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ATUALIDADE HERBERT MARCUSE A IDEOLOGIA DA SOCIEDADE INDUSTRIAL ZAHAR EDITORES RIO DE JANEIRO in the Ideology of Advanced Industrial Society Tradusido da segunda impressio, publicada em 1966 or Beacon Press, Boston, E.U.A, Conyright © 1964 by Herbert Marcuse Cape de Enico tora Direitos para a lingua portuguéss adguiridos por ZAHAR EDITORES Rus México 31 — Rio de Janeiro (que se reservam a propriedade desta tradugio Dedicado a Inge INTRODUGAO A paralisia da critica: Sociedade sem oposigao ‘A ameaca de uma catéstrofe atémica, que poderia exter- minar a raga humana, néo serviré, também, para proteger as Sprias fOrgas que. perpetuam ésse perigo?’ Os esforcos para fuscam a procura de suas causas poten- I contemporinea. Essas ca c jcadas, reveladas consideradas pelo pi inte da ameaca do exterior, demasiado vi (0 Ocidente, do Ocidente contra o Ori porque ~ do oF F igual ia a necessidade de se estar preparado, de viver & beira do abismo, de se accitar 0 desafio. Nés nos sub- retemos & produgio pacifica dos meios de destruigdo, & pertei Gio do desperdici, a ser educados para uma defesa que defor- rma os defensores e aquilo que éstes defendem. Se tentamos relacionar as causas do perigo com a forma pela qual a sociedade ¢ organizada e organiza 0s seus membros, defrontamos, imediatamente, com 0 fato de a sociedade indus” il desenvolvida se tornar mais rica, maior ¢ melhor a0 perpe- tuar 0 perigo. A estrutura da defesa torna a vida mais ficil para um maior nimero de criaturas e expande o dominio do hhomem sObre a natureza. Em tais circunstancias, 0s nossos meios de informagdo em massa encontram pouca difculdade em fazer aceitar interésses particulates como. sendo de todos os hhomens sensatos. As necessidades politicas da sociedade se tor- nam necessidades e aspiragdes individuais, sua satistagio pro- move os negécios € a comunidade, e 0 conjunto parece consti tuir a prépria personificacio da Razio 13 Nao obstante, essa sociedade ¢ irracional como um todo Sua produtividade é destruidora do livre desenvolvimento das necessidades ¢ faculdades humanas; sua paz, mantida pela cons- tante ameaga de guerra; seu crescimento, so das possi individual, nacional e . Essa repressio, tio. dife- rente daquela que caracterizou as etapas anteriores, mencs desen- vide , nao opera, hoje, de técnica, mas de fOrga. As af velmente maiores do que nunca dantes — o que significa que 0 alcance da dominagio da sociedade sobre 0 individuo é inco- ‘mensuravelment ‘maior do que nunca dantes. A nossi s weue por conguistar as fOreas sociais cent do que pelo Terror, com daplice base numa eficincia esmagadora © num padrio de vida_crescente gio das raizes de tas fatos e o exame de suas tricas so parte do objetivo de uma teoria cri tica da sociedade contemporinea, uma teoria que analisa a sociedade a luz de suas aptidées utilizadas e néo-utlizadas ou rmalbaratadas para aprimorar a condiso humana. Mas quais os padrdes para tal critica? Sem davida, os julgamentos com base em val6res tém uu papel. A maneita e de organizar a sociedade é com- Parada com outras os deram oferecer_melhores. possi hhomem pela existéncia; uma prética histrica especifica 6 com- parada com as suas préprias alternativas historicas. Assim, qualquer teoria critica da sociedade defronta, logo de inicio, com o problema da objetividade histérica, um problema que surge nos dois pontos em que a andlise implica julgamestos de valores: © julgamento de que a vida humana vale a pena ser vivida, ou, melhor, pode ser ou deve ser tornada digna de se ver. Este julgamento ristico para a teoria social, e sua rejei¢ao (que é perfeitamente Ngica) lgamento de que, em determinada sociedade, exis- ides especificas de melhorar a vida humana ¢ modos © meios especificos de realizar essas possibilidades, A 14 empiricas. A sociedade estabelecida dispde de uma qu: e uma qualidade determiniveis de recursos intelectuais © rmateriais. Como podem ser ésses recursos utilizados para o mé- ximo desenvolvimento e satisfagao das necessidades e faculdades individuais com 0 teoria historica, © his dda necessidade. Pe dentre as virias maneiras possiveis € sursos disponiveis, quais ofere- organizagao e utilizacao praticas dos recursos da s como dos resultados dessa organizagao e utilizacao. Tal abs- 30 de fatos dado como 0 3 “transcendente” aos fatos ance da respectiva socie- ser metas definiveis da pritica. E, por sinal, a io das instituigdes estabelecidas deve expressar um: déncia real — isto 6, sua transformagao deve ser a necessidade real da populagio bésica. A teoria social se interessa_pelas alternativas hist6ricas que assombram a sociedade estabelecida como tendéncias e fércas subversivas. Os valores ligndos as alternativas realmente se tornam fatos quando transformados em realidade pela pra ica. Os conceitos te6ricos terminam com a transformacéo. soc Mas ai, a sociedade industrial desenvolvida confronta a a com uma situagdo que parece privi-la de suas préprias bases. © progresso técnico, levado a todo um sistema de domi- ia formas de vida (e de poder) que parece reconciliar as fOrcas que se opdem ao sistema e ou refutar todo protesto em nome das perspectivas histéricas de liberdade de labuta e de dominagio. A sociedade coatempo- nea parece capaz de conter a transformagai ‘magio qualitativa que estabelecet diferentes, uma nova ditesao dos provessos produtivos, novas formas de existéncia humana. Essa contengio da transformagao 6 talvez, a mais singular realiza¢io da’ sociedade ind bipartidar io do plu com o Trabalho no seio do Estado forte testemunham a inte- grasio dos oponentes, que é tanto o resultado como o requisito dessa realizagao. ‘Uma ligeira comparacio entre a fase de formagio da teoria da sociedade industrial ©’ sua situacio atual poderé ajudar a ‘mostrar como as bases da critica foram alteradas. Em suas forigens, na primeira metade do século XIX, quando claborou 5 primeiros conccitos das alternativas, a critica da sosiedade industrial alcangou concregao numa mediagio histérica entre tworia e pritica, valéres e fatos, necessidades e objetivos, Essa ‘mediagao histérica ocorreu na consciéncia ¢ na ago politica das dduas grandes classes que se defrontavam na sociedade: a bur- Bucsia e 0 proletariado. No mundo capitalista, ainda sao as lasses basicas. Contudo, 0 desenvolvimento ista alterou a estrutura e a fungio dessas duas classes de tal modo que elas ‘ndo mais parece ser agentes de transformacéo histérica, Um terésse_predominante na preservacio ¢ no melhoramento do tus quo institucional une os antigos antagonistas nos setor ‘mais avangados da sociedade contemporiinea. E a prépria de transformacdo qua recua diante das nogées realistas de uma evolugio nao-explosiva proporcionalmente ao grau em que 0 progresso técnico garante 0 crescimento e a coeiéo da sociedade cor formagao soc F para um alto nivel de abstracao. Nao ha campo algum no qual teoria e pritica, ensamento © aco se harmonizem. Até mesmo a andliss mais cempirica das alternativas histéricas parece especulag ea adesio a cla uma questdo de preferéncia pessoal (ou grupal), Nao obstante, cabe perguntar: essa fal Em face de fatos aparentemente contradit continua insistindo em que a necessidade de transformag va € tao pr quanto em qualquer época, Neces- Siria a quem? A resposta continua sendo a mesma: & sodedade como um todo, para cada um de seus membros. A undo da 16 produtividade crescente e da destruiglo crescente; a iminéncia de Aniquilamento; a rendico do pensamento, das esperancas e do temor as decisdes dos podéres existentes; a preservagio da mi- face de riqueza sem precedente, constituem a mais acusagio — ainda que ndo sejam a razdo de ser desta sociedade, mas apenas um subproduto, o seu racionalismo arrasador, que impele a eficiéncia © o crescimento, ¢, irracional © fato de a grande maioria da populagio accitar ¢ ser levada a aceitar essa sociedade no a torna menos irracional ¢ ‘menos repreensivel. A dist a propria distingao tem de ser validada. © homem tem de vé-la © passar da consciéncia falsa para a verdadcira, do interésse imediato para o interésse real. $6 poders fazé-lo se viver com a necessidade de modificar o seu estilo de vida, de negar 0 posi- tivo, de recusar. F precisamente essa necessidade que a sociedade estabelecida consegue reprimir com a intensidade com que é ccapaz de “entregar as mercadorias” em escala cada vez maior, usando a conquista cientfica da naturcza para conquistar 0 hhomem cientificamente. Ao defrontar com o caréter total das conquistas da sociedade industrial desenvolvida, a teoria critica fica desprovida de fun- damento l6gico para transcender essa sociedade, O vacuo cesvazia a propria teoria, porque as categorias da teoria social critica foram criadas durante © periodo no qual a necessidade de recusa e subversio estavam personificadas na ago de frcas sociais eficazes. Essas categorias eram essencialmente negativas conceitos oposicionistas, definindo as contradi dade europeia do século XIX. A propria categoria “sociedads expressava 0 conflito agudo entre as esferas 50% a sociedade antagénica a0 Estado,’ Do mesmo m “classe”, designavam esferas e {orcas ainda no gradas nas condigdes estabelecidas — esferas de tensio e con- tradigio. Com a crescente integragao da soci -gorias estio perdendo sua conotacao critic: térmos descritives, A tentativa de recuperar 0 ¢ de compreender como Social parece, logo de ini ica hist6rica para 0 ‘a da Economia Pe uma regressio da teo nsamento abstrato ¢ espectl ica para a Filosofia. Esse cardter nv lta do fato de a anilise ser forgada a partt de uma posigéo “externa” i tendéncias da sociedad tanto posiivas como negativas, tanto prodativas como destrutvas. "A Sociedade industrial moderna 2 identidade penctrante désses opostos — € 0 todo que esta em questo. Ao mesmo tempo, a teoria no pode ser meramente especulativa. Deve ser um ponto de vista histérico no sentido de dever basear-se nas aptiddes da sociedade em questio, Essa situacdo ambigua envolve outra ambighidade ainda mais fundamental, Sociedade Unidimensional oscil, 6 prin- cipio ao fim, entre duas hipéteses contraditérias: 1) a de que a Sociedade industrial desenvolvida seja capaz de sustar trans. formacio qualitativa durante o futuro prevail; e 2) a de que existem fOreas e tendéneias que podem romper essa costengio ¢ fazer explodir sociedade. Nao crcio que possa ser dada uma resposta clara, Ambas as tendéncia existem lado a lado — € até mesmo uma dentro da outra, A. primeira tendéncia é dominante, e quaisquer condigdes prévias para reversio, poss velmente existentes, estio sendo usadas para prevenila, Talvez tum acidente possa alterar a situacio, mas, a nd0 ser que 0 feconhecimento do que esta sendo feito e do que esta sendo impedido subverta a consciéncia e 0 comportamento do komem, nem mesmo uma catéstrofe