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DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO 231 Herdt, Gilbert (Ed.). Third sex, third gender. Beyond sexual dimorphism in culture and his- tory, Nova York, Zone Books, 1994, 614p. Heéritier, Francoise. Masculin/féminin. La pensée de la différence, Paris, Odile Jacob, 1996, 332p. [Textos de 1978 a 1993]. Hurtig, Marie-Claude; Pichevin, Marie-France (Ed.). La difference des sexes. Questions de psychologie, Paris, Tierce “Sciences”, 1986, 356p. Mathieu, Nicole-Claude. Identité sexuelle/sexuée/de sexe? Trois modes de conceptuali- sation du rapport entre sexe et genre, in Anne-Marie Daune-Richard, Marie-Claude Hurtig, Marie-France Pichevin (Ed.). Catégorisation de sexe et constructions scienti- fiques, Aix-en-Provence, Université de Provence “Petite collection cEFUP”, 1989, [Re- Publicado in Mathieu, Nicole-Claude, L’Anatomie politique. Catégorisations et idéolo- gies du sexe, 1991]. Rubin, Gayle. L’économie politique du sexe: Transactions sur les femmes et systémes de sexe/genre, Cahiers du CeDREF, 1999, n.7, 82p. [Ed. orig. nos Estados Unidos, 1975]. Tabet, Paola. La construction sociale de Vinégalité des sexes. Des outils et des corps, Paris, L’Harmattan “Bibliotheque du féminisme”, 1998, 206p. [Textos de 1979 e 1985]. * Traduzido por Naira PINHEIRO, Sexualidade* Brigitte Lhomond A sexualidade humana diz respeito aos usos do corpo e, em particular — mas nao exclusivamente — dos orgaos genitais, a fim de obter prazer fisico e mental, e cujo ponto mais alto é chamado por alguns de orgasmo. Fala-se de conduta, comportamento, relagdes, praticas e atos sexuais. De uma maneira mais ampla, a sexualidade pode ser definida como a construgao social desses usos, a formatagio e ordenago dessas atividades, que determina um conjunto de regras e normas, varidveis de acordo com as épocas eas sociedades. Essas regras e normas proibem uma série de atos se- xuais ¢ prescrevem outros, e determinam as pessoas com as quais tais atos podem ou nao e devem ou nao ser praticados. Nao podemos abordar a se- xualidade sem nos referirmos, num primeiro momento, a “fabrica do sexo” (Laqueur, 1990-1992), ou seja, as diversas concepgées do sexo antomofisio- légico e suas respectivas fungdes, bem como as intervencdes fisicas sobre os 222 HELENA HIRATA - FRANCOISE LABORIE - HELENE LE DOARE + DANIELE SENOTIER sobre a satide em meras deficiéncias individuais e privadas, o desenvolvi mento de pesquisas sociolégicas sobre a satide no trabalho que levem conta as relacdes sociais de sexo pode contribuir para a andlise critica organizacao social do trabalho. — Divisao sexual do trabalho e relagdes sociais de sexo -— Flexibilidade - Precarizacéo sociz ~ Técnica e género - Trabalho (0 conceito de) > Appay, Béatrice; Thébaud-Mony, Annie. Précarisation sociale, travail et santé, Paris IRESCO-CNRS, “Actions scientifiques fédératives de I'iRESCO”, 1997, 580p. Cottereau, Alain. Usure au travail. Destins masculins et destins féminins dans les tures ouvriéres, en France, au xix‘ siécle, Le Mouvement social, jul.-set. 1983, n.12 p.71-112. Scavone, Lucila. Invisibilidad social de dolencias profesionales ligadas a la exposicion amianto, Cuadernos Mujer Salud, 1997, n.2, p.143-7. Thébaud-Mony Annie; Lert, France. Emploi, travail et santé des femmes: la législation les recherches face aux mouvements sociaux, Droit social, 1982, n.12, p.781-92. Vogel, Laurent. L’organisation de la prévention sur les lieux de travail, Un premier bilan la directive-cadre communautaire de 1989, Bruxelas, Bureau technique syndical e péen pour la santé et la sécurité, 1994, 287p. * Traduzido por Naira Pinu Sexo e género* Nicole-Claude Mathis Diferenciagao bioldgica, diferenciagao social De modo geral, opomos 0 sexo, que é biol6gico, ao género (gender, em inglés), que é social. Na Biologia, diferenciagio 6a aquisigao de proprieda- des funcionais diferentes por células semelhantes, A diferenga € 0 resultado de uma diferenciagio. O estudo das sociedades animais, incluindo a dos we DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO) 223 nossos primos primatas, revela uma grande variedade (indo do maior con- traste até a quase similitude) de “diferengas” — a assimetria entre fémeas e machos — caracteristicas sexuais secundérias e comportamentos que asse- guram a reproducao, a criacao dos filhotes ea obtengao de alimento (cf., por exemplo, Hrdy, 1981). A humanidade faz parte das espécies de reprodugiio sexuada, por isso ela tem dois “sexos” anatomofisiolégicos com uma tinica fungao de sua per- petuagio fisica: a producio de novos individuos. No entanto, sua marca distintiva, ja detectavel nos primatas superiores, é a perda do estro (coinci- déncia entre excitagao sexual e periodo fértil, nas fémeas animais). Donde, para as mulheres, hé a possibilidade do desejo e de relagdes sexuais sem risco de gravidez, mas também de gravidez sem desejo sexual (estupro, um ato social, parece peculiar ao homem). As sociedades humanas, com uma notavel monotonia, sobrevalorizam a diferenciacao biolégica, atribuindo aos dois sexos fungées diferentes (di- vididas, separadas e geralmente hierarquizadas) no corpo social como um todo. Elas lhe aplicam uma “gramética”: um género (um tipo) “feminino” é culturalmente imposto a fémea para que se torne uma mulher social, e um género “masculino” ao macho, para que se torne um homem social. O género se manifesta materialmente em duas areas fundamentais: 1) na di- visio sociossexual do trabalho e dos meios de produc, 2) na organizacao social do trabalho de procriacdo, em que as capacidades reprodutivas das mulheres sio transformadas e mais frequentemente exacerbadas por diver- sas intervengoes sociais (Tabet, 1985/1998). Outros aspectos do género — diferenciagao da vestimenta, dos comportamentos e atitudes fisicas e psico- logicas, desigualdade de acesso aos recursos materiais (Tabet, 1979/1998) e mentais (Mathieu, 1985b/1991a) etc. — sio marcas ou consequéncias dessa diferenciacao social elementar. Assim, a extens&o para a quase totalidade da experiéncia humana da- quilo que € apenas uma diferenciaciio funcional em uma area leva a maioria dos seres humanos a pensar em termos de diferenca entre os sexos como uma divisao ontolégica irredutivel em que sexo e género coincidem e cada um deles é exclusivo em relagao ao outro. Mas a gramatica do género, ideal e factual, ultrapassa por vezes a “evidéncia” biolégica da bicategorizacao — alids, ela propria problematica — conforme o demonstram a complexidade 224 HELENA HIRATA « FRANCOISE LABORIE * HELENE LE DOARE « DANIELE SENOTIER dos mecanismos de determinagio do sexo (Peyre e Wiels, 1997) e os estad interssexuais, Algumas sociedades, mas nao as ocidentais modernas, € guns fendmenos marginais das nossas sociedades modernas mostraram qi definigdes de sexo e género, assim como as fronteiras entre sexos e/ou en géneros, no so tao claras. Outros sexos e outros géneros O conceito de sexo parece ser universal. Héritier (1996, 19ss) vé na p pria diferenca anatémica entre os sexos uma barreira ultima do pensa to, inserindo a oposicao entre 0 idéntico eo diferente na origem dos sistem conceituais binarios. No entanto, as teorias sobre a origem da sua bi cio, sobre sua fungio na procriacao, ou sobre o sexo “real” de um bebé muito diferentes, desde antes de Aristoteles até os bidlogos moderne um lado a outro do planeta. Conforme a sociedade, ou sempre houve sexos (ordem divina ou ordem natural), ou primeiro um sé (sugestiva te, porém, j4 sexuado ou andrégino, o que dé no mesmo), ou dois seres mesmo sexo. Para a procriasao, ou