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Vil CONGRESSO BRASILEIRO DE MECANICA DOS SOLOS E ENGENHARIA DE FUNDACOES Olinda/Recife — setembeo 1982 AVALIAGOES PROBABILISTICAS DA ESTABILIDADE DE TALUDES CDINIS DA GAMA © Assessor da OMGA — IFT RESUMO A_estabilidade de taludes & tradicionalmente abordada em termos de terministicos que admitem um comhecimento rigoroso das propriedades do5 terrenos, das forcas externas atuantes nos taludes e das distribuigdes in ternas de tensdes que clas provocam. Contudo, sabe-se qué todas essas _grandezas esto sujeitas a_ varia ges © incertezas, as quais nao poderdo ser esquecidas na aplicacado dos nétodos de analise de estabilidade de taludes. Por estes motivos, surgiram métodos probabilfsticos que se preocu pam com os aspectos estocasticos dos problemas de estabilidade, procuran do caracterizar esta em termos de probabilidade de colapso (em vez de fa tores de seguranga), e introduzindo conceitos quantificdveis de risco in corporado nos projetos. . Para taludes em solo e em rocha diversos métodos de an4lise probabi listica da estabilidade encontram-se bem estabelecidos, © proporcionam avaliagdes da seguranca mais confiaveis do que os métodos deterministi- cos. Neste trabalhos sio analisados esses metodos ¢ @ ilustrada a sua aplicabilidade através de exemplos. I_- INTRODUCAG Em Geomecdnica, como em muitos aspectos de vida humana, a incerteza & mais freqlente que o determinismo. No caso particular da cngenharia de taludes, as diividas que existem na previsao das caracteristicas geologi- cas, hidrolégicas ¢ mecdnicas dos terrenos conduz geraimente a um pessi nismo na definigao das condicdes reais, resultando um certo conservadoris, mo no projeto e na construcdo de tais obras. Como conseqléncia, os custos sao mais elevados do que poderia espe rar-se a partir de um Conhecimento mais detalhado dos terrenos ¢ dos me canismos de ruptura de taludes que poderdo ocorrer na pratica. Um aspecto que contribui para esse desconhecimento ¢ a precariedade e a escassez de dados habitualmente existentes antes de ser iniciado o projeto (e mesmo a construcao) de taludes. Por outro lado, durante os trabalhos de escavagao dos taludes sao levantadas informagdes adicionais que melhorariam o projeto, mas _as modi ficagdes que resultariam para o processo construtivo podem ser tio dis pendiosas que se torn anti-econdmico implanta-las. Alem disso, a varia ilidade geolégica nao garante que tais solugées sejam constantemente oti mas, aumentando assim o grau de incerteza relativamente & melhor solugao que deve ser adotada. Por todas estas razées, justifica-se a adocdo de uma metodologia - probabilistica, nao so para descrever a variabilidade de propriedases dos ferrenos, mas também para incorporar as novas informagoes adquiridas du Tante o processo construtivo e, ainda, poder empregar técnicas de deci. sd0 sob condigdes de incerteza capazes de orientar o processo de procura da solugao Gtima. Neste ultino contexto, podem-se incluir os conceitos de incorpora sao de risco nos projetos ¢ a pesquisa de solugSes que atinjam satisfato Tiamente um equilfbrio entre a seguranga e a economia nos trabalnos dé engenharia de taludes. I1_~ VARIABILIDADE DOS DADOS GEOLOGICO-GEOTECNICOS O,brojeto de um talude, seja em solo ou em rocha, & influenciado pe da presenca de dados incertos e de dados aleatorios que convém conhecot com algum detalhe. A distincdo entre variabilidade ¢ incerteza parece importante: a pri- meira diz respeito 4 ocorréncia de eventos aleatérios, capazes de serem quantificados por meio de probabilidades, enquanto a segunda refere-se a eventos incertos, com probabilidades de ocorrémcia desconhecidas, porém com possibilidade de serem quantificados através da experiencia e ' "fee Ting” do engenheiro. principalmente se constituirem una incerteza de ise Po estruturado. Em estabilidade de taludes poderemos ter variabilidades e incerte- zas de diversas