertida e espontânea aventura poderia dar espaço para sua carrei- estava prensado e pronto para 7 de março de 1986. Triste fim
do pop nacional. ra solo. Posou para a capa da revis- ser distribuído. A saída foi inutili- para a banda mais divertida do
ta Istoé de 27 de outubro de 1982 zar as faixas censuradas Ela quer pop nacional até então. Outras
Na formação inicial Evandro Mes- como integrante da banda, mas, morar comigo e Cruel Cruel Es- viriam, mas nenhuma com tanto
quita dividia o palco e os vocais antes do contrato, foi procurar ou- quisofrenético Blues. sabor. ELAINE GOMES
com Marcia Bulcão e Fernanda tra gravadora com uma demo e a
Abreu. Lobão comandava a ba- revista debaixo do braço. Foi con- A consagração final da banda
teria e Billy Forghieri, o baixo. tratado pela RCA-Victor que, sem acontece no primeiro Rock in
Como toda boa banda de rock, pensar, lançou a própria demo Rio, quando, nos domingos 13 e
a Blitz teve várias formações, como o primeiro disco do grande 20 de janeiro de 1985, o grupo
mas Evandro, Marcia e Fernan- lobo, Cena de Cinema, de 82. Na mostrou toda a desenvoltura de
da sempre estiveram presentes. Blitz, quem assumia as baquetas palco adquirida nos últimos dois
Naquele ano, o grupo inglês agora era Roberto Gurgel, o Juba. anos. Mais uma temporada no
The Police veio ao Brasil e só se Era uma época em que se po- Canecão, em junho de 85, uma
ouvia falar em “Police”, e numa dia ousar em alguns detalhes: a turnê russa (!!) no mês seguinte
associação de idéias, Blitz foi o banda lançou um compacto com e Ricardo Barreto anuncia sua sa-
nome escolhido e ficou. uma música de um lado e no ou- ída, levando a namorada Márcia
seja

POP
..............................
PoP

guia
Cazuza
RPM
vange leonel
blitz
páginas 41-45
DIVULGAÇÃO

LANÇADO apenas em 1987 mas com Aborto Elétrico, grupo que originou este? A banda estava ansiosa por
a maior parte de suas músicas escri- a Legião Urbana e o Capital Inicial, tocar ‘em casa’, todos os ingressos
tas no final da década de 70, antes e montou o disco com as músicas estavam vendidos para o show
mesmo do lançamento do primeiro que os fãs já conheciam dos shows no estádio Mané Garrincha, que
LP da banda, Que país é este? é o disco da antiga banda. A receita estava teve superlotação. Muita gente foi
que melhor retrata o que foi a Legião pronta e não tinha como dar errado, pisoteada e levada aos hospitais e a
Urbana, um dos maiores grupos de uma mescla de rock pesado e de Legião teve que encerrar o show na
rock brasileiro que já existiu. protesto com acordes simples e metade, causando a revolta dos fãs.
umas das vozes mais potentes do Esta experiência fez com que Renato
Talvez pressionado pela gravadora Rock. Que país é este? reúne três dos Russo perdesse de vez o gosto pelos
que pedia mais um LP após o maiores sucessos da Legião Urbana, palcos, passando a gostar menos das
tremendo sucesso de Dois, do ano a primeira faixa, que entitula o disco, turnês, raras na carreira da banda.
anterior, Renato Russo não teve Eu sei e Faroeste Caboclo, que
tempo para compor as faixas que vão segundo o próprio Renato Russo era 3
neste disco, apenas Angra dos Reis o seu “Hurricane”, grande sucesso
e Mais do Mesmo foram compostas de Bob Dylan que contava a história
d
Legião Urbana exclusivamente para ele, coube então
a Renato Russo, a tarefa de escolher o
de um boxeador negro que é preso Faixas: Que País é Este? / Conexão Amazônia z
por um crime que não cometeu. / Tédio (Com um T bem grande pra você) /
Que País é Este? que mais lhe agradava de tudo o que Depois do Começo / Química / Eu Sei / Faroeste
b
por luiz gerardi ainda não havia sido gravado. Um fato trágico e que viria a marcar Caboclo / Angra dos Reis / Mais do Mesmo m
O vocalista apelou então às músicas a vida de Renato Russo aconteceu
que fizeram sucesso na época do durante a turnê de Que país é
41
............................
..............................
a holandesa Alice Gwendolyn (Al- convenhamos...). Antes de decidir

