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Cans aise de sent i ‘a ligadaa certo etnocentrismo volutive, Paul Zumthoresgrime com ‘formas de conheclmento,uciénca, da vor: “Trote-se de afstar um falso universalism que fechamento —de renuneiar(€ questo de poesis) a0 p= Vilggloda eset” IntradugiaPoss Onl iteerga por tanto ume outra login, sempre tals (umenos ecaleada na histna, que se funda no dinamismo conceto da vor (clagao entre vor, corpo danga; en trevor, gest e poesia. por exemplo} “Um dossintomas domal foi sem dv da, desde aorigero que nds chama- ‘os literatura ea erature adquine Consstincia, presperou, tomou'se 0 aque €— uma das mais vasta dimer ‘hes dohomem—recurandoa vor elo menos das elementos produ ‘vos dessa gia poem ser ressaltads lum dels é ese extrem pendor migra- ‘ri dos textos oralizantes uma expe Cie de mobildade sities intercults ‘al fzendo com que formas sufocadas reaparegam, a patir de novos masa “oss queremetem o escrito ao falado, © acai a0 contemporaine, Outro el mento €a proximiclade de sgno ene palavrae Corpo, muito mals papavel has culturas'de mator espetaclati- dnverticogeeuah, como equclas do lambor ow de bongo afro-ourisce- ‘O que se coca também, nos bast- dores'desse minacneo pecurso os sodos perceptivos da poesia orl, € tuna outadrerfodo pensamento para avaliaro process das cilizagbe: 20 invés da acumulacto e concentragao abstratas,derivadas dos sistemas dig. tals dscetos,o estudo das rlagoes¢ transfomagésimicasentreohomem, sewcorpo cultura ‘Amilo Pinter ‘maio/ 1997 Lingnagem e Cultura 28 INTRODUCAO A POESIA ORAL HUCITEC educ PROVOGRAEICA aul Zamthor nasceem Genera, use em 1915, Eniou iterate snedival cn vis univers\dades eo opts e americans Fl professor de [itranuacompareda ma Univerade de Monte, Canada onde falecet em {595 Flnt, pot, ence abi rovosramenrcampodorestidone- ios das iterturae coves O seu Sn econ vo (postu) al Finachsonent Pas Seu 187) —e0 lkgado pen deste pensar ‘encased dtm sionadocomo Bes ros ua cor {rugs gue manasa colts (Obras de Paui'Zumtor publeadasno Bro ‘ie Heed oTenpodeRembra Comm ania das Letras 198), Corepondénci de ‘blo elise (Matis Forte 1988), letra Vor(Companbia das Leas, 195), Trlipoe Eopccment (Hoste, 19). Cope Lucio Agra LINGUAGEMECULTURA Cavin CaelJerasa es Fersien ‘Morsisnne yids Linger Mba Baka ngage Praca, Carlos Vogt Pradeep Si Pa Prod ¢Cnsuno, Teresina Aparcida De Fevetino _DeVanprom Cane Una turn dx br dD Trin BertaWaldeian ‘rie ons Ipertinnt 0 lsc, Jorusa Vnes Feria © Luts ‘lanesorgs) Videefie Vloseto aioPa2a Nall Map Miro de Andratelts Hiponos Americas Ra ntl ‘AVevtene Gop rast Tradona Maria elena de Moura Neves Pattison Confit: "Neve Nova” eo Nowe Romane Santa Nis 1A aitare Poi Bade Mio 0 Rect’ Cotto de Frases Rabel Mia akshin clog tratare DanteMorera Lite (Gana Lin Cree Cig AnaLsiza Andrade (Questo deLientre dest Tvra do Roos Mikhai Bakthi Far ise Qnerer Diz Claudine Haroche Enontrocite ius, Frans Porta Bros Pare Rivas ‘he Spectator. O Tat es ase Dison no Século XVI Maria ‘isn Garcia Palle Burke ucton Hoon Racies Mis, TetoOr,Eites Popes) ruses tater Eros ade it Latina est Robert Curis Cntr Bras fares Aeridde Eliana MariadeMloeSoza (0) NtaFonsa,OCompucsroccutoE nated TrasoCulat Maia Garcales Bue Purest Estos em Camaros Ros, SandeaGuardiniT.Vasconcsos INTRODUCAO APOESIA ORAL PAUL ZUMTHOR INTRODUGAO APOESIA ORAL ‘TrapugAo DE JERUSA PIRES FERREIRA. MARIA LUCIA DINIZ POCHAT MARIA INES DE ALMEIDA EDITORA HUCTTEC So Paul, 197 Smet a thes Ran Gi ven - LO Se Fl BEB anes (onmiole eS O59, eda: 1180452 Fae Fons ‘mai itcomandiccom say ssa710061 Fait Dept Legal or rnc Ourgees Galle eTea Doves Reva va Siia Qacce Sunatio 1 Presenga da vou 1 AORALIDADEPOETICA 2 Precisando 5 0 lugar da contovéisia A Tnventirio I ASFORMAS 5 Foxmas-egeneros 6 A epopéia 7 Rente'a0 texto III APERFORMANCE 8 Um discurso citcurstancal 9 Abra voeal I 10 A obra voc 11 Presenga do corpo 1V PAPEIS E FUNGOES 12.0 intérprete. 13 O ouvinte.. 13 Duragao e memoria 15 Onitoe a ago. CONcLUSAO. POSFACIO. ATRADUCAO, BIBLIOGRAFIA a a ot a 107 1B 155 167 as 221 241 257 25 295 301 sor 1 PRESENGA DA VOZ, Pode parecer derrisésioscrever um ivr sobre a vor. Mais ainda quando foi uma leitura que o inspirou,crstalzando as interroga ‘Bese intengSesesparsas que, desde aproximadamente 1975, me le- ‘Yaram a esta empresa. Evoco assim a bela obra de Ruth Finnegan, (Onl Posty, aparecidaem 1977 quesecompletouum ano mais tarde ‘om maria antologia. Ela colocava um ponto final num meio século de pesquisa sobre as trades posticasorais,observadas aqui ali pelo mundo. Ati- ‘ula esta tenfativa de sintese, numa perspectiva propria, a partir dos anos quarenta escola anglo-ameriana dos Chadwick, Bows, Lord «sob su influénca, a alemdes como Bausinger:esta mesma (dstan- te paraa maior parte dos franceses, mais preocupados com oforma- lismo e com a hstria), em que parecem convergir para © mesmo ponte de faga a antropologia eos estudos itersrios. "A autora de Oral Posry descreve fats esituagbese, eagrupando= cos segundo diversas clasiicagoes extemas, ecusa-s a toorizar. Por futrolado,elaacentus a formas podticas ligadas, de modo direto ou Inditeto as tradigoesantigase 85 culturas pré-industrais. Isto sig nifica fxar um quadro que, de chofre eu experimente.anecesidade lviza,talver de romper. ASquest6es que me cologuel de fato Uiicialmentea propéste da cilizagao medieval) exigiam tanto uma série de respostas tericas quanto o ultrapassar de elivagens cul- furais,Falarnos uma postca geal da oralidade que srva cle rlé 3s, pesquiss particulates e propona nogées operatrias,aplicsveis 40 fendmeno das transmisoes da poesia pela vor e pela meméris, & exclisfo de toda outra cols. 10 Prtsenca oa vor © que nos ensina esta podtica se encontrasesumico numa ques- to fundamental hs uma posticade oral especie” Nao tenho ambigao agai senso de esbogar uma possivel reposts. So menos textos individuals e concretos que proponho & andlise do que as propria catacteristicas que os definem, enquanto receidos, sem a Intervencio da escrits. Por outro lado eu me esforcei pata io me afastatcm nenhum dos capitues, dosentimenta daquilo que éa vor Jnumana edo que ele implica: est incongruéneiaentreo universo dos signos eas determinagdes pesadas da matin est emanagio de um fundo mal discernvel de nossas memdrias, esta ruptura das logics, sta saida dos trihos do sere da vida... que & preciso tentar, fora de toda exaltago incontrolada de racionaliza a Bstri, 1 simbolismo primordial integrado a0 exerci fnico se ma- nifesta eminentemente no emprego da linguagem, € ai que se ‘liza toda poesia. Certamente, vor e inguager constituem para 0 analista ftoresdlstntos ca situagdo antropologica. Mas uta voz fem linguagem (o grto, a vocalizagio) nao ¢ bastante diferencie- da para “fazer passat” complexidade das forgas de desejo que & animam: ea mesma impoténcia afta, de outro modo, a linguagen Sem voz que é a escrita. Nossas vozes assim exigem a0 mesmo temt- oa linguagem e desfrutam, a esse respelto, de uma lierdade de ls quase perfeita, pois ela culmina no canta, [Ninguém sonhariaem negara importincia do papel que desem- penharam na histvia da humanidade as tradicoes orals. As iil 2agoesarcaicase muitasculturas das margens ainda hojese mann, ‘gragas a elas ainda & mais dle penss-las em termos nto-his- {ricose especialmente nos convencerde que nossa prépria cultura elas se mprogna, nao podendo subsstir sem elas. A mesma coi ‘corre com a oralidade da poesia: admite-se a eslidade como uma evidéncis, quer se trate de etnias afrcanas ou amerindis;€ preciso ‘um esforco de imaginacao para reconhover entre nds a presenca de ‘uma poesia oral bem viva. Um exemplo entre muitos: segundo Le ‘mati de 6 de abril de 1981, so compostas a eada ano, na Prana, dex mil eangSes,entregues 23.000 cantores proisionaiscujas gr vagies enchem centenas de discos... Apesar da importincia destas cifras, a maior parte dos estudiosos de poesia as jgnoram, Jah muito tempo, com efeito,em nossas socidades a paixso da palavra viva se extinguiu, progressivamenteexpulsa de Sua “per- sonalidade de base”, mariz de nossostagos decarster individual Presexca ba vor 1 cesta histéria fot muitas vezes contada, Em razso de um antigo Preconceito em nossos expiitos eque peforma nossas gostos, todo produto das artes da lingusgem se kdentifca com uma escrita, onde a diculdade que encontramos em reconhecer a validade do ‘que ndooé Nés, dealgum modo, refinamos tantoasténicas dessas, fartes que nossa sensbilidade estética recusa espoatancamente a aparente imediatee do aparetho vocal. As especulagoes criticas dos anos sessenta esetenta sobre a natureza efun-cionamento do “texto” deixaram de contsbuir para clarear por est lado oherizon- tee ainda o embramaram mais recuperando, wavestida 20 nosso habito mental a antiga tendéncia de sacralizara letra, eateanho que ene todas as nosis dicipina instituas nfo hajainda uma cleneia da vo. Esperemos que elas forme embreve la trsia para estado da poesia oral uma base teria que Te fla, ‘Abarearia, para sm de uma fie de uma flog, ume lings ta ua antropologiaeuma histria.O someemento,omalssutle ‘naismalevel do conereto no constitute nso constitu ro fur shumanidade como do individuo,olugar deenconr incl entre © univers eo inieligiel? Ora, a vor € querer daze vontade de tvs, garde una ausénia que, nea ae tarsfora em Pre Seng ela modula os infos edszos que nos atravesam e capt Sev sina: esondncia init que faz cantar toda matérn como 0 Sststa tantaslendas sobre plantas e pedias enfetiadas que, um i foram deci “otro oda dees, nia apa ase reves de linguagem a vor uma col: descrevemse sts qualidades mate tinh oto otimbre oscany aura oreistr-eacdatmadlas ‘costume liga um vor smboic. No melodrasa europe, cab 0 {enor papel do jistopersegido, soprano afemirlidade eliza Garo beno, a stbodoria ou loscure. A cvlizagiojaponesa, mais Sullment que otras, jou com estas nuances, Nurerooos so 0 poves, dos Tomanceantgos aos cadores da Spere chess, a0 Emerindise 208 pigmeus, que as valorizaram etentaram codificts Was tags um nt gn des in ora ne eins) dosuratetopuicado €netemansactoquemeetteem soso Seana 12 Pesexcana voz ‘em sistema. Das sociedades anima e humanas 36 as segundas ou ‘vem, da multiplicade de ruidos,emergir sua propria voz como um tabjeto:B em toro dele que se fecha esolidifica o lao social enquant toma forma uma poesia. ‘A voz jaz no silencio do corpo como o corpo em sta matriz. Mas, 120 contario do corp, cla retomna a cada instante, aboindo-e como palavra e como som. Ao falar, ressna em sta concha @ eco deste eserto antes da ruptuca, onde, em suing, estso a vida a paz, 8 ‘morte e a loucura. O sopro da vor &eriador. Seu nome & esprit © bbraico rou o grego pmewma, mas tamben pit 0 ati animus, ‘mas também certo termos banias. Na Biblia, o sopro de Jaw cra © tstado eigenn ropiato iependents do estgi orl da Fa ‘Ghuse die donde 9 erseaento Widival epic, ere ‘qual se vem aria, num sound tempo,» ergo poten mos invocr aqui Fed, em diversas passagens dos Ci Psyhanales Ls Racine deacons de ung (p85 psn), ‘x otinlos mais ou menos rcentes de G. Rosoto, A. Tomas, D. Vase. Nio se duvide ques vor cnstita no inconscete human tims forma arqutpa imagem primordial ecradors, mo mesmo tempo energie cotiguracao de trage predtermiar, sar, cetrutaram em cada tm Ge nds as expertnlas piel os eh tients posamentos Nso conte ico, ma fale, post Uildade sinbiceaberta 8 repreentaro,contitundo, 20 longo ‘eséculs uma heranea curl tanamiia e aida com dente pala inguagem eo otros cigos que ogropo human elabora A Imagem da vor mergula suat mizes numa zona do vivido que escapes formulas concise que se pode aperss presenti tsticia secret, sexuads, com implicapdes de fl compleddade ue ultrapassa tls as sine manifestagoes particle, esa evo. Caco segundo a palava de ng “fz algo ibrar em ns, ans ze que realmente io estamce mae sori" Ete pano de fn, pleno de signi pote sucecvas sobrepestas tinge a wor do olay, uta emanasio corpora 9 Sesesociamy nso menos qued extra da performance to mio. Gualguer quesejo poder expresivoesimbllcedociha, regio do vinvel& sesprovido desta expessuraconceta da vor, da lat Presa on vor 13 lidade do sopro da urgnciadorespiro. Falta lhe esta capacidade da palavra de, sem cesar, rlangar o jogo do desejo por um objeto usente, presente no entanto no som das palaveas Por isso a linguagem é impensivel sem a vor: os sstomas de co- municagio nio-voais (ais como nos Piineus e no Céucaso © em ‘Sutras pares, assobie codificada) sie chamados as vezes de lings ‘gem, figurativamente Chamo aqui palore a inguagem voealizada, Fealizadafonicamente na emissso da voz. ‘Ora, a vor altrapassa a palava. Ela é segundo expresséo de D. ‘Vase, aqullo que designa o suit a partirda inguagem. “Ela lama ro distr. vor nfo tar #lnguagem: a linguagem nela transit, em deixar tag, Talvez, em ngssa mentalidade mais profunda, a voz fexerga uma fungio protetoa: a de preservar um sueito que amea- fa sua linguagem, de frear a perda de substinca que constituria {ma comunicagi pereta, A vozsedizenquantodizzemsielaépura cexigincia. Seu uso oferece um prazer,alegria de emanagio que, sem ‘cesar, a¥oraspra areatulizar no fisxo linguistic que ela manifes tee que, porsua vez, aparasita. ‘As emacGes mais intensas suscitam o som da vow, raramente a linguagem:além ou aquém desta, mano e grit, imediatamen- te implantados nos dinamuzmos elementares. Goo natal, grito de ‘Changas em seus Jogos ou aquele provocado por uma perda ireps- ‘vel uma felicidade indizvel, um gitode guerra que, em todaasua force, aspira a fazer se canto: Voz plena,negacao de toda redundan- ‘la explosto doserem dizeglo origem perdida — ao tempoda voz sem palav, femindsum tanto apagada comoa figura de uma promessa, Surgindo esta alka, “entre traneparéncia do aismo eo fsco das palavras, como escreve ainda D. Vass, a voz deixa ouvir uma “ressonsincia llimitada no curso de si mesma”. O que ela nos libera, anterior ou interiormente &palavra que eicula, éuma questi sobre os comegos; Sobre o instante sem dusagoem que o exo, as peracies, amor eo dio foram um s6- Cada slabs €sopro,rtmado pelo batimento do sangue;¢aener- ti deste sopro, como otimismo da matéria, converte a questio em Snncio, meméria em profeda, dssimula as marcas do que se per deat e que afetairremediavelmentealinguagem eo tempo. Por sso. 14 Prostxca oa vor voz € palava sem palavtas, depurada, fo vocal que fagilmente nos liga a6 Unico. E 0 que os primeirosteSloges da linguagern, no XVI, chamarain deverto..2 "vor Fenomenologia” de Husse aquém do “corpo da voz"; a vor que é conseiéncia; que ser habllada peas palavras, mas que verdadeiramente nfo fala nem penst; que sim plesmente trabatha "por nada dizer, petriicando fonemas, © para quem odiscurso pronunciado tem lugar quand Ihe torn a azo de E assim que o idioma puramente oral que foi o das sociedades arcacasedenossainfncia marcou definitivamente nosso comport mento lingistco, nao apenas mantendo, até em nosso unlverso tecnoldgico © entre os adultes, esta “glosclaia diseminada em fulguragies verbais" de que fala M, uma reminiseéncia corporal profunda, subjacent a qualquer inten ‘so delinguagem Produzindo dese, co mesmo tempo ge €prod- ido por ele, 0 som vocal sempre fabrica o dscurso, sem que ma intengao prévia ou um conte o tenham programado de modo seguro. O som vocal divaga..a menos que, flea oralidade, apenas ‘verbalize uma escrita ‘Um corpo que fala est af representadopela vor que dele emans, parte mais suave deste corpo ea menos limitada, pos ela oultrapas- ‘a, em sua dimensio acistica miuito vardvel, permitinda todos 0: jogos. A imagem arquetipal de um corpo vocal pertence is “fortes Antropolégicas do imaginério”loelizadas por G. Duran. Tamnbém 2s mitologas ocidentas atebuem, em sentido condo, um papel fascinador ou atemarizador a esta maravilha que € uma voz sem corpo. 0 Eco helénico, ou as vozes dos fantasmas, das fntes da ter +a, das ravens que Séillot mencionou dezenas de exemplos na sa {grande pesquisa sobre ofelelore francés. Vor da mendiga do filme Indian Song, de Marguerite Duras. Outras cultsrascodificam a igs ‘Ho da voz com o corpo, como para protege e dela se aproprin. las impdem a quem fla, em tal condigto tal postura, ou entio classifcam auditivamente pape socal do falante. Um dos meus estudantes da cegito do Vella me assegurav em 1980 que, em sua tia, a confidencia feta em posgio deitada, a palavra ra senta- da aquilo que dito de pé nao tem imporincla Paradoxo da vor. Ela constitu um acontecimento do mundo so- nor, do mesmo modo que todo movimento corporal oda mun- o visual ett. Entretanto, ela eseapa, de algum modo, da plena faptagio sensorial: no mundo da matérla, apresenta uma espéce Prsexanavor 15 dle miseries incongruénci For ies ela informa sobre a pessoa, mela do corp que a produit mais do que por su ltr, els Expose do euros sata pesson tad por sua vox" Mthor do Secor face avouse sexual, cont (ais do que tana: ‘8 uma mensagen exis Aenuncagto da paiva gaa em si mesma valor de ato sib lio: rags A vor ela €exibggoe dom, apresso, conga « ope tanga de consumagio do outro; ineriordade manta, Ure da ‘ected de invade fisteamente 0 objeto de seu dea 0 som ‘ocleao vide terior interior elga sem outs medio dh exit (0s valores igados assim 8 existénca biolgia da voo se realizam siultaneamente na consciéncalingbstica ena consciénca mica © feligiosaa ponto deer dif distinguir isso das ordens. Mas eles Permanecem al ndo apropriados, moventes, ros em conotacées Ambiguas, por vezes contraditérias, focalizados num bem pequeno rnimero de exquemas que fogem 8 interpretaio. Seria fal inven: tariar nas mitologss, bem como na conologia artista a longo dos século, os elementos recortentes que constituem tas esquemas ima ‘gens fragmentérias elativasaoimpulso de um poder primitivo e aos Sega que o produzemna vor-esune vias a ganganta mals profunda: aberta 20 ventreeao interior; boca emblemtca, passagem para além 40 compo: palavra que é, a0 mesmo tempo, expressto de idéia © descarga, em que e pa qual toda articulagao se faz metafrica Embora uma lingua como 0 latim ligue etimologicamente & boca (cs, os) aiden de “orger’, este “ori” significa tanto entrada ‘como sada: tudo provem da voz, sada da boca, sja ela concebida ‘como oopeso do exo ou como lugar de etoro. Port aboca no tconceme vomente & vocalidade, por ela penetra no corpo a nuliao. Imagem inicial dos labios mamando no ei, eroticamente relterada: boca gar de alimentacso e amor, 6g sexual na ambivaléncia da palavra Da, a amplitude do campo simblico em que se reflete 00 ‘de mandueagio, Campo duplo, por sua vez, valorzado para obem ou para omal-come-se, mas tambim vomila-se ou defecas;epela“boce {6 infemo” do teatro medieval, 6 mundo demoniaco se drramaria FL Ong, p11 Gap, p20 Has, pw; She, p20; Seund U6 pee 98.358 Randle, 852. 