Você está na página 1de 18
DietoroResponsével, sau Ten Diretra de Operaes de Conia bus Mari Ono upd Contes atria sb archi vo Vane Foe Henn st Soar ese ar Capel rato Bence a Bonin Ros, couses01 ANA LUCIA SABADELL MANUAL DE SOCIOLOGIA JURIDICA INTRODUGAO A UMA LEITURA EXTERNA DO DIREITO 6.? edigdo revista, atualizada e ampliada ‘THOMSON REUTERS REVISTA DOS TRIRIINAIC MANUAL DE SOCIOLOGIA JURIDICA. Introdugdo a uma leitura externa do direito 6. edigdo revista, atualizada e ampliada ANA LUCIA SABADELL 1.*edigio: 2000 2.*edicdo: 2002 ~ 3." ego: 2005 — +44 edigdo: 2008 ~ 5.*edlco:2011 1558 © desta edigao 12013] Eprrors Revista. Dos TRIBUNA'S LTDA. Gisetue Tapa pe ejuntarerte com busca earns eh sizagbes diversas ars. 101 4110 da Li 9.60, de 19.02.1986, Ll Gos Deces Avon, (Covreat 0€ ReLAoNWwENTO RT (atendimento, em dias dtels, das 8 as 17 horas) Tel. 0800-702-2433, ‘email de atendimento ao consumidor: sac@rt.com.br Visite nosso ste: wwwrt.com.br Impresso no Brasil [06-2013] Universitrio texto) Fechamento desta edigio [06.06.2013], ISBN 978-85.203-4697-6 Para Hector, que com sua presenca e doce sorriso ilumina a minha vida, 184 | wanuat De soctovoctasurioica Aireto, tentando melhor conhecer a vida juridica veal, ou sea, os mecanismos 5 problemas de aplicacao do direito na pratica. 2. OPERADORES DO DIREITO Aspesquisas das ultimas décadas sob: sobre o perflsocial dos operadores juries ‘so muito softens e aprsentam fequentementeresulados conten: presentaremos em seguida alguns resultados de pesquisas realizadas em virie: Paises sobre a magistratura, aadvocaciaeapolicia ues 2.1 Magistratura 211 Posicao con: tal da magistratura Osjuizes nao somente sto encarregados da aplicacio do direito, mas: também Possuema competénciade dizera “altima palavra” sobreum conflitojuridico, por ‘meio de uma decisao transitada em julgado ie Por tal azao, sto investidos de uma série d o, sto in série de garantias pessoas ¢ fancionais, tendo uma posisao especial dentro do Estado. Nao € por acaso que a Constituigae Federal prevé um sistema de alta remuneracao para os magistrados, devende subsiio dos MinisrosdoSupremo Tribunal Federal sero mats entre todosoos tvidores publicos¢ detentores de mandato eletivo (arts 37, inet e Vida Constituigao Federal de 1988), ae Aposicio dos juzesno sistema constitucional brasile ; «a constitucional brasileiro (e praticamente em todos 0s paises do mundo) pode ser resumida nos seguintes terinost a) independéncia pessoale funcional 3 e funcional para evitar pressdes egarantiraneutra- dade da decisto (vitaiciedade, bildade alta emunerseta)y b) dependencia absoluta da Constit ; & Constituigto, no intuit foe das normas inferiores conformes le garantir a aplicacao fil do direito; io da indeclinabilidade da fungao de jul io de julgar, que protbeadenegacto s 0 juiz deve sempre dar uma resposta ao pedido das in a scugt defnivade adososconflosjuridics mesmo quanlowtialinas ou évaga, Significam essas garantiasespecificas i Sign sespecificas que os jutzes nada mais sto do que “au tOmatos" ¢ “vozes vivas do legislador”? Essa era umareivindica Juridico, quendose realizouna pritica dasi earccmariesestees dalei,o juiz nunca foi, somente, Osintérpretese os fildsofos do direito tomam varia lireito tomam varias posigbes ante o fendmeno opoder de decisto dos juizes, Alguns tentam limité-lo, com aguimentos Grados teoria da democracia e da necessidade de seguranca juridica; outros reconhe. cem a necessidade de conceder aos jutzes amplos espacos de discricionariedade, © Asociologia juridica, fil: SOCIOLOGIA DA APLICAGAO DO DIRETO | 185 ito, a arguments tirados da escola moralista ou