PoP
ice Pink Punk, namorada de Júlio). passar o resto da vida distribuindo
Sua primeira apresentação foi no Pau- seu olhar 43, Paulo Ricardo foi
licéia Desvairada de Nelson Motta, crítico musical da Som Três, onde
que era uma tentaviva de casa POP mandava bem o suficiente pra

k Pop!
com o “padrão globo de qualidade” ter feito uma tremenda bobagem
que afundou pouco tempo depois. mudando de posto. O disco RPM
O LP “Essa tal de Gang 90 & as foi lançado em 1985 pela EPIC/
kkkkExcelente Absurdettes” saiu pela RCA em 83.
Faixas: Louco amor/Românticos a gô-gô/
CBS e os sinais de vida puderam
ser ouvidos não apenas no país,
Telefone/Eusei,masnãosei/Conviteaopraz-
kkkBom er/ Spaced out in paradise/ Perdidos na Sel-
mas no planeta vizinho. Um disco
rápido e distraído cantado por
va/ Noite e dia/ Mayacongo/ Jack Kerouak. um Mauricinho mal acabado de
kkRegular nome Paulo Ricardo. Mal acabado,

kRuim Gang 90 mas bom de marketing, sejamos


justos. As faixas emplacaram to-
Essa tal de Gang 90 & As das. Uma a uma elas martelaram
nossas cabeças nas rádios no maior
Absurdettes fenômeno de vendas do mercado
fonográfico nacional. Destaque para
kkk a tentativa politizada de Juvenilha.
RCA Faixas: Rádio Pirata/Olhar 43/ A Cruz
e a Espada/ Estação no Inferno/ A
Júlio Barroso era um homem ge- fúria do sexo frágil contra o dragão
nial. Aquela criatura alta e magra da maldade/Loiras Geladas/Liberdade/
atrás de um par de óculos de lentes Guerra/Sob a luz do sol/Juvenilha/
muito grossas não era exatamente Pr’esse vício/ Revoluções por Minuto.
a imagem de homem moderno e ELAINE GOMES
músico antenado, mas ele era um
gênio da modernidade musical. RPM

J. MONDINO
Titãs Quando ainda morava em Nova York
em 1980, ele já havia composto Per-
Revoluções por Minuto
Epic/CBS
Cabeça Dinossauro didos na Selva. Assim que terminou,
mostrou para o amigo (pasmem) Guil-
Atlantic herme Arantes, que imediatamente k
musicou o refrão que faltava. A partir
k daí nascia a Gang 90 & as Absurdettes.
Furacões são assim: devastadores.
As bandas nacionais de Punk Rock Mas passam. Neste momento,
A formação inicial era Júlio nos vo-
eram todas muito parecidas; a rebel- queridos leitores, ergam os olhos
cais, Guilherme nos teclados, Gi-
dia emergente compunha na mesma para o céu e agradeçam a quem
gante Brasil na bateria, Lee Marcucci
garagem. Então vieram as cabeças de direito tiver feito essa bobagem
no baixo e Wander Taffo na guitarra.
dos Titãs com uma fúria além da acabar. Não que eles desistam
As Absurdettes eram Luíza Maria,
habitual e arrombaram a festa com fácil, os meninos do RPM (hoje não
Denise Barroso (irmã de Júlio) Ma-
o LP Cabeça Dinossauro. Um dis- mais tão meninos, mas igualmente
ria Elisa Capparelli Pinheiro (a May
co raivoso e pulsante, que soube insistentes e desavisados) ainda
East, figura onipresente no uni-
aproximar a ira e o Pop, atropelan- sobem ao palco para cantar versões
verso rock ‘n roll paulista, e namo-
do as trilhas titânicas de até então. das mesmas coisas de 20 anos atrás
rada de Nelson Motta na época) e
Produzido por Liminha, Vitor Farias (e que já não eram grandes coisas
e Pena Schmidt, o disco é de 86 e foi
mixado e gravado em apenas um mês.
Foi a primeira participação de Charles
Gavin (vindo do Ira!), que assumiu a
bateria no lugar de André Jung (que
foi para o Ira!)... A primeira leva de
cópias, cerca de 30 mil, foi encarta-
da num papel fosco de custo quatro
vezes maior que o habitual para que
a baixa resolução da cópia do esboço
de Da Vinci fosse compensada. Mais
tarde, Sérgio Britto conseguiu uma có-
pia melhor vinda diretamente do Mu-
seu do Louvre e as capas dos discos
saíram com o papel normal. Arnaldo
Antunes havia sido preso por tráfico
de heroína ( Belloto por porte) e as
músicas Polícia e Estado Violência
embalam a memórias dos 26 dias que
Antunes passou na prisão. Bichos Es-
crotos teve sua execução proibida pela
censura federal. No mais, o disco é
3 uma paulada, a obra prima dos Titãs.