16 Prrsenca oa or sobre o nosso. A devoragio se opde uma gulodice trangiilizadora€ iglharda: do ogo & Gargantua; da goo tturadora do dragio, aber- {a sobre um estdmageabiame, até as bocas fliamenteabengoadas do pals de Cocanha: mulher de vagina dentada dos cntos amerndios ‘do Labrador, contradicdes que cuminam na figura esotérca do ouré- ‘ours, aserpante que, circulante,engoleas propria. Or, natradigso Diba, a vor da serpente foi a causa primeita do pecado “original”. {A polavra e apa no instinto de conserva, conservarse€ uti ‘sey uma palsto de linguagem repete na arculago da vor aquilo que Se confirma alhures, entre conservacio eeratismo. ‘A voz viva da comunicagio “eral” coloca assim em causa dois campos do corpo Diz-e "bebor as palavras” de alguem: um flante [pode “engoli sas palavras”: marcas lexieals niimas, porém inde- lives. Comer aquele a quem se fal, incorporél:rfeigio totémica, ‘eucaristacanibalisme. Olherdghto egipcio representando umaboca ‘signa 6 poder clador. A boca para os Upanishad remete a cons- ‘neia integral a Biblia a associa 20 fogo puriicador ou destrudor. (Os ibios se afstam para dar paseagem a palavra do mesmo modo {que se abriu o ove primitive, no comece da grande ruptura. A boca ‘monstruosa emblematiza, nos fantasmasteratldgicos da arte medie- val ebarrosa, 0 horror de um corpo mal-vivido. Entre o drgio que forma o som, este que dele emana e a palavra assim pronunciada se estabelece (no bojo destas configuragses mi ticas) ma cizculagio de sentides que faz, a todo instante de cada lum destes tes elementos o substtutivo possivel dos dois outros ‘A tradigio cristi, para quem o Cristo € Verbo,valoiza @ palavra ‘As tradigGes africana ou asticasconsideram mais forma da voz, ribuind 4 sou timbre, su altars, set Tha, Adin, mesma poder transformador ou curative. O rel ariano fla pouco e nunca leva otom da vor “griot” explicit, se preciso em Wor alta as par lnvrasquedirigea seu povero gritoéfémea. A mesma contengie da palavra de comando no Japso, anda hoje. O correr da voz se identifica, segundo um sibio bant, com o dt ‘gua, dosangue, doesperma; ox entsocle se associa a rtm do so, ‘um outro poder. A lenda de Merlin perpetuou até em pleno século Xill:ne Ocidente,omotivoarcaico do riso proftico-a vor reveladora ‘surge de uma gargalhada dele indiesocivel. Em Ultimo e450, 0 pe eh Che Gen p24 Prrsinca Da vo2 17 Importa mais a significacto das palavras; 56 a vo2, plo dominio de simesma que ela manifesta, basta para seduzir (como a de Circe de que Homero gaba o tom e calor, como adasseeias)cla asta para {calmar um animal inguieto, uma ctancinha ainda exclu da in ‘pungem. Indefinivel,sendo em termos de relacdo de afatamento,articu lagio entre suit e objeto, entre Um e'0 Outro, a voz permanece inebjetvavel, enigmatia, nao especular. Ea interpola 0 suit, © constitu eneleimprimea cif de uma alteridade, Para aquele que produzosomelarompe uma clausura,liberadeum limite que por ai revelainstauradora de uma ordem propria: desde que 6 vocalizado, todo objeto ganha para um sujeto, 20 menos parcialmente, estat to de simbolo. O owvinteescuta, no silencio de si mesmo, esta voz ‘que ver de outra parte, clea deixa ressoar em ondas,recolhe sss modificagies, toda “argumentacio” suspensa, Esta alengio se to ‘nano tempo de uma escuta, se lugar fora da lingua, fora do corpo. Togo, ritmo voedlic anterior a instauragzo de um espago ede un tempo mensurives, eque sé ¢ “sentido” na medida em que eta pa- Tara designa diregio e procesco: a voz se encontra simbolicamente “colacada” no individ desde o nascimento, signficando (por op sigho, segundo De Vasse a0 fchamentodoxumibigo) aberturse sada ‘Mais tarde, entrada em sua conjungiohisérica,aeranga assimilaraa percepgtoauditivaao calor ea liberdade anunciados pela voz mater- ‘ha — oud austeridade protetora dale significada pela vor do pal. [Experiéncia equivoca: imagem em que pesaa presenga do sgnli- ‘ado matero se opée o iconoclasma da ordem e da razio, mas © fequfencn vem de maislonge: no sero a crianga xe banhava na Pas lava via, preebia as vozese,como se diz, melhor os graves do que (0s agudos:vantagem aciticn a favor do pai, masa vow materna se ‘ouvia no intimo contato dos corpos, calor comum,sersacbes muscu lares spaziguadoras Assim se esbosavam os ritmos da palava futi- ‘numa comunicagiofeitade afetividade modulada, de uma miisica ‘ferina que, reproduzida arifciaimente aa lado de um recém-nas- ‘do, provoca mediatamenteosono., ao lado de wma crianga ait (a terapéutica de A. Tomatis),deflagra uma rogressio salvadora! ‘Kr 1974p. 234 owl 18,2948 € 178 Tomas 17, 3748 Dotty esp 18 Prrsenca oa vor A medida que seafaste o doce “no-ugar” pré-atale que tome consicténcia a sensagio de um corpo-instrumento,a Vez, porsua Vez, ‘se sujeitaralinguagem, em vista de uma outra liberdade, Osimbo- lico vat invadieoimaginério.Pelo menes,subsistea meméria de um cengodo fundamental a marca de um antes, puro efito de auséncia sensorial, que eada grit, cada palavra pronuncada parece iusoria- ‘mente poder preencher. Tocames aqui como penso,nasrascentes de toda poesia oral I A ORALIDADE POETICA 2 PRECISANDO As assent: de, psa puro premio ere — A wea cxrtre rotonlepracia Vales gastric Llewrnecotnbuis Ae ‘ee Aaa char Hum ssculo meio enteguesexpeilisas (tnlogossocié- logos, foleiorstas ou, em uma outra ica, lingtistas), estudo dos fatos de cultura oral permit acumular um muimero considerével de cbservasdes — em si proprias pouco contestéveis—, bem como interpetagdes muitas vezesincompatives, a mest, contradité- ras. Pesquisas e polémicas desenvolveranvse 8 margem do que € tranamitid pelo ensino geral, em que o grande pablicotvesseco- hecimento,c, slvo exceybes, com o desconhecimento ou o des ‘dém dos que praticam a iteratur, Este carder confidencial deve- Ss tanto a0 tcniciamo © & civersidade dae doutrinas quanto 8 ia precsio do vocabulrio empregado, que geo espesiracomn as ‘Straiicaciossobrepestae pelo Romantismo, Positvisma © 0 ue ‘elo depois. ‘Assim € que, até 0 momento, o estudo em questio ainda nfo se Ibertou dos pressuposos implies nos termos fldore ot alera popular: termosbastantevagos que 6 podem ser aplicds,parial- Inente, a0 meu abot de estudo se estiverem subordinadee 3 sma Darts p31 Preder WF, p15 14872eDonm p. 728 Bm ANE rap seo tye pL Prscsanvo 23 ‘no tempo, no espaco ou nas configuragdesculturas, to ber env 2ado em nossos julgamentas, que classificamos como “flcloriza- ‘o” o movimento historic através do qual uma estrutura social ‘ou uma forma de discurso perde progressivamente sua fungio! ‘A mesma ambiguidade esta presente no adjtivo popula, asso- lado a termes como cultra, Heatra ou, mais partcularmente, prcst ecm, Remetendo a um critério aproximativo de pertenca, fsa palavra ndo conceituaiza nada: mais que uma qualidade, ela indica um ponto de vista, particularmente confuse no mundo em aque vivemos, Quando eua emprego, estou aludindo a um modo de transissio do discursa cultural? a lguma permanéncia de tages arcaicos que, bem ou ml, refltriam uma personaidade étrica? 3 ‘lasse dos depositrios dessa traigbes? a formas supostamente es pectic de ralocinio, palavra ou conduta?™ "Nenhumo dessas interpretagdes stisfar plenamente. Entretanto, las remetem, junta, a uma realidade indubitavel, ainda que vaga Com efeito, na maioria das sociedades atingido o estdgio de evolu 80 em que se constitu um Estado), constata-se a exsténca de uma bhpolardade que engendra tensdes entre cultura hegemenicaecults ras subsltemas. Esta iltimas exercem uma forte fungio histria 8 de um sonho de desalienasio, de reconcliagzo do hamem com © ‘hamem e com o mundo; elas dio sentido e valor vida cotdiana, 0 {que.nzo implica em sua identificardo com a5 “tadigtes populares”, transformadas, atualmente, em objeto museolégico.Fssas tensbes, cujas mareas ee encontram na histriaocidental desde a Antiguidede, [ganharam tanta acuidade partirdo sé, XVIII que ocoreu, no plano sles conhecimentos, das mentaidades, do gosto, da arte de viver fas retéricas tm totlcivrcio entre a classe dirgentee as demais. [Recentemente, . Burke dedicoua tas questoes im belo ivzo deste vvendo a perda de rumo eo lento nattrégio des culturas europeins entre oF ses. XV Le XIX: a ade do Livro" Astra da poesia orl no poderiaignorar esse aspect do real Nada, porém, autoriza a etabelecer-se uma identificasaoentre pp lar eorl Quaido Montaigne falava de “poesia popular, contentava seem glosar“puramentenatural” em oposicioaguela qué "pertita segundo aarte"jem 1854, 0 Boletim do "Comité da lingua, da istéria + Mite nr tone 24 Prrceanvo ce das artes da Franga” evocava uma poesia anima e nascida es ponfaneamente no seo das massas, "a excecao das obras de autor Eonhecido adotadas pelo povo que delas se apropriou. Debeemos ‘de lado a conotagio mareadamente social: ela nos reporta go pre ‘conceitofoelorzante, Para tornar clara a terminologa, R. Menen- dz Pidal propunha ua distingio baseada no modo de dfuso:de- finia come "poesia popular’, composiges recentes difundidas en- tre um pablico bastante amp, durante um periodo mais ou menos breve, to qual sua forma permancce quase imutavel, em oposigso a “poesia tradicional”, por ele considerada como peyas nfo apenas roebidas, mas coletivamenteassimiladas por um vasto pablico, em lima agdo de recriagfo de variagio continua e prolongada "Ainda assim, o estudioso espanhol considerava apenss uma poesia cantada, attibuinde-the implicitamente uma classe & parte fue desde o se. XV, as Ares de segunda rotriafrancesas haviam ‘Hentficado com o nome de “rima rural” Bfetivamente, a cancio Consttuiosubgrup da "poesia popular” mais facil de er reconhe- ido. Basta, porém, querer dlimitilo, para que seus critérios se ‘equivem. O mas frequentemente invocado € o ancnimato; a- {guns o-consideram de modo dinkmico: uma canclo toma'se “po- pPular” quando se perde a lembranga de sua origem, Desse modo, eta convenient dstingulrvislos graus de “popularidade”. Com felagio aos festivais modernos, concluiurse que uma cangio & popular” quando o piblicoarepete em coro; ou, no caso dos can- tos de contestacio, quando a intensidade da paticipacio demons- fra uma adesio profunda 3 mensagem comunicada, Davenson, fem seu belo livro sobre a cangio francesa tradicional, adota a pos- {ure do obscrvador 09 ha cangso “popula” porque exstom lees ‘doe que, a0 tempo em que a sentem como alheia, com ela se preo ‘cupam ou por elas interessam. Eis por que sua nogio nao remete ‘2 nena realidade delimitavel, nem sua extensdo cessa de se rmadificar no decoreer do tempo’ Hoje, muitos pesquisadores mostram-se insatisfitos com essas distingdes. No continente americano, o mal-star se manifesta na ‘wisp She A Tbe Pd, 5 Lalote9% p. 2 Roy 18, 72867 *Nevends i hp neg 7p. “Wurm, p. Chu 19 p. 2 Daven, 9. 27, Pricsavoo 25 opinio que parece prevalecer hé alguns anos: no interior de uma ‘mesma classe de texto apesar de nao definida como a), sera "flclo> Fico” o que for objeto de tadigio oral; “popular” de difusto mec rica, Er outros lugares, a “iteratura ora” sera fomada como uma ‘subclasse da “populag”,enquanto que alguns se negaro a liga e=- Sas eategorias ou atribuirdo (despreacupados com essa peticlo de principio) titulo de “primitivo” a toda poesia “puramente” orl! ‘0 elemento pertutbador em tais discusses decor do recurs, {mplcito ou deelarado, que nelas se faza uma oposigsondo pertinen- te neste caso: aque separa o“literério" do nio-literiro ou © que é designada com algum outro termo, ej cle socioldgco ou estétice;e, ‘este caso, eu percebo oliteririovibrante das conotagdesacumuladas nd dois culos referencia uma InstituigSo, aum sistema de valores, expecializados, ctnocéntricoseculturalmente imperialists. Atécerea ‘de 1500 na linguager dos eruditos, toda literatura no europein era ‘elegada ao folelore.Inversamente, a descoberta, no decorre dos: bX do folelore« do que se denominou, com um termo revelador, de “teraturasoras” fl feta mais ou menos contra Instituiio, ext mente quando a Literatura se empenhava em investigar sua propria ‘Mdentidade, buscando aux na flosofia, na histoeia ena linguist ‘ote assentava irecusavelmente um “absoluto terério” Bimpossivel ndo se levar em consideraio tais antecedents, em ‘bora nada, nas maltiplas formas de poesia oral que podem ser obser- vadas atualmente no mundo, permita fazerhe 0 esbogo de uma ‘efinigho,a partir da nogso de literatura. Na Europaens América do Norte, sf0 muitos os textos hoje folelricos, de origem litera com provaca ecu transmlssio se opera, tanto pela escita, quanto pela ‘vor, Em 190, Hoffmann de Fallersleben avaliou dez mil cangbes Populares lems, dentre a5 quats sete mule setecntos tha Tierdra comprovada. Situagdo comparivel na Rissa e na ranga®. “Literatura” ou nto? "Mais préximos dens, quantos poemas na Paris dos anoscinglien- ta, excites ¢editades “lteariamente”, musicados posteriormente, temaram-se cangbes na consciénca eno uso coletves? Por sua vez, ensino primirio nfo transformou, para as crianga fancesas de mi- © Dean p25 Donde p18 Moura. 37.5; Fanan 97, p 2961976 pa eatin, 9. XIEAN. toe re pe 1574 Ware, 10: Denon, p86, 2684 26 Prscaanvo sha gerasio,algumas fébulas de La Fontaine em poesia eral por ‘exceléncia? Le Views Chalet, ipo daladainha popular bem viva, fot fescrita os anos trinta por Joseph Bovet, © que no impedta um Jomnalista de ela a H: Davenson como sendo uma “velha cangio do sé. XV". Iso nfo énovidade: desde os. XIV, a clase popular Moreira cantava versos da Divina Comédi e, ainda no see XVI, 108 gondoleros venezianes cantavam oitavas de Tasso. ‘Be modo inverso, quantos poemas econtosItedris srvira-se de uma tadigto popular? Davenson estudou 0 percurso de varias angJes francesas, que lado Iiteréio ao popular depois, mais uma ‘vez a0 litrrio. A tradicto dos Nala, t20 rica em toda a Europa do sée: XV a0 XIX, comprova a imbricagio indestingivel do “ite rio” e do “niolitersrio”, misturada com o oral eo estilo". As primeiras colegdes de cancies “populares” foram, nos séc. XV @ XVI, constitidas por amadores letrados, sendo lito supor que les impuseram a esse material alguma marca ltria ecuperada ‘mais tarde pela tradigio provinciana, Dai a teoras extremistas ‘que, apés 0 alemao J. Meier, reinaram no ensino universitnio die Fante 0s primeitostrnta anos do nosso sé: eda a arte pope info passa de “cultura naulragada’ sas caractrizagdes sumarias,tntativas de classificasdo des- providas de valor interpretative, pressupdem haver no einéloge, ro folelorsta ou no historiador da literatura, a conviegao de que a poesia oral, para ees, é uma outa ca, enquanto que a excita Tes £ pripri:outra no tempo ou espago, pars oetndlogo; out, qual- tativamente, para 0 socidlogo do falclore wroano. O taco coma ‘que, em uma certa medida e em certos cass, justia que se juntem ‘5 qualificativos de oral e popular, permancce, em contraparida, ‘uriosamente oculto, De fata, 0 canjanta de discursos mais ot me~ ‘os fieionaisdestinados ao consumno pablica (sto 6, "terse" no sentido amplo socologica) pode se caractrizar de acordo com & dlstincia que separa produtor de texto do seu consumidor. Esta dlistincia (cua importincia¢assinalada por Zalkiewsky, na polo ‘ia das culturas®) varia em fungsa de vatios pardmeteox dimensso dda distncia espacial e emporal entre os interessades; compen o™ Danesan p25: ough 20852 © Zalway pi Precast 27 de das meios de transmisio; investimento econdmico exigido. & fevidente que as baladas tranemitidas ainda hoje nos Bales pelos ‘antores camponeses se situam, nessa esala, mito mais pero do folhetim do que este titimo em relacio & literatura eltzante de vanguarda, ‘Mas nio se poderiafundar uma podtica apenas em considera- Bes desse género. Ao invés de partir da premissa de que é dilfeil para o estdiona rio centila efetivamente como ata, Vamos par Fir de formas de orlidade que sejam incortestavelmente nossas — ‘a que o disco ou ridio veiulam, por exemplo —a fim de induai Alguns principios de andlise ullzavels (por meio de varias trae formagdes) no estudo de todos os fatos de poesia al até os menos indtil jugar a oralidade de modo negativo, ealgando-the os teagos que contrastam com aescitura, Oalidade mia significa anal- fabetismo, qual, despojado dos valores praprios da vor ede qusl- {quer fungao socal positiva,& pereebido como uma lacuna. Como & Impossivel conceber realmente, intimamente, 0 que pode ser uma sociedade de pura oralidade (supondo-se que tena existdo algun ‘ia, toda oralidade nos aparece mals ou taenos como scbreviven- a, reemergncia de um antes, de um inicio, de uma orgem. Dat ser freqiente nos autores que estidam as formas orais da poesia, aidéia subjacente — mas gratuita — de que elas veiculam esterestipes “primitivos”™ 'No limiar de ta estado, nose pode ser parcimonioso mum ques tlonamento de ordem epistemologica. Desde agora existem, di persos, os fundamentos de uma motodologia adaplada a0 que & lransmissdo orl da poesia tom de incomparivel. Somente a inte ‘a0 explicit, inraneigent ecalorosa os Consoldatia, 30 Teun, ecusando a rieza universiira, feito da esrita, e que por sua Ver a engendra, O termo ezia, por certo, no use que, ha um quarto de Século, dele fez certa fenomenologia, é equivece. A escita nao & va. Mas e quanto i voz, é ela um dom? Nao seria 0 caso de re- tomar o debate inciado, faz quinze anos, por J. Derrida, ¢ mudar seus termos em beneficio de uma Voz origina? Ninguém duvida (que nossas vozescarroguem a marca de alguma “arquescrtura’ 5 Og 971928 nega 7p. 234, Dera ib p08 ea 4-p 3967 SD 28 Prrceawoo ras podemes supor que a marca “se inscreve” de outro modo nes- fe discus, tanto menos temporal porque ele esté melhor ena ado no corpo se oferece mais meméria, 6 els. Como lugar & meio de artculag dos fonemas, a vex portadora de linguage — fem ma tradiio de pensamento que a considera e a vaoriza por tessa nica Fangio — nada mais € que “disfarce de uma eseitura primeira”: assim, durante tés milénis, © Ocidente “ouviu falar” ‘a substincia nica. Entretanto,o que me faz insstr neste assunto sobretudo, «fungi extensa da vocalidade humana, de quem 2 ppalavra constitui certamente a manifstagao principal, mas néo a fiica, nem fave a mais vita eu reconhego o exercci de sua fora fsiolgea, sua laculdade de producie a foni, a ago de organizar fsa substincla.O phn ndo se une imediatamente ao sentido, mas ihe prepara o mei em que ele se afirmars; como ta contraiamen- te opinito de Aristteles no De inferpretation, le nao produz simbolos, Nesta pespectva, em que oralidade significa veclida- Se, todo logocentismo se desta ‘Results que, neste final do sé. XX, nossa oralidade nfo possui mais 0 mesmo regime dos nossos antepacsados. Viviam eles no {grande silénco milena, em que a vow resoava como sobre uma ‘materia, o mundo visivel em sua volta epetia Tes 0 eco. Estamos ‘submersos em fuides que nio pedemos colher, © a nossa voz tem ‘iGculdades em conquistar seu espago acstico; mas bastanos um ‘squipamento ao aleance de todos os bolsos, para rocuperél trans- porticla em uma vase la ndo deixa de ser por isso uma vox Mas em que, € até onde, ‘medifeada pela mia? (estou alrancesando o termo Mass med, fim de limitslo & designaio daqucles que recorem a0 audiovi- sal com excegio de qualquer melo de imprensa). A nova ora de, mediatznda, no fee da antiga, ano ser por algumas de suas ‘modaldadles. Para além dos séculas do livo, a invengéo (com que fo homem sonhou durante séculos e que realizou por volta de 1850) fas maquinas de gravar ereproduir a voz he restitul uma autor- ddade que ela tinha perdido quaseinteiramente, assim como direitos ‘que aviam caido em desuso™ E evidente que ofato de tert seu ‘aminho desviado pela quinguilharia industrial modificou suas ‘ondicies de agio ea esfera de aplicagio de seus direitos, Sua auto- hopin p19; Og 67 87210 Drip 265-7; Cars, 6378 Pricisanco 29 ridade se afirma, também, na mesma proporeio. Comprometida Com o aparato tecnico, ela se benefica de seu status de poder. [Nada ainda, em quinze anos, feriu, nese pont, ateseotimista de W. ‘Ong. As midis restituiam,& lingua das mensagens que transi tem, sua plena fungi impressiva através da qual odiscuso cites, frdena ou profbe, oprime com todo seu peso a intencao do eutr, 8 Sha propria stuasdo, para aivarnele as molas de uma ago. ‘0 term midis designa virias maquinarias de efeitos dstntos, conforme elas operem, por um lado, apenas ne espago da voz ouem Su dupla dimensio espacial e temporal 0, por out, se dirjam fpenas taudigio ou A sencoriaidade audiovisual. Nao vou consi ‘ear as primeira (como @ microfone), pols estudare os efeitos o- ‘noros no cap. Xl. Quanto aquelas que permitem a manipulacio do fempo, nto assemelham se a0 livro, embora a gravagio do dis- ‘co OU A impressio da fit magnetica nao tena nada do que define, perceptvel e semioticamente, uma escritua. Fano 0 som vocal, fas permitem sa repetigao indefinida, excetuando-e qualquer variagio, Decor dai um considerivel efcito secunditio: a vor se Iiberta dos lmitacbes espaciais. As candigées naturals do seu exer- ici se acham assim alteradas. A situagSo de comunicac20, por su ‘Ver, sofre mudangas de forma desigual em sua performance (© trago comum dessas vores mediatizadas € que no podemos responderhes, Elas si0 despersonaizadas pela sua reitrabilid ‘de que hes confere, a0 mesmo tempo, uma vocaga comumnitria. A. toralidade mediatizada pertence assim, dedieito,acultura de massa, Enietant, somente uma tadiqlo eruditaescria elitista tomou lentficamente possvel sua concepsio; somente a indstria assegu- {a sua realizagio material comércio, sun dfusso. Tanto servis the liu (quando nto sinina)o espontancidade da vos: coca dade que, no cotidiano da existéncia, alimenta aor viva, transmi- tase em hipersocialdade cisculando nas redes de tlecomunicac, Constitutvas de um novo vinculo coletive:socaldade de sintese, tgindo sobre elementos separadas e fragmentados dos grupos e=- truturadestradicionais ‘Amobilidade espacial e temporal da mensagem aumenta adistan- ‘entre sua produgio eseu consumo. A preseneafisca do oeutorse ‘pags, permanece 0 co fixo da sua vere, na tlevisio eno cinema, {uma flografia, © ouvinte, ao escutar a emiss20, est inteiramente presente, mas, no momento da gravagio, ele era apenas uma figura bstrata estatstien, A sofisticagio dos instrumentos e 0 peso do 30° Pracisaso investimento financeiro que eles exigem sto determinants nesse dlistanciamento”. Quanto a mensagem, na condigao deabjto clase Fabrica se expede, se vende, se compra, idéntica em toda pate. Entre tanto, rao # um objeto 0 que toca, pois os dedos do comprador sb seguram o instrumento transmissor disco, ft, Restam apenas £05 sentidos eavolvidas na percepsia A distancia —-a audio —e, {quanto 20 cinema e elevisio, a visto, Produz-se, assim, uma de fasagem, um desiocamento do ato comunicativo otal Em um mundo de oralidade primaria,o poder da palavra stem como limite sua impermanéncia ¢ sua imprecisio, Em regime de ‘ralidade secundaria, aesrituradissimul, Sem muito sucesso, essas fraquezas. A oralidade mediatizada assegura a exaticdo a perma- ‘nécia, as custas de uma submissso a quantidade e aos clculos dos fengenheiros.Provisociamente a situagio¢ eta 8.0 surgimento de