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Complexo Juridico @ CURSO DO PROF. DAMASIO A DISTANCIA MODULO I LEGISLAGAO PENAL ESPECIAL Drogas Lei n. 11,343/2006, Rua da Gléria, n. 195 —Liberdade — Sao Paulo — SP — Cep: 01510-001 Tel./ Fax: (11) 3164,6624 — www.damasio.com.br LEGISLAGAO PENAL ESPECIAL Drogas Lei n. 11.343/2006 Prof. Luiz Fernando Vaggione 4, INTRODUGAO A Lei n. 11.343/2006 entrou em vigor em 8.10.2006, ou seja, 45 dias apés a sua publicagdo, ocorrida em 24.8.2006, consoante determinou o art. 74 desta Lei. A contagem do prazo de vacatio legis obedeceu ao disposto n6§-1.° do art. 8.° da Lei Complementar 95/98. Acrescente, ainda,.qlienos termos dart /75.da LeljAntidrogas, foram revogadas as Leis n. 6.368/76 e n. 10:409/2002. Recorda-se/que a Lei n. 10.409/2002 diSpunha sobre aiprevengao, o tratamento, a fiscalizagao, o rae 0 repressio 4 a0 uso € ao frafico ilicito de produtos, substdncias ou drogas que causem dé fisica 6u psiquica! Enviado 0 Projeto a sangdo, decidiu o Exmo. Sr. Presidente da Repiiblica vetar grande parte dos seus dispositivos, entre eles o art. 59 que revogava expressamente a Lei’ n. 6.368/76. Consequentemente, coube ao operador do: Direitii a tarefa de comparar os dois textos legais, aplicando a Lei de Introducdo a0, Cédigo Civil para identificar quais foram os dispositivos da Lei n. 6.368/76 que confinuaram em vigor: “a lei posterior revoga a anterior quando expressiinente o declare, quando seja com ela’ incompativel ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior” (art. 2.°, §:1.°, do Decreto-Lei n. 4,657/42). Assim sendo, continuaram em. entre outros, os arts. 12 a 17 da Lei n. 6.368/76, que definianhas figuras tipicas. penais. Com a vigéneia’da Lei n. 11.343/2006 toda essa dificuldade:foi'superada. O novo texto legal, dentre outros importantes temas, disciplinou os crimes,e! 9,*procedimento a eles aplicével: Para melhor compreensio, apresentamos, na sequéncia; a estruturada Lei-Antidrogas: TITULO I- DISPOSIGOES PRELIMINARES TITULO II-SISNAD CAPITULO I - PRINCIPIOS E OBJETIVOS CAPITULO Il - COMPOSICAO. CAPITULO I - VETADO TITULO I - ATIVIDADES DE PREVENGAO CAPITULO I- PREVENCAO » » CAPITULO II - REINSERCAO SOCIAL DE USUARIOS E DEPENDENTES CAPITULO II - CRIMES E PENAS > ART. 28 TITULO IV - REPRESSAO A PRODUGAO E AO TRAFICO CAPITULO I- DISPOSICOES GERAIS CAPITULO Il- CRIMES > ART. 33 E SS. CAPITULO II - PROCEDIMENTO PENAL SECAO I - INVESTIGACAO. SECAO II— INSTRUCAO CRIMINAL? CAPITULO IV — ~ APRENSKOIARIRECADACAOMDESTINACAO DE BENS DO ACUSADO TITULO V gggorerscao IN CIRNAL ff £ TiTULO YE Disposicoxs TRANSITORIAS diige=et 2. FINALIDADES DA LEGISLAGAO PENAL CONTRA AS. DROGAS QUE CAUSAM DEPENDENCIA O uso ‘de drogas sempre fez parte do cotidiano das sociedades. Richard Bucher, psicanalista, doutorem Psicologia pela Universidade’ Catdlica dé Lovaina, Bélgica, enfatiza que “em! todas as sociedades) sempre existiram drogas, utilizadas com fins religiosos ou culturais,, curativos, relaxantes ow simplesmenté prazerosos. Gragas as suas propriedades farmacolégitas, certas substincias naturais!propiciam modificagdes das sensagées, do humor e das peréépgdes. Na verdade, o:homem desde sempre tenta modificar suas percepgdes € sensagdes, bem comid:4¥elag’o consigo mesmo e com seus meios naturais ¢ sociais. Recorrer a drogas psicoativas representa uma das iniimeras maneiras de atingir esse objetivo presente na histéria de todos os povos, no mundo inteiro. Antigamente, tais usos eram determinados pelos costumes e habitos sociais, e ajudaram a integrar pessoas na comunidade, por meio de ceriménias coletivas, rituais e festas. Nessas circunsténcias, consumir drogas ndo representava perigo para a comunidade, pois estava sob seu controle. Hoje em dia, ao contrério, assiste-se a um desregulamento desses costumes, em consequéncia das grandes mudangas sociais e econémicas” (Drogas: o que é preciso saber para prevenir, 4.* ed.. Sao Paulo: Imprensa Oficial, 1994, p. 10). 0 Centro Brasileiro de Informagdes sobre Drogas Psicotrépicas (Cebrid), da Escola Paulista de Medicina, conforme nos indica Richard Bucher, dispde de dados amplos ¢ fidedignos sobre a situago do consumo de drogas no Brasil. E desconcertante averiguar que 0 alcoolismo (uso crénico do alcool) atinge de 3 a 10% da populagdo brasileira! O que 4 dizer entiio do crescente uso de solventes, ansioliticos, anfetaminas ¢ Cannabis sativa (a popular maconha), entre nossos estudantes de 1.° e 2.° graus, conforme jé comprovava pesquisa realizada pelo Cebrid em 17 cidades brasileiras, em 1989? Passados os anos, no é dificil imaginar a grave situagao atual, devido a grande penetragao do crack e mesmo da cocaina entre os nossos jovens. Tal fenémeno nao se circunscreve as capitais brasileiras ¢ suas regiGes metropolitanas. O trifico e 0 uso ilegais de drogas avangaram sobre pequenas cidades do interior, alvos débeis para a agdo da criminalidade organizada. Tal quadro, aliado aos niveis assustadores de violéncia urbana, certamente merece a atengao e 0 trabalho de toda a sociedade. A tarefa reservada aos educadores, informando e conscientizando a juventude, ¢ fundamental. Ao Direito Penal, por sua vez, também esté reservada importante tarefa. Como meio de controle social que é, cabe 4 Legislaco Penal prover 0 Fstado dos meios necessérios & prevenedo e a repressio do trifico e do uso ilicitos de drogas. Mais do que em outras épocas, do Direito Penal a concretizagao de seu papel repressivo ao tréfico dé drogas. Em relagao a0 usuiitio hé, por um lado, pelo menos, © consenso de que devai ser objeto de um intenso trabalho’ ‘de prevencio, mais do que de Tepressaio, 0 que se, adotouina Lei n. 11.343/2006, notadamente art. 28. Ao dependente, por outro lado, continua’ sua disposigao @ Tle, piblica para querthe, seja oferecido o cuidado terapéutied do qual necessit s desafios a cuperdt a imensos e serdo, certamente, veritidds com o trabalho sérig ¢ con da sociedade e 3. CLASSIFICAGAO DAS DROGAS QUE ROVOC: AM ie eNDENCIA Segundo estudo de José Elias Murad, farmacologista, publicado na Revista do IMESC, em 1982, & possivel dividir as drogas* que provocam: dependéncia em dois grandes grupos. No primeiro grupo-'€stio os ‘narcéticos ou entorpecentes ou estupefacientes, cujas propriedades farmacol6gicas sfio'0 combate & dor (analgésicos) ¢ a indugo ao. Sond (hipnoticos). Se; 9a classica définicdo de Di Mattei, entorpecente € um veneno e eletivamente sobre © cortex cerebriil, suscetivel de promover agradavel ebriédade,)..de ser ingerido “em doses Grescentes sem determinar envenenamento agudo dty,morte, mas capaz de gerat'’ de necessidade téxica, graves e perigosos disturbios de absti $ ficas e psiquicas, profundas e progressivas’. Os psicotrépicos integram 0 segundo grupo. Como o termo ¢ bastante amplo, busca-se restringi-lo as drogas que ensejam aces peculiares sobre o sistema nervoso central. Segundo Murad, nesse grupo devem ser incluidas as drogas que tém a capacidade de modificar 0 comportamento ¢ a atividade psiquica do individuo. Porém, nem todos os psicotrépicos provocam dependéncia. Em sintese, a dependéncia é a sujeigo do individuo as drogas, exposta pela necessidade fisica e/ou psiquica de ingeri- las. Segundo a classificagao formulada por Delay e Deniker, citada por Murad, os psicotrépicos dividem-se em trés grandes grupos: psicolépticos, psicoanalépticos psicodislépticos. " GREGO FILHO, Vicente. Taxicos: Prevengdio ¢ Repressdo. 