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Em todas as sociedades os seres humanos se ocupam da producio e do intercim- bio de informagées e de contetido simbélico. Desde as mais antigas formas de comuni- cagdo gestual e de uso da linguagem até os mais recentes desenvolvimentos na tecnologia computacional, a producio, o armazenamento e a circulagio de informagio e contetido simbélico tém sido aspectos centrais da vida social. Mas com o desenvolvimento de uma variedade de instituigdes de comunicagio a partir do século XV até os nossos dias, os processos de producio, armazenamento e circulacio tém passado por significativas trans- formagées. Estes processos foram alcangados por uma série de desenvolvimentos institu- cionais que sio caracteristicos da era moderna. Em virtude destes desenvolvimentos, as foriiias SunBélicas foram produzidas € reproduzidas em escala sempre em_expansio; tornafaiii“8@mercadorias que podeini Ser Compradas € vendidas no mercado; ficaram acessiveis 205 Individuos s largamente -dispersos"nio ipo € no éspaco. De uma forma profund’ e irreversivel, 6 desenvolvimento da midia tr transformou a natureza da prox dusio e do intercimbio simbélicos no mundo modemo. Neste capitulo comegarei a explorar os contornos desta transformacao pela anili- se de algumas das caracteristicas da comunicagio mediada. Irei desenvolver uma in- trodu¢do a midia que é fundamentalmente “cultural”, isto é, preocupada tanto com o carater significativo das formas simbélicas, quanto com a sua contextualizagio so- cial’. Por um lado, é importante sublinhar que os meios de comunicacio tém.uma dimensio simbdlica irredutivel: eles se relacionam com a produgao, o armazenamen- TO € a GrCuTAGao de Wiateriais que séo significativos para os individuos que os produzem € os recebem. F facil perder de vista esta dimensio simbélica e preocupar-se tio-so- mente com os aspectos técnicos dos meios de comunicagio. Estes aspectos técnicos sio certamente importantes, como veremos; nio deveriam, porém, obscurecer o fato de que o desenvolvimento dos meios de comunicacio é, em sentido fundamental, uma reelaboragéo do cardter simbdlico da vida social, uma reorganizacio dos meios pelos quais a informagio € o contetido simbélico sio produzidos e intercambiados no mundo social € uma reestruturagio dos meios pelos quais os individuos se rela- Cionam entre si. Se “o homem é um animal suspenso em teias de significado que ele 19 / = ( \ Por outro lado, é também importante enfatizar que!a comunicagao med sempre um fenémeno social contextualizado: ¢ sempre implantada em context clais que Se estruturam de diversas maneiras-e que, por sua vez, produzem in na comunicagao que Ocorre.|Mais uma vez, é ficil perder de vista este aspecto vez que a comunicacao é geralmente “fixada” num substrato material de algur — palavras inscritas em papel, por exemplo, ou imagens gravadas em peliculas - cil focalizar 0 contetido simbélico das mensagens da midia e ignorar a complex bilizagio das condigdes sociais que subjazem a produgio e circulagio destas n gens. Esta é uma tendéncia que decididamente procurarei evitar. Sem negligen contetido simbélico das mensagens da midia, desenvolverei uma abordagem qu vilegia a comunicacao como parte integral de — e que nao pode ser entendida contextos mais amplos da vida social. Na primeira se¢4o deste capitulo esbocarei alguns dos aspectos de context ciais dentro dos quais a comunicacao em geral, e a comunicagio mediada em part deveriam ser entendidas. Sobre este pano de fundo, analisarei algumas das caracter dos meios técnicos de comunicacio (seco 2) e algumas das peculiaridades do q ~, mumente se descreve como “comunicac4o de massa” (se¢ao 3). A quarta se¢ao sé / ressaré pelas maneiras nas quais os meios de comunicacao reordenam as relagé | espaco e de tempo e alteram a nossa experiéncia delas. Na seco final do capitulo i plorar, preliminarmente, as relacGes entre a comunicacao mediada e os contextos s \ praticos dentro dos quais tal comunicagio é recebida e entendida. Aso, poder ¢ comunicagao Tornou-se lugar comum dizer que comunicacio é uma forma de agio. Desd Austin observou que proferir uma expressia ¢.executar uma ago e ndo apenas ou descrever um estado de coisas”, nos tornamos sensiveis ao fato de que falai Tinguagem € uma atividade através da qual os individuos estabelecem e renov: relagdes uns com os outros.{Mas se comunicagio é uma forma de agio, a anil comunicacdo deve se basear, pelo menos em parte, na anilise da ago e na cons . \/ go do seu Grater Sotialmente contextualizado. JAustin e muitos dos subseqi teoricos dos atOs dé Tmiguagem nao Conduziram o raciocinio nesta dire¢io; po suas consideragdes sobre os atos da fala tendem a ser um tanto formais e abst divorciados das verdadeiras circunstincias nas quais os individuos usam a lingu no dia-a-dia de suas vidas. Hoje néds podemos retomar a observacio de Austi mente se desenvolvermos uma teoria social substantiva da a¢do € dos tipos de p recursos € institui¢Ges em que ele se baseia 20 circunstancias previamente dadas que proporcionam a diferentes individuos diferen- tes inclinagdes e oportunidades. Estes conjuntos de circunstancias podem ser concei- tuados como “campos de interago”, para usar um termo fertilmente desenvolvido por Pierre Bourdieu’. Os individuos se situam em diferentes posigdes dentro destes campos, dependendo do tipo e da quantidade de recursos disponiveis para eles. Em alguns casos estas posigdes, quando institucionalizadas, adquirem uma certa estabili- dade — isto é, tornam-se parte de um conjunto relativamente estavel de regras, recur- sos e relacées sociais. As instituigdes podem ser vistas como determinados conjuntos de regras, recursos e relacdes com certo grau de durabilidade no tempo e alguma ex- tensio no espago, € que se mantém unidas com o propésito de alcangar alguns obje- tivos globais. As instituig6es definem a configuracao dos campos de interagéo pre- (a existentes c, ao Mesmo tempo, criam nOvas posicdc s, bem como novos conjuntos de trajetorias de vida | para os individuos que os ocupam. I, A posicio que um individuo ocupa dentro de um campo ou instituic¢io é muito estreitamente ligadi a0 poder que elé ou ela possui. No sentido mais geral, poder & a capa- cidade de agir para alcangar os proprios objetivos ou interesses, a capacidade de intervir no curso dos acontecimentos e em suas conseqiiéncias. No exercicio do poder, os indivi- duos empregam os recursos que lhe sio disponiveis; recursos sio os meios que lhes pos- sibilitam alcangar efetivamente seus objetivos e interesses. Ao acumular recursos dos mais diversos tipos, os individuos podem aumentar seu poder - do mesmo modo que, por exemplo, um individu pode controlar economias pessoais com a finalidade de comprar uma propriedade. HA recursos controlados pessoalmente, e ha também recursos acumu- lados dentro de organizagGes institucionais, que so bases importantes para o exercicio do poder. Individuos que ocupam posigées dominantes dentro de grandes instituicdes podem dispor de vastos recursos que os tornam capazes de tomar decisdes e perseguir objetivos que tém conseqiiéncias de longo alcance. Entendido assim de modo genérico, o poder é um fendmeno social penetrante, caracteristico de diferentes tipos de agio é de encontro, desde as agdes reconhecida- Mente politicas dos funionérios ptiblicos até os encontros mais prosaicos entre indi- viduos na rua. Se hoje comumente associamos poder 4 politica, isto é, as agdes de individuos agindo em nome do estado, isto é porque os estados se tornaram particu- larmente centros importantes de concentragio do poder no mundo moderno. Mas a importincia das instituigdes estatais ndo nos deveria ocultar o fato de que o poder manifestamente politico é somente uma forma mais especializada de poder, e de que os individuos normalmente exercem poder em muitos contextos que pouco ou nada tém a ver com o estado. Assim fazendo, eles exprimem e ajudarn a tornar relativa- 21 er ee eae te —— poder — que chamarei de “econdmico”. “politico”, “coercitivo” € simbolico" Estas disting6es sio de cardter