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O estudo dos programas ¢ livros diditicos de Histéria pelo CBPE: a andlise do professor Guy de Hollanda FILGUEIRAS, Juliana Miranda (PUC/SP)' Resume [A presente comunicagdo integra a pesquisa de doutorado intitulada Os processos de aaliago de livros didticos no Brasil, ¢ tem por objetivo analisar a obra do professor Guy de Fo Secundirio Brasileiro (1931-1956), publicada em 1957, pelo CBPE. (© CBPE caracterizava-se como um cen de pesquisas © de assessoria teenies para assuntos edacacionas,visando subsidiar as polticaspiblicas brasileira. Hollanda fazia parte da Divisho de Estudos e Pesquisas Educacionas que inka fungo de realizar estudos sobre 0 sistema oficial de ensino. (0 livro de Hollands & referencia, destacando-se como um dos primeirs estado sobre a histria do ensino de Histria e do livto diditico no Brasil, © autor Fornece informagies signiicaivas sobre a hiséria da disiplin nas escoles secundiras brasilciras no periodo de 1930 a 1950, alm de epesentar quests que estavam em debate na 6poca nda, Um quarto de séeulo de Programas © Compéndios de Histéria para 0 Ensino Palavras-chave:livrodiditico, Histria da Educagéo, disciplina escola, Abstract, ‘This communication integrates the Pld. research unllled The evaluation process of textbooks in Brasil, and the objective isto analyze teacher Guy de Hollanda’s work, A quarter ofa cenwy of Programs and Compendiums of History for Brazilian Secondary Eaducation (1951-1956), polished in 1987, by CBPE. ‘The CBPE was characterized a¢ a center of research and assessorship technique for ‘educational subjects, aiming at to subsidize the brazilian public politics. Hollanda was part of ‘he Educational Division of Studies and Research, who had the function o realize studies about ‘the education official system, “The Hollanda’s book is referential, being distinguished as one of the first studies about the history of the History teaching and the textbook in Brazil, The author supplies significant " fest © doutorande no Programa de Estudos PésGmadundos em Educayio: Histéria, Politica © Sociedade a Pots Universidade Catia de So Paula information abou the subject's history in Brazilian intermediate schools inthe period of 1930 ‘unt 1950, beyond presenting questions that were in debate athe time, Keyword: Textbooks, Education History, schoo! subject, Introdusio Guy de Hollanda publicou seu livo Um quarto de século de Programas e Compéndios de Histéria para 0 Ensino Secundério Brasileiro (1931-1956), em 1957, pelo CBPE ~ Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, vinculado ao INEP (Instituto "Nacional de Estudos Pedagégicos) ¢ ao Ministerio da Educagao ¢ Cultura (MEC). 0 autor era professor da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil © \Wenico de educagdo na Divisio de Estudos ¢ Pesquisas Educacionais do CBPE. Esta primeira introdugdo permite observar a principal caracteristica da obra - ser ‘uma pesquisa realizada pelo CBPE. Hollanda (1987) afirma, na nota inicial do livro, ‘que sua obra foi escrta em um momen de possivel reforma do curriculo da escola secundaria. Naquele momento, 0 CBPE, reeém eriado por Anisio Teixeira (em 1955), com 0 apoio da UNESCO, tinka 0 objetivo de organizar e publicar pesquisas sobre ‘questBes cultuais ¢ escolares, para subsidiar as politicas piblicas para a educagio brasileira, Hollands fazia parte do. grupo de professores responsiveis por produzir anilises documentadas sobre os programas, métodos de ensine © compéndios das diversas disciplinas escolares. [Nos anos 1950, visando realizar estudos sobre os problemas educacionais do Brasil, difundindo a teoria pragmatista de Dewey, a concepgo de ciéncia do CBPE/ INEP, dava énfase na “aplicago do conhecimento cientifico na solugdo dos problemas de ordem pritica” (Mendonga, 2005, p, 10), De acordo com Xavier, as séries publicadas pelo CBPE, elucidavam a dupla