1." ed. Sto Paulo: Saraiva, 1996. Os psicolépticos so drogas que reduzem a atividade mental, podendo ser destacados 0s hipnéticos e os tranquilizantes ou ansioliticos. Os psicoanalépticos so os, estimulantes psiquicos. Entre eles temos as anfetaminas, com ago oposta a dos barbitiricos, eliminando a fadiga e o sono. Os psicodislépticos sfio drogas que distorcem a atividade mental. Séo os conhecidos alucindgenos, responsiveis pela produgao de delirios ¢ alucinagées. Esto entre eles, por exemplo, a Cannabis sativa, a mescalina (alueindgeno forte extraido de um cacto mexicano) e o LSD 25 (dietilamida do acido lisérgico), produto semissintético obtido a partir do espordo do centeio. 4. APRECIAGAO PRELIMINAR DA LEIN. 11.343/2006 As disposigdes preliminares da supracitada Lei, dispostas no Titulo I, criaram 0 Sisnad (Sistema Nacional de Politicas Piblicas sobre Drogas), cujos principios objetivos foram disciplinados no Tiful6[lj que abrange os arts. 3.° a 7.°. Em suma, 0 Sisnad, nos termos do art/3.® da Lei, tem a finalidade de. articular, integrar, organizar e coordenar as atividadés relacionadas com a ‘prevengio do juso indevido, a atencfio e a reinsergao socialde, usitdrios e dependentes de drogas, bem como a repressio da produgao no autorizada e do tréfico ilfcifoude, drogas. Os Principios que norteiam a consecugtio das tarefas atribuidas ao Sisnad esto. dispostos no art. 4.°. Dentre eles destacamos: inciso IX — “a adogio de abordagem multidiseiplinar qué reconhoga a interdependéncia ¢ a natureza complementar das atividades de iprevencdo do uso indevido, atengdo e reinser¢do social de ios ¢ dependentes de drogas, repressao da produgdo nao autorizada e do trafico ilicito de drogas”; inciso X — “a observancia do equilibrio entre as atividades de prevensao do uso indevido, atengaig ¢ reinser¢do social de usuarios e dependentes de drogas e de repressdo a sua produgaio do autorizada e ao seu trifico ilfeito, visando garantir a estabilidade e 0 bem-estar social”. No pardgrafo tinico do art. 1 Shea importante ‘definigQ dotermo “drogas”, que constituird 0 objeto|material de varias das infragdes penais da Lei em estudo. Drogas, segundo 0 dispositiyo'supracitado, s40-as “substancias ou os produtos capazes de gerar dependéncia, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder, Executiv”. O pardgrafo unico'do art. 1.° completa-se com o art, 66 da mesma Lei, segundo qual: “para fins do disposto no pardgrafo tinico do art. 1? desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substancias entorpecentes, psicotrépicas, precursoras e outras sobre controle especial, da Portaria SVS/MS n. 344, de 12 de maio de 1998”. Vé-se, portanto, que a Lei Antidrogas ratificou o sistema adotado pelas revogadas leis antitéxicos. Trabalha-se com um rol fechado dessas substéncias ou produtos, distribuidos em listas na citada Portaria, que so atualizadas, periodicamente, pela Anvisa (Agéncia Nacional de Vigilancia Sanitéria), No art. 2.° reiterou-se a proibigéo, em todo o territério nacional, de plantio, cultivo ou colheita de vegetais ou substratos dos quais possam ser extraidas ou produzidas drogas. Pode a Unido autorizé-los, desde que exclusivamente para fins medicinais ou cientificos, podendo determinar o local e 0 prazo, fiscalizando o cumprimento de suas determinagoes. 5. LEI N. 11.343/2006 — CULTURAS ILEGAIS - COLABORAGAO DA SOCIEDADE Previstas no Titulo VI, tais disposigdes enfatizam, notadamente, a colaboragio das pessoas fisicas ou juridicas na prevengao da produgo, do trifico ou do uso indevido de drogas que causem dependéncia fisica ou psiquica. Diversamente do que ocorreu nas Leis n. 6.368/76 e n. 10.409/2002¥iaiatual Lei Antidrogas preferiu no utilizar a expressio “dever de colabdragéio”, limitando-se a enfatizar sua importancia no combate a0 uso e a0 tréfico ilicitos de drogas que causam dependénéia. No art. 68, por exemplo, consta que: “a Unido, os-Estados, 0 Distrito Federal e-os Municipios poderio criar estimulos fiscais ¢ outros, destinados 88"péSS0as.fisicas e juridicas.que colaborarem na prevengdo do uso indevido de drogas, aten¢do e. reinsereS0 social de usuérios ¢ dependentes ¢/na repressiio da produgao nao autorizada e do tréfico ilicito de drogas”. Mencionado artigo concretiza um dos principios de atuagao do Sisnad. Nesse sentido, 0 inciso V do art. 4.° desta Lei: “a promogao da responsabilidad compastilhada entre Estado ¢ Sociedade, reconhecendo a importancia da participagao social nas atividades do Sisnad”. Na mesma orientacdo o inciso IV do art. 19, que trata das atividades de prevengaio do uso indevido de drogas: “o compartilhamento de ilidades e a colaborago miitua com as instituigdes do setor privado ¢ com os diversos seementos sociais, incluindo usudrios e dependentes de drogas e respectivos familiares, por meio do estabelecimento de parcerias”. A colaboragdo de todos, pessoas fisicas e juridicas, foi e ser sempre, imprescindivel para 0 ‘combate ao uso ¢ trifico ilicitos de drogas. A Lein. 11.343/2006 abordou-a de maneira diversa, afastando medidas punitivas antes existentes. E interessante a comparagao com os textos revogados: aay ban Lei n. 6.368/76 Lei n. 10.409/2002 E dever de toda pessoa fisica ou|E dever de todas as pessoas, fisicas ou juridicas, |juridica colaborar na prevengdo e|nacionais ou estrangeiras com domicilio ou sede repressio ao trafico ilicito e uso|no Pais, colaborar na prevenc&o da produgio, do indevido de substncia entorpecente ou|trifico ou do uso indevidos de produtos, que determine dependéncia fisica ou|substéncias ou drogas ilicitas que causem psiquica (art. 1.°, caput). dependéncia fisica ou psiquica (art. 2.°, caput). Dever de colaboracao — Sangées Lei n. 6368/76 Lei n. 10.409/2002 As pessoas juridicas que, quando solicitadas, no prestarem colaboragdo nos _planos governamentais de prevengao e repressio a0 tréfico ilicito © uso indevido de substincia entorpecente ou que determine dependéncia fisica ou psiquica perderdo, a juizo do érgao ou do poder competente, auxilios ou subvengdes que recebam da Unido, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territérios e A pessoa juridica que, injustificadamente, negar-se a colaborar com os preceitos dessa Lei, terd imediatamente suspensos ou indeferidos auxilios ou subvengdes, ou autorizagdo de funcionamento, pela Unido, pelos Estados, pelo Distrito Federal ¢ pelos Municipios, e suas autarquias, empresas piblicas, sociedades de economia mista e fundagées, sob pena de responsabilidade da’ Municipios, bem como de suas autarquias, empresas publicas, sociedades de economia! mista © fndapSes (rt galeravo nico). autotidade concedente (art. 2. § 1.°) dns is 5.1, Convénios. Entre os instrumentos de prevengao podemos citar, ainda, nos'termos do art. 64 da Lei n. 11.343/2006, a possibilidade de a Unido, por intermédio dai Senad (Secretaria Nacional Antidrbgas) celebrar convénio com 03 Estados, com o Distrito Federal e com organismos orientados para a prevengao do uso indevido de drogas, a atengo e a reinser¢do social de usudrios ou dependentes € a atiiagdo na repressao a produgao nao autorizada € ad tfafico ilicito de drogas, com vistas na liberac4o de equipamentos ¢ de Tecursos por ela arréGadados, para a opi € execusao de programas relacionados & questo das drogas, Sey 5.2. 