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Alimento Seguro - Notícias da Hora 03/06/10 09:59

Agronegócio
DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA NO BRASIL
GUILHERME AUGUSTO VIEIRA, Médico Veterinário, Professor da FTC-Agronegócios. E-mail:
gavet@uol.com.br

I Introdução

A cadeia da pecuária de corte no Brasil é uma das atividades mais importantes do agronegócio brasileiro. Possui o
maior rebanho comercial do mundo com aproximadamente 170 milhões de cabeças, exportando no ano de 2003 a
fantástica cifra de um bilhão e duzentos milhões de dólares (ABIEC 2004), além de está presente com atividades em todo
território nacional.
Os números da pecuária de corte no Brasil são expressivos, conforme demonstram os relatórios da ABIEC / CNPC
(ABIEC 2004):
CONSELHO NACIONAL DA PECUÁRIA DE CORTE
BALANÇO DA PECUÁRIA BOVÍDEA DE CORTE
1994 A 2003**

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002* 2003**
População (milhões de
153,7 155,8 157,1 159,2 161,4 163,6 169,8 172,0 174,3 176,5
habitantes)
Rebanho Bovino (milhões) 158,2 157,0 153,0 155,0 157,0 160,7 163,2 165,7 168,2 170,7
Taxa de Abate 16,43% 17,20% 20,26% 18,77% 19,24% 19,50% 19,93% 20,22% 20,52% 20,82%

Abate (milhões) 35,5


26,0 27,0 31,0 29,1 30,2 31,3 32,5 33,5 34,5
Produção/Carne (mil ton. eq.
7.400,0
carc.)1 5.200,0 5.400,0 6.045,0 5.820,0 6.040,0 6.270,0 6.650,0 6.900,0 7.150,0
Consumo per capita (kg eq.
36,3
carc.) 32,6 34,5 38,0 35,9 35,9 35,4 36,3 35,4 35,8
Consumo interno (mil ton.
6.400,0
eq. carc.) 5.017,5 5.376,4 5.962,3 5.709,9 5.797,4 5.793,3 6.158,0 6.091,0 6.244,7
Exportação (mil ton. equiv.
1.100,0
carcaça) 378,4 285,1 278,4 286,7 377,6 559,9 591,9 858,3 1.006,0
Importação (mil ton. equiv.
100,0
carcaça) 195,9 261,5 195,7 176,6 135,1 83,2 99,9 49,3 100,7

Exportação (US$ milhões) 1.200,0


573,4 490,2 440,0 436,0 588,5 784,7 786,3 1.022,5 1.107,3

Importação (US$ milhões) 85,0


230,5 311,5 237,1 272,8 220,0 98,9 128,3 64,9 84,0
Fonte dos dados básicos: SRF/MF, SECEX/MDIC, M.A., EMBRAPA, CNPC,
Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte, IBGE, Sec. Estaduais de Agricultura.
Obs.: ''''*Preliminar; **Previsão; 1 Em mil toneladas em equivalente carcaça
Rebanho: 1994 e 1996 - IBGE; 1998 - Sec. Estaduais de Agr.; 1995, 1997 e 1999 a 2003 - Estimativa.
Fonte : www.abiec.org.br (acessado em 08/06/04 )
Nota-se que possuímos um dos maiores consumos per capita do mundo ( 36 kg/hab/ano). Outro aspecto a ser
observado que consumimos aproximadamente 86% da nossa produção e exportamos 14% ( produção de 7,4 milhões de
toneladas, consumo de 6,4 milhões de toneladas, exportação de 1,1 milhões de toneladas).

Cardoso (2003) evidencia cinco grandes segmentos na cadeia produtiva da carne, a saber: insumos, produtor
rural, agroindústria, distribuidor e consumidor final , faz-se necessário relacionar quais são os principais atores que
compõe esses segmentos:
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compõe esses segmentos:


a) Insumos: produtores de bezerro, de sal comum, de sal mineral, de medicamentos (inclusive vacinas), de
sementes, de calcário, de adubo, de máquinas e implementos, de arame para cercas, de pesquisa e extensão rural;
b) Produtor Rural: pecuaristas que realizam a engorda de bovinos, e pecuaristas que mesmo trabalhando em outros
segmentos da atividade, acabam por mandar animais para o abate;
c) Agroindústria: frigoríficos ou matadores que trabalham com inspeção municipal (SIM), estadual (SIE), ou federal
(SIF);
d) Distribuidor: redes de supermercados, açougues, casas de carne, feirantes.
e) Consumidor Final: restaurantes e bares, redes de lanchonetes fast-food, exército, polícia Militar, empresas de
alimentação e famílias.