ocasionard uma transformacio A anilise é focalizada na sociedade industrial desensolvida, na qual 0 aparato téenico de produgio e distribuigéo (com um erescente setor de automatizagao) no funciona como 2 soma total de meros instrumentos que possam ser isolados ce seus cicitos sociais © politicos, mas, antes, como um sistema que determina, a priori, tanto © produto do aparato como as opera bes de sua manutengao e ampliagao. Nessa Sociedade, o zparato Produtivo tende a tornar-se totalitério no quanto determina ndo apenas as oscilagdes, habilidades e atitudes socialmente neces- sirias, mas também as nocessidades aspiragoes Oblitera, assim, a oposigéo entre existéncia privada e entre necessidades individuais e soc instituir formas novas, mais efica IA tendéacia to désses con- «da em outro sentido — disseminando- idades totaitirias dessa sociedade, a nogio tradicional de “neutralidade” da tecnologia no mais pode ser sustentada, A tecnologia ndo pode, como tal, ser isolada do uso que The € dado; a sociedade tecnol6gica é um sistema de dominagdo que jé opera no! conceito; ¢ na elaboragdo das téonicas. ‘A maneira pela qual a sociedade organiza a vida de scus membros compreende uma escolha tricas que © intelectual herdado. A propria escolha resulta do j6go dos interésses dominantes, Ela antevé maneiras especificas de utilizar homem e a natureza ¢ rejeita outras maneiras. E um “projeto” de realizagdo entre outros? Mas, assim que o projeto se torna operante nas instituigoes © relacdes bisicas, tende a tornar-se ‘exclusivo e a determinar o desenvolvimento da sociedade em seu todo. Como um universo tecnolégico, a sociedade industrial desenvolvida é um universo politico, a fase mais atual da reali- zagio de um projeto hist6rico especifico — a saber, a experiéncia, 4 transformacdo e a organizagdo da natureza como o mero material de dominacao. Ao se desdobrar, 0 projeto molda todo o universo da palavra da ado, a cultura intelectual ¢ material. No ambiente tecno- ico, a cultura, a politica e a economia se fundem num sistema onipresente que engolfa ou rejeita tOdas as alternativas. O de produtividade e crescimento désse sistema estabiliza ‘a sociedade ¢ contém o progresso téenico dentro da estrutura de dominagdo. A racionalidade tecnol6gica ter-se-A tornado racio- nalidade politica “ Na discussio das tendéncias comuns da sociedade indust desenvolvida, raramente fago referencias especificas. © mat se acha reunido descrito na ampla literatura sociol6 psicolégica sObre tecnologia e mudanga social, geréncia cien- tifica, empreendimento corporativo, transformagdes no carter da_mio-de-obra industrial e da classe trabalhadora etc. Hi rmuitas anilises ni légicas dos fatos — tais como The Modern Corporation and Private Property, de Berle e Means, 6 relat6rios do Comité Nacional Temporério de Economia do 762 Congreso dos E.U.A. sobre Concentragdo de Poder Em face das particul Econémico, as publicagies da AFL-CIO sobre Automatizacao ¢ Principais Transformacées Tecnoldgicas ¢ também as anilises de News and Letters e de Correspondence, de Detroit. Desejo frisar a importincia vital do trabalho de C. Wright Mills ¢ de estudos que sio com freqiiéncia menosprezados simplificagio, do exagéro ow da facilidade jorna Hidden Persuaders, The St Makers, de William H. Whyte, ‘ook,* pertencem a essa catego- cobertas ¢ protegidas as raizes das condigdes des deinando-se que estas falem por si, elas o fazem sufi Talvez a evidéncia mais reveladora se possa 10 ou ouvindo o ridio durante uma . sem desligar nos momentos dos artincios, outra de estagao. é focalizada nas tendé ccontemporaneas mais altamente desenvolvidas. Ha grandes setores dentro ¢ fora dessas sociedades nos quais as tendéncias descritas nao prevalecem — eu antes diria que ainda nio pre- valecem. Destaco essas tendénci — nada mais. © apresento algumas hipéteses SOCIEDADE UNIDIMENSIONAL AS NOVAS FORMAS DE CONTROLE Umma falta de liberdade confortével, suave, razosivel e demo- critica prevalece na civilizago industrial “desenvolvida, um testemunho de progresso técnico. De fato, 0 que poderia ser ais racional do que a supressio da individualidade na mecani- zagao de desempenhos socialmente necessérios, mas penosos; a concentragao de empreendimentos individuais ‘em organizagées mais eficazes e mais produtivas; a regulamentacao da livre com- petigdo entre sujeitos econdmicos desigualmente equipados; redugdo de prerrogativas e soberanias nacionais que impedem a organizacdo internacional dos recursos? © fato de também essa ordem tecnolégica compreender uma coordenagio politica € intelectual pode ser acontecimento lamentavel, mas promissor. Os direitos e liberdades que foram fatOres assaz.vitais nas origens ¢ fases iniciais da sociedade industrial renderam-se a ‘uma etapa mais avancada dessa sociedade: estio perdendo o seu sentido I6gico e contetido tradicionais. Liberdade de pensa- ‘mento, liberdade de palavra e liberdade de consciéncia foram — assim como o livre empreendimento, que elas ajudaram a pro- substituir uma cultura mate icionalizados, ésses raram do destino da sociedade da hhaviam tornado parte integral. A realizacao cancela as premissas. As liberdades que pertencem a um estado de mais baixa ia concreta de t6da liberdade, idependéncia de pensamento, autonomia e direito a oposigao politica esto perdendo sua funca0 critica basica numa sociedade que parece cada vez mais capaz 23 de atender s necessidades dos individuos através da forma pela qual ¢ organizada. Tal sociedade pode, justficadamente, exigit a accitagao dos seus principios e instituigdes © reduzir a oposicao 8 discussio e promogio de diretrizes alternativas dentro do status quo. A ésse respeito, parece fazer pouca diferenca o ser a cres- cente satisfagiio das’ necessidades conseguida por um sistema totalitério ou nio-totalitario. Nas condigdes de um padrao de Vida crescente, 0 n3o-conformismo com o préprio sistema parece socialmente principalmente quando acarreta desvantagens ceconémicas ¢ politicas tangiveis ¢ ameaca o funcionamento suave do todo. Na verdade, parece ndo haver razio alguma, pelo ‘menos no quanto estejam compreendidas as necessidades da vida, para que a producio e distribuicdo de mercad. se déem por intermédio da concorréncia compei dades individuais A liberdade de empreendimento no foi de modo algum, desde 0 i berdade de trabalhar ou morrer a inseguranca e temor para a grande maioria da populagdo. Se 0 individuo nao mais fosse a se demonstrar no mercado como um sujeito eco- rnomico livre. © desaparecimento désse tipo de liberdade luma das maiores conquistas da civilizagdo, Os processos tecno- logicos de mecanizacao e padronizagio podem liberar energia individual para um dominio de liberdade ainda desconhecido, para além da necessidade. A propria estrutura da existéncia mana seria alterada; o individuo seria libertado da imposicao, pelo mundo do trabalhi, de necessidades ¢ possibilidades alheias a le; ficaria livre para exercer autonomia sObre uma vida que seria ‘sua. Se 0 aparato produtivo pudesse ser organizado ¢ orientado para a satisfacao das necessidades vitais, seu controle bem poderia ser centralizado; tal con nomia individual, antes tornando-a pos Trata-se de meta ao alcance das industrial desenvolvida, © Na realidade, contudo, op ‘posta: 0 aparato impoe suas exigéncias econdmicas ¢ politcas para a dofesa e a expansio ao tempo d> trabalho e a0 tempo livre, & cultura contemporiinea io € apenas uma coordenagio politica terrorista da sociedade, mas também uma coordenago técnico-econdmica nio-terrorista que opera através 24 da manipulasio das necessidades por inteésses adquiridos. Im- pede, assim, o surpimento de uma oposigio eficaz ao todo. Nao Apenas uma forma especifica de Govérno ou ditesio partidaria consttui totaltarismo, mas também um sistema especifico de produgdo e_distribuigdo que bem pode ser compativel com 0 “pluralismo” de partidos, jornais, “podéres contrabalangados” ete Atualmente, © poder politico se afirma através dos seus podéres sbbre 0° provesso mecinico ¢ sObre a organizacio téc- nica do aparato. O govérno de sociedades industrias desenvol- Vidas e em fase de desenvolvimento s6 se pode manter e garantir quando mobiliza, organiza e explora com éxito a produtividade técnica, cientifica e mecinica a disposigao da civlizagéo indus- trial. E esta produtividade mobiliza a sociedade em seu todo, cima e além de quaisquer interésses ind viduais ow grupais 0 fato brutal de 0 poder fisico (sdmente ‘isico?) da méquina superar o do individuo e 0 de quaisquer grupos particulares de individuos torna a méquina o mais eficiente instrumento politico de qualquer sociedade cuja organizagio bisica seja a do proceso mecanico. Mas a tendéncia politica pode ser inver- tida; essencialmente, © poder da maquina € apenas o poder do homem, armazenado e projetado. © mundo do trabalho se toma a base potencial de uma nova liberdade para o homem ‘no quanto seja concebido como uma maquina e, por conseguinte, mecanizado, A. civilizago industrial contemporinea demonstra haver aleangado a fase na qual a “sociedade livre” nio mais pode set adequadamente definida nos térmos tradicionais de liberdades econdmica, politica intelectual, no porque essas liberdades se tenham tornado insignificantes, mas per serem demasiado significativas para serem contidas nas formas tradicionais. Novas ‘modalidades de concepsdo se tornam necessiias, correspondendo as possibilidades da sociedade Essas novas modalidades s6 podem ser indicadas em térmos negatives porque importariam a _negacéo das modalidades comuns. Assim, liberdade econdmica signiicaria liberdade de economia — de ser controlado pelas forcas e relagées econd- micas; liberdade de tuta co tem controle eficaz algum. Do ‘mesmo modo, liberdade intelectual significatia a restauragio do 1 ven 6. 