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Como Administrar na Crise

Entrevista feita pela Revista Brasileira de Administração, publicação bimestral do


Conselho Federal de Administração, onde foi focada a questão da Crise
financeira, ocorrida ao final de 2008. A Revista foi publicada no bimestre de
Janeiro/Fevereiro de 2009. Para conhecer a matéria em sua íntegra, bem como o
conteúdo da Revista, basta clicar aqui.

As respostas às questões formuladas foram apresentadas por:

Antonio Carlos Pedroso de Siqueira => Contador com pós em Gestão Pública.
Registrado na CVM – Comissão de Valores Mobiliários, IBRACON – Instituto dos
Auditores Independentes do Brasil. Sócio da MOORE STEPHENS METRI
AUDITORES, membro da Academia de Ciências Contábeis do Paraná e do IBEF-
PR. Auditor independente com mais de 35 anos de experiência em trabalhos
prestados para empresas nacionais e multinacionais de médio e grande porte
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COMO ADMINISTRAR NA CRISE

1. Em sua opinião quais as diferenças entre a crise de 1929 e a atual?

[Siqueira] Ambas tem uma origem semelhante. Se observarmos apenas o aspecto


financeiro que ocorreu com a expansão da produção em desequilíbrio com os recursos
monetários disponíveis.

A grande diferença é que a de 29 começa com uma grave crise na estocagem de


alimentos, financiados com garantia de hipoteca, e a atual decorre da liberação de
créditos a custo muito baixo, também garantido por hipotecas, motivando a acumulação
de imóveis com preços acima da realidade de mercado. A crise atual tem um
componente a mais pela quantidade enorme de títulos lastreados nos referidos imóveis
que ficaram sem liquidez e eram utilizados na composição de fundos distribuídos em
grande quantidade de países.

Outro componente da crise de 29, após a quebra da Bolsa de Nova York, em função
da seca em grandes extensões dos EUA. Esse desequilíbrio provocou a migração de
grande massa de trabalhadores, que se sujeitavam a salários muito baixos e
eram incapazes de consumir o que havia sido produzido.

A crise atual é típica do capitalismo moderno, com foco exclusivamente financeiro. Não
há um lastro compatível com a riqueza gerada (em função, principalmente, da elevada e
contínua inflação dos preços). Ela é uma novidade para o Mundo. A velocidade
das transações nas diversas bolsas em vários continentes – de forma instantânea – traz
um componente novo.

Há muitas coisas a serem analisadas como: crise de energia (inclusive da recente e forte
queda no preço do petróleo); situação em Gaza e posse do novo Presidente nos EUA;
reordenamento dos países desenvolvidos; aumento da importância dos emergentes no
contexto global; cataclismas naturais, isso para ficar apenas em alguns itens.

2. O economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de economia, diz que o Brasil


não está imune à crise e alerta para um cenário de créditos escassos. Isso já
está acontecendo? Caso afirmativo quais as conseqüências imediatas e futuras?
[Siqueira] Ele está correto! Os economistas gostam de falar sobre o futuro. Como são
várias as afirmações é evidente que “algumas delas estarão certas”. Não há como prever
o desdobramento da crise atual; até porque não há modelos anteriores para serem
analisados e projetados. E nem seria possível, ainda que houvesse esse modelo, se
reproduzir todas as novas condições e variáveis para que houvesse os mesmos
resultados, na “adoção de uma mesma política”. A Economia não é uma ciência exata! A
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evolução da economia é baseada, muito mais, no acaso do que em regras matemáticas.


Depende da forma que cada agente econômico interpreta e, portanto, reage diante da
situação. São milhões de possibilidades! O que torna impraticável a elaboração de
algoritmo adequado para sua projeção. Há grande possibilidade de que haverá resultados
menos críticos se os principais agentes agirem com otimismo diante das decisões que
tiverem de tomar. Aparentemente, até em função da mídia global, há uma tendência
para “o quanto pior melhor, maior a venda de notícias geradas”. Mesmo porque os
próprios jornais estão em crise diante das notícias virtuais. A grande crise que há, em
minha opinião, é de otimismo além de avaliação mais próxima da realidade em cada
caso. Será desastrosa a decisão de restrição do crédito, especialmente àquele destinado
a produção agrícola, geradora natural de riquezas reais. É o Capitalismo dando “um tiro
na cabeça”, visando a normalização futura do mercado com base na escassez.

