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TUTORIAL
Perspectiva
Financeira
Perspectiva dos
Clientes
Perspectivas
do BSC Processos
Internos
Aprendizado e
Crescimento
1
Professor de Economia da Universidade de Yale, prêmio
Nobel de Economia em 1981 e conselheiro econômico do
Presidente John Kennedy de 1961 a 1962.
Valor de
Mercado
Capital Capital
Financeiro Intelectual
Capital Capital
Humano Estrutural
Capital de Capital
Clientes Organizacional
Capital de Capital de
Inovação Processos
lucro em detrimento dos segmentos menos A percepção dos clientes em relação à proposta
lucrativos (KAPLAN e NORTON, 1997: 67-72). de valor da organização é influenciada por fatores
Entretanto, é igualmente importante perceber que a culturais do cliente: status sócio-econômico, sua
contribuição de um segmento de clientes para a sensibilidade aos instrumentos de marketing e suas
organização extrapola a perspectiva financeira, necessidades prioritárias no momento. De um ou de
embora deva, ao final, traduzir-se ou resultar em outro modo, é preciso buscar a comunicação com o
vantagem financeira de algum modo. Por isso, pode cliente como forma de captar informações a seu
ser interessante adotar indicadores que reflitam respeito nessas quatro áreas. Neste sentido, as
contribuições de cada segmento de clientes em ferramentas de interação pela Internet têm
perspectivas não financeiras. demonstrado ser valiosas aliadas. Questionários e
análises de navegação e preferências poderão
Para avaliar a perspectiva do cliente, KAPLAN e
revelar importantes informações sobre essas
NORTON (1997: 71-77) sugerem um grupo de
características dos clientes, mas é necessário
medidas essenciais que incluem participação de
encontrar formas de estimulá-los a navegar pelas
mercado, retenção, captação, satisfação e
páginas Web da organização.
lucratividade de clientes.
Uma das características marcantes dos clientes
Uma dimensão básica no relacionamento dos
que se conectam com a Internet é a voracidade por
clientes com seus fornecedores é a proposta de
informações sobre produtos e serviços. Por isso,
valor, que se refere a um conjunto de atributos dos
uma boa prática é desenhar bases de conhecimento
produtos ou serviços da organização capazes de
bem estruturadas e de acesso gratuito contendo farta
atrair o interesse dos clientes e resultar em bons
informação sobre especificações de produtos e
indicadores nas medidas acima mencionadas. A
serviços, depoimentos e estudos de caso, formas de
proposta de valor pode contemplar três categorias:
implementação e uso dos produtos, problemas mais
a) proposta de valor nos atributos dos produtos ou
freqüentes e suas soluções, sistema de notificação
serviços – refere-se à funcionalidade (utilidade ou
de problema com o produto etc. Tais informações
efetividade), qualidade e preço dos produtos ou
devem ser obtidas junto aos funcionários em todos
serviços da organização para o cliente; b) proposta
os níveis da organização. Porém, não se deve deixar
de valor no relacionamento com clientes – refere-se
de aproveitar o conhecimento gerado pelos próprios
à capacidade da organização de perceber as
clientes. Dessa forma, as listas de discussão sobre
necessidades dos clientes e agir de acordo com
os produtos devem ser acompanhadas de perto pelo
essas percepções; e c) proposta de valor na imagem
Gestor de Conhecimento, de modo a detectar
e na reputação – refere-se à capacidade da
tendências, novos usos de produtos, falhas de
organização de comunicar-se com o público
especificação etc. Qualquer informação oriunda dos
(clientes ou não) e persuadi-lo quanto às vantagens
clientes deve, em tese, ser analisada para que se
de realizar negócios com ela (KAPLAN e
identifiquem padrões passíveis de serem
NORTON, 1997: 78-81).
convertidos em conhecimento.
Os clientes são fonte de valor para a organização
Estabelece-se, assim, uma relação sinérgica entre
também em aspectos não financeiros. Eles oferecem
a organização e sua clientela. Quanto mais a
treinamento para os funcionários, incentivando a
clientela se dispuser a fornecer conhecimento sobre
competência interna com as suas exigências. Ao
sua percepção da organização e de seus produtos,
conversarem uns com outros, estão fazendo
mais possibilidade terá a organização de responder
propaganda e trabalhando para a formação de uma
adequadamente às demandas. Para isso, os clientes
imagem institucional (KAPLAN e NORTON, 1997:
devem ser adequadamente estimulados.
