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Os tits fills mais velhos de Raimundo Caetano construiram moradas em torno da casa do pai, nunca abandonando a zaliléia, propriedade da familia desde os primeiros sesmeiros. Apesar das divis6es a cada morte de um patriarca, ela conti- ‘nua extensa como se crescesse em vez de minguar. Latifiindio improdutivo, em nada lembra os inventérios do passado, com axé doze mil cabecas de bois e vacas. — Os tempos sio outros — diz Raimundo Caetano. — Aterra perdeu a sustancia. De onde sc tira e nunca se bota, acaba. ‘Ao lado da casa do av6, uma outra se destaca. Com pottas altas e janelas parecendo ameias, suas paredes grossas formam um quadrado, perfeito, Solitéria num terreno de la- jedos, ninguém que nao a conhega sabe por onde entrar nela. O norte repete o sul, o leste e o oeste. Lembra uma pirimide funerdtia. Opressiva por dentro e por fora, a Casa-Grande do ‘Umburzeiro deixou de ser habitada desde que um antepassado assassinou a esposa ¢ trancou-se dentro dela, Alguns afirmam que ele munca mais deixou 0 quarto escuro onde se escondeu. ‘Outros juram que fugiu. Lacraram as portas c janclas da casa, com tudo 0 que havia dentro. E sé foram reabertas cinco gera- ‘GGes depois, pelo nosso tio Salomao, quando o prédio ameagava tuir. O avé Raimundo Caetano se opés com veeméncia & de- cisio do segundo filho, temendo os miasmas estagnados a0 ongo dos anos, convicto de que eles se espalhariam por sua familia, contaminando-a com os mesmos impulsos assassinos, a loucura e os desvarios do tio infeliz. Estudioso do Levitico, as maldigées o aterrorizavam tanto quanto a lepra. —O inforttinio se multiplica no vento — afirmava. “A Casa-Grande do Umbuzeiro nos espionava, enchen- do de pesadelos nossas noites. Escutdvamos os gritos de tio Domisio, preso no quarto escuro. Amatrado @ um casamento imposto pela familia, Domisio sobrevivia tocando rebanhos de bois para o Recife. Numa das viagens, apaixonou-se por ‘uma moca jovem e risonba, na cidade de muitas igrejas. Jurou aque era solteiro e acertou casamento. Mas, no sertao distante, cexistiam os filhos ¢ a esposa Donana. A tinica maneira de li- vrarse dela seria matécla, Procurou os dois cunhados ¢ jurow que Donana o trafa. Encontrara rastros de alpargatas e chine- Jos na areia do riacho onde ela costumava se banhar, Marcas pequenas, de pés femininos, e marcas grandes e profundas, denunciando pertencerem a homem. Os cunhados néo acredi- taram em Domisio, pediram que arranjasse outras provas. Sea inma fosse culpada, fizesse a justica de direito. Mas se tudo nao passasse de mentira, eles se vingariam. Domisio matou Donana com um punhal de cabo de madrepérola. Enfiou-o nas costas da mulher. O sangue tingi 0 riacho Trici, correu para as dguas do rio Jaguaribe e depois para o mar, — O que fiz? — perguntou apavorado, as maos € 0 peito vermelhos de sangue. Pediu asilo na Casa-Grande do Umbuzciro, onde mo- rava seu imo, um padze que campeava bois durante o dia, rardinha celebrava missa, e de noite deitava com uma india. Com ela teve doze filhos homens, niimero igual a0 das tribos de Israel. — Fsconda-me! — suplicou. Os cunhados vieram atrés dele, o punhal ensangtien- tado na mio direita do mais velho. Queriam arrasté-lo do quarto onde se escondia. Anacleto Justino, o padre, suplicou aque respeitassem as Icis da hospitalidade. Prometeu que man- daria o irmao embora. E, af, fizessem o que era de direito, em qualquer descampado, encosta ou serra, mas dentro da casa, no, Casa ¢ refiigio, tivero materno. Nela, tudo se oculta. — Ainda que seja um assassino, 0 héspede € sagrado debaixo do meu teto — falou. batério conv sertangja dent estantes onde g minotauro. mulheres ¢ a mais argos, Domisio Justino nunca mais foi visto, fora ou dentro Grande do Umbuzeiro. A amaldigoada que o tio Sa- teimou em abrir e reformar. Tio Salomao estudara novas ciéncias, se iluminara = 05 positivistas. Recebera outra luz, niio apenas o sol da dda. Munido de martelo e alicate, arrancou os pregos en- crujados das tébuas que interdicaram por anos as salas ¢ os 0s escuros. — Luz! — gritava. — Abaixo o legado da ignorancia! Homem dedicado aos estudos ¢ investigacies, celi- batdrio convicto, colecionou livros ¢ ergueu a sua Alexandria raneja dentro da velha casa, construindo um labirinto de sscantes onde gostava de se imaginar desgarrado como um inotauro. Nos tiltimos anos, desde que 0 avé Raimundo Caeta- no adoeceu, tio Natan assumiu a administragio da fazenda. Mora sozinho, como os tios Salomao ¢ Josafa, porque jurou nunca mais por uma mulher dentro de casa, desde que a es- posa Marina o abandonasa, levando o filho Davi e deixando Elias, 0 primogénito. Se Natan é temido pelo genio irascivel e Salomio respeitado por suas idéias originais, tio Josafi ocupa © posto de tio mais querido. Os outros cinco filhos de Raimundo Cactano, quatro mulheres e um homem, debandaram em busca de horizontes mais largos, supondo ficar a salvo do controle tirinico do pai. Tiés filhas ndo foram além da capital, Fortaleza. Enquanto tinha sade, Raimundo fazia visitas regularcs a clas, sob o pre~ texto de consultas médicas. Na verdade, vigiava as pobres mu- Iheres: uma viva cujo marido enforcara-se apés um fracasso financeiro; uma divoreiada que nao fora capaz de administra as traigbes do esposo; ¢ uma solteirona que nunca consegui- 1a destazer-se da paixio pelo pai, nem compor outra imagem de homem no seu fechado coraséo de Electra. Minha mae 56 escapou dessa rede pegajosa, casou-se e foi morar no Recife, distante de Arneirés e dos parentes. ‘Tobias, 0 mais jovem dos irmios vivos, fugiu da Ga- lilgia com apenas dezessete anos, depois de uma disputa com ‘Natan. Discordaram na partilha dos rebanhos. Tobias sentiu- se lesado pelo irmao mais velho ¢ resolveu ir embora da casa dos pais. Passaram-sc tantos anos sem noticias dele que todos jd 0 imaginavam morto, Rezaram-se missas ¢ novenas pela salvagao de sua alma. Num més de dezembro, sem ninguém esperar, chegou um cartao de Natal, com votos de boas-fes- tas, escritos na reconhecida letra do tio, causando rebuligo na familia. Havia 0 endereco do destinatério no envelope, e nada escrito no local do remetente, O