essencialmente analitico. Elas refletem os diferentes tipos de atividades nas quais os seres humanos se ocupam, e os diversos tipos de recursos de que se servem no exercicio do poder. Mas na realidade estas diferentes formas de po- der comumente se sobrepoem de maneiras complexas e variadas. Uma instituicio particular ou tipo de institui¢o pode fornecer a estrutura para a acumulacio intensi- va de um certo tipo de recurso, e dai uma base privilegiada para 0 exercicio de uma certa forma de poder - da mesma forma que, por exemplo, uma empresa comercial de nossos dias serve de estrutura para a capitalizagdo de recursos materiais que so a base privilegiada para o exercicio do poder econémico. Estas instituigdes que propor- cionam bases privilegiadas para 0 exercicio de certas formas de poder, as chamarei de ““instituigdes paradigmiticas”. Mas também elas implicam uma mistura complexa de diferentes tipos de atividades, recursos e poder, ainda que direcionadas essencialmen- te para a acumulacio de determinados recursos e o exercicio de certa forma de poder. © poder econdmico provém da atividade humana produtiva, isto é, atividade relacio- nada com a provisio dos meios de subsisténcia através da extracdo da matéria-prima e de sua transformacdo em bens que podem ser consumidos ou trocados no merca- do. A atividade produtiva implica o uso e a criacio de varios tipos de recursos, mate- ~Hiais e financeiros, que incluem matéria-prima, meios de produgao (instrumentos, maquinas, terra, construgoes, etc.), produtos de co¥isiimo e’ capital financeiro (di- nheiro, valores de bolsa, formas de crédito, etc.). Estes recursos podem ser acumula- dos por individuos e organizacdes com o objetivo de expandir sua atividade pro- dutiva; e, ao fazé-lo, aumentam seu poder econémico. Em épocas remotas, a ativida~ de produtiva era predominantemente agraria, ¢ as instituigoes paradigmaticas do po- ~ GE ROREMICS Eraih UpICATAENT organizagdes de’ pequeno porte orientadas para a subsistEncla da exploraqao agricola OW para produgio de pequeitsr extedentes dest nados ao comércio. Com 6 desenvolvimento das sociedades modeériias, as instituicées paradigmaticas de poder econémico se tornaram maiores em porte e finalidade, de tipo mais variado, com processos de fabricacio manufaturada e, subseqiientemente, industrializada que assumiram uma importincia fundamental © poder econdmico pode ser distinguido do poder politico, que deriva da atividade de coordenagio dos individuos e da regulamentacio dos padres de Sua interaqio. Todis ¢ a regulament as organizagoes implicam algum giau de coordenagio e de regulamentagio, e por isso também um certo grau de poder politico neste sentido. Mas nés podemos identificar ‘uma gama de instituigdes que se dedicam essencialmente 4 coordenagio e a regulamen- 22 Tlals, passando peias Cidades-€stado da 1dade Classica, ale aS modernas formas dt estado-nacao. Todos os estados, ou instituigdes paraestatais, so essencialmente sistema: de autoridade. Implicam um complexo sistema de regras e procedimentos que autorizan certos individuos a agirem de determinadas maneiras. Em alguns casos estas regras ¢ procedimentos sio explicitamente codificados em forma de leis promulgadas po: corporagées soberanas e administradas por um sistema judicial. _ ',Contudo, como MEx WebéPentre outros observou, a capacidade do estado a capacidade do estado de exercer a autoridade gerilmente depende de sua capacidade de exercer duas form relacionadas mas distintas de poder, que irei descrever como poder Coeralivo e | po: der: simbélico. Fundamentalmente © estado pode recorrer a varias formas de coer¢ic ~ isto é, ad WSO real ou sob ameaga da forca fisica — para garantir o exercicio do pode: politico, tanto com relagdo as ameagas ou invasdes externas, quanto com relacio i agitagdo ou desobediéncia internas. A autoridade do estado pode também se apoia: na difusio de formas simbélicas que procuram cultivar e sustentar a crenga na legiti midade do poder politico. Mas até que ponto as formas simbélicas particulares conse guem criar ¢ sustentar a crenga na legitimidade do poder? Até que ponto tais crenca sio realmente compartilhadas pelos varios grupos e membros de uma populacio vas sala, e até que ponto a partilha de tais crengas € necessdria para o estivel e efetivc exercicio do poder politico? Nao hi respostas simples e completas para estas questGes e a incerteza (entre outras coisas) que tora o uso politico do poder simbélico um aventura arriscada e sempre aberta. Embora haja uma estreita conexio histérica e empirica entre o poder politico e « poder coercitivo, é sensato distinguir analiticamente um do outro. O poder corcitivo im plica o uso, ou a ameaca, da forga fisica para subjugar ou conquistar um oponente. / forca fisica se aplica de muitas maneiras, com @iferentes graus dé Witertsrehade-e tite rentes resultados. Mas ha uma fundamental ligacio entre a coercio ea lesio fisica ot a morte: 0 uso da forga fisica comporta o perigo de mutilar ou destruir o oponente A forca fisica ndo consiste simplesmente na forca bruta humana. Ela pode ser aumen tada pelo uso de armas e equipamentos, pelo treinamento e pelas taticas, pela inteli géncia e pelo planejamento, etc. Historicamente as instituigées mais importante acumuladoras de recursos deste tipo sio as instituigdes militares, e a forma mais im portante de poder coercitivo € o poder militar. £ claro que o poder militar desempe nhou um papel importante na formagao dos processos sociais e histéricos, tanto n passado quanto no presente. Ao longo da historia os estados tém reservado uma part significativa de suas atividades para o fortalecimento do poder militar, e para a obten cdo ~ através das conquistas e dos saques, ou dos varios tipos de tributacio ~ dos re manutengao (ou expansdo) dos limites territoriais do estado-nacio, e as varias orga- nizagdes paramilitares (como a policia) e instituigdes relacionadas (como as institui- des carcerérias) que cuidam fundamentalmente da pacificacao € do controle interno. Mas esta definicao institucional nao € absolutamente definitiva, e hé muitos exemplos na histéria recente do uso do poder militar para reprimir agitagdes internas. O quarto tipo de poder é cultural ou simbélico, que nasce na atividade de produ- 40, transmissio e recepgio do significado das formas simbélicas. A atividade simb6- lica & caracteristica fundamental da vida social, em igualdade de condigées com a atividade produtiva, a coordenacio dos individuos e a atividade coerciva. Os indivi- duos se ocupam constantemente com as atividades de expressio de si mesmos em formas simbélicas ou de interpretacéo das expressées usadas pelos outros; eles sio continuamente envolvidos na comunicagéo uns com os outros € na troca de informa- Ges de contetido simbélico. Assim fazendo, se server de toda sorte de recursos que descreverei como “meios de informagio e comunicagio”. Estes recursos incluem os meios técnicos de fixagio e transmissio; as habilidades, competéncias e formas de conhecimento empregadas na produgio, transmissio € recep¢io da informagio e do contetido simbélico (que Bourdieu chama de “capital cultural”); e o prestigio acu- mulado, 0 reconhecimento e o respeito tributados a alguns produtores ou instituigdes (“capital simbélico”) "Na produgio de formas simbélicas, os individuos se servem destas e de outras fontes para realizar agSes que possam intervir no curso dos aconte- cimentos com conseqiiéncias as mais diversas. As agdes simbélicas podem provocar reagées, liderar respostas de determinado teor, sugerir caminhos e decisées, induzir a crer e a descrer, apoiar os negécios do estado ou sublevar as massas em revolta coleti- va. Usarei o termo “poder simbélico” para me referir a esta capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de influenciar as agSes dos outros e produzir eventos por meio da producio e da transmissio de formas simbélicas’. Se a atividade simbdlica é uma caracteristica penetrante da vida social, ha, entre- tanto, uma grande variedade de instituigdes que assumem um papel particular histo- ricamente importante na