d Faixas: Cabeça Dinossauro/ AAUU/ Igreja/


z Polícia/Estado Violência/Igreja/Polícia/
b Estado Violência/ A face do destruidor/
Porrada/ Tô cansado/ Bichos Escrotos/
m Família/ Homem Primata/ Dívida/ O quê?

ELAINE GOMES
42

............................
...............................
a sua Praia!” Ele vem com 11 musicas,

CLASSICOS
das quais, 9 são sucessos absolutos

k
da banda. O disco tem uma levada

comentados
meio rock dançante e, quando lan-
çado, foi um dos mais tocados do ano.
Começa com a faixa titulo do álbum,
nós vamos invadir a sua praia, musica
que despensa comentários. Daí segue DAVID LACHAPELLE

para uma seqüência indo desde Re-


belde sem Causa, Mim quer Tocar,
Zoraide, chegando na pop das pops
Ciúme. Do amor à critica política
que começou com uma frase do rei
Pelé “agente não sabemos escolher
kkkk presidente...”, eis que a mente de
Roger cria Inútil, para não ficar serio
Vange Leonel de mais a banda manda a hilariante
Marylou, vai para a morta, Jesse Go,
Nau Eu me Amo e por ultimo, a musica
inspirada no bordão da mãe do vo-
EMI calista, Independente Futebol Clube.
VINICIUS GONÇALVES
“Muita gente não conseguia direito
classificar o estilo do NAU. Alguns
achavam que a gente fazia heavy
metal, por causa do meu vocal e da
guitarra pesada do Zique. No final,
o nosso som acabou identificado
como um gótico pesadão. Os
shows do NAU eram bem intensos
porque eu cantava de maneira bem
dramática e a massa sonora da
banda era estarrecedora.”Vange
Leonel A partir desse depoimento
da Vange, enviado por email para
a redação da POP, dá pra construir
uma imagem (sonora) mental do
que foi a NAU. Vange tem uma voz kkkk
É tudo ou nunca mais
poderosa, e a guitarra distorcida
e com acordes esticados parecia
Cólera Cazuza
mesmo com o som dos góticos.
Exagerado
A verve teatral era constante nas
apresentações, e seus amores
Tente Mudar o Amanhã
Warner
passionais, presentes em cada letra. CSB
Destaque para os versos poderosos
de Corpo Vadio: “me diga que eu te Cazuza era um cara abusado. Todo mundo que convivia com ele sabia
excito, que eu morro por você”. O Cólera, a despeito do nome furioso disso. O Barão Vermelho era uma banca sólida no cenário nacional. Os
O único disco da NAU saiu em 1986 e da pegada Punk, era uma banda shows lotavam e os discos vendiam muito bem.
pela CBS. melódica. Auto denominada “liber- Um belo dia ele cansou daquela agitação Rock’n Roll do Barão
ELAINE GOMES tária” e conhecida por mandar mensa-
gens discando direto. A banda nasceu
Vermelho, com determinadas obrigações criativas e compromissos,
em 79 com Redson no baixo e vocais, além dos conflitos crescentes com Frejat e Maurício (companheiros do
Helinho na guitarra e vocais e Pierre Barão)que também queriam cantar.
na bateria e vocais. Antes da gravação Agenor de Miranda Araújo Neto queria mais poesia. Queria gravar
do primeiro disco, Helinho foi sub- Noel Rosa e Lupicínio Rodrigues entremeados com rocks cheios de
stituído por Val e Redson assumiu palavrões cantados por ele e mais ninguém.
as guitarras além da primeira voz. A
banda sempre teve uma preocupação
Sobre sua saída da banda, há o seguinte depoimento registrado no livro
com a sobrevivência do planeta. Isso Preciso dizer que te amo (uma compilação feita por sua mãe, Lucinha
, em plena década de 80, era uma ver- Araújo): “Caí fora da banda antes que ficássemos inimigos para sempre.
dadeira raridade. Gravaram algumas O show em Curitiba foi o Grand finale. Começamos a bater boca no
coletâneas internacionais, a primeira palco, e platéia assistindo tudo parada. Todo mundo vendo o Cazuza
foi O Grito Suburbano, com Olho brigando aos palavrões com o Barão e vice-versa. O grupo já não se
Seco e Inocentes, em 82. Tente Mudar
entendia mais. Mesmo assim fomos até o final do show.
o amanhã era o nome do LP lançado
em 1984. Destaque para o fato do Ou eu caía fora, ou seria eternamente o vocalista do Barão. Sem dúvida
vinil do disco ser vermelho e para a foi um bonito período da minha carreira. Eu tenho um ego muito
letra (ainda tão atual) de Cidade dos grande, não conseguiria dividir um palco ou um disco”.
Ultraje a Rigor Meus Pesadelos C.D.M.P:. “Sem fu-
turo/Dia e noite pode escutar/Tiros e
Em 1985 Cazuza gravou Exagerado, seu primeiro disco solo, que foi
Nós Vamos Invadir sua um fenômeno de vendas.
gritos/E no asfalto você vai olhar”
O poeta do abuso, um homem urgente. 3
Praia Faixas: 1.9.9.2./ Marcha/ Nabro3/ São Pau-
lo/ C.D.M.P./Agir/ Palpebrite/ Duas Ogivas/
d
kkk Amnésia/ Passeata/ Amanhã/ Eu Não Sou Faixas: Exagerado/ Medieval II/ Cúmplice/ Mal nenhum/ Balada de um z
Você/ Rasgando no Ar/ Burgo-alienação/ vagabundo/ Codinome Beija-Flor/ Desastre Mental/ Boa Vida/Só as mães
Warner Sargeta/Distúrbios/ Violar Sua Leis/ Con- são felizes/ Rock da descerebração. b
denados/ Não Existe Mais/ Em Você ELAINE GOMES m
O ano era 85. A banda, Ultraje a Rigor.
ELAINE GOMES
E o álbum?...Sim, “Nos Vamos Invadir
43

