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ASPECTOS PSICOLOGICOS E PSICOPATOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO HEBER SOARES VARGAS” RESUMO No presente trabalho mostra-e que as diferentes teorias que procuram analisar 0 processo de envelhecimento nao conse: ‘guiram explicar satisfatoriamente o envelhecimento psicologico. Discute-se as dificuldades para uma anéiise da psicotogia do envelhecimento e se encarece a necessidade de se dar maior atengdo & potencialidade psicoldgica que ainda resta ao velho ¢ ‘menor atengo ds funcdes que se deterioram, utilizando-se a técnica de Weschler para calcular o coeficiente de deteriorag Analisa-se rapidamente a psicopatologia do envelhecimento e concluise com algumas recomendagdes titeis para o retardamen- todo envelhecimento psicologico, 1. INTRODUCAO, © envelligcimento éum fendmeno biopsicosweial que atinge, a0 mesmo tempo, o homem ¢ sua existéncia na sociedade; ranifesta-se em todos os dominios éa vida, comegando pelas células, passando ‘aos tecidos © aos 6rgaos’ € terminando nos processos extremamente complicados do pen- samento, constituindose mum cam- po de pesquisas e estudos com cres centes indagagGes para os. cientistas © pesquisadores. © envelhecimento representa uma etapa do desenvolvimento individual, caja caracteristica principal é a ecentue da perda da capacidade de adaptaca0, ‘com diminuigio da vitalidade ¢ um au mento da vulnerabilidade de todas as fungdes dos individuos Individvalmente, a idade néo signifi ca apenas um espago de tempo, mas uma categoria, uma atividade sécio- econdmica, modo diferente de vida, ca- racterfsticas pessoais, objetivos e contli- tos de natureza varidvel, sentimentos po- sitivos © negativos. Essas earacterfsticas apresentamse na evolugio regular das faixas etérias, porém 0 envelhecimento populacional, como um todo, difere do individual e dos grupos como unidades separadas, ou seja, em cada populagdo hé um constante provesso de rejuvenes- cimento, © que ndo ocosre com o indi- viduo em particular, pois, sio substitui- dos ¢ néo rejuvenescidos. Diante da velhice, como um fendme- no humano, ¢ do envelhecimento popt- lacional, como um fato s6cio-cultural, @ goriatria © a gorontologia tm exaur- do suas possibilidades na busca de uma solugdo satisfatoriamente vilida para o Existem varias teorias, procurando explicar 0 envelhecimento, entte elas, problema, sobressaitam-se pot Sua aceitagao cien tifica as seguintes QUADRO I — Das Teorias mais importantes sobre 0 proceso de envelhecimento FUNDAMENTAGAO ‘A causa do envelhecimento do organismo humano, decorre dos produtos do metaboli mo ¢ da putrefagao intestinal ‘Todos os 6rgios tém uma lei de erescimento e outra de diminuigao da atividade, na medi- da em que o tempo passa. ‘Admite que o processo de envelhecimento corte, em consequéncia dos componentes celulares estarem ligados & sua carga el6trica, modo particular aos fons _negativos. Indica ser a causa mais importante do enve- Ihecimento a exaustZo das glandulas sexuais, ‘Admite que os capilares da pele dos idosos apresentam um certo nlimero de alteragdes degenerativas da mesma natureza dos capila- res de todo 0 organismo, A velhice € attibufda preferencialmente aos radicais livres ¢ aos peroxides endégenos, pois, 0 envelhecimento devido a alteragbes ‘mais a nivel celular que tecidual AA velhice seria consequente de acidentes ge- neticamente programados na cadeia dos ADN TEORIAS | PROPONENTES 1, Daauto-_ | METCHNIKOV intoxicagao 2.Doenv. | CATELE DE natural DU NOUY, 3, Celular | CHILD de 4. Endgcrina | LORAND - Capilaros- | BASTEL E patia seni! | DOGLIOFTI 6. Bioquimi- [HARNA, ca 7. Prog. BOURLIERE, Genética 8, Do erro na] SCHOCK sintese das proteinas (© aciimulo de proteinas deficientes é consi derada a fonte mais importante de deteriora. ¢0 da capacidade fisiologica das células. * Departement de Patologia Aplicada, Legislaedo e Deontolosia ~ C.C.S. - VEL, 203 VARGAS ‘A existéncia de todas essas teorias, nfo tem sido suficientes para a compre. ensfo do processo de envelhecimento, ‘no campo das fungoes mentais. 