aparelhagens telemtias, desteuindo as distincis, brincando com © expago sem aplani-o e concretizando 0 objeto — videocassete fu sistemas de video —,fornece a0 otimista razdes para que ee en ‘revejt, no sew horizonte presente, noves processos de percepeso, de sles, ce insergoe de integracio, 20 fim dos quas se oencon- lrariam, ao mesmo tempo, 0 peso de uma presenca mio "dferida” © 4 plenitude imediata de uma vor E nao ¢ justamente essa esperanga — por mais confisa enga- nadora que seja — que, em nossos dias e em toa parte, leva os Se ‘mianalfabetes, expusos da aralidade primatia vania de conteido, maltraados peas forgas escitas, a comprar um transistor a0 inves de fazer uma assinatura de joral? Que leva, em nossas cidades ensurdecedoras, alguns inadaptados munidos de fones de owvide a ‘aminhar salitros entre suas vores? Que leva os Inuit do extrema forte canadense a se intonicrem com aurdigeesradiot@nicas que desde j6;na comunidade, assumem o papel tadicionalmente atr- Dulco is naratvas mies?” Emuma grande parte dotercero mundo,araidade dos aparelhos de ridio ¢televisio bes confere uma aparente verdicidade para ‘és inexistente. Ela coloca o ouvinte-cspectador num estado de re- cexplividade mais ava, solicit mais a sua imaginagio ea forga de seu desjofascina ou perturba. No vilareo, no altro, as pessoas © Gammae p25 este ¥Charon oven 19% Purcsatoo 3t revinem em grupos, em volta do televisor — propredade de gum privilegiado —, como se faziaantigamente na cast de um letrado focal para ouvilo ler um Livro. esta manera, em vez de dispersar a coletividade (acusacio de {que € a8 vevesvitima) a midia, pelo menos num primeiro tempo, {green Nio faz muito tempo, em nossos campos, nos subebies de ‘nossa cdades,asistiamos juntos, ritualmente,& televisio do bo- tesco: hojecm di todo 0 mundo a tem em casa, perdeu-se tal comu nidade. TEnietanto, contatiamente a uma opinito difundide, 0 publico das midiss nto conslitui uma masea indiferenciada, pols exerce, mais do que em geral se admite,a sua liberdade de escotha. Ele celta facimente 0 que the € oferecido e, sem maior resistencia, forma seus habites. Mas, repentnament, tudo pode desabar, Glo- balmente, a midias impulsionam para a convencional,regeneran- do assim, paradovalmente im tradicionalismo que era atribuco is sociedadesarcains. © homer a0 qual elas se diiger nao 6, funda- ‘mentalmente, diferente de seus longinquos antepassados, mesmo seele esti expecficado por tude que canstituia merotonia, amedio~ Cidade estreiteza de esprit das sociedades contemporineas, 20 fempo em que elas langam a si propras o gigantesco desafio. TEs por que pocemios pensar que uma verdadeiraintgracio das mies sd se produits 30 cabo de um esforgo criico amplamente fundado na cultura tradicional, tansmitida pea escriturae mantic ‘demodo privilegindo no meio urbano. Se existe crise ou mal-estt Solugio para ambos no se encontra na volta a renum estado a terior e po, mas no reconbecimento ena superacio de tuo 0 que [até enfao nos atinglu. As vozes que estio mate presents e que Fs foorko amanha eto a que trdo permend tons specu dao critura ‘Concretamente no hi orlidade em si mesma, mas mltiplas estruturas de manifestages simultineas, que, cada uma na ondem ‘que lhe € propria, chegaram a graus mito desiguais de desenvalvi- ‘mento. Entetanto o sew substrato comum permanece (Vico foi 0 primero a ter essa intuigi) sempre perceptivel. Ele se deve a espe Sfeidade lingsticn de toda comumnicagio vocal Fsta comporta, ‘com efit, na sua propria condigio vocal, pelo menos por parte de dos sujetos — locator e ouvinte —, © mesmo, mas nao idéntico, investimento de energia psiquica, de valores mics, de "sociabi= 32 Pricsano lidade” ede linguagem. T30 fortemente social quanto individual, a ‘Yor mostra de que modo o homem se situa no mundo e em relagio to outro. Efetivamente falar implica numa audigio (mesmo se figuma cirunstincia a impede), atuacio dupla em que interlo- futores ratficam, em comum, pressupests fundamentados em um nlendizento,em geal tito, mas sempre (no centro de wm mes ‘mio meio cultural) ativo”. “Aguilo que dé margem a falar, aquilo no que a palavea se articur la, €um duplo deseo ode dizer, eo que develveo teor das plavras clita, Com efit, a intengio do locator que se dirige a mim nao & apenas a de me comunica® uma informagao, mas de cansegu-i, a0 provocar em mim 0 reconhecimento dessa intengio, a0 submeter- fre forga locutdvia de sua vor. Minka presenga east no mesino ‘spago nos colocam em posigdo de dalogo ral ou virtual de troca ‘verbal em que os jogos de linguagem se ibetam faciimente dos e- tos inctitucionais, posigao em que os deslzes de registro, {s mudangas de discurso (da afirmagio a0 rogo, da nareacdo A in- {errogagio) sseguram ao entinciado uma flevbilidade particular. (Uma ruptura se produs na argomentaglo, uma lacuna, na sétie de fotos cepresentados, uma desconendo, nas relagées entre a sa fala ea situa ambiente? Surge uma questao que proveca, desvia {aeamo por ionia) 0 flo desta palavra®. Movimentos lterais da linguagem, ambiglidades partiipantes da construgio propresiva do discurso, impossibiidade de manter-se no nivel do literal, aber- tra constante para as ressonncias analgcas. Somente a lingua- {gem oral menos influenciada pela escitura engendra os maravi- Thocos monstros absurdos, esa poesia elvagem que sto os tocadi- {ce e a8 "etimologias populares": a herbe sain por absinthe a epee por Fampe ‘Dat decor um efito moral: impresséo, no ouvinte, de uma fideidade menos contestavel do que na comunicaga6escrita ou dife- renciada de uma veracidade mais provévele mais persuasiva.Estaé 2 ra730 pela qual, sem dividao testemunho judicial a absolvigdo, a ‘condenagto, sto pronunciados de viva voz. Mais do que qualquer ‘utza forma de contato, a palavra toma clara, nos individuos que 1 Heeger 3626 Lyotard pt Gp 86,712 Beant 9H. 2s pa aout 19% Recast 1998 886; eter, p18 Pasesanoo 33 fla confronta, asus condigso de sueitos: seu “lugar”, no sentido ‘em que F.Fahault a entende, resultante ao mesmo tempo das de- ferminset do sistema de que dependee de um engyament des erative" Toda comunicaczo oral, como obra da vor palavra assim profe- ‘ida por quem detém odireito ou se lhe atribul estabelece um ato de autoridade atotinio, nunca reiteravelidenticamente, Elaconfere um Nome na medida em que o que € dito nomela o ao fet, dizendo-a, ‘Acemergéncia de um sentido é acompashada por um jogo de forgas ‘que age sobre as dloposigbes do interlocutor". Nestes pontos con ‘entrouse uma longa série de pesquisas desde 1945, na América, © 20 anos mais tarde, na Europe: anlise dos “alos de fala, ou dos elementos ndo-linghistices da expresso, “quinésca”, “‘proxénica; 4 “Tingtistia do discurso” francesa ou, em rlagio 208 textos ie "ios, a “etttca da recep¢lo”alem Esta € razio pela qual, no decoreer deste livro,aticulare a mi-" sha rellexso sobre a idéin de performace, tomando este temo na sua acepeio anglosaxénica,termo chave ao qual voltarel sempre ‘como pedta de toque. A performance &aasio complexa pela qual uma mensagem postica ¢simultaneamente, aque agora, transmi- tida e perebida.Locutor,destinairio,e rcunstincias (quero tox to, por outra via, com a ajuda de meio linguistics, as reprevente ‘04 ho) se encontram concrelamenteconfrontados,indiscuivels™ [Na performance se redefinem os dois eixos da comunicagio social ‘© que junta locator ao autor; e aquele em que se unem a stuagto a tradigio. Neste nivel, a fungao da linguagem que Malinovsk. ‘hamou "ttica”realiza plenamente 0 seu jogo: jogo de aproxima- so, de abordagem e apo, de provocagi da Outro de pedido, em Hl macmo indilorente & produsso de umn sentido. A performance consttui © momento erucial em uma série de ‘operagoes logicamente (mas nem sempre de fto) dstintas. Enu ‘mero cinco dela, que sio as fases, por assim dizer, da existncia do oema: 1. produ, ‘Ong 6p 217% Fano p18 HURSea stn 9.9 1: Cara p66 Lindel Waring 7S, B.1G6 Cait 9 92 10 karen p18 meer pea Setanta 039 Pua 7) ‘Siva pt Fly PP pO 34 Prscsanco 2. transis, 3 eepeio, SL. conerasto, Semel repetito. : 1 ference dang as fase 3; em cao de improviaso, Lae En ce pola cit a ua dss i coopers se relia pela vi senor om au (gun Soa cxprestode W.Ong rometndo gales ore audi) Sn pr inter de a incr, expos a peeps isa. A ‘Snbinacio deste fate ome teorcamente dee posbiidades ‘Rsopernies 23 Seo ort ada eportnt 4 pramente tremor? Flas de orskade perf 5 se staré prov {eimente mama tradi bstnte etl As mesmas operas Smportn insert fe potato 4, hibiotch ou arquivo)? Tere thera proceso pret de extra. Tina posta dacratdade neva em conser xe process. Ficam a aus nove posed! No decrees ro, ons flare como ont ada comanieagio postin em gue elo eos, tranamssio cecpeto pase pls vor pel vide As verges {Tvoutasopeagdes mela xt oad fondamenta stn wate simpienio dos dadosdo problema tem como jutifetiva metdologa ma de sons coneyncs: ela permite Ufetvamente esabeleer uma diferencia, como a histrin doe {ston int «face, ete tremors oral da poesia (00 que diz ropeito is opergtes 203). hai oa (ferente a1 465) ‘A comunicagio vocal desempen, no grup sca uma unto cecenonzndoe clamor epee gurseencte dae a Save ou qu un ssn prominin mesma in {de cegurr sn urpetugi,dogu poesia orl apenas um dos thoes Oraldadedfusae cnc, tora cvidertoqueP. Marar- {da denomina um “infr-discurs populy”™. Agu das alividades, Cojo desdobraento os consti como corpo socal oss weaes ‘sou, em cre proxma longnsy como um uid de nd, “imperpét simul sonore sem quo med os paisa Dat © desdobramento sue Mousse ssinalava, ates de DDoures,qeando distingua, na pritic vorl flado — todo ot ip 34 Precisaxoo 35 enunciado profeido pela boca —, eo oat — enunciado forma Zado de modo espectico® Socalmente vor faliza, com elt, das orldade: ima, fondadn ma experiencia meats Ge tu; a our, sobre um conhecimentomediaizado, pelo menos em ore, po na tad dpl polo. que pee nde 2 peda oa Paree que uma iia de eterno retoro se atm soclalmente & palivra:é0 que ome aprazchamar deafimarioeuniloe e deseo {uc este pase —terdéncn repminiiaem yo em noses sci des retome. © conhecmento ao qua eu dou forma a falar ede ‘ue pela vie do ouvido, vot se ape ce insereve um modelo 20 qual le fr tefertnei:ele retecinento le se prediope + darfstncatvas fbi ese desenvolve em una tama de ene $3, de abies ments interorzadon, conttunde a mtologa do rip, qualzuer que sul ‘Odruro de comuncago representa, asim, o contro do di urs cnc deta pr | Ltn Madan oot tivo liged a todos os jogos de inguager cj combina forma © cecal le deve gilda fr pera Inasaotestemunhogue consi, doque so que expe de modo que © cro de verade denparct em bene de um outro mio tras Hui’ eomanicagio€ menial flexed maledvel no- Inade (rags &presenge dos corpo) gobalizadors ‘Nes anos 20 de nosso seelo, uma primeira perepsio dstes ‘alors permitu&etolingsti,entao uma displina nova et ‘ooginspropria exdgeseintigadacom o texto dos sles ou com {contig do evangelo) defini sb impulse de Maree Jou Se. vans prticladadesantropogias deo "ginero itecras ‘ai priarn dn ty anes mapi. fi, da fepresertgSo& aio, do conctito 4 attade, do movinento sia a do corpo.» Os tabaoe dos lens ae Havelock ¢ ‘eran, eniguscendo estas observages,estimulaam sua toe zaglo. 5uaspesquiss, bem como as de Parry ede Lad, tveram 0 atande mesto de atbuir um sentido 4 expresso at entto vain Hirata elas demonstavam que cs terms "Vor" ¢ “eer tara” ndo so homlogse qu as difetencas ene eles enumeradas so ireglarment pertinent A orale no se define por su rump 1780 > Lyon p 8 orl 1, 289, 36 Precswnco ‘cme ervelverel fs antes" numa dscusso sobre se Sie ceca Seance eater means mua soiedne oreapondesura mats pond de oder mrieacitnattemnporee ae eds iis Ain peop ahaa, Se Sener eae inthis natgaerae Seceragiantoeonametecme feito do seu enzmeto, como dimers de um nomad: Sea ee eee miter innings fo nnanatantspaimatarnc es oy Tasca en ry tt Zane oan Uni fouasatner Cee qraeern tas Sioa ae eee Dena dita! eens 5 Damier sch 3 Gilnee p85, 9,18; nga 197, p28, 272 Laine p25, Gos p 858 Pucsanoo 37 recurso visio em um caso, € 20 ouvido, em outro}; mas a maloria io somentetragos de grau a diferencaconsistindo, de modo muito varivel, em uma variagio de mais ou de menos (assim, no que ‘onceme aos limites expago‘temporsis da mensagem) Por mais atenuadas que estejam na pratica estas opesgbes per- rmanecem ainda asim com carster mais categorizante do que histé- rico: em cada epoca, coexistom ¢colaboram homens da oralidade « ‘homens da escrta. Dizem que certas sociedades ignoram qualquer forma de esrta. Maso que 6a "escrta”? Megalits, marcas de pro- priedade, misearas afreanas,tatuagens e tudo © que amealharia lim iaventilo de simbolos« de emblemas soci ito se encaina nesta definigso? PPorlanto, apenas no plano de wma tipologa abstrata — prop ppareceme, para esclarecer cetosfatos medianos © equivacos — & {que proponho reduzir a extrema diversdade das situagoes post ‘eis 8 quatro expécies ideals ‘— uma orale primério © imediata, ou pur, sem contacto ‘com a “eserita”: esta lima palavra, eu a entendo como todo sis- tema visual de simbolizagie exatamente codificada e traduzivel em lingua, — uma orlidade coexistente com a eserita e que, segundo esta coaxisténcia, pode funcionar de dois modos:sja como oralidade ‘mista, quando a infncia da eserit al con¥inwa externa, pail ou retardada (como atualmente nas massas analfabetas do terceio mundo) sea como oralidade segue, que se (recompoe a partir da ‘écrit e no interior de tm meio em que esta predomina sobre os valores da vor na priica e no imaginéro; invertendo © ponto de ‘sta diriamos que a oraldade mista procede da exsténcia de uma ‘cultura esr (no sentido de possuindo uma escnta") a oalidade Segunda, de uma cultura lade (na qual toda expresso € marcada pela presenga da escrita); — Finalmente uma orlidate mecanicamentemediatiznda, logo di- ferenciada no tempo e/ 04 10 expago [Na continuagio deste livro ¢ a cada capitulo, considerarei ftos tirados de diversos contextos: poesia funcionando em oralidade pri ‘maria, em oralidade mista ou Segunda e em oralidade mediatizada. ‘As paticulardades desta iltima apresentam, em relag as otras, ‘uma evidéncia is vezes enganadora, mas sta definigio nfo causa problema. Em contapartda, as ts primeira tém tendéncia a se ‘onfundir aos olhos do observader, no em teora, é certo, mas his 38 Prceanno ee tem ince Sen ih eels i Ae Soy oee en ree Seton Sec gens aes oa spice Se ph ee casera ce oe ee Se Sac ts Speen ‘Stee noe pe aes nena ot eee nde ge cor agence eens pce se PS pa ese Borne canine eee antes sete mn te ace pce are ay te hartente ern cee Er ata ites sp i hone Senna cape ee Sohne gan wemennen gee een see cn atin cpa = Tp mmm gma ote cap ae ths Ties ir oneness “ep a eh Se ca eas ‘Sonam ttn ign eineEpes Douro en one rc So ee er mel eee Shi legal cose Frtnlipe pentane ae Sra Gees caer tas ink ie pone ottsewineata Sloat Prvcsanoo 39 dramatic, em vast egies do terctiro mundo, esta stusSo 6 ‘hoje geral*. ic - (eisto escto de nareatvas ou poems até entio de pun tradigi oral no acaba, necesarament, com oh. Un dander tment core dravansten-aeun text de refer, ation gat tia eratrae ts vezes am contato com ee serie continua das ‘erndes ors que te sucedem na tempo, Em 1885, quando El Linnea public, so forma cto do Kaa, un conjunto de canto pcos nandesesa tag oral continu ha Penamen- fe que qulnze ans depos, um nove Kaew" dupliavao volume do primeio Pderiamts ainda cara ys russ ax aladas Jo norte da Ingles dos IX,o Romance espanol pari sexu "A Alia contemportne aferece o exemplo naive do cco de Shaka. ne guerre do inicio do ake XIX, fundadr do impesio uly, tomows, anda vivo, o herd de cng lira ou épca x tracigio oral continua até nosso das rn 1925, Thomas Mofo um Bast lfabetrado, extrude alguns destecnlos mati dum romance primeiro ts erto ero em sa linge, Dai prover {ima tro em soto, em mul, eo ings, icestaiemente ree ‘mada pelo contacto com a posi ara, enquanto gu, ap a dependencies a figura de Shaka ganhava, como mito iro que catrega todo © patio do destino afsicano eras longinquas: da Zambia 30 Congo, Gung 0 Soya ao Mar E's ‘lrg em igs ou rants Te fran conegradne desde 1956 ‘evestem a forma dramatic sj, ma oie da pura or Iidade™ (Os poeta ors poem softer, ao longo do tempo, ainfancia de ‘ers pruceienfos Ingles, de eos temas propies 3 as ‘Serta: intertetunlidade vara entdo de rgito a rgito. De ‘gualguer mania, salvo excegbes a possa oral hoje se exeree em nao com o universo da esi. st do pica necesaraen- tem conato com a posiaesciaerbora emu prazo mals ov meno longo este coat poses ocorter Nesta situa de coe tincin,clasearemon preferenciaient os fates conforme o Pon to de impacto da ecia sobre a comuniagto podnova se Stu "a prods, na conser ot a repetito co pos 40 Precxanvo Dia os miltiplos aspecos de que ets intererncas se reves- tem propio andro rico ao ero. Com eft, cadaver que, thru de suas partes, a comiicagsopodtica passe de um resist Suto, a e pd ta mitagso que € radial, mas raramente pereptvel a hivel linguistic, Um poema compesto por esc, Fn "pesormatindo™ eriment, tds por io de natura ¢ angio, como muda inversamente um poem eral eoligdo por {ecto divlgndo sob eta for contac que a max Pe taneze virtual escendida no texto como uma Figea tanto Mais tmarmvlhoen pore ivesizds. Assim si0 exes toxoids com ‘oles! seme intensimente que ima vor vbrava oginariat trent en su eciua equ eles exiger ser pronuntados Com isso se coloca a questio fundamental: a nogto de “itera- riedade” se aplicn posta oral? © termo ¢ indiferente- eu defendo a {déia de que exste um discurso marcado, soialmentereconhectvel ‘como tal de modo imedisto. A despeito de uma certa tendéncia Sstual, descartooerterio de qualidade, devido a sua grande impre- sto. E poesia, € literatura, 0 que o pblico — leitores ou ouvintes fecebe como tl, percebendo uma intengso ndo excusivamente pragmatics: 0 poema, com efeito (ou, de una forma geral, 0 texto Fterio), ¢ sentido como a manifestagdo particular, em um dado tempo e em um dado lugar, de um amplo discurso consituindo slobalmente um tropo dos discursos usuaisproferidos no meio do [grupo social, Muitas vezes alguns sinaiso balizam ou o acompa- ‘nham, reveland sua atureza figurativs:€ 0 caso do eanto em re- lagi texto da cangio. ‘Mas 0 modo de recep e de inserco social do toxto no s80 0s Sinioe aspects em questso. £ improvavel que se poss rejetar, de ‘modo puroe simples aideia de uma oposige sam dvida funcional (ede qualquer forma heuristic) entre os discursos que recorrem a ‘digs e aqueles que produzem fantasmas ou, para retomar (sem Gardhes demasiads importincia) os termas aos quais recor em ‘muitas das minhas obras anteriores, entre “documento” (dscurso ‘nfo-marcado)¢"monumento” (decurso marcado, texto). Certamen- te conve rlaivizar essa oposigo,sujeit-la @incessantesredefi- nigdes: el fica simplesmente os lermos extremos entre os qua se 2 angen 7, 150.2697 p 3% Tock 197, p Pracesnoo 41 cestende uma vasta gama de exemplos“impuros™: Nessa condigio, ‘ela aravessa 20 mest tempo a oralidade a escrita ea produ os _mesmos efeitos, Esquematizand, eu representaria assim Seas com pomentes: 1. Base 1) estruturas primérias “naturals” (6rgos vocals, mos, suportes da eserita; 2) estrutuas primérias “culturis” (lingua como tl); da manifes- tagio dscursiva de base: documento "2. Nivel pode, definido por uma estraturago segunda — intenc- ‘onal e resultante de um trabalho — de elementos js organizados em ‘struturas primaras,asabee 1) estruturagio testa, tendo por objeto mente) 2) estruturagao mada: grifica (tendendo para o desenho) quando se trata da escrita; cal (tendendo para © canto) tratando-se de coralidade; data manfestagio diseursiva “poetic: momenta. ‘A parte das estrus fxtutl e modal na constitigsa do mon- mento difere sensivelmente na poesia escrita na oral. textual dlomina o escrito; © modal, as artes da vor. Em dio easo, um ‘monumento oral seria concebvel, nteramente modalizado mas ‘nunca fetualaada. Entretanto duvide jé ter encontrado um exen- plo desse tipo. ‘texto podtico oral na medida em que engaja um corpo pela vor {que o leva, rita, mais que o texto escrito, qualquer andlise. Esta 0 Sis Sth rp 2948 dey 107 Bp 936 Tlck 97 p 5 Gondy 198 p. 1 Rcd 1p. 1825; Bout 44 Pmcsanoo Osco dancin hd de i ua pin seepea pcb ds argmentaio 9 experiencia de seu bet. Buc dtme! nea condi, rain onde do dese oer Piel se tune algum vel mdi de abntagi ini; ue aco ded inpzata o seconhcimesto riot de um ie Sera eer tina, fom sea burda ‘ima prticn ean ene florists consist em reuzir a um coqusma comun as multiples verses de uma cng ou de un fom ugueipo cj entratun eco sentido poder depois de- fin com fees Eta pote pica de um etor universal que trancende ov limites do pag © do tempo & num determina Iromento do esto, ecu; ela nfo pera Set inaugura serve ‘ome ressondr pare «aig indivi, da Fandadora fre uquilnenhuns vor existe ‘Simporante lost ano astra" mas os process sub pct gucasstentun, Una ves qo sao foram experiment {iS