0 Uso da Infomgeeae A eficiéncia no controle da produgao, do trifico e do uso ilegais de drogas que causem dependéncia exige informagao. Sem ela ha dispersdo de esforgos e resultados ineficazes. Por isso, a Lei n. 11.343/2006, nos seus arts. 16 e 17, determina que as instituigdes com atuagdo nas areas de atengdo A saiide e da assisténcia social, que atendam usudrios ou dependentes de drogas devem comunicar ao érgio competente do respectivo sistema municipal de saiide, os casos atendidos e os ébitos ocorridos, preservando a identidade das pessoas. No art. 17 a Lei Antidrogas determina que os dados estatisticos nacionais de represséo ao trifico ilicito de drogas integrario sistema de informagées do Poder Executivo. 5,3. Inspegdes Sanitarias Também faz parte do trabalho de prevengdo a inspegiio em empresas industriais e comerciais, em estabelecimentos hospitalares, de pesquisa, de ensino, ou congéneres, assim como nos servicos médicos e farmacéuticos que produzirem, venderem, comprarem, consumirem, prescreverem ou fornecerem drogas que possam causar dependéncia fisica ou psiquica. Embora nao prevista expressamente na Lei n. 11.343/2006, ao contrério do que ocorria no art. 6.° da revogada Lei n, 10.409/2002, parece-nos perfeitamente possivel que a Secretaria Nacional Antidrogas — SENAD, o Ministério Publico, os drgaos de defesa do consumidor e as autoridades policiais possam requisitar a inspego ora aludida as autoridades sanitérias, como medida eficiente A prevengdo ao uso e ao trafico ilicitos. 5.4. Plantio, Cultivo, Colhieita e Exploragao'de Vegetais Outra faceta do'trabalho de prevengio diz respeito ao controle disciplinado no art. 22 da Lei n. 11.343/2006, que deve ser-exercido pelo Estada, ém,relago ao plantio, & cultura, & colheita € a exploragdo de vegetais dos quais possam ser extraidas drogas que causem dependéncia fisica ou psiquica, Reiterando, praticamente, 9 disposto no art. 8.° da Lei n. 10. 40973002 ¢ € no 2.° da Lei n. 6368/76, a nova Lei Antidrogas ‘proibe as atividades supracitadas em todo o territ6rio nacional, excetuados o plantio, a cultura ¢ a colheita dos vegetais em questo, para fins medicinais ou cientificos, mediante” autorizacao e fiscalizagao (art. 2,°, pardgrafo tinico). Frisa-se que as plantagées ilegais, quando descobertas, deve ser imediatamente destruidas pelas autoridades de policia ee ie recolherdo quantidade suficiente para exame pericial. Deyeriio, ainda, elaborar auto de Ievantamento, do local, destacando sua delimitag4o e condig6es encontradas. Recorda-se que o art. 243 da Constituicdo Federal determinou que as) utilizadas para 0 plantio ilegal de vegetais dos quais se possam preparar, produzir ou fabricar drogas que causam depenténcia’ serdo expropriadas pela Unio e repassadas a SIGE Ge delas se utilizardo pata o,cultivo de vegetais destinados & alimentagio ou & produgao de medicaméatos A Lei n. 8.257/91, por sua vez, atendendo ao comando constitucional, previu ¢ reguldmentou a expropriagtio de glebas utilizadas em culturas ilegais de tais plantas, sem qualquer indenizagao ao proprietirio e sem o prejuizo das sangdes penais decorrentes desse comportamento. Salienta-se que é objetiva a responsabilidade do proprietério das glebas usadas para o plantio ilegal de vegetais destinados & preparagdo de drogas, sendo, em consequéncia, irrelevante a existéncia ou inexisténcia de culpa na utilizagdo criminosa, como deixou claro o acérdio prolatado no REsp 498.742/PE, julgado em 16.09.2003, cujo Relator foi o Min. José Delgado (STI - 1* Turma). 6. ATENGAO E REINSERGAO SOCIAL DE USUARIOS E DEPENDENTES DE DROGAS Os arts. 18 a 26 da Lei n. 11.343/2006 ocupam-se do dependente e do usuario de drogas, sob o enfoque da atengao e da reinseredo social. Tenham ou nao praticado infragao penal, continua presente a obrigagao do Estado de prestar-Ihes o atendimento médico adequado. Para a concretizagao desses objetivos (atengiio e reinsergdo social) a Lei Antidrogas preocupou-se em tragar, no art. 22, os principios e as diretrizes que envolvem esse trabalho. Dentre eles destaco o,respeito a0s ae fundamentais da pessoa humana terapéutico indeed (inciso IM); ee Sspie de fortia lpn e por equipes niultiprofissionais (inciso IV), ally : O exame da tabela abaixo propicia a compreensao da evolugéio na abordagem do tema, por meio de uma visdo comparativa dos textos legais: ay os Lein. 6368/76 4! Lei n. 10.409/2002 Lei. 11.343/2006 ‘As redes dos servigos de {-O tatamento do dependente [@orstitem atividades de satide dos Estados, | do usuario seréfeite de" atencao ao usudrio e Territérios e Distrito Federal | ma muliprofissionale, | (ee onte de drogas ¢ contario, sempre que | Sempre que/possivel, coma | resnectivos familiares, para necessério e possivel, com | *Ssisténcia da familia (art. | efeitos dessa Lei, aquelas estabelecimentos _proprios | 12+ § 1°). que visem a melhoria da para tratamento —dos qualidade de vida e a dependentes de substancias a redugao dos riscos e dos que se refere a presente Lei danos associados 20 uso de (art. 9°, caput). drogas (art. 20). Enquanto no se criarem os estabelecimentos _referidos neste artigo, serio adaptados, na rede ja existente, unidades para Constituem atividades de reinseredo social do usuario ¢ do dependente de drogas repectivos familiares, para 10 aquela finalidade (art. 9.°, § 1). O Ministério da Previdéncia e — Assisténcia Social providenciara no sentido de que as normas__previstas nesse artigo e seu § 1.° sejam também observadas pela sua rede de servigos de saiide (art. 9°, §2.°). O tratamento, sob regime de interna hospitalar, seré obrigatério quando 0 quadro clinico do dependente ow natureza de ‘suas |: manifestages “ psicopatolégicas assim 0 exigirem (art. 10; caput). Quando verificada a desnecessidade de internago, o dependente ser submetido a tratamento em regime extra-hospitalar, com a assisténgia do servigo social competente (art. 10, § 1). || respectivos v\'sempre que possivel, de efeitos dessa Lei, aquelas direcionadas para. sua integrago ou reintegragio em redes sociais (art. 21). ‘As atividades de reinsergao social do usuario e do dependente de drogas respectivos familiares devem observar os —_seguintes principios e diretrizes: 1 — respeito ao usudrio e ao dependente de — drogas, independentemente de liquaisquer condigées, Fobservados 0s direitos fundamentais da pessoa humana, os) principios e diretrizes do Sistema Unico de Saide ¢ da Politica Nacional dé Assisténcia Social; (..) IM — definigao de projeto, terapéutico individualizado, _ orientado para a incluso social e para a redugo de riscos ¢ de danos sociais e a saiide; IV — atencfo ao usuario ou dependente de drogas e as familiares, forma multidisciplinar e por equipes _multiprofissionais (--) (art. 22). ‘As redes dos servigos de saiide da Unido, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municipios desenvolveréo programas de aten¢do ao usuario e a0 dependente de Grogas, respeitadas as. diretrizes do Ministério da Satide e 0s _principios explicitados no art. 22 dessa n Lei, obrigatéria a previsio orgamentiria adequada (art. 23). O usuério e 0 dependente de drogas que, em razio da pratica de infragio penal, estiverem cumprindo pena privativa de liberdade ou submetidos a medida de seguranga, tém garantidos os servigos de atengZo a sua satide, definidos pelo respectiv sistema | penitenciario (art. 26). E. isento de pena o agente que, em radio da dependéncia, oui sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou forga’ maior, de droga, era, ao tempo da ado ou da omissaio, qualquer que tenha sido a, infrago penal praticada,’ inteiramente incapaz de entender o cardter ilicito do fato ou de determinar-se de acordo com ‘esse entendimento (art. 45). Quando absolver 0 agente, _reconhecendo, por forca pericial, que este apresentava, & época do fato previsto nesse artigo, as condigées referidas no caput desse artigo, poderé determinar 0 juiz, na sentenca, 0 seu encaminhamento para tratamento médico adequado (par. tin. do art. 45). 