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Obras do Autor: Die Zweidimensionalitas des Rechts als Vorausseteung fir den Merhodendualismas von Emil Lask. Meisenheim - Glan, 1970. A ciéncia do direte, Sao Paulo, Alas, 1977; 2 ed, 1980. Conceito de sistema no direto, Sto Paulo, Revista dos Tribunais, 1976. Funsdo social da dogmtica jurdica. Sto Paulo, Revista dos “Tribunais, 1978, Teoria da norma juriica. Rio de Janeiro, Forense, 1978; 2. 1986; 3. ed. 1997, Consttunte. So Paulo, Revista dos Tribunals, 1985; 2, ed, 1986, Constitwigdo de 1988 — leg legitimag (em colaboraga0) imidade, vigencia e efiedcia, 0 Paulo, Aas, 1989, Inverpretagdo estudos da Consttugo de 1988. Sao Paul Atlas 1990, Introducio ao estado do direito, So Paulo, Atlas, 1988: 2 ed 1904, TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR. DIREITO, RETORICA E COMUNICACAO SUBSIDIOS PARA UMA PRAGMATICA DO DISCURSO JURIDIC adigio 1997 Editors Saraiva ISBN 85-02-02971-3 "hmornBrasiora cov, oP Bre en or ere mrmnommceatice Para meus filhos Daniela Carolina Beatz Tnaldo ‘Thatiana Introdusao ns 1. Objetivos x 2, Docurso do taal xt 3, Limites da investigagao xi 1 Parte ‘© DISCURSO COMO DISCUSsAO Capitulo | —0 discurso do angulo pragmtico 1. Discurso e situagio comunicativa 3 2. Elementos do diseuso enguanto discussio. Fungbes prag Capitulo II — Modatidades do discurso 1.0 discurs dalégico: componente, objeto eestrutura.. 15 2, Odiscurso monoligicn:componemes, objeto eestutura 24 Capitulo Il — Unidad racional do diseuso I. Racionalidade e discurso 2» 2 Discussio-com e discussdo-conta 4 3, Discurso, conflio edecisio. 40 44. Mods dscursivos esta unidade a 2" Pane © DISCURSO JURIDICO Capitulo 1 — Caracteres gerais do dscursojurdieo [Discurso jridco e stuaeo comunicativa 37 2, Questdescoafliivas juridicas. ot 3. Reflexividade do discursojurdico 6 Capitulo — 0 discurso judicial 1. Caractres gers 2, "Topica material” e“Wpica formal™ 5, Quesides “dogmaticas” e questbes“zeéticas 44 Argumentasao "dogmstca" eargumentagio “Petica™ Capitulo I — 0 discurso da norma 1.0 sentido atribuido & expresso “discus da norma 2 Fungbes do valor no dscurso da norma 3, Momento monol6ico do discurso da norma 4 Sistema das nosmas. O problema das lacunas| 5.Os instrumentossistematizadores do diseurso da norma «do ngulo da pragmstica Capitulo TV — 0 discurso da Cigncia do Direito 1. Existe um discursocientifco do Dircito? 2, Discurso da Ciéncia do Direto e stuagdo comunicativa 5, Reflexividade do objeto e fungbes pragmaticas do discur so da Cigncia do Diteito, Bibliografia va seza 105 ul 116 m 1B Mar 153 163 175 INTRODUGAO, 1. OBJETIVOS, (© ceme deste trabalho é o discus juridico. Visto, porém, de tum aagulo especifico. ‘costume, no modo de tata o dscurso,consierar os momen~ tosda semistica ou tori dos signos —asinfaxe, enquanto conexdo dos signos entre sia semdnrca, enguanto conexio dos signos com 10s seus objetos (cuja designagao € afimada),e & pragmatica, en {quanto conexto situacional na qual os signos sao usados — de tal odo que a sintaxe venha em primeito plano, muitas vezes até como ‘ego Islada de pesquisa, da partindo-se para a seméntica,apare- ‘endo, por sltimo, a pragmtica, com sentido subsiiro. Ess, en- ‘quanto campo da rtdrica ao qual pertence basiamente a teoria da rgumentago juridicae da suas formas discursvas, caractriza, fo tratamento habitual, por ama cetaauséneia de igor, se compara ‘a coma sintaxe ea sermintica comando, por isso, em rela a els, uma posigao de inferiridae (Ora, o desenvolvimento experimentado pela modema tori da tendo et vista a radescoberta da reldrica no seu rela- > comunicagao, da organi- ‘agin eda decisio tl como encontramos, por exemplo, Theodor Viehweg. no campo juriico, em Chaim Perelman, na ogica, tem tenlado ivercer a ordem habitual da invesigago semitica,acentuan ‘do impertincia do momento da “dscutibilidade” (dilegestha, temando- ono pot de part para ans do discus, Sendo lings: fica’ isto & como agdo dirigida a outros homens, &diferenga do mero agi, 8 posigao da pragmstica, dentro da semibtica, se modil- a, aparecendo em primeito lugar, constitundse a Sinane € 456 rminticaa partir dela Essa concepeio do discuso enquantoprodugdo de pensamento «no enquanto instrumento lingisuco de expresso de coisas pen- a sada exige uma andlise da sua estrutura, sem, é claro, © desmem= bramento isolado dos momentos semisticos, pois os aravessa e, de ‘certo modo, os constitu. Nesse sentido ais, a concepgioarstoelica dda ligca como ecine ligase aessa vio de maneirasurpreendent. Isso porque sua concepeio tem origem na dialética retsrica da sofistica, de Séerates e Plat, cominuando a desenvolver-senatéc- nica das disput da Idade Média, perdendo, postriormente, a i= porta, em favor da concepeio "eistémica” da lgica, o que trans- formou a erica, aos poucds, em Simple "oratéria™. Ora, apoian dose na antiga rechne arsttéica, a chamnada “Idgica operativa" ow “Jopicadaldgica” vem tentando, atualmente, uma nova investigag0 das operagées Iogicas fundamentais,& luz de uma nova andlise do discurso enquanto ato de disci. Essa nova anilise permite ums rates ligieas tal como a encontramos em Paul Lorenzen e Wilhelm ‘Kamla e em Kuno Lorenz. que se fundam, por sua ver, nos trba- thos de Hugo Dingler. Tal interprtagao pate do dialogo como jogo entre dois partidos ou duas parts Itigantes, um proponente e um ‘oponente, desenvlvendo-se os “lances” do jogo Idgico em torn da preva ou refulacio de proposigbes,definindo-se, neste context, & ‘erdade ot falsidade por meio do conceito de “esratégia de vitéia™ (Gevinnstrategie), «qual, or sua ver, se tegula pelasregras do de verde asergao e de prova de assercio, 1H por iso se pod ver que estamos tocando em uma questo {que, no campo jurdieo, especialmente no direito processua, & de fundamental importincia e de hi muito conhecida. De fato, nesta Tinha de pensamento, € possvel una aproximagao entre a ica e a lea, se procurarmos ver no dever de justficar aguilo que se diz 0 centro mesmo de toda e qualquer forma de argumentaglo. proxi- ‘midade de uma concepgio desse género com a paxe process (onus ‘proband incumbit ei qu assernt) sala a0s olhos. Na verdade. 2h «a operativa € conduzida, por forca dos seus pressupostos, 2 questo {do comportamento reciproco e corto dos “jogadores™ Talvez se poss dizer — isso constitu 0 mago da nossa propia ese — que. ro discurso juridico, reflete-se, ou melhor, manifesta-se numa di- ‘mensio especial, aquilo ue constitu erepula,racionalmente, numa dimensio fenérica, toda e qualquer discussdo. Embora nessetereno faltem ainda trabalhos que se dediquem especificamente ainvestiga- ‘gio do fendmeno da “discuibilidade", no se pode negat que, em Frinepio, a discuss raciona, ist 6, a operagao Faional do diseur- x 0, constitu um campo problemstico de extraordindriaimportincia pata comprensio ds diferentes formas do diseuso hunano, A investigaglo que realizamos com ese trabalho dadas essas raze, pode apresentar resultados fecundos que abarcam ni 56 0 ‘campo juridico, mas tocar em problemas do diseuso de modo ge- ral, Const, slém disso, tema relativamente pouco explorado,h vendo apenas ensaios de madelo para uma pragmatica do discurso jurdico!. Nossa tentativa, por iso, afastando-se, & verdade, da tr ‘minologia semistica,inteoduz um modelo de pragmstica de eunho Fetirico, procurando, nese sentido, uma cot fidelidade a0 uso ju ico da atgumentagao 2, DECURSO DO TRABALHO Imente, do dscurso como discuss, procurs- 3s inhas grais de wm esquema communicative que nos ‘ermita entender odiscurso comoagio lingutstica", Tendo em vista ‘© modelo retérico,conjugado com os modelos da tora da informa- ‘gloe da comunicago, a situago discursiva € deserita com a ajuda ‘ds conceitos de pergunuar e responder. Perguna respostaconst- tem, a nosso ver, elementos preciosos para uma concepea0 do sen tido ¢ das formas do ato de dscutt Ligado a esse tema coloce-se também, o problema da intersubjetividade, de cujos diversos ang Jos aceniuamos o pont de vista da Logica dialogica de Lovenven, Kamlahe Loren Sendo nossa intengio formular e analisar os elementos const tuintes da situagao comunicaivadiscusivao discus aparece como relacdo entre um sujeito emissore um recepoe. A partir dessa rel ‘io, investigamos, eno, como e por que 8 dscurso toma esta ot Aaquelaestratura, distinguindo, assim, o& modos bisicos e esue- ticos da discus 7, Eni oto, Gard One igen Rag Kats Ado erisiche Semiot, Fakfu 173 Paap ise de npn dsingul peng. ‘igi Bap ita te Rat Eh omit Sanden Ponce Semi « lowfa ~ ynot acolo 0.8 da Mola egnter eon adore), Sia Pao. 1972p. 95. xi ‘Como modelo para esta ails, apoi retGricas de Arstteles, ue nos servem para a elahoragio de mode- Tos mais complexos, Esses tds generos (judicial, deliberative de ‘monsrativo) tomaram-se, historicamente, 0 centro teorético Jo exet= cio daars bene dicen, cujo cern éconstuido pelaargumentatio bu probario. O género judicial manifesta mais claramente o cardter Uialetico(dilgico) da discussio, na media em que a todo tema & tiscutido a parti de, pelo menos, dois pontos de vista posts. O _8Gnerodelberativo tem carter dialbgico menos manifest, sendo 0 ‘género demonsirativo aguele que tem expresso dialigica mais fir sil Complicando esse modelo, procuramos estabelecer,nicalmen- teem que ermos o uso racional do discurso pressupde © “filtro” do “mntuo entendimento”,examinado em consondncia com a teria da “Sitaglo comunicativa imperativa” de Hor, segundo a qual aquele «que diz algo se utiliza de um som linguistico destiuido de significa ‘Goa fim de provocar um comportamento no sev owinte-A partir da ogo de “ntlivo entendimento”, tcatamos distinguir 0 eomporta- ‘mento discursiv racioal do iercional. Oselementos que compdem ‘situago comunicativa discursva, 0 orador,o Ouvine ea ago lin fistiea enquanto objeto do discurso entrosan-se em vite de re sas, denre as quai a fundamental & a regra do dever de prova, que ‘obriga aquele que fala a dar azdes do seu fla. 'A composigio articulada dos elementos da discussGo em rela- «io regra do dever de prova possbilit-nos a distingo das fungdes Dragmaticas do discurso ¢ dos seus modos fundamentas, que de- fhominamos dialdgico (com os subtipos discussdo-com © discus Sdo-contra) e monolgico. © que determina esses modos € rego {do ouvinte& ago linguistica do que propoe a discussio. No dislozo, aquele modo em que a reagao questionadora do ouvinte qualifica 6 ‘jeto do discurso come um dub no monélogo,aguele em que ‘8 reago quaifica o objeto como um certon, esto contidas diferen- {és extrutrais basicas que manifestam o problema da racionalidade ‘de mancira caracterstica, Em ambos a felagio discursive racional [pressupde que as partes seam “homSlogas”,conforme oensinamento {Se Lorenzen e Kamla. Mas, para além desse ensinament, distin [guimos, ainda como discursoracional, o que chamamos de “discus- $o-conta onde as parte no sio “homélogas”, mas “heterlogas”, 1 que € proprio dos dscursos que envolvem:o problema da decisio, xi [A partir desse modelo, enssiamos uma andlise do dieursojur dico, distinguindo-o em discurso judicial (discursos processuais, ontiatuais et.) que manifesta os caractres da discussao-conta fiscurso da norma (a norma jridica vista como discurso) onde se tiscuteo problema da presenga, no discuso juridio, do momento monoldgico, aparecendo ai a questi do valor ¢ da ideologia, © 0 discurso da Ciencia do Direito, onde se examinam as condigdes de possiilidade de uma discussao-com cieatica no Disc. 3, LIMITES DA INVESTIGAGAO E preciso slientar, desde o inicio, que o caster desta investiga- {lo no € nem ontolégico nem epistemoldgico, embora as rlasdes ‘So que ali sedis com uma ontologiajuriicae com umaepistemologia {da Ciéncia do Direito sejam possvels sso quer dizer que no pre= {endemos propor uma investgagio do que & 6 Dreito, ou do que é& horma, nett uma teoria da ciénca juriica, que poaha a descoberto as suas condigoes de possbildade. Estamos conscientes, nesse sen tido, de que tdo que porventura se diga do Direito, da norma ou dda Ciéncia do Direito no pretende esgotar a sua essencialidade, 0 ‘Que ald, objetivo de qualquer ontologiae epistemologia. Nosso propssito€ mais modesto e secircunsereve& produgio de um esque Ime praginético do discurse juridico que. no tendo um sentido transcendental, pretende apenas ser um modelo por meio do qual se possa esnudar & pesquisar 8 agéo discusiva empirica dos agentes Juricos, Alem disso, pepo esquema propostoacentua oaspecto pag imético, ilaminado pela retcrca, 0 que significa que no abordamos, {no ser em caso de nevessidade, os aspectos semanticos e sini 0s, Nio quetemos, com isso, esabelecer um isolamento dos «8s ‘omens semiticos, mesmo porgue, de certo modo, eles esto pre Sentes na nossa anise, mas apenas privilegiattemaricamente um eles, do mesmo modo que uma semantcajuridiea privlegia a rela- ‘fo signo-objetoe uma sintaxejurdia, a elagdosigno-signo, sem om iso elimina ox outros aspectos Desejams, finalmente, manifesta ainfluéncia eo etimulo que recehemos, para claboragio desta investigago, da obra eda ate ‘io pessoal de Miguel Reale eTheodor Viehweg, bem como de cole [Bs como Celso Lafer,Irincu Stenger, Mério Sproviero Jodo Bats 4a Villela, Carchrstian von Braunmihl, Lorenz Funderburk, que xilt iscutiram conoseo alguns pontos desta ese. Por lt amos deixar de mencionar a Fundago Alexander von Hurnbolt da Alemanha, que nox ropiciu wn ano de pesquisa nt Universidade de Mainz. ¢ a Fundagio de Amparo & Pesquisa do Es- tado de Sio Paulo, que nos concedew Bolsa para a continuidade © \érmino desta investiga, 1." PARTE O DISCURSO COMO DISCUSSAO xIV Carireiok 0 Discurso do Angulo Pragmatico 1. DISCURSO E SITUAGAO COMUNICATIVA ‘A cultura ocidental, tl como fol cunhada pelos grandes pens ores pregose pela radigio que aces se seguiu, concebe ou n0s leva !aconceber 9 discutso como Um fendmenoiniersubjetivoespecifico ‘Quem discursa age. © discurso € um ato ene homens © deve ser csoncehido come ado lingtstica. isto € a dirgida outros ho» ‘mens, em oposigio a0 mero agit. Mais do que iso, wata-se de uma aso que apela ao entendimento de outrem, sendo esta sua inal e primordial. Todo discurso, nese sentido, como jéo notara a rets- rica antiga, drige-se a um aualtvio™ Todo ser humane, a menos que ‘se queitaietilamente imaginar ums situagdo robinsoniana, acha-se inserido qum mundo lingstcamente atculado e que cortesponde aproximadamente& expericia da Lebenswelr de Husser. © min do, como nos diz & madera filosotia da ling nko & wm objeto {como o so, a lua, 0 ro}, nem a soma de todes 05 abjetos. pois somente no mundo podemos delimitar um objeto em relagdo 9 ou T, Cf Pl Lorenzen Wiel Kamlh Logic Propet orachale des verinhigan Rens Maobeim- Wen Zick 9 ep Ie 2 Anatol Repay Pisophie hee und morgen Earn os operaonae Deen {rl ©. Scare arnt 190, Edwatd Sap A Hgsngem = fea to est da fal rad, Mana Clara eB de nc. 1ST 9. 