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UNIVERSIDADE E SOCIEDADE SINDICATO ANDES NACIONAL &=: Filiado a CUT "ano WNP = dunho 1904 iversidade Pés-graduacao, escola de formagaéo | para magistério superior AX s universidades sao insti- ye ee mm profundo enraizamen- :0 © uma grande densidade histori 22. Por isso, so instituig6es que reservam suas tradigdes basicas 3 produzem continuamente seus necanismos de atualizagdo © so- >revivencia. Sobre a base comum sniversal @ hist6rica - instituigao social que deve produzir e dissemi- Jar 0 conhecimento ¢ formar cida- 480 e profissionais criicos e com- pelentes -, as universidades tam- 26m produzem suas diferengas. $50 porque sao forgas sociais vi- ‘as, merguihadas nos enredos das elagses econdmicas e politics, sobre as quais intervéem e exerci. tam uma espécie de consciéneia ética da sociedade. As universidades vao se cons- ‘truindo na dialética entre os pa- * droes universais e perenes e os ajustes e contraposigdes as pres- s6es, demandas e projetos politt- cos de um determinado momento. As novas experiéncias, as diferen- tes configuragdes _institucionais, contribuem, ndo sem contradigées, com seus ‘elementos caracteristi- cos e temporais, para a ampliagao do campo de significagdes da uni- versidade, sem contudo abalar seu enraizamento, histérico e esvaziar sua densidade social. A historia das universidades 6 um aspecto da historia das instituigSes das so- ciedades, José Dias Sobrinho Uma grande expansio social, especialmente na América Latina, Produziu-se na década de 60. Crescimento populacional, expan- ‘880 econdmica, ampliacao dos de- bates © confrontos acerca dos di- feitos civis, evolugao da produgéo de conhecimentos cientiicos © de descoberias tecnoligicas, todo esse quadro de crescentes com- plexidades provocou uma forte reso por novas e mais amplas portynidades educacionais. Essa Pressdo social pela “democratiza- ‘9@0" das oportunidades de estudo @ formagao escolar coincide, ainda que por razbes diferentes, com 03 Projetos politicos dos governos dos setores produtivos. Com efe- to, a expansao do setor piiblico e 2 Universidade e Sociedade | | | | do mercado de trabalho criou no- vas oportunidades de emprego © exigi_a formacao de profissionais, com habilidades especificas ¢ de ‘consumidores mais qualificados. ‘A educacao, entao entendida ‘como capital humano, era, de um lado, esperanca de ascencao so- ial e, de outro lado, instrumento principal para alavancar o desen- volvimento, © setor publico neces- sitava de mao-de-obra qualificada e em numero suficiente para aten- der A ampliagao dos servicos. Os setores industrials em expansdo passaram a demandar trabalhado- res @ técnicos especializados que pudessem responder com eficién- cia as necessidades emergentes & a0s novos tipos de problemas que surgiram no movimento de expan- $80 © modemnizagao da economia. Houve, a partir dessa década de 60, um importante acréscimo de oportunidades educacionais de modo geral, com notavel. cresci- ‘mento da taxa de escolaridade em nivel superior. Do ponio de vista quantitativo, a simples ampliagao das oportunida- des edueacionais, também conhe- ida impropriamente como “demo- cratizagao da educagao”, necessa- ria ao preenchimento de novos em- pregos para um melhor padrao de consumo e para 0 alivio de pres- sdes e demandas especialmente da classe média, sem grandes preocupagdes com a qualidade, re- solveu-se com a abertura de um elevado nimero de faculdades iso- ladas. Entretanto, as novas confi- guragdes econémicas mundiais e, Particularmente no Brasil, 0 projeto de transformacao do pais em “na- ‘:a0-poténcia” como pretendia a eli- te govemante, estavam a exigir, de alguns setores educacionais uma atuagao mais qualificada e compa- tivel com essas realidades emer- gentes @ em rapida mudanga. O pais necessitava de cientistas e técnicos de alto nivel, mas em quantidade compativel com a de- manda real; urgia a instauragao de um sistema consistente e duradou- ro de pesquisa. Cabia univers dade, ou melhor, a algumas das mais vigorosas instituigdes univer- sitérias, formar essa “massa criti ‘universidade a” e oriar as bases e a cultura da pesquisa sistematica. Nesse terreno @ que comegou a viosjar e desenvolver-se a pés-gra- duagaio