É nessa esteira que o Brasil pode sofrer conseqüências com a crise. Mesmo em alguns
estados, que como o Paraná, tenha sua produção agrícola baseada em
Cooperativas, fortalecidas e com recursos para financiar uma parte da produção de seus
cooperados.

Um dos grandes erros de avaliação da crise é a utilização de métricas exclusivamente


financeiras. A economia é algo muito maior que apenas finanças. Infelizmente, ao que
parece, a grande maioria das pessoas se esqueceu do que é, de fato, Economia. Uma
ciência que abrange o Homem, a Natureza e a Moeda, em especial. Analisar as situações
apenas pelo viés financeiro será a continuidade do desastre.

Uma possível conseqüência futura ao Brasil, caso haja restrição exagerada do crédito
agropastoril, será a inflação, gerada pela redução de bens disponíveis com conseqüente
aumento de preços e sem recursos ao consumo, visto que a massa dos salários também
seria reduzida.

Neste momento venho observando que as demissões em parte das indústrias vem se
processando como uma higienização dos salários; ou seja: cortam-se os maiores salários
que são substituídos por pessoas com salários de iniciantes. Pode ser um programa
válido, caso não haja uma pressão sobre a produção.

De qualquer forma, entendo que especular sobre o futuro é fazer um lance de dados,
com alguma probabilidade de acerto (e muitas de erro).

3. Há um clima propício a acreditar, nos meios empresariais, que o impacto no


Brasil não será tão forte. Por que este otimismo?
[Siqueira] Vivemos uma crise de ausência de otimismo, mesclada por otimismo
exagerado, que levá-lo ao descrédito. Acredito que o “otimismo” possa ser mais
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favorável para que as decisões conjuntas dos agentes econômicos sejam acolhidas com
um pouco mais de confiança.

A situação brasileira é caótica sob o ponto de vista dos investimentos públicos, dentre
tantas que a mazela pública nos tem proporcionado ao longo de muitos anos.

A gangorra na Bolsa de Valores, bem como na taxa cambial, são condições que devem
continuar até que “o Capital” consiga se reequilibrar com as perdas recentes. A euforia
que toma conta das bolsas no mundo todo apenas revela que grandes capitalistas estão
gerando expectativas positivas aos pequenos e médios investidores, para que estes
apostem e possivelmente percam suas economias seguidamente. Neste momento as
bolsas são o ambiente mais sintomático dessa contínua transferência de recursos. Fixar-
se nelas, e tentar entender os mecanismos de altas e baixas sucessivas, gerará
ansiedade e medo.

É interessante observar que – recentemente – vem se dando maior ênfase aos resultados
provocados pelo “acaso”. Cito o livro de Nassim Nicholas Taleb, "Iludido pelo Acaso – A
influência oculta da sorte nos mercados e na vida" da Ed. Record. É um livro instigante,
especialmente a mim; profissional da área contábil, que tem por hábito medir apenas o
que está realizado; como Contador exercito a criatividade de novos cenários nos
momentos de elaboração de um Orçamento ou Planejamento Societário e Tributário,
onde as decisões contábeis serão determinantes sobre a carga a ser suportada na
operação a ser realizada. As Normas Internacionais de Contabilidade, que passam a ser
adotadas no Brasil, tem como característica principal revelar a “Essência sobre a Forma”,
exigindo que os registros sejam feitos de acordo com a intenção de cada ato ou fato
operacional ou da sociedade. Assim, se um contador ao elaborar as Demonstrações
Financeiras de sua empresa adotar um viés muito otimista poderá colocar em risco os
investidores e financiadores da mesma. Se, ao contrário, adotar um rigor nas
informações, revelando um pessimismo em relação ao futuro, poderá gerar,
imediatamente, a descrença dos investidores e a perda de financiadores, causando – de
fato – um desastre.