2 As penas podem ser reduzidas de um tergo a dois tergos se, por forga das circunstincias previstas no art, 45 dessa Lei, 0 agente no possuia, ao tempo da ago ou da omissao, a plena capacidade de entender o carter ilicito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (art. 46). Na sentenga condenatéria, 0 jiliz, com base na avaliaggo que ateste a necessidade de encariiinhamento do agente para tratamento, realizada por profissional de satide com competéneia especifica | na forma dalei, determinard que a tal se proceda, observado 0 disposto no art. -| 26 dessa Lei (art. 47). Parece-nios evidente a maior aten¢ao aos usuiérios e dependentes de drogas. A Lei n. 11.343/2006 manteve a solugo juridica adotada pelas leis anteriores, determinando a absolvigdio do agente que, 4 época do fato, era inteiramente ‘incapaz, em razdo de dependéncia quimica ou decorrente de efeito de droga provéniente de caso fortuito ou fora maior, de entender 0 carater ¢timinoso do fato ou dé determinar-se de acordo com esse entendimento, O tratamento, médico, 'S€"hecessério, nao’ foi predeterminado. Logo, a orientagdo dos peritos ¢ as circunstancias do fato, levardo o juiz 4 medida mais adequada, seja no regime de internag4o, seja no ambulatorial. Ao semi-imputavel impde-se a redugéo da pena (um a dois tergos), com a impossibilidade de sua conversio em tratamento. No caso de necessidade de tratamento, 0 condenado o receberd durante o cumprimento da pena privativa de liberdade. B Todos os direitos reservados. E terminantemente proibido a reproducao total ou parcial deste material didatico, por qualquer meio ou processo. A violagao dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislagéo em vigor, sem prejuizo das sancées civis cabiveis. EXERCICIOS Curso Anual LEGISLACGAO PENAL ESPECIAL 1. Assinale as respostas corretas: a) aLein. 10.409/2002 foi recepcionada pela Lei n. 11.343/2006, especialmente em relagdo & punigao da posse de droga para consumo pessoal; b) os dependentes de drogas devem receber tratamento médico proporcionado pelo Estado, tenham ou no praticado infragdes penais; ©) as infrag6es penais nfo esto previstas na Lei n.11.343/2006; a substincia auo ‘produto capaz de gerar d 1 fe relacionados em listas atualizadas periodicamente, pelo Poder Executivo da Unio; b) a substancia ou produto capaz de gerar dependéncia, mesmo quie,nao previstos em lei ou em Portaria do Servigo de Vigildncia Sanitaria do. Ministério da Sade, desde que estudos cientificos indiquem a necegsidade de controle especial; ©) nfo hé ainda definie&o dessas substincias ou produtos, visto - da Anvisa, fol expressamente revogada pela nova Lei Vk ana 4) qualquer substéncia que possa causar adotado um sifaiatabeto, muito isis SHH a0 combabe Sayoves drogas, especialmente as sintéticas 3. Siio princfpios e objetivos do Sistema Nacional de Politicas Pablicas sobre Drogas ~ Sisnad: a) aconcentragiio no Estado dos mecanismos destinados & implantagiio dos objetivos do Sisnad; b) a restrigo da autonomia e da liberdade do individuo, sempre que tais medidas mostrarem-se adequadas para a sua conscientizagao quanto ao risco proporcionado pelo uso ilicito de drogas; ©) a desconsideragdo das diversidades e especificidades populacionais, como meio apto a homogénea implantagao da politica de prevengio ao uso e ao trifico ilicito de drogas; 18 gd a) aadogio de abordagem multidisciplinar que reconhega a interdependéncia ¢ a natureza complementar das atividades de prevengao do uso indevido, atengdo e reinsergo social de usuarios dependentes de drogas, represso da produgo nao autorizada e do trafico ilicito de drogas; a implantagao paulatina da livre produgio e comércio de drogas no Brasil, como medidas eficientes para minimizar 0 uso indevido e 0 trafico ilicito. O plantio, o cultivo, a colheita ¢ a exploragio de vegetais dos quais possam ser extraidas drogas que causam dependéncia fisica ou psiquica: sto atividades permitidas no Pais, salvo expressa vedagtio das autoridades sanitérias; sdo tarefas exclusivas do Estado; podem ser autorizados peld'Unio para fir iciftais ou cientificos, em local ¢ prazo predeterminados, SS ‘0s interessados & Fiscalizapags, sto vedados a eipresas multinacionais, ainda que tenham sede no Brasil . 11.343/2006 para as atividades de prevengio do: uso indevido de| drogas ¢ de “Feinsersio social de usuarios e dependentes é correto destacar que: © uso indevide de drogas é fator de interferéncia na qualidade de vida do individuo e na sua relagao com a comunidade & qual pertence; o usuario eo dependente de drogas, que estiverem cumprindo pena privativa de liberdade, serao tratados apés a extingao'd ilidade; © tratamento do dependente sera sempre _ propor fpasdo mediante’a sua intemnacdo em local distante!da residéncia de seus’ familiares para a ara det eficdcia das medidas terapéuticas; ~~ ie no se admite a colaboragidide instituigdes da sociedade civil no atendimento de dependentes de drogas, pois ¢ssa taiefa iiicumbe exclusivamente ao Estado, dadas as. suas implicagdes sécioculturais. i GABARITO Exercicio Objetivo 1 2 314/ 5 Legislacgado Penal Especial |B/D| A | D 16 Complexo Juridico ® Dama: CURSO DO PROF. DAMASIO A DISTANCIA MODULO LEGISLACGAO PENAL ESPECIAL Drogas Lei n. 11.343/2006 Rua da Gloria, n. 195 —Liberdade — Sao Paulo ~ SP —Cep: 01510-001 Tel./ Fax: (11) 3164.6624 — www.damasio.com.br LEGISLAGAO PENAL ESPECIAL Drogas Lei n. 11.343/2006 Prof. Luiz Fernando Vaggione 1. DOS CRIMES E DAS PENAS 1.1. Art. 28 Art, 28 ~ Quem adguirin, guardar, tiver em depdsito, transportar ou trowxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorizagdo ou em desacordo com determinagdo legal ou regulamentar serd submetido as seguintes penas: I—adverténcia sobre os efeitos das drogas; |\». II - prestagdig de servigos & comunidade; i . I~ medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 1.1.2. Natureza Juridica do Art. 28 : : Sustentaram alguns doutrinadores que 0 artigo emi questo configuraria simples ilicito nao penal. O fundamento dessa orientagao repousava no art. 1.