1. ¢ 2. Cf Chin fercane Olle Tech To de Papeamenaion a naele rhrorigue Branlies 1p, Sob 9 eo cnn" inguin ct Kono Loree lemons der rach. Frans 1970, prise 3. Die Kriss der europasche Wisencafen amd de ranscendertle Phanomenolgie, Den Hang. 1962. p. 162, Cl tambéa, Est Case, Philosophie der smbolichen Former = Zar hese des Beg Dams, Toots. 309 ee Kuno Lower op ct pies ros, sem que 0 prprio mundo seja delimitivel em confronto com ‘outros objetos, pos iss significaria pensar © mundo junto com uma putea coisa que 0 circundaste. Essa propredade do mundo (human) fem apontat para. infinite, apesar disso, em atuar signifieativamen- te como fino, 0 que Hussel tentou captar com a imagem da “ho- rizonte", levacnos a vé-lo como uma palava su generis (nem nome Drdprio. nem predicador, que aprendemes *sinsemanticamente™ ‘Todo homem, nesse sentido, procuraajltar-se no mundo, tentando adapta 2s suas articulagoes, na medida, port, em que di 20 ‘mundo uma articulagio. Achar-s inserido no mundo nao significa, por isso, aceiar, sem questionar. uma artculaeio. © homem 10 fest, apenas, no mundo, masse orienta nee. Nao assumimos pura e ‘Simplesmenie comportamentos apreaides,sejam eles em termes de Fespeito& normas étias,sociais ou juridias da tradigio, mas pedi mos. suajustitieaglo.O homem ni est diane da “realidade™ como ‘conscigneta "sem mundo", mas se ergue por meio da construgo a ticulada do seu corpo e dos seus instntos herdados sobre um "mun do circundante”, qual ele, ao falar, transforma no seu mundo, at- culado de modo infinitameate mais rio, e que, apesar de tudo, futu- Famente, 0 cerea. Dizer que estamos no mundo significa, pois, que estamos situados dentro de uma possibilidade infinitamente aualizavel: por toda a nossa vida, aprendemos uma série de habitos Tinguisticns de varios tipos, como uma lingua” que sabemos e po ‘demos usar, habitas que, em diferentes combinagdes e madiicagtes, So efetivamente(atualidade) repetidos (discus 'Nio acetamos apenas o mda, mas pedimos sua justificaso ‘Quem desea jutificar aquile que faze que diz nio despreza a neces sidade de orientarse no: mundo: busca objetivos para 0 sev aie © ‘aybes para 0 seu falar. Ora, 0 estabelecimento de objetivo e fun- damentos€, por sua ver, de novo, ago lnglstea, que Se refer a ou {os homens, os quais também a acetam ow a tecusam, econhecem- na ou a poem em divida. Devemos distinguir, pois, inicialmente, ‘dis raus da sitagio discusiva. Num primeira plano, todo diseur sicados” a gto CL Pal Lcaese Wii Kamiah yp itp. 9h € Edmund Hesse Enfant und Ure. Untermehungen sur Geneloie de 5. CEP de Saussure, Curso de linguiica sera. wad. A. Chel 3. acs shen Sto Pai 10: Soe s0 se revela como uma diseussio, entendendose por discussdo ‘edo inguistieacujo modelo primtio se resume nd articulagao da ato de perguntar © no de responder. O homem nio age tem um ‘comportamento qualquer: ndo age ereage pura simplesmente, mas fe detém, a fim de tomnat present, dscursivamente, um comport ‘mento pascado au futuro. esse momenta de inlcleegio de algo acon tecido ou de planejamento de algo por acontecer, que envolve uma falta de seguranga, denominamos perguar. A pengunta tepresenta, assim, um no sentir-se seguro de sua propia ago edo se proprio. ‘comportamento e, desse modo, a possibilidade de distinguir entre ‘objetivose consequncias da sua propria ago, bem como entre di curso fundamentado e dscurso ni fundamentado, Ela permite além ‘isso, a distingdo entre as diferentes possbilidades de agi, em ter- ‘mos de como se deve agi, como se tem de agit, como se quer agir etc. Uma pergunta, por sua vez, nio se move num véeuo, mas se anicula num mundo de jusificagbes que entram em cena com pre de auroridade, ito 6, capacidadee pronto para exit con (Gustentailidade), ja na determinagio de objetives, j4 pela apresentagio de fundamentos, A esse momento da sustentabilidade 4a propria ago edo préprio comportamentoe, assim, da possiil: dade de finagdo de objetivo e conseqifncias do propio air, bem ‘como do diseursona su fundamentagio, denominamos resposta’ ‘A aniculagio necessria entre pergunta © respast, enquanto modelo primar da discussio.leva-nos, contudo, para um segundo plano da stuagodiscursiva. A simplicidade do modelo alberga uma omplexidade, na medida em que uma discuss ni se restme no ‘questionamento de objetivos efundameatos, que devem ser justif- cados, mas envolve 0 questonamento ds propriasjustiFcagsie, isto 0 modelo pergonta-espostarepetese em relagio asi mesmo, em termos de relervidade, ou seja, como uma discussio que se volta sobre si mesma. Assim. se no primeizo plano — discussao de prime ro gra —a situayio pede 0 fornecimento de objetivos e fundamen tos, no segundo — discussio de segundo grat — objetivo efunda- _menios sto de nove questionados, donde & exigenei de bons objet vos ¢ fundamentos verdadeirs”. Nesse seguro plano introduzse, essa forma, 0 diseurso como ars bene dicen Fundamental para o entendimento desse segundo geau da dis: ceussio€ 0 conceito de reflervidade". © conceito de “reflexividade™ ‘no deve sr toma aqui no sent da Tiga formal — uma relagao FR se chamma, nese sentido elexiva quando «tem a relacioR cons ‘go mesmo; por exemplo elagioidentico a ou seja, como relagio ‘Que satisfaz 0 pressuposio segundo o qual todo membro est para si 0 que para um outro —. pois a identidade ‘exata da relago reflexiva nos impediria de ver areflexividade como lum aumento de complexidade no interior do proprio discurso, Reflexividade, nesses terms, é uma qualidade do diseurso que re sulta de uma ago que poderiamos chamar de rfleio. Como exer plo de reflexio, nos quadros da anise lnguistica, podemos citar fg que Lorenzen e Kamiah" denomisim abstragdo, "Abstragio", Sizer cles, € uma agio que executamos quando dstinguimos em uma palavra sua "forma sonora” da sua "signiicaglo™. Ela ocore ‘quando passanos do “uso” de uma palavia — "isto € um cavalo” — para sua “*mengio” — “cavalo tm ts slabas” ou “eavalo é uma palavra portuguesa", Assim também podemos atbuir a um objeto ‘qualquer 0 predicador “tango” e dizer "isto € um tango". Quando ‘izemos, porém, "o tango ¢ dif” estamos fazendo uma assergi0 ‘no sobre uma sitwago aqui e agora (ato) mas sobre um “esquema se ago" (poténcia)~ A passagem de uma “ago atual” para o seu ‘esquema” é de novo, uma “abstragSo". Isso quer dizer que “abst ‘i0" implica sempre um aumento de complexidade no interior da Propria “lingua”, no sentido de que no apenas podemos falda mas, metalinghisticamente, falar sobre ela [Em nosso contexto, reflexividade significa, pois, um _questionamentocritco que se manifesta ma propia dscussso, quan- TO coi de lenis propia ems fundamen a to sin do comportmentn, como aprenia,s saorago de ep,» nls Ste groeso de dco, a stocneepte sab 0 pot de Wa do SHC, sioew nea problemstien da prove CE Niklas Lahmaan, Sosoloische ‘upanmg Olan, 1971. p98 «= SED Hier We Ackermasn, Grunge der theorenschen Loi Resta Ging Heeler, 1989p. 115 Sobre toma ds tlle n> ‘alsmo wanseadel deste seciaesecalmente ma oa de Theor Lit to aco suconanento com 4 soi hegsiana (a gual os asa. go tGnvctLivens ander, xen eran kent, Bonn, 1971 pises 10. 0p. ct.» 88 do se tenta busca, seriamente, uma nova justiFeagio para os objet ‘os e fundamentosassinalados no préprio discuso, Trata-se, pois ‘de um pir prova a sua sustentabidade, Iso significa uma nov discussio eujo tema € a justificago formecida. Ora, voltando i dis- tussle sobre a prapria discussio € possivel capti-la, na sua reflexividade, como um processo de argumentagao, © que significa por seu lado, captar 0 ato de discutr como ato de persuadir © de Com isso deimitamos © nosso campo de interesse. Deixando {de lado outraspossibilidades do ato de dscursar,inamo-nos agui no elscurso enquantodiscussdo que se fundamenta, enquanto discussdo Fundamemante,adnitindo-se como ago Tinguistica apenas aguela ‘que pode ser entendida isto €,aquela que pode ser ensinada eapren- ida. Desse modo, inserimo-n0s nos quadros da concepeolinghist a da cultura ocidental, sem problematiz-la, tentando caplat como ela sedi, No esquema dessa concepsao, a posiilidade de comuni ‘agi € pressuposta enfendida como uma relagio entre dois sei {os, © que supde um desenvolvimento linguistico onde a estutura sititicasujeito-predicado jé ocorten', Nos termos dessa possiil- dade, o processo de aprendizado € um pressuposto da propa orders Social, io apenas no seotide de um completa de conaecimentos © {de um conhecimento prevsivel de eas furgo social, mas também ‘de uma capacidade,continuamente posta em uso, de esteturagio € reesiruturagao, bem como de adaptago de vivéncias prevsives. F justamente essa situagdo de aprender e ensinar. na qual a compreensibilidade das ages deve ser manifesta, que denomina- toe situa comunicativa’ E nessa situagao que 0 discurso se dt ‘como discusso fundamentante onde aparece a fnaidade do enten dimentoe,eventualmente, da persuasioe convencimento, 0 que sig- nifica que nem todo discurso implica uma jusficagio argumentada fetivamenterealizada, signiicando, porér, que Uma tl justiiea ‘Bo pode sempre ser exigia, desde que aquele que Tak pretenda Ti Parma adie etea dese ctr, Der Hor, Rechpche and Kommaetion Bern 1986 p28 «4: Pol Larne Wiel Kel 12? Kao Laren fon de “stan dns pis 156. te ssmos + expresso “sagt Comuniavprederenghs logs ‘tanto mando curso, como treme ae alan. parecer com autoridade, e aquele que ouve a ponhaem divida, Nes- ses termon, odo discurso, toda ago lingbistica envolve uma reer fandamental, que denominamos dever de prova, Esse dever, que ‘manifesta naeflenividade da dscuss30,¢ sua rega baie, constitu {doo centro tico ¢ logico da diseusao, a partir do qual é possivel ‘canceber a discuss, tendo em vista 0s scus diferentes eomponen- tes, como uma unidade estruturada, Nao hi discussio sem onus proband se ha um dever de dizer, também um dever de povar 0 fque se diz. Cento ético da uiscussio, esse deverestabelec, tam- {bém, uma relagdo entre os componentes da discussio, permitindo- the, assim, uma esteutura. 2, ELEMENTOS DO DISCURSO ENQUANTO DISCUSSAO. FUNCOES PRAGMATICAS Podemos reconhecct, inicialmente, numa discuss, és com pponentesfundamentas, que denominaremos orador. ousinteeobje toda dscuesao!, De um modo gerale asttato, 0 orador & aquele {que abre a discussio,aguele que prope a primeira assergao. Sob 0 Ponto de vista dodeverde prova, ooridor &aquee cuja ao lingui Tica se aptesenta com pretensio de autoridade, Esta Fepousa na compreensbilidade da ago, ou sea, na possiblidade dese ela ape tida e repetida, Uma agio no compreensvel ressente-se de autor dade o que pode ser medido no sucesso ou no fracasso da aprendiza {gem por parte do ouvinte™, Nesse sentido podemos entender o rele ‘outnbuido pela retérica antiga qualidade tic, a0 definir 0 orador ‘como "vir onus diced peritus”™. Aqui também o oradorécaptado huina relagio (dever de prova). © oradr & aquele que € dotado de TEN mer “is pea’, them chamata “kpc dpe Ge Loezan Kamiah e Lise (cp: ci ales em "proponent pe ec" eave Pars una vs ric J seni perv ds ica com ‘Soporincn of Wladimir Richer, Untersuchungen 2 operariven Lik der ‘Getersart Feary Mince 1965, xp pT + CL, também. Aran. Rowen 138k ee Eso cago ag deserts tomo side de am esque siz, so coms, ps, un desegioempheedaguo qo scede maa ss ‘Neches em gue aprecom maps paral Com esqoema. ela tema fang de tot eosa maeadewansparete ediscpingvel IS dtngao ede Cathe Sobre o rad rolics ama of Louse, Mander ternscen Rvrre Mince 1960.1. 380 ‘ engenho (ingeniam), no sentido de produividade ou fantasia, wma Capacidade “natural, que deve ser orientada pelo discernimento {Gidicium pela prudéncia consi. .qualidade refer ao ovine tee cuja conteido isco é a ulitas, manifetando-se fundamental- mente no planejamento, poderse-ia também dizer, na estratégia do discurso (© segundo componente da diseusio ¢o ouvinte. Este pode ser entendida como aquele 20 qual sedge ago lingustica do orador. Perelman © Tyteea", no seu tatado de teria, eferemse a esse ‘componente sb o nome de “auditério", dfinido como “o conjunto Gagueles sobre os quais 0 orador quer exerce influéneia, pela sua argumentago”,Distinguem eles. em prnefpo, irs espécies bisicas {de “auditrio”- 0 “univers”, consitufdo pela “huranidade inteira™ ft, pelo menos, por "todos os homens adultos e normals”: o erloctor”. constitu por uma nica pessoa diferente da do ora dor. © 2 qual este se dirge na discuss, finalmente, © "proprio sujeito™ quando o orador mesmo delibera ou se representa a razio dos seus aos. Essa classiicago, em como aidéia mesma de “a- tiorio”,emborafornegam elementos importantes para a concepg0 ido componente que denominamos owvinte, enfraguecem bilateralidade da situagdo comunicativa, na medida em que 0 “audi {rio", embora considerado como fator que interfere no comporta mento argumentatvo do orador, aparece antes como uma “constra- 0” desie™ Na verdade, para Perciman e Tyteca, o “auditGrio” € Spenas wma fungio da argumentago do orado,existindo, em sum nn sua concepgto, efetivamente uma tnica especie. a “universal ‘construda peo oraor a partir “daquilo que ee sabe ds seus seme: Thanes, de maneia a tanscender aquelas oposigdes das quats cle tem consciéncae que aravessa as demas especies, a8 quas po- dem aparecer também como “universais" Assim. adiferenga ene 0 “auuitério universal eo “auditGrio de um dnc interlocutor” redun- «da em uma distingao meramente técnica, deerminada “peas fnali- ‘dades que se prope o orador, mas tarbém pela idia que ele se faz ‘da mancira pela qual um grupo deve ser earaterizado”™. Do mesmo Te Op itop tea. Meneden 16 fd p25 19.9 52 ‘mado, 0 “sueito que delibera” & considerado como “encarnagio do uditio universal ‘A concepgo de Perelman eTyteca,embora pressuponha a situa- «fo comunicativa, parte, na verdad, da ieia de argumentagdo,cuja Finaidade &provocar ou crescer a adesio dos espiitos is teses que Se apresentam ao seu