no Brasil, enquanto nivel formal e organizado, Esses objeti- vos explicitos de pés-graduacao - estabelecer nas_universidades a pesquisa sistematica € os progra- mas de formacéo de pesquisado- res @ professores de allo nivel - carregavam também os propésitos: de construgao de um novo projeto de universidade. Nao vém por aca- 0 a consolidagao dos regimes de tempo integral de dedicacao ao en- sino e a pesquisa, a instauracdo dos departamentos como uma ten- tativa de proporcionar uma nova di- visao das relagdes de trabalho, a instalacdo dos laboratorios, 0 valor da fitulagao para promogdes fun- cionais, enfim, um conjunto de ini- Ciativas que ofereceriam condigoes de transtormagao das universida- des. Havia um modelo a ser supe- rado pelas grandes universidades: © das instituigdes dedicadas basi A pés-qraduagaio implanta uma nova cultura, camente a transmisséo de conhe- cimentos e habilidades tradicio- nis. Havia um modelo a ser pro- duzido: uma instituigao capaz de preservar ¢ criticar os conhecimen- tos historicamente _acumulados,, mas também preparada para a producao da ciéncia, das artes, da tecnologia, da cultura humana’em geral, capaz de alargar as frontei- ras estabelecidas, criar as interfa- ces e estabelecer um dialogo inusi- tado entre os diferentes campos @ areas. As universidades deveriam formar pessoas ndo s6 para a difu- so do conhecido, mas também para a critica e para a criagao do novo, prosseguir a obra de cons- trugdo do social, mas ao mesmo tempo produzir a sua propria reali dade institucional e as condicoes de sua reprodugao e sobrevivén- cia. Em suma, a pés-graduagao se atribuiu 0 dever de servir também a construgao € consolidacéo da pio- pria universidade que a tealizae a mantém. ‘A proclamada indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensao, entaticamente colocada em pauta pela reforma universitaria de 1963, ‘embora aceita como principio val do na ordem do discurso, muito ra- ramente se toma pratica real no cofidiano universitario. Efetivamen- te, 6 a pés-graduacao que empal- ma a quase totalidade das pesqui- sas dentro da universidade. Sabe- se que no Brasil a pesquisa ¢ prati- camente inexistente fora das uni- versidades e de algumas outras instituigdes mantidas pelo setor pi- blico (EMBRAPA, ITA, 1A, ITAL, etc.). Portanto, & a pos-graduacao que responde pela grande maioria das investigagdes cientificas do pais. Nao @ preciso insistir nesse ponto para se concluir que as uni versidades que mantém bons cur sos de pés-graduacao e atingiram elevados niveis na qualificagao académico-cientifica de seus qua: dros sao instituigdes de grande re- levancia social, especialmente por- que promovern a formagao huma- nna e a pesquisa nao como alivida- des eventuais © esporadicas, mas precisamente como elaboracao ‘metédica e sistematica, como for- ma e contetido inerentes a sua es- séncia. Alids, € 0 Unico nivel de ensino_avaiiado periodicamente, segundo critérios académicos uni- versais, 0 que confere confiabilida- de e consisténcia a cada curso & a0 sistema, ‘Ao longo dessas trés tiltimas dé- cadas, apesar das severas defi- ciéncias do sistema universitério brasileiro, a pés-graduagao se im- plantou e vem se consolidando em todas as areas de conhecimento. Cerca de mil cursos de mestrado © mais de quatrocentos de doutorado atendem, respectivamente, a cerca de 40 mil estudantes de mestrado € mais de 10 mil de doutorado. Destaco, de forma breve e esque- matica, alguns pontos desse cer fio, de acordo com informagées da CAPES: “Ano 10 NT Jan 1984 $8 1. A implantagao ampla e consis- tente da pés-graduacao tem provocado um desenvolvimento sistematico das universidades brasileiras, pela consolidagso dda pesquisa e pela formagao de ovos quadros universitaios. A pos-graduagao implanta uma nova cultura, de vigtancia erica © ‘igor cientifico, que deve su- erar as improvisagoes e a de- Sagregagiio.nos trabalhos.uni- versitarios. Com efeito, um dos objetivos explicitos da organiza. G80 da pos-graduagao, confor. me 0 parecer de Newton Sucu- pira (1965), & 0 de transformar a Universidade em “centro criador de ciéncia e de cultura’. Para se chegar a esse estagio, a pés- graduagao deve “formar profes- sorado competente, que possa atender a expanséo quantitava