° da Tei de Introdugao a0 Cédigo Penal (Decreto-lei n. 3.914/41). Referido dispositive considera crime “a infragio penal a que a lei comina pena de reclusdio ou de detengo, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com'a pena de multa ... Assim, inexistindo para o art. 28 as penas de reclustio ou de detengo @ coricusto seria a de que ele nBo'paderid ser considerado como um crime, mas simples ilicito ndo penal. . g Se Com a devida vénia, parece-nos mais acertada a posig%o oposta, atualmente predominante. Desde logo, frisa-se que o legislador fez a sua opgio: inseriu 0 art. 28 no Capitulo HI, denominado “Dos Crimes e das Penas”, revelando claramente que nao descriminalizou as condutas do art. 28, ainda que referido dispositivo esteja inserido no Titulo ILL, o qual se refere as atividades de prevengiio do uso indevido, atengdo e reinsergao social de usuétios e dependentes de drogas. Por outro lado, entendemos que o art. 1.° da LICP deve ser interpretado a luz dos novos tempos, 0 que ja ocoreu como consequéncia da Lei dos Crimes Ambientais. Com efeito, a Lei n. 9.605/98 previu a possibilidade de a pessoa juridica cometer crimes, 0 que fez sob 0 comando da CF. Pois bem, no art, 21 foram especificadas as penas para referidas pessoas juridicas, dentre as quais ndo se observa nenhuma privativa de liberdade, evidentemente! Nem por isso sustentou-se que as condutas por elas cometidas ndo constituiriam crimes. Como se vé, 0 art. 1.° da LICP foi objeto de derrogagdo pela Lei Ambiental. O mesmo ocorreu em fungdo do art. 28 da Lei Antidrogas. Portanto, reiteramos que nao houve descriminalizagao de condutas ligadas ao consumo pessoal. Atengdo: a 1.* turma do STF ao julgar o RE 430105 — RJ, decidiu que nao ocorreu abolitio criminis em relagdo ao delito de posse de drogas para consumo pessoal, entdo previsto no art. 16 da Lei n. 6.368/76, bem como julgou prejudicada arguigdo de incompeténcia dos juizados especiais para processar ¢ julgar referida conduta. No julgamento considerou-se que a conduta continua sendo crime sob a égide da lei nova, muito embora tenha ocorrido uma despenalizagdo, cuja caracteristica marcante seria a exclusdo de penas privativas de liberdade como sangao principal ou substitutiva da infracdo penal, afastando entendimento de parte da doutrina de que o fato, agora, constituir-se-ia infragao penal sui generis. 1. Objetividade Juridica e Sujeitos do Crime O art. 28 visa a tutelar a satide publica, combatendo o uso abusivo e 0 comércio ilegal de drogas que causam dependéncia fisicd ou psiquica, O-delito pode ser cometido por qualquer pessoa (crime comum), nao existindo causa'de aumento decorrente de especial qualidade do sujeito ativo, A coletividade é o sujeito passivo. 1.1.4, Nacleos do Tipo, Elemento Subjetivo e Classificacao do Crime S40 cinco os verbos inseridos no art. 28: adquirir (obter a posse ou a propriedade da substncia entorpecente normalmente a titulo oneroso); guardar (manter, reter, conservar em beneficio préprio) ter em depésito (manter, reter, conservar. A agdo é praticada em nome de terceiro), transportar (deslocamento da droga utilizando-se, normalmente, de meio de transporte) e trazer consigo (remover de um local para outro junto ao corpo ou dentro dele). art. 28 é crime de ago multipla ou de conteiido varidvel, de modo que mais de uma ado em um mesmo contexto fitico resulta em crime tinico. O crime & doloso, de perigo abstrato ¢ de mera conduta. Consuma-se com a simples atividade. Atengdo: as mesimias penas previstas no caput do art, 28 serdo impostas aquele que, ara consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas a preparagdo de pequena quantidade de drogas. Fo que dispde 0 § 1.° do.art 28. A nova figura penal incorporou a corrente majoritéria que se’ formou na aplicagio da Lei n. 6.368/76, notadamente na interpretagao do inciso Il do § 1.° do art. 12. 1.1.5. Finalidade Exclusiva da Conduta Trata-se do consumo pessoal. Qualquer outro objetivo afasta a tipificagdo do art. 28 para outra figura penal da Lei n. 11.343/2006. O § 2.° do art. 28 indica as circunsténcias que ‘sero observadas para se admitir ou nao a finalidade consistente no “consumo pessoal”. S40 elas: a) natureza e quantidade da droga apreendida; b) local e condigdes da aco; c) circunstancias sociais e pessoais do agente, bem como sua conduta ¢ seus antecedentes. Os parimetros retrocitados sero utilizados pela autoridade policial, Ministério Piblico (tipificagtio proviséria) e Juiz. de Direito (tipificagao definitiva). 1.1.6. Objeto Material E a droga. Nos termos do art. 1.° combinado com o art. 66, ambos da Lei Antidrogas, cuida-se de substincia entorpecente, psicotrépica, precursora e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS n. 344, de 12 de maio de 1998, capazes de causar dependéncia Os efeitos sobre a insergio ou exclusio de substincias ou produtos relacionados na Portaria serio estudados no art. 33. 1.1.7. Elemento Normativo do Tipo Determina a ilicitude ou ndo da conduta, haja vista ser possivel 0 uso autorizado de algumas substncias ou produtos para fins terapéuticos, por exemplo. Presente a autorzasto, 0 fato é atipico. 1.1.8. Penas Adverténcia sobre os efeitos das drogas; prestagdio de . servigos, comunitérios & frequéncia a curso ou programa educativos. Essas penas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente nos termos do art. 27 da'Lei. O citado artigo frisa ser possivel substitui-las a qualquer tempo, sempre dentre as mencionadas no art. 28. Tanto a prestagdo de servigos & comunidade, quanto o comparecimento a programa ou curso educativos, set4o impostos pelo prazo maximo de 5 (cinco) meses (art. 28, § 3.°), Em caso de reincidéncia, o prazo serd de 10 (dez) meses (§ 4.9), Entendemos que a condenagiio anterior deve envolver crime definido na Lei Antidrogas, Tal conclusdio decorre da natureza das sangdes previstas para o art. 28. No faz sentido elevar a pena em razio de condenagao anterior por crime de furto, por exemplo. A prescrigdio da pretensdo punitiva ou executéria configura-se no prazo de 2 (dois) anos (art. 30), aplicando-se as causas interruptivas do CP (art. 117). A condenagdio gera a reincidéncia, ‘Na hipétese de descumprimento injustificado da pena imposta,'0 juiz aplicaré ao condenado, inicialmente, nova adyertéticia. Sendo insuficiente, determifiaré 6 pagamento de multa (art. 28, § 6.°). A quantidade e 9 valor de dias-multa esto pfevistos no art. 29 da Lei: a) de 40 a 100 dias-multa; b) de um ‘trigésimo a tr€8!Wézes'0 valor do saldrio-minimo. A fixagdo da quantidade esta condicionada a reprovabilidade, da conduta, nos termos expressos do art. 29. Lembra-se que a conduta reprovével mencionada diz respeito ao descumprimento injustificado da pena imposta. O quantum de cada dia-multa depende da capacidade econémica do réu. Os valores recolhidos serio remetidos ao Funad (Fundo Nacional ‘Antidrogas). Atengiio: no possivel a conversio das penas previstas no art. 28 em privativas de liberdade. A Lei Antidrogas disciplina o tema de maneira especial, afastando, portanto, a aplicago do Cédigo Penal. 1.1.9. Competéncia Como regra, do Juizado Especial Criminal. O delito recebe 0 mesmo tratamento dispensado aos crimes de menor potencial ofensivo, consoante determina o § 1.° do art. 48 da Lei Antidrogas. Permite-se, portanto, a transago penal. O Ministério Piblico adotara as penas previstas no art, 28 para elaborar a sua proposta ao autor do fato. No caso de concurso de crimes, aplicar-se-Ao os institutos da Lei n. 9.099/95 no Juizo Comum Criminal, conforme oart. 61 da Lei n. 9.09/95, com a nova redagao dada pela Lei n. 11.313/2006. 