assentimento™| Desse modo, a discussio pa $a 8 organizar-se primordialmente do Angulo do orador, sparecendo ‘como tim processo cuj finalidade primara € a conquista da adesio «comela, do consenso das partes implicadss. Iso reduz a fundamen- tag deca agi lingustca &esrategia do consenso onde desponta 6 ideal romantic da verdade, da justia, da beleza et. como eterna discussdo e do consenso universal como ertério de lepiimagio, (ra, quando dissemos que na situasio comunicativa todo dis para esse modo de discus, 'No discurso dialdgico,oradore ouvinte apresentam caracters- ticas especifcas, Se na discussio em geral o orador éo seu propo- hence o ouvinte aguele a quem se drige a ago do orador, no discur- {$0 dialdgico ambos #30, em primeiro lugar, dados coneretos.O or ‘or naoe apenas aquele que abr a discuss, mas €alguem em sua (cdo, Nao € apenas Um proponente,€ também um partcipe dadiscus- ‘fo. Sua ag linguistic €esseneialmente“sintomdtica’ cons {do uma expressto de si proprio, essencial para a compreensio do ‘iscurso. Como paricpe, que inerfere na discusio, ele sofe tam- ‘bem as infléneias da gio lingstica) que ele proprio desencadeta Por isso, no ¢ possivel desvincular a acd lingUistica do sew orador, ‘que aparece, endo, no como 0 seu porta-vor como mero insi- tent mas como diretamente responsavel por ela. Essa responsabi- Tidade, que se articula no dever de rova, lgs-o 20 ouvine, que deve serconeebido semelhantemente: 2 a¢0 linglistica do orador consti- {ui um sinal para o seu comportamento concreto. Sua reapo, ava, faz dele um aro, cuja presenea, na situagio disidgica, configura a sdiscussio, Nao se tal, pois, de um dheords, sto ,aquele que ass te ao espeticula sacto", mas de alguém convidado a intervit. TE Soe herds theories sei. Sige Habermas, Fate's fess Merresoret Halve ¢E.Tepsch (els. Dato TBrtap. ash © Sore o pnsament Saloon oola moderna, et HHL Seve Dislikes Denden,Durmst197 Is ‘A palavra “site” nao deve se entendida, em nosso contex {rum seatide empiri, quer psiologico, quer sociol6gico ete cembora essa possiildade nio se exchua, A situago constitu uss ‘modelo cuja anise precede a experimental, sendo, lis, provivel ‘que esta lima se torne mais ransparente por meio da primeira. Tea ta-se, pois da reconstrugdo erfica de um esquema estlizado que ‘ode tomar claro aos agentes ingusticos aguilo que eles fazem, qua- 4o se orientam,agindo, no seu mundo eircundante, Por isso, quando dizemos que oradore ouvineestioem situa. queremos dizer que cles estioobrigados a levar-se matuamente em conta, na sua avida- de, Nesse sentido eles sio concretos,E é nessa situago — conereta — que a discussd0 se determina, isto €,estabelece para si propria as regrts que vie constituir a sua extruur, ‘A reagio do ouvinte, no discus dialdgico, tendo em vista 0 smadelo pergunta-resposta, acentua, esquematicamente, as caracte- Fisticas da pergunta, Trata-se, pois, de um por a prova a sustentabitidade de uma ago linguistica que se pretende dotada de autordade. Essa reagio, como dissemos, permite-nos qualiicar 0 objeto da dscussio como um dubium ‘Quais a carateristicas de uma questio que se qualifiea como tun dubuon? Como toda questio, aquela que qualificamos como ‘dubium manifesta, incialmente, uma altemativa. Ela consiste, as ‘sim, numa concoréneia de possibilidades, numa concorréacia que lricula as possiilidades como alterativas". Nao nos referimos, portant, 40 dabium como uma hipotéticaindeterminahilidade ab- Cr Hert Mattes op tp 249 4c tabi, ee oes. H LL Holingswonh Te peo ofthe eulene New Yo. 19; Ca Hovland Etec of the muss metinof communica n Handbook of xl pseholo Gndner Linsey fel, Cambridge Mascari, 1951, esp. Cap 28 Chater FR'Wogs Cmuncosdo de mato, tad M Ako, Ris Se Jae, 96K. em iris psn EO tem dubia, em opoego cert € wad por Quinn: ~Cet ta, a cuigu et anus aut aa culpa ex dais parton nab ps 36 ‘Stone st Mbt, de Ms deter: pati aor semetiae coms Sein ne coment” Thesaara lina latina es ronan spor sepium en quae chp arn: pa Lasher op. 35, Compara pops a ding fpr Edd Huse ce pos Ike tera coma em Era Uc p. 1035 6 soluta,o que se daria, ais, fora de qualquer contexto discursive © que nao tem interesse para nds, mas como uma questo evade sério, pola posigie © pela reagio respecivamente da orador © do ‘De quando em ver surge nos compéndios de Kigica a conhecid {bula dos cegas.o elfante. Essa histéra nos permite, de uma ma neira, avez perigosamente intutva,esclarecet 0 que quoter di zx, Assim emibora do ponta de vista do fabulista haja 0 pressuposto arogante de que a6 ele € capaz de reconhecere determinar aquilo ‘ques copos,impotene e rdiculamente, tentam conseguit, ov sc, uma agio ligistiea que se sustenta, para um terceiro observador, & arogincia do fabulista poderia ser igualmenteidicularizada por sua ngenuidade, na medida em que se pusesse a descoberoo limite do seu pressuposto, Na verdade, cada cego —e no caso fabulista seria tamm um deles — est diante do elefante enquanto posibilidade, vale dizer, dante de uma questiotornada complexa pela relagdo en ‘we 0 conjunto das articulagbes possveis e uma anieuagio efetivads, (Qualificar uma questo como dium signifi, pois, concebéa eo ‘mo complexidade, isto &, possiilidades em alterativ, varia, ‘confit, aaséncia de consensa!,Essacomplevidade, entretanto, cot re apenas em relago a uma conexdo comprestsiva ji existent, mas ‘que, dada a patcipagio do ouvint, no mediatiza uma certea, Conirrio, abre um leque de solugdes. Esse leque, que se abe no ‘momento em que a questo se pb como debi, spade se tomada Seriamente em rlasao ao proprio dubium, ove vale dizer: odubium projea-se, prospectivamente permitindo um controle das varagSes Possiveis do discurso,delimitando-Ihe o campo de flexiilidade v de Capacidade de adaptagao, de indiferenga relaiva a distorgdes e de tolerancia quanto a contradigdes: um campo, pis, de liberdade na escolha de solugies, que, a partir dele, dublum, aparecem como cequivalentemente uilizaveis, Além dessa projesio prospectiva, a questo qualificada como lub manifesta carter reflexivo aventuado. O dubium express lum processo de autocomplexidade, sto no se projeta apenas para frente, em altemativas, mas se volta para si proprio, captando-se, 36, Soe wsto de complied f Nik nd Zvecrnonat: Tange 1968p 6 Latmion. Sytem 0 regressvaments outa ver coma dubia, Ua questo quaifca se {Sum com um dubiom,na media em qu ea indaga ds sas spas coniges de possibiade © deur dain Mio es She neses fms. ta voeagio transcendental no set de Gjuendoséoseucbjeto se mrifesta como um dub masa propria Manet como dubuun se eel, novasent, i bia ‘Areflexividade do dub prmite-no distinguir as suas dif semesmanifestages, Falimos, ese moto, em problema ciema e {porta Unagutstio dlgicas problematic quando wmacomps- fasao das alemaiva nos perme elmilaro campo de solyie. Problem €, pos, ums queso cjoTmite € dado plas diferentes fnsibidades, esrturatas como aheraivas, Um lems, or su Tada ¢ umn questo qe ultrapasso mite ds lleratvas. st tm questo onde a cmparago dis alteraivas ns orig aban- dhna campo de possbldages" A apora, fnalmente uma ques {Boemeaje campo de psstiiads a pia questo permane tement uma alent" Assim, por exemplo, quests como “A isvidade eerida por €protepda pla vigente” sf problems teas, Uma questo como Emuneinds qe se eferem a enunciados {heos tom tambe uma relevincia eis?” consul um dma 7 Compa se sein ds anced ns cas tema eel False hones, Pat, 3850 Meee secs eran! looms fter Blu The dais of ‘eecarsud Nts Lae, SooogicieAuhisane pte es “ePaper da ais sto ee rantaga ef Cols Ler The plang pte ade pla Siem n Bras Ao of Rabel str plan 986 96 ee, Come iy ate Ameen Stes Propamm. 16 p84 e ibe 90 ema an de cs wm nn ts sade sane na obo de eee yn gent Mage Eto tee em er oor Medi (t, Hc ahr ob Sty No comete ocean cuan, em eens Psa ‘En tapi Sti as Moh pete de aa apr fo: ms ano ¢ paraoia ca Wir Gun, The ways fan Te mye parades on che Stay Non Yrs 6p “gNCT spit as ek Kan ie Sptatye Maiasptie Neo en Har Alert Elo wl Me in orale Aen ZeTpech ede) Demat ol rogetanewe p38 emesT2e8 or fir, questesfilostieas envolvidas, por exemplo, a “divida meuddiea” de Descartes, como dizer 0 que ¢ pensar tendo de pensa falar de lingua tendo de utiliza, descrevero ato cognitivo tendo de iat um alo cognitivo etc, io aporéicas. A aporia nd €, pois, ‘uma questi sem sentido, mas uma questo que se prope asi mes rma como ques Dados os caracteres peculiares do dubium que acabarmos de apresentar. propbe-se, entio, a questo da estuture do diseurso igco, isto €, da peneralizag3o sintitica do seu eomportamento ‘como todo". O dubiam, come tal, no mediatiza uma verdad, isto .apanir dele no € possvel deduzira sua solugdo pos ee pressu- pe, justamente, a possbilidade de mais de uma slugao. Nesse sen- tido, © dubium do consttui um axioma. O discurso dalégico nao “aia ein nos forse, seo, um ham exp ds ecalandates qu ues apt Pcl vouutuntcomposn ace) “xquantoconipurg sain do “cmon prorat er conte Se no apenas em rar do rete tere tambon 40 Pen dere No Pimeio can, cnttra pepe concgio saison. gue € une rade gramaca ese determina segundo dive fate. br Palveas sua dienidadey a auctortay formas ingsticar sans por autores 3 omenda:s concn (padrio mas importante. elendi com © 30 thet gee omen rao N sno a tend po ae ce dice aera seanga plo empegs dan “aap fas Se malas aero aces de ape ao pores 3 oe 4 dace de una prea cle pecan) rae em Be Tapa dena pte ao sere dod tim ase ms pe soda poe aa gah ver Se fore ce pertain, se aes 1 to pase ign» et eres cance seon 9 bene scrip b Contra Stic un sbodeagn tat. merce fel polemic, piscine here tne) pose ms pale iia ar hoe ios se derma antes rer se seg anbihade do nue retry a Pos oso (do cients), donde seu seni quae pj € su caer iene na ‘pot como um fm determine constant costae pts, as Cm tum problem icomorniel que merge dasa ate arenes atta, (dscns snide prauocontei, Soe autre aga ‘ein cH Luteo p88 Sobre a esta a aoe moderns sobre relent a Mawr ef based ian Ter at Sormas sina, Sept da revista Estads Uneaten, Unive Fe ‘Arde Pemamtcr 9, et TO, cm pepe 9 admit, pois, de inicio, uma axiomatizagso®, no sendo possvel lo alizarse ai, em principio, um grupo de assergdes nio deduzidas © posts fora de questionamenta, Na erdade, unsa axiomatizago pres Sunde que o objeto do discurso este regulado por um sistema de fssergbes, redurido que Toi a um conjunto de axiomas, sendo por meio deles conteolado, © objeto, assim controlado, no poderia mais Complicar-se no sentido reflexive, desdobrando-se apenas em uma ‘iregio. O discutso dialégico, a0 contro, deve preparar-se para fassergies, a0 mesmo tempo, sobre questes solugdes de questies Portant, abir-se para contradigdes patents. Por um lado, ele cu ‘mina em outros dubia cada vez mais amplos€ abstratos. Por outro tad, desenvolve regras praginaticas, de uso intersubjetivo, para 0 tment bo dablun, Asim, no Iga Jo proce avo surge uma tGenica a tcnica da recepgio conseiente de ages © 00 Testagdes acorrdas, que server, en, de premissa para a anilise ‘comparativa de questbesesolugio de quests [A reer gerale sica do discursodialigico, entendid apenas pela regra do dever de prova, comum a todo discurso fundamentants, Ergue se revela no proprio estar em situagao, pode ser formulada ‘tte modo: a) toda ago lingistica pode Ser questionada. 10 no quer dizer que toda agi lingUisticafenha de ser questionada. Mas ysa regra geval are a posstilidade da constestagao e da defesa" Isso nos pe, de nove, em confronto com o problema do regresso a0 infinito. Na verdade,s6 essa regra to &capaz de orientaro decurs0 dh disci dake, Passo, € neces apres de tuts regras que se igam & primeira, em termos de uma aticulago praca es egras so estabelecias como propssito de possibil fara discussto, isto 6 de evita que oradore ouvite sejam aljados abstaidos da situa, Assim, a parti da primeira regra & possfvel ‘ero diflogo como uma série de dislogos parciais, onde se fixam as TB Sabre “uiomatzagn" 1M. BoeRémski, Die sigenssachen Denneinden, ern Munchen, 1968. p. 73 "ACh Nike Lahn, opts p26 $5-EL Witgentein, Pinoy. 2 Pane 86,0. $I parzam etarameno dss eps Wingestn aia que a Hosa. Weqienemene Srparamos so splat sem jp clei etm eis vs. ge Rohan pie Bor que aque gu wo gus tna Joga ut bases da discusso: as sujetas a duss otras es Inga primis Et esto ras: ) uma ago Linguistica primsia do ‘orador nio pode ser atacada pelo ouvine, pois ela pode, eventual ‘mente, ser defendida pelo orador ocuvinteliita-se a ela. mas.) 0 ‘orador nfo pode mais pa em divida" Com iso, & possvel cor {omar o regresso a infinit, Essas regrasgeras,contudo, nao esela- ecem iodo o decurso do dislogo, sendo necesstio oestabelecimen= to de regras pariculares, cuja determinagio depend das diversas situagGes, o que se entende quando se Fala em discutsojuridico, pov Itico,flessfico ete ‘Como podemos percehe, a estutura dialégica no pressupde 0 principio do tertium non danur, que implicaria uma regra segundo & qual sages linguisticas seriam dividdas, de antemio, em elutiveis eno refutives, ou justficaveis end justificdves. Ao conti, cla absorve basicamente, como seu trago fundamental, a possibiidae ‘do contralitirio, a possiilidade de contestagio, Unt tal estratura lo se confunde, por iso, com a finagao de ceras constantes e eX- clusio de variveis, mas repousa aur modo de tratamento especial ‘do dium, ou seja, no seuestabelecimento como pemissanvariante {que aqueles que o querem diseutirndo podem modificar Revela-se aa interessante capacidade do diseuso dialgico de, na aticulagao de lterativas, ni eliminé-as. dubia, fixado como invariant, Petmanece como dub. Assim. pa lustre com wi exermplo que ‘encontramos em Miguel Reale", pademos observar que 0 esabele- ‘imento raconal do valor como motivo da cond, com fim, neu tralizao valor das consequéncias de outros comportamentos. mas iio o elimina, ao contri, 0 mantém, na negagdo, como momento Cconsituivo do fim estabelecido, senda a ele constantemente refer do. Assim, aida Ue fim enquano algo estabelecido como constante ‘nessa media, principio que garantina sunidade esteutural. perde Sa importincia. Iso porque uma anise mais cuidadosa nos fz ver 46 Compare, nse seniors de eno das Prinausagen ma pies operates, CX WiamieRber op sp 780s Ua gh ington Poa € sein gue. situa cant ort de mate Cams Fe Pasa Goce pate dec f if {8 rg dill nerds 9 ard sto come As dns limes be spicam que, snes, ven temo deve $5 ingodurgn ster sido pat pelo pop slo ‘8 Faso do die, S Pa 1, 3-113 ‘que foda posi de um fim revela, na verdade, uma série de estate las que, em Yelagao ao dubium. moxtam-se como funeionalmente fequivalentes e, nessa media, em prinipio instiveis” Acestruturadaldgicaé, nesses termos, aberae, até certo ponto imprevisivel. sso porque o dubium, sendo reflexivo,revela uma es ‘rutura que nao constitu apenas um modelo diretivo, mas sobretudo um esquema plurivetoril de possbildades generalizadas, isto €, possbildades dotadas de uma erta neutraidade em face de diferen~ {35 simplifcagbes, a qual nao limita, ao contri, aumenta o poten ial para complexidade. Essa estrutura€ atualizada na forma de es teatgias,termo tornado relevane pela"Tevia dos Jogos" entend 460 aqui como plano de compertamento consruido em conformida- se com as regrus do didiogo constiuindo. nesse sentido, um con ‘cit dindmico que pressuptic nao sé uma flagdo sem: fim ene os estategistas (impossbilidade de climinagio do didbiam como tl) ‘mas também, numa certa medida, uma flexibilidade das proprias re tra, que podem ser "mudadas” por meio de interpretagdo" Nesses termos, podemos dizer que o centro das estratégias & constituido pelo que denominaremos, para usar uma terminologia de Theodor ‘Viebwee'. topes. Os topo devem ser entendidos como formulas de wan 18 p14 SoC. Jone you Neumann e Oskar Morpeastere Theory of games and ‘conomiebenoiour,Precan, 194. Kat Detach, Police Kober Made wad Peseta Eckel rire Brisa, 198. p98 3 {son Hurt. Te theory of exnamis Reina in Reads pri reo {Ghcio, 198, p 503 c+ 1 ainda cone de Grvinsranpe naps de Pr Lovnzen pt p19 eas css em Wiad Re, pt prise sse W. Sgn, Remarhs onthe complenes of lols! ssens Fis othe vay — concepts of P Leen and K- Loven Note Dame “earl of Formal Logic abe 16,5. n. p81 Sobre ela ete delaras tad. 3. @ Mowe So Pas 971-87 e SIUCL Kan Deutch pci, p. 0S the pati coma jogo em fim, cous rogan, durante 9 J, se mic CF tm, Dav Easton (Cltegars pars adie de Scans em pita, in Modaldader de else police Did Easton (el), ad 6. Vellwo, E Barre L.A. Machado da $a Ro oD, 190. 