Apesar de apresentar números expressivos, a cadeia de carne bovina compete com a cadeia de aves e suínos,
pois esta conta com uma base produtiva totalmente integrada e profissionalizada, possui uma melhor rede de
distribuição além de ter um marketing melhor estruturado atingindo o consumidor moderno, enquanto que o consumo
de carne bovina no Brasil na sua grande maioria é de origem clandestina, comprovando a desarticulação da cadeia.

O principal objetivo deste artigo é analisar conjuntamente os principais desafios e perspectivas da cadeia de
carne bovina no Brasil, apontando os principais fatores que desencadeiam os processos. Há gargalos em todos estes
segmentos que precisam ser mais bem estudados e explorados a fim de tornar esta cadeia mais profissional e
interligada em todos os seus atores e segmentos.

II Análise dos Segmentos da Cadeia


Analisando os setores inseridos no segmento antes da porteira, verifica-se que as empresas se adaptaram aos
novos tempos, investindo em pesquisa e desenvolvimento, adequando-se dessa maneira aos avanços da genética e
produção animal.

Segundo Ferraz & Figueiredo (2003), Nos últimos anos, o uso de algumas tecnologias permitiu ampliar e
desenvolver a pecuária de corte em várias regiões do Brasil, sendo que algumas delas são largamente utilizadas nos
dias de hoje como a suplementação mineral, devido à utilização dos mais diversos sais minerais e protéicos e de
vermífugo para controle de parasitos. As novas tecnologias somadas ao uso de raças e cruzamentos mais adaptados
para cada região e suas particularidades (principalmente em termos de condições climáticas), permitiram um
desenvolvimento mais rápido de nossa agropecuária brasileira.

Entretanto os processos de gestão nas propriedades rurais brasileiras são ineficientes, afetando sobremaneira a
produção e produtividade. Observam-se várias características presentes nessas propriedades: -Empresário é o
proprietário;
família participa das decisões; entidade empresarial com vida ilimitada (geração p/ geração); Grande
número de empresas rurais realizam uma administração amadora, sem possuir capacidade empresarial e profissional;

Geralmente os proprietários de não contam com financiamento de sua produção. O capital e financiamentos
da produção possuem origem de fontes próprias como: Salários de membros da família; Vendas de outros bens
pessoais; Herança, novos negócios.

O administrador rural na gestão do seu negócio é obrigado por diversos fatores, a tomar decisões em 05
áreas: Investimentos; Produção; Comercialização; Finanças e Consumo, dificultando o processo de gestão dos seus
negócios, não sabendo muitas vezes quanta custa a sua arroba produzida (Leandro Pinto 2004).
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negócios, não sabendo muitas vezes quanta custa a sua arroba produzida (Leandro Pinto 2004).

A agroindústria da carne bovina no Brasil apresenta dois aspectos totalmente díspares. Na região centro-sul
do Brasil observa-se um setor agroindustrial apresentando frigoríficos altamente avançados em seus sistemas de
produção, adequando-se às normas de exportação, cumprindo-se todas as exigências legais e segurança alimentar,
agregando valor aos produtos com plantas frigoríficas adaptadas para o processamento de carnes.

Segundo estudos coordenados pelo Sebrae (2000), a maioria dos frigoríficos apresenta plantas destinadas
somente ao abate e beneficiamento dos produtos, não agregando valor às suas produções, estando distantes dos
centros produtivos e dispostos de forma isolada (distantes mais de 200 Km das fazendas produtoras), apresentando
dificuldades de adaptação à legislação sanitária. O mesmo estudo aponta que estes frigoríficos apresentam baixa
capacidade de abate (Média de 500 animais /dia).

Corrêa (2000) enfatiza entre os problemas enfrentados pela indústria frigorífica, destaca-se a concorrência
predatória dos matadouros clandestinos, que funcionam sem inspeção sanitária e sonegam impostos. Outro problema
que compromete o desempenho do setor é a ociosidade que ocorre na entressafra, quando os matadouros trabalham
com 40 a 50% da capacidade instalada.