de nosso ensino superior, ga- rantindo, a0_mesmo. tempo, a elevacdo dos atuais niveis de qualidade, estimular 0 desenvol- vimento da. pesquisa cientitica Por meio da preparagaio ade- Quada de pesquisadores © as- Segurar 0 treinamento eficaz de tecnicos e trabalhadores intelec- tuais do mais alto padrao para fazer face as necessidades do desenvolvimento nacional em todos 0s setores”. Um indicador de que a pos-graduagao conse. guiu insttucionalzar a pesquisa fem muitas universidades brasi- leiras € que, nao obstante as al- tas taxas de evaséo, titulamso © portanto tém suas’ pesquisas concluidas © reconhecidas con- forme as exigéncias cientificas mais de 5 mil novos mestres Pouce mais de mil doutores por ano. 2. Esse volume nao teria méritos se no apresentasse boa qual dade. O sistema de avaliagao, que envolve em sua realizagao a comunidade cientifica, que elabora diagnoses e sugere os Parametros de exceléncia em cada area de conhecimento, que propde formas de superar deficiéncias @ problemas, que permite uma politica de distribui- 40 € de uso de recursos com base em indicadores de qualida- de, é ele mesmo um processo criado © mantido pela pés-gra- duagao, sob a coordenagao fun- damental da CAPES. Apenas ‘agora as universidades come- gam a praticar de forma siste- matica 0 diagnéstico de outros niveis e estruturas universitarias e passam a investir na avalia- [80 institucional. De modo go- Fal, 6 muito positiva a imagem ‘que a comunidade cientifica faz dos cursos de pés-graduagao. Mais de 2/3 dos cursos de mes- trado e quase 90% dos de dou- torado esto conceituados com ‘A ou B. Isso indica que muitos desses cursos situam-se em pa- tamares semelhantes aos das melhores universidades estran- geiras. 3. Digno de mengao € 0 fato de que toda essa significativa pro- .as demandas ¢ necessidades do momento des setores privados née podem prevaiecer sobre os interesses maiores da sociedade dugaio @ esse proceso organico ‘S40 obra de instituigdes publicas € oficiais, especialmente de um grupo importante de universida- des federais e de algumas esta- duais, em cooperacao principal- mente com a CAPES, 0 CNPq ®, no caso de Sao Paulo, tam- bem a FAPESP. Com efeito, as federais e estaduais respondem aproximadamente por 90% dos titulados no mestrado e por 95% dos novos doutores que se for- mam a cada ano. Isso significa, entre outras coisas, que a pés- graduagao resulta competente ha consolidacdo @ qualficaczio de uma boa parte do sistema Universitario publico. Se ha trin- ta anos as instituigoes de ensino superior apresentavam uma condigo muito débil e descon- juntada quanto a formagio do compo docente, hoje mais de 20 mil profissionais de alto nivel e variada experiéncia, no pais e no exterior, dedicam-se nas uni versidades formagao de qua- se 50 mil novos docentes e pes- quisadores, nos niveis de mes. trado e de doutorado, Nao ha divida de que a solidez das uni- versidades estaduais de Sao Paulo, por exemplo, esta forte- mente enraizada na politica de qualificacdo do seu corpo do- cente eno seu envolvimento institucional com a pés-gradua- 0. Entretanto, mesmo as insti- {uig6es mais frageis t8m se bo- Neficiado das oportunidades de qualficagao de seus protesso- res, especialmente através do PICD, 0 que vai permitinds a instalago de pequenos niicleos de pesquisa nos departamentos de origem E claro, entretanto, que o de- senvolvimento satisfatorio da pés- raduagdo ndo consegue encobrir uma serie de graves problemas que persistem ou até se aprofun- dam na educacao superior. Nos ‘anos 60 e 70, as prioridades dos governos militares se devotaram 08 delirios da construgao de uma agao-poténcia. Grandes obras de infra-estrutura foram edificadas, muitas delas_abandonadas. Isso Fequeria uma elite de profissionais especializados que deveriam ser formados pela pés-graduacao. Ao mesmo tempo, os demais niveis de ensino, nao sd a graduacao, mas particularmente os graus de ‘escolaridade fundamental e média, foram perdendo prestigio e invest mento. Nas universidades, a pos- graduagao apresenta baixa intera- ‘980 com a graduagao e 0 ensino ouco se relaciona com a pesqui- sa. Além disso, constatam-se na os-graduagao, embora cada vez menos, “desperdicios" repre- sentados por altos indices de eva- so, prazos demasiadamente dila- tados para a conclusio dos cur sos, sobretudo 0 de mestrado, e uma certa pulverizagao e repetigao de assuntos de pesquisa, muitos deles despreocupados com a rele- vancia social. 