do secorrendo, para este pr ealismo juridico (Ligao 1). seu interesse cognitivo realista (relacionado aos fitos sociais), exposto nos capitulos precedentes, interessa-se por dias questoees. Primeiro, analisa a frequéncia ea intensidade do poder discricionario e o modo como 0s juizes realmente o exercem. Em segundo lugar, examina as causas da liberdade que os juizes tomam diante da let. 2.1.2. Perfil social da magistratura ‘Vatias pesquisas foram realizadas sobre as catactertsticas sociais eas posi¢des politicas e ideolégicas do corpo da magistratura nas tltimas décadas. As mais | conhecidas sao aquelas de Glendon Schubert, nos EUA, desde os anos 1940, ¢ ,n0$ anos 1960 ¢ 1970. Estes trabalhos examinaram o comportamento profissional e a mentalidade dos jutzes.* Existem também muitos estudos sobre a origem social da magistratura. Em 1907, 0liderdo movimento revolucionario alemao Kar! Liebknechtafirmou, nasua defesa contra aacusacao de alta traicdo, que os tribunais do seu pais apenas faziam “Justiga de classe” (Klassenjustiz). Dessa forma, procurava colocar em evidencia «heos juizes pertenciamaumaclassesocial privilegiada,de opiniao conservadora, e perseguiam 0 movimento socialista, aplicando a legislacto do periodo contra 0 “subversivos” de forma particularmente dura e, as vezes, claramente ilegal, na tentativa de combater o inimigo politico (Haass, 1990). Essaacusacao objetivava combater 0 mito daneutralidade do juiz e foi confir- ‘mada, em grande parte, por pesquisas empiricas realizadasna Alemanhaa partirdes anos 1960 (Ralf Dahrendorf, Walther Richter, Johannes Feest, Niklas Lukmann). Por meio do exame dos arquivos da magistratura, constatou-se que os jufzes provinham, em sua maioria, da classe média, sendo filhos de servidores piblicos. Esses estudos minuciososindicavam, inclusive, que os juizesalemaes tinhamsido ‘submetidos a uma educagao autoritaria ¢ que, na vida adulta, adotavam opinies politicasconservadoras (Rehbinder, 2000, pp. 162-163;Raiser, 1999, pp.371-373). Pesquisas andlogas confirmam, em outros pafses, que a composicao da ma- gistratura diverge fortemente daquela de outras profissoes, sendo perceptivel a predominancia de membros de grupos socialmente privilegiados (Soriano, 1997, pp. 421ess.) ‘Uma pesquisa do perfil da magistratura brasileira, que adotou o método do questiondrio, confirmoua forteseletividade social na composicao damesma, Entre de Renato Treves, na Ital “Schubert: 1959; 1964; 1965; Treves:1972; 1977, pp.196ess; 1996, pp. 252ss, Pesquisas ‘mais recentes em Morisi, 1999; Baum, 2006. Aad Ligdo 10 SOCIOLOGIA DA APLICAGAO DO DIREITO troducio~2: Operadores do direit: 2.1 Magistratura: 21.1 Posicdo cons- da magistratura; 2.1.2 Perfil social da magistratura; 2.1.3 Sociologia da atividade 2 Advocacia;2.3Policia~3. Acesso. Justica:3.1 Barrera de acesso a Justiga;3.2 3.3 A problematia da justigarestaurativa: 3.4 Inciativas de reforma nnoBrasil~ 4, Opiniso publica edirit, 1. INTRODUCAO “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mével: Pena ~ reclusio, de 1 (am) a 4 (quatro) anos, ¢ mul Issoprevé o Codigo Penalemseuart. 