sé o homem ou s6a mulher, ou a mi com a ajuda de um espirito, é que contribui para a concepgio da cri as vezes 0 pai é tio necessério quanto a mie para continuar a produzir logicamente a crianga apés o nascimento etc. E as vezes a crianga mud sexo no momento do nascimento ou no pertence ao seu sexo aparent entanto, apesar da diversidade das representagbes de sexo e da sexualii as sociedades instauram concretamente (por meio de ritos, regras de & mento e prescrigées diversas) uma diferenga entre os sexos e sua “com mentaridade”, geralmente hierarquica (Mathieu, 1991b). Na maioria das sociedades, a bipartigdo do género deve estar calcad biparticdo do sexo, realizada sob forma normal e normatizada na hete sexualidade. O género “traduz” 0 sexo. Deve haver uma adequacdo @ género e sexo, com uma énfase neste ultimo. Dai a necessidade, transexuais modernos, de mudar de sexo para estar em conformidade o género vivido: o do sexo oposto. Ou, como entre os inuit, a necessid vestir e criar um bebé-menina como menino (travestismo), se a pessoa reencarnou nela era do sexo masculino (e vice-versa), o que cria uma esp cie de “terceiro sexo”, pelo menos até o casamento heterosexual, quandiat crianga retorna ao seu sexo/género “biolégico”’. DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO 225, Mas uma segunda maneira de conceber a relacdo entre sexo e género € admitir a sua divergéncia eventual dando prioridade ao género, ou seja, a biparticao social de fungées ¢ atitudes. O género pode ser um simbolo do sexo e vice-versa. E uma légica pragmatica, mais “heterossocial” do que heterosexual, que permite uma relativa flexibilidade de comportamentos, incluindo-se o sexual. Assim, os travestis modernos (desprezados) ou os berdaches amerindios (individuos passando oficialmente ao género oposto) nao querem mudar de sexo, mas sim marcar sua preferéncia pelo outro gé- nero. O caso africano de casamentos institucionais entre homens ou entre mulheres, em que as normas de género (prerrogativas do “marido” e ser- vicos da “esposa”) eram respeitadas, atestam que o casamento nao se defi- ne principalmente pela fungao reprodutiva — como bem o havia observado Lévi-Strauss (1956) —mas garante um conjunto de direitos do sexo/ ‘género “homem” sobre 0 sexo/género “mulher”. As diversas andlises da relacdo entre sexo e género Nao obstante algumas obras de autores importantes como Friedrich En- gels (1884), Margaret Mead (1935; 1948), Virginia Woolf (1929; 1938) ou Simone de Beauvoir (1949), a questo da construcdo social das diferengas entre Os sexos permaneceu e ainda é marginal nas Ciéncias Humanas, como 0 demonstra a invisibilidade ou o desprezo que ainda atingem os estudos feministas no mundo académico, na Franca mais do que em outros paises ocidentais. Antes do ressurgimento dos movimentos feministas no final dos anos 60, a Historia se interessava eventualmente por algumas mulheres de poder e/ou célebres; a Psicologia e a Psicanilise, pelas “diferengas entre os sexos” na fronteira entre biologia e socializacdo (controvérsia natureza x educacao); a Psicologia e a Sociologia, pelos “papéis sexuais” esperados ou prescritos (o que representava um progresso). A Etnologia constatava a “complementaridade dos sexos” e se questionava, As vezes, acerca de seus fundamentos (controvérsia natureza x cultura). Note-se que no inicio dos estudos feministas, nos Estados Unidos como noutros paises, nao se falava de “género”, mas de mulheres e sua invisibili- zagao pela sociedade e por uma ciéncia androcéntrica, de sua opressio/ex- ploracao pelos homens e das condigdes de sua libertagao. “Como mulheres”, nés pensdvamos e reivindicavamos. Mas 0 que é uma mulher? Os debates 226 HELENAHIRATA « FRANCOISE LABORIE * HELENE LE DOARE + DANIELE SENOTIER entre tendéncias dentro do movimento “de mulheres” revelam diver concepgées subjacentes da relagdo entre sexo e género, algumas das qi no diferem muito das duas concepgdes mencionadas anteriormente. tendéncia francesa, inspirada numa dada corrente da Psicanilise, esta sociada ao primeiro modo de pensamento, baseado no sexo: homens € lheres so diferentes; o problema é que a nossa sociedade nao permitiu: amulher “‘chegasse” psicol6gica e socialmente sua especificidade. opsées mais comuns esto no segundo modo de pensamento, que abre paso para a ambiguidade entre sexo e género: elas abordam as modalid de construsio do género, concebido como elaboragao cultural da dife a sexual, analisando e denunciando as desigualdades entre os sexos @ de rearranjar equitativamente os contetidos dos dois géneros. Finalm uma terceira corrente conceitual da relac4o entre sexo e género (apresem na Franga pelo coletivo da revista Questdes feministas, 1977 ~ 1980) sidera que os sexos nao sao simples categorias bissociais, mas classes sentido marxista) constituidas por e na relacao de poder dos homens as mulheres, que é 0 préprio eixo da definicao de género (e de sua prin sobre o sexo, cf. Delphy, 1991b/2001): 0 género constréi o sexo. As ten cias lésbicas politicas proximas desta corrente encaram a heterosse de nao como um comportamento sexual entre outros, mas como o sist fundador da definigo de “mulheres” por uma relacdo obrigatéria de pendéncia dos homens. Quando Simone de Beauvoir disse: “Nao sem mulher, torna-se mulher”, Monique Wittig (1980/2001) acrescentou: 9 ‘mulher’ nao tem sentido sendo nos sistemas de pensamento e nos sist econdémicos heterossexuais. As lésbicas nao sao mulheres”. As criticas feministas das ciéncias focaram, entre outras, a naturalizg da categoria “mulher”. Dado o amélgama biofisiopsicolégico que a d ea ocultacdo de relagdes de poder que a constituem, fazia-se necessarie troduzir andlises e, portanto, os termos, mostrando claramente o funcia mento social da categorizagao por sexo. Dai o advento, na Franga, das Ges de “sexo social” (Mathieu, 1971/1991a), de “sexagem” (Guillaum 1978/1992) para descrever, em relagdo a certas formas de escravidao e vidao, um sistema de apropriacdo das mulheres (“sexismo”’, mais restrite, referia mais a atitudes), e da expressao, rapidamente generalizada aos pais francofonos, “relagdes sociais de sexo”, correspondente a inglesa gender m lations (relacdes de género). Nos Estados Unidos, o termo gender, até emt DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO 227 ocasionalmente utilizado em estudos psicoldgicos sobre a identidade pes- soal (por exemplo, 0 trabalho de John Money e Stoller, 1968), ganha uma acepgao sociolégica (por exemplo, Oakley, 1972). E a antropéloga Gayle Rubin (1975/1999) propés a expressio sex/gender systems para destacar a interdependéncia sistémica entre os regimes matrimoniais que oprimem as mulheres (nos quais elas nao tém sobre si mesmas, sobre as outras mulheres e sobre os homens, os “direitos” — privilégio de género — que estes tém sobre elas e sobre a sua sexualidade) e os processos econémicos ¢ politicos globais. Desvios da nogao de género Desde os anos 80, nota-se uma tendéncia nos escritos em inglés, femi- nistas ou nao (e, mais recentemente, em francés) de um uso exclusive do termo “género”. Isso acarreta varios problemas: 1) O termo “género” isolado tende a ocultar que 0 “sexo” (a definigao ideolégica e pratica que lhe é dada) funciona efetivamente como pa- rametro na variabilidade das relagées sociais concretas e das elabora- Ges simbélicas. Quaisquer que sejam os modos de articulagao entre sexo e género, detecta-se constantemente um funcionamento assimé- trico do género (e de suas transgressdes) em fungao do sexo. Sem di- vida ha os géneros “homem-mulher”, mas na base inferior da escala do género ha fémeas: sexo social “mulher” (Mathieu, 1989/1991). Como no caso da substitui¢ao do termo “raga” por “etnia”, deixar o sexo fora do campo do género implica o risco de manter incontorna- vel o seu estatuto de realidade. (E de realidade imutavel, esquecendo- -se de que a “biologia” e, em especial a fisiologia da fecundidade, é amplamente dependente do ambiente social.) 