Portanto, o otimismo percebido nos meios empresariais – assim como o pessimismo


observado na mídia mundial – está baseado exclusivamente nas escolhas que se imagina
possíveis de serem feitas. Não há uma lógica, ainda que a “contaminação do otimismo”
possa gerar uma nova realidade mais favorável.

4. O administrador brasileiro e a crise: como garantir a sobrevivência de


planos em médio e longo prazo, em meio a uma crise do capitalismo global?
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[Siqueira] As receitas que deram resultado, quer positivo ou negativo, são as que estão
registradas na História. Cada momento é novo e requer ousadia e responsabilidade para
seu enfrentamento. Por isso, um estado de ânimo enfraquecido (pessimista) é pernicioso
às escolhas a serem feitas. Restringe a ousadia necessária para a atividade
empreendedora.

Claro que devem ser adotadas algumas medidas padrão, que poderiam (e deveriam) ser
tomadas anteriormente, como por exemplo:

1. Revisão criteriosa dos gastos, com corte ou redução dos mesmos;


2. Aprimoramento das informações gerenciais, especialmente aquelas que podem ser
extraídas da contabilidade e podem apresentar projeções seguras nos aspectos
Patrimonial, Financeiro e Econômico. Limitar a utilização de métricas financeiras
para decidir sobre os negócios;
3. Aplicação de técnicas gerenciais para dinamizar as equipes e desenvolver
capacidade de inovação (nesse aspecto julgo importante o método conhecido
como „Appreciative Inquiry‟, muito apropriado para o momento);
4. Reavaliação do Plano Estratégico e desenvolvimento de técnicas para
Realinhamento de seu Posicionamento;
5. Levantar o Conhecimento da Empresa, avaliando cada um deles para encontrar o
melhor caminho, mais seguro e dentro do padrão mental da grande maioria dos
funcionários (Gestão do Conhecimento). É nessa hora que se deve rever o
cuidado com a Tecnologia que fica na cabeça de cada integrante da empresa,
como preservá-la e ampliá-la;
6. Ter foco nos negócios, evitando ações especulativas de risco;
7. Adotar um Plano de Gestão de Riscos, a ser permanentemente reavaliado;
8. Etc.

Nenhuma dessas sugestões é particularmente específica apenas a um momento de crise.


A sobrevivência da empresa no curto prazo, mediante a implementação de planos e
ações, é que a conduzirá ao médio e longo prazo. Um componente que me parece muito
importante e altamente favorável aos administradores brasileiros é o fato de que já
passamos por várias crises locais extremamente graves. Temos escola de sobrevivência
em tempos de crise.

5. Quais são os maiores desafios neste momento: atender ao mercado,


atender ao proprietário da empresa, atender à expectativa dos funcionários?
[Siqueira] Creio que o maior desafio é encontrar a ordem no caos. Num momento em
que: i) os créditos estão mais escassos e caros; ii) os grandes pedidos estão sendo
cancelados e/ou adiados; iii) os custos de fabricação crescente; iv) há insegurança em
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relação ao mercado externo (bem como a oscilação de preço de cada moeda); v) as


expectativas de grande parte dos funcionários passam a ser mais imediata, portanto
mais difícil de escalonar prazos às realizações; vi) dentre outras questões também
complexas de serem mensuradas num primeiro momento.

Devemos lembrar, entretanto, que esses desafios são permanentes, independentemente


à existência da crise.

Entretanto, há que se considerar as várias oportunidades que as crises proporcionam. As


principais estão na observação atenta das atitudes tomadas pelos principais
concorrentes. A ação de cada um deve ser constantemente avaliada; faça um
benchmarking das ações positivas; evite repetir erros feitos por outros; esteja aberto às
oportunidades que a inovação proporciona aos bens que sua empresa costumeiramente
produz e comercializa. Uma direção auto motivada influenciará positivamente a equipe
de funcionários, diminuindo pressões e ansiedades. Não deixe que os desafios e a crise
tornem sua empresa, e você mesmo, congelado e inerte. Faça poeira, nem que seja para
ver a reação de seus concorrentes.