155. Sabe-se, porém, quealgumas pessoas io punidas por furto apesar de nunca terem cometido este delito (denunciagto caluniosa, erro judiciario, preconceito contra o réu). Ainda mais conhecido é que a maior parte daqueles que cometem furto nunca é penalmente perseguida e/ow unida. Aspesquisas criminologicasindicam quea esmagadoramaioria dos crimes contra o patrimdnio nunca leva a uma condenacao, prevalecendo uma altissima “cilra obscura” (Ligto 8, 2.1). A grande distancia entre a realidade do furto ea realidade da sancao penal por tal delito € devida ao fato de que a lei nunca se autoaplica. Seu modo de aplicagio depende das pessoas que posstema competéncia paraaplicé-la. Isso éincumbencia do poder executivo ejudiciario, Tambem participam daaplicacao do direito pessoas com conhecimentosjuridicos, queauxiliam naadministraciodajustica (advogados, tabelifes). Todos estes sio chamados, como ja sabemos, de “operadores”, “atores” ou “agentes” juridicos, As pessoas encarregadas de aplicar a legislacao nunca seguem, de forma ab- soluta, as previsoes legais. Quem aplica a lei, da ao texto um “sent sempre correspondea vontade do legislador ou coincide coma interpretacao feita or outro aplicador. Isso ocorre ndo obstante existirem regras de interpretacao que impdem limites ao trabalho do intérprete e variam de acordo com as diversas éreas do direito. E que, apesar da existencia de tais regras, sempre ha um espaco para o ‘exercicio do livre arbitrio do responsavel pela aplicagao de normas. Além disso, a SOCIOLOGIA DA aPticAGAo Bo DIREITO | 183 aplicagao da leinao pode excluir os ertos ou mesmo as tentativas—conscientes oi nao — de “adapté-la” as visdes e interesses pessoais. Finalmente, a postura da populacao perante o sistema jurfdico ¢ de sumaim- ortancia para a aplicacao do direito. Imagine-se uma sociedade na qual nenhum. cidadao procuraria a Justica para resolver seus conflitos, preferindo sistemas de resolucao informal ou, simplesmente, a vinganca privada. O sistema juridico en- traria em uma crise de eficdcia irreverstvel, levando a deslegitimacao do Estado e do direito como forma de orientacio da sociedade e de solugdo dos conilitos A falta de confianca na Justica ou a impossibilidade de acesso mesma éuma realidade brasileira. Segundo pesquisa de 1990, 67% das pessoas envolvidas em conflitos trabalhistas, civeis ou criminais nao procuraram a Justica.' Em relacao especificamente aos crimes, pesquisas sistematicas realizadas em Sao Patilo e no Rio de Janeiro indicam que, entre 1988 e 2000, a taxa de subnotificagao & policia oscilava entre 55% € 80%. ‘Atuais pesquisas de opinio no ambito do projeto “indice de confianga na Justica” mostram que, em 2012, as pessoas que tinham a menor renda e escolari- dade eram os que menos acreditavam no Judiciério brasileiro? ‘Voltandoao nosso exemplo do furto, sea maior parte da populagao considera que denunciar quem o pratica nao tem sentido, porque este nunca serd punido ou Porque hi outros meios de acdo mais eficientes (exemplo: servigos de seguranca Privada), enti a distancia entre furto e sancao oficial sera ainda maior. Um exemplo real: na Alemanha o legislador profbe e pune com sangoes, criminais muitas formas de pornografia. As estatisticas indicam que, em 1996, foram investigados pela policia cerca de 4.000 casos de pornografia (Arzt, Weber, 1999, p. 261). Nao é crivel que em uma populacao de quase 82 milhdes de habi- tantes, somente 4 mil violaram as diversas leis sobre pornografia! Isso indica que populacio ¢ os orgiios de repressao discordam da avaliacio do legislador e nao consideram que todas as formas de pornografia merecem punicéo. Assim, a quota de eficacia das normas penais em questao ¢ muito baixa, Por essas razdes, a sociologia juridica mostra um interesse particular pelo ‘modo de atuago dos operadores do direito e pelas opinides da populacdo sobreo 1. Minhoto, 2000, p. 185; Junqueira, 2001, pp. 233-234; ef. Caldera, 2001, p. 102. 2. Kahn, 2002, p. 32. A forma mais violent e ilegal de solucio extrajuridica de conflitos€ o linchamento (Sinhoretto, 2002, pp. 79-11 hutpy/bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/10754/Relatorio_. 