tio nio desejava ser achado. Mordido por algum remorso, dava pista de que se encontrava vivo, mas no dizia em que lugar. Comegaram as diligéncias para identificar a cidade de onde partira 0 cartéo Iuxuoso, com pinheiros e neve em estampa de seda. Atra- vés de manobras ¢ consultas aos correios, ¢ com a ajuda de parentes, chegou-se a Corumbé, no Mato Grosso. O restan- te foi bem mais facil. Num cartério de registros de iméveis, conseguiu-se localizar o filho prédigo, mas ninguém possula coragem para ir ao encontro dele. Quando era pequeno, To- bias tornou-se famoso pelo génio cruel e irritadico. Matava ninhadas de pintos, e se deleitava com os estertores das aves. Segurava-as pelos pés c batia as cabecas numa pedra. Como se nao bastasse, amarrava os rabos de bois e cavalos, sentava na porteira do curral e assistia & luta dos animais, até as cau- das se partirem. ‘Tio Josafé nos revelou, o que aumentava as chances de tratarse de mais uma lenda familiar, que Tobias possuia dons adivinhat6rios, que chorou na barriga da mac, ¢ mal nasceu disse algumas palavras, registradas por nossa avé num. pedaco de papel, guardado dentro de um livro. Maria Raquel, a0 contrério do marido, nunca teve o habito das leituras, co- chilava depois da segunda frase de um romance, preferindo © comércio de ovos, quijos e manteigas, antes de instalar-se com 0 negécio das redes. Os tinicos livros que abria e fechava 7. cram dois dlbuns de capa grossa, que vieram juntos com a primeira maquina de costura comprada pelo nosso avd, a0 preco de dez bois e sessenta sacos de feijao. Nesses livros, com esenhos de bordados ¢ moldes de vestidos, nossa avé guar- as economias, cédulas de papel estiradas entre as folhas, vitando que dobrassem e amarrotassem, La ficavam sem maiores usos, nos tempos em que pouco se comprava, Somen- quando passavam os mascates libaneses, “os turcos", com s cheias de tesouros, parecendo a caverna de Ali Babé, Maria Raquel dava-se a0 luxo de gastar em pentes, marrafas, dros de perfume, batons, ruges, tecidos, cordées de ouro, is, espelhos e outras bugigangas. Nosso av6 vigiava de lon- ‘gs, louco que no meio dos panos brilhasse a prata de algum hal, ou o cano de um revélver, objetos atraentes para os 1ens, Mas nos caixotes e malas dos érabes, transportados Jombos de burros ¢ jumentos, néo existia quase nada do ‘gosto masculino. ‘Maria Raquel escondia os livros no fundo de um batt de cedro, dentro do qual transportara as pecas mais finas do enxoval de casamento, e onde meu av6 deixou cair por aci- dente um vidro de extrato francés. O perfume nunea desapa- receu, nem mesmo quando o bati se desfez em pano e eébuas, servindo & carpintaria de uma chapeleira, que perfumava os chapéus ea cabeca das pessoas. Os livros ganharam outro esconderijo, e tio Josafit guardou um retalho do forro do bati, para conservar a mem6- ria do perfume. Todos os sobrinhos submeteram-se ao teste de colocar o tecido diante do nariz, fechar os olhos ¢ descrever sua fragrdncia. Cheirdvamos 0 pano, viajando em lembrangas de rosas, cravos, jasmins, mel de abelha, inventando o que nem de longe sentiamos, pois o damasco velho e sujo fedia a guardado, peido e mofo. ‘A.avé Raquel nunca cedeu as siplicas dos netos, ja- mais mostrou 0 papel com as revelagées de Tobias. Em suas auséncias de casa, revirévamos malas ¢ armérios procura dos livros. Nunca encontramos uma pista. Raimundo Cactano nada sabia, pois viajava quando o filho nasceu. E 2 parteira, 58 Sinica testemunha de nossa avé, morreu pouco depois do nas. cimento milagroso. As imagens que restaram de Tobias foram essas, um pedaso de papel extraviado, com as anotages de sua fala pre- coce, € um cartéo sem enderego do remetente, que Raimundo Caetano expés sobre um consolo, na sala de visitas da casa em Arneirés. Procissbes de parentes desfilaram para ver a miniiscu- 4a paisagem de neve. A seda, sobre a qual foi pintada, também cxalava um perfume. O avé expunha 2 intimidade do filho. Redimia-se do fracasso de ter sido abandonado, e orgulhava-se dda suposta riqueza de Tobias, manifestada no cartio de luxo. Raimundo Caetano softia de enxaqueca desde pe- queno, © experimentou os tratamentos mais extravagantes na tentativa de curar-se. Mas 56 a idade trouxe alivio para 0 desconforto, quando mudaram os humores do avd: de quente fornaram-se frios, sossegando os impulsos sexuais ¢ as dores de cabega. Com horas certas de acordar e dormit, Raimundo 86 fazia trésinicasrefeigdes por dia. Quando o reldgio da casa tocava cinco badaladas, ele sentava a mesa para o café-da-ma- nba. Até 0 almogo, servido pontualmente as onze horas, nao botava um copo d’gua na boca. As cinco da tarde, jantava. As oito da noite, iniciava 0 complicado ritual noturno. Dor- ‘mia num corredor da casa, pois ninguém o convencia a deitar- Se num quarto, desde a separagao fisica de Raquel. O corpo atravessado numa rede, um lengol debaizo da cabega, um pé tocando a parede, Raimundo se embalava até que o sono che- gasse. Sono curto e leve, cheio de sobressaltos e pesadelos. Desde que adoeccra, Raimundo Caetano fora co- locado numa cama. Esai e Jacé néo conseguiam acomodar ‘numa rede seu corpo gordo e cheio de escaras. Foi como se 0 condenassem 2 insénia perpétua, ao inferno de ver as noites Passarem, olhando os caibros e ripas do telhado. As pernas Paraliticas no embalavam 0 corpo, 0 corpo néo adormecia balho feito m suns nao mente, a mente trabalhava sem trégua, tecia rolos de fio de mentos, como os reares em que se fabricavam as redes, cdo nas lembrangas, sem ter mais ninguém a quem abrir © coraco, porque era o tiltimo da sua espécie, Raimundo tano sentiu-se condenado & morte sem direito a apelacéo. Entretidos com o pastoreio dos rebanhos de gado, tra- 0 feito nos campos abertos, os primeiros colonos dos Inha- nns nao ligaram para a construsio das moradas, cuidando apenas que fossem anteparo para o vento ¢a chuva. De palha, primeiras casas pouco diferiam das cabanas dos indios, es nais tarde as substituiram por construgées de taipa, de largos lpendres. Cho batido de barro, méveis escassos, uma mesa ¢ cadeiras, batis em que se guardavam objetos de ouro e prata, redes penduradas em armadores de parede. As