drt, caifendo, dels se depreende ma tipalogn tio se procece construc de um esqumasopetamente ale eror assenioestndermos dia defungio —quefundames- al procedimento to atnca ee vrwatdades dos processes Cig, ls degenerfcmene emer ou em smo {Ss “modelo” construe € de ceva forma inadequad; seu uso ‘Sige porno umeindiplina que eintrodza fantasia cadorwe Serotitiendre quceliins dascocno penpo split da ‘acotiadigio" © que lca csi desigrav pelo nome de Tend nio'€ sendo una qualidade descontnua, Fragment, Snpre nove soli, ma conidads slstra paras apis Satire de Mersin rant a pertinent seponia do vlbo Montane Copel, Ao raconalndes sucesnvas Aguas nossos Mtoe soem de ur eles rglavam our, so apes {Svartnts RetGrcas deme unidade imagine ec hoje ne ‘Scampi recs nosegamos a deer fra de questo. Erie ral vido eo cont se esende um testi inert, semen de ress, de pote, de nem-verdadeio/ nea ‘rtimamustura tla de jets ofercida aon “clare, ‘fe loge 2 sunisuer tentative de alan. Inverse 0 on 5 Gees, p88 * Sit ans zr ap. 728 ses p24 Cot Prrcisnoo 45 ‘eto, para se constituir,exige a abelicio das presencas devorado- "as, estes monstos que o mato. No meio dessasincertezas,cabe 8 vostsjogare gozar 0 jogo eo gozovalem a pena ‘Oestatuto dos concetesveieulados pela andlise textual, hs vinte anos, nada tem de “cientifico". Entre o conclto,ainventividade de {quem omanej ea iterpretagio supostamente permitida, seinstaura tima relagio triangular complxa einstvel.O conceto programa gio do pesquisadora um nivel por demais gel para se apiar ef azmente a fl realidade concreta, se no intervierem fatores im ponderiveis, a habilidade, a olhadela eo engajamento afetiv. Ou, ‘quando muito, chega-se a semi-generalizagdes regionals: estas po- ‘dem (mas quem poddera diz#-to?) ter algum valor exemplar e cont bir parao enriquecimento de experiencas vindouras. Nada mais, Daa nivel do pesquisador, uma inevitivel — edesejvel — perso- nalizgio do equipamento intelectual: uma iioletalizazto (se ouso dizer) da linguager critica, Por tratarse de um fato cultural de grande extensio, como a ‘poesia oral cea linguagem constitu mais um instrumento de tadu- ‘lo quede anslise- Ela tendea transfer ato para outro contexto (© Saminhacscitra,aintegr-ione planodeintclecgiode um univer- sitio oriental do fim do sé XX. O geral, o que é susceptivel de ser ‘generalizadocmergirao deum singular percebido como ta, istog.em Suasubversvidade. A audigio do singular s6 respondea uma neces- dade de prazerenle ce esgota. A snterpretagso, que éda ordem do ese, perseguenterroga, ameag, tortura esta singulaidade, ara Arrancarthe um seredo de importincatalvez universal..que seus fantaomas sempre 0 impedirio de compreender de forma dint Entretanto © ndmero dos possiveis acabou. Toda a obra de um Gilbert Durand ou de um Edgard Morin, depois de Jung, Eliade ¢ ‘Lévi-Strauss, testemunha da exstincia de configuragdes micas ce psiquicasfundamentais,definidoras do fato cultural. A lingistica fe semidtica contibuem para o proprio retraimento do horizonte fespeculativo, Talvez ai esteja nossa sorte: subsituir as antigas fice ‘bes da unidade pela idéia de provaveis concordéncias!. > Fede 17.518. * Tip optsexontan peti etn Zante 3 OLUGAR DA CONTROVERSIA, Let ope ol Qua oon eter. — Ors os nl tis. ‘as ne xr oil gm Nic estaris eu limitando exageradamente 0 horizonte deste livro a0 me resringe a um estido da post oral, quando a nosao parentemente mais vasta de ileratura orl comega ase difundir hoje tem dia entre os letrados? ‘Vérias razses tabalham a favor desta limitagi. A situacio das pesquisas, aelaborago todrca dos materiais recoihidas diferem mu to em quantidade, qualidade e metodo, de acordo com os stores desta "teratura dois ou trés “generos” — 0 conto, 0 proverbio, a fepopéia — foram, hd meio século, peivlegiades, sem malores just featvas destas excolhas ano ser 0s pressupastes dos diversos pes- {quisadores Qualquer que sea aopinkto que deles se enna, seus ta ‘alhos servem como ponto de patida (dato, ou, a0 menos, sempre em principio) a tudo que se diz atualmente sobre literatura oral emt geral. Dai as inevtiveis distorstes , muita vezes, as conclusbes txrGneas, Assim, no que me diz respeito,osindmeros estudsconsa- trad, durante os anos cingient,sessena e stent, epopdi rio pedem deiar de se integrar minha proposta (a eles dedico 0 capitulo VI); por outro lado, a imonsa bibliografia relativa 20s con- tos no me seré de muita valia.. embora as fronteras entre conto {cangio se encontrem atenuadas em certas regices, como a Aftict negra, onde a segunda faz parte, fequentemente do primeiro. Desde que F-Sébillotcrou, em IB8t, a expresso literatura oa 48 Owes oa conrmoutnsa ‘sta design alternadamente e num sentido esto, entre os etnlo- {gum fipo de discurso com finalidade sapiencial ou cae, Aum Seniidoamplo, entre os ars historiadores da literatura interessados ‘par estes problemas, todos os tipos de enunciados metafricos ou Ficionais que ultrapassam o valor de um dslogo entre individvos: ‘ontes, jogos verbais infantis, facéciase outros dscursostradicio- nals, bem como as narrativas de antigos combatentes, as fanfarreni- es ertiase tantas outrasfortemente marcadas, urdidas em nossa fale cotidiana! 'No meio de um conjunto to vasto quanto pouco consistent, a “poesia oral” (de acordo com a defini que dela farel progressiva- sient) se distingue pea intensidade dos seus caracteres, endo for ralizada mais igorosamente e provida de indicos de estruturagio ‘mais evidentes.Sabemos que toda cultura pessuiseu proprio sistema ‘passional,cujs configuragées de base pecebemos gragas a marcas Semticas mais ou menos disperss, parém espectiss, em cada um dos textos que ela produz.O texto postico oral parece ser aquele em {gue estas mareas 0 mais densas. em da a impresaio que a poesia ‘ral is vezesprovocs: ade, mais intimamente que o canto, adert © ‘que aexisténca coletivacomporta de mais repetitive a nivel pofun- do; dai uma redundincia particular e uma variedade minima nos "Apesar desta limitago, campo permanece imenso. No preten- do tanto cutvéslo (se podemos nos arisear nest ogo de palavras) {quanto procedera uma primeira investda: reunir aoinvés de desco- brn untae numa perspectiva unficada, 20 invés deme langar numa Sintese ambiciosa Muito alem dos tesoures acumulados pelos en _prafos em sas pesqusas no meio da cvilizaio tradicional, o mate- Fil que se pode abarcar é virtaalment infinite E necesario praticat sondagens levantando antecipadamente, como s prospectors, anos teas em terrenas previamente esclhides de acordo com eitéros de renuimento provavel. Decorrem daf algumas lacunas, geralmente intencionais, de minha documentasdo. Conciida exceto em alguns detalhes) em janeiro de 1981, ela engloba, com uma bbliografa bem ‘onsiderdvel e dezenas de gravacdes, um pequeno riimero de ob- servagies © experineias pessoas por mim realizadas desde 1975, Ade modo nko sistemstico, na Amériea do Norte e do Sul, na Europa Blade: Du Deng 971 pag. 01/1018 0 Moura p37 Lame Han p26 St 197 p58 Regan Pp 778 Orveanoncontnovtnss 49 ocidentalenos Bales, na Asia central no Japoena Aria negra Por ‘outro lado, evitelinvocar a poesia eral européia da Idade Média, 8 {qual pretendo dedicar uma préxima obra. Dest conjunto to rico © dliversifcado citi apenas como reeréncia, vex por outro Rom- ‘erhispinicoe as baladas inglesa, cujacronologia se estendelarga- ‘mente na épaca moder, (Os numerosos exemplos que cito neste percurso nfo pretendem serexastivos Siosimplesilstragdes ou mesmo vinhelae margins "Efinalmente, como ultima restriao, na medida (bastante incerta!) do possivel, circunscrevo,na “poesia ora”, um subgrupo,a "poesia canfada”,nela concentrando a‘atengio ea audica0. Nao duvido de ‘que, assim fazendo, permito-me uma facade, Ao menos estos cero (¢ espero provérlo) de que este arificio permite ating faci ‘mente algo central, e¢a partir dai que o panorama se itumin..at 08 confins da "teraturacra” nosentidoamplo, aver mesmo de toda literatura, Enretant seria errneoatere&idéia de conjuntor de extensio Adecrescente hierarquicamente encaixados:Iiteratara oral, poesia oral, poesia cantada. Nenivum destestermos remete aura realidad Sufcletemente clara para asiegurar integralmente sun definigio. ‘Trata-se, neste caso, no tanto de formas estitica, mas de dina mse coneigenes om diverges no bj de um ic econ iexo movimento. rovisoriamene€ ti ambém, em um primelr tempo da snd se, tomar como hipétese a exsténcia de clases ede grupos indepen dents de classes. £ dessa forma que, com oriseo de revisar a noga0 posteriormente,situazemos a porsin oral em relaglo a08 divesos Fgéneros” que ela englobe ou aos quais se opte: generos que, pos slvelmente, na sua maioriaexstem em germe nos atoscoriqueiros de linguager. CCertamente,otermo nero nso debsa de ser perigoso. Atualmente, «em toda parte, seu conteido & questions: carregad de valores ‘onvencionais proprios da cultura ocidental “lissica”, ele se presta ‘muito mal 4 universlizago. Entetanto no poderiamos nos privar facilmente de uma nogioque permitaenglobat — qualquer que'sej0 ‘meio cultural — cers variedades do discurso () espontancament identificades como tis; (relerentes a um saber social relative aagtestidas como signifi- cativas; 50 Ouscaronconmovensia ice een Oia jee fe celloatgaelceee ete feast pean feria Minoteece teen rence crenata se rca ees tme en he en ea mchnapencener 1 ee ret i eeemepan inet rndecon deeeiegece oe Soe cere ae ee eee arent ae re eee ecceeoe See cnanee: saree ane spe op as ee aa eae ome eee yen fies Seager e steoaecrivease ee or nano eee caeren nae Seen peters cere generates aan eee ean eee Stee erent iarteenci sss gee erie ae nm es suite nttiecirnear ee prey ee se Sr hens shed Fete dee eta rg be te entieaes Set snc gaat teseeeenenncte ee ae eer i ea 5 Tero 7p. S688, 1254 Gente 9% p89 Orvcanoncontmovensn SL fungio socioldgia..a menes que elas funcionem, como o fez D- Ben ‘Ames a parti danogio de "modelizagio cultural” Em varios cirulos eruditos,chegourse, assim, a defini, & parte das a prior de origem literiia, as classes de palavra consideradas pelos usustie, em certs cxcunstincias, coma expecficas Fata clay ‘ficacio pode abarear até as frmulas de saudagio ou de inj 08 jogos tradicioais de palavras ou de sons, as bazias ou sermdes po- Plazes, tendo como unicoscritérios uma elatva fxider morfoligica ‘¢um modo de funcionamento concreto. Ela a perspective na qual situo os elementos de definiczo que propore das diversas formas de poesia oral Por outro lado, &conveniente a intervengio do vocabuliio da Lingua ublizada nos “géneros” a defininefetivament, seria impos vel sem que haja uma raza, dstinguir entre fatos que a lingua viva ‘do registra separadamente™A expressio conto de fs, em tans, constitu um indicioe talve2 a prova da existéncia, na tradigio fran. ‘sfona, de um “ganero” Yido como particular da mesma forma, 8 palavza omonce.. enguanto em espanol romance (no masculino)re= mete a tim género totalmente diverso. Os generos, na verdade, 56 tm identidade em sew context cultural e os tragos que andl sdscerne s6-se foram pertinentes nee: rela dalética que, na ‘maloria das vezes, manifesta 0 vocabulivio wlio em um dado ‘meio, quer ele sea ua etnia lomada globalment, uma clase social, ‘ou um cenéeulo de inciados Finalmente, o fato de se lovar em conta parimetros histticos ‘complica as vezes os esquemas de anise, a ponto de tornilos mal utliziveis: toda hierarqua torna-e intdvele,sob a aparéncia de lume supericcimutévely aa relegdea istemdticas a inteneamn iam ou se revolvem, novasinvatiantes aparecem, os canteldos se tansme tame assim, entre os Hunde do Congo indmneras anges tradicionais acabaram reduzidas acurtos proverbs, funcionando como ta. ‘Quanto s “formas simples” deolls, sem querer me aprofendas, «reine deverlevs-las em conta, Contestada ts vezesvigorosamer tens anes sesenta alterada a preexto de respeit) por Basinger ‘Aabenogoon p75 Vas 17, pS Eno Bigs 17, p01; Ma fend Range Sher p95; Vogt 87; Schauy,p. ‘brat 89 Be: Aer 197 «896 How pt e193 Barks, 68-7, BereAro 197 p. 804 Bann Thoma pH Dvn 1p. 163 (tpestn p25 52 Otweakos conraoversin ‘em 1968, esta cori mentalista deriva de pressuposts cujo ideals ‘os justifieativas de H.R, Jas $6 atenuam, nfo sendo suficientes pata aumentar sun frig base floldgica’. Formulacao lingistica Drimira das atitudes arquetipais do esplsto humano, as “formas Eimples” em imerode dex, seriam os modelos de toda "expresso" ‘modelos que, na medida da sua atualizacdo, se “Iiterarzariam” ai ‘da mais Nada deste discurso referee expeciicamente poesia oral {gue estangeira, permanece como tal em Seu horizonte ‘Nie questionare este ponto deforma diversa. Em contrapatida, enfrentaret uma questi fit, implicitamente, por Joes e que diz feopeite de forma imediata 20 meu tems qualquer discus €ou no uma narrtiva? As "formas simples”, com efet,direta ou indireta- ‘mente, na desrigo qu delas se faz, cto narrativas. ‘Se fiadesemos uma interpretagSo mais ampla das posies de Grek ‘mas, admitiramos que uma narraiva genealizada,e como que vic {ual est presente em toda forma de discurso organizado. As marifes- tagieslinghisticas a restringem ea espeificam, lgando-a ks formas figurativas’ dain Pierre Janet que o que criou a humanidade, fia narragio. Ninguem duvida de que acapacicade de contr sea defini {dora do estattoantiopologica; de que as lembrangas, os somes, 03, mis, as lendas, a historia ado mals constituam, juntos, a mancira pela qual indivduos egrapos tntam se sitar no mundo. Nao seria Ebsurdo considerar hipoteticamente que toda produgio da ate, tan- tons poesia quanto na pinfrae nas tecnica plastics, inclusive na arquitetura, sp, pelo menos de modo latente,narativa. Ea musica? ‘alver: certamente deforma secundsriae por epercussio. ‘Anarraiva propriamente ita emerge em algum lugar de uma sé- tie continua de fatos de cultura; mas onde, entio? Serio consider dos narratives, os notes metaféices ou metonimicos, dads trade ‘Gonalmentera Ai entre os Amerindios ou em outroslugares, os individuos humanos,e mesmo, como acontecefreqientemente no ‘campo, aos animais domeésticas? Neste caso, chega-se a um limite: ‘uma forma minima com @ méximo de alusio. Daf a existéncia, na ‘Aiica, das “visas”, que os especialistas clasiicara, sem hesitat, ‘como género pottico, e que consistem em uma expliagio do nome”. ‘Porém, insistimos: a palavra ea esrta sto, nese cas, regidas * aoainge 21235 Uy, 9: op 19 p 13D BemAmes 1, 272 Jaane 17. 7 Sqe 1, 57 {sear Gres 17 1 Crcinas- Court, 288 ‘wou Noah pr Pooigh p95, 96201 OweaRoacontmovensia 53 elas mesmas endéncias? Nio poderiamos suepeitar de um Aseas- Sinato da narativa, em algumas passagens de uma para aoutra? O acompanhamento gestual (eo qual dedico ocap. XD, fundamental em ‘oda forma de literatura orl, nio poderia ser interpretado como cen ara no gual em ego a gua pon dcr So ess aude que me evan a descatar a naraividade como cro getrion exo em gurs coos xremossuc expr! No imide do ductor saaivor tenes como mit, Bui co ects tage, aicmene; no cojntonito Ge duces narrative, nts so meso fen iiposas © ‘Srtntamente muvee. Mass ineevengio da inti mo. Sis (ume elas gets como mostrar cap, ete a prosa Coven odine oct nao wo fs progetto cami das ‘epaseagie. He varices do unt, cntoscntadon Sites pre, anes nos do td edo us Prin cnt o tanto fax do tan fe? Mas una vera Nt coh par formar undo anda was cnfse ni lla ‘st esemplos decane uso care dno scbrevive, de fa ‘tama om mene odor en fora deca" [Nao se pode, contudo, negar que, amparadas nos termes con- vvencionais de conto e mito, antrop6logos,folclorsts,narratdlogos {enham levado muito longearellexto sobre aIteratura oral no meio ‘pré-industrial: endo poderiamos ignari-lo, por maisqueesteavanso Ste to der niin 1d que um secu, 0 “conto” (que tan pelo mens ese ee finigies) fascinou letradce exticos". Esta atragio foi provocada, Iniclalmente pelo espeticulo que, no espago e no tempo, oferece — Superficial elalvezilusoramente — este genero, no qual tasitam formas do imagindrio com aspecto ao mesmo tempo constant, ins tel eevolutvo. Fase tematiea da pesquisa que foi acompanhada por um vasto movimento de coetaepublicagao de contos através do ‘mundo inteiro— movimento que postegue intensamente em nossos & Deverson p16, 198. "Gane Gale 1 «Spe 190, p 83:84 mere (1978) Se Le se {nota 0 5 098) Latte St Otecanna conmovtisn dios, comona Fang, com oincentivo de J-Cuisenier. Desde os anos trina, a anteopologia se apropriow desta rica matéri; por volta de 196 claconverg, gracas a descoberta dos trabalhos de Propp, para ‘estruturalismo tunfante. Uma semialoga narativanasceu desta ‘uni, exemplar em suas pretensOes cintificas a ponto de sugeri, ‘pouco depois, os prineipias de uma renovacio da pedagogla da line spoagem. "Numa épocaem que todos questionam o aleance e até mesmo, legiimidade dos estos hterdros, o conto apresenta realmente um spectoreconforante: es limites dos dominios da escita e da voz, tle parece atestar-Ihescontinuidade e homogeneidade. Todavi, 0 ‘métodos orginados do formalismo, consitldos tendo em vista 0 festudo de monumentos ecrtes, imprimem arificilmente a marca dda escrita ao que eles examinam verdadelra mtaclo impesta 20 ‘objeto, quando est, na pric, no tem nada a ver cam ela. Nao & sem rio que asemitia, fazcinco ou seis anos, parasairde mundo prolferativo e fechado que estava a ponte de sufosla, se desliga {os textos como tis, afm dese orientar para aanlise dos tips de ‘discurso.” Poderiamos formular reservas andlogas em relacio As diversas lassificagdes proposta para. os conto, seam elas tematcas ou fun ‘Soma. A amplitade da matévia exig, cetamente, o emprego de ‘ritris ditintivos, eos que assim S30 escahidos nao poder ser tejitades, pura e simplesmente. Mas eles deixam a questio prin ‘Spal — a elativa ao uso da vox — em aberto, Em stuagio real os compartimentos de toda classificagao tornamse permedveis; as ‘manifestacbes do sentido, sempre mais ou mencs hbridas. Um dis- curso concrete ao ineés de remeter a coordenadas polis, pro- ‘vaca uma energia destrudara das coordenagies. Por uma terdéncia original, as andlises de inspirasto estrutu- ralistaredszem a idéia de fungSo 20 que € interno a0 texto: eas se baseiam em uma oposicio entre acio ecomposigio (ow outro nome com o qual as designam) andloga aquela estabelecda, outrora, por Saussure, entre lnygue «parale. A esta concepsio de imanéncia, 0 testudioso de postica — a0 qual os estudos sabre o canto formecem lum termo de comparacio indispensivel) — vai prferie um prag- © op 17; Maran Keng p 2-06 Vit 197.2257 Pee Seand 9p 503" OweaRoaconraovensin 55 ‘matismo como ode Fabre-Lacroix ede Alvarez-Pereyre, baseadono funcionamenta sociale na interpretasSo individual incessant dos Aiscursor Por volta de 1930, confia em suas Memerias um exquim (ot melhor, Init) caradense, contar signiicava viver: entre crangas ‘organizavamseconcursos de contos; 0avé pegava tamborecome- {gaa a cantar o Artico, as eagas, as dangas, a5 mulheres ¢ os curan deiros de outrora. Isto compreende, em sua trivialidade pri meiramente: cada uma dessasrarrativas, gragas a0 calor de uma presenga, mais do que por seu pretext, preenchia um vazio do ‘mundo, sempre diferente, ja que os dias mda ea natureza deste vazio na sensibilidade do contador ede seus ouvintesconsitia sa detorminacio mais paderosa, para a qual as outras (temsticas, et turais linguistics tudo o mais) serviam de matéria ede nstramen to. Aspropriasdistingbesseconfundiam, porque ngohaintermediags0 entree que concerne o homem eo que conceme os deuses. Que tipo de conhecimento 0 conto veicula, que papel sociolog- «co desempenba este conhecimentoe que finalidade Ihe ¢ atribuida? Trata-se de um simples divertimento, de uma narrativa initia, ou do que mais? Estas questbes dizem respeitoigualmente 8 poesia fora einsistirelnestas implicagdes mals adlante. Além do mals, A80 demos negligenclar as variagdes individuals queo contador e seus fouvintes operam sebre estas regras, em vitude de suas neessidades particulaes eda qualidade de suns relagGes mituas, O cmto, para !qucle que o narra (como acangfo para aquele quea canta), constitut a realizasio simblica de um deseo; a identidade virtual que, na ‘experéncia da palavra se estabelece um instante entre onarrader, 0 Iherdleoouvinte, ria segundo a lgica do sonho, uma fantasmagoria Hbertadora®. Vem dato prazer de cantar, prazer da dominagso — ‘associado ao sentimento de pegar aquele que escuta na sua armadi- ‘ha —,captado de maneira narcssta no espago de uma palavra apa rentemente obetivada. Veremos que, embora a sedi da canto se realize em outto nivel, seu eeito nao é de outraordem, [Nas sciedades arceicas, 0 cont oferece & comunidad um tere- no deexperimentagio em que, pela voz docontador, ela se exerceem errs Aaomapon p10, 168 Copco, p17 ‘ison Cu 56 Ouean on conrovtnia todas os confrontosimaginsveis,Distodecorre sua funco de esta laagio seca qual sobrevive por muito tempo as formas de vida “primtiva”e exphica a pesiténcia das