1.1.10. Retroatividade Benéfica © art. 28, em fungdo das penas que lhe)so previstas, é norma mais benéfica que o revogado art. 16 da Lei n. 6.368/76. Embora esse crime fosse de pequeno potencial ofensivo, havia a possibilidade decumprimento de pena privativa delliberdade, porque prevista no preceito secundario da norma. Assim, os juizes e os Tribunais podem aplicd-lo aos fatos cometidos antes de 8.10.2006. ‘A 1.2. Art. 33 - Art, 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor a venda, oferecer, ter em depésito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorizaciio ou em desacordo com determinagao legal ou regulamentar: Pena - reclusiio, de 5 (cinco) a 15 (quince) anos, e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, i § 1.°Nas mesmas penas incorre quem: I importa, exporta, Yemete, produc, fabrica, adquite, vende, expée a venda, oferece, fornece, tem em depésito, transporta, traz,consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorizagdo ou em desacordo com determinagéio legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto quimico destinado & preparacdo de drogas; I — semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorizagéo ou em desacordo com determinagdo legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparagio de drogas; I — utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administragiio, guarda ou vigildncia, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorizagio ou em desacordo com determinagéio legal ou regulamentar, para o tréfico de drogas. § 2° Induczir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: Pena — detengéio, de I(um) a 3 (trés) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa, § 3° Oferecer droga, eventualmente e sem o objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena — detengdo, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuizo das penas previstas no art. 28. § 4° Nos delitos definidos no caput e no § 1.° desse artigo, as penas poderao ser reduzidas de um sexto a dois tergos, vedada a conversiio em penas restritivas de direitos, desde que 0 agente seja primdrio, de bons antecedentes, néio se dedique as atividades criminosas nem integre organizagao criminosa. Be 1.2.1 Nucleos do Art, 33, Caput O caput do art,33'da Lei n. 11.343/2006 possui 18 nicleos a saber: 1°) _Importar: € proporcionar © ingress6)irregular de droga no’Brasil. Cuida-se de crime da competéncia da Justiga Federal, porquanto sé trata de tréfico internacional (delito transnacional). Consuma-se no momento em que a substincia entra no territério brasileiro, por via aérea, maritima ou terrestre indevidamente. Nao se aplica o art. 334 do Cédigo Penal (contrabando ou descaminho) em razio do principio da especialidade. Ha incidéncia da causa de aumento prevista no inciso I do art. 40 da Lei n. 11.343/2006 (“transnacionalidade do delito”).. oy pe : i 2°) Exportar: consiste na remessa de droga para fora do territétio nacional por via aérea, maritima ou terrestre. Como enfatiza Vicente Greco Filho, 0 comportamento tipico atende recomendagao da Convengao Unica sobre Entorpecentes, de 1961, que vé no controle das exportagdes fator decisivo na repressio ao, trifico ilicito de entorpecentes. Também configura 0 denominado ‘trifico intemacional, sendo da Justiga Federal a apuragéo e 0 julgamento do comportamento-em estudo. Incide, também, a causa de aumento prevista no inciso I do art. 40 da Lei n. 11.343/2006 (“1 jOnalidade-do delito”). Nao se aplica o art. 334 do Cédigo Penal, em decorréncia do principio da especialidade, 3°) _Remeter: significa enviar, encaminhar droga para alguém, dentro do pais, podendo fazé-lo, inclusive, por via postal. 4°) Preparar: consiste em combinar substancias inécuas, isto é, inaptas para causar dependéncia fisica ou psiquica, dando origem a outra que é considerada droga que possa causar dependéncia, 5°) Produzir: criar. Exige-se maior capacidade criativa, ultrapassando a mera combinagao de substincias. Citamos, como exemplo, a industria extrativa. 6°) Fabricar: reserva-se 0 niicleo quando houver o emprego de meios industriais para a obtengao de drogas. 72) Adquirir: obter a posse ou a propriedade da droga a titulo oneroso ou gratuito, normalmente com a contraprestagzio em dinheiro, com a intengéo diversa do uso proprio. Sendo essa a intengiio do agente, o enquadramento legal seré feito no art. 28 da Lei n. 11.343/2006. 8.2) Vender: disposigao da droga, mediante pagamento em dinheiro ou outro bem que apresente valor econémico. 9°) Expor @ venda: exibir para a venda; mostrar a droga para interessados na aquisigao. 10°) Oferecer: apresentar, ofertar, a droga a eventuais compradores. 11°) Ter em depésito: conservaradroga em nome de terceiro. 12°) Transportar: trata-se do deslocamento da droga com a utilizagao de um meio de transporte. Difere do nticleo “trazer consigo” porque, nessa agg, a substancia ou o produto sio deslocados junto ou dentro do corpo do agente. 13) Trazer consigo: modalidade de transporte, na qiial a droga & conduzida pessoalmente pelo agente, junto ao seu corpo ou dentro dele: 142) Guardar: reter a droga & sua disposigéo. 15.°) Prescrever: trata-se de comportamento que s6 pode ser praticado por médicos ou dentistas, profissionais autorizados a receitar drogas. E, portanto, crime proprio (exige qualidade especial do sujeito ativo) e doloso, Se uma pessoa, que no seja médico ou dentista, falsificar uma receita entendemos que respondera por auxilio ao uso indevido de droga, previsto no § 2.° do art. 33, punido com pena mais branda: detengfo de um a tés anos e 100 a 300 dias-multa, Ha modalidade culposa prevista no art. 38 da Lei n! 11.343/2006, que se aperfeigoa com a prescrigio de drogas sem que delas necessite o paciente, ou em dose excessiva, ou em desacordo com determinagao legal ou regulamentar. 162) Ministrar: introduzir substancia entorpecente no organismo alheio por meio de inalagao, ingesto ou injego. Pode ser praticado por qualquer pessoa, mediante pagamento ou gratuitamente. 172) Entregar a consumo: o legislador inseriu a formula genética visando evitar que © comportamento que nio se amoldasse nos demais niicleos pudesse ficar sem punigao. 182) Fornecer, ainda que gratuitamente: prover, proporcionar, dar. Para parte da doutrina 0 comportamento exigiria a entrega continuada de substincia entorpecente a outrem, diferenciando-se da simples entrega ou venda. 1.2.2 Objeto Material do Art. 33, Caput Trata-se de droga. Nos termos do art. 1.° combinado com o art. 66, ambos da Lei Antidrogas, cuida-se de substincia entorpecente, psicotrépica, precursora e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS n. 344, de 12 de maio de 1998, capazes de causar dependéncia. 1.2.3. Art. 33, Caput: Norma Penal em Branco Cuida-se de norma penal em braneoypois, como jé adiantamos, o seu complemento & encontrado na Portaria n. 344/98 da BN ‘Nacional de Vigilancia Sanitaria. Trata-se de norma penal em branco hetérogénea. 1.2.4 Alteracao da Portaria: Supress4o de Substancias ou Produtos da Portaria Hi extingo da punibilidade dos agentes. O posicionamento é distinto da regra geral imposta 4 maioria das normas penais em branco, pois no caso da Lei n. 11.343/2006 a alteragdo atinge 0 cerne da norma penal, j4 que as substncias ndo figuram nas listas da Portaria n. 344/98 em cardter excepcional ou temporirio. Assim, se for excluida uma substincia ou produto ocorreri a retroatividade benéfica, em decorréncia da abolitio criminis, causa extintiva de punibilidade. 