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ssoi@teptamortadas - Revista Jus Navgandl JUS Jus Navigandi eerie Mttp://jus.com.br A natureza juridica dos conselhos fiscais de profissées regulamentadas hipifjus.com brirevistaltexo/9082 Pubiicado em 10/2006 Esses entes tém as mesmas vantagens e privilégios da administracéo, mas também tm os mesmos énus, devendo realizar concurso puiblico para admissao de seu pessoal, seguir as regras do regime juridico do pessoal que estabelecer, realizar lcitagao etc. CONSIDERAGAO INICIAL, © presente artigo tema finalidade de tragar algumas lishas acerca da natureza jurdiea dos conselhos fiscais de profissde regulamentada, ‘A importancia do estudo se mostra presente, tendo em conta que as mais diversas profisbes liberals t8m seu rgao de fiscalizagao especifico, que serve de sustentéculo para toda uma atividade profssional e que sem divida resvala a sua atuagao na propria sociedade, pela repercussdo da atuacdo dos respectivos profissionais. A discussdo acerca da natureza juridica dos conselhos, que fol alo de controvérsias durante um bom tempo, sem divida contribuiu para a falta de uniformidade na conduta, postura e funcionamento dos varios conselhos, o que troure severos transtornos para sua disciptna juries DANATUREZA JURIDICA, Os conselhos fiscals de profisstes requlamentadas sio criados por melo de lei federal, em que geralmente se prevé ‘autonomia administrativa e fnanceira, @ se destinam a zelar pela fel observancia dos principios da ética ¢ da disciptina da classe dos que exercem atividades profissionais afetas a sua exsléncia Nao raro, na prépria lei de constituigao dos conselhos vem expresso que os mesmos sAo dotados de personalidade juridica Jos, desde logo, como autarquias federais. de direto pablico, sendo que outras leis preterem apont ‘Acontece que, mesmo com essa regulamentagao clara, @ natureza Juridica dos consethos profssionals sempre fol alvo de controvérsias Varias so as naturezas juridicas apontadas para os conselhos de fiscalzag80, como autarquias de natureza fespecifcamonte corporatva, autarquias especiais, aularquias sui gonoris, ontidades paraestatais ou até mesmo entidades dotadas de personalidade jurdica de direito privado. ‘A naturoza prvatistica dos conselhos profissionais ganhou forga com a edieao da Lel 9.649, de 27 de maio de 1988, na qual se previu que os servigos de fiscalzaga0 de profissbes regulamentadas sero exercidas em cardter privado, por delegasao do poder pblico, mediante autorizagao legislativa, Essa lel, contud, fol impugnada pela Ago Dirata de hconsltucionalidade 1.717-6/0F, ajuizada em conjunto pele Partido Comurista do Brasil- PC do B -, pelo Partido dos Trabalhadores — PT - e pelo Partido Democratico Trabalhista - POT. Em sede de cautelar, no dia 22 do setembro de 1999, 0 Plenario do Supremo Tribunal Federal, por maioria do votos, suspendeu a efcacia dos dispositivos impugnados [1] da Lei 9.649/98, No dia 07 de novembro de 2002, 0 mérito da ADIN 1.717-6/DF foi julgado, tendo como Relator o lustre Ministro Sydney ‘Sanches, que transcreveu, na fundamentagao do seu voto, trecho por ele averbado em sede de cautelar, quando disse que: {us.com brrewstaltexto/9082..orint 18 ssoi@teptamortadas - Revista Jus Navgandl *. no me parece possivel, a um primelro exame, em face de nosso ordenamento consttucional, madiante a Intorpretagao conjugada dos artigos 5°, Xl, 22, XVI, 21, XXIV, 70, paragrafo nico, 148 © 175 da Constituigao Federal, a delegagao, a uma entidade privada, de atividade tipica de Estado, que abrange alé pader de policia, de tributar © punir no que concerne ao exercicio de atividades profissionais.” Importante sallentar, por oportuno, que antes mesmo do julgamento da referida ADIN, 0 Supremo Tribunal Federal j tinha entrentado 0 tema no Mandado de Seguranga n.