espécies. As principais sao as seguintes: Variabilidades a} De natureza geolégica, resultantes da composigdo heterogénea dos so Jos ¢ rochas, que dao origen a propriedades mecanicas afetadas por aniso tropias, anelasticidades, efeitos de descontinuidades, ete. b) Provenientes de erros de observacdo, devidos a deficiéncias do proprio gbservador. dos instrumentos utilizados na medicio, do meio-ambienre on def cfetuada a avaliagao e até is perturbacoes causadas no objeto obser y2do pelo sistema de medida (o conhecido principio da indeterminacdo de Heisenberg). crikeguttantes de erros de amostragen, onde se destacam a escolha impré pria do tamanho da amostra e a sua representatividade. a eficiéncia de projeto de amostragem escolhido (ou do processo de busca de informacdo PPreggomado) ¢ ainda o método de inferéncia ou de andlise estatistica ti lizado para o processamento das informacoes obtidas. Incertez Ss: a) Ocorréncia de cargas inesperadas ou imprevistas durante a vida Util do talude. ») Ignorancia acerca do comportamento real da estrutura. ©) Imperfeicdo das observagées e medidas de dados necessirios ao projeto. 2 Simplificacées ou aproximagdes enpregadas nos métodos de andlise de es tabilidade. . Na Fig. 1 esta esquematizado o perfil de um talude em macigo rocho fratruado, onde os simbolos tém o significado seguinte: ~ + peso_especffico do terreno 7 £0esao ao longo do plano de escorregamento > Angulo de atrito do plano de escorregamento altura do talude = altura do nivel de agua = angulo de inclinacdo do talude 9, €a,- angulos dos planos de fraturamento do macico com a horizontal “ymenx R= resultante da aco das forcas externas sobre o talude (tirantes , vi bragdes, etc.) De todas essas grandezas, apenas He i sao suscetiveis de serem me didas com rigor. AS restantes apresentam dispersées em torno de valores nédios, as quais poderdo ser representadas graficamente pelas respecti- vas funcées de densidade de probabilidade (¥.D.P.), conforme ilustra a Fig. 2. For FOP Foe PESO ESPECIFICO 7 coESAO © ANG. OE ATRITO For FDP | rop ALT. DE AGUA Hw MERGULHO a) MERGULHO aa Fig. 2 A obtencao das distrihuigdes de freqtiéncia das vatiadveis intervenien tes no problema de estabilidade do talude resulta de uma analise estatis tica feita sobre os valores medidos dessas variaveis, através de determi nacdes laboratoriais ou de campo. . = Suponhanos qualquer uma das variaveis da Fig. 2, designando-a por x, cujos valores sao provenientes de n medicoes (x, ,X),----sX))- Para estabelecer a distribuicdo de frequéncialcofrespondénte divi de-se, como é sabido, a diferencga entre o maiot e o menor valor de x em classes de intervalos iguais. A grandeza I do intervalo pode ser simples mente a que resultar da divisdo por um ndmero fixo de classes (dez, por exemplo) ou entao ele pode ser calculado pela formula empirica: T= 143.3 logan Em seguida, é desenhado o histograma ou grafico de barras, cujas or denadas representam freqtiéncias do numero de medicdes correspondentes @ cada classe. A funcdo de densidade de probabilidade 6 depois tracadapela uniao dos pontos centrais das barras de grafico, devidamente suavizadas. Quando sao determinadas freqléncias acumuladas de cada classe representa- 13¢ graficanente a fungio de probabil idade acumulada (F.P.A.) que tem uti lidade para aplicacao do método de Monte Carlo, como veremos adiante. Na Fig. 3 estao esquematizadas as representagoes das duas fungdes, lembran do que na F.P.A. as ordenadas varian de Ca 1. FoR . 