camas peregri- navam de casa em casa, emprestadas, para que as mulheres arissem — as que preferiam ter os rebentos deitadas, porque 2 maioria nao desaprendera o costume das antepassadas jucds, parindo de cécoras. Quando se acumularam riquezas com 0 criatério de gado, surgiram construgées de vulto, verdadeiros palicios, enfeitados com estituas de mérmore vindas da Europa, que chegavam aos portos do Recife e Aracati, para a longa traves- sia pelo sertdo. Consistiam proezas essas Viagens, algumas se transformaram em romances cantados pelos poetas violeiros, ¢ «em corddis impressos nas tipografias. A mais famosa de todas as casas, o palacete de um visconde, possula cento e catorze Portas ¢ janclas. Foi erguida num terreno elevado, um monte de onde se avistava o rio Jaguaribe correndo solto. A casa de Raimundo Caetano na fazenda Galilia ne- {gava os conceitos de uma arquitetura funcional; seguia 0 mo- delo trazido pelos colonizadores, repetido ao longo dos anos. O pé-direito ultrapassava oito metros, permitia que o ar quente circulasse € a sujeira cobrisse o telhado, formando novelos de 60 Pucuma que ninguém conseguia remover por conta da altu- ra, Orientada pela moral de um tempo em que mandavam os homens, a sala de visitas abria-se para fora e fechava-se para o interior, onde as mulheres recolhiam-se nos trabalhos domésti- os, ou em quattos escuros e sem atrativos. Em mais de duzen- tos anos, desde que demoliram a primeira conscrugio de taipa ¢ Ievantaram no seu lugar um edificio de tijolos largos com alvenaria de barto e cal, vigas, caibros e ripas de cedro, e telhas moldadas nas coxas, a Casa da Galiléia softeu reformas e acrés- cimos. Cada morador deixou nela uma marca de sua passagem, um embelezamento ou estrago. Mas nunca conseguiram re- mover a pintura de cal virgem, diluida em égua e clara de ovos para garantir a aderéncia ao reboco, a duragio ¢ o brilho. Quando restaram na casa apenas Raimundo Caetano, aavé Raquel, Tereza Aratijo ¢ os dois rapazes Esati e Jacé, ela entrou em decadéncia, ameacando ruir sobre os donos. Os f- Ihos, netos, bisnetos, parentes ¢ agregados retornavam apenas nas festas do padrociro, aniversirios e férias. Os avés jd no sobreviviam dos plantios e dos rebanhos. © principal sustento vinha de um fabrico de redes artesanais, empregando mulhe- res na manufatura de punhos, cordécs, varandas de croché € bordados. Os quartos de dormir, as salas de estar € os terracos da casa foram ocupados por méquinas de costura e fiacao. As mulheres romperam as pris6es simbélicas,safram para o mun- do, quebraram as paredes do gineceu e as portas que as iso- avam no claustro sombrio.(Os tempos eram outros, homens ¢ mulheres se ocupavam dos mesmos afazeres, invertia-se a antiga ordem patriarcal. Raimundo Caetano do Rego Castro e Maria Raquel Fonseca do Rego Castro, marido e mulher, ao contrério do que se imaginaria, nao eram sécios no préspero comércio de redes, competindo como dois inimigos na distribuicio das manufaturas ¢ nos luctos. Nao emprestavam um novelo de linha um ao} 61 linha um ao outro, nem sequer uma agulha de méquina. No comego, ninguém sabia a causa da disputa. Notaram quando Raquel passou a dormir longe de Raimundo, almocar e jantar em mesa separada, apesar do convivio obrigat6rio debaixo do mesmo teto. Os dois trocavam palavras ocasionais, e na maior parte das vezes em que precisavam tratar de assuntos inadid- veis, faziam-no por intermédio de Tereza Aratijo, uma negra acolhida como cria desde os nove anos, e que assumia um lu- gar que Raquel muitas vezes negligenciou, o de mae e patroa. Raquel ainda nao havia parido 0 seu ultimo filho, Benjamim, quando Tereza Aratijo apareceu com tonturas ¢ enjéos. Diagnosticaram gravidez, mas ninguém sabia a quem atribuir a paternidade, pois a moga nunca possufra namora- do, Raimundo Caetano procurou um bode expiatério para 0 crime, um vaqueiro de suas terras, que desaparcceu logo em seguida ao casamento forcado. Arrancaram o recém-nascido do peito de Tereza, antes que completasse um més, € 0 en- tregaram a uma familia caridosa, que o levou para longe, e nunca mais deu noticias, Frustrada nos carinhos maternos, ‘Tereza apegou-se aos filhos de Maria Raquel. Eles viviam pelo quarto dela, dormiam na mesma cama, e aprendiam as rezas e os afazeres de casa com a segunda mac. Quando precisaram de escola, os mais velhos foram morar na cidade, sob a guarda de Tereza Ara Caetano visitava os filhos uma vez por semana. Raquel per- ‘maneceu na fazenda ao lado de Tobias e Ana, sem idade para os estudos. Obrigados a um convivio mais préximo, marido € malher moviam-se por roras estabelecidas, como os antigos mercadores do deserto, evitando encontros e brigas. Raimun- do cuidava de plantios e rebanhos, e Raquel de queijos ¢ redes. A casa esvaziada de seis filhos tornou-se uma fabrica, ea terra tum imenso algodoal. Em sua tiltima gravidex Raquel softeu um prurido na pele. Cogava-se nas paredes, nos méveis, ¢ até nas estacas das cercas. Descamou as mfos, os bracos, as pernas, 0 pescoco a face, assumindo aparéncia feia e repulsiva. Raimundo Cae- tano munca mais a procurou na cama, encerrando em nove a Ry J a 62 seqiiéncia de filhos. Por infeliz coincidéncia, Tereza apareceu gravida novamente, Raquel fingiu desconhecer o verdadeiro pai da ctianca, aceitando a farsa de Raimundo. Mas pagou ‘com os eczemas 0 preso da dissimulagao, Se eu pedir ao primo Ismael que pare a camioneta, olhe para mim e responda quem era o amante de Tereza Arati- jo, ele fingiré desconhecer. Davi responderé com indiferenca | que nunca se interessou pelo assunto, que a vida sexual das | pessoas s6 importa a elas mesmas, 0 que é mentira, em nossa \ familia. Vivemos chafurdando as intimidades alheias, excita- ] dos com facanhas sexuais de primos, tios, pais e irmaos. O avo buscava alguém que assumisse a nova paternidade, e Tereza insistia em atribut-a a causas sobrenaturais. © bebe foi novamente arrancado da mae e entregue a.um casal, que igualmente se mudou de Arneirds ¢ do qual | nunca se teve noticias. No dia em que Tereza Aratijo viu Rai- mundo Caetano, 0 homem a quem chamava respeitosamente de Padrinho, ocupado em livrar-se do indesejado, sentiu uma