140). Por isso, é importante analisar o fluxo de
conhecimento gerado pelos clientes para a Alguns indicadores plausíveis nessa área são:
organização e vice-versa. volume de contribuições da clientela para a base de
conhecimento da organização a respeito de seus
produtos e de suas demandas, e volume de consultas frente, que se encontram mais próximos dos
realizadas à base de conhecimento. processos internos e dos clientes da organização”.
A visão desses autores indica a conveniência da
4. PERSPECTIVA DOS PROCESSOS aplicação das técnicas da Gestão do Conhecimento
às atividades de melhoria dos processos internos.
O propósito da perspectiva dos processos é SVEIBY (1998: 214) dá especial importância ao
identificar os processos mais críticos para a conhecimento contido no relacionamento com
realização dos objetivos dos acionistas e dos clientes que aumentam a competência interna, que
clientes, e tratar esses processos adequadamente. sustentam o incremento da estrutura interna (p. ex.
Enquanto nos modelos tradicionais as medições de via feedback), ou que constroem a imagem e
desempenho estão focadas na estrutura produtiva (p. proporcionam contatos com outros clientes. Nesta
ex. centros de responsabilidade e departamentos), linha de pensamento, o autor preconiza a utilização
no BSC há uma preocupação de criar medidas para de indicadores como: tempo dedicado à P&D,
avaliar o desempenho do ciclo proporção de clientes que contribuem para a
inovação/operação/pós-venda, atravessando toda a melhoria da organização, número de inovações
organização (cadeia de valor) (KAPLAN e propostas pelos funcionários e acessibilidade das
NORTON, 1997: 97-98). informações da organização a esses funcionários
Cadeia de valor é a seqüência de transformações (SVEIBY, 1998: 235-237).
pelas quais passam os insumos do processo,
ganhando gradativamente mais valor para o cliente. 5. PERSPECTIVA DE APRENDIZADO E
A cadeia de valor pode ser dividida em três fases: a) CRESCIMENTO
inovação – é a fase de detecção e análise das
necessidades dos clientes e das condições de De acordo com KAPLAN e NORTON (1997:
mercado, formalização de alternativas de solução e 132 a 134), uma das mudanças mais radicais no
desenvolvimento de soluções; b) operações – é a pensamento gerencial dos últimos anos foi a
fase em que ocorre a geração do produto ou serviço; transformação do papel dos funcionários, que
e c) serviços de pós-venda – esta fase abrange o passou de provedor de força física a analisador de
período posterior à venda, no qual são realizados dados cada vez mais abstratos, muitas vezes
procedimentos relacionados com a garantia, captados em ambientes automatizados. Este ponto
consertos, devoluções, processamento de de vista é corroborado por DRUCKER (1994),
pagamentos e apoio ao cliente. quando se refere aos operários do conhecimento,
SVEIBY (1998: 31-33), quando expõe as diferenças
Segundo STALK (1998: 43-65), o tempo é uma
dos paradigmas industrial e do conhecimento, e
vantagem-chave em produção, desenvolvimento, e
STEWART (1998: 35-47), quando descreve os
lançamento de novos produtos, em vendas e em
trabalhadores do conhecimento. EDVINSSON e
distribuição. Se uma empresa consegue produzir
MALONE (1998: 61) e SVEIBY (1998: 9) ainda
novos produtos três vezes mais rapidamente que
assinalam que as pessoas são os únicos agentes
seus concorrentes, tem uma enorme vantagem e é
ativos na empresa. Todos os ativos e estruturas,
exatamente isso que os fabricantes japoneses estão
quer tangíveis ou intangíveis, são resultados das
fazendo com seus competidores ocidentais. A
ações humanas; dependem, em última instância, das
respeito do desenvolvimento de novos produtos,
pessoas para existir. Adicionalmente, os autores do
NONAKA e TAKEUCHI (1997: 270) afirmam que
BSC evidenciam que as idéias que permitem
a criação de conhecimento deriva dos processos de
melhorar o desempenho para os clientes emanam,
inovação. KAPLAN e NORTON (1997: 133)
cada vez mais, dos funcionários operacionais, que
concluíram que “as idéias que permitem melhorar
atuam mais diretamente nos processos internos e
os processos e o desempenho para os clientes cada
junto aos clientes (KAPLAN, 1997: 133). Esta
vez mais emanam dos funcionários de linha de
mudança de perspectiva implica recrutamento mais
criterioso, para obter funcionários com maior 122) ainda apontam o problema da distribuição
capacidade analítica. SVEIBY (1998: 78) afirma etária. NONAKA e TAKEUCHI (1997: 94) e
que o recrutamento de novos funcionários é a EDVINSSON e MALONE (1998: 122) alertam
decisão de investimento mais importante da para o fato de a diversidade de funcionários ser um
gerência e, talvez, a sua ferramenta estratégica mais fator importante de competitividade.