O sistema de comercialização ainda é primitivo (Corrêa 2000). Grande parte da carne comercializada no país
é clandestina, sem inspeção sanitária, o que pode transmitir doenças aos consumidores. Funcionam ainda os
açougues que dispõem de instalações sem as mínimas condições de higiene. Estes mesmos estabelecimentos
(juntamente com feiras livres) fazem a desossa de carcaças (sem tipificação e classificação) e comercializam cortes
aos consumidores.

Observa-se no varejo uma mudança significativa na comercialização de carnes, com o aumento de vendas por
parte dos supermercados e a instalação de butiques de carnes. Verifica-se nestes segmentos uma maior higiene na
comercialização e uma diversificação de produtos além do cumprimento de normas como a Portaria 304 do MAPA.
Nas butiques de carnes, há uma multifuncionalidade de operações, proporcionando aos consumidores conforto,
segurança alimentar e variedade de opções no consumo de produtos cárneos.
Quanto aos consumidores, Fava Neves et al (2003) constatam mudanças significativas no comportamento
destes. Verifica uma segmentação dos mercados consumidores, com as empresas se aperfeiçoando e focando em
segmentos de mercado para melhor atendê-los.

Os autores destacam as principais mudanças e transformações dos consumidores, a observar:

- Consumo fora do domicílio: Ocasionando expansão das redes de fast foods e a proliferação de restaurantes por
quilo.
- Segurança Alimentar: Cresce a preocupação dos consumidores quanto à origem dos produtos, presença de resíduos
tóxicos e a conservação dos alimentos;
-Estrutura Etária: Observa-se um aumento na expectativa de vida da população, com isso aumenta a população com
mais de 65 anos de idade;
-Conveniência: Com o processo de urbanização cresce o consumo de conveniência, induzindo o consumidor
moderno a consumir produtos processados e semiprocessados;
-Valorização dos aspectos culturais, regionais e exóticos: Produtos direcionados a preferências regionais;

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-Preocupação Ambiental: Consumidores preocupados com os aspectos de produção vegetal e animal. Cresce a
questão do abate humanitário, bem estar animal e as tecnologias limpas de processamentos (destinos de efluentes da
indústria frigorífica);
-Direitos e Exigências Legais: O consumidor é protegido pelo Código de Defesa do Consumidor, mudando a
concepção em fazer valer os seus direitos.

III DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA

São muitos desafios a serem enfrentados pela cadeia como um todo. Cabe enfatizar que muitos deles foram
enfrentados e vencidos por diversos atores em seus devidos segmentos. Haja vista os programas vencedores de novilho
precoce, os índices de produtividade, avanços genéticos, o Boi Verde, butiques de carnes e conquistas mercadológicas
externas. Entretanto são muitos desafios a serem enfrentados, que vencidos, certamente as perspectivas mercadológicas
serão compensadoras. Tentarei discuti-los e enumerá-los.

Para acompanhar as evoluções mercadológicas, a base produtiva (propriedades e proprietários rurais) deve agregar
em suas ações o conceito de BUSINESS, adotando medidas como:
- Adotar técnicas modernas de gerenciamento;
- Dominar as tecnologias agropecuárias;
- Possuir lucratividade, produtividade;
- Ajustar-se às transformações, estabelecendo estratégias e qualidade;
- Adaptar-se às exigências dos consumidores e mercados.

Antes de iniciar a produção, os pecuaristas, deve: Estabelecer um plano de produção, estratégias de


comercialização, conhecer os mercados e os canais de distribuição (para onde vai meu boi?), conhecer as tendências
futuras do mercado (variações de commodities). Adotando estas medidas, acredito que os demais aspectos relativos à
produção serão contemplados, pois os produtores poderão investir melhor em pastagens, genética e nutrição, melhorando
a produção e produtividade dos rebanhos.

Outro grande desafio é vencer as questões sanitárias, de segurança alimentar e rastreabilidade. As legislações
Sanitárias são bastante avançadas, com os Governos Federais e Estaduais fazendo o dever de casa. Nota-se avanços
fantásticos nestas questões com a cadeia participando de discussões e implementações das ações.