tristeza que nunca mais curou. Exigiu como indenizacio que Raimundo assumisse para toda Arneirés a sociedade com ela no comércio das redes, sem jamais revelar sua parte nos lucros. Declarou-se a guerra entre Raimundo e Raquel. Na balanca de poderes da familia, num prato, pesava Maria Raquel sozi- | nha; no outro, Tereza Araijo e Raimundo Caetano. Os filhos | prefetiam manter-se de fora. Um fato doloroso agravou as frigeis relagées na Gali- lia. O cagula Benjamim, 0 mais amado dos nove filhos, por sua inteligencia ¢ vivacidade, morreu vitima de um erro mé- dico, mal completara sete anos. Ardeu-se em febre por trés dias seguidos, tempo em que Raimundo Caetano recusou-se a comer e dormir, a trocar de roupa e a pentear os cabelos. Rolava pelo chao, rezando e pedindo a Deus que nao levasse a crianga. Mas Ele a levou, apesar das stiplicas. Quando comu- nicaram a R leyantou do perfumou 0 ecomeu. O aha insen vivo voce jej cle mor pensava que tos e nao ley de que vale Di fria mais Tereza, que seu filho. A em de tias. Os fa esa icaram a Raimundo Caetano que o seu cagula morrera, ele Jevantou do chao, lavou-se, vestiu uma roupa limpa, penteou e perfumou os cabelos, mandou que lhe servissem uma refeigio © comeu, Os parentes 0 repreenderam, indignados com tama- noha insensibilidade: — Por que voc? age assim? Enquanto o menino estava “vivo voce jejuava, nao parava de rezar e lastimar-se. Agora que cle morreu, come como se nada tivesse acontecido. — Enquanto ele vivia — respondeu Raimundo —, eu pensava que o Alkissimo se compadeceria dos meus softimen- fos e nao levaria meu filho, Agora que 0 menino est morto, de que vale o meu jejum? Dias de luto e clamor. Dificil saber qual das mées so- fria mais com a perda, Raquel, sangue do mesmo sangue, ott Tereza, que ofertou o peito cheio de leite, depois que levaram seu filho. As duas mulheres rivalizavam na dor, competindo ‘em devogoes, retratos ampliados, santinhos coroas funeré- ras. Os fabricos de rede ficaram abandonados, as lavouras cesquecidas, 0 gado faminto cobria-se de carrapatos ¢ bichei- ras, ¢ as duas casas entraram em desmazelo, Redobraram os dios de Raquel pelo marido, ¢ os de Raimundo pela esposa. “Tereza sentava no alpendre, esquecida dos afazeres, absor- ta num sestro: dobrava continuamente trés dedos da mio esquerda, 0 minimo, © médio ¢ o indicador. Contava suas perdas. [As historias antigas da familia se misturam as mais re- centes. A camioneta do primo Ismael nos transporta 20 velério do av, quando espervamos a celebracio de um aniversirio. Raimundo Caetano mandou erguer uma capela na Galilia, construiu dois timulos ao lado do altar, um para ele ¢ outro para Maria Raquel, Nossa av6 protestou. Nao estava & beira da morte para encomendarem seu timulo, Nem seria obrigada ‘1 um convivio eterno com Rairnundo, mesmo que separados por uma parede, Enterrassem ‘Tereza Aragjo junto dele, Ela sim, era escabelo dos seus pes ‘A construcéo da mastaba se deu logo apés a come- morago dos citenta anos de Raimundo, Maria Raquel gritow alto que nao desejava morrer, que podia tocar a vida sem Rai- mundo, feliz. com os pequenos bocados, 0 trabalho com as redes, o sono de tarde, as novelas da televisio, os banhos no acude, 0 fifo, o arroz. Encre as pequenas alegrias, nao refer nenhum filho, nem 05 netos. Raimundo doeu-se. Imaginava {que Raquel no sobreviveriaa ele, Mas cla vendia sate, mon- tava em gatupa de moto, faria campanha politica, ganhava dinheiro. ‘Na tarde em que conremplou a obra funeriria rece- endo as tikimas pinceladas de tinta, Raimundo sentiu uma fisgada nas costas, na altura dos rins, ¢ precisou sustentar-se para nao tombar o corpo grande e pesado. Gritou por Tereza ‘Aragjo. A Maria Raquel nfo pedia socorro nunca, nem que cla estivesse a um passo de distncia. Nio foi escutado porque ‘um trovao ribombou no céu, faiscou um relampago ¢ logo em seguida caiu uma chuva to grossa como nunca se vira igual ‘na Caliléia, Raimundo tombou. A chuva entrando pela janela molhava seu corpo quando a afilhada socorreu-o, na compa- nnhia de Esad e Jacé. “Teve inicio 0 clamor. Os gritos mais pateciam prentin- cios do final dos tempos. Salomio ¢ Natan viajavam. Acor- reram pedrciros, pintores, costureiras, vaqueltos. Olhavam © hhomem caido e no acreditavam que ele pudesse morrer como qualquer um deles. Teriam tocé-lo, Fiaria no chio pelo res- to do dia, se tio Josafé e os dois rapazes da casa nfo tomas- sem a iniciativa de 0 acomodarem num carro, partindo atrés de socorro médico. © caso era grave, um aneurisma de aorta abdominal. A operagio teria éxito, nfo fosse um acidente ci- rurgico, uma esio de medula que deixou Raimundo Caetano sem andar. Nos meses em que permaneceu em Fortaleza, uma procissio de amigos e parentes nfo parou de visiti-lo, Maria Raquel nunca aparece. Os doentes a deixavam nervosa, en- tindo os mesmos sintomas. Ela nada podia fazer pelo marido. 65 Melhor proveito seria permanecer onde estava, administrando casas, fazenda e a fabrica de redes. Todas as veres que olhava a igrejinha, ria do azar do marido. — Que premonigao! — dizia, Raquel nao gozava de prestigio junto aos filhos. Nun- ca os mimara, Gastou suas reservas de amor na morte do fi- tho Beajamim, secando 0 afeto como secam os olhos d’égua. Chorou quando Tobias foi embora e quando retornou uma tinica vez & casa dos pais, anos depois de enviar o cartio de Natal. Depois, nunca mais se enxergaram ldgrimas nos seus colhos. Tobias trouxe uma mulher boliviana, uma méquina fo- togrifica c um revélver na mala. — Ninguém sabe o dia de amanha — disse ao pai. Raquel olhou-o como a um estranho, e seu pranto foi pela constatagio de que as mies também desconhecem as crias, O tio raivoso nada contou de sua vida. Olhou as plantagoes da fazenda, tomou banho no acude, jogou fora os arteios e a sela do tempo em que montava. Num armério da sala descobriu uma faca enferrujada, que usara na cintura, quando era me- nino, Foi o tinico pertence que levou consigo, quando partiu, (Com trés dias jé nao tinha nada mais que ver. Compreendeu que seu tempo na Galildia esgotara, e que sua vida aguardava por ele noutro lugar. Os avds também compreendcram isso, € nao pediram que ficasse. Tobias j4 