wadiqoes narrativas ors, para alm das tansformacdes cultural: a sociedad precisa da voz de seus contadores,independentemente das stuagdesconcretas que vive. Mais ainda: no incessante discurso que faz de si mesma, a Sociedade precisa de todas as vozesportadoras de mensagens aan cadas a eresto do utllitirio: do canto, tanto quanto da narrativa, Necessidade profunda, cuja manifestagdo mais reveladoraé, sem vida, a universaidade ea perenidade daquiloquenésdesignamos pelo termo ambiguo de tse Com efeito varios tacos permitem delimitar,sob aextrema diver- sidade de suasmanifestabes, a unidade nata de uma forma eminen- ‘ee muito elaborada de arte oral. Oarificio que estrutura 0 dscurso ‘édeordem mimétcaeabrange toda uma stuagto..aal pontaqueo eleito de linguagem, um elemento dentre outros desta situa, se edu, em casos extremos, a quate nada, es vezes,seanula quando ‘ator confia sos expectadoes a missSo de verbaizar o que véem ‘assim, a pantomima antiga, as paradas militares ou 0 teatro experi- rental dos anas setenta, com Robert Wilson, Richard Foreman ou ‘Meredith Monk ‘ima situagdo de comunicacao oral priméra (0 ator f provoca uma situag secundaria (le ala com outro ao Fietciamente come primaria;eo poder do jogo em minhaconscincia _chega a0 ponto de apagaro sentimento desta fegio: eu me identificd “Gomoreceptor dese palsvras, como portador da var que respond “pocsivel que parasubsstr-uma comunidad humana enhaneces" sidade de experimentar, vez por out, tal desdobramento. A'mar- ‘gem das formas canénicas dle um teatro nosso, desde o sé. XIV, Impregnado de literatura, mantveram-se, assim, com a persstincia de um instnto socal na cultura européia, as tradigdes de uma "dra- mtica popular” até hs pouco bem viva: prolongamentoflcoria- dodo mistério medieval ou sobrevivenciade rites muitomaisantigos, dos miggiitalianos a certs natas da Reménia, 3s procssbes com intios es “misses” ainda freqientes, por volta de 1940, em nes ‘ss parsquias camponesos" Seema usge, 22647; Abeahuns 1972, pSS29: roe 7838 Alea Srsoe Bmogan fap 2 Oucaroncontnovens 57 {A poetizagio tetra toa a descigfo das crcunstancas supér- ‘ua: im centro, quando exstente as simboliza, mas, em relagio 20 ‘que o ouvinte-espectador perebe imediatamente, ele o faz deforma redundante. Esta redundncia pest muitona mensagem dramticne, periodicamente, vemos ressurgi formas de teatro "de ago" que fentam reduziradlistncia entre as duns situoges de comunicagio,¢, deste modo, usar mederadamente oceniro. Os “corosfalados que, lanes da Segunda Guerra mundial blizaram a historia dos movi= rmentos europeus dejuventude, nfo requeriam nenhuma simboiza~ ‘lo além da pesenga da massa humana A qual eles davama pala. uma qualidade propria da vor que nteressa aul. Nasua funsto primeira, anterior a infludncias da escrita, a voz nao descreve; ela ge, deixando para o gest aresponsabilidade dedesignarascircuns- "clas. Como fo tantas vezesconstatado, os cntos de tradicio oral ‘to comportam descrigdes.a.n3o ser as maravilhoss, sto 6 a5 que Server para rjltar as circunstancias presents. No teat, o gesto tem malor amplitde: toda a cena se organiza em tomo dele. Na conmada delete — um dos stimos termos aingidos pela tradicio ‘oralmo Ocidente —,dgestualidade sesubordinavaa linguagem? AS Indicages que o ilstrenapolitano Andrea Peruceidava,no final do se XVIL em seu Art, visa a regularzar, tomandova ireversivel, ‘Sta subordinagio”. Maso gesto, assim, ao inwés de reps, valor 2a linguagem. Esta explicit a significagio do gesto. Crase entre ambos uma tensio da qual deriva a forga tetzal, posta a servo, Conforme os tempo ¢ a5 culturas, da comemoracio, da invencio Iidiea ou da conjuragzo do destino, No Bali do séc. XIV, 0 teatro, ritualmente celebrado por todo 0 povo, dentro do palicio real de GGelge, signiicava o proprio Baad, manifestava sua substncia, a tal porto que a finaldade ultima desta substncia parecia sera de produzi este Ato, ea Palavra que ee, por sua vez, engendrava. A Felacio das Igejas crstis medievais com a liturgia (outta forma de teatro) no diferia daquela™ "Na tadicio tetra japonesa,o ritual recua em beneficio do jogo. Uma art se constitu e se divesifica em, por e pant uma ago puta, ‘stilizandoe codificando o gesto a linguagem com tanta exatid30, (que a qualidade mais pessoal do ator tomas assim exaltada sua Pripria voz, 0 desdobramento de suas tonalidades, sua riqueza (& 2 again pS8271 Coury ey, 105, > Ceete p BS 58 OvcaRon cenovtnsia nica: ndo apenas no nd ou kui, géneros muito complexes, mas a8 ‘mesmo nat formas mais simples do kndan ou do ral, ‘Consta que na China, em épocas antigas,o conjunto das ativida- des coletivastinham convergide para o que se tornava um teatro € tinham susctado suas miltiplas formas: danga, malabarismes, estas ‘amponesas, esportes, rites xamanices ou reais, reunidos em volta de uma vor que se levanta. Ou ent, ao contro, uma Vor se inst tucionalizava,alando-se ao gest simbolizador: a progacio busta desempenhow um grande papel na formagto de varios modelos Aramsticos da Asia. ‘Assim,a voz human, ligada pela bra dearteatotalidade da agfo representada unifica os seus elementos. Nestes, fcticamente, se {eneontram sua causa ese fim, ecom isso ea os juste: circular der qual alguns moralstas sentram, em certs épocas e em ras calturas, uma diabrurasecreta.O teatro de marionetes (também de extensdo universal) constitu uma contrapartida e uma especie de exorcsms, j que o jogo dos bonecos tem sentido gragas a ma voz (que no thes pertence. “Todavia, os vinculos dotestrocom oritoeadanga esuacemelhan- com o jogo no o identifica, realmente, com estas atvidades, Tigam-no mais ela través de eanais de alguma riz comany © que existe de confltual e subjacente em toda cultura. Voltaret eas {questtes nos cap. V'e XV. “Polifoia de informacéo", como dia Koland Barthes, o teatro aparece, de modo complexo mas sempre preponderant, como uma esritura do corpo: itegrando a voz por tadoradelinguagem a um graismo tacado pela presenca de um ser, fem todo a intensidade do que o torna humane. Nisto ele consti 6 ‘modelo absolute de toda poesia ora. "Na continuagio deste lv, s6 vou me refere ao teatro em breves alusdes: os problemas pertinentesjé so objeto de uma literatura ‘flea muito ria. Admit, porém, como um pestulado, que todos 0s fatos posticos de quetratarei paticipam, decero modo, daquilo que Lape psi Dayo, 6 Ditmar dm Tue, Cas Fancppines) Tp 23 (87, 64 Iwuinrhno de poemas mogseabes dos Siculos Xt e XII desoberts nos anos "alent com oa sem ado poe Indus, depts on- temporieas, seraidade niga dum ner post ou mesmo de umtewto particule Anim, existncia sins oe naa do Sues ted letras pins do Rimijone parce provar a remota ang dade de uma tio ora desta epopa cj verses ern jt ‘ham dois seule de dade no int de noma on Da esna ona Sindso canto de hinos tie que esetamas tulmente ra In ‘Na suninla do tet, ab ambiguidadeseumentam © enum questo comporaespostas no ser aniveldeuma pradente generat tae ‘Una tradi ert pode ser interment lvadaa uma adigto ora simitines ou antes, em vrtade de vervsininanas dea. dss da histrin erdin,cmo ta posta Edt forma que oo tspecialsts rocedem em relatos ines sured segundo ‘leno poss jopones da longing dade Mein ou iteture Chines depen Song eX ‘sent conames em documentos indzando, em cago de sexos nem referencia explicit aextenci Ge uma powsa oa simdado tempo eluger Assim dusante oda dade Medi, tanto Chin bts quanto no Odes cst, das ondnasbe monde ‘cs feta conta as cages cmponesn,emorors ou sats, as deplores, on rebes da dang, Geurse sexsi de adios ‘onspondentes ‘Una ver ie a oraidade pasada foge 3 cbservaio, neha leas mares qualquer que sgn sn pernénc pode set opreciade ‘os explrnda seo de modo sprosimado e pla reference sacred orale no presente O coshrinent spa sas n- tradusem ¢ um cones tn sgunda mo, nettle problematic, Os fatos de orlidade no presente se dstinguem de modo radical, conforme seam transmitidos dietamente ou mediaizados: insist neste pontono capitulo anterior. A transmissdo pela midia implica, em geral,inscriho nos “arquivos” sonoros. O texto é dessa forma Iiberado das amarzasimediatas do tempo: no momento da perlor- Brower Mie p39; Aleta p20 angen 17, pA. Invexrauo 65 mance, cangio eo poem existe a mesmo tempo no presente “irtalnete num fro lmitado apenas pela rasta materia Aodiscoou data Assim qe termina «performance acreten sea tsta diene, enos mete ites, asta. astra de sugeric ag algun crits de lsat indepen dees do criter Sf dieto ou medatizado ~ da performance. Eosbaseio,com elena ame propria precnteotnicoem qe peso ouvilno modo de integra cultural das mensagen poets Sranstidas. Algumas dla emis por clara estanhas hela gual pertengo cadino crea dose 9X, cepa a mm de um athures qu dentifco como ta, quer se tate dew cargo de cage ‘vida no cerrado da epito do Vl ou de um disco flere fa Gis Tor eur lado, outas mensagens provenentes de meu prope ‘eo cull no calor esos sunidade cus perecbedreamente rm sua fungi neesidade- mesmo seas ropa agua aso peso ‘Nessa vias terligic, de mits ainda dominados (peo smenos na Brops) plo modo dae nde aoe flores 4a vor: Em outs partes do mundo dunia mais tecentemente fem slo menos propio a im rpdo enizamento eta mestng Ciilasfo permite percber melhor ums realidade que ela condena ‘ong raze, mas com aqua provioriamente se somnoda. Aso. ‘dade acanaso exempt prftamente "Enbors,conraramente «tn prconciodifunddo,conbesam hastculos ous da errr, ae cturse que cas elaboraam noe corer de sun ists aiam da vor humana uma das mola cin Iso universal eo liga gerador dos stolen csmagbnices tras amb de todo pase. ene por cary, soguno ne Spinio sane yo caf cept na ou menos eteogéne,igado ama cera cizagio aerial deepest {ages comporamertose dicusos comune a um grup human, ‘zvum dado tempo expago. Do pont de vista dows, uma cre Surgecomoafactldade, ent todoros membros do grap, de pred 2a Siges, de identi lose interprets da mesna manele Constis, asim.o fator de uns da atvdndes scien ‘ida, ugar posivel para qu o interestados tome as reas doseu dstne coletv. As cultura afcanas cultures do verbo com trades eas de riqucr incomparsvel ree do que queba ‘rtm da vor vvarem vistas ides (0 Liste eno Ceo do con. then. anicartequess rats powsine ocano.© Veo fa (66 boenrAn vital, vapor do corpo, Hider caral ¢expetua no gual toa Mividadeepouss, seespalia no mundo so qua da vida, Na pala ‘orig pede dochefec dpi, dotamponéseda semen OG artste que modela um objet, pronana multas ves, cant) Ss palvesfecundando se ato, Vertclidade luminoss brtando ds wevas interiors, ainda marca, todavia, por ets sues pro- fandes a plas proferia pla Vor cri que dz Ba éjustamente ule quechamainos pest? Mas lamb meméra it, tano par nv Grn ua mpi do ne de fr fo parao grupo, cis linguagem consti a energa ordenador. astocleines pr cok os louvers do cele conta pare dranera end dora pov sta pain ea conn aespeci Ibtase suns formas dein gers potion econo Ertan, nem foda patra Palvra Exist o tempo da pale ‘ea jogo comum banal osuperfalmentdemonstadsra 01m pave forge Manet tina pode ser destrldor: equiv Ra mancra do ogo uma de suas imagens Dal uma série de ambi sida, te mest de contain na prea Opoe-se&palayta Popul inconsistent ers ~, uma plara mais elmer {hs enviquecda com seu proprio acevo, argu snore cao rijoem tar etn cae "pesos a patra coma 0 Imai oso rts” de Afni Ma 0 mes- imo tempo, a palavea¢ fen, ma conafurlidade liga 8 muler, tim aro £06 no blo asegirart sua nocuklade Eno slo deste tmundo fantastico que a or da porn can se evant, menos ha que energa“tabalho do sere sun etema repetgio™ "A oposgo asm marca ves, clara; multas ves ela aparece movente ou rap Hstricnente oles peste um ‘enegro do Su dos Exados Unidos, Sstanda do met so Scale Sec Ma propio papel qu se deseripenos na pa seq de acontesimentneinovayoes que mara as ercasmuscls trate docanto na sculo 2X he assegrs, he, ase redouras nossa consciencia cla. A dstingopropostando dena de ser ‘pert, pis apreseta a vanlagem de levarem earadergSo cs Jogos de fresh Com fea, fargo de una posi oral se manfstaem reasso ‘ase Grae 955 p24 148 Cam 20748 abn 961, 1876, espn p25 Iori 67 20 “horzonte de expectatva” dos ouvintes:aquém de qualquer julgamento raion texto espe» una guste feta en i ‘Asvezs eleaexpititiicandos os nia also ania sta corrlagto permanece sempre como ponte de ancorgem em ‘esa altiidadeprofinda e neon fntsnas, em moss He gins nas pequnaslmbraneas dria ou teem nosso amor pelo Jogo ou agi pls foiidades de wna mada, Donde orn de Persunsto parca, prs os frances de minha feng, das ea {es de Brssns como das dem Jacque Be on um esl de ‘Shera torent: Maspor ue omen apenas ete es? Cras anges gozaram, durante irios anode ur falpoderevecador em ‘asa exstnca comm que ar xclivamesCaramente cant Foladas por ume ato: rroseram ageless podria der o> ‘Homes des sets autores potcon mest, of cone o eato Com eva: Sombre Dinan nov anos ules Ful Mr, inte cine ane depois “Aspradcepasescoltivasaserameste movimento deidentifi- emp 7 2 nap rr om Bg, ee I AS FORMAS 5 FORMASEGENEROS Ni deol — ora em oie — nga cre Mave moma Pcp eas. — Ves ia a Aor a S56 excepcionalmente ia forma 6 estvel «fea comport uma moblidade proveninte de ma energia que Ihe propia textremo e paradonalmente, fora ¢ igual a fogs O grande poeta © ‘istic erat Nazi Ucn Husa deme a honsa de vi met feminaio,em fevereiro de 1980, cantar mits de suas compo- sigdes Interrogado, de dversos pontos de vista, sobre a“forma’ elas, deu-nas respostas diferentes, sendo que todas elas conti ‘avam que, emt sua consciénca postic, a forma nfo € um exque- ta, que ta No “obedece” a neriuma fgra porque ea #3 earn reerada sem cesar ritmo “puro” (wo dupo sentlo pals), £6 exitindo pela e na panao particular, a cada momento, a cada encontro, a cada qualidade de luz ‘producto de uma obra de ate 6 deliitagio de wma matiia, modlizads, prove de um comeso, de um fim, animada de uma intengfo, pelo menos latent. Em perspectiva séco-histrica a for sa é assim, segundo uma expresso de J. Roubaud, “meméra das muddanga de sentido” “Tratando-se de uma obra poeta, é cbmado manter a dstingSo cortente ene elementos “semanticos"(eatives 8 emergénca de tum sentido} “sintics” (is elagSes das partes); “pragmsticosao 130 feito desta obra) e “verbs” (quanto 8 materaidade do sino). 82 Fomuse Gis Esta distingSo srs todavia despojada de toda rigidez. Com efito, desde que @andlise contemple duas eu multascbras, uma conpa: ragio se institu, fundamentada no exame das invarantes © tas ‘ariives que al detecamos. 4 tarefa do estadioso de poesia or dlenar as ivarantes. Ora estas tim a ver com vitiosnives de ma nifestagio, onde as regras de varinbiidade (quantidade, qualidade, dluragao, combinacio de variives) podem siferr bastante: nivel antropolgico dos arquétipos, mits, simbelos; nivel ideoloyico dos tsaquemas representatives, fmulas, iin recebidas nivel Heal dos tacos textual. "Nao ha, por sua vez, “nivel estéico” defnivel: & a, em potica Iistérca ou comparada, que se coloca o problema da alteride mitua entre a obra eseu analista Nio hd divida de que o valor tético de uma obra se prenda (de manera indireta)% sad “ture 0", no sentido que det a esse tezmo no capitulo precedente Mas julgar esta relagio diz respeito em umm dado meio cultueal (eu sina no Capitulo 2) a uma competénca social, a um corsnso «que tanto preside & produgto, quanto a recepgio daquilo que é ‘qualificado como poesia: todos os fatores instaveis no espaga e no tempo. A dliferenca dos registras sensorias que colocam em causa poe sia oral, dl um lado, poesia escria do outvo, implica evidentemente ‘que suas formas respectivas nao podem seridénticas. Nem mesmo fs nvels em que elas se constitem nem os procedimentos que as produzem podem ser comparados,# prio 'Nas culturas de ritmo lento, ¢ funcionamento da memériacole- tiva determina o modo da estuturagso postica. O poema aparece mals como “releltura” do que como ‘eiagao™ = sa ea onto} (a propria tradigdo que o suporta. A performance, nics manfes- tagio da obra, equvale ao que seria para nés a leituraisolada ‘inica, necessariamente flutuante e incompleta. A palavra é "mo- hnumentalizada” pelas marcas (de uma extrema suites, muitas vvees), de sua integracio na tadigio. Nas culturas de ritmo mais ‘pido, a era da obra se deslocs ou se retrai 30 sabor dos esforgas de adaptagio ou das rupturas: por vezes ela se prende acs estcitos limites cronoligicos de certa moda. Contudo, todo poema oral, em, 5 Yas 197, 1-2 1-420 Zao 3541 Fgh 7p 256 Rags p23; mtr 93 p72. FomaseGineacs 83 qualquer situcio, faz referencia para ouvinte am campo poe fico concreto, extrinseco, diferente daguele que ele percede a reste momento, A poesia esrta, certaente também remete a Mo delos externas: cla 9 faz com menos urgenca ¢ clare Por isso a estruturacio postica, em regime de oraidade, opera menos com a ajuda de procedimentos de gramaticlizagio (como 0 faz de mancira quase exclusiva, a poesia eseia) do que por meio dle uma dramatizagao do discutso. A norma se define menos em termes de ingistia do que de sociologa. Porém (por este mesmo :motivo) poesia eral gealmente compara mais e mais complexas regras do que a esrta nas scieades de forte predminanci ol, la consi, muitas vezes uma arte muito mais elaborada do que 8 ‘malor parte dos prodstos de nossa eecia 'Na Intengso de demarcar estas nuances, fago uma distingto, da ‘maneira mais constante pessvel, entre a cba, © poema eo texte. A ‘obra éagullo que &comunicado pocticamente, aqui e neste momen- to: text, sonordades, stm, elementos vistas terme contempla a totalidade de ftores da performance. © poema testo e neste ‘aso, a melodia da obra sem levar em conta outros ftores. O texto, fenfim, vai sera sequéncia Linguistica pereebida auditivamente, © ‘ujo sentido global nio ¢ redutvel a soma dos efits particulates produzidos por seus componentes que se perceber scesivamente, ‘Da coenstencia destas ts entiades resulta difculdade que se sente em apreender 0 que as formas texts da poesia oral ti (por hipstese) de especfico. Etnlogose folelrisas nos anos 6 e 70 tentaram iso por varias vezes Mas seus estado $6 levam em con- sderacio os fatos que se destacam nas saciedades de tracigio longa © quace compre cm sitagao de oralidade prima: oto ot impede {e' generalizar suas conclusdes. Sobre estas tenativasinfltram® fortemente as tess ce Parry-Lord ea toora “ormular” (que discut- rei no eap, 6) na perspectiva de pesquisas antropologica sore as ivlizages anteriores & eserita. Os autores s8o levades a pivile- iar os tracos de estilo que comportam alguma analogia (suposta) om um earéter mental ou social tipco:uniformizagio de expres- ‘fo ede temas; uso de epitetes, mareas ou outros procedimentos de Aqualificacso para distingur géneros, classes eindividuos; peso do aparelho cerimanial ntegragio da historia no presente e esmaga ‘mento das marcas de duragio; aburcincia verbal 7 Pep 6 Lae 8 Bahan p85. 