expectativa do érgio: Por um lado, a publicacdo de manuais de ensino expressam a intengo de influir no funcionamento da escola piblica, seja fornecendo ‘subsidios para a renovagio dos mélodos pedagdgicos, sea selecionando © otpanizando os confeids a serem ensinados no ensino sscundiro. Por outro lado, a publcagio de estudos © pesquisa sobre a realdade nacional, ao lado de levantamentos © diagnéstcos sobre a situagdo do {ensino,expressam # ambigio de formar uma conseigncia a respeto dos problemas macionais ¢, dessa forma, hablar os professores ao ‘xercieio exten de suas atividades” (2007, p. 2142). Neste sentido, Xavier (1999) ainda observa que 0 CBPE se encaixava na perspectiva desenvolvimentista do period, ao se constiuir em um centro de pesquisas ¢ de assessoria téenica para assuntos educacionais, “visando promover a racionalizagio dos servigos ligados ao sistema oficial de ensino ¢ tendo no planejamento o principio sico para nortear a proposiglo ¢ acompanhamento de projetos educacionais” (p. $3). Dentro do CBPE, a DEPE ~ Divisio de Estudos e Pesquisas Educacionais-, era a responsivel por realizar as pesquisas sobre o funcionamento do sistema oficial de censino, Uma das linhas de trabalho desenvolvidas na DEPE cram as publicapSes da Série Curriculo, Programas ¢ Métodos, que produzia anilises sobre os objetivos das isciplinas eseolares, seus programas € métodos, além da avaliagio dos compéndios (XAVIER, 2007), © estudo de Hollands (1987) foi uma das primeiras relizadas em tal Série Analisar assim, o livro de Hollanda (1957), compreendendo-o como uma obra de seu tempo — uma das pesquisas publicadas pelo CBPE no fim dos anos 1950 -, toma-se ignificativo, pois, como afirma Xavier, revela apectosrelevantes ds orpsnizago do sistema pubico de ensino, do funcionamento das insttucionais esclare, das piticas docentes, ‘dos princpios flossficos © dos métodos de ensino que. se queria divulgar, das _matrizes currculares. predominantes m0 periodo, dos ‘expedients administrativos mais comuns exisentes nas escolas ou no Sistema adninistrativo em geral, fornevendo uma visio de conjunto das caractersticas fundamentais da edueagio brasleim nas décadas de 1950-1960 (2007, p. 2106). A obra do professor Guy de Hollanda 0 livro de Hollanda (1957), Um quarto de século de Programas e Compéndios de Histiria para © Ensino Secundirio Brasileiro (1931-1956), & referencial, destacando-se ‘como um dos primeiros estudos sobre a historia do ensino de Histéria e do livro didatico no Brasil, Utilizando como fontes principais a legislago do periodo - os textos das reformas, os programas de ensino, portarias e deeretos ~ , os livos diditicos, 0 autor presenta informagies significativas sobre a histéria da disciplina Histéria nas escolas secundarias brasileras Para claborar uma andlise dos programas ¢ compéndios de Historia para o ensino secundirio no Brasil, no fim dos anos 1930, Hollanda retoma ao inicio dos anos 1930, Jogo apos a “Revolugdo de 30” e is mudangas realizadas no sistema educacional. aulor analisa as reformas educacionais do ensino secundirio © seu reflexo nos programas para a disciplina Histiia, de 1931 a 1956, Holanda (1987) divide seu livro em trés grandes partes. Os cinco primeiros capitulos formam a primeira parte, em que sio descritas as caracteristicas. dos programas elaborados com as reformas Campos e Capanema, finalizando com os programas de 1951. Na segunda parte, o autor aborda as peculiaridades dos compéndios de Histéria anteriores as reformas Campos © Capanema ¢ as mudangas nos manuais roduzidos a partir das orientagdes oficiais. Na tereeira parte, o autor presenta quests ‘que estavam em debate nos anos 1950, como: a veiculago de preconceitos ¢ cesterebtipos nos manuals escolares; a proposta de novos instrumentos para atualizar 0 censino da diseiplina; o debate sobre a integragao da Histéria nos Estudos Sociais; a fungdo da Comissio Nacional do