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Resenha poema VIII (da seleo de poemas), de Cludio Manuel da Costa.

Em um panorama que contempla, de certa forma, a natureza, Cludio Manuel da


Costa demonstra inconformidade e nostalgia ao lembrar de um lugar natural e, por sinal,
belo. Exalta, atravs de uma dicotomia, o abismo que h entre tal localidade entre o
antes e o agora, transformado por algo que o prprio eu lrico parece no saber.
De forma a dialogar com o Barroco, C. Manuel da Costa cita que (...) de amor
nos suavssimos enredos/foi cena alegre, e urna j funesta, o que pode indicar a
vivncia de um amor em certa localidade, depois destruda por algo, o que faz com que
tal destruio significasse, ao mesmo tempo, a destruio desse amor. Como o poema
subjetivo em demasia e, de certa maneira, externa o Eu, o autor o torna mais enigmtico
e difcil de precisar.
O autor chora, metaforicamente, no ltimo verso do primeiro terceto, o que faria
jus ao que dito acima sobre seu passado amor. Contudo, possvel encarar o poema
como um vislumbre de uma sociedade em paz (paz personificada pela montanha, rio,
rochedo, etc), mas que, como morador de uma cidade em efervescncia poltica aos
ps da Inconfidncia Mineira, o poeta apenas se conforma e aceita sua realidade, como
dito em seu ltimo verso.
Em estrutura clssica de soneto: 2 quartetos e 2 tercetos, escrito em rimas ricas e
pobres, Cludio Manuel da Costa compem um belo poema que, se lido no sculo XXI,
se encaixa perfeitamente em tal contexto. No surpresa para ningum o desastre
ecolgico sem punio devida produzido pela empresa Samarco, aos arredores de Vila
Rica, onde o poeta se encontrava quando escreveu o poema. So poucos escritos ou
versos (tirando, talvez, aquele poema de Carlos Drummond de Andrade sobre a Vale)
que falariam to bem do acontecido como este poema. Segue, abaixo, sua ltima
estrofe:
Tudo me est a memria retratando;
Que da mesma saudade o infame rudo
Vem as mortas espcies despertando.

Rodrigo E. Mendes

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