84 Forse Gesnnos Por vezes, no entanto, uma monografia linitada elas exigencias de seu objeto muda um pouco de foco ese lbera de idéias pre ‘concebidas: assim olivzo de J. Dournes sabre os Jra da Indochina fou a breve obra de T.P. Coffin sobre as baladas tadicionas da ‘América do Norte. As formas linguistics camo tas, inclusive as ‘estruturas narrativas, profundas ou de superficie, constituem para (Coffin e para Dournes um elemento inertee, do ponto de vista des ‘ouvintes, esteticamente neutr'. Esse text, se toma arte no seio de ‘um lager emecional manfestado em performance de onde procede fe para onde tende a totalidade das energas que constituem a obra ‘iva. £ assim a performance que faz de uma comunicagio oral um. ‘objeto podtco, conferindo-Ihe a identidade social, em razio daquilo ‘que se percebee decata como tal ‘A performance, ¢ pos, tanto um elemento importante da forma ‘quanto conettutivo dela, Relativemente ao texto (assim como de- pois da fixagSo por escrito se If una cangéo) a performance age & ‘manera de uma sonarizagio: no mais, muitas vezescaplada come ta, com cera ivtagae, por pessoas exclusivamente ligadas 20s va lores da esrita A esta sonorizagaoo texto reage ese adapt, modli- fica-se, tendo em vista superar a inibigio que ele traz consigo, E por iso, na necessidade de adotat um procedimento anal «co, consderareprimeiro as formas linguisticas, depois a8 outa. insistindo 20 mesmo tempo sobre o que hi de aifical neste conte, de aberto em cada uma das duas series, pelo prépriofato de que tuma 26 existe pela otra, ‘Quanto is formas lingtisticas, adoto duas éticasdistintas para cencarlas 1 Nesse eaptula 4 excala de tects inuiros © de grupos de textos: perspectivas de’ macrformis, da ordem dos models © dos 2 No capitulo VII na textura do poems: perspectivas das microforms, tanto definiveis na ordem dos agenciamentos lexico- Sintiticos (“estilo”) na ordem dos efits de sentido ("temas"), ‘especialmente aqueles em cuja produgio intervém uma convengs produgio engio ‘Nao flare sendo por incidente, de “temas, Pe 2s", porque, pouco es peciicos da oralidade, eles atravessam horizanalmente todas as © Cote, p 1647 Shera, 8B; Dens 197% p1S-57; Zante ls Kerr Oech rd Fomase Gonos 85 expécies de diseurso ¢ seu estudo, mais do que de postica, 0 da historia, da socologia ou da antropologia do imaginseio. "As macryjorisullapaseam mais ou menos o plano lingistco. Ela abarcam, com efit, ac modalidades de linguagem dos textos frais que delerminany; mas estas, mal se dissociam dos elementos ‘xpressivos nfo lingilstics que dependem de crcunstincis, por ‘Sun vez, ligadas a fungio social preenchida pela peeformance:c deia de implicagdes que se poder, a principlo, analisar a partir de {qualquer um dos seus eos. ‘Quanto as formas no lingisticas, eu as agrupo como “sécio corpora: enfendo por iio 0 conjunto de caractorsicas formals fu de tendéncias formaizadoras que resultam em sua origem ou finalidade da exsténcia do grupo socal eda presenca eda sensor Tidade do corpo: ao mesme tempo, 0 corpo fisicamente individual- zado de cada uma das pessoas engajadas na performance & aquele ‘ais difcimentediscernivel porem bem real, da coletividade que ‘se manifesta em reagbesaftivas e movimentos comuns™ E por simpificagto termioligca que flo de formas no plural ‘Tratese de componentes diversos de uma Farm nica em cada ‘poems (do qual ela €asnica forma) — einica no fato de nose re- produzir nunca, excpando assim 2 durasso, enquanto, 20 conte Flo, seus componentes tem a tendéncia de reproduzirse indefine ‘damente. Por natureza ou segundo as circunstincias, os diferentes Componentes formals do poema sio codificados, desigualmente: flguns com rigor; outros de modo incompleto e de modo muito frouxo,« ainda alguns escapam a toda codificago. Estes dtimos 6 povdem ser descritos em relagio a uma tnica performance. Clasif de modo muito sumrio, a8 outas em dois grupos, conforme se trate de codigos “estitos” ou “frouxos”= a distingdo entre ees, fhante¢ adaptive, se fandamenta na proporsao de signa abit ‘oe, sinais (metonimicos) esinbolos (metaorices) ques corstituem na praia A alscussto, no teceto capitulo, dos “géneros” da. literatura coral permit circunscrevero coneeito a0 qual apico termo ma- ‘croforma, Conjunto de vituaidades formats e 20na de aplicacio de Compettncias individuaissimultaneamente, esbogo de modelo abs- tral, feixe de energies © modalidade de uma tradiqio, a macro Seb p36, 86 Fors Givens forma constitu, por oposicio > matéria primeva e distante do ‘iscurso postico, sua matérin aproximada, ej parcalmente infor mada, que a lelea vai formabear de manera defntiva, atualizan= oa. Programa © deseo de sr, ela comporta dois elementos, res pectivamente riz deste deajo e aspecto de uma programagio: 0 {oe denominarel fora e onlenisio. “A presengs deste duplo fator 6, sem divida,o Ginico caréter uni versal das macroformas posticas. A maneira pela qual estas se oF ganizam e funcionam (eto € a natureza e as rogras dos “géneros” ‘gue las geramn) difere bastante, segundo os contextos cultura. ‘KSsim todas as culturas produziram uma poesia de amor, de con- juragio ou de combate: prem constalar isso nao nos faz avangr, © {quanto mas se procura preisar esta informagio mais se corte 0 Fisco de perder-sena reverberagio de realizagbes regionals ou pa ‘cures. ‘O nero e a findez das macro-formas parecem inversamente proporcionais ao grau de complexidade tecnobgica da cultura em ‘Causa; quanto mais eles crescem (contrariamente a opindo difun- Sida entre nds) mais cesce a fora javentiva dos poets ea capa ‘dade de linguagem de criar um wniversoimaginari e de impor Soclalmente esta pertinncia. Uma das poesias mais elaboradas do ‘mundo era, himeioeéculo, a dos Inuit, ma lingua em que uma nica palavra significa tanto “respirar” come “compor um canto” Em compensagio, na Europa de hoje, a total desfuncionalizago aquilo en que se transformow nossa “cangaofolelica’, di a essa poesia (em seu conjunt) um aspecto heteréclito que impessibilita Es generalizagies, Antigas sucess de “caf cong”, cantos patit- esd ate. XD parse roligiorae edt pllticaecarentas ese Context, relevos de pastorelas galantes da era clissica, reliquias Imedievassitomelos que acompanhavam dancas esquecidas: tudo io, de mistura enche as noseasantologias de “velhascangBesfran- ‘ests onde, de vez em quando, um de nassos posts e eangone~ tetas encontra una incitago, uma imager, um ritmo, um tema de ‘mop, sem que nlsso se pocea evocar ainda uma tadicio. ‘Os meics de comunicagio nos levam aparentemente 2 uma si tuagdo arcaia:exigem generos de regras fis ilme pola, wes- ‘ern spot publcitrio. Festa é uma tendéncia de oda ate “popular” > (iene FoeussGintns 87 estinada a um consumo quanttativamenteiimitado. A ausénela de toda diferenciagio ainda & mais notivel na tnica arte exclusiva- ‘mente oral veiculada por esses meios: a cangio, $8 0 seu estilo musical serve para designar de maneira expecta, © muitasvezes © rome de um cantor da moda: nada que possa indica a definigio de ‘uma classe econhecida como regula. Toda a evolugio da cangio européia, desde os priméndios da cera tecnologia e industria, tendew & distolugao das diferengas, 20 fesmaccimento do proprio vocabulicio que ajudava a mantels Bala cu rondé tam em francls uso apenas arquedlogice; waude- nile (quem quer que tenha sido o misterioso Olivier Bassin, dos Vaux de Vite do sé. XVI a0 XVII veio, por deslzamentos sucess vos, a designar um tipe de cancio em coplas,cantadns a0 fim de uma coméalia ou entao uma paréia, até mesmo tim pout pourri, antes de tornarse em 1792 0 nome de um teatro parsiente. Os Ultimes terms particulates que sobreviveram ex francés, powco a [poucoesvaziados de seu sentido, complaintee romanc, jn ap recem hi cinguenta anos, fora de uma linguagem apfoximativa ¢ fempobrecida, sendo em raros Hkilos em que introdszem un toque pitoresco.como o Romance de Pars, de Charles Tenet ou La com Plante de infdeles que Mouloud)tcantava. Hoye se diz apenas can- '80' Por iso, me poupo aqui de passar em revista as mumeroras € ‘muito incoerentes sugestoes que fram feitas a partir de meados do século XIX, vsando catalogare claslicar poemas ora, progresi- ‘vamente descobertose recolhidos. Do relatirio de Ampére em 1852 aos trabalhos de Coiault nos nossos anos 50 e até no volumoso ‘Manuel de Branch em 1973, inwocaramse, mistarada ow alterna ddamente, com maior ou menor sutileza, consideragieshistrices, Soca ou estes, espage-temporas,remicas ou musicals” Disso resullaram listas de géneros ou expécies,osllando de uma dizia 3 uma trintena, segundo o principio mantide ow a extensSo de infor- agio. Entre elas, algumas apresentam um grande interesse etnoigico: 1 geal de Bausinger, as pariculares dos compiladores do cacione- 1 folerico mexicana, as de C. Laforte para as cangbes quebequen- 85, as de muitos aicanistas, em seu dominio proprio. No entanto, Burgin 1027. 5 Verii-Charperrns 689.2621, 26, Lone prc 88 Fowuss Gi renhuma & plenamentesatsfatsria: quanto mais o objeto de uma pesquisa tende & universlidade, mais se tora problematic esta belecer uma hierarguia entre os elementos que uma anise distin {gue nelas.Além disso, a dispersdo eo desgaste das terminologas {tadicionas toram muito deicada a consideraao das designagtes _genércas proprns a cada lingua. Nao podemos, porém, desprezi- Ths totalmente porque, multas vezs, 6 elas permitem quebrar 0 jugo das clasifeagbesetnocintricas. Nao ¢acsim sem razio que os Toul posse onze expresses especializada, para designar esp cies de poesia cantada; nem é para se deixar de lado que os Manobo 4s Filipinas, segundo E. Maguiso, possuem um termo universal para toda espécie de canto ou de recativo, um outro especial para Drcanto propriamente dito, e ainda quatro outras particulars de- Signando: um, o canto de amor; outro, o canto de guerra, o canto de Semeadura eo canto de colheita; dos, enfi, os cantos de to Dessas especulagSes reultam, pelo menos, globalmente, duas indicagdes seguras 0 que eu denomtine a frgaconstitativa de wma _macro forma se define em termos de fungbes a arden, segundo a natureza daguilo que a programacio comperta, "As lunges definidorse a forge organizam em torno de wm ou cutzo de tr eos. O primeiro é apenas acausaidade instrumental; de fato, a qualidade do intermediirio humano, executando a per formance. Neste eo se reagrapam as formas reservadas 20 Uso de uma faixaetiria, de um dos sexos, dos membros de um grupo profssiona, ou ligadas ao exericio de um trabalho determinado ‘0 principio que rege estas divsdes parece insrito na propria lingua, enquantoestrutura social. Certamente os fatos observes hoje revelam apenas similitudes aproximativas, porém bastante constantes para nos fazer supor uma hemelogia profunda. Meso nas sociedades em que uma longa tradicio de escrita despojou a ‘vor de sua auterdade primeita, a oralidade da comunicagio per- ‘manece, sem leva em conta a escrita, ligada a ceras situagbes do cliscurs: a narativa anedética, 0 mexerc, as confidéncias fits ‘a depositrio dos segredos do grupo, ohomem da mercearia ou do ‘ar; histrias jocosas com sentido politico, sob regimes opressores 5 Rasiges 6655 247-5 Abe 97 p XL; Lab 1% p25, 468 17 23; Du rg 971, $ 1/98 11/8 Pogue 9259 gblenagpon p83 Magulo 9.2 FomaseGonos 89 ‘em que elas ocupam a ultima das margens de lberdade; a conver- ‘3, em todo 0 miundo, objeto de regras e de censuras que muitas cultura ritualizaram; 0 exercico ludic e agonistice que é a pe- chinchs, ‘A poesia oral é uma dessassituagSes: eminent, 20 certo, mas ‘onde se ouve mals ou menos confusamenteo eo das outras. Daque- Tas sobretudo que prolongam entre nds costumes, sem dvida, 120 antigos quanto @ voz humana, a cada mutagio cultural eadapiada As reunstinclas. A consulta médica, no que cla importa de dilogo (e pelos papéis que ela instaura) assume uma stuagao eum discur- 50, cujo modelo remonta as feitigariasancestais: modelo que rea ‘ma a cua peicanalitica em nossos dia. A enunciagio aise fz te- ‘apéutica: pela vocalizaqao dos afets, as puras assocagSes sono 1a, itme da inguagem ea propria posto do falante. No mesmo lugar, port, nao mais face face, © analisa pratica uma escuta {que faz de seu préprio corpo eco da voz do outro, menos de seu ‘sentido do que de sua sonoridade, obrecarregada dos valores sin Dolicos na cena que se desenrola entre eles. (© ensino, bem ou mal, guarda até hoje uma grande parte do ‘mesmo modelo: menos em razio do que a voz comunica do que pela tranaferéncia que a relagto de ensinar institu. Pouco impor fam as diferengas que, de um tipo de cultura a outro, modificam 0 conteido do ensino: aqui uma ciéncia ¢ If uma sabedoria; entre ‘nbs, matérias, em outrassociedades, mancea de viver ora visando 4 promogio individual ora a maturagzo coletiva. © teago funda ‘ental permanece inalterado. ‘A difusto dos meios cedo eiminou as pritica escolares tradcio- ais: f6rmulas mnemotéenias, encantatrias, ritmadas,versfica- das as vezes, poesia mediocre © bem viva que uma classe intel cantarlava com o meste, 0 Barturt Celarent dos escolisticos ou a lista dos departamentos de minha infincia;¢ tants txts ides em vor alta, regurgitados ca meméria, as centenas de verses de Virgi- lio otrde Homero que ainda mehabitam mas que #6 osom de minha pr6pria voz me permite hoje reencontrar.. No entanto,rejitadas tstas vlharas, els que multiplicames, 4 vertigem, seminieios, me- sas-redondas, coléquios ou congresss, estrategasindspensives, ‘em nosso mundo, a0 progresso dos conhecimentos: mas também enna 9. 105; Gied Mayo p. 56.105 0" 30(179) Communit Noho dry 87% p S85 Gras 9p. Tae, p10 90. Fomuse Gerace para além da linguagem escita que a se profere, longa busca uni- ‘eral de uma restauragio da voe Em troca a vow ni perdeu quase nada de sua fungo primitiva nas tradigdesreligioss.- no seo das quas, de resto, se constitu rom ¢ se mantém muitas formas de pocsia oral Na relacdo drams- tica, com efeto, que contronta o hemo rligisus 00 sagrad, a voz interwém ce maneira radical, como poder e verdade. Como poder ‘yor a0 sopr0 da qual se realizam a5 férmulas magicas e que, no transe, leva paza fora de so iniciado, tomado pelo seu deus: vod las Antihas, nacumba brasileira, mas também rtmas de Shakers, tos Estados Unidos do see. XIX, Chlustos na Rusia czansta e, de Esta vor se exalta em glosslaia, colocando, para além da lingua- gem onde tudo ji foi dito, a palavra de um absolutamente outro; Fgia vocal, esvazinda de narratividade, volta As nascentes infan: tis de toda vor ‘Como verdade: nso apenas meies de transmisszo de uma dou na, mas em sua vivéndla, fundadora de uma fA predicagio das igejas institudas oferece um exemplo frace. O elito mals forte ‘explode na margem: entre os conversoresiluminades, os herestacos ‘errantes, como hoje ainda, os pregadores selvagens, perseguindo as tas da terra ioruba na Nigeria, ou os folk preachers negros norte smericanos, caja art ortéria BA, Rosembergestudow aproximan: ‘dovs dos cantores épicos. A poesi oral est apta «astm anges andlogas. A maior parte das culturas possuem ou possuiram uma poesia oral (geralmentecangSes) destinada a mantet, acompanhan fo, a execucto de um trabalho, sobretudo aquele que se faz em ‘grupo, Na Africa, toda taefa manual € acompanhada normalien fe pelo canto Nas saciedadestradicionais esta poesia tem um valor ‘tual trabalho se toma danca e jogo, gera ma paitio; 0 canto ‘compromete al, com a energia do verbo, 0 poder proprio da voz. As ‘yezes bastante elaborada ou em algun casos reduzida a formas breves erepetiivas, esta poesia exerte uma fungio dupa: ela fos Ita regulaizandovo,o gésto da mo, mas contribu também para esalionar 0 operivio que, cantando, se concilia com a maria ltabalhada e se apropria do que fol feito Invertemse as relagoes aparentes, de modo fcr o trabalho parece ser apenas alar do canto, nas corveias coletvas de eamponeses negros, dope de Rouge 85951278, 0.1,231-2, 98 Cole, p21 Campagne FomuseGovcnos 91 Benin, eghe iorubs, 2 coumite haiiana, © tracatin do Beall; nos ‘coros dos pagayeurs congoleses que Gide descrevia com admirac30 fem 1926, e de que se recothem exemplos em toda a Africa. Entre nés, depois que a indistra,impondo ao trabalho manual sitmos artficinis, redzia a nada a pate eriador, estas formas de poesia desapareceram rapidamente. A Lloyd et D. Mc Cormick publicaram em 1967 e 1969 os times exemplos,recolhidos entre ‘9s mineirs gauleses 08 tecelaes da Escécia sotntrional. Talvez pessoas de minha geracdo ainda se ecordem dos pregdes dos ven- ‘Sedores, poesia de tradi secular, alguns dos quais ressoavam finda por volta de 1925 na Paris ou Genebra de minha infancaJ L Collier ainda os escutou em tomo de 1950, nim balrro negro de Nova Yor ‘Ors.o poema constitu um dos aspectos do proprio trabalho, co- smo as cangdes de semenduira, de colheita, de vindima; ora seu uso representa oprivlégio de um grupo prfisional fechado. Seo 0 texto cultural valorza muito este grupo, sua poesia profissions pode se tomar, na sociedade em causa, uma arte maior: assim 08 ‘ios de louvagto dos bovinos entre ce Ttsi de Ruanda ou os Feul {de Mal, povos pastrese guereits para quem a posse de rehanhos indica «'nobteza do homem?. No mais das vezes, € em razio Inversa & marginaizagso do grupo que as eangoes de trabalho pa- ‘ecem tira set vigor: assim na Europa, entre os cs. XVI e XIX, os cantos dos soldados, marinheires, pastores; na América do Norte, ‘ode cowboys ‘Do mesmo modo, uma tendéncia geral no uso das linguas natue ras, parece provocar a especifcagio de certs formas em razio de Uistingso de idade ox sexo, Acusada de forma desigual, segundo as ultras © grupo, este tendéncia influ no esttuto de vasas fore ‘nas posticas cantadas; voltarel a este ponto nos caps. Ve XILEn- ‘re nés, a tendénca hoje se aera, mas permaneceu vigoross por ‘muito tempo, Ela delimita ainda muito bem ume oralidade infant, fnralzada nas primeiras experidnias Voeais do recém-nascido, se ‘mantzada por elas e que constitu, no boo de nosso univers teno- "Baan 1575p. 25040 196, p. 25 Roy 85,7. 23948 Gide p21 29880; Cotter. 19.2" ogi 97 p. 2188; Nesbag p20, 2%6 Clie 2 Rowgan 9% p20 Sah 7 p 30% Sedona, 35-465 Fol. 92 ForsuseGouecs {épico, 0 dlaleto da iltima tibo da pura palavra. © adolescent s6 ferafasta dea, lentament, a contragostoe musts vezesrevolado. OG limite que ele fangueia 0 intoduz a esta “cultura dos jovens” de aque se fou tanto, desde que ela se genealizou em nossos anos nguenta: fundamentada na contestagio dos Iugares adultes e do mundo da excita, reivindicaglo furiosa da voz selvagem, confor tada pela adesio comum alguns simbols, temas imaginiros e prices, dentze os quaiso mais universal (amplamente recuperado pela indsria!) no cuteo sendo a audigto dos hits produzidos pelos idolos®. Em tomo da canglo e por melo dela se instauram Bits de partiipacao, provedares de herds, NNo entanto, noe primeiros tempos da vida da crianga, antes mesmo que com elas instare tim dislogo falado, a mae entra em ‘Stu jogo, teadaptando espontanesmente sua palavra: timbre, alt ‘ritmo, modulados para cantarolar uma eangao de rina, ena ‘Gar algumas polavras em fuly-llk...Serd este 0 fundamento (ou o indie) de uma orslidade especiicamente feminina, fator princi pal (eegundo os etndlogose dialetelogos) da mantengio das tra- {igges no seio do grupo? Ente certos povos lingua das mulheres io ¢idéntia 8 dos homens (no Japio medieval até sua esrta era Giferente}, As vezas ela se dstinge pela colocagio da vaz. Nés ‘mesinos, em noseaslinguas, ingimes com deleiteperceber de ras ‘to, segundo tum de noscosesteredtpos, tal "palavra de mulher lum "tom de mulher". Os dois regstros que toda voz humana pos- sul fisiologicamentegeram em cada ur de nés individualmente, e fem cada uma de nossas culturascoetivamente, uma fensio andlo- fa aquela que provém da dstingdo de sexos no estranha a esta Jogos de entonagSes, clipses, quedas livres, refluxos,errincas crotzadas, tarmontzando 6 bate-papo, palava sen meses neat ‘ssunto, ugar de prazer impune, menos expresso de alguma rea- Hidade autinoma do que © assumir do corpo, desejo desocupado, ascedendo assim 2 comunicabilidade, fora de intengio™. Ou mes to a “ltania”, dizer-dizer-dizer eneantatério,reiterasioritualiza- 4a, eterno recurso inconfessavel ao todo poder do outro, a0 mesmo tempo extenuagio da linguagem e de suas mentiras. Em profund dade, o mergulho, oimpulso, depois 0 desprendimente que sign © orang se © Rel 43,58 Huson pt Clane tale 16, p54 > Pest 1baRCHove Cle. sLany p70. FomaseGevinos 93 fica para 9 mulher a passagem do silencio & palavra: este dm do corpo, felaxo, cls que ela se expe toda inteira na sua voz. O eo de tint cant’ muito antigo ressoa ai, anterior ds inerdigdes da li, talvez anterior prOprialinguagem por isso ela canta tio esponts- ‘Dolado dos homens, se alega, inversamente, a cantada da apro ximagio amorosa, usando com ardil nuances vorais€ ambigli- ades de vocabulivio. Linguagem de homem,linguagem de mulher ‘estas expeciicgBes permanevem de ordem virtual, porém muito (gral e muitas cultura as exploram de acordo com seus préprios fins F verdade que a especlalizacio de certos géneros poetics, se- undo os sexos,decorre, na matoria dos casos, do costume profi: Sonal: na Africa ou entre os indios pueblos, as canes ritmando 0 pilat do milho sie, de fatoe de dieito,cangoes de mulheres. Esta Eoincdéncia no explica tudo, Em aldeias aficanas a populagio eminina forma corsunidade de vida e de tabalho muato estivel, ‘pssuindo seu proprio tesuro de cangSes:cants de trabalho, can bes de mal-maridadae, cangbes destinadas a acompanar a danga ‘os homens, cantos de rituals feminine, eangBes provocatvas im provisadas ¢ de uso interno a0 grupo, camo as brincadeiras que se Sirigem aos co-esposos. ‘Diversas probigdes, desrespitadas de forma desigual na pri tie, intevém, em Vieas sociedades, para manter eta divisfo das tarelas posticas. fem razio de crengasreligisas, provavelimente ligadas a ritos de fertlidade, que o antigo laut ines era confiado somente is mulheres e que mbitas veres thes 6 reservada a fungi de cantar 0 lamento dos mortos! Coveniéncas politas imperiosas| thee recs, om corte nine a Alloa Oriental ede Randa. © direito de executar os cantos relatives aos detentoes do poder: ienealogias,panegircos ou cantos guerreiros. Em outros lugares & {im costume social que se tomo aleatri: assim a poesia oral dos galchos ¢ exclusivamente masculina no Bai, Uruguai e Argen- fina, mas nfo o é no Chile. Quando, em fins do sé. XIX o romance Ibeticoentrou no Brasil, na pitica da cantor, costumava-se con- slderé-lo como tima evagao original, obra de homens, fcando as mulheres detentoras da cantga Wadicional. Mas, sem divida, trata ‘st mais nesse caso de tendénclas psiossociologicas do que de or tzanizagto postica, As “cangBes de amor”, por sua vez, mesmo se 0 fliscurso & Sexualmente demarcado,escapam a essa imitagSes. No 94 Formas Gens entato,exemplos aleandrines, depois medieval coloaram a argon 1607 1 Cano cm es mana dar de get % hp 4 Lay p 1 atone Hp. Sen Kady p XX nen 1975-11212 Roger p18, I-52 Car p18, Fomuse Givens 97 igem 