acumulagio" dos meios de informagio e de comunicacio. Estas incluem instituicées religiosas, que se dedicam essencialmente A produgio e di- fusio de formas simbédlicas associadas 4 salvacdo, aos valores espirituais e crencas transcendentais; instituigdes educacionais, que se ocupam com a transmissao de con- tetidos simbélicos adquiridos (0 conhecimento) e com o treinamento de habilidades competéncias; e instituigdes da midia, que se orientam para a produgio em larga escala e a difusio generalizada de formas simbélicas no espaco € no tempo. Estas outras instituigdes culturais forneceram importantes bases para a acumulagio dos 14 fabeia 1.1 Formas de poder Formas de poder Recursos Instituig6es paradigmaticas Poder econémico Materiais e financeiros Instituigdes econémicas (p.ex. empresas comerciais) Poder politico Autoridade InstituigGes politicas (p.ex. estados) Poder coercitivo Forga fisica e armada Instituigées coercitivas (especialmente poder (especialmente militares, militar) mas também a policia, instituigdes carcerarias, etc.) Poder simbélico Meios de informagio Instituigdes culturais comunicacio (p.ex. a Igreja, escolas € universidades, as indtistrias da midia, etc.) A tabela 1.1 resume as quatro formas de poder em relacdo aos recursos dos quais dependem tipicamente e as instituigGes paradigmaticas em que eles se concentram. Esta tipologia nio quer ser uma classificagdo exaustiva das formas de poder e dos tipos de ins- tituicdo. Além do que, como indiquei anteriormente, muitas ages, na pratica, se valem de recursos os mais diversos, ¢ muitas instituigdes fornecem verdadeiras bases para dife- rentes formas de poder: na sombria r vida social, distingdes raramente sio definitivas. Nao obstanté, esta tipologia nos dé uma estrutura til para analisar a orga- nizagio social e suas transformagées. E, como me comprometi a mostrar nos capitu- los seguintes, ela pode ser efetivamente usada para analisar as transformacées institu- cionais associadas ao surgimento das sociedades modernas. Os usos dos meios de comunicasio Caracterizei a comunicagio como um tipo distinto de atividade social que envolve producio, a transmissio e a recepcio de formas simbdlicas e implica a utilizagao de re- ‘cursos de varios tipos. Quero agora examinar mais detalhadamente alguns destes recur- sos. Comeo considerando a natureza dos meios de comunicacio e alguns dos usos a que eles se prestam. Passo depois a considerar algumas das habilidades, competéncias e for- mas de conhecimento que sio pressupostas pelos meios de comunicagio. 25 ee eee EE dos os processos de intercimbio simbélico envolverm um meio técnico de algum tip Mesmo 0 intercimbio de afirmagées lingiiisticas face a face pressupée alguns element materiais — laringe, cordas vocais, ondas de ar, ouvidos e timpanos auditivos, etc. ~ e virtude dos quais os sons significativos so produzidos e recebidos. Mas a natureza ¢ meio técnico pode variar grandemente de um tipo de produsio simbélica (e inte cambio) para outro, e as propriedades dos diferentes meios técnicos facilitam e ci cunscrevem os tipos de produc simbilica e de intercimbio possiveis Nés podemos examinar melhor estas questées distinguindo varios aspectos gers ou atributos dos meios técnicos. Um dos atributos é 0 que permite ao meio técnic uum certo grau de fixagio da forma simbélica, ou Sua ‘préservagio em um meio 0 qi possui graus variavels de durabilidade. No caso da conversaco ~ tanto a conversage face a face quanto aquela transmitida por meios técnicos como alto-falante ou telef ne —o grau de fixagio pode ser muito baixo ou efetivamente inexistente; qualquer { xagdo neste caso vai depender da meméria, mais do que de alguma proprieda distintiva do meio técnico como tal. Mas em outros casos, como a escrita em perg minho ou papel, a escultura em madeira ou pedra, a pintura, a impressio, a film: gem, a gravacio etc., pode haver um grau relativamente alto de fixagio. O grau « fixaco depende do meio especifico utilizado — uma mensagem talhada numa pedr por exemplo, terd mais duracio do que uma outra escrita em pergaminho ou papel. assim como diferentes meios permitem diferentes graus de fixag4o, assim també eles variam na medida em que nos permitem alterar ou revisar uma mensagem fix da. Uma mensagem escrita a lapis é mais susceptivel 4 alteracio do que uma escrita tinta, ¢ uma fala registrada em gravador é mais dificil de ser desmentida do que pal vras trocadas no fluxo de uma interagio do dia-a-dia Em virtude da capacidade de fixagio, os meios técnicos podem armazenar info mages ou contelido sirabdlico, € PF 1580 $40 Considerados como diferentes tipos ¢ “mecanismos de arimazenamento de Tnformacao”, prepaados, em diferentes grati para preservar informacdes Ou COftétido simbélico e torné-los disponiveis para us subseqiiente . O8 Telos tecnicos; € as Tiiformagoes Cli contetido simbélico neles arm: zenados, podem servir assim de fonte para 0 exercicio de diferentes formas de pode E muito provavel que as primeiras formas de escrita — desenvolvidas pelos sumérios pelos antigos egipcios em torno de 3000 aC ~ tenham sido usadas principalment com a finalidade de registrar informagées relevantes 4 posse de propriedades e admi nistragdo do comércio’. O desenvolvimento da atividade econémica em periodos his t6ricos posteriores, como no final da Idade Média e inicio da Europa modern: dependeu crucialmente da disponibilidade de virios meios de anotagio e de protec’ 26 regadas de compilar estatisticas oficiais aos funcionarios de relacoes publicas — das nossas sociedades hodiernas. Um segundo atributo dos meios técnicos é o que Ihes permite um certo grau de 2 reprodusio. Por “repzodugio” entérido a capacidade de multiplicar as cépias de uma forma simbélica. Alguns meios técnicos, como os entalhes em pedra, dificilmente se podem reproduzir. O desenvolvimento dos sistemas de escrita e de meios técnicos como o pergaminho e o papel aumentaram substancialmente a reprodutibilidade das formas simbdlicas. Através da Idade Média numerosas falanges de escribas se dedica- vam A tarefa de reproduzir textos religiosos, literarios e filoséficos. Mas 0 passo deci- sivo veio com a invengio da maquina impressora, que permitiu a reprodu¢io de mensagens escritas em escala e velocidade que até ento tinham sido impossiveis. Si- milarmente, o desenvolvimento da litografia, da fotografia, do gramofone, do radio- gravador foram significativos, ndo somente porque permitiram a fixacio de fend- menos visuais e acisticos em meios técnicos durveis, mas também porque tais fend- menos eram fixados em meios que Ihes facilitavam, em principio, a reprodugio Ta reprodutibilidade das formas simbélicas é uma das caracterfsticas que esto na base _da exploragio comercial dos meios de comunicagio. As formas simbélicas po- “dem ser “mercantilizadas”, isto é, transformadas em mercadorias para serem vendi- as e compradas no mercado; e os meios principais de “mercantilizagio” das formas simbélicas estao justamente no aumento € no controle da capacidade de sua reprodu- / ‘s0.[Muitas das grandes inovagées na indistria da midia — tais como a introdugio da prensa a vapor de Koenig em 1814 e as prensas rotatorias em 1848 — sq destinavam diretamente ao aumento da capacidade reprodutiva para fins comerciais /Mas a viabi- lidade comercial das organizacdes da midia depende também do exercicio do contro- Te, em certo grau, sobre a reprodutibilidade de’ uma obra. E por isso a protesio do copyright, isto &, do direito de reproduzir, licenciar e distribuir uma obra, é de funda- ‘mental importancia para a industria da midia. Em térmos de suas origens e de seus principais beneficidrios, o desenvolvimento da lei do copyright tem muito menos a ver com a salvaguarda dos direitos dos autores do que com a protesio dos interesses dos editores ¢ livreiros, que tinham muito a perder com a reprodugdo nio autorizada de livros e de outros materiais impressos'®.