25 pensamento individual, ora absorvido pela comunicagio dou- trinagdo em massa, aboligio da “opiniio publica” juntamente com os seus forjadores. © tom irreal dessas proposigées no indica seu cariter ut6pico, mas o vigor das forcas que impedem G80. A mais cficaz e resistente forma de guerra contra iplantagdo das necessidades materiais e inte- lectuais que perpetuam formas obsoletas da luta pela exittencia, acima do nivel biolégico. sempre foram_precondici fato de a possibilidade de se fazcr ou deixar de lado, gozar ou destruir, possuir ou rejitar algo ser ou no tomeda por rnecessidade depende de poder ov no ser ela vista como desejivel ler€sses ¢ instituigdes sociais comuns. Neste sentido, as necessidades humanas sio nevessidades histéricas e, © desenvolvimento repressivo do as proprias necessidades individuais e o diteito destas a satisfagao ficam sujeitos a padres criticos predomin Podemos distinguir tanto as necessidades ver as falsas necessidades, “Felsas” so aquelas superimpostas ao individuo por interésses sociais particulares a0 reprimi-lo: as recessidades que perpetuam a labuta, a agresividade, a misia njustiga. Sua satisfacio pode ser assaz agradével ao in Siduo. mas feicidade deste mio é uma condo que fem de ser mantida e protevida caso sirva para coibir 0 desenvolvimento da aptidio (déle € de outros) para reconhecer a moléstia do todo ¢ aproveitar as oportunidades de cura. Entio, o resultado & euforia na infelicidade. A maioria das necessidades comuns de descansar, distrair-se, comportar-se ¢ constimit de acdrdo zom os aniincios, amar e odiar 0 que os outros amam e odciars, per- tence a essa categoria de falsas necessidades, determinados por forcas externa tem contréle algum; 0 desenv to € a satisfagdo dessas necessidades so heterOnomos. Independentemente do quanto tais necessidades se possam ter tornado do proprio individuo, reproduzidas ¢ fortalecidas pelas condigdes de sua existéncia; independentemente do quanto éle se identifique com elas € se encontre em sua satisfagdo, elas continuam a ser o que eram de inicio — produtos de uma sociedade cujo interésse dominante exige repressao. (© prevalecimento de necessidades repressivas é um fato consumado, accito na ignordncia ¢ na derrota, mas um feto que 26 deve ser desfeito. no interésse do individuo bem como no Gaqueles cuja miséria é 0 progo de sua satisfacdo. As Gnicas necessidades que tém direito indiscutivel & satisfago so as necessidades vitais — de alimento, roupa e teto ao nivel alcan- vel de cultura. © atendimento a essas necessidades é 0 requi- Sito para a realizagao de fdas as necessidades, tanto das subli- madas como das “nio-sublimadas. ra qualquer percepgio e cons para_qualquer experiéncia que nio aceite o interésse social predominante como 4 Tei suprema do pensamento ¢ do comportamento, o universo lades e satisfagdes estabelecido & fato a ser questionado jo em térmos de veracidade e falsidade, sses térmos. so totalmente hist6ricos, e sua objetividade € histérica. O julgamento das necessidades ¢ sua satisfagdo, nas condicoes dadas, envolve padroes de prioridade — padres que se referem imento timo do individuo, de todos os individuos, 1 utilzagéo dos recursos materiais e intelectuais & homem, Os recursos sio calculaveis. “Veraci- de” das necessidades designam condigdes obje- tivas no quanto a satisfagio universal das necessidades vitais e, além disso, a suavizagio progressiva da labuta e da pobreza scjam padrées universalmente vilidos. Mas, como padrOes.his- t6ricos, no apenas variam de acdrdo com a rea e 0 estégio do desenvolvimento como também s6 podem ser definidas em (maior ow menor) coniradigdo com os padrées comuns. Que tribunal se poderd invocar autoridade para decidir? anilise, a questio sibre quais_necessidades ou verdadeitas 56. pode ser respondida pelos proprios individuos, mas apenas em ltima andlise; isto &, se E-quando cles estiverem livres para dar a sua propria resposta, Enguanto.éles forem mantidos incapazes de set avtOnomos, {enguanto forem dotitrinados e manipulados (até os ses prOprios instintos) a resposta que derem a essa questo no podera ser tomada por sta. E, por sinal, aenhum tribunal pode com justia Se arrogar 0 dircito de decidir quais necessidados devam set incrementadas ¢ satisfeitas. Qualguer tribunal do. género é repreensivel, embora a nossa revulsio no elimine @ questio: Como podem as pessoas que tenham sido objeto de dominasao sficaz © produtivacriar elas proprias as condigbes de liberdade?® 2 if sua pr de impor a Razio a uma socic- aradcxal e escandalosa — embora se possa ‘io de uma sociedade que ridiculariza essa ideia sempre impedido pela predomi- wgdes que se tornaram, em grande 10. O processo substitul sempre jonamento por outro; 0 objetivo € a substituigio de falsas necessidades por outras verdai abandono da satisfagdo repressiva, P ‘a da sociedade industrial desen- volvida € a sufocagao cas necessidades que exigem libértagio — libertagdo também do que é 1 e compensador ¢ confor- tavel — enquanto mantém e absolve 0 poder destrutivo e a fungGo repressiva da sociedade afluente. Aqui, os sociais extorquem a necessidade irresistivel para a produgdo e necessidade de trabalho estupefa- necessidade real ‘a necessidade de manter liberdades decepeciona se autocensura, a livre escolh _Sob 0 jugo de um todo repressivo, a liberdade pode ser trarisformada em poderoso instrumento de dominacao. O alcance da escolha aberta a0 individuo no & o fator decisive para a ago do grau de liberdade . mas 0 que pode ser escolhido e 0 que & escolhido escolha jamais pode se relativo. A cleiga necessidades superimpo: nunha a eficacia dos A nossa insisténcia na profundidade ¢ eficicia désses con- triles & passivel da objecio de que superestimamos grandemente © poder de doutrinagao dos “meios de informacao” e de que as sm ¢ Satisfariam por si as necessidades que Ihes S30 agora impostas. A objecdo foge a0 Amago da questio. O precondicionamento ndo comega com a producio em massa de i jo € com a centralizagio de seu controle. As se ja sendo de ha muito receptéculos esti: no aplanamento do necessidades dadas e as possiveis, la sua funcdo idcolégica. Se 0 balhador e seu patrao assistem a0 mesmo programa de tele- visio ¢ visitam os mesmos pontos pitorescas, se a datiligrafa se apresenta tio atraentemente pintada quanto a filha do patrao, slo com que as necessidades e satisfagdes que servem A preservacao do Estabelecimento € compartilhada pela popu- lagao subjacente, meios de trumentos de informacdo ¢ di tinguidos como agentes de niente? Entre os horrores eas comodidedes da arquitetura fancional? Entre o trabalho para a defesa nacional ¢ 0 trabalho para o lucto corporativo? Entre a satisfagdo pessoal e a uti comercial ¢ politica compreendida no aumento do i natalidade? Defrontamos novamente com um dos aspectos badores da civilizacio industrial desenvolvide: 0 de sua irracionalidade. Sua produtividade e cidade para aumentar € disseminar comosidades, para trans- formar 0 residuo em necessidade ¢ a destrugio em construcio, © grau com que essa numa extensio da mente ¢ do corpo humanos tornam questio- nivel a propria nogdo de alienagao. As criauras se reconhecem em suas mercadorias; encontram sua alma em seu automével, casa em Patamares, utensilios de cozinha. O- proj gio transforms 0 mundo objetivo 29 mecanismo que ata o individuo 3 sua sociedade mudou, ¢ 0 contrdle social esté ancorado nas novas necessidades que ela produzi. As formas prevalecentes de> contrdle social so tecnolbgicas ‘num novo sentido. Na verdade, a estrutura e eficigncia téenicas do aparato produtivo e destrutivo foram um meio importante de sujeitar a populagao a divisio social do trabalho esta durante todo 0 periodo moderno. Mais ain sempre foi acompanhada de formas de compul perda dos meios de sustento, a distribuicio da justica, a policia, as férgas armadas. Mas, no periodo contemporineo, os con- {roles tecnolégicos parece serem a prépria personificazio da Razio para o bem de todos os grupos e interésses sociais — a tal ponto que tda contradicdo parece irracional e tua ago contréria parece impossivel. de admirar que, nos setores mais desenvol- sto, 0 contrbes sociais tenham sido intro- jetados a ponto de até o protesto individual ser afetado em suas izes. A negativa intelectual e emocional de “prosseeuit” parece neurdtica e impotente. Esse & 0 aspecto sécio-psicol6gico do acontecimento politico que marca o periodo contemporaneo: © desaparecimento das fOrcas histéricas que, na fase enterior a sociedade industrial, pareceu representarem a possibilicade de novas formas de existéncia, Mas talvez 0 térmo “introjecdo” no mais descreva 0 modo pelo qual o préprio individuo reproduz e perpetua os ccntrdles externos exercidos pela sociedade. Introjesio sugere uma vari dade de processos relativamente espontineos pelos quais um Assim, Eu (Ego). transfere 0 introjego subentende a e distinta e até antagénica das exi sxterior” para o sncia de uma dimensio lesigna o espaco privado no pode tornar-se e permanecer “éle prépris ésse espago privado se apresenta inv lade tccnol6gica, A produgio ¢ a distri- 30 uigdo em massa reivindicam 0 individuo inteiro e a psi industrial deixou de ha muito de limitar-se & fabrica Os mi process0s de introjesdo parecem dssificados em reagGes quase mecdnicas. © resultado ndo € o ajustamento, mas a mimese: ‘uma identificagao imediata do individuo com a sua sociedade e, através dela, com a sociedade em sew todo, Essa identificagio imediata e automética (que pode ter sido caracteristica das formas imitivas de associagdo) reaparece clevada; contudo, sua “imediagéo” é i ficas, Neste processo, a dimensio “interior” da mente, na qual fa oposigdo a0 status’ quo pode criar raizes, € desbastada, A perda dessa dimensio, na qual 0 poder de pensamento negative — o poder eritico da Razio — esté A vontade, é a contrapartida ‘dcoldgica do préprio proceso material no qual a sociedade industrial desenvolvida silencia ¢ reconcilia a oposigéo. © im- pacto do progresso transforma a Razio em submissio aos fatos da vida ¢ & capacidade dinimica de produzir mais ¢ maiores fatos do mesmo tipo de vida. A eficiéncia do sistema embota © reconhecimento individual de que ela nao contém fato algum ‘que nio comunique o poder repressivo do todo. Se os individuos coisas que moldam a vida déles, nao o fazem ditando, mas aceitando a lei das coisas — nio a Iki da Fisica, ‘mas a lei da sociedade. ‘Acabo de sugerir que 0 conceito de alicnacio parece tornar- se questionavel quando os individuos se identifieam com a cexisténcia que Ihes & imposta e tém nela seu proprio desenvolvi- mento ¢ satisfagio. Essa identificacdo no é uma ilusio, mas uma realidade, Contudo, a realidade constitui uma etapa mais progressiva de alienacao. Esta se tornou inteiramente objetiva. 