2, ENVELHECIMENTO PSICOLOGICO Ao estudar a psicologia da senescén- cia, a Geriatria e a Psiquiatria esto con- fusas © pesplexas por inmeras raz6es. Primeiramente, porque 0 velho ¢ fre- quentemente reticente as_entrevistas cientifieas e aos testes, sendo dificil a eliminagao das diversas influéncias sub: jetivas no resultado das avaliagoes. Em segundo lugar no se pode saber a data exata do inicio do processo de envelhe- cimento. Somente teoricamente se pode tracar um limite nitido entre a senes- céncia (envelhecimento fisioldgico) e a senilidade (envelhecimento patolégico). Sabe-se, contudo, que mesmo esta rea lidade, tanto na pritica médica como na pesquisa, tem suas fronteiras impreci: sas; estamos de pleno acordo com a opi niao de BOURLIERE() quando dizia: — “A senilidade ndo ¢ senao 0 desembo: cadouro final dos processos da senescé Os problemas psicodinamicos do en- velhecimento apresentam-se de tal for ma intimamente ligados ao homem, que apesar de diferir quantitativa e qualita. vamente, de um individuo para outro, tem bem poucas situagdes se pode gene- ralizar. O termo velho ndo é, pois, um dado absoluto, dependendo de um siste- ‘ma de referéncias, sujeito a variagdes de ordem genética, cultural econdmica e até politica Tradicionalmente a psicologia das pessoas idosas & psicométrica e diferen- cial, e concentrase basicamente na ca racterizagao de WESCHLER(), que dis tingue no. processo do envelhecimento “a comparagio entre aquilo que se tem sgl gue nose tem mai pois, 0 envelhecimento evidencis: io paicologleamente. por tum processo dinamico & extrgordinariamente. com plexo, muito influenciado por fatores Individuais, que se inicia com um de- clinio lento ¢ depois centvado das ha bilidades que o individuo conseguia de- senvolver antetiormente Entendemos que, do ponto de vista psicolégico, deve set modificado o cone feito esttico do processo de envelhect mento para um enfoque mals dindmico, devendo, os geriatras, piquiatas, psic®- logos, enfermeiros e assistentes sociais, preocuparem-se mais com a potenciali- 204 dade das fungdes € menos com aquilo que se desgastou. Devemos interessar- ‘nos, pois, mais pelas particularidades po- sitivas do que pelas negativas, mais pela parte intacta das fungGes mentais e me: nos pela parte que se transformou ou no mais existe, a fim de que uma equi- pe multidisciplinar possa ter uma estra tégia Gnica no estimulo as fungées pou- co atingidas dos velhos. Inicialmente, estabelece-se, no in viduo que comega a envelhecer, a0 lado das manifestagdes normais desse proces 50, dois problemas psicossociais de suma importancia, responsiveis pelos primei- 105 conflitos que maream basicamente 0 envelhecimento psicol6gico: ) A sua aceitaggo ou recusa da situa- gf de velho; ) A sua aceitagao ou rejeigao pelo meio. Nos processos adaptativos seguidos ‘405 conflitos gerados por essas duas ma- nifestagdes reativas, comegam a aparecer acentuagao das particularidades do ca- rater como regra, porém o contritio po- de produzirse, provocando um enfra- quecimento da antiga estrutura e permi- indo a aparigao de facetas novas que existiam, mas que ndo se haviam mani festado antes, Pode produzirse na velhice, uma es- tranha € paradoxal mudanga:_ reagoes ppositivas © negativas, Se de um lado tra: {gos de algumas fungoes mentais so eco- rnomizados para evitar o desgaste, de ou: tro novasparticularidades ” dessas funges podem ou poderiam ser desen- volvidas. A involugdo psicolégica reduz a capacidade de assimilagao e de analise, mas favorece