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FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET

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Escrevinhação n. 830
CONSELHOS DESDENHADOS
Redigido em 17 de maio de 2010, dia de São Pascoal Baylon e da Bem-
aventurada Júlia Salzano.

Por Dartagnan da Silva Zanela

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Viver sempre foi uma coisa simples. Aliás, continuará a ser

para todo o sempre. Todavia, seja ontem, hoje ou em um amanhã

qualquer, lá estaremos nós desdenhando as orientações mais

elementares para podermos nos tornar aquele que devemos ser.

Poderia eu aqui, por meio destas parvas linhas, apontar mil

e uma utilidades de um bom conselho e dois mil e uma odisséias sobre

os benefícios que advém da de vida aceitação das verdades que nos são

reveladas através das simples palavras que denunciam a maneira tosca

que vivemos a nossa passagem por esse vale de lágrimas, mas não o

farei. Digo isso porque os conselhos não são muitos, mas as maneiras

de nos esquivar deles, estas sim, são de difícil mensuração.

Por essa razão, ao invés de pontuarmos sobre os desvios ou

a respeito dos conselhos desdenhados, pedimos licença ao amigo leitor

para atinarmos nossa vista para um que nos é dirigido por Marco

Aurélio, o Imperador filósofo – o último dos Antoninos. Em suas

Meditações, livro I, o César sapiencial nos apresenta as pessoas que

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contribuíram para formação da têmpera de sua alma e que, de diz-nos

que de seu bisavô, aprendeu a “[...] ter em casa mestres excelentes, em

vez de freqüentar escolas públicas, e compreender que a instrução requer

se despenda largamente”.

Então o que este reles missivista está querendo dizer é que

não há bons mestres nas Instituições de Ensino? Não mesmo. Somente

um tolo diria isso. Então quer dizer que o sábio imperador seria no

fundo um néscio dissimulando sabedoria? Também não. Então ou quê?

Ora, somente um tolo não percebe que um mestre, seja ele bom ou

ruim, pouca atenção poderá dirigir na formação de seus alunos

amontoados em uma sala.

De mais a mais, por mais zeloso que ele seja, ele sempre

terá que se dedicar a inúmeras outras atividades que exigem dele uma

ação imediata que vão do acalmar os ânimos da turma até

simplesmente explicar para todos aquilo que até pouco tempo atrás era

compreendido de imediato por qualquer um.

Em casa, para começo de prosa, temos a autoridade

imperial dos pais. Não há necessidade de ficarmos recorrendo aos mais

variados subterfúgios para requerer um simples silêncio seguido da

devida atenção ao que está sendo dito. Mas e quanto ao ter em casa

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grandes mestres, como viabilizar isso? Ora, ora meu caro. O grande

mestre de um lar chama-se exemplo paterno e materno. Aliás, esses são

os primeiros que o nosso imperador antonino nos aponta como fonte de

sua formação.

Por isso sempre achei por demais jocosas as queixas de

muitos pais sobre o desinteresse de seus filhos pelos estudos sendo que

eles nunca procuraram demonstrar a importância disso através do

exemplo, porque eles mesmos não se importam com isso. É mais do que

comum vermos casais com a dita formação (ensino médio completo,

graduação e, em muitos casos especialização) nunca darem um

testemunho vivo de amor ao conhecimento.

Com toda certeza tinham e têm amor pelos diplomas e pelos

benefícios que advém da obtenção desses ídolos, mas não pelo

conhecimento. Desta maneira, quando o jovem se defronta com um

sistema educacional degradado, é mais do que natural que ele queira

demonstrar in loco o que aprendeu em casa exempi gratia: tirar

vantagem.

Outro ponto que merece ser destacado são os sacrifícios

que realizamos para obtenção de um bem material qualquer como um

carro, uma roupa elegante, uma viagem para praia, mas nunca, repito,

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nunca, a apresentação de um gesto de envergadura similar para obter-

se um livro, para aprender algo. Pedimos aos nossos filhos para que

fiquem em silêncio para vermos a telenovela, o futebol, porém, nunca

pedimos silêncio – ou mesmo os convidamos – para a leitura de um bom

livro ou para rezar o Terço em família.

Esses, meus caros, são os grandes mestres que devemos ter

em casa para iluminar os nossos gestos tornando-os aos olhos de

nossos filhos algo digno de ser imitado e vivido com toda a força de suas

tenras almas.

Educar uma criança é simples. Porém, por desídia de nossa

parte optamos pelo caminho mais fácil, ainda que seja o de desdenhar a

nossa própria formação por preguiça de nos tornarmos melhores, visto

que, é muito cômodo descontarmos a culpa em outrem por aquilo que é

e deve ser responsabilidade nossa. Assumir responsa dá trabalho, mas

e quem disse que isso não deve ser assim? Somente os tolos que, na

conjuntura contemporânea, não são poucos.

Pax et bonum
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Blog: http://zanela.blogspot.com

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