0 sujeito que é alienado ¢ engolfado por sua existéncia alienada. HG apenas uma dimensio, que esté em téda parte ¢ tem t6das as formas. As conquistas do progresso desafiam tanto a con- denagio como a justficagao ideolégicas; perante dessas conquistas, a “falsa consciénc torna a verdadeira consriéncia, Essa absorgdo da ideologia pela realidade nao significa, contudo, 0 ido especifico, a cultura industrial avangada ¢ mais ideol6gica do que sua predecessora, visto que, atualmente, a ideologia esta 31 ‘no préprio processo de producio* Esta proposigio revela, de forma provocadora, os aspectos politicos da racionalidade tecno- jgica_prevalecente. O aparato.produtivo e as mercadorias ¢ servigos que éle produz “vendem” ou impoem o sistema social ‘como um todo. Os meios de transporte e comunicagao em massa. as mercadori lento e roupa, a producio irresistivel da indistria de diversdes ¢ informacao trazem consigo atitudes ¢ ‘abitos prescritos, certas reagdes intelectuais © emocionais que prendem os consumidores mais ou menos agradavelmente 03 rodutores e, através déstes, a0 todo. Os produtos doutrinam © manipulam; promovem uma falsa consciéncia que ¢ imune a sua falsidade. E, a0 ficarem ésses produtos benéflc sigo de maior 8 doutrinagio que éles portam deixa de ser publicidade; torna-se um estilo de vida. E um bom estilo de vida — muito melhor do que antes — e, como um bom estilo de vida, milita cont transformagio qualitativa. Surge assim um padrio de pensa- ‘mento ¢ comportarrento unidimensionais no qual as idéias, as aspiragdes e 0s objetivos que por seu contedido transcendcm 0 uuniverso estabelecido da palavra e da agio sao repelidos ow reduzidos a térmos désse universo, Sao redefinidos nalidade do sistema dado e de sua extensio quantitativa uma evolugdo no todo cientifico: cperacionalismo nas Ciéncias Fisicas, beha- mo nas Ciéncias Sociais. A caracteristica comum é um empirismo total no tratamento dos conceitos; o significado déstes € restringido a representacdo de operagdes © comportamento especiais. O ponto de vista operacional esté bem exemplificado nna andlise do conesito de comprimento de P, W. Bridgman’ SSabemos evidentemente © que queremos dizer por comprimento se po- demos dizer 0 que seja © comprimento de todo'e qualquer objclo, nada Imais sendo_ nesessirio a0 Para deter ‘um objeto, temos de levar a feito certas of ‘onjunto de operayees elo qual © comprimento € determinado Fm geral, por qualquer eremos dizer do-que um conjunto Ge. operagoes: © conceito € sindnimo do conjumto de operagies correspondente Bridgman viu as amplas implicagdes désse modo de pensar para a sociedade em geral:6 A predicdo de Bridgman se tornou realidade, O novo modo de pensar € hoje a tendéncia predominante em Filosofia, em 1, em Sociologia e em outros campos. Muitos’ dos conceitos mais sériamente perturbadores estio sendo ppela demonstragao de que néo s: pode encontrar para les justificativa adequada alguma em térmos de operagdes ou capitulos 7 e 8 0 dircito desta a0 empirismo) garante, a justfcativa metodol6gica para a desmoralizagio pelos intelectuais — um positvismo que, em sua negacio dos elementos transcendentes da Razio, forna a réplica académica do comportamento socialmente exigido. Fora do estabelecimento académics, a “modificagio de arande alcance de todos os nossos hibitos de pensar” & mais séria, Serve para coordenar idéias e metas com as que s30 reclamadas pelo sistema prevalecente, para incluilas no sistema € para repelir as que sejam irreconciidveis com o sistema, O reinado de tal realidade unidimensional nao significa 0 dominio do materalismo e que as ocupagies Ct Dobmias esejam desaparecendo, elo conti bastante romogdes do género “Worship together this wee n Uh Ge Zen, ouscnciaiomo ess extsor de wd Poem 16F. W, Brideman, The Lote of Modem Phrsct, loc. ots BDH S BIBLIOTECA 2 e 2 Gon. gps , 33 c 10 pritico, sua negacdo inofen- siva, rapidamente digerida pelo status quo como parte de sua dieta salutar. O pensamento unidimensional ésistematicamente promovido pelos elaboradores ca politica e seus provisionadores de infor- ‘magio em massa. 0 universo da palavra, déstes e daqueles, é Povoado de hipSteses autovalidadoras que, incessante ¢ mono- isticamente repetdas, se tornam definigdes ou presctigoes es” so as instituigBes que operam (6 sio operadas) nos pafses do Mundo Livre; outras formas transcendentes de literdade sio, por definigfo, anarquismo, co- ‘munismo ou propaganda. “"Socialistas” so tdas as invasdes da livre emprésa.nio-realizadas pelo proprio livre empreendi- ‘mento (ou por contratos governamentais), como o seguro de saide universal © amplo ou a protecéo da natureza, contra a comercalizagio arracadora ou a criagdo de servigas publicos que possam ferir 0 lucro privado, Essa logica totalitria de fatos cconsumados tem sua correspondente no Mundo Comunista. Ai liberdade € o estilo de vida instituido pelo regime comunis ¢ t6das as outras formas transcendentes de liberdade so capi lista, ‘revsionstas cu sectaismo esquerdista. Em ambos, as idéias ndo-operaciomas sio ndo-behaviorisas e subversivas, © ‘movimento do pensamento encontra barreiras que parece serem 0s limites da propria Razio. Tal limitagdo do pensamento certamente nfo constitui novi dade. O racionalismo moderno ascendente, tanto em sua forma especulativa como empitica, mostra um contraste gritante entre 0 ralcalimo eritco etemado no método cinta &fiossico, de um lado, is Assim, 0 ego cogitans de Descartes se destinou a deixar os “grandes érgios pilicos” intatos, e Hobbes era de opiniio que “o presente deve ser sempre ‘preferido, mantido e levado mais cm conta”. Kant concordava com Locke em justificar a revolugdo se ¢ quandy cla tenha alcangado éxito em organizar 0 todo e em impedir 2 subversio, Contudo, os conccitos acomodadigos da Razio foram sempre contestados pela evidéncia de miséria ¢ injustiga dos “grandes Orgios piblizos” e pela rebelido eficaz ¢ mais ou menos onsciente contra éles. Existiram condigées sociais que provo- ‘aram ¢ permitiram a dissociacdo real do estado de coisas 34 cxistente; estava presente uma dimensio tento privada como politica na qual a dissociagao podia tornar-se oposicio eficaz, pondo & prova seu vigor ea validez dos seus abjetivos, Com o fechamento gradativo dessa dimensio pela socie- dade, a autolimitagao do pensamento adquire maior significagio. A inter-relagio entre os processos cientifico-ilosdficos e saciais, entre a Razdo te6rica e pritica, se afirma listas e filésofos. A sociedade barra todo um tipo de operacdes © comportamento oposicionistas; conseqiientemente, os conceitos 2 les relativos so tornados ilus6rios ou sem sentido, A trans- cendéncia histérica se apresenta como transcendéncia metafisica, inaceitavel pela ciéncia e pelo pensamento cientifico. O ponto de vista operacional e behaviorista, praticade como um “habito de pensamento” em geral, se torna a visio do universo estabe- lecido da palavra e da acdo, das necessidades e aspiragbes. A finura da Razio" funciona, como freqiientemente féz, no inte- résse dos podéres existentes. A insisténcia nos conceitos opera- cional e behaviorista se volta contra os esforcos para libertar © pensamento e 0 comportamento da realidade dada ¢ para as alternativas suprimidas. A Razio te6rica e pritica e 0 beha- viorismo académico ¢ social se encontram em campo comum: © de uma sociedade avancada que transforma o progresso cien- tifico e téenico em instrumento de dominagao, “Progresso” no € um térmo neutro; encaminha-se para fins especificos, © ésses fins so definidos plas possibilidades de melhorar a condigéo humana. A sociedace industrial desei volvida se aproxima da fase em que o progresso continuo exigiria a subversio radical da diregio © organizagao do progresso Essa fase seria atingida quando a producao ‘material (incluindo os servigos necessérios) se tornasse automa- tizada a ponto de tOdas as nocessidades vitais poderem ser atendidas enquanto o tempo de trabalho necessatio fosse redu- Zido a um tempo marginal. Dai por diante, o progresso técnico transcenderia ao reino da necessidade no qual ser instrumento de dominagdo e exploracao, que désse modo sua racionalidade; a tecnologia ficaria sujita 3 livre atuago das faculdades na luta pela pacificacao da natureza e da sociedade. Tal estado € visualizado na nocdo de “aboligio do trabalho” de Marx. A expressio “pacificagio da existéncia” parece mais apropriada para designar a alternativa histérica de um mundo que — por meio de um conflito internacional que transforma € suspende as contradigées no seio das socicdades estabelecidas, 35 — avanca & beira de uma guerra mundial. “Pacificagio da existéncia” significa a luta do homem com o homem e com a natureza sob condigGts nas quais as necessidades, os desejos © as aspiracOes, competidores, ndo mais sio organizados, por interésses adquiridos, na dominagdo escassez — uma organi- zagio que perpetua as formas destrutivas dessa uta, bases de massas na populacéo subjacente e acha sua idcologia na orientago rigida do pensamento ¢ do comportamento no uuniverso de fatos daco. Validado pelas conquistas da ciéncia € da tecnologia, justicado por sua crescente produtividade, 0 to desafia téda transcendéncia, Defrontando com a le de pactficacao com base em suas conquis lectuais, a sociedade industrial madura se fecha idade opre A contengdo do progresso técnico (© seu crescimento na direcdo esta- ves politicos impostos pelo status ‘teenologia parece capaz de criar as condigées para pacificagio, tanto mais sio a mente ¢ 0 corpo do homem organizados contra essa alternativa, Os setores mais avancados da sociedade indus completamente ésses dois fatdres: a tendénc ostentam para a consumagao S08 para conter essa Eis a contradigéo icional de sua raciona- lidade. E 0 totem de suas realizagdes. A sociedade industrial ue faz suas a tecnologia e a ciéncia & organizada para a domi: nnacao cada vez mais eficaz do homem e da natureza, para a utilizagao cada vez mais eficaz de seus recursos. Torna-se racional quando 0 éxito désses esforcos cria novas dimensdes de realizacdo humana, Organizagao para a paz € diferente de para a guerra; as instituigées que serviram & luta téncia no podem servir & pacificagdo da existéncia. ‘A vida como um fim & qualitativamente diferente da vida como cia jamais poder transformagoes ¢ das novas instituigdes transformagio fem que repousa essa sociedade S pelas quais a ‘agressivo de admi- sustenta "segunda nistragao téenicas politicas, como tal, prejulgam as poss da Liberdade. Na verdade, 0 trabalho tem de preceder a redugio do tra- balho, e a industrializagio tem de preceder o desenvolvimento ddas necessidades e satisfagdes humanas. Mas como toda liber- dade depende da conquista de necessidade alienigena, a realizagao dda liberdade depende das técnicas dessa conquista. A mais alta produtividade do trabalho pode ser usada ara a perpetuacio do trabalho, ¢ a mais eficiemte industrializigio pode servir a restrigio e manipulagio das. necessidades. ‘Quando ésse ponto é atingido, a dominagio — disfarcada em afluéncia e liberdade — se estende publica e privada, integra tOda oposicao auté politica ao se tornar o grande veiculo de melhor dominacio, indo um universo verdadeiramente totalitirio no qual socic~ permanente mobilizagdo para a defesa déss> universo. 