34 Universidade e Sociedade E também preocupante, embora perfeitamente condizente’ com a “\égica” do pais, que 0 Norte consi ga formar apenas 0,7% dos douto- res, © Nordeste 1,4%, 0 Centro- Ceste 0,6% € 0 Sul, em melhor si tuagao, responda pela titulagao de 5,4%. Enquanto isso, a regiao Su deste forma 92% dos doutores, marea possivel gracas_ principal: mente a aggo das universidades estaduais paulistas. Infelizmente, a tendéncia € de que nos proximos ‘anos. se aprofunde ainda mais essa disparidade, consolidando-se 0 Sudeste como a regiao a ofere- cet a quase totalidade dos bons cutsos de doutorado, 0 que tam- bem. significa fortalecimento de suas universidades, seguido do Sul, enquanto as instituigbes de ensino de outras partes do pais, ao que tudo indica, permanecerao ain. da bastante dependentes e fragili- zadas. E nesse quadro que se ha de discutir a pés-graduagao como es- cola de formacao de professores para a educagao superior. Nao res- ta divida de que, admitidas as de- ficiéncias ja apontadas e outras se- quer mencionadas, a pés-gradua- 40 cumpre importante papel na consolidagao das universidades © fia _geragao e fortalecimento de uma cultura e de um sistema de pesquisa. Entretanto, exceto nos cursos de pés-graduagao em edu- cagao, parece nao haver nos de- mais programas de mestrado e doutorado, uma preocupagio mui- to forte com a formagao de profes- sores enquanto profissionais dedi cados ao ensino. A inclinagdo maior € no sentido da absorgéo das demandas da economia. A grande maioria dos estudantes de pés-graduagdo recebe uma boa preparacdo para a pesquisa; no entanto, somente os que permane- cem nas universidades ou insti ges publicas semelhantes conti- uam atuando como pesquisado- res. Ha uma forte predominancia da formagao _ profissionalizante, que prioriza certas habilidades 0 conhecimento técnico e tem como valor dominante 0 sucesso em pro- fissdes claramente definidas e 0 @xito em projetos especificos no ssetor produtivo. Participar da construgo da eco- nomia é, sem davida, uma das res- ponsabilidades irrecusaveis da uni- versidade. Entretanto, as deman- das e necessidades de momento dos selores privados nao podem prevalecer sobre 0s interesses maiores da sociedade como um todo. Sendo uma instituigo social, ‘@ universidade ha de compreender que seu compromisso fundamen- fal, sua primordial razao de ser. € ‘com os interesses piblicos. Por tanto, na formagao de pessoal de nivel superior, deve ser levada om conta a significago social dos o° hecimentos ¢ das habilidades como um dos mais importantes cri térios da qualidade académica Trata-se de constwuir criticamionte ‘Raa WV NPT Junho 1995 95 conhecimentos, de buscar novas formas de responder a problemas especificos-da realidade, entre os quais sempre se coloca em evi- déncia a problematica educacional. Sem desviar-se, portanto, dos contetidos particulares das areas de conhecimento e das discipiinas especificas, que necessitam de um tratamento profundo e rigoroso, os cursos de pés-graduacao nao po- dem negiigenciar a formacao de professores para a continuidade da construgo de uma universidade ri- gorosa, critica e socialmente rele- vante. Mais ainda, dever inseri-la na sua agenda como prioridade. Por isso, 0 pedagdgico imanente nos cursos deve emergir & tona da conscléncia universitaria como tra- balho intencional e organizado. Trata-se de ensinar com todo 0 ri- {gor possivel os conhecimentos de uma dada disciplina. Mas também se trata necessariamente de co- nhecer ¢ implementar as redes de significagao e pratica social desses conhecimentos, de engendrar no- vas formas de produzi-os e, a0 mesmo tempo, de formar pessoas com a percepgao do sentido ético € politico de seu trabalho cientifico, do valor de sua formagao pedago- gica e de sua pratica docente. A percepgao e valorizagao do pedagégico ndo devem ser 0 obje- to de uma disciptina. Antes, devem instaurar-se_como uma “cultura” capaz de imbuir do sentido da for- mago 0s objetivos basicos de um Programa. Essa dimensao pedagé- {gica nao deve ceder