6. Quais seriam os primeiros passos para superar as primeiras conseqüências?


No caso de grandes empresas, no caso de médias empresas e no caso de
microempresas?
[Siqueira] Sem dúvida as pequenas empresas devem ter maior facilidade para se
movimentar, reinventando-se, modificando seu foco até adequá-lo ao rumo certo para o
momento. Para isso precisam contar com apoio de profissional especializado em
consultoria empresarial.

As pequenas empresas são uma garantia de que haverá trabalho e emprego à maioria
das pessoas. São geradoras naturais de riqueza. Seu primeiro passo, entretanto, deve
estar alinhado com mudanças estruturais (inclusive com a reciclagem do próprio
empreendedor, que deverá ouvir consultores especializados, que contribuirão com o
realinhamento mais rápido e eficiente da organização); especialmente na melhoria de
controles internos e busca na redução de custos mantendo a qualidade ou, até mesmo,
melhorando a qualidade sem grandes mudanças no custo (aqui entra a inovação).

Às médias empresas (os primeiros passos) ficam além da busca das melhores
oportunidades do mercado na colocação de seus produtos, no aprimoramento dos
controles internos e qualidade na informação e comunicação, especialmente interna, que
proporcionará o gás motivador às equipes. Caso ainda não tenham buscado ativos
ocultos existentes na empresa é o momento de dedicar atenção a isso. Há sempre boas
oportunidades a serem descobertas no passado das empresas (aqui, especificamente,
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falo de apuração de créditos tributários; realização de ativos incorporados ao longo dos


anos e que não contribuem com a geração de renda, etc.).

Normalmente as grandes empresas estão focadas no mercado interno e externo. A


dependência de um deles é que trará a necessidade de reaparelhamento de suas
estruturas de produção e comercialização. Um dos fatores importantes – e que
normalmente grande parte das grandes empresas ainda falha – é na comunicação
interna e externa, bem como no fluxo tempestivo das informações estratégicas ao seu
negócio. É de imaginar que as grandes empresas já disponham de áreas de Gestão de
Riscos, Compliance, Auditoria Interna, etc. Essas áreas devem ser revitalizadas, de forma
a proporcionar o acompanhamento sistêmico necessário à continuidade operacional
dentro de níveis aceitáveis de segurança. Uma recomendação que pode fazer diferença é
dotar os Conselhos de Administração e Fiscal (se implantado) com assessorias externas
(Advisors). Também os membros da Governança Corporativa devem adotar
procedimento semelhante, além de manter “azeitadas” as comunicações entre os
integrantes dos vários Conselhos.

7. Que ações afirmativas devem ser tomadas num momento desse? No


comércio, nos serviços e na produção?
[Siqueira] Inicialmente você deve fazer uma avaliação criteriosa da situação da sua
Empresa. Como ela está posicionada neste momento? Se ela já estava com dificuldades e
o gestor apenas prolongava a decisão de descontinuar o negócio, não espere mais; tome
a decisão já. Se, apesar das dificuldades de qualquer empresa na fase inicial, a
empresa já vinha se firmando em pontos importantes (aceitação do produto, melhora
das margens de contribuição, redução de custos, etc.), é hora de decidir se vai ou não
alçar vôo.

Creio que ao adotar uma posição de sintonia com o mercado, criando cenários possíveis
de serem perseguidos e atingidos, estamos visualizando as oportunidades onde
podermos atuar com maior facilidade. Especialmente na área de comércio e serviços
buscando capacitar as pessoas responsáveis pelo atendimento ao público. A maioria
perde bons negócios por falhas grosseiras no atendimento. Na produção as ações são
mais complexas. Cada decisão deve ter um cenário de no mínimo 6 meses à frente. Para
isso a empresa deve contar com analistas experientes que possam estabelecer metas de
produção e tipos de produtos a serem colocados nos vários mercados. As indústrias
devem, então, contar com pesquisas permanentes de mercado. É claro que custa um
bom preço. Errar uma produção, entretanto, pode custar uma fábrica!
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Boa parte das ações possíveis de serem adotadas já foi mencionada. Um realinhamento
estratégico é muito importante, assim como uma cuidadosa revisão de custos e análise
do retorno dos investimentos já realizados e/ou em andamento.