1.2.5 Cloreto de Etila. Componente do Langa-perfume. Resolugao n. 104 da Agéncia Nacional de Vigilancia Sanitaria. Abolitio criminis nao Configurada em Razao de Irregularidade da Primeira Publicacao da Citada Resolugao é A primeira publicagaio da Resolugdo n. 104, .o¢orrida em 7.12.2000, excluiu o cloreto de etila da lista “F?, da Portaria.n..344/98; A lista “F” relaciona as substncias de uso proscrito no Brasil. Nessa oportunidade, a mesma Resolugdo incluiu o cloreto de etila na lista “D2”, da referida Portaria, cujo rof contém os insumos quimicos para a elaboragdo de substincias entorpecentes e/ou psicotrépicas. Tais insumos nio sao considerados drogas que causam dependéncia. Assim, a aludida transferéncia do cloreto de etila da lista “F” para a lista “D2”, tomou-a substdncia de uso permitido, todavia, controlada pela Vigilancia Sanitaria, Preocupada com os efeitos da alterago, a Resolugdo n. 104 foi republicada, Nessa republicago, ocorrida em 15.12.2000, o cloreto de etila saiu da lista “D2” (insumos) e entrou na lista “B1” da Portaria n. 344/98, que se refere as substncias psicotrépicas. Assim, a partir de 15.12.2000, a posse para consumo pessoal (art. 28) ou qualquer comportamento descrito na Lei n, 1343/2006, que envolvam o cloreto de etila, voltaram a ser reprimidos penalmente. Entre os dias 7 ¢ 14.12.2000, o cloreto de etila nao era substncia entorpecente e/ou psicotrépica. Assim, no periodo compreendido entre os dias 7 14.12.2000, nfo fosse uma irregularidade de forma, o manuseio de cloreto de etila poderia ser considerado licito. Tal efeito, por ser benéfico, deveria retroagir. Os inquéritos policiais que envolvessem a substincia deveriam ser arquivados (extingo da punibilidade). Se existisse processo em andamento seria julgado extinto. 5, finalmente, se houvesse condenag&o seria anulada, liberando-se 0 condenado de todos os seus efeitos. quadro a seguir elaborado ilustra as alterag6es acima aludidas: Até 6.12.2000 De7a14.12.2000 A partir de 15.12.2000 Substncia entorpecente dé | Insumo quimico para a Substéncia psicotrépica. uso proibido no Brasil. |’ fabricagdo de entorpecente. = Uso permitido, mas controlado pelo Estado. Lista “F” da Portarian. | Lista*D2 da Portarian!) | Lista “B1” da Portaria n. 344/98. 344/98 344/98 Atengao: no julgamento do Recurso Especial n. 299.659-PR, o Superior Tribunal de Justiga entendeu que a primeira publicagao da Resolugdo n. 104, ou seja, a ocorrida no dia 7.12.2000 padecia de vicio de forma ¢, portanto, nfo teria 0, condao de propiciar a transferéncia do cloreto de etila da Lista “F” (substncias entorpecentes de uso proscrito no Brasil) para a lista dos insumos quimicos (Lista “D2”). Segundo o entendimento contido no referido acérdéo, a transferéncia exigia deliberagao de érgao colegiado da ANVISA e nao ato exclusivo de seu Diretor-Presidente. O cloreto de etila foi transferido, diretamente, da Lista “F” para a “BI”, sem integrar a’lista dos insumos quimicos (Lista “D2”). Em resumo, tal posicionamento do Superior Tribunal\\/dé Justiga rechaca, consequentemente, 0 reconhecimento de abolitio criminis. Vejamos a ementa da supracitada decisto: Quanto @ substéncia cloreto de etila, a Resolugéo RDC 104, tomada isoladamente pelo Diretor-Presidente da Agéncia Nacional de Vigilancia Sanitaria — ANVISA (DOU 7.12.2000), retirando tal substéncia da lista “F2” (substancias psicotrépicas de uso proscrito no Brasil), néio teve validade até sua republicagao, agora por decisiio da Diretoria Colegiada daquele drgéo (DOU 15.12.2000) que a recolocou na lista “BI” (substdncias psicotrépicas). Destarte, durante esse interregno, niio hé como reconhecer que houve abolitio criminis (Rel. Min. José Amaldo da Fonseca, j. em 7.2.2002, v. Jnformativo n. 122), 10 1.2.6. Pequena Quantidade de Substancia Para o Supremo Tribunal Federal, 0 delito de trafico de drogas nao se descaracteriza pelo fato de a policia ter apreendido pequena quantidade de t6xico em poder do réu. Alias, € bom ressaltar, desde logo, que a pequena quantidade no elide a responsabilidade penal nem mesmo em relago aos comportamentos previstos no art. 28, desde que, na porgao apreendida, tenha sido constatada pericialmente a presenga do principio ativo da substéncia entorpecente. Nesse sentido: Considerando. que a pequena quantidade de. substancia entorpecente apreendida néio descaracteriza 0 crime de posse, a Turmé indeferiu habeas corpus impetrado ém favor de soldado do exército denunciado pelo art: 290 do CPM - trifico, posse owuso de entorpecente ou substdncia de efeito similar, por ter, sob sua guarda, 3,4 gramas de maconha, em lugar sujeito @ administracdo militar, no qual se alegava a falta de justa causa para a aco penal sob o fundamento do principio da insignificdncia (HC n. 81.735-PR, rel. Min. Néri da Silveira, j! em 263.2002). 1.2.7. Qualificagao Doutrinaria do Art. 33 Trata-se-de crime de perigo e de mera conduta. © tipo é misto alternativo, de contetido miltiplo ou variado. E alternativo porque no art. 33, caput, hd 18 nicleos. Basta um 6 dos comportamentés tipificados para a configuragiio do delito. Havendo a prética ‘de comportamentos emyum mesmo contexto fético, aplica-se 0 principio da altematividade. Como consequéncia, haveri um tinico crime. Assim, se 0 individuo importa, transporta, oferece e vende uma determinada quantidade de cocaina, por exemplo, cometer4 uma tinica infrago ao art. 33, caput. A conduta é tinica. Tomado 0 mesmo exemplo, se 0 agente faz. ingressar no territério nacional, em dias distintos, porgdes de cocaina, ha varios crimes, que poderdo ser unificados pela continuidade desde que estejam presentes os requisitos legais. Consequentemente, se os comportamentos se mostrarem distintos entre si, isto é, se forem cometidos em contextos fiticos diversos, haver4 varios crimes. 1.2.8. Objetividade Juridica A objetividade juridica principal ou imediata ¢ a incolumidade piblica, sob o particular aspecto da satide publica. idade juridica secundaria ou mediata ¢ a vida, a saide e a familia. rT 1.2.9. Sujeito Ativo O sujeito ativo do crime em estudo & qualquer pessoa. O crime, nesse aspecto, é comum. Exceed: o comportamento de prescrever exige a qualidade de médico ou dentista para sua pritica. Logo, nessa hipétese, o crime ¢ préprio. Atengéio: a) se o agente praticar o crime prevalecendo-se de fungo publica ou no desempenho de missio de educago, poder familiar, guarda ou vigildncia, aumenta-se a pena de um sexto a dois tergos (art. 40, 1). b) no ha mais o aumento'de pena decorrente do mero concurso de pessoas, previsto no inciso III do art. 18 da’revogada Lei n. 6.368/76. Logo, das condenagées prolatadas na vigéncia da lei anterior deve ser excluida a mencionada causa de, aumento (um terco a dois teryos), em virtude dé tei nova mais benéfica», a ©) ocorrerida o envolvimento de erianga out adoleScentes no Gomerimeno do crime, ou, ainda, pessoa com a capacidade de entendimento ¢ determinagao diminuida ou suprimida, aplica-se 0 aumento de um sexto a dois tergos, definido no. inciso VI do art. 40 da Lei n. 11.343/2006., ©. comportamento do adolescente: serd-apreciado na Vara da Infancia e Juventude, em razo de conduta andloga ao crime descrito no art. 33. 