ao esponta- nefsmo, mas impregnar o progra- ma do curso, através de discuss6- es coletivas em salas de aula e la- boratérios, e permitir a pratica de algumas iniciativas sistematicas. Dentre estas poderiam estar a rea- lizacao de seminarios, com a devi- da valorizagéo do seu sentido pe- dagogico, e de praticas mais dura- douras e elaboradas de capacita- 40 docente. Refiro-me a experién- Gia em que estudantes de pos-gra- duacao, sob permanente orienta- 80 ‘€ Supenisdo de experientes rofessores e a partir de um prévio € rigoroso planejamento, desenvol- veriam atividades de docéncia na graduagao. Essa pratica, além de estabelecer eos de ligagdo entre 08 dois niveis de ensino e relagées essoais entre os estudantes, per- mitiia uma fecunda vivéncia de ‘magistério e a possibilidade de tra- tamentos inovadores na forma e no contetido das disciplinas. Alem disso, enquanto os cursos de pos- graduagao geralmente afastam os estudantes de futuras fungoes do- Centes, iniciativas como essa, a0 mesmo tempo que ofereceriam uma certa preparacao didatico-pe- .a formagiio de pesquisadores ¢ docentes nos cursos de educagiio apresentam,.caracterioticas especificas. dagégica, poderiam despertar o in- teresse pela docéncia nas universi- dades e certamente possibilitariam uma compreensdo mais integrada © ampla dos significados dos co- Ahecimentos e praticas estabeleci- dos num determinado campo. A universidade deve ser cons- trugdo seletiva, obra de relagdes 0, Ro ‘seu conjunto, tem uma tarefa de integragao. No mundo moder- No, 0s conhecimentos, informa- es e técnicas se multipicam e se deterioram com uma velocidad crescente. Nenhum sistema uni- versitario pode acompanhar essa fragmentagao fantastica e oferecer uma qualificagéo num determinado setor da vida econdmica e social Suficiente para _compreender_e atender aos problemas e deman- das mais urgentes. Embora deva ser trabalho de conjunto, 0 cotidia- No universitario muitas vezes se esgarca no facilitarismo das segre- gages disciplinares, no isolamen- to dos pesquisadores e na falta do interlocugéo entre os produtores ‘de campos distintos do saber. Ora, © trabalho de reintegracao das roti- nas, do pensamento, das praticas € dos contetidos, para além do co- nhecimento especializado, @ uma obra eminentemente formadora. A POs-graduacéo 6 a escola mais adequada e competente para pra car 0 esforgo de busca da reestru- turagao, de globalizacao, da pers- Pectiva’ de totalidade, ‘de com. Preensao de conjunto. Na pés-gra- duagao, 0 ensino, a pesquisa e a extensao podem’ exercer-se de modo mais cooperativo. Como pro- cesso, como método e como pro- dugao, a pesquisa pode e deve romper os rigidos enquadramentos dos saberes especializados constituir campos de significagao integrados e conjuntos de relagdes ‘compreensivas. Na formagao de Professores, a pos-graduacao deve aproveitar as condigoes mais favordveis para a formacao de pro- fissionais que, através do conheci- ‘mento rigoroso dos contetides par- ticulares, saibam operar os nexos € construir totalidades coerentes pela reintegracao das partes. Nos cursos de pos-graduacao em educagao, a formacao de do- centes para 0 terceiro grau é um dos objetivos centrais. A implanta- $40 das faculdades de educagio, a grande expanséo da area e de todas as instituiges de ensino su- Perior, a valorizagao dos titulos ara ingresso e as progresses ‘nas carreiras universitarias sao al- guns dos motives do acelerado crescimento desses cursos. S40 dos programas de educagao cerca de 10% dos novos mestres e dou- 136 Universidade e Sociedade tores que se formam a cada ano no Brasil Além de deficiéncias comuns a odos 0s outros cursos, a formagao de pesquisadores e docentes nos cursos de educacdo apresentam algumas caracteristicas especifi- ‘cas. Nao é 0 caso de aqui mencio- a-las todas. Um ponto importante, talvez decorrente da necessidade de constituigéo mais precisa de uma Area que tem contornos muito indefinidos e motiplas aproxima- (oes, 6 a excessiva carga de isci- plinas. A énfase parece ter recaido ho oferecimento de vastos leques de disciplinas, de baixa articulago entre sie com frageis exigéncias de pesquisa, a propésito de suprir ‘caréncias anteriores e de trabalhar © fenémeno educativo, em cada ‘caso