.............................
..............................
livros NO ESCURINHO
de ser inútil, a Realidade, aquele
chicletinho do saquinho rosa e
do cinema...
vermelho...enfim, com a idéia DIVULGAÇÃO

de colocar tudo isso em um livro


divertido e envolvente os jornalistas,
Luiz André Alzer e Mariana
Claudino, escrevem o Almanaque
dos anos 80 que coloca, de maneira
divertida e leve, o leitor no mundo
pós repressão nos deliciando com
as maravilhas que lá existiam.
VINICIUS GONÇALVES

BRock consuma!
Arthur Dapieve ALZER, Luiz André &
Editora 34 CLAUDINO, Mariana
– Almanaque anos 80. São
Paulo, Ediouro.
Com uma linguagem clara, concisa e
uma narrativa pra lá de envolvente, ARAUJO, Lucinha. Cazuza
Arthur Dapieve conta a história – Preciso dizer que te amo.
de um dos mais importantes

Viver é o melhor
1ª Edição. São Paulo, Editora
movimentos musicais do Brasil: o
Rock. Esclarecendo antecedentes, Globo, 2001
traçando prognósticos de futuro
e acompanhando de perto esse ARAUJO, Lucinha Só as

remédio
movimento tão rico da década de mães são felizes. 1ª Edição.
80, o autor nos insere no contexto
Rio de Janeiro. Editora
e nos familiariza com a história do
rock brasileiro. De Celly Campelo, Globo, 1997.
cantando “Estúpido Cúpido”, nos
anos 50, até a morte de Renato
Russo, em 1996, deixando órfã BRYAN, Guilherme. Quem Por Luiz Gerardi
uma verdadeira legião urbana, tem um sonho não dança:
nada escapa à descrição. Grandes
bandas de todo o Brasil, quem já
foi e quem ainda é ícone do BRock,
Cultura jovem brasileira
nos anos 80. Rio de janeiro. Curtindo a Vida Adoidado
quem tentou e quem conseguiu Record, 2004 Ferris Bueller day off
sobreviver, as pequenas bandas Elenco: Matthew Broderick, Mia Sara e Alan Ruck.
e suas grandes contribuições... DAPIEVE, Arthur. Brock – o Comédia 1986
enfim, tudo o que foi, de alguma
rock Brasileiro dos anos 80. Paramount Pictures
forma, significativo na produção
musical da década, considerada 3ª Edição. São Paulo. Editora
“perdida” pelos economistas e 34, 1995. Antes que eu comece a falar sobre Curtindo a vida adoidado é
sociólogos, mas que foi o marco preciso que vocês saibam que o filme não é uma superprodução, não
do rock brasileiro, está descrito nas teve um elenco recheado de atores famosos, o orçamento foi baixo e
224 páginas do delicioso “BRock o enredo não era lá essas coisas.
FRIEDLANDER, Paul. Rock
– O Rock Brasileiro dos Anos 80”. O filme apenas conta a história de um garoto que, entediado com o
CLÁUDIA URBANISKI and Roll: uma história social.
colégio, resolve matar aula. Ai surge a pergunta: então o que faz de
Rio de Janeiro.Record, 2002.
Curtindo a vida adoidado um filme tão especial? É só a coreografia
do sucesso dos Beatles Twist and Shout?
Almanaque dos Anos 80 A resposta é simples, não. O filme consegue reproduzir o que é o
sonho de todo jovem estudante da década de 80. Enganar o diretor
Luiz Alzer & Mariana LEITE, Marcelo. Madame da escola (e ainda ver ele se da mal), curtir um lindo dia de sol com