1CJbrasil_4TRI_2012.pdf?sequence=1. 0 indice € publicado desde 2009; mostrando ssemelhanga nos resultados. Merece nota que enquanto as pessoas com renda entré dois ‘© quatro saldrios minimos sto os mais insatisfeitos, aqueles que ganham menos de 2 saldrios-mnimos apresentam o maior indice de satisfacio. 186 | manuar ve soctotocta juRtbica osseus membros constata-se uma representagdo particularmente *entacio particularmentefortede home ‘membros das lasses alia e media, filhos de funcionssios Pablicos edescendentes le magistrados. Ay ibertura e democratizagao do acesso a nana as tltimas décadss, o poder judicério basileito continua sends ‘ha sua composigio (Vianna e outros, 1997), praament, isso nto significa que as sentengas dos magistradossejam obri Cupante, em um Estado formalmente democritico ci n \ocratico e igualitario, a com Jndicidrio prevalentementepor membros dos grupos sociats pri egos, Aqui se encontraa mais importante critica fe importante critica feita as pesquisas sobre a socio- ica. Quem comprova E bro coal seep profssional ndo indicam como atuam os seus membros no exeretag fe suas fungdes, ou seja, nao indicam qual é 0 impact reali seaslncoes, ous) ual €0 impacto desta realidade na aplicacao E,porexemplo, plausivel supor que um , {ue um juiz bem remunerado e politicamen- te gonservador tente decidir em favor de um fazendeito que move seen too de compere Posse contra um grupo de “sem-teras".Isso nao pode, pore sxe comprovado por meio da simples andlise do os memb de tabenas’ Por me da simples analise do perfil social e poltico dee menbrrn Nesse caso, o ‘plausvel” pode ser aceit le ser aceito enquanto hipstese de trabalho, a set vetificada lor: sera que o perfil soc : Se ertcada peo pesquisador:serdque o perfisocal do magistadoten ace pel da magistratura, eve informacées sobre as opinides sul outros, 1997; Morisi, 1999; 5. Para uma andlise das posturas da magistratura brasiet Sabadell, 001 SPOS ‘agistratura brasileira perante conflitos rurais, ef SOCIOLOGIA DA Articacéo DO DiREITO | 187 21.3. Sociologia da atividade judicial Alguns pesquisadores na Alemanha levaram em consideracao essa critica Passou-se, assim, da sociologia do perfil da magistratura a sociologia da atividade F judicial. Desse modo, iniciou-se um trabalho de andlise de processos, sobretudo na drea penal. As pesquisas empiticas confirmaram que as decisbes judiciais slo influenciadas por preconceitos dos integrantes da magistratura, que favorecem sistematicamente os membros das classes superiores (Dorothee Peters, Erhard Blankenburg), Outras pesquisas alemas (Karl-Dieter Opp, Ridiger Peuckert, Rolf Bender) , muda a opiniao, Se as mesmas pessoas fossem convidadas a legislar, nao agiriam com tanta versatilidade, Nao é raro constatar, em tais pesquisas, que ametade da populagio, na Europa ena América Latina, estd a favor da introdugao da pena de morte." No Brasil essa porcentagem passou de 70% nos anos de 1980. 1990 para46% em 2011.**Além dait lade que mostrao carter sentimental econjuntural da manifestacao, nada indica que todos esses cidados votariam em um partido que apregoa o estabelecimento da pena capital ou que aceitariam que essa pena fosse aplicada a um de seus familiares. Ao problema de credibilidade das respostas junta-se um segundo, A maior parte da populacéo possui uma imagem parcial e incompleta sobre o sistema jurt- ico e, dessa forma, as respostas nao tefletem um conhecimento ou uma realidade do direito, mas somente uma opiniao confusa e ideologica. A pessoa comum nao possui conhecimento suficiente para analisar, por exemplo, se a Justica combate eficientemente