186 e Uma tora dean polia, a, “2 Topik nd lrteprades Stnchen 1968. Cr. nbn, ANSces Re tureg 2.145826 ill. 14 63 be Cha tla © L Oth as Laban, Zeer und Sytemaronalan. Ubi. 2 procura, no sent de que eles servem de orientasio pritica na ela ‘horagio das estatégias. So os topo eos reperrios de topo’ que se revelam para os pancipanes da discussio na determinagio mesma da questo, que organizam e delimitam 0 aleance das estatégias ‘Assim, por exemplo, um procedimentoestratégico como 0 da subs- Uituigdo de uma situagio objetiva por oura subjetiva, com o fito de se possbilitar a roformulagio de'um problems nical, ocorre em fungi de uma série de topo formas vigentes da experignca social, politica, econdmica, artistic ee) acentuando-seeeras peculiar Ses, dferengas entre umas eoutras, ou procurando-se um certo con Ses do eal, pela institucionaizaga0 de determinadas formas viveneiais (costumes, valores, modos de percepgdo ete.) Por causa da reflexividade do dubium, também os topoindo podem ser dliitados, embora sejapossivel, aqui e agora, Sta clasifeagio em cataloges. iehweg"Uenomina esse processa classiticaério “t6pica de segundo gra Por meio dos ope odiscurso dalégico experimenta uma certa historicidade, Dizemox uma cera histonicidade, porgue © discurso dial6giconio é histrico no sentido de que a categoria de historcidade sejauma condigio transcendental do dilogo. poiselaé também con: uistada a panir do dislogo. E preciso aastar pois, do nosso conte: to uma concepcbo idealista de dialeghesta em wrmos de um “didlo ‘go eterno", ou melhor, “permanente!” que nos obrigaia aver os dis Togos parculares como concretizagdes dialéicas do Dogo da His ‘ra enquanto processoglobalizanie. Assim, nio 0 didlogo, como modo do discurso. mas as estratégias do dislogo, dada a sua “opicidade”, so histricas na sentido de serem insepariveis do ‘momento situacional em que ccortem, dee alimentando-se formal © materalmente. Os topo. por sua vez, ndo sSo, nesses termes, ele- ‘mentos oa entidades (quer exteriores, quer interiores a0 discurso), mas resultados de uma operagdo, 0, ainda, no So inventirios esruturados, mas operagdes estruturanes*: 54. CE St de pratt, o seria operative do const de “tat a concepeso de gramsties de Chomhy. Verdes ator. Curen es in Tinguste ters Moto. 1964p? = Exe oso que abe Nica de spun pas, de Vike 23 2. 0 DISCURSO MONOLOGICO: COMPONENTES, OBIETO E ESTRUTURA Todo diseuso, ocortendo numa stuagdo comunicativa, const ‘ui uma discussio. Mas nem por isso todo dscurso deve ser conside- ‘ado dialdgico. Aquele discurso em que 0 ouvint aparece como ido hhailtado para uma interven¢0 ou com no intressado ativan te nel revela-se como monoldgico, A presenga passva do ouvint, na discuss, modifica profund mente © comportamento do oradore, nt conseqiéncia, a crac «as do proprio discuso, Como fizemos em relagio a0 didlos, faz-se mister anaisar © monélogo em Fungo dos componeates ele pertinen- tes. preciso, ness sentido estabeleero que signiiceapassividade do ‘uvint, qual a infuéneia do seu comporamento no gue diz respeito 20 ‘oraore,fnalmente, qual a signitieago da relago oador-ouvine na ‘ualfcagao do objeto do dscurso ena determinago da sua esta, O discurso monolégico tem fungi de sinal diferente. A atitude passiva do ouvinte ndo significa, é verdade, que ele mio este al {que nio exista uvinte, mas 0 seu comportamento ose revest das ‘mesmas qualidadesativas de que ele goza no discurso daldgico. Sua attude €, em principio, ado theords, a que nos referimos. isto &, {daguele que assste an espeticulo sigrado, Nesse sentido, modifies se também a funeao estimativa do discurs, pois o ouvinte tem, a= nal. alguma cosa a dizer, 0 espetdculo pode agradi-to ou desagradé- lo, masele no interfere na prpria ago representa, O seu compot- tamento, para usarmos uma imagem da vadicio Mossi, resume- seem ver aordem cosmoléica, sem poder. et principio equiparat= se medida do cosmos, sem poder teprodur-la em st proprio, ‘A posigio do ouvinte no dscurso manolégico, tendo em Vista a situagiocomunicativaeem oposigBo a0 didlogo, pode ser considerada ‘come absrara, ist asa Sbjtividede desapareceenquanto indivi, dualidade sua adesto a discurs parece suspensa no exist expec- tativa de reagao ativa. Por isso, a sa presenga pode ser absiraid, no sentido de que o uvinte se desfaz na univeraidade do auitrio. Perelman ¢ Tyteca™ mencionam esse tipo de ouvinte quando analisam o “auditério universal”, considerando-o uma espécie-limi- a te dete, para a qual aretricacficaz seria apenas a que se mantivese nos quadtos da prova ligico formal, Este seria 0 ouvinte da eviden- cia, ao qual no cabe outraescolha senio ade renders, 0 00vine ‘0 qual se dirigria programa met6dico do racionalismo cartesian. ‘Mais uma ver a concep de Perelman e Tteca, cuja obra apesat da critica que Ihe fazemos, nos parece pionetaeextremamen- te fet na abertra de novos carinios, acentua o papel do orador na situagdo comunicaiva. Assim, esse tipo-imite de “auditrio univer- Sal” &, por assim dizer, exclu do imbito da erica ereduzide a0 {d Ligica formal, que se limitaria ao exame dos meios de prova de monsrativos®, Bo dngulo do oradot, no caso, do Iigico. atribuii mos a ele a liberdade de clabora Tinguagem anificial do sistema «que ele consrdi, de decidir quais os axiomas eas regas de wansfor~ ago vidas no interior do seu sistema. A ni condigao que Ihe & Jmposta seria o fespeito a0 principio de nio-conteadigao™ Isso con- {duz Perelman eTyteca a oporem"demonsieagi0" e“argumentao" ‘a teconhecerem uma partigio no interior meamo da racionalidae, separarem, na sogineia da tradigSoflosSfica, necessidadee ibe ate, |A nosso ver entretanto campo de possbilidades de consie- ragio se transforma se insistimos ma situaglo comunicaiva como pponto de partida. Com efeto, 0 discurso monalégico & um modo do Uiscurso enquanto discussio,e no 0 cantafo, A discussio€ 0 mo- elo primar, Nesses fermos, também no discurso monol6ge0 & Paticrpasio do ouvint tem consequéncias decisivas. Assim, objet Flamos, em primeito lugar. que a liberdade deelabora a Tinguagem artificial. por parte do logico, no sentido de Perelman e Tyeca, sea ‘ondiionada apenas formalmente, pelo principio de nio-controd ‘ho, Como bert 0 mostram Lorenzen e Karna. a intodugio de tum predicador” de “lingua anil”, sto de um “Yermo”. de um “erm” lgieo, por exemplo, como a prspriapalavra“predicado no ignora jamais uma stuago comunicativa, para uSaTMOs nossa Drpria terminologia, Na verdade, cle ¢intodurido “explicitamen Te", Tegra geral, com 0 cardter de “propesta” que um parceiro da Se FecinanTyce, pie 7 oF hci 5k Op. es p.7. liscusso fae que pode ser acita peo outro, ou negadae mesmo subs Uitua por ute, até que se estahelega um acordo a repeito. Assi. mesmo no caso de um liv ode uma conferenca, existe aula it ‘0, de que se qucia Pato, onde “ninguém respond mas em que 0 {ofitor seve obrigado, na espana da adeso do leit, a apresentar ‘sas proposas to cautelosamente quanto possivel Pr isso, no vernos ‘ discurso mooolégico nem como fixago unateral de uma estrutura. nem como discurso sem interlocutor. Iss0 mio nos impede, porém. de ‘er no comportamentodesse interlocutor uma cera passvidade. “Tal pascividae faz com que ele se ponha, em relago ao objeto do ciscurs, com reserva dstneia Por 0, para ele o objetivo do seu ‘omportamento no € ropriamenteo objeto do discuso, agua que se diz, mas 0 como se dz. Esse comportamento passivo do ouvint, que ‘os permite veo como abstragso condicioa, por sua vez, compote ‘mento do orador, que, de certo Modo, se tora também abstavel. A ‘assvidade do ouvinte coresponde, pos, instrumentalidade do a- ‘Sor sto prpriooradrperde asa subjetividade enguant individu Tidade, tomanndose, po asim dizer, um mero pona-vor da ao ingiis- tica. Em conseqiéncia, no mondlogo, nio S6 orador e ouvinte S30 abstraives, mas aprpria ago Tingistica se tora abstr, perdendo 0 discurs, em pare, a sa Tungio sintomstica acentuada. No modo ‘monolésic do discus, a dimensio pragmatic ea dimensdo seman ‘podem, assim, ora se ecundris emt eagio a imensio Sitti, Dal a aparente — aparente por resultar de uma absiragio da situaga0 ‘omuniativa concreta — ahistoicdade do discurso monoldgico, que parece valeratemporlea-spacialmente (Ora, ¢justamente nessa reas ica entre oradore ouvite do rmondlogo que se entende, a partir da situagSo comunicativa prim Fia, que o objeto do discurs se qualifia como um certam, Com isso ‘queremos dizer que, assim como 0 dubtum. também 0 ceruum no & Uma qualidade a prior’ do objeto, no sendo, pois, possive admit: ‘se uma separagao de campos ou espéces de rationalidake— como 0 ‘querem Perelman e Tyteca — que se funde primariamente em dads exteriors discuss, iso , 0 mondlogo nda é uma especie de dis: ‘usa mas um modo de discutsar, de discutir®. Assim, 0 objeto que Sa Gi Poa Lovers ¢ Wiel Kamiah op its p11 e, Laense © 26 se qualifica como certum, dada a situagio eomunicativa, constitut também uma questa, Como tal ea se apeesena niialmente, como tum conjunto de possibilidades que se estruturam como altermativas fem eoncorréneia, Essa altemativas podem, enretano, ser reduzi {36 das possibilidades, 0 que significa que a participasio do fouvinte na discussio também se limita, em ultima anise, a dois ‘eomportamenos radicals: um que impugnae outro que admite- Esses dois comportamentos, prem, no se eferem & questo enguanto tal, isto €, a questio que se qulifica como cern perde a sua reflexividade. Em outras palavas, ocevtum € uma questio que, em Virtude do tipo de reagao do ouvinte, deixou de ser reflexiva, 08, ainda, ndo pode mais ser reflexiva, sob pena de converter-se num ddubium, O'certum, por isso, $6 se expande num nico sentido ‘etoral a propria questo alo se volta sobre ela mesma e, caso se volte, ou se torn um dublin ou desaparece como questi (falsa alernativay, Percebemos, em virtude disso, que a estrutura do discurso monoligico € diferente da do dialdgico. 4 relagio tipica entre forador € ouvinte, que qualifica o objeto do discurso como im ‘certum, pressupoe uma festa geral(antecedida também pela regra {do dever de prova), que se fevea, aids, no momento em que @ relagao se estabclece, e que pode ser formulada da seguinte ma- heirs: a) nem todas as ages Finguistieas podem ser atacadas pelo ‘uvinte; essa regra de. concomitantemente, uma segunda: ) toda gio linguistie ¢justifiedvel ou refutdvel segue-v, dat, tree fa regra: c) se uma agdo linguistica é jusifiedvel, nio pode ser fatacada pelo ouvinte: se & reutavel, nao pode ser enunciada pelo ‘orador. Pademos ver que a estrutura do discurso monoldgico per mite a divisdo das agdes ingusticas em retutaveis endo retaveis fu justficdveis endo justficdves, pressupondo, desse modo. 0 Principio da rerum non darur. ao coatrario do diseurso dil bgico, ‘AS tegras, como no caso anterior, sio também conquistadas a par tir dasituagdo comunicativa prima, aticulando-se pragmatica- mente, no sentido de possibilitar a discussao em termos ‘onoldgicos sta é, de tal modo que orador e ouvinte passam ser abstrafdos. Por dino, na medida em que o objeto do discurso monoldgico se qualifica como certum, sua estrlura & imediata ‘mente passvel de axiomatizagio, ou sea, 0 diseurso monolégico pressupde que seu objeto sejareduzido a um conjunto de axiomas ‘© por meio deles controlado. Esse objeto, regulado por um siste- n rma de enunciados, nio pode mais complicar-se no sentido da reilexividade, desdobrando-se num nico sentido” ‘A atrbuisio ao mondlogo de uma estrtura diferente da este tura do didlogo nos reconduz d questio di relagio entre ambos os ‘modos de discurs, Aparentemente o resultado que atingimos nie vai além da divisao proposta por Perelman e'Tyteca, que opée ligica formal eretrica. Dissemos, entretanto, que ambos s0 apenas mo dos da discuss3o, o que signfiea que néo consttuem campos diver _emese oposts, mas esti presemes, como modos da discUssgo, em {odo e qualquer dscurso. Iso implica una recusa em se distinguir ‘campos ineomunicveis da racionalidade ou do discus raionalc Por outro lado, o reconbecimento de uma cera unidade na propria Fazio discursva que tem, ento, de ser esclareida “She 0 sentido dea axiomatzgie cf. ene outs, Benson Mates, ogi eementar aL Hepner 5d Mat io Pal 94K p 2836 pr istesct M Bachna fost 28 Carfrevo IL Unidade Racional do Discurso 1, RACIONALIDADE E DISCURSO Para entender a relagao ene mondlogoe dlogo ¢ preciso re= tomar a afirmagao com que iiciamos este capitulo ou sa, quem discusa age: todo discus € uma a¢do Linguistica. Discutir € uma apto, como é uma ago andar, comer. sort, mas que se especifica como uma agio dirigida a outrem. Quem discursa discute. Quem siscue, poréi, no se dirige, apenas, a outem (quem toca um com ‘ero também 0 Fez), mas apela a compreensdo de out E claro ‘que quem toca um concerto também quer ser compreendido, poden- do haver compreensio por pate de quem o ouve. Mas, ai, ouvir © ‘concerto ecompreendé-lo sto ages distinguveis: ato de tocar nao dleixa de realizarse caso alguém que owve no o comprecnda, O ‘mesmo no sucede com a agi Linguistica, em que o ouvir eo com- preende se confundem A rigor, s6 0 discuro & eompreendido, no Sendo de que s6 0 diseurso est imediatamente a servigo do mito entendimento!. Como agentes diseursivos. que perseguem finai- dades e que estabelecem finalidades, eompreendemo-nos uns aos futros. Nesse sentido & que dizemos que toda discurso € uma dis- ‘Ao analisarmos a discusso,delimitamos nosso campo de inte- esse na medida em que nos fixamos no dscurso enguantodiscussi0 TGF Pa Lorenzen Wiel Kamla, ois 6. 