Claudino Satã o Templo do Under- os amigos, ir ao jogo de baseball e... jogar uma Ferrari pela janela...
ground dos anos 80. 1ª A princípio, não há nada de mais em se fazer isso, hoje em dia vemos
Ediouro Edição. São Paulo. Editora filmes onde se destroem prédios, aviões e até mesmo o próprio
Lira. 2006 planeta. Mas naquela época era diferente.
O que existe entre a morte do Em 1986, não se viam muitas Ferraris andando pelas ruas, o carro
“poetinha” Vinicius de Moraes vermelho era o maior símbolo do capitalismo que caminhava a
3 e a queda do muro de Berlin?A passos largos, jogar um carro desses pela janela era como dizer a toda
d fundação do PT e a eleição direta a indústria cultural que não precisamos de suas invenções para viver.
para presidente, depois de quase MARCHETTI, Paulo. Diário Então o filme tem um aspecto crítico? Eu responderia que sim, mas
z 30 anos de ditadura? Sim uma da Turma 1976 – 1986. A muito sutil. Ou você conhece algum estudante que mataria aula para
b década! Uma década marcada pela História do Rock de Brasília. ir ao Museu ver as obras de Picasso e Renoir? Difícil né?
diversão e pelo exagero. O mundo Mais uma crítica aos hábitos da juventude americana da época.
m

k
evoluía, os vídeo-games surgiram,
a produção musical erupcionou,
São Paulo. Conrad, 2001
abertura política, nossa convicção
44

.............................
..............................
saideira
do avesso
Desce regurgitando os poros, absor-
vendo a tensão, desinibindo. Olho Com uma única canção, determi-
para o quanto eu fiz, como estou e nar os gemidos do sexo sujo. Com
como toco as pessoas. Intimamente, a algumas palavras, o ardor do ácido Meu corpo emana uma energia estranha.
vontade extrema de causar comoção, na língua. Tudo-agora-não-faz-sentido- Minha boca solta sopros harmônicos
euforia, brilhar. Faço-me entender com porque-o-hoje-é-agora-sem-mesmo-se- agradáveis. Lá embaixo eles são minha droga.
minha arte. Sangro os dedos e monto dar... conta – que eles pagam. Eu injeto até o ar da seringa. Pulo, faço
acordes. Agora. Nesta época onde os A minha arte é a insatisfação: escre- acrobacias. Eles me adoram. Estou exposto e
brilhos difusos são o chamariz à liber-
dade. Quando a mordaça foi arrancada
vo mal, falo mal e faço. Ontem foi dia talvez eu entenda meu papel. Minha época.
de extremos. Hoje irei quebrá-los. No Minha juventude. Eu sou uma década. O
e gritamos por aprisionamento dos an- tempo que insiste em se fazer notar até
tigos valores, eu sou único. A euforia lá limite farei coisas improváveis. Beijar
uma puta de esquina, tomar tubaína e ontem. Assim, naquele olhar de um angulo
embaixo, gritos em uníssono. Eu aqui, privilegiado, eu espio minhas possibilidades.
ela desce novamente. O pensar, o fazer trepar. Muito. Com tudo, Com todos.
Mas agora... Nunca estive tão presente.
e o agir trocam figurinhas. Marcadas?
Raras? Eu quero...
alex oliveira