2) Evidentemente, as andlises feministas mostram que o funciona- mento do género, incluindo as estruturas sociocognitivas (Hurtig e Pichevin, 1991), é hierarquico. Mas 0 termo continua a ser usado pela maioria das pessoas como uma bicategorizacio inofensiva, Falar de gender studies é entao bem menos comum (ou “particularista”’), do que women’s studies ou gay and lesbian studies, e parece mais tran- quilo (ou “objetivo”) do que feminist studies. Isso permite estudar os aspectos simbélicos e ideolégicos do masculino e do feminino, sem referéncia a opressao do sexo feminino. HELENA HIRATA + FRANCOISE LABORIE + HELENE LE DOARE « DANIELE SENOTIER 3) Pode-se constatar que muitos escritos em inglés, inclusive femi tas, utilizam gender em diversos sentidos, e principalmente como: eufemismo para sexo (o que aumenta a confusao frequente entre e sexualidade). Segundo Brigitte Lhomond (1997), o abandono toda distingao entre sexo e género conduz ao risco de naturalizar género, 4) A partir dos anos 90 surge nos Estados Unidos um novo desvio género, representado em alguns espetaculos da cantora Madon: promovido por ativistas e alguns universitarios com o nome de. vimento e teoria queer (queer: bizarro, ambiguo, insulto usado designar homossexuais, reivindicado aqui para afirmar e reunir dos os comportamentos diferentes daquele da heterossexualid. normativa: homossexuais, lésbicas, transexuais, travestis, bissex etc.). Inspirados por uma forma de pos-modernismo e reprovando: movimentos feministas, lésbicos e gays anteriores por terem cent do o seu foco sobre questées relativas as identidades coletivas co! tituidas, os queer consideram que as categorias de oposi¢ao bina (homens/mulheres, homo/heterossexual) so ultrapassadas ou mo “essencialistas” (enquanto nés haviamos demonstrado que sao construidas pela opressio!).Trata-se entao de ultrapassar o gé! ro (transgendering), embaralhando, desordenando, “perturband: (Butler, 1990) as categorias de sexo e sexualidade. Eles se interessé pelo(s) género(s) como uma “representagio” quase teatral (perfé mance), que cada individuo poderia desempenhar a sua maneira (vi os artigos criticos de F. Collin, 1994; Charest, 1994; Mathieu, 1994] Os aspectos simbélicos, discursivos e parédicos do género sao pi vilegiados em detrimento da realidade material histérica das opr s6es sofridas pelas mulheres, e essa tendéncia encontra forte oposigai entre algumas lésbicas e feministas, especialmente as feministas “ cor” americanas e as do Terceiro Mundo. Trés debates em torno das categorias de género e de sexo A atualidade social, tanto conceitual como juridica, das categorias de sexo e género é evidenciada, nos paises ricos, por meio de trés debates: 230 HELENA HIRATA - FRANCOISE LABORIE - HELENE LE DOARE « DANIELE SENOTIER 3) Mais recentemente, os movimentos sociais tém procurado cont a preeminéncia da diferenca dos sexos num dominio que parecia mais (supondo-se que o tenha sido alguma vez) constituida pela de mée-pai-filho(s): testemunho disso siio as ditas familias mon Tentais (na realidade estatistica, a mae como tinica presenga pare! apés abandono, divércio ou estupro), as recomposigdes familiares, familias adotivas, as mulheres que recorrem a métodos artificiais Procriacao, as lésbicas e os homens gays que sao também pais logicos e/ou desejam adotar. Estes exigem atualmente a integra oficial das “homoparentalidades” entre essas situaces plurais que