a criminalidade ou se os juizes sa Se for perguntado, 0 ccidadao tentara generalizar com base nas poucas experiéncias pessoaise, sobretu repetindo a opinito veiculada pela midia, que da particular destaque 20s as e escandalos (exemplo: “corrupedo de jutzes”) e nunca noticiam 0 co ‘normal do sistema juridico. Assim, osquestionstios relativos opiniao sobre odireitoemgeralreproduzem o“sensocomum”,difundico pela midia, ouseja,reflet is sacionalistas;nodescobrema opiniaop nao permitem constatara realidade d 9 taisrazdes, osociblogo francés Pierre Bourdieu, sustentou que “a opiniao publica nao existe”. no 44. Mosconi e Toller, 1998, p.174; Rouland, 1998, p. 227. 45. Resultado de pesquisas realizadas nas anos 1960 e 1990 (Caldeira, 2000, pp. 352,357). 46, hitp:/noticias.r7.com/eidades/noticias/pesquisa-mostra-que-pena-de-mortelivide-s- -opiniao-dos-brasileiros-20111019.html, Semelhantes porcentagens obteve pesquisa realizada em 2000 junto a universitéris (Mattos, 2004). 47. A. Deville, Opinito(oes), in Arnaud, 1999, p. 552; cfr a critica em Zimmerling, 1993, SOCIOLOGIA DA APLICACAO pO DIREITO | 2 Basta indicar trés exemplos.**Primeiro, em pesquisa conduzida na Espanha, 77% dos entrevistados afirmaram que estio pessoalmente empenhados na luta contraa criminalidade, sendo que 65% dos mesmos considera que os outros ci- dadaos nao ajudam o suficiente para controlar a criminalidade, ou seja,a pesquisa nos indica somente que cada um *joga" aculpa sobre os outros. Segundo, em pesquisa realizada nalllia, 60% dos entrevistadosconsideraram necessario o aumento das penas criminais para combater a criminalidade, sendo que somente 13% dos mesmos afirmaram que pena de prisio 0 melhor metodo para lutar contrao crime, Os demais entrevistados consideraram adequado o uso de medidas de tipo econdmico e educativo. Terceito, pesquisas [eitas em todo o continente europew indicam que o medo da criminalidade e a postura repressiva tendem a se acentuar entre os idosos, ape- sar de estes apresentarem, estatisticamente, menores chances de serem vitimas de crimes do que os mais jovens! ‘Uma outra critica as pesquisas de opiniio refere-se a conttibuicio das pesquisa sobre o conhecimento do direito. Em geral, confirmam um resultado facilmente previsivel: o cidadao tem um conhecimento elementar do direito penal e, em menor grau, do diteito civil e trabalhista. Em caso de contflito ju- Tidico, as pessoas quase nunca confiam em seu conhecimento, procurando a lentacao de especialistas (advogados, policia, sindicatos etc.) Isso indica a limitada utilidade das pesquisas sobre o conhecimento do direito. Seas normas Juridicas séo aplicadas, na maioria dos casos, por 6rgaos do Estado e pelos ope- radores juridicos e “parajurfdicos” (por exemplo, os contadores responsaveis pela contabilidade de empresas), o maior ou menor grau de conhecimento das hormas por parte da populacdo ndo mantém relagao causal com a eficacia do direito. O essencial para a aplicacao das normas juridicas nas relagdes sociais nao €0 conhecimento técnico do direito por parte da populacio, esimo acesso efetivo a Justica Em conclusio, esses problemas indicam que as pesquisas KOL nao res- ponderam as fortes expectativas em conhecer a “realidade do direito”, que ‘acompanharamasua expansio inicial no ambito da sociologiajuridica de cunho emptrico. Isso explicaa diminuicdo dos trabalhos deste tipo que se registrou nos tiltimos anos. Constituem excecio as pesquisas sobre o sentimento de medo da criminali- dade por parte da populagao eas solugdes que esta preconiza. A seguranca piiblica constitui um temade grande relevancia nascampanhas politicas (“toleriincia zero", “cidades seguras”, “policia comunitaria"), Assim sendo, organismos piiblicos € 48. Osexemplos que apresentamos foram extraidos le Mosconi e Toller, 1998, pp. 162-163, 175.176, 212 | manuaL ve sociotocia uRtDIcA autotidades governamentais financiam muitas pesquisas sobre o assunto, que sto principalmente conduzidas por Socidlogos do direito.