nao era Tobias, e se foi. Antes, exigiu que nunca mais o procurassem, considerando-o ‘motto, ao que acederam sem resistencia, | | |) Somos aves de arribasio, Mesmo quando partimos sem olhar para trés, etornamos; quando imaginaraos firma, os és numa nova paragem, estamos de volta. Cortemos acm Ismael, Davi e cu, vindos de 2 esposa fiandeira de redes a afilhada rival? Maria Raquel e Tereza Aratjo inventam uma nova ordem pats @ casa. Atruinou-se o quarto de fabrico de queifo, ¢ fPrensas lembram esqueletos de dinossauros, meméria da fartara de lete, Parece que um meteoro caiu sobre a Gali- Kéia, queimou os pastos, matou os rebanhos, pés os currais abaixo. Até os aboios dos vaqueiros s40 ouvides apenas nos Programas de ridio. Nos fogées de lenha ndo se torra café oan amteige, nem se produs o sabao da gordara de porcos ¢ bois. Panclas de barro e cobre, cuias, jrtas, potes e al- Buidares perderam a fungdo. Minguaram, substivafdos sem Saudade por plisticose atilicos, Os moradores se confinen decrees cOmodos, ¢0 restante da casa sem uso mantém-se de pé por teimosia. Ismael dirige a camioneta, sombrio. Ninguém sugere Sscuar musica, nem puxa conversa, Deixo passat, Andamos tuns bons quilémetros assim. De repente, Ismacl ara 0 carro, abre a porta, desce e caminha pela estrada, Dave dorme e eu ‘me attisco com 0 celular. Dou sorte, — Joana? Te acordei? a Estava cochilando. Os meninos deitaram agora. E voce, ainda est vivo? — Quase. Essa viagem é dura. — Eu falei pra vocé nao ir. — Eu tinha que vit. Néo dava para escapar. — Por qué? — Joana... Nao vamos perder tempo discutindo. O celular nunca dé sinal, cansei de ligar. — Eu também liguei bastante. Jé soube novicias do seu avo? — Soubemos que esté bem doente. —E mais sério do que pensam. Prepare-se. — Ah, meu Deus! Joana, eu queria estar em casa com voct € 0s meninos. Morro de saudade. Até do hospital, imagine! — E seus primos? — Depois et conto. Voct entrou para uma familia complicada. — Sempre soube disso. — Ah, él? — Mas vocé é um complicadinho bem razodvel. —E mamie? — Foi ela quem deu noticias do seu avé. Falou que nfo vai para a Galiléia, mesmo que ele morra. — Por que isso? Nao sei. Deve ter seus motivos. — E papai, e meus irmiios? — Esses, com certeza, nao irdo. — Bom, eles sabem 0 que fazem. — Se cuide! Nao volte pitado como das ourras veres. — Jé estou, antes de chegar li. — Prepare o bolso pro analista. — Que alento! — Estou brincando. —E Martlia, ¢ Pedro? — Choraram querendo o pai, mas adormeceram. Vou desligar, estou com sono. — Espere um pouquinho, nao seja ruim. Te adoro. —Se cuide! — Ei, vai desligar? —Diga! — Ligo amanhi, Reve para eu escapar dessa — Vocé bem que gosta. — Joana! Joana! Ismael volta ao carro. — Vamos! — Estou aqui esperando. Aonde voce foi? —Caminhar. — Que hora pra fazer caminhada. —Cadé Davi? — Atris, dormindo. —Cachorro! Ismael abre uma bolsa, tira varios cigarros de maco- nha, joga no chao e pisa com raiva. Apanha as latas de cerveja que comprou no barzinho onde jantamos e me oferece. — Quer testar a pontaria? Aposto que ndo ganha de mim. — Eu também aposto. Recuso a brincadeira de tiro ao alvo. O primo exercita- se com as latinhas, arremessando-as num tronco de drvore, até ino sobrar nenhuma. Entra no carro, e continuamos a viagem. — Vocé nunca pensou em morar no sertio? — per- gunta depois de longo silencio. Eu até esquecera que viajiva- ‘mos juntos. — Pensei, por bem pouco tempo. —E por que desistiu? ie ce | 72 — Porque meu propésito nao era honesto. Adoego to- dlas as vezes que venho aqui. Corto o papo, mas Ismael conversa sétio, quer que eu fale mais. — Quando terminei o curso de medicina, decidi ser médico em Areirés. Vim com meu pai, ¢ pela primeira ver encareia cidade com outros hos, os de um profisional que escolheu o exilio, Estranhava 0 mundo em que vivi até os cin- £9 anos, ¢ de onde fui embora, voltando apenas nas férias. Culpava-me por ter abandonado o servo. Vocé conhece essa culpa, garanto. Mas, aqui, todos estéo de passagem ou de saf- da, E 0 que sinto, agora, Penso em terminar a conversa, mas o primo ouve com interesse, — O prefeito animou-se em receber um médico filho da terra, membro de uma familia lustre, Mostrou-me o hospi- tal sem recursos, o ambulatério acabrunhado, a equipe despre- parada, Eu sonhava com residéncia, mestrado e especializagio em Londres. Admiro os generalistas que fazem partos, peque- nas cirurgias, so pediatras e clinicos. Para mim eles represen- tam os verdadeiros médicos. Mas eu sou metido a intelectual, queria outras coisas. A Galiléia foi um lugar de fétias, de me. ninice. Coma idade tomnei-me um visitante arredio, sobretudo depois do que aconteceu com Davi. Nao vamos falar nisso, — Vamos, sim, eu fago questao de falar, — Davi! Davi, acorde! — chamo o primo para entrar na conversa, Esté dormindo ou fingindo que dorme. Olho a paisagem desolada. — Nao chamo esse mundo de bérbaro. Imagine se tlo Salomao me escuta, Mudo de impressio sobre cle a cada quilometro. Meia hora atrés, quando tomamos banho no agu- de, achei que ndo existia lugar melhor. Agora, jd nao acho. Ficamos presos na nossa infancia. Vocé jé leu alguma coisa de Freud? Deixa pra la! Tudo acontece nos cinco primeiros anos, No restante da vida, no fazemos mais do que remoer esse tempo. O papo ficou chato, jé falei demais. Bota um CD. Tem algum disco de Damien Rice? B — Nao quero miisica. V4, continue! Voce sempre gos- tou de falar e eu de ouvir. — A Noruega é bonita? — FE muito. Aqui também é. Mas ninguém procura os lugares porque sio bonitos ou feios. As pessoas saem atrés da sobrevivéncia. Muita gente deixou a Noruega, anos atrés, por conta da crise econémica. lam para os Estados Unidos. Quando a economia do pais melhorou, ninguém mais saiu de 14. O problema agora s4o os imigrantes, os que querem entrar no pais. Quando os Inhamuns eram uma terra rica, cheia de pasto, nao parava de chegar gente. Hoje, 6 fazem ir embora, —E verdade. — A Noruega é um sertio a menos trinta graus. As pessoas de li também sio silenciosas, hospitaleiras ¢ falam manso. Habituaram-se aos desertos de gelo, como nés 2 caatinga. A comparagio parece sem sentido, mas eles também colham as extensdes geladas, como