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Tomou leite estragado e recebeu indenização

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios - TJDFT

Circunscrição :8 - PARANOA
Processo :2009.08.1.002456-3
Vara : 201 - VARA CIVEL DO PARANOA

SENTENÇA

Maria do Livramento Caíres Silva ajuizou ação contra JL Mercado Ltda. EPP e
Usina de Beneficiamento Marajoara - Indústria de Laticínio Ltda. relatando que
em 17 de maio de 2008 adquiriu do primeiro réu 7 caixas de leite produzido
pelo segundo réu, ainda dentro do prazo de validade, e que no dia 1º de junho
de 2008, ao ingerir o produto da última caixa, passou mal e chegou a ser
hospitalizada. Ao retornar à sua residência e de posse da caixa, que já estava
vazia, verificou que dentro da caixa havia um corpo estranho, ressaltando ter
retornado para atendimento médico nos dias 3 e 4 quando apresentou os
mesmos sintomas da primeira internação.

Disse que no dia 10 de junho deixou a caixa de leito na Delegacia de Defesa


do Consumidor e que sofreu abalo emocional pelo fato de ingerido produto
alimentício que a levou a ser levada às pressas para atendimento médico me
hospital e posto de saúde, ficando sob cuidados médicos, bem como a ter
gastos com medicamentos e transporte. Assim, pediu a condenação de cada
um dos réus no pagamento de indenização a título de dano moral, no valor
individual de R$ 10.000,00.

Acompanharam a inicial os documentos de fls. 11-39.

O primeiro réu contestou, aduzindo a preliminar de ilegitimidade passiva, com


base na alegação de que o produto vendido estava no prazo de validade e que
não tem responsabilidade sob suposta contaminação do seu conteúdo,
destacando não haver alegação de que houve armazenamento impróprio do
produto. No mérito, disse não haver prova de que a autora efetuou a compra
em seu estabelecimento comercial, de que foi internada com sintomas de
contaminação e que de o leite estava contaminado e, assim, requereu a
improcedência da pretensão exordial.

Juntou os documentos de fls. 56-59.

O segundo réu também apresentou contestação, na qual argumentou não


haver prova de que os problemas de saúde da autora tiveram como causa o
leite por ela ingerido, não havendo prova de que a mesma foi internada e
esteve sob cuidados médicos. Destacou que a caixa levada à Delegacia de
Defesa do Consumidor estava aberta e vazia há 9 dias, quando se deu a
aludida entrega, não se podendo afirmar que o que foi encontrado na caixa de
fato ali já estava quando aberta para consumo. Asseverou que nas análises
que fez do produto fabricado na mesma data não encontrou qualquer
irregularidade e, assim, postulou a improcedência do pedido vestibular.

Acostou os documentos de fls. 72-238.

Em réplica a autora sustentou a legitimidade "ad causam" do primeiro réu e


reiterou os fundamentos da peça preambular.

Realizada audiência de conciliação não houve acordo entre as partes, tendo a


autora pleiteado a produção da prova oral enquanto os réus assinalaram não
terem interesse na dilação probatória.

É o relatório. Decido.

Versam os autos sobre relação de consumo, sendo a questão deduzida pela


autora relacionada, especificamente a responsabilidade por fato do produto, já
que fundada na alegação de defeito de fabricação. Em tal situação, dispõe o
art. 13 do Código de Defesa do Consumidor que o comerciante será
solidariamente responsável pelos danos causados aos consumidores quando o
fabricante não puder ser identificado, o produto for fornecido sem identificação
clara do fabricante ou quando não conservar adequadamente os produtos
perecíveis.

No caso, fundamenta-se a pretensão inicial na alegação de que produto


inadequado para o consumo foi exposto a venda, o que se refere a suposto
defeito de fabricação, sendo que o fabricante está perfeitamente identificado e
nada foi alegado quanto ao eventual armazenamento e conservação impróprios
pelo comerciante. Por conseguinte e a teor da normal legal mencionada, exclui-
se a responsabilidade do primeiro réu que, portanto, não é parte legítima para
figurar no pólo passivo da lide.

Em ordem o processo, no mérito, o caso é de julgamento antecipado da lide,


com base no art. 330, I do Código de Processo Civil, já que as provas coligidas
nos autos são suficientes para o deslinde da controvérsia.

A autora juntou aos autos o laudo de análise de fl. 20, que constatou a
presença de leveduras e resíduo de leite queimado na caixa por ela
apresentada para exame. O referido documento não esclarece, no entanto, se
tais leveduras eram provenientes do leite, o que seria de rigor, considerando
que, como mencionado na inicial e foi destacado pelo segundo réu, a caixa
submetida a exame estava aberta e vazia há mais de 9 nove dias.

Não contém, também, informação quanto ao nível ou quantidade de leveduras


encontradas e se superior ao tolerado, assim como não há qualquer referência
quanto ao fato de os resíduos de leite queimado, também encontrados na
caixa, resultam em contaminação do produto. Desse modo, não se pode
afirmar que o leite estava, de fato, impróprio para consumo. Considerando ser
esse o fato constitutivo do direito afirmado na inicial à autora incumbia o ônus
da prova, nos termos do art. 333, I do Código de Processo Civil.

Observe-se que o caso não dá ensejo à aplicação da regra contida no art. 6º,
VIII do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe sobre a inversão do ônus
da prova, face à ausência dos seus requisitos. Com efeito, os elementos
contidos nos autos não conferem verossimilhança à alegação de contaminação
do produto e, ainda, a apuração do fato não depende de conhecimentos
técnicos sobre informações detidas apenas pelo segundo réu, sendo a questão
dirimida pela prova pericial, cuja produção sequer foi requerida nesses autos.

Por outro lado, não há qualquer documento médico que ateste ter a autora sido
internada para tratamento médico, o que teria se dado em razão de
contaminação pelo consumo de leite. Note-se que a prova testemunhal quanto
à eventual condução da autora a algum nosocômio não teria o condão de
aclarar o fato quanto ao motivo que deu origem ao seu comparecimento
naquele local.

Nesses termos, ausente prova do defeito de fabricação do produto e da


vinculação do fato com o dano alegado pela autora, não há que se falar em
responsabilidade civil, pois não configurados os seus pressupostos legais.

Ante o exposto, reconheço a ilegitimidade passiva "ad causam" do réu JL


Mercado Ltda. EPP, em relação a quem Bbjulgo extinto o processo, sem
exame de mérito e, no tocante às partes remanescentes, ou seja, à autora e ao
réu Usina de Beneficiamento Marajoara - Indústria de Laticínio Ltda., julgo
improcedente o pedido inicial e extingo o processo, com resolução de mérito,
nos termos do art. 269, I do Código de Processo Civil.

Condeno a autora no pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios, arbitrados em R$ 300,00 (trezentos reais) em favor de cada um
dos réus. Considerando, no entanto, ser ela beneficiária da gratuidade
judiciária, fica isenta do recolhimento das custas e suspensa a exigibilidade da
verba honorária, conforme art. 12 da Lei 1060/50.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.


Paranoá - DF, sexta-feira, 25/09/2009 às 15h14.

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