a de sintese AJURIAGUERRA) resumiu de maneira lapidar a significagdo que tem a vida anterior do individuo que envelhe- ce, dizendo: — “On vieillit comme on 4 véeu” — Envelhece-se como se viveu. ‘As mudangas psiquicas do velho ex- plicam-se mais por uma transformagio estrutural do que por uma desestrutura- edo € teriam duas vias; uma ascendente € outta descendente. Essas transforma: ges estruturais obedecem &s leis anlo- {gas Aquelas que regem a psico-integragao infanto-juvenil em um sentido inverso, Tanto isto & verdade que 2 psiquiatras € estudiosos da psicologia infantil, HALL, em 1922, e, recentemente AJU: RIAGUERRAW), depois de um grande sucesso na psicologia da infancia, se in clinaram com 0 mesmo sucesso’ 20 es tudo da psicologia do envelhecimento, No quadio da psicologia, comparada, Ploog citado por MULLER(!2), assinala as grandes semelhangas entre a motrici- ‘Semina, 812):203-207, 1981 dade fatigada e lenta do senescente, com motricidade indisciplinada ¢ desorde- nada da infincia. Razio tem VISCHER(O), grande estudioso do envelhecimento, quando afitmava, que as necessidades basicas do velho sfo as_mesmas do adolescente: a Necessidade de amor, b -Calor familiar; ¢- Seguranga interiore exterior; d - Necessidade de ser atil aos demais. No processo psicoldgico de envelhect mento, no se produz uma transforma. go regular por etapas que sigam as li nnhas fundamentais da antiga estrutura Essastransformagses comeyam pelas fungdes psiquicas mais elevadas, en- quanto 0s mecanismos mais ativos gene- ticamente se mantém por mais tempo. © velho reage a0 envelhecimento, criando uma confronta¢o constante que pode ser considerada sob diversos Angulo: fracasso -vit6ria adaptagdo - defesa protegio - auto-afirmagio Os pentos de insergao dessas dualida- des podem ser resumidas como segue: Reaydo as fungSes conporais objetiva- meate alteradas e subjetivamente sen- tidas. Reagao as fungdes psiquicas alteradas » subjetivamente sentidas. Reagdo as mudangas do mundo. Reagfio 3 redugao da vida e & morte proxima Finalmente, ainda como moificador determinante da personalidade do velho, assinala-se 0 aparecimento de causas fisi- cas de toda a espéce: Perda da acuidade visual Perda da acuidade auditiva Enfraquecimento fisico em todos os (rgaos e aparelhos, etc. Os primeiros estudos da psicologie do envelhecimento, preocuparam-se mais ‘com 05 tragos negatives do processo in- volutivo e foram dominados pelos estu- dos da memoria ¢ da inteligéncia, Na primeira, a lei de RIBOT(!4), estabeleci- da ha mais de 60 anos continua bem atual e pode ser sintetizada nesses 4 itens: 1+ As lembrancas recentes desapare- cem antes das antige. 2- Ha, na perda da meméria, um re- cud no passado, que se opera progressiva e uniformemente. 3+ As nogdes mais complexas so olvidadas em primeiro. lugar. 4 A marcha da meméria caminha do instavel para o estivel, das nogSes abstratadas para as con cretas, VARGAS KRAL®) e colaboradores, mostra ram a existéncia de estreitas relagdes en- trea memoria eo estado de saddegeral, de modo que o rendimento das fungoes mnésicas podem ser um elemento importante para avaliseSo progndstca do estado geral dos individuos, Outros ‘ores confirmando. aqueles estudos, tostraram que o défct na capacidade de finagdo ge deve s uma debiltagao da esitura vital nao Tova com Iequen Gia a uma pertirbacao do pensamento Na sogunda, a diminuigio global do rendimento intelectual na velhice ¢ uma observagao antiga. As faculdadesintelec twais aumentam rapidamente até os 20 anos, para baixar rapidamente depois dos 60. ans. Sabemos, que 9 declinio das fungbes intelectuais € a tesuftante ro somente de um processo biologico mas, principalmente, devido 2 auséncla de mecanismos de organlzagio.percep- tial conservados pelasatvidates Intelee tials desenvolvidas, Segundo. PIA. GETC3)-o