37 2 © FECHAMENTO DO UNIVERSO POLITICO. A $00 que toma forma nos Setores mais avangados da civlizagio industri, combina em jodutiva as caracteristicas do Estado do Bem-Estar e Go" Bxtado Beigrante. Comparada com sas, predecssoras, la é na verdade, uma “nova sociedade”. Os pontos proble- tradicionais estio sendo dissipados ou isolados, sendo tendéncias da economia nacional nas necessi- dades das grandes corporacdes, sendo 0 Govérno uma férca, estimulante, sustentadora e por vézes até controladora; cesloca- ‘mento dessa economia para um sistema mundial de_zliangas militares, convénios monetiris, assisténcia técnica e planos de- senvolvimentistas, assimilago gradativa das populagdes de ope- rrios © “colarinhos brancos”, ” de tipos de lideranga nos neg6- cios e no trabalho, de atividades das horas de lazer aspiragoes em diferentes classes sociais; fomento de uma harmonia prees- tabelecida entre a erudigdo € o propésito nacional; Vida no lar pelo companheirismo da opiniao pat da alcova aos meios de informagdo em massa, Na esfera politica, essa tendéncia se manifesta em marcan- roses competives de ey Sob a ameaca de comuntemo internacional se extends pel tea interna, onde ot programas dos randes partidos se tortam cadaver mais infeensavi, até mesmo no Bau de higocia Erno odor dos chives, Esa unica Jos pests se abate sobre as props posiblidades de tansformagao soci onde 38 abrange as camadas sdbre cujos ombros o sistema progride — isto &, as proprias classes cuja existéncia antes personificava a oposigdo ao sistema como um todo. Nos Estados Unidos, notam-se o conluio e a alianca entre 0s negécios e o trabalho organizado; em Labor Looks at Labor: A Conversation, publicado pelo Centro de Estudo das Institui- ‘Goes Democriticas em 1963, lemos que: (© que aconteceu & que 0 sindicato se tornow it fagho. aor seus prOprios olhos. Vemes hoje em apses procurando, conjuntament O' sindicato nfo ‘conseguird.convencet os operirios das fabricas de fe corporasio, estio.procurande sinflu- maiores contratos de construgio de foguetes lstrias da defesa para 0 seu setor, ou quando omparecem juntos a0. Congresso pars, juntos, pedir que sejam cons- truidos foguetes em vez de bombardeires, ou bombardeitos em vez de foguetes, dependendo de que contrato eles tenham conseguido, © Partido Trabalhista Britinico, cujos lideres competem com seus similares conservadores na promoséo dos interésses nacionais, encontra dificuldades para defender até mesmo um modesto ‘programa de nacionalizagio parcial. Na Alemanha Ocidental, que tornow ilegal o Partido Comunista, o Partido Social-Democrata, tendo rejeitado oficialmente os seus progra- ‘mas marxistas, esté provando de modo convincente a sua res- peitabilidade. "Esta é a situagio nos principais paises industriais do Ocidente. No Oriente, a reducdo gradativa dos contrdles politicos diretos testemunka a crescente confianca na eficécia dos contréles tecnolégicos como instrumentos de dominacao. Quanto aos fortes partidos comunistas da Franga e Ilia, cons- tituem testemunho da tendéncia geral das circunstincias ao ade- rirem a um programa minimo que arquiva a tomada revolucio- niria do poder e concorda com as regras do jégo parlamentar. Contudo, embora seja incorreto considerar os partidos francés ¢ italiano como “estrangeiros” com o sentido de serem ‘mantidos por uma poténcia estrangeira, hi um miicleo na tencional de verdade nesta propaganda: sio estrangeir quanto sio testemunhas de uma histéria passada (ow futura?) nna realidade atual. Se concordaram em trabalhar dentro da estrutura do sistema estabelecido, ndo o fizeram meramente com ‘motivagio titica e como estratévia de curto alcance, mas por- ue suas bases sociais foram enfraquecidas e seus objetivos 39 2, que ica). Os partidos comunistas nacionais desempe- ‘nham 0 papel histérico de partidos da oposigao legais “conde. nados” a nao ser radicais. Sao um testemunho da profundidade bem como das condi sou essa alte- para determinar Ocidente, de classes so atenuadas ¢ as “contradigo ialistas” sus- essa amea- ras des 0% aes industrais Trata-se de coesio por motivos assaz materiais; a mobilizaca0 contra 0 inimigo age como poderoso estimulo da producio e do emprégo, mantendo, assim, 0 clevado padrio de Vida. um universo lads éficos da produt . Seta essa estal lista de produgio (contradigéo ropriedade privada dos meios de producio ¢ social), ow seri uma transformagio da. pr g6nica, que resolve as contradigoes a0 torn: leréveis? E, Se a segunda hip6tese é veridica, como modifica ela a relacao entre e: mo que féz éste parecer a negacéo daquele’ Contengdo da transformagdo social ta clissica visualiza a transigio do capit smo como uma revolucio politica: 0 pro- do capitalismo, mas conser- “co, submetendo-o a socializagio. Ha 40 lum pronunciamento mar- xista sovietico sdbre essa continuidade, que ¢ tio importante para a nogdo de socialismo quanto a negasdo resoluta do ca- pitalismo: 1 Conquanto © desenvolvimento da tecnologia esteja suieto as leis sonificada, a despeito de seu uso irraci tivo. Isso no se aplica apenas as amentas ¢ exploragio de recursos, mas também 2 maneira de trabalhar como adaptaco a0 proces ini seio do socialista de tOdas as férgas prod Na verdade, Marx era de opiniio diregdo do aparato produtivo pelos “produtores im 7 troduziriam uma modificagio 41 ma continuidade tée- ica: a saber, produgio visando a satisfacéo de necessidades mente desenvolvidas. Contudo, tiva compreende uma modificagio na préj lecido engolfa a e: da sociedade — universo politico que incorpora as E tal modificacéo pressuporia que as classes trabalhadoras €s- triste nesse unverso, de modo que a sio qu hezasdo exis de que as forsas da ‘sociedade"estabelecda -€ uma’ pedra angular da’ teria marnista? precisamente &sa nova consciénca, ésse “espago ‘0 espago para a pritica histOrica transcendente, que sendo barrado por uma sociedade na qual tanto 0s sujcitos como 0s objetos consituem instrumentos um todo que tem a i izagdes de sua produtividade cada vez is cuja vida € 0 inferno da Sociedade mantidos na ordem por uma brutalidade que re vais dos mam a servidio concretiza ésse sobre 0 conceito marxista de Para Marx, proletério , primor ue gasta’e esgota sua energia mente, o trabalhador no proceso de traball ‘A compra e 0 uso ‘manas, para a aproprisco privada da mai Itantes aspectos. desuman reside ‘que @ ‘entemler techniques 42 ne pouvaient se consttuer quien incorporant Phomme comme porteur Gout. egractére formant de la profession dat & la four peychgue mecanizagio cada vez mais completa do 10 mo desenvolvido, conquanto mantendo a explora- ide ¢ a condigao do explorado, No seio do © trabalho mecanizado no qual reagdes mmaticas preenchem a maior parte (se dde trabalho continu: sendo, como uma ccupagéo para téda a vida, uma escravidio exaustiva, entorpe- cedora, desumana ida mais exaustive por causa do au- mento na velocidade do trabalho, contrdle dos operadores. de miquinas (em vez do produto) e isolamento dos trabalhadores uuns dos outros. Na verdad 10 & expres- siva da automatizacéo coibida, cia de se- tores automatizados, semi-automatizados e nio-automatizados dentro de uma mesma fabrica, mas, até mesmo sob tais condi- goes, “a tecnologia substituiu ‘a fadiga muscular pela tensio e (ou) esférgo mental”.* A transformagio da energia fisica em aptidées técnicas e mentais & salientada para fabricas automati- zadas mais desenvolvidas: ‘do que ‘dos mi mais do balkador bragal; do téenico de manutengio mais do que do Esse tipo de escravizagdo magistral nio € essencialmente diferente da escravizago da datil6grafa, do contador bancério, do vendedor efi levisio. A. padroniza: gio e a rotina assimilam as ocupagdes produtivas e nio- produtivas. O prolet he, Toxard the Automatic New Haven: Yate 5 BRE 43 ‘na busca das necessidades © dos supérfluos da vida enquanto vivia na imundicie e na pobreza. Ele era, assim, a negacao viva de sua sociedade.? Em contraste, 0 trabalhador organizado dos setores avangados da sociedade tecnolégica vive essa negacao ‘menos conspicuamente e, como os demais objetos humanos da 10 social do trabalho, esta sendo incorporado & comunidade tecnolégica da 40 administrada. tores da autor de comunidade tecnoligica parece no trabalho. A méquina parece in: ‘nos operadores: lar certo ritmo de servidio Esti geralmente acco que movimentosinterdependenes realizados por Sue seguem um padido rimico proporconam sas independente do que ese endo feo por meio os © 0 observador-socidlogo acredita ser isso uma razdo para a eriagio gradativa de um “clima geral” mais “favordvel tanto & producdo como a certos Ble cita estas palavras de um trabalhador: “Tudo consi- derado, vamos com 0 balanco das coisas..." A frase expressa admiravelmente a transformagao na escravizagio mecanizada: as coisas balangam em vez de oprimir e sacodem o instrumento humano — no apenas seu corpo, mas também sua mente ¢ até sua alma. Uma observagdo de Sartre lucida a profundidade lo proceso: Personne dont couple fermé Sur sok. Male est la machine en ele 4 oslo ds mguons sembauombics, at iavenieastes ‘go WMopesha epecauinsie se Sam eins Sait 44 Nos estabelecimentos industriais-chaves, a mio- féria declina em relagio ao elemento “colarinho- 1eto de trabathadores ndo-empenhados na produ- do aumenta.!! Essa modificagdo quantitativa se relaciona com luma mudanga havida nos instrumentos biscos de produgio.'* Na etapa avancada da mecaniza¢o, como parte da realidade tecnoldgica, a maquina ndo é firma sua maior dominacéo ao reduzir a “auto- nomia profissional” do trabalhador, integrando-o com outras profiss6es que sofrem e dirigem 0 conjunto técnico, no quanto se toma, ela propria, um sistema de ferramentas ¢ relagies mecinicas, indo, assim, mais além ss0 de trabalho individual. Na verdade, a autonor trabalhador era, antes, sua escravizagdo profissional. modo especifico de escravizagio era, 20 mesmo tempo, a fonte de seu poder especifico, profissional de negicio — 0 poder de parar um processo que o ameagava de aniquilamento como ser humano, Agora o trabalhador esta perdend> a autonomia pro- fissional que o fé2 membro de uma classe destacada de outros ‘grupos ocupacionais por personificar a refutado da sociedade estabelecida A transformarao tecnolégica ‘maquina como um in uma “unidade absot “composicao orga valia, Segundo Merx, a méquina jamai transferindo 0 seu proprio val nente a relagao entre trabalho inde peta um ponto em que a produ- minada “pelas miquinas e nfo pelo rendimento Mais ainda, a propria medigio do. rendimento pessoal se torna impossivel Daniel Bell, autor désse relatério, vai mais além; essa modificagéo eenol6giea a0. proprio sistema hisSrico de Iindustrializago: o significado da industrializagéo no strglu com a criagdo de fabricas,“surpiu da medigdo do trabalho, E quando o trabalho pode ser medido, quando se pode render'o home 29 abalo, quan sth pode Seu rendimento em hhoraque'se tem & © que esta em jogo nessas transformagées tecnolégicas ~ muito mais do que um sistema de pagamento, do que a relagao do trabalhador com outras classes e com a organizagéo do trabalho. O que esd em jogo € a compatibilidade do progresso "Change, toe. eit, p & 3) _Essas alteragdes no cariter do trabalho © nos instru- ‘mentos de produgio mudam do tra- balhador, © que se torna ma e cule "do trabalhador na sociedade capitalista, amplamente er uma modificagao sOmente na consciéncia? A juéncia dada pelos marxistas, pa- Seri tal alterasdo fundamen- admita alto gra essa mudanga , no padrao de vida, nes atividades das horas de lazer, integragiio na prépria {dbrica, no as caracteristicas negativas da automatizagio precominam: aceleragao do traba- Iho, desemprégo tecnolégico, revigoramento da posigac da ge- réncia, impotencia e resignagéo czescentes por parte dos trabalhadores. As possibilidades de promogao diminuem, por- quanto a geréncia prefere engenheiros ¢ diplomados por uni- versidades..” Contudo, ha outrss tendéncias. A mesma orga- nizagdo teen ro trabalho gera também uma tegra o trabalhador com a fabrica. Nota-se uma “sofreguidio” do trabalhador para “compartilhar da soluga0 dos problemas de produgéo”, um “desejo de participar ativamente pela aplicagao de seus cétebros na solugio de problemas t se enquadram na tecnol résse_adquirido no es eqiientemente observado da “partici Ambés, Franca, p Os trabalhadores emprésa: servir para caracterizar essa terdéncia, ido cAnscios dos elos que os ligam a fen présence des. besoins ‘lle commence tageus” passés_ por lusqu'd contester lee p omiques! 