olhamos as pedras, A nossa pele é marcada pelo sol extremo, a deles pelo frio, Acho que as pessoas so as mesmas, em qualquer latitude. — Mudam as culturas, as crengas, 0 grau de civilizagio. — Eu falo da esséncia. — Nio sei o que isso, Concordo com voce que buscamos lugares onde se possa viver bem, onde exista traba- Iho, chances de prosperar. Para mim, civilizagio e ordem so essenciais. Damos uma pausa. Surpreendo-me novamente com a conversa do primo, a solenidade de sertanejo. Espero o humor seguinte: sobriedade ou exaltagio? — Voct sofreu um choque térmico de sessenta e dois graus — falo brincando. —Nio é ficil. Sé sobrevive quem se adapta. —E seus planos? —Tevea priséo, complicou minha vida. Nao sci ainda pra onde vou. Minha filha mora ld, mas eu perdi a guarda. Numa rasteira de mestre de capocira, muda o assunto, -od 21 onyp newt Q “opt ou opeaeo osemq wn 9 orsue> un ‘enByp,p exre{ vain woo omoso oxrenb wn enstxa ‘ese> ep WO} ap OPP] Op ‘Jopazs09 um ap wy OY “Oss! Og “eps BIDEG 9 onaanqp “wojurpia0 ap opnsoxoy ox1syueq wn ‘enSe :oe5ez1, “IAD ep sorrpurad stew sung so eaclosap ni -ouopurge 9 euips “fur ens ‘081295 0 IPO “oppanbso zeBny uM SwuesyUSIsu ‘oupururea wn vxaqe> aur og ;sa10peLiansty 2 seastBoeaus8 rod seperexa ‘ofourenins opessed op sei9/3 se ape-y -eaetuoume 307 “BI 0 ‘Sontag 2 sinze sojmurtn sajenbe eAeyjO sreur oxtEN?y ‘sounugue soaungop ap ojour ou ‘oUspiiuie0 ou opexrois 105 “ye sxs0Ur rauiSeuy “so19} 9 soxgod sojmurya wos ouprrUE> o taEIsTAE na “epouel eq] “o;ppuar urs ‘oyueg ered enSy vAEy BN "BPEAe| 10} Foun anb 2 ‘seossod ap seuazap wrexenap 95 anb wa efns apar eum ‘seauagas sopared se ‘sorereq soyurzio oy sojonbe apayuoo 9204 ‘apepp ep soyaur e erg ‘owen’ ow epeand wos 9 oxroytreg wos opsued eumer aw-urestloqy ‘sgon{ 2 sefoyo sownSastt09 2 ‘out ou ovsesuoo wn werestaorduu ‘auios 10g “aui-Joztroxzaxy “eiuara0d epenso vu uous v a1g05, sees weuturewos our onb pyse 9 ‘Suwa ap ewap do eum ap oruourtsoxuoo ey, “assaBmosd ow anb onsngze oomun umn vIAby OBN] “TexOdeAd assoy as owOD oiquiazap op azuanb Jos ou eipre ‘auqay ap exeuronb ng “nosgonb o11e> © ‘spon{ » ownxpig “2prea ap oSouzo> ume ay!oay 0 ered eyo ap soured 9 oma0qeg wo epuazey eSniue vssou soureusta ‘na 9 red nour ‘sorry ap somes “ousfri99 woo ureAeinos9 sur sted snayy ‘sofios eavyjos ¥> ap vypurey eyurpY “mex8 ossz]00 anb ‘wIsse e1re3]0A ‘omayard o wio> opeussae opm Fexi9g] — “ped eundie ‘puesto assaniasa na 2s owoD ‘opuly enunuo9 fpewIsy Zepiosuoy “oquowvow ES LIDS aisfx2 FU OBSEZTTAID) “epeatnd CUIO9 sopedurEasop so ‘opursn “OrpUy 03135 No “eIp9A apepT EU OWIOD aarA afoy epure oxseindod ep aured tog “etpoqep ogu “spepioa gq — “souny “sonsyueg op rare efaq§ — ‘soupy 9p nasisep anb sod nopey aur ou epure 2204 sepy — 75 ‘vocava vomitos. Lembrava o conto de um escritor americano, 2 histéria de uma mulher que tinha panico de ser enterrada ‘num cemitério de cidade pequena. Acreditei que ia morres, ¢ desprezei o sertio e sua gente. A febre e 0 delirio agravavam o ‘meu horror. Nesse dia eu resolvi nunca voltar. — Que pena! Vocé mudaria essa realidade. — Acha que nasci com vocacio pra santo? Os ansioliticos que engoli compulsivamente dao sinais de efei- to, Experimento uma lasido conbecida, 0 corpo entreyue 3 Poltrona do carro, o raciocinio preguicoso, Refago uma traje- Soria de pensamentos ¢ imagens, antes de cair no sono, Tero situar-me no presente. Viajamos para a Galila, os farbig roje- {an luz na tela escura do asfalto, Ismael A minha esquerds ca, Sejo tocé-lo e me contenho, Davi no banco de tis, aleseina co, nhecida, falo como um idiota, nem sei se alguém me exe — Oitenta ¢ cinco anos, Raimundo Cactano... Casou com dezenove... Maria Raquel com treze.. Uma bela festa de Aniversério... Dangaram trés dias seguidos, no casamento.. Maria Raquel bonita no vetido de noiva,o eabelo preto de India. Esconderam 0 retrato depois que brigaram...Os filha a¢0s dacos os dois, olhando para a fren- fs um ramo de bogaris na mio direia... into o cheiro das flores ¢ lembro a avé bonita... Por que o amor se transforma em rancor?... Trés anos na cadeira de rodas, dependendo dos Suttos...Jacé e Esatilimpam as escaras podres... Cheiro adoct_ cado de flor... Jasmim, bogari... Festa ou enterso?.. Enterro... Aspernas nfo dangam mais.. Melhor morrer.. O av6 dancou a esta de oitenta anos, pareia eterno... Joana sabe que ele morreu... Nao quis me dizer, mas sabe... Joana... Esqueci o fio dental. O cinto me aperta, acho que @ minha bartiga eee, ceu... A pasta de dentes eu teouxe... Ismael: — Durma, Adonias! Preciso de vocé bem des- cansado, as idéias claras, a conversa afiada, Todos temem sua ings ov ope “sopersadso omo> “e103 2p ope] op ovu 2 ‘ese> ep onuep 3189 eyelpsap snossajuio9 vou 990A anb esfoo eum anstag, adios ov wrestSny “wueneppqar as sa1oxe s¢ “202qu0osep $0 9208 9 “wae ap 198 n9s OU uTYSSaIUODE Some §C)“9pTED vpnbeu ope] nour ov earas9 uionb raress2su0> oBt 9g “eyuo> -$0p uiou anb 0 argos “300s wed sewed roreaansy, -uuessaroyut 24] Bt somosa soxsenb so ‘somrourexpenbus sousnbod s¢) “soz -zndue sopues ‘seorurpsoued vung 2008 ‘seruopy “wowES um op soaoy sep spin sod eiseauia wn syeus vaquid] ‘o>EpyUt soared Woy ‘onBues ap as-ar{ns ‘sepisay se001 ap zedeour g “epeu 9p aqes OZU SeU “SoU a1q0s sOAaIDs9 apuDrorg -esjo> apueal eles aja anb oxrpaise ot seur foray] nas o vied ermgunuo> gepepran gi “soueWo! um axa1oso onb wrereje “wiawiapes eunu sejou OpueWor BistTeD -uosspa um ap essed oft go0, “2uD0pour 9 wIpFATEY wp eisoIsT, eu re8n] nos © “ound “00a 9 ovu suo e anb oy>y jna Faras nO {serTy gpeuUs 2900) geSUO v9 sou ap uraTiy “sez9 azop sod ‘pense BEFINOs eSUO EWC] ZoUIsUD SOU yFBSOf O12 anb OBof © eiquu | “ouuzos “eSuo ep 080! op sexpad se soxour ap vise $05) “zip 9 zy anb o vjonuos ‘oruayy “unruy ap anuexp wipes ep otupsey owsoum 0 aBu1y “spuaoidiuo> ogu anb ofad a1yos ‘sqeuep esuad goo, jseiuopy ound *eang — seq -wreruaau son s0 9 yed o aonb sespuow seu oupaioe opNy -osn{ ‘oduty noisy wweq] Fw} nour wa fonbor ogu :ouos nos ou ondoyy “210q -wo my anb sjodop naoayuose aur anb 0 a0ayu0ss9c] “opeiox -uo inj anb wi vip ov axnor our gav o opuenb ap ‘ep vu soue snout so seuade aoayuo> goo, “eLpISIY EYUTLE 12409 ‘wi2u ‘soresspd sop > sor0Asp sep SoWOU SO 19[8) ORNL venues owsour 0 woo opreaseq um nos ‘ergury ep auzed obey “uran$ou anb steur od ‘ous rod aw wipqures eippfe y “eau BED no anb urezadso 2 epe| ‘euin urerequosde Son SQ {[>20eC] ap PHpIsIY B eIqUIET| “s902], sop e901 & ered oytUe “220A 9 operfe ootun nour ‘nazoUt av 0 ag “omtrzos axtap aut opt ‘ope] nawu op anbiy “estoy 08 uvido enquanto dorme. Sou um génio do mal perturbando 0 cu sono. Acorde, primo, jf dormiu demais, — Vocé falou, Davi — Falci nao, Ismael. — Adonias adormeceu. — Ele nao bebe alcool nem puxa fumo, mas 0 que -engole de comprimido...! 