7 rea 3 8 os : . =z ° VARIAVEL x VARIAVEL x Fig. 3 Existem diversos tipos de curvas de freqiéncia: a normal, a platicir tica a assimétrica, a curva J, a triangular, etc., havendo critérios e§ tatisticos adequados para classificagao das diversas distribuigées. Os parametros de tendéncia central da distribuicao ajudam a inter pretar essas classificacdes, ressaltando-se os seguintes: ~ eas 18 - média: -i : mn ist ja: =i =n)? variancia: v= 2d Pex,-m al ~ desvio padrio: s - vi/? ‘ ‘i «8 Coeficente de variagéo: C= 3 e_ainda a mediana e a moda. Em alguns casos é interessante computar tan bém ~ - média geonétrica: ~ média harménica: — m,"——2—— a a il od A distribuigao normal ou de Gauss é muito comum ser encontrada_ em determinagdes experimentais do tipo das obtidas com pardmetros mecimicos a e fisicos de taludes. Em virtude de estes constituirem uma amostra den tro de uma populacao, admite-se que a média anostral coincide coma me dia da populacio, e embora esta munca seja conhecida com rigor, pode-se determina-la dentro de um intervalo de confianga associado a probabilida des clevadas (903,958, etc.). Assim, por exemplo, o nivel de — confianga de 95$ indica que as possibilidades de a média estar compreendida entre n+ 1,96 4, sio de 19 para 1, visto que a distribuicéo normal a probabi lidade que o valor esteja fora deste intervalo @ de apenas St. _ Possui especial interesse determinar a variancia de uma fungdo 2 de x ey, sendo estas normalmente distribuidas com médias e variancia de signadas por m.v,.m, © vy. y © Ny - Soma: 2 =x4y Wet Yy 2 Produto : z= x y Vy =m VtmVy + VVy = Gociente : z = 2 y + Pungdo : 2 = f(x,y) Estas expressdes sdo validas quando os desvios-padrao sao da ordem de 5% das médias. Quando eles atingem até 30% das médias, os erros come tidos_com o emprego destas formulas sdo da_ordem de 20%.'Se os desvios~ ~padro forem 403 ou mais que as médias, nao devem empregar-se estas re lagdes, mas de preferéncia o método de Monte Carlo, ~ Um caso particular de interesse diz respeitg & utilizacao da chama da distribuiggo triangular. em gue a variavel x € definida por um valor central, um minino e um maximo (ver Fig. 4} FOR xs (%) xP) oss) | | a | \ x x x ° Y * vaRIAVEL x Fig. 4 Para determinagdo da respectiva probabilidade acumulada, usam-se as relagoes auxiliare so =X 21 XS XT sendo a probabilidade P dada por: (quando x > x,) ler OQ emprego distribuigdo triangular de probabilidade € comum quan do existem pou os dados experimentais e subjetivamente sio estabelecimen tos valores maximos e minimos das variaveis que intervém nos calcules de estabiliade de taludes. III - METODOS PROBABILTSTICOS DE ISE DA BSTABILIDADE DE TALUDES A estabilidade de qualquer estrutura pode ser avaliada através do cdiculo de um fator de seguranca que, na sua definicao mais geralmente aceita, € 0 cociente entre a resistencia admissivel do material e a ten 840 que sobre ele atua. Como nem as resisténcias nem as tensdes sdo conhecidas com precisio, pode-se estabelecer uma outra definigdo de fator de seguranca, mais con servativa, a_partir da relacao entre a menor resisténcia da estrutura e a maior tensdo atuante dentro dela. Outra definicdo, mais razodvel, consideraria o fator de seguranca como 0 cociente entre a resisténcia média e a tensdo média. Qual dessas seria a definicao mais correta ? E qual o fator escolhi do para determinado projeto ? Estas pergundas nao podem ser respondidas objetivamente, porque fal tam informagoes sobre as variabilidades inerentes a resistencia e a dis tribuicdo de tensdes. No caso concreto de um talude (Fig. 5) terfamos simplesmente ER ss fT onde ER traduz a soma de todas as resisténcias mobilizadas ao longo da superficie de ruptura e £T a soma das forgas que promovem o deslizamen- to. F, Fig. 5 Contudo, a distribuigio de tensdes o sobre a superficie de desliza mento do talude é provavelmente varidvel de ponto para ponto, assim como as resisténcias apresentadas pelo terreno. E a confiabilidade atribuivel a uma determinagdo de F, sera muito dependente dessas distribuicoes. _ Por tais razoes, a®avaliagao deterministica da_estabilidade do talu de é incompleta sob © ponto de vista matematico, além de ser pouco repre sentativo do aspecto mecanico do problema. Justificam-se assim avaliagées da estabilidade de taludes mais con pativeis com a realidade, ao mesmo tempo que permitam um tratamento for mal mais apropriado. Daf a abordagem probabilfstica do assunto, que pode assumir trés aspectos distintos: a) Método probabilfstico puro. b) Método semi-probabilistico. ¢) Método hibrfdo ou condicionado. 