6 fail Quando da imposicso do nome ao ecém-nascido, entre {0s Malink,o pat improvisa(enquanto as mulheres dangam) uma tirada épica Sobre o ancestral de quem provém esse nome Se a louvagio se dirige ao chfe, ela cxata 0 Poder. O panegitico ‘um dos géneros poéticos mais difundidos nas sociedades de Esta- dona Aftica, na Oceania, e também o era na América pré-colombia- na, onde a propaganda inca impunha os temas. Rio de estered ‘pose geralmente ligado, de modo estrit, a regras quace rtuais, teste tipo de poema reveste nas sociedades wadicioals, formas que se referem a0 passado do grupo, e mais ou menos aparentadas & epopéia: cans de auto louver (come 0 conheceratn véras socie~ dadesarcaicas) de um guerrero gabando-se de seus prOpriosfeitos reals, presumidos ou fietcios; genealogias africanas®, amplificadas ‘em Ruanda em poemas dinisticos tio exatamentetransmitidos que ‘A. Kagamé, por volta de 1950, escutandors, pide aleangar a hist tia deste povo até oséculo XVI; izibongo bantus, complexose alta- mente especializados, acumulagio de metiforashiperbolias e de lusbes herdicas,justapostas muitas vezes sem sintaxe narrativ.. sta veia no se esgotou ha alguns anes, o grit Kaba, na Guiné, cantava a genealogia do presidente Sékou Touré. Recuperacto pol tica? Tanto quanto nes Cantos sindcalistas swahilirecolhides por 'W. Whiteley, por volta de 1960. Mais do que iso, convergéncia com a tradigto que, na sociedade tecnologia, assume esta Funglo com sva, por meio de cants patriicos, de cangées de partisans ott de protest; que, no Japio do milagre econdmico, gerou hinos de em- presa como o da Matshushita Eetrie™ ‘A mesma fungio se exerce com agressividade nos poemas guer- reizos, dos quais podemse distinguirtrés espéces, de extenszo tuniverzall a incitagio no combat, elogio dos combetentes pasa deseo canto destinado a manter a agio na batalha, As duas primel- 35 modalidades desempenharam em celassociedadestradcionals lum considerével papel cultural. Assim, entre os povas bantes: em Ruanda, 0 aprendizado dos cantos militares fazin parte da educt- 0 dos rapazes; no reino zulu, ests cantos constitufam um ele- ‘mento erstalizador da vontade nacional, desde 0 reino de Shaka, cultivado, organizado sistematicamente explorado pelo poder: > nega 76.2062, Vania 15, 4S 174, p32 Bm 2% Cama p20 Finegin 9p. 9,17, p27 98 Forsuse Gennes hoje ainda conservadas na meméria, muitas velhas cangies de guerra foram adaptadas 3s lutas politics soca" ‘Do mesmo modo,em norss sociedades industria a poesia gue. reira subsiste fragmentada,assumida em motives oratGrios por ross cangies patrdticas ou revalucionérias. ‘Os cantos de eaga dos povasafrcanos, amerindlos, sitios! a ‘la se aparentavam, exaltando 0 valor moral, a sedugio do perigo, f poder imprevisvel do adversirio e da natureza: marcando a preparagio ou o Krmino das grandes expedigGes coletivas, acom- anhados de dangis, de teatralizacies, transformando em espe culo as reunides das sociedades cinegicas ou 0s funerais de um. cagador lustre ' instinto de conservagio social continua Impliitamente pre~ sente na obra em suas formas, mai ras, de poesia eral narrativa, ‘onando algum acontecimento do passado que j teve importancia para a comtnidade.. mesmo que hoje ele tne soja indiferene™; ou fas formas gnémicas,frequentes nas socedadestraicionas, onde tas contribuem pars 4 tranemissio de tm saber comum ainda hoje no campo, tntosditosrimadoseritmados sobre as condigbes do tempo que va fazer ‘Os dinamismos que subjazem nessa estratégias de defesa e de afirmagio coletivas ganham nuances inflexbes na poesia religion ‘ral Esta abarea as variedades de canto ritual: no ocidente, as itur- fs crists ejudaicas,cuja execugio oral manta pela transmis- Ho escrita, muitas vers antiga do mesmo modo o canto cornice; fem outros lgares s hines hindus e budistas; nos cultosaficanos, fos canto © dangas,celebrando as grandes divindades ou acompa- ‘hando inciagdes, crcuncistes, excsbes™; as incantagdes melan ‘Shs outta njeles dm sauie snags ow aerindioy oo cantos, por vezes muifo eves: reduzides a uma frase repetida — prover and o transe ou provocades por ele, © aos quais G. Rouget con- sagrou recentemente um belo lvro. A introdugio recente de litur- fia catlcas na lingua corrente favorece a criagdo de um género ‘ovo, a pleno vapor no terceiro mundo: a “missa" em verniculo & nan 175. 10,2020 wean 197 101,210, 21-8 Rel p78 2 Rap 1a. i ele es. 55 Can, Sk Feng BS py 1p FomuseGtnnes 99 spoiada nos ritmos populares locals. Eu oui ou me mostrar, no Congo, n0 Zaire, no Chile, na Argentina ¢ no Brasil algumas delas de grande beleza®. Ein Ghana, a iyeja Mtodstasuscitou formas ‘ovas, muito viva, deste canto eclesialimprovisado. ‘Segunda especie as precescantadas, cintices, poesia de conforto fe de adoracto, de uso privado ou pablico e nao especificamente terimonial, Assim em paises islimicor o ongos poemas homilé- ‘eos, sendo que alguns penetraram até 0 corago da Africa, como 0 ctlebre Canto de Bugauta dos haussi; na Ebpia os gor coptas, broves alusves,frutos de uma arte soistiada, exigindo longa ¢ Sia iniclgdo. Todas as igreascrstis possuem uma vasta gama de cintcos, de origem liteririaefolelénca, geralmente difundidos pela escrita, mas de uso exclusivamente oral. Na Africa, desde as ‘arias independéncias, um esfrgo louvavel de adaptacio das pri ticas autéctones permit ie Misses crnr poesia de bon qualidade ‘musicale até coreogrica Sabe-se 0 papel do canto nos movimen- tos earismaticas; nas reunides religionas, portadoras de reivindi- «ages soca, como outroraa do pofeta congo Matswa, eo que ‘epresentou para as comunidades cristas negras da América, sob formas que continuavam a animar, em profundidade, as tadigoes do velho continente perdido”, Nas situacdes de confit religioso, com varias reincdéncias na bistéria europea, o cinco assumiu seu papel. Na Franca, segundo HL Davenson esta forma de poesia, oriunda das guerras de rligi2o, foi criada ent3o pelos huguenotes & margem da iturgla e depois pelos catslios, como resposta. Nalanda, a resstncia a ccupacso {nglesa suscitou, ao longo das séculos XVIII e XIX, uma série de clintcos populares de louvor a Virgem ou & Eucaristia”. Cntcos, Sob vesdmenca Inia, cangbes pastoral, destinadas a um pablico de indilerents ou de incrédulos dos quais © padre Duval, & partir de 1956, fez um género de sucesso: os seiscenos mil discos vendi- dos, em alguns anos, difundiram cangbes as mais originais que se ‘escutaram no comes® dos anos sssenta,evocando os blues as for- mas antgas do jazz. ‘Dian Pipe 2 10 Ma Lae) 48181 Ronagram Mi doc) toh eae) Mes cri) Pat El, PANO asa aac Jen Bucy 85 (clon Voge) isn porn continent) 2 Fea 9p 18622 Cater Daven pS: Hegani97p. 16-7, 3569 Vert Charen, 1873. 100 Fowasr Gevenos ‘Utima expécie:cangSesilustrando uma festa reigisa perc. Assim, em toda Europa, as cangbes de Natal, cjatradigio, atestada ' pati do 6c, XV, mas talvez mais antiga, velcula misturada com frogmentosliterrios.ltdegicos e populares, muitas melodies to rmadas de empréstimo 3s cang6es profanas e mals tarde até Sias de pera® Ei diversas rgiges da cristandade, até no Quebec e na ‘Acid, ainda hi bem pouco, cantavamse os cinticos de Epifania © ‘de Candeliria durante as demandas que se faiam nesses dias, de asa em casa adel: costumes cisaniaando, sem dvida,ant- fas tradigoes pagis, 8 maneira dos cantos de camaval e da masca- ‘da, negaivamenteligados & Quaresma Terceiro eso de organizagio dindmica: uma finaidade mais confusa, modelada sob as cicunstincias, quer se trate de magni fier, de deploi-ae ou de temélas. E este ex nossa sociedade o Sinko eritério relativamente claro de distingao entre a massa da poesia oral Evococio mais ow menos estiizada, de circunstincias da exse Anca pessoal cangoes de copo,cangBes exaltando a emogio que inspira uma poagem, fazendo apelo a0 amar ou conjurando morte: temas gemeos, muitae vezes ligados 2s realizagbes profane man 20-3, 30 Hse 8 Dal 967 FornaceGisenos 101 io especisizads,constivem sind na maior parte das eta ft ins um elemento de tstraiagt, cones como tl Ponto ie uma mesma polaia designa en os Dagan de Gana oxo tna es dana quo acomparha® Ente on rogeses ds Est {fos Unidos edo Canada aingn por volta de 188 rts forma de ‘Sno se evestia de um valor politic, « 3 runt perélca do fnectho da "Confederasan das cinco ragoer”comeava plo I ren dos cele morte durante oexerson. ‘Quanto powsiaamoron, ao dnc personlzado pore 0 usc uma cxpa arava impesoal, tm pequesine mimeo de motives tipo aformalizam, em ante greene Dstnte breve motives prmaron, funds a experienc do dese, ‘ersais de umn inaginaro erence: da vt 8 espera 0 p= Sere amargus, Entetanto, a instinggo matrimonial valorizada rls coletividade eng sa comploadade das rele cond Thine representa um Canes natural — tan quanto as eos docopoc da setvidade a qu la se sta que cotraria Pot {iso en via todoro akores do mundo so cos de canton ope A cular etdntal desde a dnde Média, os ineron na trie da cantgs de moo casamento tora, nesta pic temo deejvel oo ebstco, como nas cantgas de alma {indy estilzando, cin um mesmo acu, pel eric 0 pear do aprotonamentst Lin aguas ree como na Fangs medi “alo anda ena Aca cana scones no s6 no esa {Sinus nagula qu ose par moral esac entrada do uma ‘Gicurstinela eoetiasabarcando tudo o que & “salads * de um grupo sci rela de gum modo, et o impact de at ftowe Se firaanandes que rete conto vere ome ‘ute «fa song americana. Acontcimentosaktando o conn to de une comunidade,ctastofe natural, gut: ea raion da ‘ers um inidnte menos gifane mas com peso designs {o's possi torn imedatamente perceptive, Ou snd algunas io Tevvotns perdlces de um destin obriendo pelos pode- reno como orecrutuento par forge armadas a Risin ca ft, fent de um cil de anges. im nosso din se nero for reernca 8 vida plc, espe Pies p75 cide p55 Wikon p72 Phmean 976 2506 Dupe 9. 2654 Ro 195% p 7898 102. Fomuase Gineacs cialmente nos estados de regime centralizado do terceito mundo, Ruth Finnegan cita os cartes mongoisrelatvas a0 fto de os chine- ‘es terem posto a mio no pais em 1918, ua tal campania cultural; ‘poesia oral preenche aqui, para além de sua prépria fund, a de tum jomalismo engajado e at dirigista.O fato hoje freqiente, em Aiea. Logo depois da segunda guerra mundial, e na medida em ‘que amadureciam as independéncias, uma poesia oral de atualida- de politica (baseada em tadicbes locals de panegiricos ou de ala- ‘ques) acompanhou 0 progresso dos movimentos de emancipacio, ‘depois as campanhas eeitoras: na Tanzinia, na Zambia, em Guiné, no Senegal, na Nigeria; em Kenya, durante a insureicio des Mau ‘Mau; na Africa do Sul, reftées em lingua vernéculaironizam os desmandos policiais®. Algumas veres, @ acontecimento 86 concer” ‘hea um grupo muito linitedo, um individuo, mas susita da parte deste um discurso podtico, que tende obscuramente a digniic-lo universalizando-o: asim as inabeis complaints, recolhidas po JC. Dupont na Acidia, ecompostas na época da primeira gucera mun- lal por um apaixonado que tinh sido rechagada por sua amada (ou pelo seu pa: ‘A-Europa, do séeulo XVII 208 comesos do XIX, conheceu uma vatiedade' de cangies definidas pelas crcunstincas topografias de sua performance: especialmente aquelasdestinadas a um psbli- 0 urbane ou aos lugares publics da cidade, identiieada asim no bojo da literatura de oportage as siet ballads inglesas as chansons de rue francesas" Parece que tal diferensa nfo € mais sensivel hoje fem dias 08 meios a anularam, ‘Todos os tipos assim enumerados, bastante futuantes, prestam se, com ou sem moaieagao forma & oni e 4 paradi. Os termos desgastadossitrae saiico designam apenas um desses efeitos ‘Tomo emprestado, no embaraco da escolha, um exemplo das cangOes infants. Matas dente elas, na Pranga, conservam marcas, hoje mal dicenives, do que fi, hé tanto tempo, alusto catia a ‘uma personagem pblica amada ou odiada: Henrique IV, Guilher- me I Bismark... ou rei Dagoberto, nome emprestado a Napoleto! O feito deirnia cesou de ser sensivel, depois de algumas gerages. agen 7p. 25,2728 «1875, p66 7% Cama. 2702 © Dopontp 204 223 + Necbugp 4103, Fomuse Gtvin0s 103, ‘6 se pode presumir aquilo que foi sua fora original. Em dezembro de 1980, quando eu viajava em Bangui, D. Jouve me transmit textos de uma série de cangbes de roda,recohida alguns meses antes da boca de garotas de uma escola primaria da cidade: obede ‘endo a uma forma e tama tematicatradicionas, elas bordavam Slusder acerbas, em muitas passagens quase obscenas, a0 excim~ pperador Bokassa © ao seu séquito feminine. A partir de elementos olhicos nas conversagdesfamuliars, estas riangas tinhar spon taneamente recriado um cielo épico-lendirio, logo Fxado nesta for- ‘ma pogticaacolhedora e bem funcional: 0 ogro,a ogra su tbo cdinda;antropologiae magia sexual, teminando com oher6iliber- tador © modo de programagio que va macroforma comport in tees nadelinitagho den genero, soe a aturera de ua fog Cita evr, segundo 0 cre a aro feta vn, quant ao tip a0 vane e a0 conteto do discos P*Spronem terns de ops amplitude dae divers var cées to programa discursive. Enendo empirament, por opse conte mas graduae que absolutes Os que feta exe tipo Se dss san, oenenia de das ondons {Sagrado versus "profane por un lado prtadr ou eriador dernier por outro, lidco ou edustivo no plano do simple sear Jie A dlornga entre esses discuss Mutu, po vez, quando se {considera no abutters dire eldade na performance, & nivel cia rcepeio. A prio de tal anionezo centemporinc, tum mestno festival sed saebida como uma mensagem mica OX ielopca por ua parte dos caving, como jog por out SEU versus “nieve tein ulead a paticn (0 clespito das icertezse de ue oe tratou no cap na condo de denier sua defn aos elementos mania, asim como faz Pr Boa propio da dade Média ances, etacomente Re Fn regan quan apres como um tro pertinent geal age Zhe a tata rardade dos lementesnaratives da poesia aca ‘opin, dest, mito conestada™ Enguanto © “nate imple una concstenagi lines de uniades interdependent, 0 F awetonen 1S Be pat Pangan 176.2102, 6197 Aba, p XVI Geet hp. 187,304 104 Fosse Gens -tvco"comporta uma adigf circular ou no ordenada de nida- des mais ou menos sutGnomas. Estes entries, no mais, exigem que se ordene, ao lado do “nartatvo" 0 “dramitico" © do “irc” @ mic” Renta dese prticlridades que © poema “rico” cr gnomico”€em geal mals reve e que os Poemas muito logos So, de modo ger “narcativos” ou “dramatic” “racamos astm sma outa ordem de variagGes:aqulas que concemem a0 "volume" do discus, Dou a ese temo duns acep- Goes segundo cle se refira 4 duragio da performance (ongo reve) on dtu ds falanes(mondloge ws dlog ou pol- Togo) Em mui cults, extension brevidade perience 8 ca racterstcas de un gner, sntidae como tana Roménia, una ‘ino de Nut ultuapasa jamais cem verso, ua Balada pi ‘anda por volta ds oitocents. Em nossos dias, a despelto de sua imprest, pala cnyao implica, no esptito de todos, uma ‘brevidae comtumente matida enire os discJockeys em minutos © segundos. “ks lormasplrillas logo ou pogo) se ordenam em duas ‘asses, iguanente opostas ao mondlogo: conform suas vozes se tltemen regulmente por causa ou nao de uina perodiidade fade Canto atemado") 08 porguc els 0 fazem conforme exe snciastemdticas etemas "anto rami") ‘Ocanto dramatic, companhade de dng ede um minim de figarago, edistingue do teatro apenas na medida em que, no seo di mesma ultra, sentiment gral odissods dela Assim a cn- {ata chiens ciads no tempe da uso popular asim a bela canta tn de Sania Mara Ugg de Ls Ads piada pela lembranga de um massacte de mineiroe alleancia de canto entre coro © ‘cist, iuermesnsinsteumentas e rerotves. Em toca, € como ‘uma forma de eatra popular propriamente dito qu est mareada {anti tole de temas bibios que sugit nos fins dos anos ‘quacenta, partir da prtca dos coral ciss® ‘canto alterado se fz trocar enre dis cantores ou dois coro, ro mais das vez, entre um soit em coo. Nese iio caso, 0 texto se divide gramenteem cola e ero: mas este no perma- ‘nce sempre 0 mest (como na pata oental moderna) en- Guanto dura o canto. Historiament,podese ter por certo que 0 to do rer constitu um tag especie deoralidade as formas © e759 904 135-9; abeagpn, p12 Formas e Geers 105, posticas exritas que 0 adotaram, tomaram-no de empréstimo a lgum género oral A prova foi feta no que conceme 3 Idade Média feuropéia. O reirio coral manifesta, de maneira mais expla, ‘ecessidade de participacio coletiva que fundaments socalmente 4 poesia orl. Volare a esta questio nos captulos X1e IIL ‘A era da difusio do canto alterado, sob suas diversas formas, barca ohorizante itera da histria e das ultras conhecdas. NO ‘cidente, é uma constante do discutso postic, da antiguidade gre~ [g8 epoca romana e aoe nosos folelores até afl blac de Woody Guthrie como Disty old dist, e outros, depois dele. Certos povos, aprisionando a forma por convengio, ciaram tum género muito laborado, embora mute vezes improvisadoe de ma extrema ha- bilidade de execucio: a ponto de ese parecer, por vezes,represen- far alegoricamente a Tata do individuo, s volts com as comple idades do jogo social Assim, o5 aly kasaques que, no século XIX, ‘elebravam vitvias esportivas; es: pantins males em uso ainda recentemente,quadras anilogas por seu estilo aos hk japaneses, (improvieadasalternadamente pelos partcpantes de um concue Sede poesia ou por dois namorados, por um dangarino e sua parcel- "a, por duas familias numa ceriménia mupcial Por volta de 1900, na ha indonésia de Buru, homens e mulheres da aldeia, em grupos copestos,improvisavam alterativamentecantos culos de toga re- Ciprocs: género tio bem enraizado nos costumes que idioma local finguia cinco Variedades dele. Fatossemelhantes senotaram na ‘Arica e na Espanh, ha poucos anos". ‘Quando o canto se altema entre dais cantores solados, ele toma fregientemente a forma chamada, segundo as épocas as linguas, esa, alteragto, tng e outros terms de sentido préximo: disp ‘a estlizada, em principio improviseda mas estretamente regula da, destinand sea valorizar a vituosidade dos poctas. Fora de uso ‘na Europa, no fim da Idade Média, 0 desafio se conservou em al- {gumas aldeias aragonesas e sobretudo na América Latina: desafios brasileiros — de que o Dicimrio dos improviadores, publicado em 197%, distingue doze variedades formas, ou a paya chilena que os Para tentaram tansformar em arma politica, hi cerca de inte anos” Wi 7 3996 nega 976. 10,224,618 7M 125i, Pepa. es Femander pi Banep. is Femandex p44 p 4: Chunep. 990. 106 Fors: Genenos Sob denominagto de “contextuais",reagrupo ts tpos de varia so. As dune primeiras se definem realivamente a um coetexto aco, explicitamente, por uma tadiio ou pela escrit context linguistic, a0 qual nos referimes, falando de “pro= su de “verso”; ou melédico,rlativamente ao qual evecames o aldo” ou 0 “cantado”; context gestual, designando especialmente a dang [Nenhum desses termos possul a careza que, 4 primeira vista, parece caractris-los. Ele pertencem a0 nicleo do campo concel- hal em que, me parece, convém assent uma poetca da oralidade. ‘Depois tatarl disto mais em detalhe, na seqincia dos capitals X ext (© altima tipo de variagio,enfim, se define em telacdo a um con- texto implicit, suscitado pelo priprio discuso, segundo soja ou io improvisado. Volare este assunto no capitulo Xt 6 A EPOPEIA ade pi find sts — Mat mts Dare fade — 0 ‘ic poi frmir~A ppie me O gnero postico oral que, como tal foi melhor estudado até ‘hoe alem dos levantamentos etnogrificos ou de ocasionas ligagies histvicas, 6 @ epopéia. Deste modo nossas posticas testemunham centre nés a permanéncia do modelo homério em uma mitologia cultural impregnada de classicism. Referdncia derradeiza de toda Poesia, imagem arquetipica do Poe- ta, Homero tomou:seefetvamente, por voltade 1780, na Alemanha, ‘objeto de aplicagdo de uma nova ida, dilétic, do tempo, da Hist Fite da filalogin Wolt fio primeito a levantar a questo da oral ‘einicial da linda da Oisstia. Mas el fez de um mode limitado, ra petspecivatnica da unidade de sua composigio e da autentii- dade de suas partes. Durante o sé. XX, as discussbes provecadas pela “questao homeérica” nunca romperam ests limites; entrar to, no centro do movimento geral que levava 0 Romantsmo euro- peu & descoberta das “poesias populares”, elas orientaram alguns Deaquisadores para a investigagso de “poemas herbcos”: desde os anos 1820, Karadzic rcolhia un niimero impressionante deles na ‘Sérvia; em 1860, Rybmikow constatava, nas regides afatadas do noroeste da Russa, avitalidade das batalhas épicas, as bila, que todos admitiam entio terem desaparecido hi muite tempo. 