Livro Diditico (CNLD) na avaliagdo dos compendios e; 0 papel dos professores alunos, em relagio aos programas © compéndios de Histéria 'Na introdugio de seu livro, Hollands apresenta os objetivos ¢ contetidos do ‘ensino da Historia no curso secundirio, destacando o debate da época entre educadores ‘cespecialistas, sobre as finaldades da educagao © o papel que o ensino de Historia teria para a efetivagio de tas finalidades, Para o autor, o objetivo do ensino de Histéria na ‘escola média era fazer com que o aluno adquirisse uma vivéneia do passado da Humanidade, para que pudesse compreender © presente, “com todas as suas sombras © Iuzes,tragé as experitncias das diferentes civilizagdes que coexistiam, para que os alunos ase esperangas” (1957, p. 7). Os programas de Histria deveriam enfatizar conhecessem a diversidade das formas de cular 'Na primeira parte da obra, Holanda analisa as reformas do ensino secundro e as mudangas por que passou a discplina Hiséria neste processo. As vésperas da reform Fransisco Campos os programas de ensno era formulados pelos professores do Colégio Pedro Ile pelos estabelecimentos de ensno socindério ofiiis. Com a reforma Campos, os programas e as instrugdes sobre os métodos de ensino passaram ser eaborndos pelo recém eiado Ministtio da Educago ¢ Sade Pibica, Tal mudanga feria com que tanto os estabeleimentos de ensino sccundirios ofiiis, como os particulars, se submetessom a esera Feder, perdendo a possibilidade declaorar seus riprios programas, que atnderiam i particularidades regions De acordo com Hollands, ao transfeir para o Minstrio da Rducagio @ uniformizadora expedigdo dos programas, a reforma Campos acentuava a “central do ensino secundério” (1957, p. 15). Para efetivar 0 controle dos programas foi ‘organizado um sistema de inspesio federal. Este sistema, juntamente com as provas € ‘exames escritos,fazia com que os diretores e professores seguissem priortariamente © programa oficial Em relagdo ao ensino da Historia, as cadeiras de Historia do Brasil e Universal foram substitudas pela Histria da Civilizago, com o propésito de articular 0 estado do passado nacional © americano com o da Humanidade, Os objetivos da diseiplina visavam formagio humana do aluno © sua educaso politica, contribuindo para que 0 adolescente tomasse consciéneia de seus deveres para com a comunidade ¢ o pais. Para Hollanda as instrugdes metodoldgicas da reforma Campos cram inovadoras, a0 ‘estabelecer que 0 professor deveria “estimular nos alunos os dons de observagio, Aespertar-thes 0 poder ertico e oferecerthes sempre ensejo a0 trabalho auténomo” (1987, p20) As instrugdes recomendavam que houvesse preocupagio em nio forgar 0 ahuno a memorizar toda a matéia, em detrimento do poder ertico do ensino, Contudo, Hollanda enfatiza que dificilmente as instrugdes para o ensino de istiria se eftivaram, pois estavam em contradigio com a regulamentagio das provas parcais e exames de segunda época, Tendo que estar para os exames, professores passavam somente 0s pontos que cariam na prova e os alunos apenas memorizavam- ros. Para 0 autor, as renovayies propostas nas instruySes metodoligicas de 1931, haviam fracassado, Rompendo definitvamente com o programa da reforms Campos, em 1940, por ‘meio de uma portaria ministerial, a cadeira de Histéra do Brasil retornou como easino aut6nomo, com programa e horiio préprios, em “contadiga0 a lei do ensino secundrio vigente” (1987, p, 32), passando a ser ministrado parallamente & Historia Geral ¢ da América (© segundo capitulo apresenta as mudangas inteodusidas pela Lei Orginiea do Ensino Secundirio, de 1942, ¢ seu reflexo nos programas de Histéia, A reforma CCapanema, como ficou conhecida, orpanizou o curso secundiro em pinisio ¢colépio (clissco eiemifiea). De acordo com Holanda, a reforma Capanema efetivou a portria de 1940, ao resabelecer a Histiria do Brasil como diseplina auténoma, tanto ro ginisio