importante. Além disso, essa mudança de
De acordo com NONAKA e TAKEUCHI (1997:
perspectiva implica grande reciclagem dos
63), o conhecimento está relacionado à ação, isto é,
funcionários, para que suas mentes e capacidades
o conhecimento visa algum fim. A Gestão do
criativas sejam alinhadas com os objetivos
Conhecimento deve procurar fomentar os
organizacionais (KAPLAN e NORTON, 1997: 133-
conhecimentos aplicáveis nas atividades
136). Segundo os autores, os funcionários precisam
estratégicas identificadas nos indicadores e vetores
abandonar o papel de meros atendentes das
do BSC, que estão distribuídos por todas as
solicitações para antever de forma pró-ativa as
perspectivas. Por esta razão os autores do BSC
necessidades dos clientes e apresentar-lhes um
afirmam que a perspectiva de aprendizado e
conjunto mais amplo de produtos e serviços.
crescimento é vetor de resultados excelentes nas
São três as principais categorias de indicadores três primeiras perspectivas (KAPLAN e NORTON,
para a perspectiva de aprendizado e crescimento, de 1997: 131), compondo a base do aprimoramento da
acordo com a experiência dos idealizadores do gestão da empresa, pois é a infra-estrutura que
BSC: a) capacidades dos funcionários; b) possibilita a consecução de objetivos ambiciosos
capacidades dos sistemas de informação; e c) estabelecidos nas demais perspectivas. O efeito dela
motivação, empowerment e alinhamento (KAPLAN é aumentar o nível agregado de conhecimento nas
e NORTON, 1997: 132). Um grupo essencial de demais perspectivas, que visa, em última instância,
indicadores focados nos funcionários – satisfação, melhores resultados financeiros.
produtividade e retenção – monitora resultados a
Uma política adequada de Gestão do
partir dos investimentos feitos em funcionários,
Conhecimento deve ter por objetivo alinhar as
sistemas e alinhamento organizacional. Os vetores
necessidades de crescimento do capital humano
destes resultados são, até o momento, um tanto
determinadas pela identificação das competências
genéricos e menos desenvolvidos do que os das
essenciais (PRALAHAD e HAMMEL, 1998), com
outras três perspectivas do BSC. Eles incluem
base naquelas necessárias para a implementação das
índices agregados de cobertura de funções
cadeias de valor dos processos críticos de negócio.
estratégicas, disponibilidade de informações
estratégicas e nível de alinhamento pessoal, de
equipe e de departamento com os objetivos 6. CONCLUSÃO
estratégicos.
De acordo com DRUCKER apud ARVESON
Segundo SVEIBY (1998: 77)., tornar a empresa (1999), a única vantagem competitiva é a inovação.
menos dependente dos especialistas2 é uma das A inovação é um dos resultados da aplicação
principais tarefas do executivo principal Uma sistemática da Gestão do Conhecimento, portanto,
estratégia da área de pessoal que englobe as vantagens competitivas permanentes derivarão
recrutamento, gerenciamento e desenvolvimento cada vez mais das estratégias relacionadas à Gestão
pode ajudar na realização deste objetivo. SVEIBY do Conhecimento.