nada impediria as criangas de ter mais de dois pais, biolgicos sociais —0 que nao faria mais do que reencontrar as miiltiplas fo de “familia” ja conhecidas pela Etnologia. Em relacao direta com essas reivindicagdes verificam-se demandas legalizacao da uniao de vida entre pessoas do mesmo sexo, sob a forma legitimo casamento civil ou religioso em alguns paises, ou sob outras f mas, como o PACS (Pacto Civil de Solidariedade) na Franca. A parcela movimentos homossexuais que reivindica essa legalizagio considera sua luta é contra uma discriminagao que atribui apenas aos heterossexu: (casados ou em regime de concubinato) o reconhecimento social da €a expressdo do “heterossexismo” que eles haviam denunciado, que ela tifica, além disso, a dependéncia dos socialmente mais fracos, e que ou solugo seria o estabelecimento de direitos vinculados nao ao casal, mas pessoa individual. — Diferenca sexual (teorias da) ~ Divisio sexual do trabalho e relagées sociais de sexe Dominacao — Educagao e socializacao — Feminilidade, masculinidade, virilidade — Fam — Linguagem cientifica (sexuagao da) - Sexualidade » Delphy, Christine. Penser le genre: quels problémes?, in Marie-Claude Hurtig, Miche Kail, Héléne Rouch (Ed.), Sexe et genre. De la hiérarchie entre les sexes, Paris, Editions du cnrs, 1991b, p.89-101. [Republicado in C. Delphy, 2001, p.243-260.] Guillaumin, Colette. Sexe, race et pratique du pouvoir. L'idée de Nature, Paris, Coté femmes “Recherches”, 1992, 241p. [Textos de 1977 a 1992] DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO 231 Herdt, Gilbert (Ed.). Third sex, third gender. Beyond sexual dimorphism in culture and his- tory, Nova York, Zone Books, 1994, 614p. Heéritier, Francoise. Masculin/féminin. La pensée de la différence, Paris, Odile Jacob, 1996, 332p. [Textos de 1978 a 1993]. Hurtig, Marie-Claude; Pichevin, Marie-France (Ed.). La difference des sexes. Questions de psychologie, Paris, Tierce “Sciences”, 1986, 356p. Mathieu, Nicole-Claude. Identité sexuelle/sexuée/de sexe? Trois modes de conceptuali- sation du rapport entre sexe et genre, in Anne-Marie Daune-Richard, Marie-Claude Hurtig, Marie-France Pichevin (Ed.). Catégorisation de sexe et constructions scienti- fiques, Aix-en-Provence, Université de Provence “Petite collection cEFUP”, 1989, [Re- Publicado in Mathieu, Nicole-Claude, L’Anatomie politique. Catégorisations et idéolo- gies du sexe, 1991]. Rubin, Gayle. L’économie politique du sexe: Transactions sur les femmes et systémes de sexe/genre, Cahiers du CeDREF, 1999, n.7, 82p. [Ed. orig. nos Estados Unidos, 1975]. Tabet, Paola. La construction sociale de Vinégalité des sexes. Des outils et des corps, Paris, L’Harmattan “Bibliotheque du féminisme”, 1998, 206p. [Textos de 1979 e 1985]. * Traduzido por Naira PINHEIRO, Sexualidade* Brigitte Lhomond A sexualidade humana diz respeito aos usos do corpo e, em particular — mas nao exclusivamente — dos orgaos genitais, a fim de obter prazer fisico e mental, e cujo ponto mais alto é chamado por alguns de orgasmo. Fala-se de conduta, comportamento, relagdes, praticas e atos sexuais. De uma maneira mais ampla, a sexualidade pode ser definida como a construgao social desses usos, a formatagio e ordenago dessas atividades, que determina um conjunto de regras e normas, varidveis de acordo com as épocas eas sociedades. Essas regras e normas proibem uma série de atos se- xuais ¢ prescrevem outros, e determinam as pessoas com as quais tais atos podem ou nao e devem ou nao ser praticados. Nao podemos abordar a se- xualidade sem nos referirmos, num primeiro momento, a “fabrica do sexo” (Laqueur, 1990-1992), ou seja, as diversas concepgées do sexo antomofisio- légico e suas respectivas fungdes, bem como as intervencdes fisicas sobre os

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