0 primeiro pressupde 0 conhecimento das distribuigdes de probabili dade caracteristicas das tensdes e das resisténcias dos materiais consti tuintes do talude. Suponhamos (conforme Fig. 6) que as duas distribuigdes séo conheci das, sendo f(R) a de resisténcias e g(T) a de tensdes atuantes. Admitindo que os respectivos valores médios sao 1000 ¢ 500, resulta ria um fator de seguranga 2, indicando que o talude seria perfeitamente estavel. fk For fey PROBABILIOADE DE COLAPSO RESISTENCIA tensio Hm) ath 300 1000 Figs 6 f£ possfvel calcular a confiabilidade ou probabilidade de ruptura as sociada aquelas duas distribuicdes. Como 6 sabido, as probabilidades sai representadas por areas situadas sob as curvas de distribuicio ¢, desse node, podemos concluir que a ruptura ocorrera no interior da area trace- jada, quando a resisténcia for ultrapassada pela tensdo, ou seja quando a diferenga D=T-R>0. Se ambas forem normalmente distribuidas, a sua diferenca tambémo se tée a variancia desta 6 igual & soma das variancias de T e de R. besignando os valores médios D-T-R eas variancias: z RO) see e ovat © 2 probabilidade de colapso sera P(D > 0) [rm op l, Esta integral representa a area tracejada na Fig. 6, a qual pode ser determinada a partir de tabelas de distribuigao normal. 6s Q mesmo raciocinio poderia ser feito a partir da func3o de densida de de probabilidade da diferenga entre a resistencia e a tensio verifica das ao longo da superficie potencial de ruptura do talude. Conforme representa a Fig. 7 a probabilidade de colapso Pe seria - quantificada por meio da drea tracejada situada 4 esquerda do valor zero da diferenca R-T. ° 300 Fig. 7 Exemplificando o emprego do método probabilfstico puro, consideremos a estabilidade de um talude de solo incoerente, onde o fator de seguran ga @ simplesmente fornecido por: tgp wi s onde f & 0 Angulo de atrito do solo ¢ i a inclinagdo do talude. Admite- -se una distribuiygu du futor de seguranca conferme indicado na Fig. 8 FATOR O€ SEGURANGA Fig. 8 Para estabelecer a influéncia da dispersao de ¥, sobre a estabilida de do talude, calcula-se 0 valor da probabilidade de ‘colapso (area trace jada correspondente a um fator menor que a unidade) para diferentes va lores do coeficiente de variacao C,. A seatlencia de cAlculo, dadosF, e C, consiste em determinar primei tamente 0 desvio padrao $ ='C\F, © o*cociénte Bye 3 seguidamente consulta-se uma tabela de distribuicao normal padronizada ¢ determina-se a probabilidade de colapso, geralmente através de um calcu lo interpolativo. A Pig. 9 traduz essa variago da probabilidade de colapso do talude como fator de segurancga, para diversos valores do respectivo coeficien te de variagdo. Pode-se observar, por exemplo, que para Fs=I.1, tem-se c= 0.01 rol? v CL = 0.10 cece sees O.18 ¥ Gy O.20 seceeeeee seers Pom 0.50 revelando como a estabilidade tem grande dependéncia da dispersdo do fa tor de seguranga em torno do seu valor médio. os wor? LIOADE DE COLAPSO! RODE 1o-* Fx FATOR DE SEGURANGA) Fig. 9 0 método semi-probabilfstico, também conhecido por método dos valo res extremos, aplica-se quando as distribuicées de probabilidade da resis téncia e das tensdes sao dificeis ou_impossiveis de quantificar. _Utilizam-se entdo as distribuicdes de probabilidade estimadas das variaveis aleatorias que sdo envolvidas nas expressoes da analise de es tabilidade, determinando-se os valores extremos dessas variaveis. Para a3 resistencias usam-se os valores minimos, partindo do respectivo valor mé dio e dividindo-o por um coeficiente de ponderacao estatisticamente defi nido a partir da respectiva dispersao. Para as tensoes empregam-se valo Tes miximos calculados com base no mesmo criterio, tal como indica a Fig. 