Você está na página 1de 2
Compreender um texto Os eternos encontros No texto que vamos ler, Ailton Krenak, membro da nagdo indigena Krenak, expde um Ponto de vista sobre a colonizacao portuguesa da América do Sul, a dos | povos que ja ocupavam essas terras. Para ele, o encontro entre os povos que aqui chegaram — europeus, a africanos, asiatticos - e os povos que ja ocupavam esse territério ocorre cotidianamente e é constitutivo da nacao brasileira. “Os fatos e a historia recentes dos tiltimos 500 anos tém indicado que o tempo desse encontro entre as nossas culturas é um tempo que acontece e se repete todo dia. Nao houve um encontro entre as culturas dos povos do Ocidente e a cultura do continente americano numa data enum tempo demarcado que pudés- semos chamar de 1500 ou de 1800. Estamos convivendo com esse contato desde sempre. Se pensarmos que ha 500 anos algumas canoas aportaram aqui na nossa praia, chegando com 0s primeiros viajantes, com os primeiros colo- nizadores, esses mesmos viajantes, eles esto chegando hoje as cabeceiras dos altos rios 14 na Amazénia. De vez em quando a televisao ou o joral mostram uma frente de expedicao en- trando em contato com um povo que ninguém conhece, como recentemente fizeram sobre- voando de helicéptero a aldeia dos Jaminawa, ‘um povo que vive na cabeceira do Rio Jordao, 1d na fronteira com o Peru, no estado do Acre. Os Jaminawa nao foram ainda abordados, con- tinuam perambulando pelas florestas do Alto Rio Jurud, nos lugares aonde os brancos estao chegando somente agora! [...] Entao eu queria partilhar com vocés essa nocado de que o contato entre as nossas culturas diferentes se da todo dia. No amplo evento da hist6ria do Brasil 0 contato entre a cultura ocidental e as diferentes culturas das nossas tribos acontece todo ano, acontece todo dia, e em alguns casos se repete, com gente que encontrou os brancos, aqui no litoral, 200 anos atras, foram para dentro do Brasil, se refugiaram es6 encontraram os brancos de novo agora, nas décadas de [1930, 1940, 1950] ou mesmo na dé- cada de [1990]. Essa grande movimentacao no tempo e também na geografia de nosso territério e de nosso povo expressa uma maneira propria das nossas tribos de estar aqui neste lugar. [...] Entao meu povo Krenak, assim como nossos outros parentes das outras nacdes, nés temos recebido a cada ano esses povos que vém para c, vendo eles chegarem no nosso terreiro. Nos vimos chegar os pretos, os brancos, os arabes, 9s italianos, os japoneses. Nos vimos chegar todos esses povos e todas essas culturas. Somos ‘testemunhas da chegada dos outros aqui, os que vem com antiguidade, e mesmo os cientistas e os pesquisadores brancos admitem que sejam de seis mil, oito mil anos. Nés ndo podemos ficar olhando essa histéria do contato como se fosse um evento portugués. 0 encontro ‘com as nossas culturas, ele transcende a essa ‘cronologia do descobrimento da América, ou das circunavegacées, é muito mais antigo. Reconhecer isso nos enriquece muito mais e nos da a oportunidade de ir afinando, apurando 0 reconhecimento entre essas diferentes culturas e ‘formas de ver e estar no mundo’ que deram ndacao a esta nacao brasileira, que nao pode ser um acampamento, deve ser uma nacdo que reconhece a diversidade cultural, que reconhece 206 linguas que ainda sao faladas aqui, além do portugués. Entao parabéns, vocés vém de um Atividades Obter informagées Hl Que exemplo é utilizado pelo autor para mostrar que o encontro entre as culturas indigenas endo indigenas nao ocorreu ape- nas na chegada dos primeiros europeus a essas terras? Pe ar) Ey Para o autor, como se deu a fundacao da nacéo brasileira? Que elemento da cultura é apontado pelo autor como prova da diversidade cultural da nagao brasileira? Interpretar i Leia a seguir 0 artigo da Constituigao e 0 trecho retirado do texto e responda. |” “Art.13. A lingua portuguesa éo idioma oficial da Repiblica Federativa do Brasil.” Brasil. Constituigao (1988). Constituigio da Reptiblica Federativa do Brasil. Brasilia, DF: Senado, 1988, lugar onde tem gente falando duzentos e tantos idiomas, inclusive na lingua borum, que éa fala do meu povo, é uma riqueza nés chegarmos ao final do século XX ainda podendo trocar, com- partir um elemento fundador da nossa cultura e reconhecer como riqueza, como patriménio. Oencontro eo contato entre as nossas culturas © os nossos povos, ele nem comecou ainda e As vezes parece que ele ja terminou. Quando a data de 1500 é vista como marco, as pessoas podem achar que deviam demarcar esse tempo e comemorar ou debaterem de uma maneira demarcada de tempo o evento de.nossos encon- tros. Os nossos encontros, eles ocorrem todos os dias e vao continuar acontecendo, eu tenho certeza, até 0 terceiro milénio, e quem sabe além desse horizonte.” KRENAK, Ailton, O eterno retorno do encontro. In: NOVAES, Adauto (Org,). A outra margem do Ocidente. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 24-28 .]esta nacdo brasileira, que nao pode ser um acampamento, deve ser uma nacao que reconhece a diversidade cultural, que reconhece 206 linguas que ainda sao fala- | das aqui, além do portugués.” a) A diversidade linguistica da nacao brasi- leira é reconhecida pelo Estado brasileiro? Na sua opiniao, por que isso ocorre? b) Quais sd0 0s significados sociais e politicos do reconhecimento de uma lingua como oficial? i Nassua opiniao, o que o autor expressou no trecho abaixo? “Nao houve um encontro entre as cul- | turas dos povos do Ocidente e a cultura do continente americano numa data e num tempo demarcado que pudéssemos chamar de 1500 ou de 1800. Estamos convivendo | | | |_com esse contato desde sempre.”

Você também pode gostar