como no colo. Segundo a lei orginiea, 0s programas seriam elaborados por uma comissio Aesignada polo Minisro da Bducagio. Para claboragio dos programas de Histri, dostacava-se a participagio de Jonathas Serrano, professor do Colégio Pedro II ¢ autor ‘de compéndios de Histéria, Cada programa deveria ser marcado por sentido patridtica & pela preocupagdo moral, “sendo a formagdo da personalidade integral dos adolescentes a primeira finalidade da educagao secundéria” (1957, p. 44). B possivel observar em tal ppassagem, a preocupagio de Capanema, durante o Estado Novo, com a educagio moral « ivica dos ahunos. (© programa de cada disciplina continha o sumério, expresso em unidades iditicas ¢ as finalidades educativas. As unidades didiicas eram compreendidas como ‘um método pedagégico, que agrupavam conhecimentos corrcacionados, formando um problema que seria estudado em conjunto, Todavia, de acordo com Hollanda, “nos programas brasileiros de Histéria do curso ginasial, tais unidades diditicas no ppassaram de subdivisbes logicas da matéria nelescontidas” (1987, p. 46) Como as instrugdes metodolégicas dos programas de Historia Geral e do Brasil para o Ginisio demoraram a ser publicadas, Hollanda analisou as indicagBes presentes nos volumes diditicos de Serrano, que serviam de modelo para outros autores. Para Serrano, a historia pitria deveria fortalecer a formagio moral e a consciéncia patridtica dos alunos. [Em 1951, com o descontentamento de alguns professores em relagdo & reforma Capanema, nova lei foi promulgada, n° 1.359, reorganizando a seriagio do estudo da Histériae, incluindo a Histéria da América como disciplina aulSnoma. Os programas de ensino seriam claborados pelo Conselho Nacional de Educagio © aprovados pelo Ministério da Educagio. Ainda em 1951, 0 Colégio Pedro Il voltou a ser responsivel pela elaboragio dos seus préprios programas de Histéria, Estes programas acabaram sendo expedidos para os demais estabelecimentos of is © pariculares do pais. O Colégio Pedro 11 elaborou assim, programas minimos de Histria e, posteriormente, elaborou programas de desenvolvimento e instrugdes metodoldgicas, [Nos programas minimos das séries ginasiais predominavam os assuntos de histéria politica, enquanto no colégio, acrescentavam-se os aspectos econémicos,sociais « culturais. Hollanda erticava os programas, ao afirmar que somente os programas rminimos deveriam ser obrigatérios, Para autor, a proposta de se observar as diferengas regionais nfo seria efetivada enquanto cada estabelecimento de ensino nfo claborasse © seu proprio programa de desenvolvimento, Do modo como estavam estabelecidos, os ‘programas de desenvolvimento tornavam-se uniformes para todo 0 Brasil Holanda conciui a primeira parte de seu trabalho observando que 0 estudo da Historia a panir de 1931, recebeu uma extensio muito maior do que em todos os ‘curiculos anteriores. Comparando os programas, observou que os de 1931 tentaram renovar “as anteriores listas de “pontos’,eujo conteido, ha muito, requeria atuaizagao” (1957, p. 102). Os programas fracassaram, pois previam um corpo docente de alta ‘qualidade, o que no havia no Brasil, com raras exceySes ¢, eram modificados em fungio das provas ¢ exames, Os programas da reforma Capanema aleangaram o ‘equlibro entre 0 saber do professor © 0 que deveria ser ensinado, pois 0s programas ‘ram “minimos”. Para 0 autor, tal iniiativa nio surtixefeito, “porque foi desvirtada pela expedigao oficial de programas de desenvolvimento, uniformes para todo o pais” (1957, p. 102), ‘Na segunda parte da obra, Hollanda analisa 0s manuais escolares produzidos is vésperas das reformas de ensino © as caraterstcas principais dos livros didaiticos publicados ap6s as reformas Campos e Capanema Tnieialmente, os manuals nacionais seguiam os programas do Colégio Pedro 1, ‘que regiam os exames finsis do curso seriado dos estabelecimentos de ensino no ‘equiparados e dos