| TEmbora a capacidade de reprodugio dos meios técnicos sirva & exploracio co- mercial, ela também tem implicagdes de longo alcance no que tange a tio¢do de obra “original” ou “auténtica!!, O fato de uma obra original ou auténtica nio ser uma re- Produgao torna-se cada vez mais uma caracteristica importante da obra; e 4 medida 27 copias ou réplicas de obras originais. Mas estas réplicas nio sio iguais ao original, precisamente porque sao cOpias, e por isso s4o cotadas em valores mais baixos no mercado de bens simbdlicos. Entretanto, muitas formas simbélicas séo reproduzidas nio de um texto original, mas de uma copia. Mais, a obra consiste an cdpias ou reprodugdes a serem produzidas. A medida que a reprodusio controlada se centraliza no processo de reprodu¢do em si mes- mo, as nogdes de originalidade e de autenticidade sio gradualmente valorizadas diversa- mente da idéia de “qualidade daquilo que é tnico”. Assim, por exemplo, no caso de livros, o que se tornam tipicamente itens cobi¢ados por colecionadores nao sio os textos realmente “originais”, mas as suas primeiras edigdes, que compreendem todas as cépias produzidas na primeira impressio da obra.{Do mesmo modo, filmes e gravagdes musi- cais sio sempre produzidos em muiltiplas cdpias, e todas as copias gozam do mesmo status (desde que tenham boa qualidade de produgio ou “alta fidelidade”). Assim, enquanto a/ valorizagio econémica das obras de arte é geralmente baseada na singularidade da obra (e na defesa desta qualidade contra os falsificadores), a exploragio comercial de livros, filmes, discos, etc., é baseada na capacidadéde produzir a obra em miiltiplas copias e de controlar este processo de uma maneira lucrativa. | Um terceiro aspecto dos meios técnicos € que eles permitem um certo grau de distanciamento espago-temporal. Todo processo de intercimbio simbélico geralmente impli- ‘ca um distanciariento da Torma simbélica do seu contexto de producio: ela é afasta- da de seu contexto, tanto no espago quanto no tempo, e reimplantada em novos contextos que podem estar situados em tempos e lugares diferentes. Usarei a expres- sio “distanciamento espago-temporal” para indicar este processo de afastamento'’. Todas as formas de comunicagio implicam um certo grau de distanciamento espago- temporal, certo grau de deslocamento no tempo e no espago. Mas a extensio deste deslocamento varia grandemente, dependendo das circunstancias de comunica¢io e No caso de uma interacio face a face, ha um distanciamento relativamente pe- queno. Uma conversa acontece num contexto de co-presenca: os participantes estio. fisicamente presentes e partilham o mesmo conjunto referencial de espaco e de tem- po. As falas trocadas numa conversagio sio disponiveis somente aos interlocutores, ou a individuos situados nas imediagées, e terio duracio transitéria, por quanto du- rar a meméria de seu contetido. A suplementagio da fala por meios técnicos de varios tipos estende-Ihe a disponibili- dade no espago € no tempo; amplificando-a, um alto-falante a torna disponivel a indivi- 28 po: podem ser repetidos ou lidos por individuos situados em outros contextos, diferen- tes tanto no tempo quanto no espa¢o do contexto original de sua produgao. Ao alterar as condigdes espaco-temporais da comunicagio, 0 uso dos meios téc- nicos também altera as condigdes de espaco e de tempo sob as quais os individuos exercem o poder'’: tornam-se capazes de agir e interagir 4 distancia; podem intervir e influenciar no curso dos acontecimentos mais distantes no espaco e no tempo. O uso dos meios técnicos da aos individuos novas maneiras de organizar e controlar 0 espaco e 0 tempo, e novas maneiras de usar o tempo € 0 espaso para os proprios fins. O desenvolvimento de novos meios técnicos pode também aprofundar o impacto com que os individuos experimentam as dimensées de espaco e de tempo da vida so- cial. Iremos dar mais detalhes destas implicagSes mais tarde. Finalmente, consideremos brevemente os tipos de habilidades, competéncias e formas de co nhecimento exigidas pelo uso dos meios técnicos. © uso dos meios técnicos pressupde um processo de codificagio; isto é, implica o uso de um conjunto de regras e procedimentos de codificag¢io e decodificagdo da informagao ou do contetido simbélico. Os individuos que empregam um meio devem conhecer, até certo ponto, as regras € os procedimentos. O dominio destas regras e procedimentos nio exige necessariamente a capacidade de os formular de modo claro e explicito; apenas a habilidade de usd-los na pratica, saber como continuar, diria Wittgenstein. Raramente somos convidados a formular estas re- gras e procedimentos explicitamente, mas somos obrigados a usé-los praticamente todas as vezes que empregamos um meio técnico de comunicagio. Ao considerar os tipos de habilidades e competéncias envolvidas no uso de um meio técnico, é importante distinguir entre aqueles exigidos na codificago da infor- ma¢io ou do contetido simbélico, e aqueles necessirios para decodificar a mensa- gem. Na pratica estas habilidades e competéncias podem vir juntas ou coincidirem até certo ponto (por exemplo, quem sabe escrever numa lingua particular, normal- mente saber4 também ler na mesma lingua) (nto estas habilidades nem sempre coin- cidem. A maioria dos individuos que assistem 4 televisio, por exemplo, é capaz de entender perfeitamente os programas, embora conhega muito pouco sobre a produ- cio de um programa. Quando individuos codificam ou decodificam mensagens, eles empregam nio somente as habilidades e competéncias requeridas pelo meio técnico, mas também varias formas de conhecimento e suposigdes de fundo que fazem parte dos recursos culturais que eles trazem para apoiar 0 processo de intercimbio simbélico. Estes co- nhecimentos € pressuposices dio forma as mensagens, 4 maneira como eles as en- 29 “ree OO ee Algumas caracteristicas da “comunicagao de massa” Até agora consideramos alguns dos atributos dos meios técnicos de comunicagio € algumas de suas utilidades mais comuns. Tenho usado a expressio “meio técnico de co- municagio” para me referir aos elementos materiais pelos quais a informac3o ou 0 con- tetido simbélico é fixado e transmitido, Mas quando nés usamos o termo “meios de comunicagio” quase sempre pensamos num conjunto mais especifico de instituiges produtos: livros, jomais, programas de ridio e de televisio, discos, filmes, ¢ assim por diante. Isto é, pensamos num conjunto de instituigdes e produtos que sio comumente agrupados sob a etiqueta “comunicacio de massa”. Mas o que é “comunicacio de mas- sa”? Este € um termo ao qual podemos dar um sentido claro e coerente? JA se disse muitas vezes que “comunicagio de massa” € uma expressio infeliz. O termo “massa” é especificamerite’ énganoso, Ele evoca a imagem de uma vasta au- diéncia de muitos milhares e até milhdes de individuos. Isto pode perfeitamente vir a calhar para alguns produtos da midia, tais como os mais modernos e populares jor- nais, filmes e programas de televisio; mas dificilmente representa as circunstincias de muitos produtos da midia, no passado ou no presente. Durante as fases iniciais do desenvolvimento da imprensa escrita periddica, e em alguns setores das indiistrias da midia hoje (por exemplo, algumas editoras de livros e revistas), a audiéncia foi e per- manece relativamente pequena e especializada. Assim, se 0 termo “massa” deve ser utilizado, néo se pode, porém, reduzi-lo a uma questao de quantidade. O que impor- ta na comunicagao de massa nao esté na quantidade de individuos que recebe os pro- dutos, mas no fato de que estes produtos estio disponiveis em principio para uma grande pluralidade de destinatdrios. Ha um outro aspecto em que o termo “massa” pode enganar. Ele sugere que os destinatérios dos produtos da midia se compdem de um vasto mar de passivos ¢ indi- ferenciados individuos. Esta é uma imagem associada a algumas das primeiras criticas 4 “cultura de massa” ¢ 4 “sociedade de massa”, criticas que geralmente pressupu- nham que o desenvolvimento da comunicagio de massa tinha um grande impacto negativo na vida social moderna, criando um tipo de cultura homogénea e branda, que diverte sem desafiar, que prende a atengio sem ocupar as faculdades criticas, que proporciona gratificagio imediata sem questionar os fundamentos dessa