3
3
d
d
z
z
b
b
m
m

45
29
..........................................................
ATEMPORAL
...............................
POP
U S I V O
EXL
meus anos 80
H
avia mais de uma banda que eu gostava impressão que eles eram mais livres, que sabiam
nos anos 80. ganhar dinheiro fazendo só o que gostavam, etc.
A primeira que me chamou a atenção era a Essas bandas todas me ajudaram na decisão de, em
do “Lobão e os Ronaldos”. Eu gostava das letras e 1985, mudar para São Paulo. Eu queria viver o que
da atitude da banda. eles viviam. Aliás, não posso deixar de fora a Blitz,
Depois eu comecei a prestar atenção nos Paralamas com a maravilhosa “Você não soube me amar”.Kid
do Sucesso. Abelha era demais também. “Como eu quero” foi
Aquela coisa do “Eu uso óculos” me pareceu trilha sonora de muita fossa (fossa é anos 70, mas
bacana. Tinha uma ingenuidade legal naquilo. Uma tudo bem)Outras bandas, como Titãs e Ira!, vieram
coisa relaxada, alegre, que eu gostava de ouvir. somente no final de 80, pelo menospara mim. A
Eu também me divertia muito com o Ultraje a primeira vez que ouvi Cabeça de Dinossauro eu
Rigor. É bom lembrar que no início dos anos 80 chapei total.Do Ira! eu gostava mais ou menos.Pra
eu ainda morava em Porto Alegre e haviEu ouvi ser bem sincero, eu dizia que gostava só porque era
muita coisa nos anos 80, principalmente rock apaixonado por uma garçonete do Ritz que amava a
dos anos 70 – meu favorito até hoje. Mas nos anos banda. Daí eu tinha que fingir que amava também.
80 nós descobrimos que também poderíamos ter Mas no fundo, no fundo do meu coração havia
rock brazuca. Rita Lee foi demais. Raulzito então, dois caras fundamentais para mim: Cazuza e Nei
nem se fale. Mas aquela avalanche de bandas, só Lisboa.O Nei Lisboa eu acompanhei desde os anos
mesmo nos anos 80. Ainda hoje, temos tanta coisa 70 em Poá e para mim ele é “o cara”até hoje. Pena
interessante acontecendo graças às bandas dos que pouca gente conhece.
anos 80. Elas todas, em conjunto, foram nossos os O Cazuza (e não estou falando de Barão vermelho,
Beatles. que achava um saco) é uma história a parte. Aliás,
Tivemos Ursinho Blau Blau, Sempre Livre, OK. Cazuza e Nei Lisboa, cada um da sua forma,
Mas também tivemos grandes Bandas nos anos 80, pintaram o melhor e mais poético quadro da minha
e algumas são grandes até hoje. Entre tanta gente geração.
boa, sempre preferi os Paralamas do Sucesso. Até o
nome é diferente. O líder usava óculos, imagine, e
tocava muito. A cozinha era das mais competentes,
Antonio Costa Neto é publicitário e
se não a mais competente do Rock Brasileiro. E Autor do livro Mãe na Zona.
eram três caras – só! Power trio, como o Rush
e o Police – chique pacas. Foram os primeiros a
misturar ritmos (Ska, Reggae), a buscar brasilidade
(Alagados, Severino), e falar bobagem também (Eu
não nasci de óculos). Quase ninguém se levava a
sério, mas com tanto e tantos ritmos, com tanto
swing, só eles. Puseram teclados, naipe de metais
3 e fizeram todo mundo dançar e pular. Não tinha
d show melhor. Você saia de lá desidratado, mas leve e
z feliz. Paralamas, nos 80, hoje e sempre.
b a um encantamento especial em relação a essas
m bandas de fora da cidade. Elas eram produto
de uma realidade diferente da minha.Eu tinha
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PoP
INOCENTES, O ÁLBUM
“Mais conhecido como o disco dos pelados” n°2