4) fanciondrio piblico. Tratando-se de comportamentos descritos nos arts. 33, caput ¢ § 1°, e 34 a 37 da Lei, 0 Juiz, ao receber a dentincia, podera decretar 0 afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, comunicando a decisao ao érgao respectivo. 1.2.10, Sujeito Passivo sujeito passivo principal é a sociedade. Sujeito passivo secundario so as pessoas que recebem a droga para consumi-la, desde que essa conduta nao tipifique o art. 28. s Crianga ou adolescente como sujeito passivo. O art. 243 do ECA (Lei n. 8.069/90) tem como objeto material produtos que possam causar dependéncia fisica ou psiquica, Esses io outros produtos, que nao so considerados para os fins da Lei n. 11.343/2006. E 0 que ocorre com a cola de sapateiro, que acarreta imimeros maleficios as criangas e aos adolescentes. Bla contém um solvente, 0 tolueno, responsivel pelos efeitos fisicos e/ou psiquicos provenientes do produto. O tolueno ndo é uma droga, tal como a concebe a Lei n. 11.343/2006. Assim, no caso do supracitado produto, aplicaremos 0 art. 243 do ECA. Entretanto, se for realizada a venda de droga (Cannabis sativa, cocaina, crack etc.) para criangas ou adolescentes, aplicaremos 0 art. 33, caput, combinado com a causa de aumento prevista no art. 40, inc. IV, da Lei n. 11.343/2006. Nesse caso a crianga ou 0 adolescente foram as pessoas visadas pelo traficante. 12 Incidiré a causa de aumento — um sexto a dois tergos — prevista no inciso VI do art. 44 da Lei Antidrogas, quando a ago tipica visar atingir crianga ou adolescente. 1.2.11. Elemento Normativo Consiste na expresso “sem autorizagao ou em desacordo com determinacao legal ou regulamentar”. Em outras palavras, sé h crime se a conduta foi ilegal ou cometida em desacordo com autorizagdes previamente concedidas. O elemento normativo em estudo condiciona a ilicitude do comportamento. 1.2.12, Consumagao e Tentativa Ha consumaeao com o:cémetimento do comportamento tipico, independentemente da produgao de qualquer resultado. Se" varios forem os comportamentos praticados, a consumago ocorreré.com o cometimento do primeiro deles. Entre os niicleos do tipo existem aqueles que dio ensejo a crimes instantinegs, ou seja, a consumagio ocorre em um determinado instante, sem continuidade temporal. E.0 que ocorre, por exemplo, com o comportamento “importar”, no qual a consumagio. se verifica no’momento em que a substancia entorpecente transpde a fronteira brasileira. No caso do nicleo “preparar”, a consumag4o ocorrerd no instante em que, da composicao de duas ou mais substincias, surgir outra que é considerada droga. Sendo a hipétese de venda, a consumagao dar-se-4 com 0 recebimento do prego ou de outro bem que tenlia valor econdmico. Na aquisi¢ao, por sua vez, a consumagao ocorre com 0 recebimento da substancia entorpecente. Outros micleos do tipo ensejam crimes permanentes. Esses delitos tém a consumagao prolongada no tempo. So crimes nos quais a consumacao pode cessar por vontade do agente. Assim, como exemplo, citamos as condutas: guardar, ter em depdsito, trazer consigo. Nos crimes permanentes, a prisio em flagrante poder ocorrer a qualquer momento, nos termos do art. 303 do Cédigo de Processo Penal. No que conceme & tentativa, como-adveité ‘Vicente Greco Filho, ela nfo esté nem légica nem juridicamente excluida. Acrescentamos: que, mesmo na hipétese de crimes permanentes, a tentativa é vidvel, desde que tenha a sua fase inicial comissiva. O crime permanente apresenta duas fases: a primeira corresponde & pritica do comportamento descrito na lei, de natureza comissiva ou omissiva e, a segunda fase, de manutengao do estado danoso ou perigoso, de carter omissivo ou, excepcionalmente, comissivo. Malgrado a possibilidade da forma tentada no caso do art. 33, caput, sua configuragao na pratica € dificil, ante a quantidade de micleos propositalmente inserida no citado artigo. Cuidando-se de um crime de ago miltipla ou de contetido variado, a tentativa de um comportamento ensejard, via de regra, outro j4 consumado previamente. Desse modo, responderd o agente pelo crime consumado, sendo absorvida a tentativa subsequente. B 1.2.13. Flagrante Preparado e Esperado Séo hipéteses distintas. O flagrante preparado, no Direito brasileiro, d4 ensejo a0 denominado “crime putativo por obra de agente provocador” ou “crime de ensaio”. O cometimento da infragdo penal é provocado por outrem. No ambito da Lei em estudo, suponha que policiais apresentem-se como usuarios e, assim, provoquem a venda de substdncia entorpecente. A venda nao poderd ser imputada ao traficante. Os comportamentos, tipicos anteriores, ndo_provocados pela encenagio protagonizada pelos policiais, serao, entretanto, atribuidos. E 0 caso, por exemplo, da aquisigo, ocultago, guarda ou depésito, transporte ou trazer consigo, comportamentos anteriores j4 consumados no momento da venda provocada. flagrante esperado no se confunde com o preparado. Naquele néo ha provocagéio. Simplesmente aguarda-se a pritica do delito para Sutpreender o criminoso em flagrante. Segundo o Supremio Tribunal Federal, a infiltragdo"We, agente policial, simulando participar de operago de ‘trafico internacional, com a finalidade de manter a policia informada sobre atividades do grupo, néo atrai'a incidéncia da Stimula.n, 145 do Supremo Tribunal Federal. Observe que o inciso I do art. 53 da(Lei n. 11.343/2006 prevé a infiltragao por agentes de‘policia, em tarefas de investigaeao. Exige-se prévia’ autorizagao judicial, ouvido o Ministério Piblico (art. 53, caput). Stmula n. 145 do Supremo Tribunal Federal: Nao hé crime quando a preparagiio do flagrante pela policia torna impossivel a sua consumacao. ‘Tenha-se presente, ainda, que o ineiso II do art, 53 supracitado admitiu 0 chamado Alagrante diferido ou retardado. Visa-se dotar as autoridades policiais de instrumento eficiente para a coleta de provas, identificando e responsabilizando maior nimero possivel de integrantes nas operagbes de trafico. Ou seja, a pris em flagrante dos envolvidos é sempre obrigatoria para a autoridade policial ou seus agentes, no entanto, a policia poderd aguardar 0 melhor momento para a Stia. coneretizacao. Exige-se prévia autorizacdo judicial, ouvido 0 Ministério Publico (art. 53, caput); - 1.2.14 — Penas do Art. 33, Caput Consistem em reclusdo de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e 500 (quinhentos) a 1.500 (mil € quinhentos) dias-multa, No que concerne & pena privativa de liberdade, embora a pena minima tenha sido majorada, se a compararmos com a sangao do art. 12 da Lei n. 6.368/76, o legislador permitiu a0 juiz a redugdo de um sexto a dois teryos, desde que o agente seja primario e de bons antecedentes, consoante redagao do § 4.° do art. 33. Alids, esse pardgrafo exige, ainda, que 0 agente “no se dedique as atividades criminosas nem integre organizagdo criminosa”. O beneficio segundo entendimento do STJ aplica-se aos fatos verificados na vigéncia da Lei n. 6.368/76, em atengao ao principio de que a lei penal retroagira para beneficiar o.réu (art. 5.°, XL, CF/1988). Precedentes citados: HC 88.114-MS, DJ 3/12/2007, e HC 94.157-MS, DJ 20/11/2007. HC 97.038/SP, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 3.4.2008. 4

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