(1998: 87 e 88) e EDVINSSON e MALONE (1998:
Neste artigo procurou-se demonstrar como a
Gestão do Conhecimento completa a visão do
2 Balanced Scorecard, sugerindo indicadores e
Neste contexto, especialistas são profissionais altamente
qualificados e experientes que solucionam os problemas mais vetores de desempenho, dando um foco estratégico
complicados, geram as maiores receitas para a empresa e ao conhecimento organizacional. A aplicação
possuem a mais ampla rede de contatos fora da organização. adequada desse conhecimento, pela hipótese de
cadeia de causa e efeito apresentada por KAPLAN e DRUCKER, Peter F. The Age of Social
NORTON (1998), deverá resultar em melhoria Transformation. The Atlantic Montly, v. 274, n.
contínua dos processos e maior valor dos produtos e 5, p. 53-80, nov.1994.
serviços, o que implicará uma ampliação da
EDVINSSON, Leif e MALONE, Michael S.
participação de mercado e o impacto financeiro
Capital Intelectual: Descobrindo o Valor Real
desejado pelos acionistas (Figura 1).
de Sua Empresa pela Identificação de Seus
Há consenso entre diversos autores citados, como Valores Internos. São Paulo: Makron Books,
STEWART (1998), EDVINSSON e MALONE 1998.
(1998) e SVEIBY (1998), sobre a importância de se
FISCHMANN, Adalberto A. e ZILBER, Moisés A.
aferir o Capital Intelectual, mas não há
Utilização de Indicadores de Desempenho como
convergência quanto ao conjunto adequado de
Instrumento de Suporte à Gestão Estratégica. In:
indicadores para mensurá-lo. Os indicadores
Encontro da ANPAD, XXIII, Anais, set. 1999.
sugeridos por esses autores para aferir o CI e
aqueles propostos no BSC procuram medir o KAPLAN, Robert S. e NORTON, David P. A
potencial de desempenho futuro da empresa e, por Estratégia em Ação: Balanced Scorecard. 6.
isso, são geralmente medidas de tendência, ao ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
contrário daqueles indicadores que constam nos NONAKA, Ikujiro, TAKEUCHI, Hirotaka. Criação
atuais balanços financeiros das empresas, que são
de Conhecimento na Empresa: Como as
medidas de ocorrência (foco no desempenho Empresas Japonesas Geram a Dinâmica da
passado). Inovação. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
Como STEWART (1998: 46) expôs: “As
PRALAHAD, C. K., e HAMMEL, Gary. A
empresas estão no negócio para ganhar dinheiro e Competência Essencial da Corporação. In:
seu sucesso ou fracasso final são expressos em MONTGOMERY, Cynthia A. (Org.),
termos financeiros, mas a linguagem da gerência é, PORTER, Michael E. (Org.). Estratégia: A
cada vez mais, não financeira”. Este aparente
Busca da Vantagem Competitiva. Rio de
paradoxo pode ser confirmado com a utilização Janeiro: Campus, 1998.
crescente de indicadores não financeiros das três
perspectivas do BSC como premissa para a STALK, George. Tempo: A Próxima Fonte de
obtenção de resultados na perspectiva financeira, de Vantagem Competitiva. In: MONTGOMERY,
acordo com a hipótese de relação de causa e efeito. Cynthia A. e PORTER, Michael E. (Orgs.).
Desse modo, a Gestão do Conhecimento completa o Estratégia: A Busca da Vantagem Competitiva.
Balanced Scorecard ao fomentar a perspectiva de Rio de Janeiro: Campus, 1998.
aprendizado e crescimento, que alavanca todas as STEWART, Thomas A. Capital Intelectual: A Nova
demais. Vantagem Competitiva das Empresas. 5 ed., Rio
de Janeiro: Campus, 1998.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SVEIBY, Karl E. A Nova Riqueza das
Organizações: Gerenciando e Avaliando
ARVESON, Paul. The Balanced Scorecard and
Patrimônios de Conhecimento. Rio de Janeiro:
Knowledge Management. www.balanced
Campus, 1998.
scorecard.org/bscand/bsckm.html, consultado
em 13 de junho de 1999.
DAVENPORT, Thomas, e PRUSAK, Laurence.
Conhecimento Empresarial: Como as
Organizações Gerenciam seu Capital
Intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.