particular, com todas as suas relagdes e impiicagdes. Dai a ocor- réncia da reconhecida dispersivi- dade e a conseqiente dilatacao dos prazos de integralizagao dos programas. Entretanto, apesar dos problemas, 6 justo reconhecer 0 Papel fundamental da pés-gradua- ‘940 no processo ainda ern movi- Mento de demarcago do campo educacional como objeto de estu- do e area de intervengao na reali- dade social. A area ja conta hoje com um corpo docente numeroso & qualificado, uma rede importante de cursos de mestrado e de douto- rado j& consolidados, em sua maior parte com grande volume de discussdes a respeito de seus pro- Pésitos e objetivos, e volumoso re- Pertério de. pesquisas, dadas a0 piiblico na forma de cerca de,7 mil dissertagdes de mestrado e aprox madamente quinhentas teses de doutorado, de estudos e artigos di- ‘vulgados em mais de uma centena ‘e meia de periédicos e de um acer- Yo consideravel de livros. Trata-se de uma area complicada, que se debruga sobre os mais’ severos problemas, do crénico analtabetis- mo as questoes agudas da mais avangada ciéncia e da mais sofist- cada tecnologia, ¢ que deve, por- tanto, incrementar a pesquisa so- bre assuntos de alta relevancia so- cial e com fortes pegadas na real dade educacional do pais. A realidade 6 muito mais rica que qualquer modelo teérico, os problemas de uma sociedade ultra- assam enormemente as propos- tas de solugao. Nao ha esquema que possa dar conta de todas as exigencias relativas a formagao de professores. Entretanto, parece ue um curso de formagao de do- centes para 0 magistério superior nao pode minimamente abrir mao de alguns principios e de umas tantas exigéneias. Sobre um primeiro ponto, larga- 0 trabalho pedagégico mais significative é 0 de...sintese. mente discutido entre os educado- res, ndio € necessario dizer muito. Trata-8e de um forte compromisso ‘com 0 dominio cognitive do campo ‘ou da rea de conhecimento e de ago, e com a significacao ética e politica, de cardter de intervengao faa tealidade, da atividade de ma- gistero. ‘Um segundo ponto em destaque & 0 eixo diversidade-integragao. Os cursos de pés-graduacao em educagao, tomados em seu con- junto, nao podem deixar 4 sombra ‘a multiplicidade e a diversidade de Ccontetidos e praticas que colabo- ram para a comproensdo da edu- cago como area de conhecimento © comd fenémeno social. Mas,’o reconhecimento e 0 conhecimento possivel e necessariamente limita- do das disciplinas tedricas e prati cas desse campo diversificado nao ‘niversidade devem ser sindnimo de fragmenta- {go e de dispersio. O trabalho pe- dagégico mais significative e recla- mado € 0 de articulagao, de inte- gragao © de sintese. Ao longo de lum processo que supere as des- Continuidades das ag6es, isso de- veria ser assegurado pela integra- 40 entre ensino e pesquisa e, no mesmo movimento, pelo fortaleci- mento das relagdes entre professo- res e estudantes. O produto-sinte- se de todo esse proceso de inte- grado deveria ser a dissertacao ou tese. Através de um esforgo de Pesquisa metédica e rigorosa, os ‘conhecimentos e as praticas'de- ‘vem ser organizados em conjuntos coerentes e vinculados com deter- minadas estruturas_significativas a realidade educacional Outra mengdo a ser feita @ a exigéncia de os cursos terem um projeto ou um conjunto de objeti- vos programaticos @ coletivamente definidos. Nao se trata de camisa- de-forga, mas de clareza a respeito de alguns objetivos comuns, a se- rem buscados pela maioria. Disso depende a coeréncia do curriculo e do conjunto de normas e procedi- mentos, bem como a selegdo dos temas relevantes e sobretudo os crriterios de qualidade. Em fungao desses pardmetros 6 que deve ser avaliado trabalho académico. ‘Sao esses principios e projetos que fundamentam a consisténcia da formagao de professores, como um processo do fendmeno educati- vo em seu sentido mais amplo e que aqui associa 0 ensino a pes- ‘quisa, gera os conhecimentos © a0 mesmo tempo os métodos para “construi-los, produz as instituigdes @ forma os agentes de sua conti- nuidade e de sua transformacao. ‘José Dias Sobrinho é professor da Faculdade de Educapao da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. “Ano WNT duno 1994 97

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