Rever conceitos sobre investimento, em época de crise, para fortalecimento da estrutura


e melhoria de práticas internas.

8. Qual a sua opinião sobre as medidas que o governo brasileiro vem tomando
em função da crise, como a redução de IPI para veículos e, mais recentemente,
campanhas para os brasileiros consumir mais (o próprio Lula, em cadeia
nacional, exortou o povo brasileiro a comprar mais neste natal), são corretas?
Por que?
[Siqueira] Ainda que o Governo possa apresentar uma dose de otimismo, deve manter
uma posição de permanente alerta para enfrentamento da crise, dependendo do rumo
que esta tomar. Ela não será passageira; já que estamos num ambiente globalizado e
sem a perfeita noção das possíveis ameaças e riscos inerentes. Não adianta acertarmos
os nomes dos culpados se, no final, sofrermos conseqüências danosas em nossa
economia, que é muito frágil e não tem tanta robustez como as apregoadas
nos palanques.

As medidas adotadas, até agora, podem atender a uma pequena parcela de agentes.
Baixar impostos, como forma de continuar a promover a venda de bens, promover o
consumismo como forma de passar pela crise, são campanhas insustentáveis. É
necessário que o governo comece a adotar medidas efetivas de mudança como:
criterioso ajuste fiscal, redução de gastos públicos; criação de incentivos objetivos para a
produção agro pastoril e de produtos de exportação. Adotar uma política tributária que
incentive a geração de renda, sem penalizar a produção. Ter sabedoria na escolha dos
investimentos públicos a serem continuados.

Elevar a disponibilidade de créditos (com uma política de juros mais adequada) para as
atividades produtivas e que dependem de crédito para a geração de riquezas. Somos um
país privilegiado e muito rico. Temos abundância de água e muita energia do Sol. Esses
dois componentes, escassos na maior parte dos continentes são um diferencial
extremamente importante a ser aproveitado. Não se trata de desmatar a Amazônia ou
promover a destruição do Cerrado. Basta mantermos as áreas de produção existentes
ativas. Elaborar um planejamento agrícola e pastoril, com indicação dos preços mínimos
a serem garantidos em cada safra; evitando o desabastecimento futuro e pressões
inflacionárias mais complexas de serem controladas. O que o Governo precisa, portanto,
é de mais ação efetiva e menos discurso.
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9. Pesquisa do Ministério do Trabalho mostrou queda drástica no número de


vagas geradas em outubro em relação a setembro: de 282.841 para 61.401
postos. Mesmo com estes dados porque todo este otimismo?
[Siqueira] Após um período de crescimento na quantidade de novos postos de emprego
parece ser natural que no anúncio de uma crise os investimentos que estavam
planejados fiquem suspensos. Gerando uma diminuição de novos postos de trabalho e,
em alguns casos, a dispensa de parte do contingente ligado às atividades em gestação.

Devemos considerar entretanto, que a economia brasileira tem características


interessantes. O dado sobre desemprego, divulgado pelas pesquisas do Ministério do
Trabalho, mais escondem do que revelam o que de fato está acontecendo ou o que irá
acontecer. Os postos de emprego sofrem uma mudança muito grande, especialmente no
que diz respeito à qualidade do trabalho ofertado. É possível que, em 2009, com as
novas regras da Receita Federal, ocorram mudanças significativas em todos esses
indicadores. Tenho esperança de que a partir de 2009 passemos a ter um pouco mais de
transparência e um efetivo início da melhoria na capacitação das pessoas.

Será necessário passarmos por um novo aprendizado, inclusive, com os Sindicatos. É


uma esperança, também, que eles se atualizem e identifiquem as razões essenciais para
existirem. Será necessária uma cuidadosa revisão e flexibilização nas normas e nas
exigências para os empregadores. Não dá para continuar a ser paternalista. Há
diferenças regionais significativas que exigem tratamento diferenciado para que se
pratique a igualdade social.