12 Speech scene fom he pee s and the as not spoken ‘a he not Dan undcrsoo Csi ape Bert Maer P10). moa 1 “3: Muuo cmendinent, mas mio sesesrianente concn, Pata gue ss person seemed no recs oc ncn aor, Cont expresso ‘st enemies” asiinos Venting enya ws por Laven ¢ ar enbors em ema poco detent 2» fundamentante ou discurso que se fundamenta, Podemos agora in: teoduzir um novo termo, que espcifiea €esclarece 6 que queremos tlizetA discuss30fundamentante deve ser entendida como discuss ‘ravional. A palavra “racional” & extremamente equivocs © exige ‘uma explicagao, Uma discuss 6 por nds denominadaractonal utn- {00s agentes do discurso no deka as ages lingsticas que exe- ‘etam determinaremse por elementos exterores prpria discus- Si0,no sentido de que esses eventuais elementos devann ser postos pela discussio, em terms de mua entendimento. Tas elementos ‘compiem o mundo lingisticamenteatiulado,o mundo circundante ' que no relerimos anteriormente, Assim, por exemplo, a discuss {que encetarnos com o leitor pode ser captada como racial na me: ida em que a entrada de um novo elemento — 0 temo “racial — se di dentro dela isto 6, ressupde 0 mitwo entendimento, Em ‘utr palavees, poderfamos dizer que uma discussio€racional quan {o os agentes nio se deixam determinar por meras emogies ou por rmerastradigdes e costumes" (© modo pelo qual introdusimoso termo“racional” nos faz pen sar, entretanto, que a racionalidade é uma espécie de distancia, de neutratidade, no sentido da objetividade das cigncas da natureza, na ‘medida em que o discrso racional seria aguee cujo agente ou agen tes sio eapazes de escapar aos condicionamentos vlas, como 0s psicossacais, ao sentido da sociologia do conhecimento", © que ‘condir-nosiaa um impasse em termos de uma opgio entre a ‘azio como processo de racionalizasio, nocessariamente ideo a razdo como quadros categoriais supra-historicos"”. Longe disso, nossa intengdo€ bastante diversa. Em peimeito lugar, ¢ preciso dizer ‘que a racionalidade € concebida aqui sitacionalmenre, Uma con: epg situaciona da racioalidade significa que ea & captada den- tro da sitnagdo comunicatva. O discus racional & asim, aquele «ujos agentes, em principio. ndose dstanciam do mundo ctcundante, CF Gil Gaston Grange a, ta. Lice Beno Pra Sr, Sto Paulo, 962 p. Tees “Ci Paul Lanse € Wiles Kama opp. U8 (6 CI. Kart Manheim, eos amd Cope: Fare Main. 1968, p ave: Wasemsvalgie,H. Maus¢ Fasteners (es). Beli Newwied 30 mas se reconnecem ele. E verdade que, 0 discursoracional, em (hes, costumes, trades nunca aparecem como gozando de autor: {kade, no sentido supramencionad, 0 que mio significa, porém., que ‘ejam ignorados.O diseursoracionl € um discurso que estéem si tuagio numa dupicdade de comportamento- destrutivamente, na me= dda em que toda autoridade pode, em principio, ser posta em divi- ‘a; construtivamente, na medida em que nenhuma ago lingstica & ignorada — conservadorismo critic, Este conservadorismo eric, no interior mesmo da discuss30 racional, tt de ser limitado. Assim, como vimos, mesmo em re fo as reptas do dilogo, toda ago TingUlstica std submetida 30 Principio de iia, embora, de fto, isso nio tenha de se efetivat Resse sentido. a fandamentagso a justficaio das ages lings ‘eas podetn ser suspensas,Diz-s,eniZo, que elas gozam de autorida- te, Assim, por exempo, no discurso da eologia erst a partir dos primetos séculos, hi uma série de ages ingistieas que slo exch {as de-questionamento, em conformidade com a regra segundo ‘qual “fides praccedititellectum” (Santo Agostino). © comporta- mento ertico radial tomas, aqui, limitado, mas nem por is80 0 Uiscurso pode ser taxado de racional. pos, pelo seu prprio regu mento, 0 diseuso tealigico nose sural ao dever de prova; uma jsificagae da Revelago, ainda que no plano da vida etema, esta revista, O discuso rcional, nesses termos.€ aquele que presta con fas, que nd apenas arma, mas sempre fundamenta ‘Aparentemente, pelo mado come entendemos 0 discurso racio nal, caimos numa espécie de cir, do qua 6 saimos se aceitamos, “mila instanca. principio da rao suicieme.inerpretad au fe mancira convencionalista™, Todo discurso € racional se € fundamentavel,e essa Fundamentagio repouse em condigdes que a propria dscussio estabelece, em termos de mituo entendimento, ou Soja, no discurso racional, os agentes. num caso extremo, poderiam Jdeiuarse gular por moda, tadigio, costume et., desde que esses fatores fossem aceite, na discuss, pelos priprios agentes, quer explicit, quer implictamente, Enetanto, nessa concept, 0 cam- po'daractonalidade se forna tao vasto ¢ imponderivel que € quase Tar Siieo coments, H, Pine La scene et Pyne Pans 12 ep. poles u impose discrminarse, a mvochade Se pur € me av “coat rae uma ea {ho dor slmenion ee somgitnca. pstiade de wm inca fel 0 cae sles Se eptamen cnt rlgto 8 propa "yaa neve. ” ser humano — se uliza de um fonema linguistic sem significa. {fim de provocar um comportamento do receptor — oto ser hi mano, fss0retira do fonema a qualificaglo imediara de "signiicai- 0", no sentido de uma relago eom um objeto, Assim, por exemplo, bservamos que as mies costumam usar a express “cht!” para que (silos se abstenham de deerminada aco. Embora para um tereei- ro, que ouga a expresso, ela parega @ nome de um objeto mau, indesejado as riangas nunca tram conseyiéncias dessa —falsa — concepeio. Se elas so educadas, abstém-se simplesmente de agit. 0 sucesso obtido 6 € possivel porque a expressio ests ligada a uma situagio e a uma agio. Nesses termos, diz Thurnwald', a “difusvidade” das expressdes constitu, alve7,o ago mais caracte ristico do chamado “pensamento primtivo”. Essa “difusividade”. tenquanto eferénca imprecisa a uma situagae complexa, que inclu, Porém, um comportamento humano mais ou menos determinado, & ‘Que permite o slcesso da comunicagda", A prioridade primaia da "stuago comunicaiva imperativa” pad ser observada também no uso da palavra *mamde" Com cla, como nota REvése™, a eianga ‘ilo quer indiar a presenga da mie, mas exige de uma pessoa que ‘io Ihe €estranha uma determinada ago. Do mesmo modo, me ‘Size com pion dese nos cmrorndas com nea deo teres conpoten significa, qe, dveemente ene © deni. ‘aera. prem pio. A oda dese tcc componente pre "rosin. 8 popoindatese eps -pra eu es pe cota eps um ems fx, com cota Inpecos cer ae sc, i aia Ch Ramet “nivacdade plies, ora a ecmbecnem de ama commie in [it onde me ae onespondnsi ene nignicncs sje ¢ so) {tan ab menos quant a0 ceme spncaine. Ese pessapntos conde tos por fim am ste xa, cu principe se € emda Com ‘rai, lingua ext em costae mat no plo spl Foo de ae ‘Sn. por mca do so dear contnuament modista. 0 pei de es (hoe Ho se stent opis, 104 Re Thunuald Granragen mensclcher Genellang.Asspewle Schriften Bet, 1957 p38 10, C1 H. Wee: Comparative poicholgy of mental development New 106. Reve, Usprang und Worgeschice der Space, Ber. 1946 so recomhce que um choramingado "paps representa apenas aexigen- ‘ia de ser alimentado, Embora essa prioridade,veificavel em mode- Tos mais simples, no possa ser imeiatamente tansposta para mo- los desenvalvidos, em que a descrgtoaparese em primeico plano, ‘la nos aud a entender os princiios de desenvolvimento da com nicagao Hingstica. Ela nos permite captar as mudangas nos roc 05 lingUsticos em temos de “dilerenciagio”. Assim. por exemplo, ‘ato de denominac do, enquanto técnica de comunicagao, passa a set tentendide como o produto de um atividade socialmenefinalistca, {que prctende, por mio do aprimoramento da deserigiosituacional, {que também em situs Tatras, 0 comporiamento do recepor sea ‘determinado mais exatamente, (© que dssemos pode ser ilustrado, fomando-se como exemplo pillavras que indicam cores, Como nos mostra Horn, segundo a epistemologia dominant, tas palavras sio considradas nomes de ‘ores, Segundo esse panto de vist, que corresponde a uma concep. ‘ho ontologica da lingua supde-se que cada cor tenha um nome que The comesponda, A descaherta de denominagbes, em outras commun dace ingsticas, que diferem bastante das que conhecemes em nossa ‘cultura levou alguns cientistas a coneluir que os memos dessis ‘somunidades percebiam as cores de outra maneira Assim, por exem. plo, chegou-se a afirmar que os gregos antgos teriam sido cepos para certas cores, Oservagbes posteriores mostaram, porém, que os ‘membros dessas comunidades eram capazes, apesar da falta de deno- ‘minagao, de distinguir ene as diversas cores. Iso abr eamiho para uma outa concepgao da lingua, que explica de maneira mais perfeta 0 fendmeno, no seu desenvolvimento. A principio, usamos palavras que se referem a objetos colorides e que, surpreendente- ‘mente, nao preisam possuir enhuma cor 56 mais tarde, num est so evolutivo mais desenvolvido, © pensamento tomna-se capar de Separar a5 cores dos objetos. Com isso o homem abre um caminho Drico para oaprimoramento da comnicagio, pois pot mio da in- ‘Vengo de novaspalavras para cores épossiveloestabelecimento de Aiferencagiesrelativamemte satis. Assim se pide conceber que as ‘express de cores so componente de téenicascomunicativas com plexas, em constante mutagdo. Prima, gui, € a possibilidade do TOT Op ct. p84 es. Nesa aba. pies de Tharmvald, Werner & st cenendimento matuo, O fonemsé, fundamentalmente, um meio de ‘comunicagio. Como © por que as palavras que indicam cores so ormadas ese desenvolvem, isso depende das necessidades comuni cativas de eada comunidade,O sucesso de uma téenica de communica ‘io depend, pos, do dominio de uma série de processos de apren Zagem, 0 que exige, por sa ve2, condighes siicientementeseme- Thantes de aprendizagem, 0 que pode seraleangado por uma eerta insttucionalizagdo da instrugdo. Exige se além disso, uma ceta per ‘manne econtinuidade das capacidades alquiridas que restam, con tudo, relativamente instiveis, donde uma eertainconstineia no uso das palavias, no correr do tempo, ¢ a possiblidade das “lavagens ‘erebrais", De uma forma ou de outra, nota-se que, nessa concepgi0. ‘ sucesso da comunicagi lingistiea depend dos parcciros em co” mmunicagio, Abandonada a iia de que o emissor,jumtamente com a pala ‘ra transmite sua significag3o (eventualmente univoca) a0 ecep- tor, caso em que a participagao deste se torn, em principio, pass vv, 0 comportamento receptivo adguire uma importincia funds- ‘mental. A partir desse comportamento do receptor, © que chama mos de ouvinte, & possvel entio conceber © dseurso como ago Tinguistica que pode ser aprendida erepetida eo discuso racial ‘como aquele em que o comportamentaertco do owvinte exige um ‘constante apereigoamento das "téenicas de comunicagio”,tornan- dose 0 discurso discussie sobre discussio © assim diseussio fundamentante (0, supra, p. 7) pois, como dissemos, o sucesso Jo entendimentolingistico depende basicamente das capacidades do orador e do ouvinte (emissor e receptor, ¢ a concordncia entre ambos nio € um pressuposto, mas uma taefa. Com isso, didlogo discussBo-conra ediscussao-com — e monélogo passam a set entendidos como o resultado do aperfeigoamento mencionado de “enieas de comunicagao” que mutuamente se referem ese com= pletam. isto 6, uma distingao entre diferentes modos discursivos, ‘constatavel em sistemas lingisticos bastante desenvolvidos, mio anula a corelagao funcional ene eles, que no deixa de ter uma ratureza hastante complexs, |Assm, se podemos dizer que a fundamentagio dalégica tem ‘como ponto de partida mas de procura, os opo!,eamandl6gica, aiomas, esa diferenga pressupde uma corelagdo, na medida emt 3 {que toda axiomstiea sponta para uma tpica: a discussBo dos axio- mas de um discutso, como 0 via Aristteles" e como 0 mostram [Lorenzen ¢ Karn, redunda sempre em um diilogo. Por outro Jado, dlerenga por nos estabelecida entre discussGo-com e discus ‘to-conira toma essa correlagio mais complexa Iss0 porque, se & diseussio-com, do dngulo pragmético, a0 ocorrer entre partes homélogas, admite uma passagem para 0 mondlogo — a logiea da descobertacientiiea, como o mostra Poppet. no exc, trio, coordena-se 8 construgio de sistemas axiomitcos ‘cussio-contea diiclmente perde o seu carter tGpico, a nfo set por ‘um artffio que 6, ele também, um recurso dialdgico: homologizagso anifiial de partes necessariamente heterSlogas. Sem querer estabe- lecer aqui uma teria geral deste complexo, desejamos torné-1o ob- jto das considerasdes que se seguem e que pretendem aponti-lo de ‘modo tematicamentelimitado, no que se refere 20 discurso juridic. TOW Adee: Sends Anais. 