gratificacio Esta linha tradicional de critica cultural é interessante; ela tem despertado questdes validas que merecem atencio ainda hoje, embora com alguma modificagio. Mas esta 30 tados pela continua recep¢ao de mensagens similares. Devemos tambem descartar a suposicio de que a recep¢io em si mesma seja um processo sem problemas, acritico, e que 0s produtos sio absorvidos pelos individuos como uma esponja absorve agua Suposigées deste tipo tém muito pouco a ver com 0 verdadeiro carter das atividades de recepcdo e com as maneiras complexas pelas quais os produtos da midia sio rece- bidos pelos individuos, interpretados por eles e incorporados em suas vidas. Se 0 termo “massa” pode ser enganador em certos aspectos, 0 termo “comun gio” também,| uma vez que os tipos de comunicacao geralmente implicados na co- “municagio de massa sio bem diferentes dos que ocorrem numa conversa¢ao ordi- “naria, No intercimbio comunicativo de uma interagio face a face, o fluxo de comu- nicago tem mio-dupla: uma pessoa fala, a outra responde, e assim por diante. Em outras palavras, os intercimbios numa interagio face a face sio fundamentalmente dialégicos. Com muitas formas de comunicagao de massa, entretanto, o fluxo de co- municagio é esmagadoramente de sentido tinico. As mensagens sio produzidas por um grupo de individuos e transmitidas para outros situados em circunstancias espa- ciais e temporais muito diferentes das encontradas no contexto original de produgio. Por isso os receptores das mensagens da midia nio sio parceiros de um proceso de intercimbio comunicativo reciproco, mas participantes de um proceso estruturado ‘de transmissio simbélica. Dai o motivo por que geralmente falarei de “transmissio” ou “difusio” das mensagens da midia, mais do que “comunicagio” como tal /_ Emesmo em circunstancias estruturadas de comunicagio de massa, os receptores tém alguma capacidade de intervir e contribuir com eventos e contetido durante o proceso comunicativo. Bles podem, por exemplo, escrever cartas ao editor, telefonar para as companhias de televisio e expressar seus pontos de vista, ou simplesmente re- cusar a compra ou a recep¢io de um determinado produto. E assim 0 proceso co- municativo é fundamentalmente assimétrico, ainda que nio completamente mono- logico ou de sentido tinico. Ha uma razio ulterior que torna a expressio “comunicagio de massa” um tanto imprépria hoje. Geralmente se associa este termo a certos tipos de transmissées da midia ~ por exemplo, 4 difusio dos jomais de grande circulacio, aos programas de Tidio e de televisio| Entretanto hoje parece que estamos testemunhando mudangas fundamentais na natureza da comunicagio mediada. A troca dos sistemas analégicos Pelos sistemas digitais na codificagio da informacio,j combinada com o desenvolvi- mento de novos sistemas de transmissio (incluindo os satélites € os cabos de fibra Stica); estéo criando um novo cenério técnico no qual a informacio e a comunicagio °'Q FRANCISCANO ieua des fa. Postal 191 31 CENTRO pos de informagio e comunicagio em rede, que estio se tornando cada vez mais c ‘muns hoje em dia. yeem ss re eee ee EE Depois de todas estas consideragées, a expressio “comunicagao de massa” deve! ser usada com uma boa dose de circunspeccio.(Eu usarei geralmente outras expresses como “comunicacio mediada” ou, mais simplesmente, “a midia” — que tém menc perigos de serem mal interpretadas; Contudo ndo deveremos deixar estas diferens: conceituais obscurecer o fato de que, através de uma série de desenvolvimentos hi toricos que podem ser cabalmente documentados, uma nova série de fendmenos municativos emergiu. Sempre que eu usar a expressio “comunicacio de massa estarei me referindo a este conjunto interligado de desenvolvimentos histéricos ¢ f némenos comunicativos. O que agora descrevemos um tanto vagamente como “cc municagao de massa” que_emergiram historicamen através do desenvolvimento de instituigdes que procuravam explorar novas oportun: dades para reunir e registrar informagées, para produzir e reproduzir formas simbél cas, e para transmitir informagio ¢ contetido simbélico para uma pluralidade d destinatérios em troca de algum tipo de remuneracao financeira. Sejamos mais precisos{eu usarei a expressio “comunicagio de massa” para me refi rir & produgio insttucionalizaa e difusio generalizada de bens simbélico através da fixaio ¢ transmissio dei fommagio ou coiteidg simbilico.Desdobro esta definigio em cinco caracteristicas: os meic técnicos e institucionais de produsio e difusio; a mercantilizacdo das formas simbélica: a dissociacio estruturada entre a producio e a recep¢io; o prolongamento da disponibil dade dos produtos da midia no tempo e no espaco; e a circulagio publica das form: simbélicas mediadas| Nem todas estas caracteristicas so singularmente pertinentes a que poderiamos chamar de “comunicacio de massa”. Mas juntas elas evidenciam ur conjunto de caracteristicas que so tipicos e importantes aspectos do tipo de fendme no comunicativo que queremos significar com esta expressio. \ Agprittiéira caracteristica da comunicacio de massa é que ela envolve certos meio técnicos e institucionais de producio e de difusio. iF esta caracteristica que tem rece bido mais atengio na literatura especializada sobre a midia. Pois é claro que o desen volvimento da midia, desde as formas mais antigas de impressio aos mais recente desenvolvimentos no campo das telecomunicagdes, tem se baseado numa série d inovagdes técnicas capazes de serem exploradas comercialmente. £ claro também qu a exploragio destas inovacdes é um processo que ocorre dentro de instituicdes € es truturas institucionais, e que estas instituigdes continuam a determinar os caminho operacionais da midia hoje. Em outras palavras, o desenvolvimento das indistrias da mi 32 ploragio comercial da imprensa a partir da segunda metade do século XV. Mas diversamente da literatura especializada nas tecnologias da midia, tentarei relacionar o desenvolvimento dos meios técnicos com os mais amplos aspectos institucionais do desenvolvimento das modernas sociedades. © fato de que a comunicacdo de massa implique a exploracio comercial das ino- vag6es técnicas se torna explicito na(seytinda caracteristica — naquilo que chamei de mercantilizagao das formas simbélicas Discuti esta caracteristica brevemente na se¢ao anterior, em relagao a capacidade reprodutiva dos meios técnicos; aqui irei estudé-la de um modo mais geral. Considero a mercantiliza¢io como um tipo particular de “valorizagio”, isto é, uma das maneiras pelas quais se pode atribuir aos objetos um certo valor.{As formas simbélicas se submetem a dois tipos de valorizagio"*. A “valo- rizagdo simbélica” € um processo de atribuigio de “valor simbélico” as formas sim- bilicas. Este € 0 valor que os objetos tém em virtude do apreco, da estima, da indiferenca ou do desprezo dos individuos. A “valorizagio econémica” € 0 processo de atribuicio de “valor econémico” as formas simbdlicas, um valor pelo qual elas podem ser trocadas no Tiercado.jEm virtude da valorizagio econémica, as formas simbélicas se tornam mercadoria: objetps. que podem ser vendidos ¢ comprados no mercado por um determinado preco.\As formas simbélicas mercantilizadas irei me referir como “bens simbélicos”, A comunicagio de massa implica a mercantilizago das formas simbélicas no sen- tido de que os objetos produzidos pelas instituigdes da midia passam por um proces- so de valorizagéo econdmica. As maneiras de valorizagdo das formas simbélicas variam muito, dependendo dos meios técnicos e das estruturas institucionais dentro das quais elas sio empregadas. A mercantilizacio de alguns impressos, como livros e panfletos, depende quase inteiramente da capacidade de produzir e vender as miulti- plas cépias da obra. Outros impressos (jornais, por exemplo) combinam este tipo de valorizacio com outros, como a capacidade de vender o espaco de propaganda. No caso das transmissdes de rédio e televisio, a venda do tempo de propaganda aos anunciantes tem sido de fundamental importincia, em alguns contextos nacionais, para a valorizacio econémica. Em outros contextos nacionais, os receptores dos pro- gramas de radio e televisio pagam diretamente (através de uma assinatura) ou indire- tamente (através dos impostos) pelo direito de receber o material transmitido. Os desenvolvimentos tecnoldgicos recentes associados as transmiss6es via cabo ou satéli- te criaram novas oportunidades para a valorizagio econémica, como o pagamento das taxas de inscri¢do ou 0 uso dos cartdes de crédito que permitem aos receptores a decodificagio das mensagens codificadas. 