O ano era 1989, nosso último ano na Warner e as relações


andavam tensas, entre a banda e a gravadora. Entre os
membros da banda, cada um tinha uma opinião sobre qual CONSELHO EDITORIAL:
Eduardo Rocha, Tânia Sandroni,
caminho a seguir e a gravadora queria que a gente fizesse um
José Alves Trigo e Marco Moretti.
disco popular, que vendesse, ou degola! Todos nós vivíamos Márcia Detoni, Mônica Mandaji
exclusivamente tocando, minha filha tinha dois anos e eu
andava completamente duro, uma situação insuportável para EDITOR-CHEFE:
um pai. Nos bastidores do Circo Voador, no Rio de Janeiro, Elaine Gomes
encontramos Frejat, do Barão Vermelho, que se ofereceu para
produzir o disco, a sintonia foi total, e achávamos que seria EDITORES:
legal para quebrar o estigma que existia entre o rock de São Elaine Gomes e Alex Oliveira
Paulo e o do Rio.
PRODUÇÃO EDITORIAL:
Gravamos uma pré (demo), com as músicas que fariam parte
Alex Oliveira

t
do álbum, no estúdio Vice-Versa, nos intervalos da gravação
do “Panela do Diabo”, do Raul Seixas com o Marcelo Nova, REPÓRTERES:
encontrávamos Raul na sala de estar e dividíamos os lanches Vinicius Gonçalves
fornecidos pela gravadora. A aprovação de nossa demo-tape Cláudia Urbaniski
pela Warner foi um parto, senão fosse pela intervenção Luiz Gerardi
do Frejat acho que nunca gravaríamos aquele disco. Foi a
primeira vez que entramos num estúdio sem um nome para
o álbum, tamanho era o problema interno da banda, tanto é
que ficou só “Inocentes”. A capa foi outra história engraçada,
DIRETOR DE ARTE:
a gravadora queria os quatro na capa, nós não queríamos, Alex Oliveira
então fizemos as fotos todos pelados e algemados, achando que
a gravadora nunca aprovaria aquela capa, mas eles adoraram
e o tiro saiu pela culatra, tivemos que engolir nossa própria DIRETOR COMERCIAL:
idéia inoportuna. Caio Cassinelli
O disco todo é um pouco irregular, pois mistura várias

jr

l
tendências, tem o baião rock de “Promessas”, o rap rock de
“A voz do Morro”, a balada sangrenta de “A Face de Deus”,
acho que a melhor letra que já escrevi, e tinha as porradonas
de sempre como “A Lei do Cão” e “Marcha das Máquinas”,
comunicações
mas era eclético demais e apontava direções demais para a
época, estávamos um pouco adiantados...
Como era de se esperar, ninguém entendeu nada, não POP
agradamos nem a gregos e nem a moicanos, tomamos um pé Uma publicação da
na bunda da Warner, a banda se desmantelou e passamos três JR Comunicações Ltda.
anos duros e sem gravar, três anos difíceis. Redação: Rua Dom Theodósio,
Hoje ouvindo o álbum atentamente, vejo que ele é moderno, 345 Vila Abertina
precursor de várias tendências que se tornariam realidade
na década de 90, pois ele já trazia rudimentos de tudo que
se faria depois, desde a mistura de música regional, até na
PARA ASSINAR

b
levada funkeada, mas era pretensão demais para uma banda
Horário de atendimento:
punk com toda a patrulha ideológica que a cercava. de segunda a sexta-feira, das 8 às
20h
Clemente é vocalista e guitarrista das bandas Inocentes Contato: 55 11 7896-9806
e Plebe Rude, além de apresentador no Showlivre.com, E-mail: pop@teletarget.com.br
falou com exclusividade à POP.
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