potencil humano da inte gencia e des outtas fungdes mentas € fetdado como um eardter genético ml tfatorialefilogenstico; herdase desde 0 nivel da inelgencia reflexa até 2 part cularidades das fungoes mentais. MUL- TERS), apés exaustvas pesquiss bi bliogréfics e inimeras observagSes pes soas, graficamente asim representou a Giminuigao intelectual Gos indivicuos Rendimento intelectual Idade 10 20 30 40 50 60 70 80 Além do desgaste da meméris e re baixamento da inteligéncia, oatras fun bes e tracos da personalidade tém sido analisados pelos estudiosos da Geriatriae da Psiquiatria, no processo psicoldgico do envelhecimento. Apesar de no ser estudado com frequéncia pelos pesquisa dores, 0 ertraquecimento da conscién cia, com ligeira obmubilaedo é um sinto- ma importante na psicologia e psicopa tologia do envelhecimento. AAS outras fungbes sG0 atingidas, ain- dda que em menor intensidade, as trans- formagies estruturais descendentes © negativas das diversas fungdes mentais, com seu desgaste funcional, pode ser re- sumido, 2.1 — Tragos que nfo se mantém, nega- tivos « descendentes O1- Atitude hostil ante o novo; 02- Lentiddo de todos os rendimentos fadiga; 03- Diminuigio da vontade, das aspi ragdes, da iniciativa, da capacida de de agdo e da atengao; 04- Enfraquecimento da consciéneia; 05- Diminuigao da concentragdo; 06 - Apego ao conservadorismo; 07-- Deterioragao da memoria; 08 Diminuigdo global do rendimento intelectual; 09. Anomalias do carster: desconfian- @, invitabilidade, indocilidade; 10- Estreitamente da afetividade, Ao lado dessas fungSes diminuidas, negativas ou descendente, outras podem softer um processo de transformagdo & de adaptagdo ou ainda permenecerem quase intactas, 2.2 — Tragos que se mantém, ascenden- te ou que se transformam compensa doramente O1- A percepcdo perde a rapidez € agudeza, porém ganha em exati- dao, por estar menos exposta as influncias das emogées. Diminui @ mem6ria mecénica, ins talando um sistema mnésico mais completo que facilita a agrupaedo de dados e a comparagao dos mos. O velho procura evitar 0 no essencial; Habilidade notivel para compen- sar qualquer mudanca desfavord vel em-uma atividade funcional Boa ordenagdo automdtica e in- consciente de suas atividades, per mitindo uma utilzagéo adequada das capacidades existentes, Maior capacidade de aprendiza ‘gem nas situagdes praticas, A capacidade de compensagio ¢ estratégia parece ser mais agugada ‘nos velhos, 07- O envelhecimento conserva a capacidade de enfrentar o traba. Iho que requeira paciéncia e preci S10. Sagacidade para manejar as expe rigneias acumuladas ampliar as relagdes existentes. Aumenta a objetividade, pondera (40, equilibrio e fidelidade, 10- Expansao de espiritualidade. Existem culturas, em que a aprecie a0 das qualidades especificas da velhi- ce, como sabedoria, experiéncia e tran- quilidade sao uma tradieao. Nessas cule turas encontramos atitudes positivas pa ra a velhice, e algumas delas foram pri: morosamente manifestadas de diversos modos, de varias maneiras e por varias pessoas, porém Hokusai, famoso pintor 02. 03. 04. 08 - 09. Semina, 8(2):203-207, 1981 japonés, manifesta de maneira lapidar, a aqualidades psicoldgicas positives de envelhecimento no seguinte trecho: nia de desenhar a forme dat clus Quondo eu extera com 30 anos. nha Publicado wma infotdade de deseo nay tude eu prot antes dos 90 anos nao &digno de wer enado on con fe dos 73 anos aprantl am pouco so bre‘ verdadena earuture da nara dot aninat, planes, piste, peter € ver com 80 anos tere! reaizate mats progresses, aot 90:penetrarel no mis- {trio das Colas; 208 100, por certo te rel aingio uma fase maravilioss, € ‘nuendo er ther 110 anos, qualguer Govsa que ize, sla win pontoon uma tina tr de" No processo de envelhecimento psi col6gico, mister