4) © névo mundo-do-trabalho tecnolégico impée um en- fraquecimento da posigéo negativa da classe trabalhadora: esta no parece ser a contradicao viva da sociedade estabelecida, Essa tendéncia € reforcada pelo efeito da organizagao tecnolé- sica da producdo sbbre o outro lado envolvido: sébre a gerén. © a diregdo. A. dominacai nsfigura em admi tragdo2 Os patrdes e prop estdo perdendo sua identidade como agentes responsiveis; esto ass funglo de burocratas numa maquina corporativa. De enorme hierarquia das juntas executivas e de geréncia que s© estende muito além de cada estabe. cientitico institut de pesquisas, ao Govérno e a0 propésito, nacionas, a fonte tangivel de exploragio desaparece por tas da fachada da racionalidade objetiva. A decepeio ¢ 0 édio sio Privados de seu alvo especifico, ¢ 0 véu teenol6gico esconde a eprodugio da desigualdade e da escravizacio? Tendo 0 pro- iécnico por instrumento, a falta de liberdade — significan- 0 produtivo — é perpetuada € intensificada sob a forma de muitas liberdades e comodidades. A ccaracteristica novel € a racionalidade irresi présa irracional, e a profundidade d molda os impulsos © aspiragées obscurece a diferenca entre consciéncia na realidade, nem a utilizagaco dos contréles politicos em vez dos contrdles fisicos (fome, dependéncia pessoal, férga), nem a mudanga no cariter do trabalho pesado, nema assimilagéo das classes ocupacionais, nem a igualacdo na esfera do consu- mo compensam o fato de as d sobre a seguranga pessoal ¢ naci sobre 0s quais 0s individuos nao le algum. Os es- cravos da civlizagio industrial desenvolvida so escravos subli- ‘mados, mas sio escravos, porquanto a escravidio é determinada recondicionamento que ivos dos indivi ar por Fobéisence, ni par la rudete des labeurs, mais por le statu instrument et la réducton de Phomme'h teat de chose Esta é a forma pura de servidio: existir como um instru- ‘mento, como uma coisa. E esta forma de existéncia nio é ab- animada ¢ escolhe seu alimento material € ipercebe de que € uma coisa, se € uma Inversamente, a0 tender a espo- ia em virtude de sua forma tec- wdores se tornam ia que éles organizam i a relago rogada se a cois oso que inclui tanto dominam, ou sera 0 {i Sompra do que Assim como 0s estabelecimentos produtores dependem dos itares para sua aulopreservagdo € seu crescimento, os mi ‘dependem das corporagoes “nao apenas para obtet as armas, ‘mas também para saber de que tipo de armas preci a fio para obté circulo vicioso parece re (0 a imagem apropriada edade ‘pansiva © autoperpetu pre — imp Perspectivas de contengao ympimento dessa cadeia Uma resposta exigiria 50 ‘mesmo tempo, éste continuaria capaz de manter e até melhorat © padrio de vida de uma ala crescente da populagio — a ‘A. base material para essa capacidad: continuaria dis- ponivel : 4a) na crescente produtividade do trabalho (progresso co); 4) na integragiio p\ © no aumento de suas relag6es com as dreas subdesen- volvidas. Mas 0 con sociedade ¢ sua icados pai ncias do aparato & populagao -se do excesso de capacidade, criat a necessidade de rar as mercadorias que devem ser lucrativamente vendidas € 0 desejo de trabalhar para a sua produgio © promogio, O sistema tende, assim, tanto para a administracio total como para a dependéncia total'da administragdo pelo domfnio da geréncia publica e privada, reforgando a harmonia preestabelecida entre 0s interésses do grande piblico e das corparagdes privadas 0s dos seus fregueses e servidores. Nem a nacionalizacao par- cial nem a partcipacdo aumentada dos trabslhadores da gerén- cia e dos lucros alterardo por si ésse sisteme de domin ‘enquanto o proprio trabalho permanecer uma fOrga sustentado- ra e afirmativa 10 continuo entre as aptiddes produtivas da HA tend2ncias centeifugas de dentro e de fora. Uma delas € ineremte ao proprio processo tEenico, a saber, a automatizagao, Sugeri que a automatizagao em expansio é mais do que o cres- cimento quantitativo da’ mecanizagio — que € uma alteraso SI iter icas.* Parece que a auto- matizagao éenica & incompativel com uma sociedade baseada na exploracéo privada da forga de trabalho humana no processo de produgao. Quase um século intes de a automatizagao se tornar uma realidade, Marx visua- lizou suas perspectivas explosivas ‘Como. progresso de grande escala, a criagio, da rquera real de- sua eficacia depende, antes, do rivel de progresso da fem outras palavras, d ‘cumbia. ‘A automatizagao parece, de fato, ser o grande catalisador dda sociedade industrial desenvolvida. “E um catalisador explo- sivo ou ndo-explosivo na base material da transformacao quali- tativa, o instrumento técnico da mudanca de quantidade para qualidade. ois 0 processo social de automarizagao expressa a transformacdo ou, antes, a transubstanciagéo da forga de traba- Tho, na qual esta, separada do individuo, se torna um objeto produtor independente ¢, assim, ela propria uma dependente. Verlag, 55), p92 Ver lamben p96. Teadosso ish: 52 ‘A automatizagio, ao se tornar proprio processo de pro- duo material, revolucionaria a sociedade inteita. O esbulho da forga de trabalho humano, levado a perfeicdo, destruiria a forma espoliada pelo rompimento dos lagos que atam o indivi- duo @ maquina — o mecanismo pelo qual o seu prOprio tra- balho 0 escraviza. A automatizagdo completa na esfera da ne- cessidade abriria a dimensio do tempo livre como aquela em que a existéncia privada e social do homem consttuiria ela propria. Isso seria a transcendéncia hist6rica rumo a uma nova, civilizagao, Na fase atual do capitalismo desenvolvido, o trabalho or- ganizado se opde de direito & automatizacdo sem emprégo com- pensador. Insiste na utilizagdo extensa da forca de trabalho na produsio material e, assim, se ope ao progresso técnico. Con- tudo, 20 fazé-lo se ope & mais eficiente utilizagdo do capital; estorva esforgos intensificados para elevar a produtividade do tho. Em outras palavras, 0 impedimento continuo da au- tomatizagio poderd enfraquecer a posicao competitiva nacional internacional do capital, ocasionar uma depressio de longo alcance e, conseqientemente, reativar 0 conflito de interésses de classes, Essa possibilidade se torna mais real ao passar a disputa entre capitalismo e comunismo do campo militar para 0 campo social e econdmico. A automatizacao pode avangar mais ripi- damente no sistema so ppelo poder da administrago to- tal, uma vez atingido certo nivel téenico. Essa ameaga a posigao competitiva internacional do mundo ocidental o compeliria a acelerar a racionalizagao do processo de produgio, Tal racio- nalizagao esbarra em dura resisténcia por parte do trabalho or- ganizado, mas uma resisténcia que ndo se faz acompanhar de radicalizagio politica. Pelo menos nos Estados Unidos, a lide- ranga sindical no vai, em seus objetivos e meios, além da es- trutura comum aos interésses nacionais ¢ grupais, submetendo- se éste, ou estando sujeito, aquele. Essas forgas centrifugas ainda sio manejaveis no seio dessa estrutura, Aqui, também, a proporedo decrescente da forga de tra- balho humana no processo de producio significa um di no poder politico da oposigio, Em vista do cr elemento colarinho-branco no processo, a radicalizagao politica teria de ser acompanhada do surgimento de consciéncia ¢ agio politicas independentes no seio dos grupos colarinhos-brancos — lum acontecimento assaz improvavel na sociedade industrial de- 3 mento de colarinhs branco nos sindicatos industriais* poder, caso chegue a ter éxito, resultar no crescimento de uma cons. al désses grupos, mas dificil Sob tais circunstinci contengao das tendén: dependem primordialmente fos para se ajustarem € ajus- fas exigéncias do Estado do Bem-Estar Gastos ¢ diregao governamentais enormemente aumen- ania de ajuda externa ampliado, seguro social 7 e talvez até a nacionali- zagdo parcial fazem parte dessas exigéncias.® Creio que os in- terésses dominantes aceitardo essas exigéncias gradativamente & com hesitaséo, confiando suas pretrogativas a um poder mais eficaz, “Quanto as_perspectivas de contengio da transformagio ial no outro sistema de civilizacao industrial, a sociedade a discussio esbarra logo de inicio com duplice incor ‘ial de industrilizagao, com grandes setores ainda em etapa pré-tecnol6gica, e b) estruturalmente suas instituigées eco- as sio essencialmente diferentes (nacionalizagéo total e ditadura), A interligagae entre os dois aspectos agrava a dificuldade da anilise. O atraso histérico ndo apenas possibilita como tam- bbém compele a industrializagao sovictica a prosseguir sem des- Fone Oona ‘Unierty Pres, 1956), vet mev Sovlet Marm (Nova York: Columbia 54 perdicio ¢ obsoletismo planejados, sem as restrigdes & produ Vidade imposta pelos interésses de lucro privado e com a satis- facdo planejada de necessidades ¢ talvez até simultaneamente con o atendimento as prioridades das necessidades militares © Serd essa maior racionalidade da industrializago apenas o indicio © a vantagem do atraso histérico, fadada a desaparecer luma vez atingido 0 nivel avancado? Seré 0 mesmo atraso his {que, por outro lado, forga — sob as condigdes de coexis- téncia competitiva com 0 capi (0 contréle totais de todos os recarsos por um regime ditatorial? E a sociedade sovigtica estaria capacitada a liberalizar os con- tréles totalitérios a ponto de poder operar-se uma transformagao 4qualitativa, apés atingir a meta de “alcancar e ultrapassar"? ‘© argumento baseado no atraso histGrico — segundo o {qual a liberalizacéo deve, sob as condiges prevalecentes de imaturidade material e intelectual, ser necessariamente a obra da fora € marxismo_sovi educacional”, de Platéo a Rousseau. E f vel, mas de dificil refutago, porque tem o sem muita hipocrisia, as condiydes (materiais ¢ intelectuais) que servem para impedir a autodeterminagio genuina ¢ inteligente. Mais ainda, o argumento desbanca a ideologia repressiva da liberdade, segundo a qual a liberdade humana pode flores- cer numa vida de labuta, pobreza e estupidez. De fato, a socic- ‘dade tem de criar primeiro 0s requisitos de liberdade para todos (05 seus membros antes de poder ser uma sociedade livre; tem de criar primeiro a riqueza, antes de poder distribui-la de acor- do com as necessidades individuais livremente desenvolvidas; deve primeiro possibilitar aos seus escravos aprender, ver ¢ pensar, antes que éles possam saber 0 que se esti passando € © que podem fazer para modificar as coisas, A libertagao dos escravos parece vir de fora e de cima, no mesmo grau em que les foram precondicionados para viver como escravos ¢ sen- tir-se contentes nessa condicao, Fles tém de ser “forgados a ser livres”, a “ver os objetos como Estes sio e algumas vézes como deviam parecer", devendo ser-ltes mostrado 0 “bom caminho” ‘que buscam.