10. Apés a definicdo dos valores minimo e maximo que s4o envolvidos na anélise, € computado o fator de seguranga pelos métodos deterministicos- Foe For Ten TENSOES Amin RESISTENCIAS PRS Amin} Pig. 10 classicos. Finalmente, 9 método hidrido ou condicionado é a técnica mais uti lizada nos calcules probabilisticos. Partindo do principio que a probabi lidade de ruptura ou de colapso @ equivalente 4 freqUéncia reiativa dos casos em que o fator de seguranga € menor que a unidade, o método empre ga as formulas do calcuto deterministico do Fs, fazendo intervir a varia bilidade dos diversos parametros nelas intervenientes. Estes sao caracté tizados pelas respectivas médias e dispersées permitindo computar o fator de seguranca médio e a correspondente dispersio, com a qual se avalia a probabilidade de colapso. . , ,,Quando as distribuigées de probabilidade dos referidos parametros tém distribuicoes normais,o fator de seguranca também a tera; caso aque las distribuicses sejam aSsimetricas ou quaisquer outras, a variabilida de do fator de seguranca sé pode ser calculada cstatisticamente, ou atra vés do emprego do método de Monte Carlo. . Este metodo possui grande potencialidade visto que é aplicdvel 4 distribuicdes quaisquer ¢ € facilmente implementado em qualquer computa dor. Para sua aplicacado € necessario conhecer a funcdo de probabilidade acumulada de cada variavel aleatéria (por exemplo as representadas nas Figs. 3.¢ 4) e recorrer a uma sequéncia de nameros aleatérios uniforme- mente distributdos. Cada simulagdo € realizada com uma determinada combinag3o de nim tos aleatorios, que permite calcular o valor de cada varidvel da equacao do Fy, calculando depois este ultimo. Apos um niimero de simulagoes sufi cientemente grande, determina-se a probabilidade de colapso pela relacdo” p_ = N® de vezes em que Fs < 1 SN total de simulacdes Existem técnicas especiais para melhorar a eficiéncia do método de Monte Carlo, através do use de amostragens estratificadas, em que a gera gHo de niimeros aleatérios é feita em grupos distintos dentro dos quais a distribuicdo € uniforme, sendo assim otimizada a cobertura amostral da re gido de interesse, Pentz (1982) descreve algumas dessas técnicas com in teresse para os nétodos de andlise probabilfstica da estabilidade de ta udes. IV_- EXEMPLOS DE APLICACAO A fim de ilustrar a aplicabilidade dos métodos probabilisticos se rio abordados dois exemplos simples de cAlculo da probabilidade de co lapse de taludes por métodos diferentes. ° Consideremos (Fig. 11) um talude com 50m de altura de 45° de incli nagdo escavado em solo seco de densidade 2. Para analisar a sua ruptura a0 longo de um plano de escorregamento inclinado a 100, foram determina dos os seguintes pardmetros geotécnicos: VARIAVEL, MEDIA, DESY 10~PADRAG i 0.2 Coesio © (t/m Coef. atrito tg B 0 fator de seguranca & calculado pela conhecida expressao WN cosa ta@ + fll ee sing Wosing onde 0 significado dos simbolos pode ser retirado da Fig. Lk. Fig. 1 Substituindo valores, obtem-se um peso do volume de terreno que po de deslizar we totem nédios de ce tg. determina-se um fator de seguran e usando 0s valor ga medio Fy = 2.10 O desvio padrao correspondente &: 0.241 9 SP ‘ara calcular a probabilidade de colapso associada a esta dispersio determina-se Fel. o.86, rs ¥ yalor este que interpolado numa tabela de distribuigde porml nadronizada fornece Pe = 19.58 Supondo que os desvios padrdo de ce tg# reduzem-se a metade, tere nos: fel. Ll. 4.72 stp 0.68 o que corresponde a uma probabilidade de colapso pp = ay Mais uma vez fica caracterizada a grande importancia da dispersio dos parametros mecanicos sobre a probabilidade de ruptura de taludes. . Através de um segundo cxemplo procuramos ilustrar a aplicagao do né todo de Monte Carlo. Sejajo talude representado na Fig. 12, com 20m da altura e inclinagao de 40°, Fig. 12 Pretende-se conhecer a estabilidade dum volume rochose prismitico triangular