71 716.105 TD. Op. itp. 2s Cheam, mar Tanmelo Rechologt ond materiale Gurchighe, Frankton Min, 1971 pS. "0. e pile» Em temos deve elo ene dscussocom © mondo epi segues plata de Giles Ganon Grange "Una {Temonoaie de Eanes € nda bon mest ere 3 noon lo: deve se ‘der que rca sla ute” It € yeradeso mo sentido Se ue ase 20 ‘Sole com oyster de operagies lips exatnadse soma, Ma 0 tc de Euless Yar ateolaamente & apicay dss gue "aot cstna consi em pr robles em terms presse em esol Tec conuraino conse.) Deus mane pera. hole guano pe fete nosing cen de sere matemaion fat aptenterer ree, {ina predate gue slr exceyesindesives uma Ssorers aque, 2 2." PARTE © DISCURSO JURIDICO Corio Caracteres Gerais do Discurso Juridico 1. DISCURSO JURIDICO E SITUAGAO COMUNICATIVA Entendemos por discurso uma ago Linguistica dirigida a ou trem, donde o seu eardtr de discuss, em que alguém fla alguém ‘uve € algo é dito, Além disso, dissemos que a aga0 lingistica no Se dirige apenas para outer, mas apela a0 seu enlendimento sendo ‘assim considerada apenas aquela que pode serentendida isto 6, ens pada e aprendida, A essa situagao de aprender e ensinar. na qual & ‘compreensibilidade das agies deve ser manifestada,atributmos @ ‘expresso siuagde comumicativa. Todo discus nesse sentido, re ‘ela uma stag dessa nature7a, A situago comunicaia Uiscursva no deve ser enlendia como uma relagao de partes fiscas,seres Fhumanos hiologicamente coneehidose sins. mas de agdese resuh tados de ages (acontecimentos), nao tendo uma estrtura parte do ‘seu funcionamenta!. Por iso, 0 discurso no é, em prine Seajigncia prestabolecida de determinadas ages, no ve confundin ddo'o seu agir com um mero ritual, embora uma ritualizaglo nao se ‘excl, ‘© que faz com que o dscurso acorra,conforme vimos em refe- réncia& teria da "situag3o comunicativa imperativa”, nfo € uma forma preestabelecda stualmente, mas 0 comportamento seletivo dos partcipes, que ensinam, aprendem ou se fecusam a aprender, ‘detetminam alterativas, escoliem eaminhos,absorvem incerezas transformam questdes complexas em problemas claros ec. Vimos tinda que uma situagao comunicativa hao se manifesta num vacuo, mas ocorre em um conjunto de articulagdes complexas que a circun= ‘dam, end pois um limite Sdenifcsvel, Esse limite tem um aspecto externa — mundo circundante — que corresponde a uma complexi- TEE Dan Kate ¢ Robert Kaba op. 7 dade mai, e um aspecto interno — estrutura do discurso — que Feduz aquela complexidade, Justamente esse limite € que nos per ‘mite ientitica diferentes situagdes comunicativs. Nesses termos, uma anilise do discursojuridico propoe, como primeira tarts, 0 estabelecimento da sua peculiar situags0 comunicativa sa taefa é, por si s6, enorme e quase se identifica com a “empresa sempre refomadae, nas suas intents ontolgica, sempre Frustrada de deine o Direito. Come bem observa Vernenigo 3 pos sibilidade de uma *mostragio" de fendmenos que sejam casos de ‘uma propredade que se pretende inventigar —o Dieito — (detini- ‘go ostensiva do objeto), ou € impossivel ou condi a esultados pradoxas!. Por isso, é bor que se diga, ao tentarmos idenicar *stuago comunicativa juridia’, no estamos, em primero log, interessados em “define” (ostensivamente) 0 Direio; em segundo lugar. para evita as diiculdades de uma “definicao ostensiva”, re corremos a um procedimenta “operacional "no sentido de que nos voltamos para o objeto a investigar. sem separi-lordas operages 3s (quais ele est eferido,em ver deestabelecer uma série de propriods es que caracterizariam. «prior, a estrutura do objeto. Substitirse, ‘nesses temas, uma indagagaodo ipo: "Que € uma situa comin eativa juried” por outra do tipo: “A que espécie de experigncia ‘os referimos quando dizemos que algo € uma situago comunic ‘a jurica”™isto€. uma investigagio operacionalexige uma dese {0 daguilo que temos de fazer e de observer para captar 0 objeto Investigado dentro de nossa prpriaexperigncia Retomemos, pois, o ponto de vista da teoria da comunicasio, anterirmente esbogado, segundo o qual comunicagde social ceo ‘entre dois comunicadores, que 880 a0 mesmo tempo emissores © receptors. A essa relago, nos parece, refere-se Miguel Reale, 20 reconhecer na “bilateralidade™ ua qualidade de toda ago humans Social: Esta — diz ele — dirge-se sempre a um “alter: df também © uso da expressao “slteridade™. Em principio, sendo @ discursa Sa engi de linte cmo ua ela dferncal ene as com plexes ct Naas Labuan. Leiimaton- et Sate Vengo, La interpreta itera de a ly» eu problemas, td iba, p30 5. CE Anatol Rapoport, opt em ders sages G open e 2 prelen ss {ueico uma ago socal ele 6, nesses terms, uma relago “bilate- ral" entre outras, Vale dizer, o conjunto das ages sociais constitu ‘seu “mundo cicundante”e, pois, 0 Timite extern da sua "situagio ‘cominicativa™ O limite mero vai ser fomecido, por sua vez. pela ‘apacidade da stuagio comuticaiva de gerar sua prpria historia’ ‘Gerar sua pepia hnstia significa diferenear seu proprio compor tamento, em releréncia& Histria mais complexa do seu “mundo circundante",na medida em que todo e qualquer comportamento que {entra para a situagao comunicativa é uma coneibuigo que a limita istog, exclu, possibilita, segura outros comportamentos discursives. ‘A constitigo de ums histria permite, assim, a determinagio da estrtura da situagio comunicativa, ue se manifesta express ‘mente por regras de relevincia e inclevaneia,permissioe proibigao de agentes ede temas, tradugioe determinago do que arapatha a situagao e do que deve ser feito para evitarse essa perturbagao’. A ‘configurago de uma situagdo communicativa discusiva ocore, pois, pela ago dos seus participantes em termos de mizuo entendimento. Isso dd situaio uma certs “orden” no apenas no sentido espacial, mas também temporal: quando algngm deve fl, quando pode falar fete. Numa situagao comunicaiva diseursiva, como numa relaga0 lmorosa, para vlersnos de um exemplo de Luann, nem uo & permitido Togo de inicio. A consttuigao de uma hstiia, em termos ‘de mituo entendimento, permite-nos dizer que a 2530 dos partcipes da Siwagio comunicativa discursiva nao & um simples residue de ‘ages historcamente repetidas (tua), nem a simples Frmalizag30 de agdes posiveis (previsio), mas um comportamento em gue cada parce € sempre pure, isto alguém que tz, em principio. con ‘igo carga da Sua personaidade historicamenteconstiuida eassu- ‘ne, no mituo relacionamento, um determinado papel (fungao snto- rita fangao de snal do discurso)- Assim, a stuago comunicat- ‘ase limita nteramente também na forma de repr de atibuigho © TOF Niklas Laman, Lestination. ip 4¥, Laban apc ese cx anise 80 “pacediment aries engeano “sistema Socal ands deseo ox pe etal deo don stem ‘ov eme dorado seman, Smee qe uma stab come cation dscns se henna media om qe clase deena sora ‘itinom, eapa de fear lao de WoC ene seu MKS ETD Scone extro Parser ati esse sen. cl do ose arg iso é"hatarset seamen termot de fchars a ead cond, 39 de diferenciagao de paps. Com isso € posivel determinarense i versas eagies avaliativas dos patiipes: cooperatives, conesaivs, indferentes ete, com a eonseqUente qualificagao do objeto do discur- soe seu controle (Fungo estimatva do discutso) ASSumimos, assim, «que as partes, na situago comunicaliva, esto motivadas, isto € Gm, em principio, inteesse pelo que se diz. certeza de que algo vai set leangadoe incentera sobre 0 que ser aicangad. ‘ejamos, agora, o que temos de fazer para entender uma stu 80 comunicatva discursiva como juriica. Em primeir lugar ob Servamos que, enquanto nas stuages comunicatvas socials em ge- ral a comunicagio se dé entre dots comunicadores, ambos dotados, 40 mesmo tempo, da capacidade de emitr ede receberinformagSes, vale dizer, de perguntar ede responder, em certasstuagGes comuni- cativas €atribuida a0 receptor (qualquer um dos comunicadores) a Faculdade de exgir a informagao. “Exigblidade”, para usar um ter- imo de Miguel Reale, significa, em nossa anise, uma regrasegun- ‘do 2 qual dada uma Stuaco comunicativa em que pelo menos um dos comunicadores se ecusa a comunicarse,na medida em que cle Fenuncia, voluntiia ou involuntariamente, a0 papel de receptor ot de emissor, a0 outro comunicadoréfacutade reclamar © comport ‘mento recusado. Ora, aexigibilidade” mada afungio sintomaticae a fungéo de snl do diseuso. As agdeslingistcas deixam de ser mera expresso subetiva dos comunicadores, ganhando, gualmen- fe, as sas reagbes uma conta “eoordenagio objtiva™ que liga 0s ccomunieadores entre si, ao mesmo tempo em que Thes conferees ‘as auténomas de ago: obriga-s c, ao mesmo tempo, coniere-Ihes poseres Entendemos que a “exipbilidade” tem, além disso, um outro o. la amplia a stuag30 comunicaiva social, areseendo-a de mais um comunicador:o ébitro, 0 juiz, olgisladr, mais generica- mente, a norma. A situagio comunicativatorna-se, asim, rddica 3 Op cit. p. 607. Num sentido divergent, fons Gated de Siva “ele qu orn jr aoa Tae de reap (O dee lec tobe fndamens da rem ri Ss ae. 10. CF Mie Rel, opt 09 1.6F Ounar Bane. Recnorornachf and ropes, asl 1970, pts o ‘Nesta oteceiro comunicador pode ocupar diversas posigdes comu- hicativas. Ele pode assumir uma posigio hierarquicamente igual dos outros dois, sto, como agueles, cle & também, ao mesim0 ten po. receptor e emissor (ius dispositisum); uma posigio hirarquic mente superior, na medida em que ele apenas emit, tomando-se os Duttos participes “meros” receptoes, mas nio necessariamente ab- Solutamente passvos (jas cogens; finalmente, uma posigdo de puro tmissor, sem que os oUz0s partcipes percam a sua posigao de emis Sores e receptors, os quais continuam a exereé-a gragasinterven- ‘Glo do tereiro comunicadr (formas mists), Por outro lado, entre ‘s comunicadoresprimitivos ocorrem dois tipos fundamentais de relaglo, conforme haja reciprocidade entre eles — ambos emitem € recebem concomitantemente —, caso em que tems uma relasio do tual”, ou nao haja reciprocidade, relagdo Jo tipo a distribu da capacidade de emir de receber, dando origem arelagies de "coordenagio" (as que ocorrem entre os ‘SScios de uma sociedade andnima) de “subordinagao" (entre ofisco ‘© 0 contrbuine) de “integragdo" (entre marido © mulher, pais © fis, na comunto familiar)" 2, QUESTOES CONFLITIVAS JURIDICAS (© saparecimenta desse terceiro comunicador precisa ser mais hem esclareido. A "exigibiidade” € uma repra que regula o com- portamento das partes na stuagdo comunicativ juridica, na medida {Em que Ihes atribai um comportamento caracteristicamente no pas ‘vo. Para exigir as partes so convidadas a interir, aio como um fobservador “tedrico” (no sentido de rheord), mas aivamente, ine- ressadas que estio no objet do discurso.A repra da "exgiilidade”, portato, permite-nos dizer que, na situagao comunicatvajurdica, 0 Comportamento diseursivo€ativo — ele € dingide a alguém como a expresso de quem ala Fungo sintomtca) — e &reativo — isto, €Epreso a alguem, a quem se dirigiu (Fungo de sina). A partcipagao ‘tira do oradore eativa do owvinte juridcos qualific, entGo, 0 ob- eto do discurso como um dunn (Fungo estimativa) Em que con- {igdes, podemos endo perguntar, devemos falar que esse dubin & jurdico? TE EL Mi! Res. op. #618 o ‘A epta da “exgibilidade” nos fz ver,em prinefpio, que a el «0 ene orador eouvinte jridicos manifesta uma situag comuni ativainstvel, Sendo odiscurso uma expresso carepada da persons Tidade ds partes, estas atuam ese obrigam na medida da sua persona- Iidade, Nesse sentido, elas gozam da liherdade de wazer & discuss {emase informagtes que julgam necessrios Aguela manifesta 0, Essa Tiherdade €sugerida como um privilégio das partes, mas funciona tam- them como um ator de engsjamento, Sela pressupse que as pares, 20 iscatin,tenbsam a intengaa de convencere, pois, de dizer e buscar a “verdade”,pressupoe tamém que as partes possam ment A lierdade fa, porisso, da situago comunicativajridica uma relugio insegurae instvel, Esa inseguranga einstabilidade &ined- Thoda ¢ tende a ser redurida, O discurso juridco revela-se, asim, ‘como um instrumento bisico dessa redugio, Por meio dele sio ‘stabelecidasregras dopo voc’ pusardaespada cu também puro”, ‘que vio, entio, regular 0s comportamentos permitides. Ess repras Permitem que as partes estabelegam ene si modalidades diversas de glo reago em terms de que rada ado lingtsticaé questiondve. ‘mas, ao mesmo tempo, garantem que iso possa ocorrer. Em outtas palavras, permitem um dublum na medida em que garantem esa per miso, Ora, €exalamente iso que tora o discurso jurieo, em prin- ipo, ambguo em rela a verdade:€ sempre reconhocida mais de uma possibildade como pont de parida da discuss Essa ambigiidadeleva-nos, por sua vez. vera ela dalgica juries, basicamente, como uma discussdo-contra. Como tal. ela teavolve um tipo caracterstico de questo que denominamos conf ‘o,e.umaTungao igualmentetipica que 2 de passbilitar uma deci ‘co, Ora justamente esse caster confitivo edecis6rio do discurso juridico que explica melhor, conforme nossa indagasao anterior. 0 parecimento do ferceito comunicador. sso porgue o confito, sendo lua qustin de dscussdo-contra em que o discurso € expresso pes Sal das pares, tende ase generalizar isto ase teeri a todas as ‘qualidades e caracteristicas da outa parte. Dai a necessidade de tespecilizlo para evitarconfitos em larga escala Assim, a ques TGF Nils Laban pip 101 «nota 5. TE. Neste sent ios Mipul Rea rma de de sina rn momento conse uc ined a prleray de cnfien. 