33 como 0 desenvolvimento de um conjunto de instituigdes que controlam a valoniza¢ao das obras de arte, e dentro das quais estas obras podem ser vendidas e compradas como mercadorias. Quanto mais valor simbélico for atribuido a estas obras e aos seus produto- res, isto é, quanto mais forem consideradas como “grandes obras" e “grandes artistas”, tanto maior seré o prego de troca no mercadoi De modo que as industrias da midia nio slo as tinicas instituigdes interessadas na valorizacio econémica das formas simbélicas. Mas no mundo modero elas estio certamente entre as mais importantes instituicdes que invadem cotidianamente as vidas de muitos individuos, TA s€fveira caracteristica da comunicacéo de massa é que ela estabelece uma dissocia- do estrufufal entre a producig das formas simbdlicas e a sua recep¢io, Em todos 0s tipos de comunicacao de massa, 0 contexto de produgao € geralmente Separado do contexto (ou contextos) de recepsio. Os bens simbélicos sio produzidos em um contexto ou conjunto de contextos (as instituicdes que formam as industrias da midia) e transmitidos para receptores localizados em contextos distantes ¢ diversos (tais como diferentes resi- déncias domésticas). Além disso, diversamente de muitos outros casos de comunicagio que implicam a separagio de contextos, no caso da comunicagio de massa o fluxo de mensagens é, como jd notei anteriormente, predominantemente de sentido tinico. O contexto de produgio pio é também (ou pelo menos na mesma medida) 0 contexto de recepcio, e vice-versa, Por isso 0 fluxo de mersagens é um fluxo estruturaio ¢ a capacidade de intervencio ou de contribuigio dos réceptores é estritamente cicunsenitay ——~ Esta caracteristica da comunicagio de massa tem implicagdes importantes no pro- cesso de producio e recepsio. No lado da produgio, ela significa que 0 pessoal en- volvido na produgio e transmisso das mensagens da midia so geralmente privados das formas diretas e continuas do feedback caracteristico da interacio face a face. Os processos de produgio e transmissio, portanto, sio caracterizados por um tipo distin- tivo de indeterminagio, uma vez que ocorrem na auséncia de deixas fornecidas pelos receptores. (Compare-se a diferenca entre um discurso diante de uma assembléia, que pode manifestar aprovagio ou desaprovasio através do riso, das pal:nas ou do si- léncio, e um discurso transmitido pela televisio). £ claro que o pessoal da midia tem desenvolvido uma variedade de técnicas para enfrentar a indeterminacio, desde o uso das formulas de sucesso garantido e que tém uma audiéncia previsivel (como as sé- ries televisivas ¢ os filmes seqiienciais) até a pesquisa mercadolégica e o acompanha- mento regular e estatistico do tamanho e da satisfagao da audiéncia’* No lado da recepeio, a dissociacao estrutural significa que 0s receptores das men- sagens mediadas ficam 4 vontade. Podem fazer o que bem entenderem das mensa- gens, € 0 produtor nio esti li para reelaborar ou corrigit 05 possiveis mal-entendidos 4 das pouco podem fazer para determinar os topicos ou o conteudo da comunica¢ao. Mas isto nio significa que eles sejam totalmente privados de poder, meros espectadores passivos de um espetaculo sobre o qual no tém nenhum controle. {Uma quart caracteristica da comunicagio de massa é a | extensio da dispanibili- dade das formas simbdlicas no tempo € no espago} Esta caracteristica se relaciona es- freitamente com a anterior: uma vez que a midia estabelece uma separa¢io entre os contextos de producio e os contextos de recep¢io, as mensagens mediadas se tornam disponiveis em contextos os mais remotos e distantes dos contextos em que as men- sagens foram originalmente produzidas. Esta ampliagio da disponibilidade das men- sagens mediadas é uma caracteristica que tem conseqiiéncias de grande alcance, e por isso vamos examind-la com mais detalhes logo mais. Mais uma vez, esta caracteristica nao é exclusiva da comunica¢ao de massa. Todas as formas simbélicas, em virtude de serem intercambiadas entre individuos que nio ocupam posigdes idénticas no espaco € no tempo, implicam um certo grau de distanciamento espaco-temporal. Mas com o desenvolvimento de instituigdes orientadas para a produgio em grande escala e para a difusio generalizada de bens simbélicos, a ampliacdo da disponibilidade das formas simbélicas se torna um fenémeno social cada vez mais significativo e penetrante. In- formagao e contetido simbdlico s4o colocados a disposicdo de um numero incalcula- vel de individuos, em espagos cada vez mais amplos e em velocidade sempre maior. A ampliagio da disponibilidade das formas simbélicas se tornou tio pronunciada rotineira, que todos a supdem como uma caracteristica corriqueira da vida social. / Misto nos leva & quint® caracteristica da comunicagio de massa: a que implica a cir- culacio publica das formas simbélicas.|Os produtos da midia sio disponiveis, em Principio, a uma pluralidade de destinatarios. Eles sio produzidos em milltiplas cé- pias ou transmitidos para uma multiplicidade de receptores, e permanecem disponi- veis a quem quer que tenha os meios técnicos, as habilidades ¢ os recursos para adquiri-los. Neste aspecto, a comunicagio de massa se diferencia de outras formas de comunicacio ~ como as conversas telefnicas, as teleconferéncias, ou as producdes particulares de video — que empregam os mesmos meios técnicos de fixa¢do e trans- missio, mas que séo dirigidas para um individuo ou para um grupo bem restrito de receptores. A linha a ser tragada aqui nio € definitiva, e a distingio pode ficar ainda tmais confusa nas préximas décadas com a implantagdo de novas tecnologias que per- mitem servigos cada vez mais personalizados. Contudo, é uma caracteristica da co- municagdo de massa ficar a disposicio, em principio, de uma pluralidade de re- Ceptores ~ mesmo quando, por uma série de razes, estes produtos circulem apenas entre um relativamente pequeno e restrito setor da populacio. 35 Ga midia, por sud GISPONIDINGade, CIM PIUICIplO, @ MITia PIUraNUdce Uc PCeprres tém intrinsecamente um cariter piblico, no sentido de que estio “abertos” ou “dispo niveis a0 piiblico”. O contetido das mensagens da midia se torna pulico, isto ¢, visi vel e verificével, a uma multiplicidade de individuos que podem estar situados en contextos os mais diversos. O impacto dos meios de comunicagio na “esfera pabli ca”, ena relagio entre os dominios piiblico e privado € 0 tema que iremos ver en mais detalhes nos préximos capitulos. A reorganizasao do espaco ¢ do tempo Ja observamos que 0 uso dos meios técnicos de comunicagio pode alterar as di. mensées espaco-temporal da vida social. Capacitando os individuos a se comunica. rem através de espaco e de tempo sempre mais dilatados, 0 uso dos meios técnicos o: torna capazes de transcender os limites caracteristicos de uma interagio face a face ‘Ao mesmo tempo, os leva a reordenar as questées de espaco e de tempo dentro da organizacio social, e a usar esta reorganiza¢io como meio para atingir seus objetivos Todos os meios técnicos tém uma relago com os aspectos de espaco e de tempo da vida social, mas o desenvolvimento da tecnologia da telecomunicacio na segunda metade do século XIX foi particularmente significativo a este respeito. Antes do ad- vento da telecomunicagio, a extensio da disponibilidade das formas simbdlicas no espa- go geralmente dependia de seu transporte fisico; com pouquissimas excegdes (por exemplo, o seméforo) o distanciamento espacial s6 era possivel com 0 deslocamento das formas simbélicas de um lugar para um outro. Mas com o desenvolvimento das primei- ras formas de telecomunicacio, o