# BF Rowsean, 0 Contato Seve, Livo 1, Cap. Vit; Lio tl Cap, Vis Yer pth 55 pode responder a perg (05 educadores ¢ onde esta do “bem”? A. pergun educa idada_pelo que igualmente aplicével a certas formas democt Vérno nas quais as decisdes finais sbi nagio sio dadas por representantes el sadas por r doutrinagao € que o terrivel risco em que ‘do que o risco que as ‘como autoritarias correm atualmente, nem podem 0s ci mais elevados. Contudo, a I para a sua Ii que o fim deve ser operante nos meios para osigio de Marx de que a libertagao da classe trabalhadora dev Ser ago dessa socialism neiro ato da revolusdo por- que ja devera estar na consciéneia e na agio dos que realizam 2 revolugao. Na verdade, existe uma “primeira fase” de construgio so- cialista durante a qual a nova sociedade esti “ainda gravada com as marcas do nascimento da velha sociedade de cujo Ventre ela emerge”, mas a mudanca qualitativa da velha para a nova do no inicio dessa fase. Segundo Mark, a estilo de vida qual produgdo aparece na re |. A construgtio socialista comega fase da revolugao, — nio apenas is, mas também (e sas bases. O imediatos” livres da pré- do homem. Trata-se de uma socie- dade na qual os objetos de produtividade se tornam pela primei- ras humanas que planejam ¢ wam os instrumentos trabalho para a realizagdo de suas proprias necessidades was. Pela primeira vez na hist pela necessidade seria verdadeirament mposta, Em contraste com ésse con fato se processa na sociedade comunista atual adi ‘a adiar pela fa para a segunda cocialismo ainda. parec: ‘mentos de seu trabalho continua numa forma altamente racio- nalizada e enormemente eficaz e promissora. A situagio de coexi teristicas terroristas da |, mas também poe em marcha as forcas que spetuar 0 progresso ‘éenico como instrumento de dominacao; es meios. prejudicam 8 fins. Voltando a admitir que nenhuma guerra nuclear ou qualquer outra catistrofe interrompa 0 seu desenvolvimento, 0 progresso técnico favoreceria 0 aumento continuo do padrio de vida ¢ a liberalizacdo continua dos contrOles. A economia na- cionalizada poderia explorar a produtividace do trabalho e do tal sem resistencia est ‘a0 mesmo tempo reduzindo considerivelmente as horas de trabalho e aumentando as como- do isso sem abrir mao da ‘Jo ha razio alguma para se aco favorecerio ar as carac- ragdo ¢ a libertag: contradigio as crescentes escravizadora se agravar. Quanto mais dirgenes forem capaces de entre res bens de consume, tanto mais fmemente a populasSo Subjacenteestaréatada as diversas burocracas drgentes Mas, embora essis prspectivas do contengdo da mudangy no sistema sovicico paregam paralces 3s da sockga) ssenvolvida, a base socialist da. produ iferenga Zao do processo de producao certamente separa os -produtoes imediats™ (os tabalhadores) do contrle sobre os’ msios de produ assim, f ase na prépria base lo poder e detisa0 p seqiientement veis do préprio processo de producio sem fazer explodirem as insttuigOes bis Essa € a meia-verdade contida na tese marxista soviética de que as contradigacs cristentes entre as “relagdes de producyi retardada e o cardter das fOrgas produtoras” podem ser res vidas sem explosio ¢ de que a “conformidade” entre os de fatos pode ocorrer por meio de “mudanga gradativa”."* A outra metade da verdade € que a mudanca quantitativa teria de se transformar em mudanga qualitativa, no desapareci- mento do Estado, do partido, do Plano etc., como podéres independentes. superimpostos ao individuo, Considerando que ‘essa mudanga dcixaria intata a base material da sociedade (0 processo de produe: imitaria a uma revoli jeterminagio na na dimensio. do ‘completa revo- igo das necessidades da vida ipenho no trabalho, a redugio do ‘a educagio universal € idade de fungdes — essas so as precondicdes, mas n3o 0 jo da autodcterminagio. Embora ai dessas precor inda possa superimposta, sua criasao significaria o fim da adm para a intercam! 58 Na verdade, uma sociedade livre ¢ industrial madura continuaria 1a depender de uma divisio do trabalho que compreende d ‘ualdade de funcdes. Tal desigualdade é indispensavel s neces- ides sociais genuinas, as exigéncias técnicas ¢ as diferencas iwiduos, Contudo, as fungdes de diregdo e supervisio nai iam 0 privilégio de dirigir a dos demais para algum interésse especial. A. transigio. para tal estado € mais um processo revoluciondrio do que evolutivo, até mesmo quando alicergado numa economia plena- ‘mente nacionalizada e planejada. Poder-se-4 supor que o sistema comunista, em suas formas cestabelecidas, criaria (ou antes seria forcado a criar, em virtude da disputa internacional) as condigdes que favoreceriam tal transigdo? Hi fortes argumentos contra essa hipotese. Um déles acentua a poderosa resisténcia que burocracia entrincheirada ffereceria — uma resisténcia que encontra sua razio de ser precisamente nas mesmas bases que impelem 0 movimento para “io das precondigdes para liberiagdo, a saber, a competicao, ida ou morte com 0 mundo capit ode-se desprezar a idéia de uma natureza humana, Trata-se de conceito psicol ambiguo e grosseiramente inadequado para a analise do enca: deamento dos acontecimentos se as burocracias comunistas privilegiada, uma vez alcancado 0 ‘mudanga_ qui impedit seja ésse nivel alcancado. impedir o crescimento material © "A questo no é sobre ectual num ponto em que ‘a dominagao ainda f6sse racional ¢ lucrativa, no qual a popu- lacdo subjacente ainda pudesse ser atada a0 trabalho ¢ aos interésses do Estado ou de outras instituigdes estabelecidas. Novamente, o fator dacisivo neste caso perece ser a situacdo mundial de coexisténcia, que de hé muito se tornou um fator na situagio interna das duas sociedades opestas. A necessidade de utilizagdo total do progresso tecnico e de sobrevivéncia em virtude de um padrio de vida superior pode revelar-se mais forte do que a resistencia das burocracias instaladas. Desejo acrescentar algumas observagdes sdbre a opinido freqiientemente ouvida de que o novo cesenvolvimento dos paises atrasados pode no apenas alterar as. perspectivas dos 39 paises industriais desenvolvidos, mas também coi terceira forea” que pode rmar-se numa p vamente independents ase na discussio precedente: possam seguir uma via iferente do algo na cultura e tracig car tal atual? Haver uutdctones dessas dreas que possam. 1as observagses a mo de atraso jai no processo de industrializagio — isto ¢, a nos quais com uma eultura pré-indus- trial ‘© antiindustrial intata (India e Exgito) uma populigio sem welnameto oy vb aizasiosom palavras, com enorme maioria da populisi aitds nie warcton: mada em fora de trcbalho separada dos meios de prodocso legto’e rag oe fons seats noe ie mat labia com 0 popsiode aioe A indstiaizagin no eeorte no vio setae Seen sadas Osos numa stagao Rises he na a Pineda! tan dae ey Sone ticle kane Sean poe Seance subscemolsids om indasls dove dane Soa fs Tomas preteonigens a oe pate nos fuss até mesmo at eset mma, prio © Jstinicio ens eag oea niadas" Ey noses menor sem mame Ceonlgses pote com 0s dois, igdes cuja dessantiicasdo nem bem comecou. Pode-se azoivelmente que, sob o impacto dos dois grandes dessa resistencia prosseg 2 Que 05 paises subdesen! possam dar o salto histérico da socie~ dade pré-tecnol6gica para a pds-tecnol6gica na qual o aparato tecnolégico dominado pode garantir as bases para uma demo- cracia genuina? Pelo contririo, antes parece que o desenvolvi- mento sobreposto désses paises traré um periodo de adminis- tragio total mais violento © mais rigido de que atravessado pelas angadas, que podem construir sobre as Conquistas da fase liberalista. Resumindo: as areas atrasadas tém a probabilidade de sucumbir para uma das varias for de neocolonialismo ou para um sistema mais ou menos terrorista de acimulo primordi ‘Nao obstante, outra alternativa parece possivel” Se a industrializagao e a introdugo da tecnologia nos paises atrasados fontrarem forte resisténcia por parte dos estilos de vida ¢ Iho aut6ctones e tradicionais — uma resisténcia que nao abandonada nem mesmo diante da perspectiva assaz tangivel de uma vida melhor e mais ficil —, poderia essa propria tradigio pré-tecnol6gica tornar-se a fonte de progresso ¢ indus- trializagao? Tal progress autéctone exigiria ume politica planejada que, em vez de sobrepor a tecnologia aos estilos tradicionais de vida e trabalho, os ampliasse e melhorasse sObre suas préprias bases, eliminando as fOrcas opressivas e exploradoras (materiais e religiosas) que os incapacitam para garantir o desenvolvi- ‘mento de uma existéncia humana. A revolusio social, a reforma agriria e a redugdo do superpovoamento seriam requisitos, mas nao @ industrializacao nos padres das socielades desenvolvidas. © progresso autéctone parece de fato possivel em areas nas 4quais os recursos naturais, se libertados da usurpagdo supressiva, ainda so suficientes ndo apenas para a subsisténcia, mas tam- bem para uma vida humana, E ndo poderiam scr tornados suficientes, onde ndo 0 sdo, pela ajuda gradativa e parcelada da tecnologia — dentro da estrutura das formas tradicionais? Se ésse for caso, entdo prevaleceriam condigées que nio existem (e jamais existiram) nas sociedades industriais antigas € desenolvidas — a saber, 0 “produors imeditos”teiam nidade de criar. por sou trabalho e lazer, © se eso, detrminando seu ritmo © desde. A inagio frosseguira da bate, ¢o trabalho plas never Sidades poderia tanscendce a si mesmo para @ tbatho por prazer Mas até mesmo sob tas hip6tesesabstatas, 0 limites crus odeterminagio.devem ser reconhecilos. "A. revolusio due deve esubeleer os requsts pata © novo desemval vimento pela abolido da exploragao mental ¢ mata d Inentepoderd ser concebida como agdo spo © progress auldclne pressuporia uma mudanga na peli nos dois grandes bloos de poder industrial que ora moldam 0 mundo = abandono do neocolonalsmo em todas a suas forms, No Presente,nio hi indicagdo alguma de tl mudanga da O Estado do Bem-Estar Social e 0 