* Neste caso, as pesquuisas ndo slo conduzidas para constatar a opinto da po- pulacdo sobre o sistema juridico, nem para conhecer a re autoritérias, antidemocraticas e violentas, legitimando a repressao das camadas populares e garantindo os privilégios sociais dos poderosos.®* Parairmais longe , 1991, pp. 156ess.,177ess.,230 ess.;Faria, 10997; Galanter, 1993; Hoffmann-Riem, 2001; Junqueira, 1993, pp. 91 ¢ss.,117¢ $5,;Lochee outros, 1999, pp. 153ess.,167ess.;Lucas, 1992; |, 2007; Morisi, ser, 1999, pp. 361 ess.; Rehbinder, 2000, pp. 161 ess.; Rigaux, 2000, pp. 305 ess.; Rocha, 2002; Sadek, 2001 e 2003; Santos e outros, 1996; Schur, 1970, Pp. 176 ess., 202 ess.; Serverin, 2000, pp. 88 e ss.; Sica, 2007; Sinhoretto, 2002, PP. 69 ess., 105 € ss.; Soriano, 1997, pp. 419 e ss.; Scuro Neto, 2008; Tamanaha, 1999, pp. 205 es.; Tomasic, 1986, pp. 30 ess.; Treves, 1977, pp. 183 ss.; Treves, 1996, pp. 244 e ss.; Vianna e outros 1997 e 1999; Wolkmer, 1997, pp. 255 ss. Yuille, 2004; Zaffaroni, 1995. Opinio publica e Bonellieoutros, 2006; Cotterrell,1991, pp. 124ess.; Cottino, 1974; Mosconi ¢ Toller, 1998; Pocar, 1974; Podgérecki, 1973; Raiser, 1999, pp. 346 ess.; Rehbin- der, 2000, pp. 143 e ss.; Rosa, 2004, pp. 154 e ss.; Rottleuthner, 1981, pp. 153 55, Rouland, 1998, pp. 212 e ss; Schur, 1970, pp. 218 es.; Smaus, 1980 e 1985; Souto e Souto, 2003, pp. 301 ess. 49. Cli avasia bibliografiareferida em: Mosconi e Tolle, 1998; Progetto “Cita sicure”, 1998 © 1999; Sabadell, 003, 50. Osgrupessociais que sentem maior medo da criminalidade no sio os que mals frequen {emente tornam-se vitimas de deliv Alem disso, unicamente do ligio 11 A POSICAO DAS MULHERES NO DIREITO. rca; 4.3.2 leitura da violencia de genero na patie judicial tsa mulheres ¢empréstimo juridico; 4.5 Direltos das mulherese agbes tulherescomo operadorasdodielto—5. Conciusto’respostaaRadbrvch, 1. INTRODUGAO Estudos da Organizacao Mundial daSatide, elaboradosna década de 2000, indi- cava que quaseametade dos homicidios femnininos praticadosno mundo foramde autoria denamorados, maridos ou companheiros, ex ou atuais.' Pesquisa realizada esse mesmo perfodo em cinquenta patses, pela Anistia Internacional, revelouque uuma em cada trés mulheres foi vitima de violencia domestica, foi obrigada a manter telacoes sexuais ou submetida a outros tipos de violencia Dados mais recentes, divulgados pela ONU em marco de 2013, preveem que sete em cada dez mulheres ‘no mundo serio vitimas de atos de violencia, fisica ¢ ou sexual, ao longo da vida? Os dados da Organizacao Mundial da Saude de 2012 demonstram a comple- xidade do problema. A violencia é uma realidade com a quala mulher se confronta desdeasuatenrainfancia, Aproximadamente 20% das mulheres no mundoalegam 1. OMS, Informe Mundial sobre Violénciae Satde 2002. Disponivel em: [herpi/wwwswo, {nuviolencs_injury_prevention]; OMS, Estudio multipais dela OMS sobre la salud de la 2005. Dispontvelem: (husp/wwwtwho.n/genderiviolencel sexual, sendo que, na maioria dos casos, mulher évitime de arias as formas de violencia (p. 19 21).Para uma anise dos dados relativos ao ano de , Women and health: today’ evidence tomorrows agenda, Disponivel em. loco jnt/publications/2009/9789241563857 eng pdf pp.203.¢

Você também pode gostar