preparatérios. Trés livros diditicos de Historia Universal se estacaram antes da reforma Campos: 0 Epitome de Histéria Universal, de Jonathas Serrano, publicado em 1918, © manual Histéria da Civilizagdo de Oliveira Lima, de 1921 ¢, Histia Universal, de Joao Ribeiro, publicado em 1928, [Em relagio aos livros de Histéria do Brasil, publicados antes da reforma de 1931, Hollanda destaca os manuais de Ribeiro © Serrano. Hollanda consideravao livro ‘de Ribeiro, um compéndio que “incluia bom niimero de paginas, que versavam sobre aspectos do nosso passado, desconhesidos pelos ‘pontos’oficiais” (1987, p. 121). J4 0 manual Histria do Brasil, de Serrano, “deixava transparecer uma atitude nacionalista ‘mais acentuada do que a de Jodo Ribeiro” (1957, p. 122), Para Hollands, a obra de Serrano era excelente didaticamentee tinha bela apresentagdo material ‘Com a reforma Campos, em 1931, ¢a publicagdo dos programas de Historia da CCvilizagio, foram produzidos novos compéndios. Os primeiros autores eram pioneiros, professores do colégio Pedro Il, da Escola Normal, do Colégio Militar, de Ginisios Fstaduais. Ainda nfo cram os licenciados das Faculdades de Filosofia. Contudo, segundo Hollanda, mesmo depois da criago das Faculdades de Filosofia, poucos eram ‘0s compéndios de autoria de lcenciados. Hollanda analisou os compéndios de Historia que tiveram maior difuslo, Para a anélise dos manuais, desereveu a estrutura e organizagio intema dos compéndios ~ 8 “organizagio dos capitulos, o lugar das ilustragdes, resumos, exerciios, vocabulério ¢, possiveis bibliografias, Para Hollanda, como diversos autores de compéndios tinham se inspirado na Histéria da Civilizaydo, de Serrano, tal obra deveria ser examinada com ‘mais detalhes. Cada volume de Histéria da Civilizagdo, de Serrano era precedido de uma “Explicagdo Necessiria”, que destacava observagdes sobre os programas oficiais, ‘conselhos pedagégicos ¢ indicava as caracteristicas didiicas de cada tomo, Em relagio aos programas oficiais, Serrano somente “adotou para titulos dos respectivos capitulos (do programa, quando Ihe pareciam adequados” (1957, p. 132). Modificou titulos que ‘considerava inconvenientes ¢ acrescentou alguns capitulos que nfo apareciam no programas. Os exercicios eram exemplificativos, “insstindo nas questdes de causas € efeitos, no papel dos grandes vultos © na significagdo dos fatos mais importantes” (1957, p. 133). ‘As mudangas nos programas de Histéria, introduzidas pela Reforma Capanema, ‘em 1942, determinaram a publicagio de compéndios adequados aos novos programas, (Os manuais de Historia passaram a ser divididos em Histéria Geral e do Brasil. Os autores adequaram os antigos compéndios de Histéria da Ci iligagio separando 0 ‘apftulos que trtavam da Histria Geral ¢ os da Histéria do Brasil, Contudo, uma das novidades do periodo, eram os novos autores de compéndios, formados pelas Faculdades de Filosofia, que competiam com 0s seus predecessores. Primeiramente, Hollanda analisou os compéndios de Histéria Geral para o tindsio, Em seguida, analisou detalhadamente a Histéria Geral, do professor Serrano. (0s preficios das manuais de Serrano continham indicagBes metodol6gicas que supriam. as instrugdes ofciais no publicadas, Como em seus compéndios anteriores, © modelo idatico da Historia Gera, foi copiado por diversos autores, ‘Ao analisar as obras dos professores licenciados nas Faculdades de Filosofia, Hollanda observa que nem sempre seus livros revelavam-se melhores em informagdes histricas. Sobre os livos de Historia do Brasil para o ginésio, Hollanda observa que ‘ram de modo geral melhores que os de HistGria Geral (0s livros de Histéria Geral para o colegial eram iguais aos do ginisio com alguns “pontos ampliados e com maior nimero de citagdes de obras histéricas, no texto ‘unas notas a0 pé da pagina” (1957, p. 157). Destacando um autor em especial, N4, por ser professor do magistério