Segundo especialistas e estudiosos, o principal desafio da cadeia produtiva da carne bovina é promover a
integração vertical e aliança mercadológica. Visa-se com estas ações a organização da cadeia que se mostra
historicamente totalmente desarticulada. Existem e existiram várias tentativas de promoção da aliança mercadológica,
entretanto diversos fatores dificultaram a implementação , entre eles , aspectos estruturais produtivos e agroindustriais,
ausência de cultura associativista e principalmente profissionalismo dos atores e segmentos que compõe a cadeia.
Estudos realizados pelo SEBRAE ( 2000) apontam benefícios da adoção da aliança mercadológica :

SEGMENTOS BENEFÍCIOS

PECUARISTA -Aumento da rentabilidade;

-Garantia da venda do boi;

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-Capitalização e Investimento em Qualidade;

FRIGORÍFICOS -Garantia de regularidade de abastecimento;

-Garantia de venda do produto à distribuição;

-Diferenciação/Produção para mercadoado externo;

DISTRIBUIÇÃO -Garantia de regularidade de abastecimento;

-Dispõe para o consumidor final qualidade;

-Melhoria de rentabilidade;

CONSUMIDOR -Compra produtos de qualidade;

-Garantia de produtos com saúde, Inspecionado,

Higiênico e seguro.

Fonte: Sebrae 2000

Analisando este breve resumo, nota-se que a cadeia só tem a ganhar com adoção da aliança mercadológica.
Especialistas acreditam que este será o futuro e o maior desafio a ser enfretado pela cadeia como um todo.

IV CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cadeia da carne bovina no Brasil apresenta uma parte de produtores altamente profissionalizados, frigoríficos
exportadores com plantas adaptadas para abate e processamento de carnes, oferecendo produtos diferenciados não só para
o mercado externo como para o interno.Comércio varejista obedecendo a normas e atingindo o consumidor moderno. Mas
ao mesmo tempo, esta cadeia conta em sua base produtiva (na sua grande maioria) produtores tradicionais que usam
pouca tecnologia, apresenta também frigoríficos sem nenhuma inspeção, atuando de forma clandestina e um comércio
oferecendo produtos clandestinos e instalações sem as devidas condições higiênico-sanitárias.

As perspectivas são excelentes, pois contamos com todas as condições de produzir animais e produtos com a
qualidade requerida. Tem-se um mercado consumidor externo ávido por consumo. Os desafios também são grandes, pois
para conquistas e manutenção dos mercados é preciso vencer as questões sanitárias, melhorar a qualidade da carne,
assegurar sua segurança alimentar e implementação dos sistemas de qualidade como APPCC e RASTREABILIDADE,
Além da adoção melhoria dos processos.

Acredito que todos os desafios serão vencidos com a profissionalização e organização de todos os segmentos da
cadeia e a adoção de uma cultura de aliança mercadológica. Só assim as perspectivas se materializarão em condições
concretas de realização.

V REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

http://www.alimentoseguro.com.br/marketplace831.asp Página 5 de 6
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- < http : www.abiec.org.br > Acesso em :09 de junho de 2004,18: 30.


-CARDOSO, Fábio Lúcio de Almeida, A Formação do Preço do Boi Gordo na Praça de Feira de Santana ( Ba) ,
2003, 67 p. Trabalho de Conclusão de Curso ( Graduação) Curso de Ciências Econômicas, Universidade Estadual de
Feira de Santana, Feira de Santana Bahia.2003.;

-CORRÊA, Afonso Nogueira - Análise Retrospectiva e Tendências da Pecuária de Corte no Brasil In : XXXVII
Reunião Anual da SBZ, Viçosa-MG, 2000, Anais, p. 182-204 .

-Estudo sobre a eficiência econômica e competitividade da cadeia agroindustrial da pecuária de corte no


Brasil.IEL,CNA,SEBRAE.-Brasília,D.F.:IEL,2000.p.121-145;

- FAVA NEVES, Marcos ; CHADDAD,Fábio;LAZZARINI, Sérgio Gestão de Negócios em Alimentos.São Paulo :


Pioneira Thomson Learning, 2003,129p. ;

- FERRAZ ,José Vicente & FIGUEIREDO Jr, Geide A. Sistemas de produção e tecnologias utilizadas "dentro
da porteira", alimentação e criação . Disponível em < http: www.sic.org.br/produção > Acesso em :09 de junho
de 2004,19: 30.

- PINTO, Leandro D. Apontamentos de Aulas Curso de Agronegócios Faculdade de Tecnologia e Ciências


Salvador Bahia - 2004

envie para um amigo

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