7 Adonias pensa que 0 av6 morreu, Sente-se culpado porque & médico e nao fez nada por cle. — Ertem alguma coisa que ele possa fazer? — Os médicos sempre acham que podem, — Estou com sede, Ismael. Vamos parar num posto de gasolina. —E Adonias? — Fica dormindo no carro. — Nem deviam chamar essa pocilga de lanchonete. Vocé viu? Nao deu pra comer nada. A coca-cola estava quente, o sanduiche, frio. Nao existem outros lugares nessas cidadezi has, s6 postos de gasolina? Parece que as pessoas nao tém 0 que fazer, Sentam em mesas, bebem cerveja, jogam toté ¢ ou- vem essa mifsica horrfvel. Ainda bem que nio para de chegar ¢ sair caminhao. Quando fui ao banheiro vi dois motoristas tomando banho, Depois vi um deles entrando com um meni- no na boléia do carro, Devia ter uns catorze anos, Estamos na rota do gesso? — Ah, vocé néo sabe dessas coisas, vive fora hd tem- pos. Nessa rota transitam caminhées ¢ motoristas solitirios, Carentes de sexo, Flespassam semanas sem encontrar as espo. sas. Os meninos e as meninas se oferecem nos postos de gaso- “eure ep ojndiuy umu autzoq “sednos se mdsop ou wipqurea Ae “se104 zap asenb oZ12¢ “Jos op zy x “ess0¥ ap aray> um ‘soppuss sop spatane wpaas 28 se8hy © -soSqeosap spd so "eSye0 =p Boy esture> e “wo$era ep ednor eussout aIstA “orpIN0D ‘paues two sodioo sossou ‘Tese> ap vure> eum ‘ope] naw oF eq ‘euenb 0 oyuensg -e5aqe> op sop seuade ‘gay seus oyu2s oF4 ‘osompio8 oSoasd 0 ooo], “wredspa ep rasndue "USDUE B ons “oB5e up someurestad snot 50 a0d Joayoejd tut eyp8ta van ‘Tenpysor sodzoa un warexiap soruezqnburen Sop seedy -opesedsip orSe1o> o ‘siuodas ap opioay “epursutp renuuo nos ‘onug — “SeIp spn © mbep Jepiose rea 9s ‘eSuaiajp zey opu 2p wig — “SHED BU snuHOp ax2youd seruopy — {Jprour wnu sowsremsop 2p eype anb G — ‘ppuodsar non opyy — “ounsopiou 29s ap as-eyjnBi0 ‘orwro 85 01 2p o[nd}ostp 9 9204 anb 1enbsy jadjnosog] — imd0q e 2e] -®2 2p soaey 0 wbey “esr2at09 ss9 s1ANO oranb OPN — “PHDSIU BUSOU v ‘oxod owsou! 0 “uaBesred ‘ulsous v :penSt opna 9 “eSuaraytp zey OBNY “preo7) 0 souressan “ENE SoU 9 FoongureUID Ua ¥>Y Os898 op Bor y — ipoanbsg 2298 © ex opp8iey oon 0 sommy — “oquia ova 9 urezory -ewnyueU orxredwi0s {AILS OEY 2 ‘SopIpo} OFS UaquTE safq “souFoUOYLTURD sop os]09 08 WON “S]—p sesRD se eBoy> ovL ossa8 ap seurET sep euesd y zgnb 0 zozeq -umasoad 2s 9 onal ¢) zouiog sessed on, “SPP Ypin> wonsuru ‘ejoosa urewuonbayy opu‘saugod ovg “eu, 83 afastado de mim, Ismael estirou-se num colchao, no piso sujo de cimento. De brugos, vestido com uma cueca, um filete de baba no canto da boca, a imagem do desleixo. Levanto-me ¢ sinto toncturas, No banheiro de paredes sujas, sero nenhum revestimento cerimico, tenho ansias de vyomiro por causa do cheiro forte de merda. Lavo 0 rosto com uns pingos de 4gua que caem da torneira, Agua escura ¢ mal- cheirosa, nem escovo os dentes. Abro a porta do quarto com cuidado, saio num corredor escuro, depois numa recepcéo com a TV ligada num noticiério policial. Uma delegacia, um delegado, um jornalista, um rapaz com algemas, 0 térax nu cheio de tatuagens. A cAmera gira, 0 rapaz. sem camisa veste ‘uma bermuda baixa, as nédegas 2 mostra. A cAmera aproxima ‘0 rosto em primeiro plano. O jornalista lé numa folha de papel a relagio de crimes que o bandido praticou, pede que ele con- firme roubo, estupro e assassinato. Mas 0 garoto nega, 0 rosto ‘moreno sem expressio, © recepcionista nao questiona minha presenca, Per- gunto onde fica a saida, Clone Hotel, leio numa placa do lado de fora. Os muros caiados de branco, o acesso dificil na encos- ta de serra. Avisto a estrada, um arruado de casas, um posto de mototéxi, um caminho pavimentado ladeando 0 motel. Sento-me numa pedra, Nao me enganei, j4 sio dez horas, 0 sol ferve os lajedos. Sinto-me bem com o calor e decido esperar {que 0s primos acordem, Nao tenho fome, nem sei se oferecem café-da-manha na espelunca. Lé embaixo na estrada passam carretas. Na vila, um_ carro vende botijées de gés, uma caixa de som toca mtisica alta. Mulheres saem &s portas, 0 carro de gés para. O vendedor indo tem pressa, as mulheres nfo tém pressa, Nao consigo ima- ginar sobre o que cles discutem, até que o homem retira um bujéo da carroceria, entra numa casa ¢ retorna com outro bu- jao. A compradora entrega uma cédula ao vendedor, cle olha a nota contra o sol ¢ confere se nao ¢ falsificada. Saca um mago de notas do bolso, entrega o troco, conta todas as cédulas do ‘mago, molhando os dedos na saliva. Enfia o dinheiro no bolso esquerdo da calca, retira ¢ pde no bolso direito. Uma mulher 2.2 Agua, cospe o bochecho e depois engole a sabra do cope, Tido isso leva um tempo infinita, parece nao acabar nunca, como se as Pessoas nao tivessem em que gastar as horas. O carro parte, mas estanca logo adiante. O moreriees liga ¢ acclera, dé r, volta para junto da compradora que no saiu da porta de casa. Os dois conversam, e cle parte novamen te, acenando com o boné, Pégua na cabeca, Até aquele ‘momento, nunca soube de sua existencia, ¢ ela igualmente unca soube de mim. O que pensa? Quantas vezes cla encheu #s jarras de casa, desde menina, quando sé podia com um balde ou um potezinho? A certeza de que a mulher nao sabe quem eu sou agrava minha angéstia. Corro para junto dela, ofereso-me para ajudi-la? Nao saio de onde me sento. Amma, ‘hi néo estarei aqui para socotté-la. Melhor deixé le sozinha com a lata, “Em qualquer cidade aonde 0 acaso me leva, me sur- Preende que ni ocorram levantes disrios, carnificina sem nome, uma desordem de fim de mundo” O sol € 0 calor agravam 0 meu delitio, um fi ‘ou isso, nao escuto