universitirio de Historia Modema © Contemporinea, Hollands observa que 0 2° volume de suas Siimulas, apresentavam uma sintese “bem informada de uma época histérica, que a maioria dos alunos secundérios pouco cconhecem” (1957, p. 160). [No iltimo capitulo da segunda parte da obra, Hollanda analisa os compéndios «que estavam em uso, elaborados a partir dos programas de 1951, Os autores dos livros Aidéticos adaptaram os manuais de acordo com a Lei n® 1.353, Somente pequenas rmodificagies foram feitas, como 2 mudanga nos nomes dos capitulos. Muites compéndios seguiam os programas de desenvolvimento de 1951 ¢ se beneficiavam com as corregSes indicadas pela CNLD, Deste modo, os novos livros diditicas corrigiram os erros mais gritantes, apontados pelos pareceres da comissdo. Os autores dos manuais exam os mesmos das edges anteriores Hollanda apresenta as caracteristicas dos livros didéticos de Histéria Geral, da América © do Brasil, para o ginésio, destacando as ilustragdes, a linguagem dos rmanuais, a organizagio das unidades, dos capitulos e, principalmente, os erros historicos presentes em cada compéndio. Nesta parte da pesquisa, Hollanda enfatiza todos os aspectos diditicos, pedagégicos © materiais, positives e negativos, que os rmanuais apresentavam, Com tal diagnéstico, o autor pretendia colaborar para a melhoria dda quilidade dos manuais. Para encerrar a segunda parte de sua obra, Hollanda conclui que, os compéndios ppara 0 curso secundirio, produzidos de 1931 a 1956, melhoraram a apresentagio material, em conseqiéncia da expansio do mercado editorial no Brasil. Os manuais de Historia escrtos por brasileiros mostravam-se, igeiramente, superiores, “sob ponto de vista de informago histérica, sos publicados antes do funcionamento dos cursos universitérios destinados formagio de professores da matéria para 0 ensino secundirio” (1957, p. 195), Os manuais seguiam estritamente os programas oficiais © ‘eam excessivamente resumidos, fazendo com que 0s alunos apenas memorizassem os ‘conteides para as provas ¢ exames. Os compéndios em uso, em 1986, eram apenas reedigdes modifieadas dos livros escritos de acordo com os programas de 1942 ¢ 1945 ‘que, por sua vez, eram adaptagies dos volumes destinados a0 ensino da Histéria da Civilizagio. [Na terceira parte do livro, Hollanda se insere nas discussBes que estavam na ppauta dos debates realizados na época em que escreveu sua obra, Sobre os esterestipos © valores presentes nos compéndios de Histéria, Hollanda dialogava com a UNESCO, que pensava as tensdes internacionais, e procurava amenizé-las, para que se estabelecesse ‘uma “compreensio intemacional”. Hollanda esereve em meio as discussBes do pos- 10 ‘qucrra, momento em que se tentava repensar a relay entre os povos. Uma das metas ‘da UNESCO cra a revisio dos manuais escolares © de seus conteidos, sobretudo os livros de Historia © Geografia [Nos capitulos seguintes, © autor faz sugestées de leituras complementaes documentos histSreos, Atlas hiséreo, ete. Prope madanga nas avalisgdes de Histria. ‘Comenta a possibilidade de utiizagio de meios audiovisuais no ensino da diseiplina Apresenta a discussio referente& proposta de o ensino da Historia estar inegrado aos Estudos Socisis, retomando a discussio realizada nos BUA, Hollanda desereveu ainda, 4 legislagdo sobre o Livro diditico € © funcionamento da CNLD. Para 0 autor, a ‘Comissio deveria ser um érgio apenas eonsultivo, que organizaria resenhas eriticas dos ‘compéndios publicados, recomendando os melhores. Por ‘iltimo, Hollands localizava 0 papel do aluno € do professor no ensino secundério, que para 0 autor, eram “meros acessério da nica realidade existente para a legisiagdo oficial do ensino: as provas e os exames” (1957, p. 253). Retomando iscussio jé apresentada, Hollanda faz sugestdes visando a melhoria do ensino. Para © autor 0s programas oficiais deveriam ser realmente “minimos”, de modo que © professor fivesse autonomia para elaborar seus préprios programas de desenvolvimento Para que a autonomia se eftivasse de fato, era necesséio 0 fim do regime de provas © cexames, jumtamente com o sistema de inspegao federal “de cariter_ meramente administrative, ou melhor dito, burocritica” (1957, p. 255) ‘Algumas consideragdes Holanda propés-se a analisar 0 ensino de historia na escola médlia, a partir do ‘momento em que seu contesdo passou a ser centralizado em ambito federal. O governo Vargas criou o Ministério da Educagdo e Saide, que se tomou responsivel por elaborar ‘os programas de ensino para as disciplinas, Ao mesmo tempo, o govern instituiu todo ‘um mecanismo de controle do ensino, por meio do sistema de inspegao federal, das provas © exames eseritas, que para o autor condicionavam a aplicagio efetiva dos programas oficiais. Somou-se a este flo, 0 controle sobre os livros diditicos, com a criagio da CNLD, em 1938, que av autorizados para uso nas escolas pibicas e pariculares de todo o pais. java e selecionava os manuais escolares que seriam Neste contexto, Hollands procurou elucidar as diversas mudangas por que ppassou a disciplina, Ora a Historia do Brasil © Geral deveriam estar unidas ~ na Histéria dda Civilizaglo-, pois se completariam. Em outro momento a Histéria do Brasil possuiu n hhoririo © programa de ensino especifico, separado da Histéria da América © Geral, Ao longo das mudangas, os antores das manuais escolares adaptaram-se 1 importante ressaltar ainda, © debate que Hollanda travou com dois rgios atuantes nos anos 1950 ~ a UNESCO ¢ a CNLD. © autor se solidarizou com as propostas de modificagio dos conteddos de ensino da Histéria, sugeridas pela UNESCO, que procurava modificar a forma como as “outras” nagdes eram retratadas nos manuais diditicos, para que se evitassem novos conflitos intemacionais. Todavia, Hollands questionow atuago © a propria existéncia da CNLD, posicionando-se ‘contririo & forma como a Comissio analisava ¢ aprovava os livres didéticos naquele periodo, Para © autor, a comissio deveria ser um rgio consultive, que organizaria periodicamente, “listas criticas dos compéndios publicados, no Brasil, para as escolas médias, com o fim de orienta os professores na sua escolha” (p. 197). Ajustando-se ao objetivo do CBPE, como professor de Historia na Universidade do Brasil e téenico de educagio do MEC, sua andlise apresentou opini8es, julgamentos, cortegdes e sugestOes. Como o CBPE pretendia, a partir do diagnéstico das situagdes escolares, elaborar propostas para a melhoria do ensino, Hollanda exerceu seu papel, ao questionar a eficécia dos programas, dos contetdos, das metodologias © dos livros Aidéticos, destacando os equivocos presentes nos manuais, livro de Hollanda & um produto de seu tempo, que formece grande quantidade 4d informagdes sobre as mudangas ocorridas no ensino da Historia © na produgio de livros didéticos, com as reformas de Francisco Campos ¢ Gustavo Capanema. uma obra que permite compreender as expectativas dos estudos realizados pelo CBPE e sua tentativa de intervr nas politicas pablicas para a educagio, Referénci Dibliogréficas HOLLANDA, Guy. Um quarto de século de Programas ¢ Compéndios de Histiria para o Ensino Secundiirio Brasileiro (1931-1956). Rio de Janeiro: CBPE/INEP, MEC. 1987. 291 pp. MENDONCA, Ana Waleska P. C. ds politicas do INEP/MEC, no contexto dos anos 1950/1960. In: VIL Congreso Iheroamericano de Historia de la Educacién Latinoamericana, Quito/Equador. 2005. pp. 1-18, XAVIER, Libinia N. O Brasil como laboratério: educagio ¢ cléncias sociais no projeto dos Centros Brasileiros de Pesquisas Educacionais CBPE/INEP/MEC (1950- 1960), Braganga Paulista: Edusf. 1999. 281 pp. 2 A politica de publicagses do CBPE/INEP — MEC (1955-1965). In; Simpésio Intemacional Livro Diditica: Educagio ¢ Histéria, Sio Paulo. 2007. pp. 2100-2112

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