se faz, pois, diferencisr © declinio normal das hebiiidades das fungoes mentais, da. perda anormal. O declinio paulatino dis habilidades ‘na idade avangada ¢ considerada normals uma perda mareante e desordenada em qualquer idade, com prejuizo definitivo, & comsiderado deterioragdo mental Pode também, ovorrer gradativamente uma perda curmulativa, a qual conduzira 4 incapacidade das Fungaes mentais co- mo um todo, no de um sspecto espe cifico; isto caracteriza também a “dete- tioragao mental”. Para cileulo do coefiiente de dete- riorapao deve ser utilizada a fo¢mula es- fabelecida por WESCHLERC) ou seja uma expressdo aritmética, obtida da s2- gvinte forma: ; se muntém + nfo se mant2m gp cD se mantém p= SME NSM 100 SoM C.D. = Coeficiente de deterioraga0 SIM. = Testes que se mantém com a idade N.SM, = Testes que no se mantém Uma vez estabelecido © coeficiente de deterioragio, temos a oportunidade de tentar compensar as fungGes que nfo se mantém e estimular as que se man- vem. ‘Ao lado do estudo do coeficiente de deteriorasao, apesar da psicologia clini- ca nfo tet conseguido estabelecer nor- mgs para 0 estudo sistematico da velhi ce, comega a dar um verdadeiro valor a ‘um importante fendmeno do porque at gumas pessoas envelhecem premacura mente e outras tardiamente Estamos propensos a aceitar que os sintomas caracteristicos do envelheci mento psiquico antes dos 60 anos, se- jam prematuros, e necessitam de uma orientagdo biopsicossocial especial. Es- 205 VARGAS se envelhecimento prematuro std sem: pre correlacionado com fatores bem co- nhecidos, como: Hereditariedade Influéncia da invalidez psiquica Stress psicol6gico ‘Ao contririo consideramos 0 enve- Ihecimento tardio em nosso. meio, as Pessoas que tenham atingido lucida- mente 80 anos em diante, que também deveriam merecer uma atengao especial. Esses fatores que determinam inme- ras modificagdes e conflitos na persona- lidade dos indiviguos que envelhecem, so principalmente sScio-econdmicos li- ¢gados a problemas financeiros, isolamen fo ¢ desolagao social, desvalorizagio e desprestigio, podem determinar atitudes ss psicopatoldgicas entre os ido- 3, PSICOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO © equilidrio psiquico do velho depende basicamente de sua faculdade de se adaptar e de sua visio justa da rea- lidade. Quando sua adaptagdo nao boa, gera conflitos, que associados & vul nerabilidade de todas as fungdes psiqui- cas, € quando esses conflitos. ndosd0 adequadamente compensados, aparecem reagdes, que a0 atingirem um certo I ‘iar, provocam um desequilibrio psico- 6gico que gera reagdes psicopatologicas do envelhecimento. Quase todos os transtornes psicopa- toldgicos do jovem ¢ do adulto podem ccorrer no idoso. Esses cranstornos po- dem ser transtornos antigos que persis tiram até a velhice ou podem manifes- tarse pela primeiza vez nessa fase da vi da Contudo. as sindromes psico-orgini- cas, principalmente as deméncias, quer senis oi arterioescleréticas-merecem ‘uma atengdo especial dos primeiros estu- diosos da. psicopatologia _na__velhice ‘As deméncias, segundo EY) produ zem uma debilidade psiquica, profunda e progressiva, que altera as fungdes in- telectuais basicas e desintegram as con: dutas sociais. Logicamente os estados demenciais devem ser considerados so- bretudo em. seus aspectos evolutivas € nese sentido possuem fases ¢ graus ‘As deméncias, sindromes de natureza ‘organica podem ser subdivididas didati camente em varias formas clinicas, a- A deméncia senil ~ se caracteriza pe- la atrofia parenquimatoss do cérebro, de causa desconhecida, porém pensa se que esté determinada genetica mente, Clinicamente apresenta um de 206 debilitamento e agravamento de to- das as fungdes mentais, porém a me- moria & a mais afetada. O juizo é pueril e superficial, estreitamento