° 22.643-9-5C, Relator Ministro Moreira Alves, por votago unérime, em que se deciciu que: "(.) = Os Consethos Regionais de Medicina, como sucede com o Conselho Federal, s80 autarquias federais sujetas & prestagao de contas ao Tribunal de Contas da Unido por forga do dispasto no inciso ldo artigo 71 da atual Constiuigao.* abe destacar trecho do voto condutar do Relator, na passagem onde diz que: Esses Conselhos — 0 Federal e os Regionals — foram, portanto, criados por lei, tendo cada um deles personalidade jurdica de direito piblico, com autononta administrativa @ financeira, Ademais, exercem eles a alividade de fiscalizagio de exercicio profssional que, como decorre do disposto nos artigos 5°, Xl, 21, XXIV, e 22, XVI, da Constiuigao Federal, 6 atvidade tpicamente piblica, Por preencherem, pois, 08 requisites de autarquia, cada um deles & uma autarquia, embora a Lei que os criou dectare que todos, em seu Conjunto, constituem uma autarquia, quando, om realidade, pelas caracteristicas que ela Ines da, cade um deles 6 uma autarquia distinta * ‘Antes disso, o antiga Tribunal Federal de Recursos (TRF) havia reconhecido a natureza juriica de autarquia federal com relagao a0 Conseho Regional dos Representantes Comerciais de Brasilia (Ministro Moacie Catunda, Al 40.892-DF, Al 40,907-DF, DU 03.09.1980). 0 Superior Tribunal de Justica, ratificando 0 posicionamento do TRF, ecitou a Simula 66, dizendo que Compete & sustica Federal processar ¢ julgar execuedo fiscal promovida por conselha de fiscalzagao profesional, no entendinento de que, sendo autarquias fedorais, as agdes em que sao autores ficam afetas & Justica Federal. ra, 0 desfecho do tema no poderia ser diferente, pois basta um simples cotejo com o Decreto-Lel n° 200/67, Estatuto da Reforma Administratva Federal, no seu art. 5°, para veriicarmos que os conselhos de fiscalizacio das profissdes liberais se enquadram perfeltamente na forma de autarquias. Segue o artigo: Art. 6% Para os fins desta ll, considera-se: | ~ Autarquia ~ © servico autnomo criado por lel, com personalidade juriica, patrimdnio proprio, para executar alvidades tipicas da Administragdo Publica, cue requelram, para eeu melhor funclonamento, gestae administrativa @ fnancelra descentralzada, ‘Todos os conselhos profssionsis s8o criados por le, dotando-os de personalidade jurdica. Citem-se, a titulo de exemplo, os conselhos federais de farmécia e do medicina, ciados respectivamente pelas Leis 9.620160 e 3.26867. [As atividades so tipicas da Administrago Pilblica. Os conselhos s8o 6rgfios delegados do Estado para 0 exercicio da rogulamentagao e fiscallzagdo das profissées Iberais. A delegagdo ¢ federal tendo em vista que, segundo a Constituicdo da Repdblca, a teor do art. 21, XXIV, compete @ Unido Federal organizar, manter © executar a inspecdo do trabalho, atividade tipica de Estado que foi objeto de descenivalizacso adminstratva, colocando-a no ambito da Administragao hidireta, a ser execulada por autarauia, pessoa jurdica de disito public criada para esse fim ‘Além disso, 08 conselhos de fscalizaglo s8o detentores de autonomia administratva e financeira, caracteristica essencial de ma autarqula, cujo patiménio, proprio deles, 6 consttuide pela arrecadagao de contrbuigdes socials de interesse das categorias soc.als, também chamadas de contribuigses parafiscais, tendo nitdo carétertributério. Nesse ensejo, cabe enfatizar que, jé que 8s contribuigées possuem natureza tributéria, segundo 0 art. 118 do Cédigo Tributério Nacional, “sujelto avo Utular da obrigagao & a pessoa juridica de direito piblico ttular da competéncia para enigir o seu cumprimento” ‘Assim, nao ha arrime para dividas de que os consalhos de fscalizagao das provissdes liberals tam nalureza juridica de autarquia e, como tal, devem se portar. ‘A questio de ser uma autarquia