108 Arora Por volta de 1900, poucasregides da Eurisiatinham escapado desta prospecgio. O materia] se acumulava: vast poesia otal nat tiva, polimorta e comparavel desigualmente as diversas formas de folciore. Porm ea ainda nfo havia provocado menhum questions ‘mento de ordem propriamente postica. No decorter dos anos trnts, ‘ horizonte se abria do lado dos pesquisadores anglo-saxces: em 1930, era lancado o livro de Entwistle sobre as baladas européias; «em 1952, o primeizo volume de uma tentativa de sintese de H.eN. ‘Chadwick, The Growth of Literatur, reuinindo as informagdesent8o dlisponiveis sobre as "poesiasprimitivas” Foi entio que M. Parry teve omérite de tratar, em termos tenics, a questao do Fancions mento destes textos, Logo depois de uma campanha na lugoslivia nos anos 1934 e 1985 ele levou para Harvard trés mil equinhentas sravagdes de cantoresépicos e milhares de fichas; mas ele estava lpenas comecando a consignar essa experiéncia em um lvto jt fentdo intitulado The Singer of Tales, quando morreu prematuramen- te. Seu discipulo A.B. Lord copiowo titulo, em uma obra de since ceditada em 1960 e que teve muta repercussio, Sua influéncia textendeu, nfo sem suscitar polémicas violentas, aos estudos sobre a ade Média: neste campo particular os tabalhos de Parry e Lord convergiam e confirmavam os de R. Menendez Pidal sobre o Ro rmanceroe a Chanson de Rola Entotanto, Farry havia inspirado, por outr lado, CM. Bowrs «que na triha dos Chadwick, publicava em 1952 seu Heroic Poetry, anda hoje a‘nica obra de conjunto que possimos sabre a epo pla. Boviraabarcava ofato épico em toda a sua envergadura his- Uric, de Gilgamesh a nossos dias. nfelizmente, preso 208 pres- supostos herdados co Romantismo, as teoriasgencticas emba- ragavam e reseingiam sua perspectiva que era mitada por oma concepgio rgida do “herdico” eliminando os poems nto expres: samente guerrelros ou demasiadamente curtos, 0s panegiices, as deploragbes, eu ivr, por mais indispensdvel que tenha se toma ‘do.como fonte de informasio, fervilha de contradigGes que enfra- ‘quecem seu aleance Desde entio, em parte incitados por Lord eem torna das costes ‘consttuidas em Harvard, um nimero tio grande de monografias ¢ de estudos setorais foram consagrados & epopéia “viva” que ER. ad 171, p12 Mone Pa 15 p41. Asrorti 109 Haymes publicou em 1973 uma bibliografia (hoje jf ultrapassada), ‘completa cm 1975 por uma intoducio ts doutrinas de Lor "Retomarei depois estas tltimas, cujacontribuigio nennuma pod tica da oralidade, que a5 submeta a uma triagem critica, poder negligencar. Lord na verdade, pouco preocupado em teria, nos fomeceu a0 menos, pela primeira vez, um eenirio adequado da dlescrgio do fat ¢pico. Pionero destas pesqusas ele imped dei- ritivamente, a0 insstir sobre a especificidade do oral e de seus Imecanismos produtores,o relorno as confusdes da histra iterdela tradicionaP A concepsioclssia do” poema épico” tal como nos fot {mposta pelos comentadores de Aristéeles,nsprada por uma ideo- logia da escritura, deve ser doravante se nfo recusada, pelo menos dissocada da nogao de epopéia, Definira epapéia nio taefa simples. Refere-s esse termoa uma estética, a. um modo de percepeio ou ds estruturas de narativa? ‘Aguns o relacionam a toda especie de poesia oral narrativa, espe- tialmente de argumento histrico, sem levar em consideracio 0 tom solene a extensio. Para T. Tedloc, um géneroépico propria mente dito, caracerizade pelas rogras de verifiasio, x6 existe m0 ‘Sto de culturassem-letradas; nas socedades primariamente ora, ‘© equlvalente funcional seria o conto: tse que parece confirmada pelos fatoslevantados ma América do Norte, entre os Indios e 0s Inuit (como o ciclo de Kiviog, no Canad), mas que enfraquece 0 valor de outras pesquisas Em ulin caso, assim como D. Bynum, Poderiamos propor que epptia eepice sto apenas designagies me- Faforcas da poesia oral, fundadas sobre o grego ep. termo ele ‘que, em Hoanero, invca simplesmente a palavra tansportada pela conveninte distinguir, sem divda, na linha de Staiger, po pis como forma posticacultralmente condicionada, logo varivel, 0 apcn como expécie de discurso narrativo relativamente estive, ‘efinivel por sua estraturatemperal, pel posigio do sueito e uma ptidio geral em assumir uma carga miica que a toma autOnoma tem relagio ao aconteciment, Deste panto de vista, é mais do lado do romance que do conto que encontrariamos passarelas que convida- {Land toM plc 197 p S07 Chan 197, p25 yma, 285, 2 tow 97H ap 110 Azrors sam ssrobcis compart Benttanto estes eos eum Semahants qos poem apt o qu constis ri pot el Ctulade iter sipercultal de pp medante sas umernas manitsagoe Narmativa de ao, nelaconcentrando seus efeitos de sentido, parcmoniasa em omamentosanexo, a epopéinencen 2 ares {ide vi serge de umn grande enpreenciment, Fundamental ‘ment, ela narra um debate rlira, dente seus protagonists na figs fora do comm qu, mesmo naocainde sempre vencedora de pro, sic admiago. Hn Pent define proven mus ues. A que arqutpesemertare ness foriastaisantias de pena aquele que engensrarn trai ainda viva a pou. Co tempo as? No dominio indo-surope nit proetaram ea en nen pO 1968 5 Hawes 1m cope Ep. 238.2% Day, p16; Kring 178, p., Flanegan 1576p 10, «I97p. Ta1-2 Barna. 12038 Chadwih smanay 1087, 190 Byram p25 Man p15 9-2 Zw, p. 2 5 iene oh Aorta 111 Recorrendo 8 terminologia sugerida no capitulo precedente, pode -mes, a0 menos tentardeterminaro lugar eo "mamento” em que su gia forge consttutiva da epopéi, eos termos nos quais se programa sm onion ‘Parace me quenso poderiamos duvidar seriamentede um modelo subjacent, comum a todas as formas de canto épico, Masse julgar :mos por suas manifestagdes no espago eno tempo, um des tragos de sua ordenagio determina os outros, bem como certs aspecos de sua Jorg: 0 volume do discuso, Com efeito, 0 canto ¢ breve ou longo ‘conforme ee sea diferentemente marcado em varios nivel, ‘Brevidade ot extensao, por seem nogdesrelativss, 0, de fo, 'bem distintasereconheiveis no sein das cultura e das regis onde ‘dis tipos coexistem: como, na Asia central, os cantos herdios das ‘populag@es do Altai e dos montes Sayan por um lado, os do vale de Tenissei, por outo; ou, em nessa Idade Média, a cangi de gosta francesa € 0 romance espanhol. Milhares de verses por um lado, algumas dezenas ou centenas por out epopéia de tpo homeo, por um lade; e, por outro, © que eu chamo aqui de blade ex um entido mais resto que 4 ballad anglosaxdnica, designando toda ‘espécie de eangtonarrativa. Trata-e entao de das reallzagbesdie- rents da macro-orma épica, sem telacho comprovada de subsr- dinagio matus: os Unicas exemplos seguros de epopeias longas resultantes de uma combinagao de baladas sao compilagies literi- ‘as, como o Kale finland eo Kalecipoey esto de Kreut2wald fem 1857; tentativas semelhantes foram relizadas, sem sucesso, fem nosso século, na Toguslivia na Armenia sovidica. A hipétese ‘contra de Bove, fazendo da baleda uma forma cronologicamen- te posterior ao tipo homeérico, nao parece melhor fundamentads” [Rs Baladasseunidas por Lannrct no Kaleslacontinhar de in- _qbenta a quatrocentos versos. As bins russas, de cem a il embo- 1a nos dias de hoje, Marfa Keyukova tenha composto mais de duas aml As baladas anglosaxSnicas eas da Ruménia,tipos mais bem ‘estudados de epopdias breves, uluapassam raramente quinhentos ‘vereos Sto nimeros comparéveis, comune aculturas bastante diver: ‘35 e coresponsendo, a nosso ver, a uma estrutura profunda idén- tica, Edson Richmond esbogou uma definigio ao mesmo tempo temticae narratolgica,baseada num conjunto de poemas euro Pets. Os estudos de Buchan, as observagdes de Bowra ede outros a + owe 7h. 3867, 850, Sl Chadians 9.25 112 Asrortu confirmam: construgdo de uma narrativa com um tnico episi, fem gredagio dramatica, ou actmulo hiperbalico de breves eps ios justaposts, persnager tno, as vezes coletivo (és inmaos representando ua fala ou um el), lutando contra algo mais forte que ele, muitas vezes contra um grupo socal na condigio de Dandido, fora-dsli, profeta incompreendide, ou vingador solité- 1o;este hers pode set feminino, mas detado com todas as virtues iésculas;ocenério no qual ele se movimenta indica estes contra tes Em oposigio & epoptia de tipo homeérico — mals diversifiada, menos linear, centvada de modo menos exclusivo no tema guerrero svc tragos prdprios da balada aparecem ainda mais ritidos por- {que sua estruturatmica e melédica comportarecorrncias regu es: esrofes ou coplas dos modelos anglo-saxbnice, germéicos ‘seandinavos, Quando versos se eneadeam sem cores perio, ‘smo no. Romnceo expanhol ou os cantos épicos dos Bais, as ‘iferengas de tom com a epopéiatendem a se atenuar. Ors as cultu- ras onde se constata tal ocorrenca parecem muitas vezes ter neutra Tizado as oposigbes de extensio: os poemas sérviose bésnios se e= fendem numa gama que vai de trezentos a trés mil, excepcional- mente treze mul versos; as baladas gregase albancsas, de algumas fentenas a varios milhares® Julge-e que noseas mais antigas epopéias medievastinham, em main, de dois» quatro mil vers. Este tamanho parece ser bem ‘omum na epopéia longa. Os cantesépicos da Asia central, recolhi- ‘Sos no Scculo XD apresentavam mais ou menos essa extensao entre ‘os u2beques,os Kazaques eo: Kalmuqueséentreos Karakrguizos, Redlov constaou, de um mesmo poema, verses variando de sei 8 ‘quarenta mil versos,O limite perior das dimensces do género &, ‘tetivamente, muito elevade: somente as condiges socais da per formance (local, época, periodcidade) o fxam mais ou menos, J DDoumes assinalou-me que, nos planaltos da Indochina, a decle rmagéo de cers epopéiae dura de cinco seis horas; as epoptias et, Na Republica de Camarao, até doze horas”. (© Ulahingan,estudado nas Filipinas por E. Maquiso, comporta ow p. 396; Oman 87, ph Chadwick 1996p 27°76 Comyn ‘Ridond.p. 9 ach 768, © ow 9 9,303 © Nat p36 Altande 19% p 7 Avorn 113 ‘um nimero eleva de eplsédios dos quais cada um pode se objeto dle uma performance isolada: até agora, 0 mais breve de todos os {que foram gravados dua tts horas e meia; 0 mais longo, dezeito Thoras em téssess0es. Madame Maquiso avaliaser uma centena 0 sndiero de episddiosexistentes: mas, hd séculos, noves episiios ‘ho riados por varia, adic, desmultiplicagaa: um eantor, emt 1965, dizia conhocer ‘um mil tezentose cingentae cinco dees, ‘ndmero que deve ser tomado, sem ddvida, simbolicamente, mas {que é contudo, significative” Foi assim provavelmente que, du ante seu periodo de radio oral constituu-se o imenso Malubl~ ‘ra hindu, cujo ico fe uma gesta real do sé. X antes de nossa fra e que, quando de seu registro por escrito, comportava nada ‘menos que centoe vinte mil versculs, ‘Dos ts elementos do que denominel ere penric,o rimelto, a ‘mediagio humana, parece regulado por un costume cufiosamente tuninime: a epopéia longa é pronunclada por um home. Esta egra ‘no fem, que cu saiba,nenhuma excep. A epopéia breve pode, em ‘eras culturas, ser ocasionalmente pronunciada por uma mulher. A fplido em cantar ou recitar as formas breves provém da meméria individual eda qualidade vocal nao exige uma formagio particular ‘As formas longasrequerem o dominio de tcnicas precisa: 0 execu tante é um especialista, muitas vezes um profissional. Em algumas cultura, pertence ama castadeterminada ou como em Camarces, ‘3 uma astociago incladora& qual se atubul um grande prestgio. "Na tradigio de um povo, a epopeia constitu fequentemente ut vasto conjunto narrtiva, formalizado de modo bastante rigoreso, ‘mas do qual cada rectante, em cada ocaito, 6 comuniea um ini ‘pledidio, Nenhum individwode certasetinsafrcanas jamais recitou ‘uouviuatotaldade da epopéianacional, decujaexisténciaentretanto ji ouvia falar e,cajo contetido conhece vagamente- Nenu recta or de Ulekingan o conhece por iteio; nenhum dos cantorestibeta- ‘os consults até aqui pode recta todas as partes do Ge-Sar suas Alusbee parecer indiar que um dos sus conrades, no Leste seria capa de fazt-l. 'A finalidade expressa da epopéia,relativa a fungio vital que ela desempenha para'o grupo humano, seria expressa em termos de fespago: ndo & tanto 0 espaco geogrifico detinindo uma area de fexpansio, uma “pitsa”, quanto extensio moral cultivada e ad- Magus p25. 114 Assoren smintrada por geracies,vivida como uma regio dinkmica ence ‘meio natral eos modos de vida, Desta rela a epopéia desara {ue € una conguists, Como qualquer poesia ol la se exece no ‘Be deste expasor mas finge se dedobrar num espaco ainda mais Smplo, Para e auitrio ao qual €destinadaque se he destina),€ “utrbiograia, sun propria vida coletva que ee se cont, nos cone fins do sono eda neutseE este sentido, mesmo que tena Sido wocada pela lembrangs do acontecimento mais proxino © me Few incertoy que cl nstura uma cg, «esta consi imedat mente, como tal, um bem coletivo, um plano de referencia e 2 justicaiva de um comportamento, do hé "dade herSica, © © "lompe dos miter” io 0 da epopéia x6 existe a incessant idez do vivid, uma integrayso natural do pasado no presente A infor Snagiotransmiida pelo poema pode assim, a0 Yongo da tradi, Inatifearse com as crcunstingias So fin na meméria 0 que € $Seilmente iA epopéia dos Gana de Gana canto mit tempo Sete ancstat mite, igo sete chef territorias existe Sesenta anos depois dos primeiros restos, © mero de hers totavareduido s cnc, pot a evolugi polis abolra dss des. ‘Ss anigascrcuscige™- A epopela no tem nada de um u- Seu. Nao hi una hstria propramente dit, ras uma verdade tectiada pelo canto. “Assim estrelamente implicada nog constitu aextabildade ea continundade do grupo, sepopei no dita dese algra decontare dleouviconta. Se el tare conforta€ por eta legis. A epopéa eqn o tipo. As calstrofes sto to somenteocsito de hon ‘inda que her apa emagao,opovo aasaco por suainfllda- mn dkeurn pier ranscede 8 ete. individ eee. Ele ‘Siabelece um modelo de ago, desig a oigem eof deuma es, ‘laa uma Ordema forma ds mos Duranteasduascampanasem Gq E Maguzae sua equipe registrram a Ulthingan dos pees Manob, a audio deste pocma no gravadorprovoco, nos vers daregiio,umefetedechoque so pono de vie dees expel 0 ‘ese de aprender a canto. Toda una culture morbunda pared querer revive asim revelada asi mesa Bs porque sem dvida,0 {ino épico narra o combate conta Outro, oeatrangeio hot, © inmige exterior ao grapo ~ quer ete sp uma nag, uma caste > Capo, 7 Mai p24; Cody Wap. P-0 Adorta 115 social ou uma familia Talvez apenas o Heikéjaponés, Longe de Usar este procedimento brutal, spi a manimidade de um pov ‘pela aarativa de dlaceramento entre os civ: dai uma desconian- ‘8 para com © herolsme, dai a nuance a impressio de fugacidade Ameacadora auséncia de glia sem remorso. ‘A epopéia tende a0 "herbi", se tomarmos esta palavra como ‘exaltago de uma espcie de superego comuniirio, Consatow-se que ‘seu terreno mais favorsvel 60 das regidesfrontirigas, onde rena uma hostiidade profongada entre das races, duas cultura, das {quai nenbvama domina evidentemente a outa. O canto épico ers {alla a hostlidade e compensa a incertera da competgso;anuncia {que tudo acabaré bem, proclama 20 menos que 0 direito esté do ‘oso lado, £ assim que ele conduz a uma agio eficaz. Durante & conguista da Argélia, por volta de 180, os oicialsfrancess, para Incitar ao combate os auxiiares recrutados na tibo dos Beni Amer, faziam seu poeta, Si Mestf, cantar baladas épicas. Ouvi dizer, hi dois ou ts anes que, na Somalia, era 0 ridio que canclamava os tantores de gesta 3 fim de apoiar os guerreirosengajados na cam panha de Ogaden Se est 6a fnalidade global do género épico, seu pretexto, ator de ondenaio gerador da narrativa, parece poder se seduzir a um ‘ou outro destes doi pos! os que Bowra denomina "xaménica” e “eréico”,considerando o primeiro como historicamente anterior a0 segundo, Nada é mais contestivel ea distingio exige muitas ‘nuances. Pefiro opor “hstérieo” a “mitico”, como termes de uma ‘dupla polaridade que age no mesmo campo discursvo. A oposicao ‘entre profano sagrado, pertinente na mair parte des outros g&- reros orais, se encontra, assim, mais ou! menos netalzada. pela epopéia. Atuacio de forces consideradas como humanas, de um Ido; representagso hiperbolicamente miméticn de ages que per tencem a0 campo (muito varivel conforme as cultures) da expe riéneia; , de outro lado, forgas eonsideradas sobre-humanas, for ‘mat figraisfantasmaticns gerando a representa de tm univer- 1 sentido e desejado come diferente para sempre. Mas entre ume futro dests tipos ideas, a fronteira é mal controlada. O status ow 1975p. 29-90, 79 Havelock 948 Ei pM 7 Siler wise. paie 116 Acrorsin “ontoligico dos personagens (humanos-divinos) se dstingue apenas ‘en um rdrnero linitado de culuras;€ mesmo para aquelas que nfo ‘onfurdem o conquistadore seu deus ttclar, 0 tempo e a tradigso ‘se encarregam de embaralhar a distibuicso. entre as epopsias de predomindncia "histérca”,citariamos tanio 0 Soundiata mandinga, 0 Held japonés, ou a Chanson de Ro- land, da qual um nimero maior ou menor de seqiéncas narativas ‘mostram algum rflexo, direto 0 indireto, de acontecimentos mil fares ou politicos do passado nacional. A'dose de “historcidade” fecapa a qualquer medida global a porsia do. Soundinta parece ‘eleular suficientes informagdes confirmadas sobre o Mali medie~ val para constitu, ace olhos dos historiadores, uma fonte vida E preciso, a0 contario, um grande esclarecimento arquedligico pata ler em filigrana na Ostssie «historia das migragbes helénices Ep primeira miléno, E certo que 0 distanciamento no tempo con farce a imagem mas no ¢ esta @ questo. A histria fornece 20 poeta épica tim cenério narrative maledvel, menos importante pe Ins informacies que comporta do que pela emogio que val provo- car, Uma mesma as80, de um poema a outro, de uma versio = ‘utta, pode ser reportada a um hers diferente, ou inversamente; pPersonagens de épocas diferentes, reunidos sob um mesmo teto. ‘Ciclo intelros veiculam, deste modo, durante sécules, sob a mas- cara de tansposigies sucessvasealeatrias, as marcasindeléveis de tum acontecimentafandador..cuja permanéncia, justamente, cons- titulo ciclo, As invasbestrtaras do sé. Xl ainda se perflam na relaguarda de muitas bilinas russ, cujo contexto histérco real, ‘segundo os dadoe da erudiqio, deve ter sido mats querelas de vizi- ‘hr anise Cranvdea-Rucunce etehénbpziow doa @re-interpretado temfungfo de wma lembranga maior oculta mas ativanoinconsciente toletva, As figuras de1v3 0 Teerive, de Pero o Grande, de Catarina TT originaram sucesivamente outs cilos ot se integraram 205, precedentes A epopcia sérvia, de assuntos muito diversiicados, femprestadosa todas as guertilhas lancadas contra os Turcos desde © ‘fe: XVL leva a mares original da batalha de Kossovo; as baladas albanesas, das vitérias de Scanderbeg". ‘De acordo com estas renovagSes incessant, uma ciculagio que tende a se estabeece, leva do histrco a0 itico ou, ks vezes, deste 3 an 75 ap. 731, 2.2019. 920,150. Bowen 98 p26, 388 S12 24 Otay 17 p10, Acrorea 117 Aquele.O contesto cultural mostra-s entio mais ou menos favoré- vel Nas sociedades sm esrita, estas trocas so intensas. O moet de ‘Camardesencenatribosimaginirias, situadas num espago ut6pico — ‘que pelo menos, poeta eouvintes assim reconhecean, mas que foram comprovadamente até o sé: XVill a ptria bem real ea etna ances tzal do povo que emigrou entio para a floesta. Quanto a0 tema nayrativo principal do met, ele exata a luta do homem contra as Forgas naturais,visiveis einvsives,e seu acesso& imortalidade. A tradicae do Gear tibetano, do qual M, Helier recolheu no Nepal ¢ publicou em 1979 um fragmento com seis horas de duragio, est Comprovada desde o séc. X; varias de suas versées circulavam, a titulo de livro edificante, nos eonwventos lamas antes da invasio chinese centrado na figura possivelmente histérica de um conquis tadoraspirando & realeza universal, 0 Ge-Sar constita uma soma ciltural religona to densa ecomplexa que ceros bardos 6 podiam ‘anlar seus techs lends num manusrito” ‘© extnso Lahiyganforece o exemplotpico de uma epopéia de forte predomindnca "mitica”. Medianteas nove verses, em muitos ppontes divergentes, registradas entre 1963 ¢ 1975, subssteo mesmo ‘squema narrative profundo: patrareado inca tania impos fuga pparaa liberdade, mensageito da salvagi, vise, sinais miaculasos Anunciadores de uma restauragio definitva, descoberta do sarima, ‘eicuo divino que sobe ao céa condlido por Agys, herG-pai divine, ‘nfm intlagdo geral na alegria do Paralso™..Esquema de origem ‘ili, mestigado com tradigbes locals? £ pesivel; mas sabemas que as populagGes autéctones de Mindanao antigamente foram rechaca ‘das pelos mugulmanosvindos da Indonésa: esta lembranga histrica ainda permanece no mito? Em nosso século, nos anos vintee tint, nds Messias se apresentaram sucesivamente aos Manabo, flando, conforme afirmavam, 0 discuso dos deuses e prometendo condu- 2iros figs ao paraiso do ancestral Agyu. Umia destas aventuras ‘casionou revolla sangrentas com mugulmance da regio e, nase ta que hoje ainda sobrevive, pobres diabos coninuam esperando 0 sarimbar 'Nenhuma epopéiaé totalmente desprovida de ingredients histri «0, qualquer que ej a opacidade mitica do dscurso. Em nossa visto ‘cident, 0 Romero antigo ou, até mesmo a despelto do perso- 7 ong Nabtomé lies, p18 * Mag, p67

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