desconfinado (portanto tornando o problema tratavel em — duas digensdes} 0 qual pode deslizar a0 longe dum plano de junta inclinado a 30” com a horizontal. . Os parametros fisicos e mecdnicos da rocha foram estabelecidos apds varios ensaios de caracterizacao que forneceram os seguintes valores: COESAO PESO ESPECTFICO (t/m2) VALOR (t/m3) ANG. ATRITO Minimo “1.6 Medio 1.8 Maxime 2.1 Estes dados sugerem uma distribuigdo triangular de probabilidade , que uma vez transformada em probabilidade acumulada P, permitiu obrer as Seguintes equacdes de regressio (com os respectivos coeficientes de cor relagao indicados A direita): ~ © = 0.135 + 0,91 P+ 0.796 PP (c.c. = 0.985) = P= 24.68 + 6,99 P+ 2.54 {c.e. = 0,986) - oY 1,63 + 9,34 P + 0,09 p2 {c.c. = 0.985) Como os valores de P esta compreendidos entre 0 e 1, procedeu-se @ geracgao de numeros aleatGrios dentro desse intervalo, obtendo-se 10 Ba tac, 10 para Be 10 para y, que assim foi suficiente para realizar 1.000 simalacoes. Em cada uma destas era calculado 0 fator de seguranga pela cxpressio: ct (W cosa-kW sina - U) tap eS ‘8 Wsina + kW cos a onde k representa o coeficiente sfsmico expresso como uma fracao do peso que pode deslizar, e suposto_atuante na direcdo norizontal, indicando as sim a aplicagao de solicitagées dinamicas no talude. © programa de computacao acumulava o namero de casos em que Fy era menor que a unidade e no final a probabilidade de colapso cra obtida pe lo cociente entre esse nimero e 1.000. Fazendo variar o Coeficiente sismico e a altura de agua no talude obteve-se uma variagdo entre estes parametros e a probabilidade de colap so determinada peio método de Monte Carlo, a qual consta da Fig. 15, ilus trando como € possivel .raciocinar em termos dessa probabilidade no Senti do de tomar decisdes sobre a estabilidade de taludes. os as oa as 8 os 2 0 01 02 03 04 OS 06 OF 0&8 o8 10 pro! IDADE DE COLAPSO Fig. 13 n V_=_APLICACKO DOS METODOS PROBABILTSTICOS AO PLANEJAMENTO E PROJETO DE TALUDES Qutra grande vantagem da aplicagao dos métodos probabilisticos de andlise da estabilidade de taludes, além da incorporacao de dados _ mais tealisticos nos calculos, consiste na possibilidade de efctuar andlises econdmicas envolvendo 0 conceito de risco. Com tais desenvolvimento é pos sivel a tomada de decisées mais corretas e melhor fundamentadas do que com o emprego de fatores de seguranca. Em engenharia de taludes, como cm muitos outros setores, pode-se de finir um custo generalizado total a partir da soma dos custos efetivamen te gastos na escavacdo, com os custos esperados resultantes duma eventual ruptura. A expresséo dess @ custo generalizado 6, no caso mais simples: ot PefR* 1) Co - € © custo da obra, - Pe - a probabilidade de colapso da estrutura; - R= custo de reconstrugao; - D_ ~ custo dos danos provocsdos pela ruptura, Com tais conceitos, pode definir-se talude Stimo para um dado proje to como aquele que minimiza o custo da escavagad Inicial somado aos. cus tos esperados duma possivel ruptura do talude. ~ A curva de variagio tipica do custo generalizado com a inclinagao - do talude esta representada na Pig. 14, mostrando o aparecimento de um custo globat minimo correspondente & inclinacdo dtima do talude. custos 8 1 brecr +0) INCLIMAGKO D0 TALUDE Fig. i4 Esta variagdo pressupée que a probabilidade de ruptura se mantém - Constante durante a vida Util do talude, o que no é rigorosamente verda deiro. Com efeito, essa probabilidade depende consideravelmente dos cui- dados havidos com a manutengao de talude, através do recurso a obras de estabilizacio, ou donemprege de métodos de reforco (com tirantes, por exem plo) @ até mesmo do acabamento de talude apos a éscavacdo (empregando téc= nicas de "pre-splitting” nos desmontes de taludes en rocha). geral, Conforme aumentam os custos de manutengao, diminui a pro babilidade de colapso do talude, tal como esquematiza a Fig. 15. Quando a manutengao do talude @ inexistente, entdo a respectiva pro babilidade de ruptura tende a aumentar com o tempo, como resultado da de gradagdo de propricdades mecanicas do terreno que Sempre ocorre com maior ou menor intensidade. Neste caso, € usual adotar uma atitude mais conser vadora a respeito dos valores de tais propriedades, a fim de obter proba bilidades de colapso relativamente confiaveis, podendo depois aplicar © criterio do custo generalizado para estabelecimento da geometria final do talude. Pe ‘CUSTO DE MANUTENGAO 00 TALUDE Fig. 15 Através de um exenplo simplificado pode-se caracterizar melhor a a plicabilidade do referido critério na tomada de decisées. Suponhamos © caso do talude final de uma mina a céu aberto, que sub netido a diversos estudos permitiu estabelecer variagées dos diferentes custos como a respectiva inclinagdo, assim como a relagao ( suposta li- near) entre a probabilidade de colapso Pe ¢ a inclinagdo i (expressa em graus) - ver Pig. 16. Pe ® ° co i corsorrots | re-oors neioteios | pert! Fig. 16 0 custe generalizado da construgdo do talude sera: = Cg = 107-1054 + 0.01 i (101054 + 10% 107. Bx otis 108 ? Para determinar o minimo desse custo teremos sg ~ -sxio™+2x105 i = 0 ai resultando: i= 40° Portanto, o angulo de inclinagdo 6tima do talude seria de 40°, fato que conduz 203 seguintes valores de projeto: 6 ~ Cy = 6x10! = Pp = 0.8 > oR = sero? > op = 106 No caso de nao utilizar esta metodologia, o técnico teria dividas na 3 tomada de decisdo, porque se depararia com © seguinte quadro: PROB. DE COLAPSO CUSTO DA OBRA Go INCLINAGAD - 50° 7 x 10° 45° 5.5x 10° 0° ax 10° A-escolha da solucio seria encaminhada para um compromisso entre wa seguranca accitavel (definida através de uma Pz ndo muito alta, ou de um fator de seguranca nao muito baixo) ¢ um custo da obra o menor possivel. O equilibrio cntre os dois aspectos seria diffcil de azingir racionalnen te, fato que ja ndo acontece quando se recorre ao critério do custo gene ralizado. Assim, fica degonstrala a simplificagdo e a 1égica da metodologia pro babilfstica aplicala a tomada de decisées de engenharia onde o risco deve ser incorporade nos projetos YI = _CONCLUSOES A estabilidade de taludes em solos e em rochas precisa, cada vez mais, de ser guantificada através de métodos rigoroses, confiaveis e de simples aplicagao. 0 process tradicional de calewlo de fatores de seguranga enferma de algumas deficiéncias oriundas do seu caracter deterministico ¢ do seu significado subjetivo. Empregando avaliagdcs probabilfsticas da cstabilidude esta-se simul taneanente incorporands o efeito da variabilidade dos parametros fisicos e mecinicos dos taludes ¢ 0 aspecto estocastico da confiabilidade que se pode atribuir a respectiva seguranga. Além destas circunstancias, podon- vse desenvolver critérios de decisso onde o risco é incorporado nos pro jetos. dentro de um ponto de vista de minimizagdo de custos gencrali los. Estas yantagons da metodologia probabilistica foram ubordadas neste trabalho © ilustradas através de exemplos sinplificados. Preconiza-se 0 seu emprego mais comumem projetos de taludes, dalas as consideraveis vantagens do tratamento racional do problema, que se refletom na execugdo de projetos mais confidveis © de obras mais perfeitas. VT ~ RGF RENCTAS CANMET ~ Canadian Center for Mineral and Energy Technology - Pit Slope Manual, Chapter 5: Design. Ottawa, HOFK, # and BRAY, J.W. (1977) - Rock Slope Engineering, 2nd edition . The Institution of Mining and Metallurgy, London. Mc MAUON, B.K. (1975) = Probability of failure and Expected Volume in Failure in High Rock Slopes. Proceedings of the 2nd Australian - New Zealand Conference on Geomechanics. Ed. Institution of Engineers. Brisbane. PENTZ, D.L. (1982) - Slope Stability Analysis Techniques Incorporating Uncertainty in Critical Parameters. Stability in Surface Mining Volume 3, Ed. AINE, New York. SARMA, S.k. 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