30 exe temps {inqurse ach hei snvar onside ones (0 ria como espero. Sia Pl, 1088 p 210€ 1 @ ‘to conflitvajuridica constitu um dubium na medida em que uma aso ingistica¢ questionada em relagio a um terceito comunicador, {que pode ser um sito, um juie € que, genericamente, pode ser designado como norma, © terciro comunicador & quem garante & Seriedade do conflit, fazendo do discurso um diseuso racional aquele em que as questies (n0 ea, confitivas) no sto fortuitas, mas se acham determinadas pelo dever de prova elas ocorrem ape= nas em relagdo a uma conexdo compreensivajéexistente, mas que, dada a patcipago peculiar do ouvinte, no mediatiza uma certeza ‘0 contri, abre um leque de posibilidades (x, supra, p. 16/17). ‘Um confito levado a sério, nesses trmos, significa, pois. que nem tudo pode ser confit (supra, a segunda regra do dilogo.p. 21) E,além disso, significa sa ocoréncia temporal na medida em que, pela participagao do tereeiro comunicador, ele & 30 mesmo tempo provisoriamentesuspenso © mantido, 0 que dé tempo para que sea tiscufdo: entre ogadore ouvinte hi, assim, wna distancia temporal {gos Ihes permite separara emissdo da ado lingbistica da sua recep Gio, o que envolve oestabelecimento de regras temporais em termos de praces, ‘A caracterizago do confit juridico como um dubium que se cstrutura em uma ou mais alterativas incompativeis em relagio @ ‘ma norma ni basta para difereng-lo. Para melhor caracterizlo € preciso levarcutros dados em consideragio. Assim, 0 aparecimento to tercero comunicador no significa que este allere o conte da situagio comunicativa didica, como se owinte eoradorfossem, por meio dele, despojados de suas opgdes e perspectiva,retirados do ‘comextosituacional e (ransportadas para um “mundo ideal” cujas ‘candiges vita foxsem diferentes daguclas que teriam conduzido as partes ao confit ou poderiam t@1as conduzido, No so, pos, mo- tivos materiais que levam os parcitos da stage comunicativa Siddicaarecorerem a um tereiro comunicader. mas sim o mod do procedimento que ente eles, ent, se instaura: um procedimento de Solugao de conflfos que garante, com mais seguranga que outros {religiosos, politica, sociais de modo gerl), os resultados. Isso ‘manifesta, em primi lugar, ue as normas, em principio, no tem tum conteddo priprio, diferente da prdpria vida social, nem instau- ‘ram um campo axioldgico materialmente se, © que pode ser obser- vad pelo fato de que os postulados da justiga se preenchem, neces: o sariamente, de outos valores soci! Em seyundo lugar, que 0 ter ei comunicador, aesar do que acabamos de dizer, goza de wma ‘qulidade comunicaiva specifica que se localiza no modo prprio do seu falar: suas ages lingdsticas no sio nem proposigdes purs- ‘mente valorativas ("no se deve mata”) nem puramente ftieas Chi homens que matam outros homens”), mas algo peculiar (“quem ma- tar serépunido”), Finalmente, que o confit que endo, se estabele ‘ce em relago ama norma € uma questo levadaa sério no sentido ‘de um conflteinstitacionalicado™ Toda questio confiiva pressupde uma stuago comunicativa estruturad, isto €, dotada de certs regras. Segue-se que hi uma Felasdo entre a esiratura da situaglo e © modo do confit. Numa Situago pou diferengada, em que a slugio de conflitos se Funda ‘na capacidade individual das putes, o papel do ercero comunicador {bastante imitado e quasendo se dterencia em relagdo as partes. E ‘oque acorre, por exemplo, com o comportamento da autodefes, em Sosiedades pouco complexas”.O aumento da complexidadeestrut fal da situag3o comunicativa implica, porém, uma diferenciagio ferescente do terceio comunicador e uma complexidade do proprio Uiscuso, Essa diferenciagao faz com que o dubium confitivo passe ‘arefere-setambsm 30 procedimento decisroe, pos. 8 participasao dd terceiro comunicado,atibuindo-se-Ihe um comportamento pe- ‘ular, no que se reere 2 capacidade de decidir conflitos. Essa peculiaridade, em oposig a outros meios de solugo de «onflitos (seis, politicos, religioxos ee) revela-se ma sua capaci ‘ede teriné-los © no apenss de solucionélos. Vimo, porém, que 15, CF Oxmar Batlweg. oct p10, Nese seta podem obervat que Plato ¢ Arteta Aju ocr de vr complet ‘Mc e qe la sca foe a Sat sr ha ear com 9 prosime (dice adedmoca 1129237 essa Repahien 1 16348) Mesos empe tho de Arce Using oss um see partculrednda,nns ‘Scr coum abl sla J um guna fomal gale propa. fa ca coneco€ haunt id politica na oa tlie CL ta ons aoy Lanvin cits P Torch. sre nenpronsio ofl coosiicionaizad™ Ralph Dabreadodt, Social Rae wd Kasei inde nduegeselic hat, State. 1957 fio. Taker Pusns Te socal sytem. lene ina, 1981p 202: ¢ Niles Latmane pcp. 100 191 Mat Clucnan Pls, fa and ial tbl saci, Oxo 1968, p81 8 6 ecisdes no eliminam confitos no sentido de que a questo dibia Jamis pende esse seu carter. Que significa, pois a afirmagio de que {x nommnas ferminam conflitos? Isso signiic, simplesmente, que a horma (ei, norma consuetudinara, a Jeciso do jie.) impede 1 continuagao de um confito: cla no 0 termina por meio de uma Solugdo, mas o soluciona, pondo-The um fim. Po-the um fim no {quer dizer eliminarodubium primitive que ocore na situa dia, thas trazélo para a stuagao eidica, em que ele e worna decidivel Isso se esclarece se observamnos que tos procedimentos juiciais, por exemplo, constitui-se uma stuagio em que, primordialmente,s¢ arante que os confitantes no decidam eles propros sobre o contli- focmas assumam o papel de pares, aibuindo-o mutuamente, que ‘ra. eno, as condigdes para a decidibilidade do confit". As nor mas assim terminam conflitos no sentido de que elas os Insttacionaizam. E claro que as quests conlitivas,enquanto ques: {es dialdpicas, do perdem nunca a sua reflexividade. isto &, um ‘onflito€ sempre um coaflto sobre o confito, a possibilidade de se {quesionar © prprio confito como tal no se exclu, Af se revela, {ntretanto, 0 earster peculiar Jo dscursojurdico como diseussao- Contra, na medida em que ele era as condigbes para o comportamen- todos partcipes como parts, estabelecendo uma instincia que new ttalizaaaividadee eaividade dreta ds confitantes uns em rel ‘lo aos outros, razendo para asituaeSo uma nova grade procedi- Inento que garante (institucionaliza) 0 confito: no contlito insttucionalizado (confito jurdico) no se questiona 0 “dieito 0 confit”, a0 mesmo tempo em que se determinam qua conitos ‘io permits e quai so proibidos.O discurso juridico possbiit, fenquanto discussio-contra a superagdo da situaglo em que cada um ‘dono da "sua verdade” ese dispde a expd-laconvincentemente em elas ao outro, no sentido de obter-the a adesto, de fazé-to bando- ‘ar Sua propria opinido e aeitar uma outa, obrigando ent que essa fauo-expostcdo das proprias razbes se dé pela asungo do papel de parte conlitane, caso em que as extaégiasdilgicas visam a per TRE Gmar Bane. op ct p 104s TB° EL Nile Lahman, opp 108. Sobre Yesrament a ela es conlitvas sci como tina das mas porate fangs do Die. {fens Parsons, Reet ond wut Rent Sulien und Materiten Sur Iechsotologies ch € M. Rend os). Keel-Oplade, 1971 pier 6s lite MBH: eta Base suadir um a0 outro de que cada qual esti ele proprio, persuatido dlaquilo que diz. fundamentagojuridica, por sso, deve ser persua~ ‘va enguanto apresentagio de motos de decisde. Vé-se por ai 0 canter especifico do disurso juridic e sua tenia de tratamento de problemas, que permitem a apresentagao como corretas de devises ‘biidas de premises einformagaes que eram mis ou menos obscu- ras, inseguras ou dscutveis, Por isso o diseursojurico, enquanto discussio-contra, isto & aqucia em que a fungao da fundamentagio € configurar 0 confito, possibilitando a decisio, estabelece entre as partes uma Interdependéncia descontinua e dinimica, ue as fora a.cooperar. coder a euigiree, Segue-s da uma consclagao de elacionamentos fem que as tatices do diseurso configuram esratéglas por meio das ‘quis cad parte est obrigada nio sb levarem conta aestratégia da ‘utra, mas também a planjaro seu comportamento, no apenas em fungi de cada procedimento singular, mas, sobretudo, em fungao de procedimentos futuros.O discurso juridice obriga, esse sentido, as pares generaliaagio prospectva das perspectvas, As perspctivas ‘io generalizadas prospectivamiente na medida em que elas € atri- ‘uid uma validez de duragio, se ncessirio, contrafitca. Nels se ‘exprime uma pretensio de comportamento que pode ser assumia também com referéncia a comportamentos divergentes. Daf a ambivaléncia do discurso juridice, onde se combinam 0 ftico © 0 ‘ontraftico, este no sentido de uma eventual decepgao, que ¢ gene: Talizada concomitantemente”, © discurso juridio, nesses termos, toma objeivaa dimensdo comunicatvasubjetivaem que o prticipes ‘a discusso se encoattam, permitindolhes um panorama da com- plexidade das suas relagGes, na medida em que certas possbildades ‘io atecipadas, o que nos autoriza aconceber cada decisio singular ‘como um momento entre outs". TH GT promis a dso ste a agus e ening de expecta vas vrais lp’. Sop dd elour an roypaebetemer VOC ios, bee DIN Cr Kal Lane, Methdenlcre der Recowissenschaf. Beli CGintigen Hedberg 140, p 198, Comem cilaecer qu tanto nx Je nt anode dio so eens ma soto mas amp uo wal coneup pte 1) or ao, pene amar qi dbo iio ni se aco peesuriamene fe cicluivament} com a ide proessual mas te Fee tog questo de lnatsgn mcmpatvns Sj de Yana Post © 3. REFLEXIVIDADE DO DISCURSO JURIDICO A caractericago da situaso comunicativajuridicacomo mani festando uma estrutra daldgica de diseussio-contra nos cond, por iio, aoexame da qualidade refleviva das quesies confitvas tno Ditto, Reflexividade, como vimos.€ qualidade de ola as ques- toes dibias, dada a participagdo peculiar do orador e do ouvinte [esses termos. no ¢ if ver que também o dum juridico (eon Ato insttucionalizado) éreflexivo, na medida em que &constitigho {a alternative em relagao a uma norma pode ser de novo questions da, isto €, 0 que se questiona, enlio, no sio as possibilidades ‘estrturadas em altemnativas, masa propria relacdo & norma que per- tite esa exruturago Vale dizer, reflexivamente, dubium juriico ‘acaba por se insalardeniro da prpia norma. Isso signifies que, no {iscurso juridio, nos as normas estutiram as posibilidades ab {emadas, mas as pr6prias normas,reflexivamente si questionadas em Fangio de outtas nommas, donde a observagdo de Kalinowski™= Segundo a qual as regtas de substiuigo do “sistema lingtistico” do dlireito perencem a0 “sistema como tal, sto &, elas tambsim sto regs jurdicas. A captagio do objeto do discuso juridico como um dubia ‘que no 56 se elere a uma norma mas que se instaura dentro da “ie dem de wm camp de Nesibde que dina 9 ndirenga quano » “Sores elevanies © apace Bealls flv. tandose trai um campo de soibges egtalentomene tianes. Eom dub hot enc em, tamer 9 que sige area ams eae wa re ue tsi oar uel compra 0 em ec por sta ver. ‘vse wceiica com sss ja me toca des epi. to Mims,» concise tatusta ce. Nee seta & que dre sor © Kn jo 9 cf ota ato 6 permite asa, © ‘ge reqer deco cuanto lings funda. Qu gra eto. ‘ade pla sou sutersead,¢ que he pe fmm ea de ue pe & 2 Georges Kaos, rradcion d fsig itu Pans. 1968 192 Nea propio cm onset algo) sudo em tore do Ueto de vce aude nc grandes ote (EU. Get Bret Chins Franga © URSS), no seer a questi no proces an. 37 84 Cara ts Noes Unvsn ustjesepulametgao opermia sing an 3 {neste a cem contact com send ho prota que samen sic de vcr O dinpoiive do dopo veto cosines ets th ‘Reune emiestement Slope no sett uso, extablecend- Some ‘Ser de ubuigh nomaten no sema procera em el or ripria norma, em termos de reflexividade. permite-nos entender a Uialogicidase pripia do direto como dialogicidade normativa. Sendo {Tnorme jurdica mo um a prior’ Formal, mas, ela propria, o produto eum processo decisdrio multidimensional, sob 0 ponto de vista do tiscuso, ela € uma agdo linguisticaracional, no sentido de discurso fundamentante. Produto de uma decisSo, 2 norma juridica decide por sua vez, sobre eventuas confitos, resultantes da recusa de co- fhunicar-se dos parceros socais. Em nossa terminologia, dsfamos {qe & norma instaura uma discussde-contra e, concomtantemente, tm termos de reflenvidade, ela pressupde também uma discussdo- onira Em ambos os cass, a prpria norma permanece sempre como ‘centro do dislogo. Nese sentido o direito no é apenas um dscur- $0 sobre normas, mas é, ele proprio, normativo. Dai o caster ormativo da sa dislogicidade, no sentido de que estamos, no plano jurdico,obrigados a dalogar. CO carter reflexivo do dubium jriico nos permite finalment ‘bier um crtério organizador para dangle que pretendemos fazer {lo iscutso no Direto, Na impossiblidade de executar essa anise ro que se tefere a totidade do seu repetirio discursivo, vamo-nos tera tds aspects que os parecem marcantes. A. qualificacio desses fspectos como marcantes decorre,justamente, de uma pista fornecida pelo carter reflexivo do dubiojuridico. Ela nos autoriza a assumit finda que heuristicamente, uma doutrna tradicional da teoriajurii fa, no que se refer ao processo normativo, Sendo, vejamos ‘Quando nos perguntamos em que sentido, de que modo ¢ em {que limites participagao ds diversos interessaos na discuss ju- ‘ica ocorr.pazece-nos inadmissivel que em referéncia a qualquer ‘eles, trale-se de jutzes, advogados, funcionérios administrativos, ‘adios em geral ete, aqucla participagBo sea, em prinepio, a de tim ouvine passivo, Concepgdes dessa espécie, se & que so ainda radicalmentedefendidas, constitem uma constante isso, Apesar isso, a doutrina tradicional eontina, de certo modo, a conceber 0 pepe do juiz, por exemplo, na elagao de comunieaglo, em termos ‘Se mero eeceptor passive que pesem a eorias sobre a participa Go ativa da jurspeudzncia na elaboragio do dteto Ti Gi Fates Linon! Frans Da jury como dio postin. ‘evista Fale de Dred Universe de Sao Pan, 197, a0 6, Pp ables Linon Fangs. ness taal, roca. jst. pera a im [esa douring aca, som uma aumento asta comincene rs CCostuma-seestabelecer, destart, uma cisio — sinda que no ical — entre duas fungdes no que se refere ao processo normative: ‘de um lado, a produsdo da norma; de outro, sua aplieagdo, Embora ‘entre as duas fungoes se reconhega um relacionamentoessencalesse relacionamentoraramenteé encarado como sintese. Um indicio di 0 poe ser encontrado na relativa pobreza da literatura juriiea so- bre as tcnicaslegislatvas, em proporgzo com a riqueza dos traba- thos sobre hermenéutica, © jurista enconra, sua disposigso, uma série enorme de técnicas que sempre The permitem uma solugio para tum caso dado. O fato de se valotizar a apicacdo € acompanhado, ‘porém, da aribuigo ao intéxprete de uma fungo relativamente pas siva de receptor de ums informagdo. O pressuposto teorétic dessa ‘concepgio localiza-se no que poderiamos chamar de principio da tunivoeidade. Com efeito, nos trabalhos referentes is téenicas legislativas, entre as poueas exigéncias pastas ao leyislador,encon- ttamos a de que este deve empregarformulagies clarase precsas, donde, se possivel, o uso, para os mesmos conceitos, das mesmas palavras. Essa exigéncia encontrar também na literatura no ju ‘ica Em que pese a superagao dos preconceitos da Revolugo Fran ‘esa contra ajuisprudéncia, essa exigéncia & hoje ainda um ideal da téenica legislative” © reconhecimento de que muitas expressdes de um texto normativo so equivoeas, ou mesmo a afirmagdo mais ampla de que Ch Rovtent Wine, Cibendica¢ socedade — 0 m0 bumano dos sees himanon tad 1 Pac. Si Pa 96K pilex Wnt m0 erie ‘scones em frm de ebencca to eto foraea da sogume Imani par uc Or iss poss crest yea ssn ie {Ure deve, deve ser eid posslidade de prev dr decabes jas ‘psa cn dao, lis peste qo noma epeiieament se. 3. Jim cle. Segue Ga ogagie ano egador de proreenecas ‘inne uavocon, de ul au no apenas on mar qolger pessoa, oder meres det dak do O proprio Wiener recomece ete Tov. carr nial dv exncla amano ara vera. Qi co ‘eto junc noo sc orenmigie ama mn eno teria dels Set am mn pon pr ens Soe 8 itn prcn, nse. "Du pusilla pve