distanciamento espacial nio mais exigia fisicamente 0 transporte das formas simbélicas e, portanto, evitava os atrasos no tempo devidos a tais deslocamentosy © advento da telecomunicagio trouxe uma disjungio entre o espaso ¢ o tempo, no sentido de que o distanciamento espacial ndo_mais implicava o distanciamento ‘temporal,|Informagio e conteido simbélico podiam ser transmitidos para distancias ‘cada vez maiores num tempo cada vez menor; quando a transmissio telegrifica foi instalada, as mensagens eram recebidas em menos tempo do que era necessirio para codificar e decodificar a informasio, O distanciamento espacial foi aumentando, en- quanto a demora temporal foi sendo virtualmente eliminada. A disjungio entre o espago e o tempo preparou o caminho para uma outra trans: formacio, estreitamente relacionada com o desenvolvimento da telecomunicagio: a descoberta da simultaneidade nao espacial’. Em periodos histéricos mais antigos a experiéncia da simultaneidade — isto é, de Ventos que ocorrem “ao mesmo tempo" — pressupu- nha uma localizagio especifica onde os eventos simultineos podiam ser experimenta- 36 gares completamente distintos. Em contraste com a concretude do aqui e agora, emergiu um sentido de “agora” nio mais ligado a um determinado lugar. A simulta- neidade ganhou mais espaco e se tornou finalmente global em alcance. As transformagdes do espaco e do tempo trazidas em parte pelo desenvolvimento das novas tecnologias da comunica¢io, e em parte pelo desenvolvimento de meios mais répidos de transporte, deu origem a problemas cada vez mais agudos de coorde- nagdo espago-temporal, problemas que foram finalmente superados com uma série de convencées destinadas a padronizar o tempo no mundo”, Até meados do século XIX, cada cidade, vila ou aldeia tinha o seu padrio de tempo; havia uma pluralidade de horas locais que nio se coordenavam entre si. Mas com 0 desenvolvimento dos servicos postais em fins do século XVIII e a construgio das ferrovias nos inicios do sé- culo XIX, houve uma pressio crescente para calcular o tempo em niveis supralocais. A introdugio do horario padronizado das ferrovias, baseado na Hora Média de Greenwich, gradualmente levou a adocio do GMT (Greenwich Mean Time) como a hora- padrio para toda a Inglaterra. A tarefa de padronizar 0 cilculo do tempo em escalas territoriais maiores trouxe novos problemas que foram solucionados com a adogio de diferentes fusos hordrios. Estes foram estabelecidos inicialmente no continente norte-americano nos anos 1870s e principios dos anos 1880s, e finalmente aceitos em 1884 na Conferéncia Internacional do Meridiano realizada em Washington, D.C., com a finalidade de estabelecer um sistema global de padronizagio do tempo. O mundo foi dividido em 24 fusos horirios de uma hora de duracio cada e uma linha internacional de mudanga de data foi estabelecida. A linha de mudanga de data esco- Ihida foi o meridiano a 180° de igual distancia a leste e a oeste de Greenwich: os via- jantes atravessando-o na diregio leste ganham um dia, enquanto os que o atravessam na diregio oeste perdem um dia. Dai por diante, a padronizagio do sistema de tempo no mundo forneceu uma estrutura para a coordenacdo dos tempos locais e para a or- ganizacio de redes de comunicagio ¢ transporte O desenvolvimento de novos meios de comunicacio e transporte também afetou as maneiras pelas quais os individuos experimentam as caracteristicas de espaco e de tempo da vida social. A padroniza¢io do tempo mundial trouxe um crescente interes- se na experiéncia pessoal de tempo e espago, de velocidade e simultaneidade, e na disjungio entre o espaco e o tempo. Este interesse se manifestou expressivamente na arte e na literatura do final do século XIX e inicio do século XX, de Proust e Baudelai- re a James Joyce, do cubismo e futurismo ao surrealismo. O impacto literdrio e artis- tico destes desenvolvimentos foi explorado com muito discernimento por Stephen Kern, Marshall Berman e outros'®. Aqui desejo considerar de modo mais geral algu- 37 pessoas tinham de lugares distantés € passados €ra modelada Dasicamentc pero mer cambio de contetido simbélico das interagdes face a face. A narracdo de historias teve um papel central na formagio do sentido do passado e do mundo muito além das imediagdes locais. Para muitas pessoas a compreensio do passado e de lugares distan- tes, como também do sentido da delimitagio espacial e da continuidade histérica das comunidades a que elas pertenciam, era constituida principalmente pelas,tradicdes orais produzidas e transmitidas em contextos sociais da vida cotidiana. Mas{a crescen- te disponibilidade de formas simbélicas mediadas foi gradualmente alterando as ma- aeiras nas qual a Pessoa: fa compreendend > 9 passado e o mundo além de seus COMEKIOE SOCTAIS Imediatos.P papel das tradigdes orais néo foi eliminado, mas estas tradiges foram suplementadas, € até certo ponto reconstituidas, pela difusio dos produtos da midia. © desenvolvimento dos meios de comunicagio criou assim o que agora descre- vemos como uma “historicidade mediada”: nosso sentido do passado e de como ele nos alcanga se torna cada Vez Thais dependente da expansio crescente de um reserva- tério de formas simbdlicas mediadas. Muitos individuos nas sociedades ocidentais hoje chegaram ao sentido dos principais acontecimentos do passado, e até dos mais importantes acontecimentos do século XX (as duas guerras mundiais, a revolugio tussa, 0 holocausto, etc.), principalmente através de livros, jornais, filmes e progra- mas televisivos. A medida que se recua no passado, fica cada vez mais dificil que os individuos tenham chegado ao sentido dos acontecimentos através de experiéncias pessoais ou de relatos de testemunhas transmitidas em interacdes face a face. A tradi- 40 oral e a interagao face a face continuam a desempenhar um papel importante na elabora¢io de nossa compreensio do passado, mas elas operam cada vez em conjunto com um processo de compreensio que se serve cada vez mais do contetido simbélico presente nos produtos das industrias da midia. Se a midia alterou a nossa compreensio do passado, criou também aquilo que poderiamos chamar de “mundanidade mediada”: nossa compreensio do mundo fora do alcance de nossa experiéncia pessoal, e de nosso lugar dentro dele, esté sendo modelada cada vez mais pela mediac¢io de formas simbolicas. Esta difusio dos produtos da midia nos permite em certo sentido a experiéncia de eventos, a investigacio de outros e, em geral, o conhecimento de um mundo que se amplia para muito além de nossos encon- tros didrios. Os horizontes espaciais de nossa compreensio se dilatam grandemente, uma vez que eles nao precisam estar presentes fisicamente aos lugares onde os fendmenos ob- servados ocorrem. Tao profunda é a medida em que a nossa compreensio.do mundo foi -modelada pelos produtos da midia hoje que. quando viajamos pelo mundo para lugares 38 de novidade ou surpresa muitas vezes confirma o fato de que nossa experiéncia vivi- ch de adé : . da foi precedida por uma série de idéias preconcebidas e derivadas, pelo menos em parte, das palavras e imagens transmitidas pela midia Ao alterar a compreensio do lugar e do passado, o desenvolvimento dos meios de comunica¢io modificou o sentido de pertencimento dos individuos — isto é, a com- preensio dos grupos e das comunidades a que eles sentem pertencer. Esta compreensio provém, até certo ponto, de um sentimento de partilha de uma histéria de um lugar co- muns, de uma trajetéria comum no tempo e no espaco. Mas 4 medida que nossa com- preensio do passado se torna cada vez mais dependente da mediagio das formas simbélicas, e a nossa compreensio do mundo e do lugar que ocupamos nele vai se ali- mentando dos produtos da midia, do mesmo modo a nossa compreensio dos grupos € comunidades com que compartilhamos um caminho comum através do tempo e do espago, uma origem e um destino comuns, também vai sendo alterada: sentimo-nos Jpertencentes a grupos e comunidades que se-constituem em parte através da midi: Retornaremos a este fendmeno da “socialidade_mediada” em capitulos ulteriores, quando