do nivel de consciéncia, perdas dos valo- res éticos, apatia, hipobulia, iritabili dade e transtomos de conduta, O pe- riodo terminal pode precipitar-se por alguma_enfermidade intercorrente, ‘ou uma evolugao que termina a per- da completa da personalidade, vida vegetativa, coquexia e morte. b-A deméncia arterioesclerética ~ cau- sada pela esclerose das artérias cere- brais, lesionando inicialmente 0 teci- do vascular cerebral e, secundaria mente, 0 tecido nervoso. Somente existe diferengas na etiotogis € no pe- rfodo inicial. A sintomatofogia desse tipo de deméncia & de resto igual a da deméncia senil Existe pois, nessa sindrome psiquid- trica uma forma de comeco lento e pro- gressivo e uma forma de comego brusco u grave. A primeira com manifestagdes fisicas (fadigalidade muscular, transtor nos vasomotores sensoriais € neurologt 0s) © psiquicas (mudangas de carster, inritabilidade, hipocondria, ansiedade, auséncias, vertigens © amnésias passaged. 14s). Na forma de inicio brusco, geral- mente posterior « um nos intenso e, as vezes, desapercebido. Hemiplegias passageitas, transtomos do equilibrio, dificuldades de coordenagaio motora, disartrias e as mesmas manifes- tagdes psfquicas de uma deméncia senil Também, com menor frequéncia «s enfermidades de Pick e Alzheimer in- cluidas nosologicamente como demén- cias pré-senis, por aparecerem entre os 45 e 60 anos, sendo devidas, a primeira, por ser uma atrofia bi-lateral e simétrica, ea segunda uma atrofia difusa intensa da cortex cerebral Contudo sio os estados depressivos que dominam 0 quadro das reagdes psi copatolégicas entre os velhos . Fssas de- pressdes, muitas vezes atipicas, outras vyezes com predominancia de manifesta- Wes hipocondrfacas, outras ainda com exuberdncia de sintomas ansiosos, se ca racterizam por uma prospecgao” pes mista — desgragas e catastrofes que vio acontecer. Os estados depressivos na ter- ceira idade quase sempre reativos a sua go aceitaggo do envelhecer ou a ndo aceitagao dele pelo meio ambiente, po- dem também ser causados por fatores degenerativos do SNC, tais como atro- figs cerebrais, arteriosclerose, tumores cerebrais ete, Podem também ser a reati- vagao de antigos surtos de Psicose Ma- niaco-depressiva, € nesses casos deve-se ‘Semina, 812):203-207, 1881 temer a cronicidade de depressao. Em todos esses estados depressivos, qualquer que seja sua etiologia, 0 perigo de suicidio é bem maior que em outras idades, necessitando, pois, por parte da equipe terapéutica, de cuidados cons- tantes, As crises de excitagdo ¢ de confusio podem aparecer nessa fase da vida, prin- cipalmente devido a arteriosclerose, com a sintomatologia por todos conhecidas. Crises de mania ¢ delirios primarios tar- dios, também podem aparecer, porém de forma bem mais reduzida A opinio de quase todos os autores & concorde que, na terceita idade, as de- ficiéncias fisicas alteram a dinamica da personalidade, havendo uma tendéncia constante para crises de hipocondria ¢ também as crises de histeria diminuem ou perdem a importincia, sendo fre- quentemente substitufdas por manifes- tagOes psicossomaticas. As enfermidades psicossomaticas mais frequentes na ve- Ihice slo: -Prurido anal e vulvar -Colite ¢ obstipagzo intestinal - Somatizagdo de problemas psicol6- sgicos. Todavia, nessa idade, firma CARVALHO(), tanto as manifestagoes neurbticas como as doengas psicossomé ticas perdem sua especificidade e nitidez de seus contornas elfnicos mas, por ou: tro lado, todas as doengas fisicas mos tram componentes e manifestagoes psi quicas, cada ver. mais evidentes, Por isso, doongas fisicas mais ou menos graves podem e sio frequentemente mascara das principalmente, por estados depres sivos, ansiosos e fobicos, levando por ve 2es 0 terapeuta a enganos terriveis. Mas © contrario também se