mais nada, apenas as Nunca acho a definigéo exata das coisas, Ox me Paresam perfeitas, capazes de expressar o que sinto, Os outros escritores se antecipam a mim, escrevern ¢ que gos- taria de ter escrito, Jé nada sobrou que eu pos- § inventar. Num pais que nunca visite, um homer esctésen sobre pessoas iguais is que olho agora, Mesmo se elas vivesscm, ‘soladas, se repetiriam como leis genéticas, O homem distribui © g4s, a mulher carrega dgua, os meninos jogam bola na mua fem saneamento, E se eu ficasse morando ali, alguma coisa mudaria? Certamente nada, Duas garotas saem do motel. Devem set menores, Usam shores curts. Os cabelos molhados,crespos ¢ longos, sol esté procuro n cada minute Un ela no mia bola debais nenhuma ca olhando 2s cochila to. Dois ow se dirigem| segura a mog Ela se sola ed © beija-a outra moca ‘me parece bam dois morog garupas de. que chafurds Em musica evangs rados para do redil do sai do Recife; antes do avé- ainda esté vi Em todaa © as criangas es de mim. Desligs cobrem os ombros. Passam junto de mim, provocantes. Com- preendo a intencio dos scus risos. Uma delas para logo adian- &, simula arrumar a sandélia, rie fala alto, Nesse tempo me olham, devo estar com um aspecto deplorivel, mas no deixo de ser um rapaz diferente dos que sobem as ladciras do ar. ruado. Perguntam-me as horas, pretexto ingénuo para uma abordagem. O desejo cruzando as sinapses da consciéncia causa-me horror e pénico. Respondo com timidez, falo que 0 sol estd quente, viro 0 rosto para um outro lado, e quando as rocuro novamente, descem a encosta faceiras, virando-se a cada minuto para trés. ‘Um cachorto late no arruado, Jogam 4gua de uma ja- rela no meio da rua, quase molhando dois meninos que batern bola debaixo do sol quente. Os cinco motoboys no pegaram nenhuma corrida durante 0 tempo em que fiquei sentado, olhando a estrada e 0 mundo a perder de vista. Um boy gordo cochila num banco de cimento, debaixo da marquise do pos- ‘0, Dois outros jogam com palitos de fésforo, As duas mogas se ditigem até eles. Certamente se conhecem. Um dos boys segura a moga mais jovem pela cintura e beija-a no pescoco. Ela se solta e dé um tapa em seu rosto. Ble agarra as mios dela e beija-a varias vezes, enquanto ela tenta se desvencilhar. A outra moga si, enlagada por um motoqucito alto louro, que me parece bonito. O gordo acorda e poe-se a rir. Chegam mais dois motoqueiros, ambos sem capacete. As mocas montam nas sgarupas de suas motos e partem, espantando porcos ¢galinhas que chafurdam no meio da rua sem calgamento. Em uma das casas ligam 0 aparelho de som numa iisica evangélica. Uma cantora de gospel convida os desgar- rados para um encontro com Jesus. Sou uma ovelha perdida do redil do Senhor. Rio ¢ sinto fome. Comi pouco, desde que sat do Recifes se continuar me tratando desse modo, motrerei antes do avé Raimundo Caetano. A propésito, seré que ele ainda estd vivo? Tento 0 celular, mas continua fora de érea. Em toda a regido no existe servigo de telefonia mével. Joana © as criangas estao longe, nao consigo torné-los reais dentro de mim. Desligaram a misica na casa evangélice. Ouco gri- CEN — "ByPso[ on ossou ern — oxnoyy um 9 900, — “epesed ep Huo; “oBrwo> zeswesn optoxanb “ureseiue> aut anb seo1 -83 semp sv owo> somos wex1op so opu ‘Sojqe> so wopud1g gsoue8>j9s9p a sonusnb ‘oongauis oproas ap sednos wrson sea anb sod 3 “9s um 9 snaqq ;e1] owex2e-) opumutey gar o outes SeMIsY SE UIDZ] sey “sergIg 9s Waaap “SoKU! seu soxrd Sozat] ‘eorppSueso wiouos ese9 ep usses SOloypns seNc] ZepIA ep uteradsa svossod sv onb (9 z1eSny aesap awou 0 9 owory unbe opuesout 023 > o10u eur osduso> ou anb 10g “oss0Us1 umnyust was oS09sed ou eSour ¥ nofiaq anb omor zedex 0 > ‘omuaurp ap oaueq ints eauos anb opro8 ox1anboxour o Olax] ‘sures equgtu ewronb espod x ‘swan ayuowyaesiodnsus Jos Q-o1zea ofeuigiso op oumpoze o seuade ‘o104y> 9 wroU > sear “LP op woyu9 a8 soyjo so “eso; exed a]Iq ¥ O10q 9 oyfnSuD fouuiga op soursryperstind so ureqo, ~reostre ossog ‘ozn{ 0 sopind ouray,‘wrewypoe 2s vounu sof gunw ap oxuap s20ur -91 9p opsessao sonuauurestiad so anb oxmeseS aur wot?) “oproonbso a opestrey ‘orsugyis wo ze0y ozanb wquir],‘sojoln ap epedyes eumnu o1uag “auiow v opiresadso soqppa 10d sepengey oys serzea oviso opt anb sy “sezino sep seumn UIDIYFp oBU Sesto SY “seusod sexmo wo ra1eq ofasop 95 no vay noa as vaunted Aoqoxow ()“wo81]ny ap seiaxd ‘onze, ap sejaued wa “equa] ap ov8oy wip eqmiz0r) “vono] s2aRe4 “Jos op angige ou onb ‘onus na anb ypueyy “ye nasisar ep set ‘ureanred sopoy, ‘eyurzos wioyy “spuare eypaa ewup) *e5e9 ap 2, OD ‘seypP eSuasaid x eUunuAP sopey|>r sop wseumy y “oumUU OPfes UN 2p eHOpeIuDsode vp Woara sey “[pNUT Ey] “EN 2p seipyp 9 seanose ‘sepeuture seseo sessou setfon seossod ‘ureopy ‘sopoypas sesto 2p anuayy eu sessed ‘oped ap sepuazey urepstxo sauoureShue apuo saresny soe ‘98uoy wag a1 ‘epens> ‘umn sod senus sowopog “eSuesngos yur joanbso ogu siod ‘oquodns ousoo peur ov1 nos oF “sorsBessed so ered 9190 ecto uronssod ogu sajp anb oxquray sey ‘eSnj wm3ye v oxoq au anb atpad 2 souionbo.ous sop um v au-2:3i1p ‘openaze op our 0 eredos anb ex1ope] euanbod v a20sap ossog sours “JOA no soussmassoad as 24y eSuaraytp ong) ;sourtid so rep1ose J0ypur 312g “wozIp anb 0 oBunsIp opu seur ‘seossod ap sor sxou o sangue dos Rego Castro. — Nao puxei. Por que no sansponho 0 caminho até 0 posto das motos, desapareco de sma vez e me livro do estigma dos Rego Castro? O sol me . Sinto arrepios no corpo, um joelho colado nas minhas as. Escuto a vor de Ismacl me chamando. Natan espreita de uma janela lateral da casa onde mora, Foi para aquela vigia que lancei o primeiro olhar, assim que che- gamos & Galiléia, Nao errei a previsio, cle tocaiava o mundo. Para o tio, rudo comega e finda ali. Se o levarem ao edificio mais alto de Téquio e perguntarem 0 que avista, certamente cle diré: Galiléia. As janclas abertas por Natan, em qualquer hore! de luxo ou pensio escura, revelam um terreiro e cinco casas. As cidades so mundos irreais, pois s6 existe Galiléia. Pulamos da camioneta, os trés 20 mesmo tempo. Pa- recemos bailarinas de nado sincronizado: as batidas do cora-

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