Aparentemente o governo vem apostando na construção civil, que retomou o caminho de


crescimento a partir de 2008. É uma atividade geradora de riqueza e que ocupa muitos
trabalhadores. Outro fator que, possivelmente, seja alvo do governo ao demonstrar esse
otimismo, é para que haja uma continuidade das atividades na maioria das empresas
(especialmente as pequenas, que são responsáveis pelo maior número de postos de
trabalho).

Com relação ao otimismo apresentado pelo governo parece que é um novo modelo
adotado para enfrentamento de crises. Se os trabalhadores não estiverem “antenados”
com as oportunidades e necessidades do mercado irão, provavelmente, ficar sem
emprego e muito pessimistas. Talvez até mais do que o que poderia ser considerado
razoável. É tudo uma questão de momento.

10. Alguns especialistas acham que a crise é de gestão e não política ou


financeira. O senhor concorda com isso? Por que?
[Siqueira] Também acredito que a origem da crise tenha sido a má gestão, tanto por
parte dos governos (como exemplo cito os EUA que geraram a bolha a partir da crise de
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1999 – evento NASDAQ - e a aceleraram após o episódio da ENRON, WORDCON e


11/09).

Muitos executivos, especialmente aqueles com viés financeiro, encontraram um campo


fértil para ganhar dinheiro. Muito dinheiro! A redução das taxas de juros fazia com que
“forçassem” as pessoas a contratar empréstimos, gerando uma elevação falsa no PIB de
vários países. Para cada produção na economia real havia geração de muitos contratos,
todos contados novamente, como nova criação de riqueza (falsa, claro).

No Brasil também temos esse tipo de ação irresponsável por parte do governo, que foi
rapidamente adotada por alguns agentes financeiros. A ampliação do crédito consignado,
por exemplo, gerou a elevação de nosso PIB (e conseqüentemente a indesejada elevação
dos gastos de custeio do governo, que é balizada pela expectativa de receitas), sem
lastro real. Essa bolha gerada há alguns anos na economia brasileira também pode
estourar a qualquer momento. Por isso o governo acena com uma “atitude otimista” para
que todos continuem consumindo; pedalando cada vez mais forte a bicicleta ribanceira
abaixo. Pode até parecer bom, enquanto a bicicleta está em pé e acreditamos que a
mantemos sob nosso controle.

Nas empresas a gestão adotada premiava os executivos que produziam lucros e geravam
gordos dividendos. Mesmo que estes fossem gerados em operação de elevado risco.
Infelizmente os investidores, no mundo todo, somente acordam e passam a reclamar
quando a “brincadeira acaba”. Antes, mantêm um ar “apatetado” de que “tá tudo indo
bem na minha empresa. Nosso Presidente é um exímio financista e sabe fazer dinheiro
como poucos”. Portanto a gestão temerária passou a ser estimulada até o limite, que
ninguém sabia onde seria. A euforia fez com que acreditassem na imutabilidade da
situação. Todos viviam alimentando a grande pirâmide dos sonhos.

Sabemos que – agora – muitos desses executivos foram demitidos e substituídos. Isso é
uma forma que os Conselhos de Administração e Membros das Governanças Corporativas
têm para renovar “o otimismo de seus investidores”. Passam a buscar outras formas
para gerar seus lucros e continuarem a distribuir seus gordos dividendos e altíssimos
salários aos seus primeiros executivos.

No fundo – ainda que alardeiem aos quatro cantos – falta transparência, além da adoção
de outras métricas que não as exclusivamente financeiras.

A crise tem conotação política quando há falta de um Plano de Governo, que possa cuidar
do desenvolvimento sustentado do país. A carga tributária em relação ao PIB mostra que
o modelo pode exaurir-se de um momento para outro, com conseqüências inimagináveis.
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É preciso dar início imediato às reformas no País. A ordem que acredito mais natural é a
seguinte:

a) Reforma Política;

b) Reforma Administrativa;

c) Reforma Fiscal;

d) Reforma Previdenciária; e,

e) Reforma Tributária.

Caso estas sejam julgadas muito distantes de serem realizadas, nessa ou outra ordem,
quem sabe bastaria uma reforma fiscal, onde o governo ajustasse seus gastos ao mínimo
necessário, sem o esbanjamento que presenciamos há tanto tempo.

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