observa: queixas © manifestagses orginicas, mascarando estados depressivos ou de angiistia e an- siedade, Também, se tem notado 0 aumento dos pacientes que comecaram a usar alcool, primariamente, depois de 69 anos. ‘0 alcoolismo iniciado aps essa idade caractetizase por se apresentar como uma forma de dependéncia, & acreditamos que sta telativa raridade’se- rig mais um problema de negligéncia do médico em ndo pesquiser corretamente os seus sintomas, do que sua baixa fre- quéncia. No aleoolismo inicial ow pri rio depois dos 60 anos, a sintomate- logia 6 predominantemente psiquica, pois nao ha tempo para aparecimento das repercussdes somaticas. A coincidén- cia de uma enfermidade orginica, deve. se geraimente ao processo fistologico do enveihecimento, Os aleodlatras iniciais VARGAS ina velhice, em sua maioria, nfo tinhem © habito de beber © poucos poderiam ser considerados bebedores socais. que se observa com frequéncia, do ponto de vista psico-dinémico, € a exis- Aéncia de problemas da personalidade antecedendo 0 alcoolismo geritrico ini cial, existindo quase sempre fatores ten- sionais de fundo depressivo. Nesses ca- sos, a evolugdo € muito rpida e os sin- tomas muito mais intensos porque a es trutura cerebral devido a um processo de arterioesclerose natural, nessa fase da Vida, tem menos condigbes de se defen- er, @ exemplo do eérebro infantil, do que em outros periodos da vida, da agressao toxica do éleool Em uma revisto clinica da sintomato- logia dos distérbios alcoolicos na velhi- ce, MULLER(!2), nosologicamente en: ‘controu por ordem de frequéncia a) Delirium-tremens; b) Parandia aleodlica; ©) Sindromes psico-organicas; @) Psicose de Korsakoif; e) Incontinéncia emocional. 4, CONCLUSAO Esses dados, nos levam a uma modi- ficago dos conceitos atuais sobre a pre vengdo do envelhecimento. Se ndo pode- ‘mos prevenir aquele processo, podemos, pelo menos, impedir a sua evollglo répi- da ou prematura Com essa visdo positiva ¢ ascendente ABSTRACT ‘Semina, 812):203.207, 1981 0s processos de transformagao estrutural poderdo ser reduzidos desde que: 1A vida cultural seja estimulada desde 4 juventude e reavivada constante- mente antes da 3a. idade. 2-A atividade laborstiva deve ser per- manente e a aposentadoria deverd ser opeional, 3-0 casamento é um fator importante para impedir a deterioragéo mental. 4-0 stress as tenses aumentam acen- tuadamente a velocidade da involu- 20. 5A seguranga s6cio-economica e afet- va 6 outro fator importante para te- tardar a deterioragdo mental 6-As depressoes, as deméncias e as doengas psicossomaticas dominam 0 quadro psicopatologico na velhice The present study shows how the different theories related 10 psycological aging have not satisfactorily explained that process. The difficulties of the psycological analysis of aging are discussed and stressed is the need t0 give more attention to the psycological potentials remaining to the old person as well as the need for less attention to the deteriorating body functions as calculated by the Weschler technique for the coefficient of deterioration. Rapidly analyzed is the ps'copathology of aging, and the study concludes with some recommendations useful to help slow down psycological aging. LLAJURIAGUERRA, J. TRoubles Mentaux de la seniité. Vol. 2 Psy citric Ency lopédie Medico-Chirurgicale ~ Paris - 1954, 2.BASTEI,, & DOGLIOTTI, Fisiopatologia e patolog ia speciale della Veechiai, CONG. IT. MED. MT, 43, Torino, 1937. Relat, Toring, 1937, c S.BOURLIERE, F. Progres en geriatric, Paris, Flamarion, 1969. 4.CARVALHO, H.M. Psicopatologia do Ihomem idoso. Priquatria atual, 616): 4651, set. 1971 S.CHILD, CM, Senescence, Chicago, ‘Un, Chicago Press, 1975, p. 275-89. 6.DU NOUY, P.L. Phystological Time. Proc. Am. 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