das lait ‘Sr coulado st sensar’, Ana do Sipe sob Citra ¢ amantoae, Sio Pai, s7t-p 23 ¢5 BS CL. Vite Ra 0 dt ida dos dros, S89 Pl, 1960.1 p18 sta Ap Sve rn mo rt be 6 até a patavra clara eunivoca da fei deve ser submetid& interpret ‘Gio, Mio chegam a alingir 0 principio. Na pitica,entretanto, ocor em algumas dificuldades. Assim, de um lado, vemos que a Joutrina tradicional entende que cada expressio conceitual de um comporta- ‘mento refere-sea um comportamento “real” E exatamente isso que ‘briga que essa referénca sea clara ¢ conhecida por todos. Sabe- mos. por outro lado, pela propria literatura juriica, que isso na pri tica nfo se di Isso coloet 0 juz, o promotor, 0 advopado, enquanto receptores (na visto tradicional, passvos) das emissores legislaivos, ‘a diffe stuago de procurar, por meio de comparagbes aproximiae das, a relagdo enze casos conctes,referidos a padrbes abstratos, ‘ifculdade que, de ato. qualquer jurist, dado o esquema teorstico ‘igen, pode perceberjé no compendia a revisasespecilizadas © ‘que reproduzem catilogos de decisdes,remetidas a indices de ter ‘os-chaves, agcessriamente incompletos eimpeteitos. Aomesmo principio lingistic vincula-se ainda dowtrina tea icional, ao sustentar 0 principio da dvisdo dos poderes, que impli ‘a, porsua ver, uma concepea da noema jurdica como um impers- tivo acabado e dado antes do caso concret aque elaseaplica. Dafa tendéncia a confundiro texto da norma com a propria norma, 04 pelo menos, a tendéncia em admitir que a palavra da norma exprime Basicamente, de modo suiciente e adequado, a sa valde. Prevale ce ‘ecortncia, 0 aspecto téenio- formal da vigéneia da rorma, cuj sistema se orden, eno, segundo uma eseala Tinear © hherirqica, tomando-se a dogmiticajurdica cega para as exigen- cis de operacionalidade e comunicabilidade do discursojurdico™ Em que pesem, porém, esas diiculdades, quer-nos parecer que a dstingd0, no processo normativo,ente a fungdes fazer e aplicar fefletem, no fun, a estraturadildgicae, pois, reflexiva do discur ‘so juridico, Assim, sem acetar integralmente 0 que diz a doutrina Sobre arelago ene elas, podemos assumi-l (heuristicamente) para pont os aspects matcantes Jo discurso do Direto que desejamos ‘examinar, Nesses termos vamos flay, genericamente, do ponto de Vista da aplicagdo, em discurso judicial, do ponto de vista do fazer, fem discurso da norma. O terceio aspecto consttui metalingua- fem em relagdo aos anteriores e, nesse caso alamos em discurso da Cacia do Dieito, THEE Migvel Ree Odin... 9. 167 € da nada nos diz, por enguanto, do come do de cada um dos aspectos que tomamos como exemplo pura a lanslise. Nada nos diz, lambs, da relagdo que estabelecemo et «les, Deixa de lado, tambsm, uma série igualmentesignficativa de ‘tuagies comunicativasjuricas que, por economia, mencionare- ‘mos apenas de modo subsidirio, Ela organiza, porém,oestudo que sesegte ‘A relevincia aribuida a esses ts aspectos tem, além disso, ‘uma outra caracteristica, Ela no cast mas intenciona, pos ass rmimos que tanto o discurso judicial eomo o da norma e 0.6 Ciencia ‘do Direito, em que pese 0 sentido que aribuamos a cada um dees io tradiionalmente objets-padrdes da pesquisa Hilosético-jurdi- a. Assim, por exempl, encontrams, da parte da liga, certas is- tings metodolgicas que ferem os aspectos mencionados.Tarumelo ‘nos fala, nesse sentido, em légica “do pensar sobee 0 Dito” (Guritsche Logit) ¢ligica “do pensar jurdico” (juridische Logik). listingao essa que se apica ao discurso da Ciéneia do Direito de um Tad, aos discursosjiciaise da norma de outro. Em que pese a ificagao precisa que essa expresses tomam na obra de Tammelo, ‘que alas no correspondem perfetamente aos aspecos que nos Peo- Pomos a examinar. queremos salientar, por fim, 0 carster txempiificativo da nossa propria anise, que pretende asinalar con tudo, um eaminbo para uma eoria da pragmitica do discurso ju coem get " Cariruio HL 0 Discurso Judicial 1. CARACTERES GERAIS Antes de mais nada faz-se mister esclaecer que a andlise que fora encetamos, a0 refei-se a0 discurso judicial, faz abstragao de Aliferengas especificas relacionadas ao discurso processual civil, pe nal, trabalista ete sso no quer dizer, porém, que a analise preen 4a constitirse numa espécie de investigagio da “teoria geral do sdscurso processtal”, na medida em que ela abs. outrssimy dile- rengas fundamentals como aquelas que poderiam ser observades en- tre discursos processuais administatives, financeirs,eleitoras, em ‘que ha uma intima ligagio com a praxis dadecisio politica dos stax ‘dos modemos, de diseursos processuais clissicos — civis e penais ‘ein que aquelaligagdo toma outros contornos, de expressdo me- nos clara e mesmo latent. Ao falarmos, pois, de diseurso judicial © nio exatamente de discurso processual,concentramos nossa atenga0 rum situagdo comunicativ especifica, a que ocore nos dscursos fealizados em tribunais, mas também no comércio, nas relagdes ‘ontrtuaiscivs ete, atendo-nos aos seus tagos comuns. os quais ‘os permite vé-los como procedimentos diseursivos, ito agBes Tinglistieascontroladas por regrasjuridicase, pois, formas de ats ‘0 socal insttvcionalizadase generalizadas™ (O sentido oficial do process judicito, para concentrarmo-nos num dos moos mais importantes do discurso judicial, &o de instr ‘mento de composigio de uma lide Sabo ponto de vista da situagdo ‘comunicativa diseursiva,diriamos que se tata de uma relaio entre ECE Nias Lahn, Lepimiion ct 57658. 38. Cr. ene oun Jou Fredrcn Mares et er de dino pro esse el Sto Fal, 1088 Cap. oe Moneys Amar Setos, Dito paces Sa i Sho Pal, 162.61. Cap 2 iverson participes,eujo sentido & a representa da busca de uma tdecisto. de acordo com certs regras, Essa concepe0. em que Pes ‘sa extrem generaidade, nos aja, inicialment, a identificar os Compunenteshisicos da stuagao discutsva,oradoreouvinte eobje- to do discuro. Quanto aos primeitos,distinguimos, em principio, fentre agucles que decidem — emissores — e aqueles que s20 os ‘estnatirios da deisio (receptores). Os emissores no so, neces riamente, os juizes, mas todos aqueles que devem encontrar a deci- ‘Sho. Os tecepfores, por sua Ver, s80 08 gue devem romdla como promis do eu prprio comporiamento™” Sendo alvo do discurso a tecisdo, 0 seu objeto dialdgico — dubia —,de discussio-contra confliv, Enire orador © ouvinte hd uma correlagio. Dada a regra da i “essa correlagaa manifesta, inicialmente, uma assimetria caracteristica. Essa assimetsa resulta das funges prag- tdticas peculiares do discurso judicial. Assim, quanto &funglosin- {omitica, odiscurso manifesta graus diferentes de personalizago da gio linguistics. Lubmann aot, nese sentido, que os emissores da deride justia erp come Incatijcvamente venfciel em feos de "armies ide com jst 02 ‘Se confme sve dl ge regs o confi” (Money Amaral Sats oon p38 “Hc times Riad, Teoria do aprendcogem ea. NP Mes. de Atride Gordes «A Ranch, Sto Pl, 1986 p ete S720 "Ws Op cl, p lds « Deutch sees oon Dold (The seston ‘sew obi Ralph Lion, The setence of ma on the mold eis, Sew York 1S. p42) 7” podemos pretender apenas uma “satsfagSoimediata” das partes, no jode que estas se"acomodam” ov "assimilam™®. A “acomods- ‘Gio” Cuma forma de subordinaso e pode ocorrer como compromis- {o, conciliago ou tlerincia. No primeiro caso, as arts se sentem ‘gualmente fortes, No segundo, ha uma asimetia de Forgas. mas hi tums incerteza quanto sua distribuigdo, No tereir,s6 ha composi- ‘oem razio de um confit maiot desfavoravel, Sob 0 ponto de Vista da decisdo, teriamos respectivamente mediacio, arbitragem, senfenga, A "assimiago” € um processo de interpenetrag e fusio. ‘como ocorre na relago ene ohomem ea mulher, estabelecid pelo ‘casamento. Como se pode pereeber, esse primeiro nivel no esgota as possibilidades, apontando para situagGes mais amplas referentes 4s expectativas condicionantes da prdpria “satisfagao imediata” — ‘expecativas grupais — (segundo nivel), &s expectativas garantido- ‘as das expectativas grupais — sociopolitcas — ((erceiro nivel) eas ‘expectativasinsitucionalizadors da possiblidade mesma de deter tminagio dos objetivos — expoctatvas juriicas (quarto nive), Isto posto, pademos dizer que aprender &respeitar a expects sivas modiicadas pela deciso,acitado-as como um fato. Néo apn {er €recusarse a aprender, permanecendo em estado de protesto, mantendo as expectaivas desiludidas”. Nao Se trata, porém, sim plesmente, de um processo de dominagdo-obediacia (mondiog0), fnas de ut processo de controle da prprio comportamenta capaz ‘de modifica, retroativamente, os proprios objetivos logo) dada ‘uma stuago especifica, o que faz dle um processo que ulrapassa 0 plano individual, exigindo, para ser entendido, uma cert dissolugao {Sas motivagSes, dos impulsos da reages numa ordem social com plexa. Nesses termos, o controle discusivo da decisio exige certo planejamento e inovagio, no no sentido de uma “légia objetiva". ‘mas de uma "psco-Togiea”, no sentido de uma expforagao mais com- Pletae minuciosa possivel em ermos de esorgos sucessivos a partir fle frustragdes ocorridas ou previstas, das possibilidades argumentaivas. No que se refere ao diseurso judicial, euja diatogicidade normativa estabelece a obrigagao de interpretar,o planejamento VEE Witiaen F Osburn e Meyer F Nimkot; Acomodagio © asimils os inflomem este cep. 264€ 5.62775 “WE Nias Lanmsom epimation tsp 38644 80 Cpsico-igiea”) se di de acordo com um conjunto de preserves Inlerprtativas de nalurera pica. Essa natureza nos faz VE-as come Frmulas de procura ow ainda operagoes estruturantes, como disse- ‘mos anteiormente, que nos ajadam a contol, no seaido de deli- iitar, restrtva ov ampliicadoramente, a comunicagao discursiva, fh medida em que, com o seu auxiio, a estalégiase a tticas se ‘diam programar Como esas prescrigdes manifestam um aspecto formal eum material, distinguimos agu entre “tpica formal” pica material” A-*t6pica material” constitu, nosso ver, um conjunto de pres crigGes interpetativas reerents i argumentagio das partes n0 sea interrelacionamento, mas do angulo das intengdes persuasivas de tama em rela 3 outr, isto, sob 0 pont de vista do seu interesse subjetivo. A “tépica material” proporciona assim. s partes um re- perlério de “pontos de vista” que elas podem assum (ow eta). no Tntuto de persuadir (ou dissuadr o receptor da sua ago lingiistica, (Os participes do discurso judicial, a0 desearinluenciar 0 de curso do dialogo-contra, precisam progr uma impressio coavin tente e confiante; a suas ages lingbisticas devem ser dignas de {rio Iss0 nos faz ver que a obrigagio de interpretar comeys ji na Fungo sintomtica do discurso: as parts prineiplam por se interpre taro que transforma o seu dscurso numa espécie de automanifest¢0 ‘da propria imagem. Por isso as partes, por exemplo, numa discussto processual, sabem o quio importante é para clas a produgio de fuloconvicydo, embora endo em vista aastcia tia, elas proc rem "esconder” o mado da sua manifestagio, pois a concomitante presentagao do modo da automanifesagio, dala a reflexividade do ‘ialogo, toma vsiveloutrapossibilidade de apresentago. que pode ‘desacreditar ou enfraquocer a impressio de conviegloe confanga Na discussdo-conta judicial, portant os patcipes perdem a sua ‘eventual "ingenuidade”,Tsso sedi, justamente, com a ulizao da HET. Chm Pecan ef, Oltec-Ty ten op cit. 253 es: Nese sentd bucvam ees, mater de anasr atu dem sears ‘eronc pd. cm pcp parse de one ae eee discus, no Semido {Ec ucatra tra pn Scr ps tors lesen Jo profio dean gues abe catia como erat Dato at de got {a ule eur sempre com a dead de eee eguemas stots thc amas sorespomdcis testa efetvameme soncebs plo apie Sadr at dew Scan 8H “pica material”, que serve onto, exigéncias da asta ttiea no processo de argumentagio, Na verdad, se aforga da argumentasi0 {st ligada a um rect dicere "pica formal”) ca no pode olvidar 0 tpene dicere (pica material”) ,que aleangado pela uilizaga0 asucios dds categorias de mudanga(adjetio, ou scréseimo de uma parte n80 pertencente o todo; ranemutatio, ou roca de uma parte no interior do {oxo immaatio, ou substituigfo de uma parte do todo por outa que ‘em de fora eno pertencia a0 todo; detract, ou etirada de uma pare pertencente so todo)". ASsim se a argumentagao nfo po igno~ Faro rece dicere, sua corelaga0 com o ene dicere imp wo discus {uma Timitagdo,porém, essenciamente mével, pois esse Bene (bonu) post uma duplicidadesignificaiva que envolve no 6 as "virtues téenicas” Jo discursr, mas também os mores orator ‘A automanifestagio, no discurso judicial, tem, porém, como issemos, um earter preseitivo, pois 6a auto-interpretago hi uma tspécie de dever de consistncia to papel asumido e expresso, n80 poviendo ser mudd ao pazer dos partiipes. menos que haja uma ba rao para isso, necessidade distorepousa no fato Je que, até ‘certo ponto, a consisténcia serve de orientaedo para o comportaren- to dos demais panics", Assim, a expressividade do discuso ten- dea se tormar“norma” que obrigao que fala a se engajar até mais do {que ele pretendia, donde o protocolo das declaragdes tetas, regista- {o, muilas vezes, numa linguagem que nem € mais ado orador, mas ‘ada policia, do processo, da administragdo, da lei. Afirmagies Profocoladas documentam 0 métuo entendimeato, ainda que provi- tio, que, se ndo se refere aconteids, pelo menos se refee a0 fat tle que una afirmagaoefetivamente pronunciada 0 foi efeuvamente, no podendo ser desacreditada sendo em virude de motivo espeiais {que ocorem por forga de cert imprecisdes evenuais que esto su jas, de novo a interpeetages supervenientes (supra as reprasb 2 edo didlogo} Dada a assimettia da fungio sintomstia do discurso judicial (0. supra, . 74), deveros considera a“impessoalidade” € a "pes- soslidade” da expresso como os caractres primeiros da automa festagio.O discurso das partes “profssionais” (as que buseam a de. TEA Lasers. om itp. a85 6» Sif. Eving tina, The presentation of sl m every ie Garden y-New York 1959 iso) assume ums “impessoalidade” na medida em que elas apre Sentam as suas ages Tinguisieas como um ndo-padrdo, impodinds, assim, uma transferéncia do que se diz para outros papsis". A impessoalizaao” nao isola os papéis, apenas os sara, permitindo istncia ds papsis™. Nesses termes, por exemple, 0 discurso Aa juiz€ guiado por “topo materia” como "neutealidade”,"seren

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