Estado Beligerante Resumindo: as perspectivas de contengio da transformagao, oferecidas pela politica da racionalidade tecnolégica, dependem das perspectivas do Estado do Bom-Estar Social. Tal fase parece capaz de clevar 0 padrio de vida administrado, uma capacidade inerente a {das as sociedades industrais desenvolvidas nas quis 0 aparato técnico per uum poder separado ¢ acima do individuo — depende, para funcionar, do desenvolvimento e da expansio da produtividade inten Sob tais condigdes, o declinio da liberdade ¢ da op € uma questéo de deterioragao ou corrupsio moral ou i ‘wal. E, antes, um processo social objetivo na medi & producao e'a di de uma quantidade rercadorias ¢ servigos condescendem com uma atitude tecnolé- ica racional Contudo, 0 Estado do Bom 62 mercadorias ¢ dos servicos jcamente” disponiveis para as necessidades individuais ¥i (consciente e inconsciente) capaz de compreender e aperceber-se das possi- bilidades de autodeterminacao, ‘A sociedade industrial recente aumentou, em vez de reduzir, ‘a necessidade de fungdes par jenadas (para a socie- ‘dade em seu todo, se nao mesmo para o individuo). Os aniincios, as relagdes pablicas, a doutrinardo e 0 obsoletismo planejado a improdutivos gerais, mas elementos dos tinua — a utilizagdo incessa avangadas e cincia Conseqiientemente, um pat © subproduto i da sociedade lada, uma rapassado certo nivel de atraso, A produtividade cres- cente do trabalho cria um crescente produto excedente que, quer particular, quer centralmente destinado e distribuido, permite um consumo aumentaco — nao obstante 0 desvio aumentado da produtividade. Enquanto prevalecer essa conste- lagio, ela reduziré o valor de ws0 da liberdade, nao havendo razio alguma para insistir na autodeterminagao se a vida admi- nistrada for confortivel e até “boa”. Este é o terreno racional fe material para a unificagdo dos opostos, para o comportamento unidimensional. Sabre essa base, as foreas politicas transcen- dentes dentro da sociedade sio impedidas, e a transformagio iva parece possivel sOmerte do exterior. do do Estado do Bem-Estar Social em favor de idéias al iberdade ndo & bem convincente, A perda is que foram as conquis reais pode parecer pequeno dano num Estado capaz de tornar a vida administrada segura e confortivel."® Se os it a ponto de se sentirem felizes com pela administracdo, por que de igbes diferentes para_a produc dorias ¢ servigos diferentes? E se os mnados de modo que as mercadorias que os satisfazem incluem também pensamentos, sentimentos, aspiragdes, por que ddeveriam desejar pensar, sentir ¢ imaginar por si mesmos? & bbem verdade que as mefcadorias materiais ¢ mentais oferecidas podem ser ruins, extravagantes, imprestiveis — mas Geist e Conhecimento nao sic argumentos eficazes contra a satisfaga0 das necessidades, A critica do Estado do Bem-Estar Social em térmos de liberalismo € conservantismo (com ou sem 0 prefixo “neo' assenta, para ter valicez, na existéncia das proprias condigdes que 0 Estado do Bem-Estar Social ultrapassou — a saber, um #2 mais baixo de riqueza social e tecnologia, Os aspectos tr0s dessa critica se_manifestam na luta contra ampla lagio social ¢ gastos governamentais adequados com ser- Vigos outros que no os da defesa militar. ‘A deniincia das aptidoes opressivas do Estado do Bem-Estar Social serve, assim, para proteger as aptidées opressivas da sociedade anterior ao Estado do Bem-Estar Social. Na fase mais, avancada do capitalism, essa sociedade & um sistema de plura- lismo subjugado no qual as instituigGes competidoras cooperam para a solidificagio do p todo sdbre 0 individuo, Ainda assim, a administragio pluralista é, para o individuo admini trado, muito melhor do que a administragéo total. Uma inst luigo pode pr de outra; uma organizacio pode mitigar lades de fuga ¢ desagravo podem nio da Lei, nfo importa quio restrito, 6, ainda assim, infinitamente menos perigoso do que 0 dominio ima da Iei ou sem ela Contudo, em vista das tendéncias predominant levantada a questo sdbre se esta forma de plu acclera a destruigao déste. A sociedade industrial desenvolvida 6, na verdade, um sistema de podéres que se contrabalangam, Mas essas foreas se caacelam numa unificagéo mais elevada — tativa. Dentre as forcas que se contrabalancam no estio 8 que atuam contra 0 todo.*? Aquelas tendem a tornar o todo imune & negagao tanto interior como ex! iors a ps dde contengao parece um prolongamento da politica interna de ccontengao, ‘A realidade do pluralismo se torna idook 10 ¢ do impacto econo s em virtude do fato de a sociedad se encontra na situagao de emergéncia normal. Ameaga tanto na paz como na gustra (talvez mais nna paz do que na guerra); € assim integrado no sistema como uma fOrga_coesiva. ‘A. produtividade crescente © 0 alto padrio de-vida nto dopendem da ameaca externa, mas seu uso paca a contengio da transformagio social e para a perpetuacao da servidio depende. 0 Inimigo € 0 denominador comum do que & feito ¢ desfito. E 0 Inimigo ndo € 0 mesmo que comunismo ou capitalismo atual — 6 em ambos 0s casos, o espectro real da libertagao. Novamente: a insinia do todo absolve as loucuras pessoais ¢ transforma os crimes contra a humanidade em emprésa racional, Quando as criaturas adequadamente estimuledas. polas autori- dades pablicas ¢ privadas se preparam para una vida de mobi- lizagao total, sio suscetiveis nao apenas por causa do Inimizo presente, mas também por causa das possibilidades de investi mento ¢ emprégo na industria ¢ diversdes. Até os céleulos mais insensatos si0 ra © aniquilamento de cinco milhies de criaturas € preferivel ao de dez milhdes, vinte milhdes assim por diante. Nao tem apelacdo o argumento de que uma ci zagdo que justfica a sua defesa com tais célculos proclama 0 seu proprio fim. Em tais circunstincias, até as liberdades e fugas existentes se enquadram no todo organizado. Nessa fase do mercado arregimentado, estard a competigfo atenuando ou intensificando a corrida para maior € mais rapido ciclo de compra, venda ¢ substituigdo de estoques de mercadorias e obsoletismo? Estario competindo pela pacificayao ou por uma ita mais forte e mais dispendiosa? Estard 65 « produgdo de “afluéncia” promovendo ou retardando asa fagao de nevessidades vitais ainda ndo atendidas? Se as primeiras ipoweses f6ssem verdadeiras, a forma contemporinea de plura- 0 revigoraria o potencial para a contengao da transformaca ualitativa, impedindo, assim, em vez de impolir, a “catistrofe dda autodeterminagdo. “A democracia pareceria ser 0 mais efici- ente sistema de dominagio. jo do Bem-Estar Social esbogeda nos a de uma extravagncia hist6rica entre 8 e liberdade, tota- 19 € felicidade. Sua possibilidade ¢ suficien:emente cada pelas tendéncias correntes do progresso té:nico e sada por forcas explosivas. O perigo mais para a guerra A imagem do Es pardgrafos anteriores ismo organizado € soci poderoso ¢, nat nuclear se transfor serve para dissuadir os esforgos para 2 perpetuagio da harmonia preestabelecida ent organizado e espontineo, pensam mento livre, subordinagio © com ‘Até o capitaismo mais altamente organizado conserva a necessidade de apropriagio e distibuigio privada do lucro como regulador da economia. Isto é, continua do interésse goral & dos interésses adquiridos particulares. “Ao fazé-lo, continua a defrontar com 0 conflito entre 0 crescente potencial de pacificagio da luta pela existéncia ¢ a necessidade de intensificar essa luta; entre a “aboligdo do trabalho” progres- siva ea necessidade de preservar o trabalho como fonte de Iucto. O conflito perpetua a existéncia inumana dos que formam a base humana da pirimide social — os estranhos € os pobres, os desemprepados e os nio-empregaveis, as ragas de cOr perse- guldas, 0 reclusos das prisdes © manicémios Nas sociedades comunistas contemporineas, 0 inimigo cextemno, o atraso € 0 legado de terror perpetuam as caractes tieas opressivas do propésito de “alcangar ¢ ullrapassar” as realizagoes do capitalismo. A prioridade dos meios sdbre os ins se agrava désse modo — uma prioridade que s6 poderia ser derrubada com 0 alcance da pacificagio — e capialismo ‘© comunismo continuam competindo sem fOrga militar, em escala 66 mundial ¢ por meio de instituigdes mundiais. Essa. pac sm suas aliangas internacionais. E esta € precisamente a possibilidade contra'a qual o mundo atual esta mobilizado: Permetient Dupes de ta nation et dupes de la clase, les masses souffrantes sont partout engascer dans les duretés de confis 0 ona et le snuctures fe nécessire me doit inécessairement extirper 4 Ad -dependéncia entre os dois nicos sistemas sociais “soberanos” do mundo contemporaneo expressa o fato de o conflito entre progresso ¢ politica, entre © homem e seus senhores se haver tornado total. Quando o capitalismo enfrenta do comunismo enfrenta suas proprias aptiddes: 0 desenvolvimento espetacular de tédas as forcas produtivas apés 2 subordinacao dos interésses.particulares na possibiidade de lucro que detém tal desenvolvimento. Quando 0 comunismo enfrenta o desafio do capitalismo, também enfrenta suas proprias rdades e suavizacio imento €, em ambos os casos, a razio lltima andlise, idéntiea — a luta contra uma forma de vida que dissolveria as bases da dominacio. 68 3 ‘A CONQUISTA DA CONSCIENCIA INFELIZ: DESSUBLIMAGAO REPRESSIVA ‘Ap6s discutir a integracéo politica da sociedade industrial desenvolvida, possibilitada pela crescente produtividade tecno- l6gica e pela conquista cada vez maior do homem ¢ da natureza, cuidaremos agora de uma integracio correspondente no Ambito 9, certas nogdes ¢ imagens-chaves da icardo como 0 prosresso da iquidando os elementos de opo- sido ultura superior”. les sucumbem, de fato, a0 processo de dessublimacio que predomina nas reviGes avangadas da sociedade contemporanea, |AS conquistas e os fracassos dessa sociedade invalidam sua cultura superior. A celet do humanismo, do amor trigico e romantica parece ser o ides de uma ctapa atrasada do desenvolvimento, 0 que esté ocorrendo agora ndo é a deterioracdo da cultura superior numa cultura de massa, mas a refutagdo dessa cultura pela realidade. A realidade ultrapassa sua cultura. O homem pode hoje em dia fazer mais do que os herdis e semidcuses da cultura; resolveu ‘muitos problemas insoliveis, Mas também traiu as esperancas destruiu a verdade que eram preservadas nas sublimagdes da cultura superior. Na verdade, a cultura superior estéve sempre em contradigao com a realidade social, ¢ somente uma minori privilegiada gozava de suas béncdos e representava os seus ideais. As duas esferas antagdnicas da sociedade sempre cocxistiram; ‘cultura superior sempre foi acomodativa, enquanto a realidade raramente foi perturbada por scus ideais ¢ sua verdade. ‘a novel atual € 0 aplanamento do antago- ura realidade social por meio da obliteragao C)

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