especial, sui generis, corporativa ou outra nomenclatura que se queira empregar nao esnatura a esséncia de pessoa juridica de dirsito publico, que esta atrlada aos dversos principios e normas que regem a Adinistragao Publica, H4 quem defenda, conlude, que os conselhos ndo seriam autarquias por ausénela de supervisso ministerial a consubstanciar a tutela ou controle administrative dos entes descentralizados pelo ente central {us.com brrewstaltexto/9082..orint 20. ssoi@teptamortadas - Revista Jus Navgandl Acontoce que a supervisdo ministerial ndo consttulfator essencial para caracterlzar um ente como autarqula. Ora, nos casos de descentralizagao administratva, a regra é a autonomia dos entes descentralizados © a excecio ¢ o controle destes citimos pela ‘administragdo central, somante quando previstos em ici e nos estretos mites desta. [A supervisdo ministerial esta prevista no art. 19 do Decreto-ei 200/67. Como esse controle & uma excogao © esta provisto om lei, nada obsta que lei posterior que cro um ente descontralizado deine de prever tal controle, Sem que com isso exclua esse ente da administracao indireta ou desfigure sua natureza AA propésito, 0 profess CELSO ANTONO BANDEIRA DE MELO (In: Curso de Direito Administrative, 14 ed, S80 Paulo Malheiros, 2002, p. 144}, em nota de rodapé de sua obra, quando comenta o controle das autarquias, assim se manifastou: "E verdade, entretanto, que como este diploma nao tem forga jurica superior a qualquer outa norma de nivel legal, a le que ulteriormente venha a car uma determinada autarquia pode configurar-Ihe um ambito de lberdade mais ou manos extenso de que o estabelecido no Decreto-li 200, pois, como & claro, lel posterior que revoga a anterior quando com ela incompative.” ‘Assim, no ha como fugir da condigdo de autarquia pelo simples fato de nao haver supervisdo ministerial CONSIDERAGOES FINAIS Diante disso, a partir da constatago da natureza juridica de autarquia federal dos conselhos federais, ¢ tomando-a como premissa primar, as consequéncias juridieas dai decorrentes ficam afetas ao regime luridico administrativo, trazendo para os conselhos as mesmas prerrogativas ¢ restripbes da administracdo publica indireta, Dai em diante, pode-se cancluir que esses entes tém as mesmas vantagens e privlégios da administragdo, mas também tém ‘0s mesmas énus, devendo realizar concurso piiblico para admissio de seu pessoal, seguir as regras do regime juridice do pessoal que estabelecer, realizar lctago, dentre outros consectérios desse regime de carater publica, Os consethos que ainda se partam como entidades privadas deverdo se adequer estrutural¢ funconalmente para usar @ roupagem de autarquia federal, a fim de no perderem a legitimidade de seus atos, pols, se ndo se conduzirem dessa forma, estardo ddesrespeitanco a propria Consiuigao. NOTA 1. Os cispositivos impugnados da Le! 9.649198 foram 0 art. 58, caput © os parsgrafos 1°, 2% 9°, 4°, 5%, 6%, 77@ 8°. Aexcegao do § 3°, considerado prejudicado om face da modticagao do texo original da constiuigdo pela Emenda Conslitucional n, 19/88, todos os sdemais foram suspensos, Autor Ronaldo Pinheir ro (h mbrirevi rronaido-pinhelro-de-queiroz] procurador da Repablica no Distrito Federal, mestrando em Direlto pela PUCISP pwn uta pelavstica nom. hp uta pelaivstica.nom Informacées sobre o texto Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT}: ‘QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. A natuezajuidica dos conselhos fscais de professes regulamentadas. Jus Navigandt, Teresina, ano 11 Ureistaledicoes!2006) 1211 Ureisaledicoss/2008/10/25), 25 (reustaledicoss/2008/10/25) out, Urevstaledicoes/2006/10) 2008 ‘Ureusla/eicnes/ 2006). Disponiel om: , Acesso em 2° nov. 2012 {us.com brrewstaltexto/9082..orint a

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