iremos considerar alguns exemplos mais detalhadamente. © Até agora consideramos algumas das maneiras pelas quais o desenvolvimento dos meios de comunicagio alterou a compreensio que os individuos tém do passado e do mundo além de seus locais de vida imediatos. Consideremos agora uma questio um tan- to diferente. Nossa compreensio de espago e de tempo se liga muito estreitamente a de / iistincia, do que esta perto ou do que esta longe; e a nossa compreensio de distincia é modelada profundamente pelos meios 4 nossa disposicao de retroceder no espaco e no tempo. Os meios de transporte sao claramente cruciais a este respeito. Para os campone- ses rurais de séculos passados, Londres era muito mais distante do que € hoje para os ha- bitantes do campo na Inglaterra. No século XVI, quando as rodovias eram precirias ¢ a velocidade média das carruagens a cavalo nas regies provinciais era provavelmente cerca de 30 milhas por dia, uma viagem de um condado como Norfolk até Londres levaria vi- rios dias”®; hoje ela pode ser feita em mais ou menos duas horas. Os meios de comunica- cdo também exercem um papel importante na elaborago da nossa compreensio do sentido de distancia. Quando a comunicagéo dependia do transporte fisico das mensa- gens, o sentido de distancia dependia do tempo de viagem necessério entre a origem ¢ 0 destin€Tomo a velocidade do transporte e da comunicagio aumentou, a distincia pare- ceu diminuirfCom a disjungio entre o espaco e o tempo trazida pela telecomunicacio, o sentido de distincia foi gradualmente sendo estimado & parte de uma exclusiva depen- déncia do tempo de viagem. A partir de entio o sentido de distincia se tornou de- pendente de duas varidveis ~ tempo da viagem e velocidade da comunicacio ~ que Supe €2 Viagem ¢ velocidade da comunicacao 39 CESCTILO CON Veen e te CO eae ee eee OF vimento dos novos meios de transporte e comunicacio, aliado a sempre mais intens va e extensiva expansio da economia capitalista orientada para a répida mov mentagio de capital e de bens, a importincia das barreiras espaciais ver declinando medida que o ritmo da vida social se acelera. Os lugares anteriormente mais remot¢ do mundo sio ligados a redes globais de interdependéncia. © tempo das viagens constantemente reduzido e, com o desenvolvimento das telecomunicacées, a veloc dade da comunicagio se torna virtualmente instantnea. O mundo se parece um lugs cada vez menor: ndo mais uma imensidio de territérios desconhecidos, mas um glc bo completamente explorado, cuidadosamente mapeado e inteiramente vulnerdvel ingeréncia dos seres humanos. Ainda temos que compreender melhor o impacto destas transformages na expe riéncia que os individuos tém do fluxo da historia e de seu lugar dentro dela. Nas form: primitivas da sociedade, quando a maioria dos individuos vivia em dependéncia da ter de onde tiravam a prépria subsisténcia, a experiéncia do fluxo do tempo estava estreit: mente ligada aos ritmos naturais das estagGes e ao ciclo do nascimento e da morte. A me dida que os individuos foram gradualmente sendo atraidos por um sistema de trabalh fabril e urbano, a experiéncia do fluxo do tempo foi se associando cada vez mais aos me canismos de observancia do tempo\em sincronizacio com as horas de trabalho e com organizagao dos dias da semana’. Logo que 0 tempo comesou a ser disciplinado pele objetivos de aumentar a produgio das mercadorias, houve uma certa toca: os sacrif cios feitos 6 presente eram trocados pela promessa de um futuro melhor. A noga de progresio, elaborada pelas filosofias Waministas da historia e pelas teorias sociai da evolugio, foi sendo experimentada no dia-a-dia da vida como o enorme hiato en tre a experiéncia passada e presente, de um lado, e os horizontes continuamente mu taveis das expectativas associadas ao futuro, de outro”. A experiéncia do fluxo do tempo pode estar mudando hoje. A medida que o pas so da vida se acelera, a terra prometida para o futuro nio se torna mais proxima. O horizontes das expectativas sempre incertas comesam a desmoronar, 4 medida qu vio se encontrando com um futuro que continuamente fica aquém das expectativa do pasado e do presente. Torna-se cada vez mais dificil persistir numa concep¢io li near da histéria como progresso. A idéia de progresso é um modo de colonizar-o-fu turo, € uma maneira de subofdinar o futuro aos nossos planos e expectativa presentes. Mas 4 medida queas deficincias desta estratégia s€ tomam mais claras di. apés dia, € o futuro repetidamente confunde nossos planos e expectativas, a idéia d progresso comega a perder forca entre nés. 40 ponto os desenvolvimentos discutidos aqui remodelaram nossa éncia do fluxo da hist6ria€ do N0Ss0 lugar dentro dela, nossa compreensio do futuro € nossa orien= tacdo para éle! estas S40 questdes que deixarei, quase inteiramentte;abertas- - Comunicasao, apropriagao ¢ vida cotidiana Em varios pontos deste capitulo enfatizel a importncia de pensar nos gieios de -comunicacio_em relacio aos contextos sociais praticas nos quais os individuos pro- duzem e recebem as formas simbélicas diadas. |O esquecimento destes contextos sociais € uma tendéncia que pode ser eficontrada ao longo da historia das reflexdes teéricas e das andlises priticas sobre a midia. Por exemplo, sob a influéncia do estru- turalismo, da semiética e orientagSes afins, um grande mimero de criticas culturais nestes iltimos anos se tem preocupado com as questées relativas aos “textos” — ndo somente no sentido mais estreito de trabalhos literdrios, mas também no sentido mais amplo de formas culturais significativas, desde os filmes e programas de televi- sio, aos antincios de diversdes e grafites”*. Ha muito a se lucrar com uma rigorosa anilise das questGes relativas a estes “textos”. Mas cada uma destas anélises é, quando muito, uma maneira assaz parcial de se debrusar sobre os fendmenos culturais (in- cluindo os textos literdrios). £ parcial porque os fenémenos em pauta so geralmente analisados sem uma consideracio sistemitica e detalhada das condigdes sob as quais eles foram produzidos e recebidos. Os textos sio analisados em si mesmos e por si mesmos, sem referéncia aos objetivos e recursos daqueles que os produzem, por um lado, e as maneiras em que sio usados e entendidos por aqueles que os recebem, por outro lado. Os produtores e receptores nos escapam de vista, enquanto 0 analista ou critico se detém na forma cultural que é, um tanto artificialmente, abstraida de seu contexto social de produgio, circulagioe recep. = SSSSSOS~S~S No interior das mais empiricas tradigdes de pesquisa da midia, a natureza e o papel dos receptores — 0 publico — tm sido examinados com cuidadosa aten¢do. Varios méto- dos de pesquisa tém sido empregados para estudar fatores tais como 0 tamanho ¢ a com- posicio do piblico, os graus de atengio e de compreensio revelados pelos receptores, os “efeitos” a curto ou a longo prazo de exposigio as mensagens da midia, as “necessida- des” sociais e psicolégicas satisfeitas pelos produtos de consumo da midia, e assim por diante”’. Estas pesquisas tém produzido material importante e interessante. Mas hd certas deficiéncias em muitas destas pesquisas mais antigas. Uma deficiéncia € esta: ao procu- rar sobretudo medir e quantificar 0 puiblico e suas respostas, elas tendem a negligen- Giar 0 que poderiamos descrever como o carter mundano da atividde meptive. Por ele 41 SENSIDINAGACE pare vs eo ee eS aa Em anos mais recentes este tipo de aproximacio se firmou entre os pesquisadc da midia. Alguns dos estudos mais perspicazes dos processos de recepgao usa uma variedade de métodos, incluindo a participacdo dos prdprios receptores atra de questiondrios, entrevistas, a fim de verificar detalhadamente asicondi¢ées sot quais os individuos recebem os produtos da midiaycomo os processam e que sent Thes dio” {Estes estudos deixaram de lado decisivamente a idéia de que os receptc - dos produtos da midia so consumidores passivos; eles mostraram mais de uma \j a recepgio dos produtos da midia é um proceso mais ativo e criativo do qu ' ito do assistente passivo Sugere. Eles também mostraram que o Séntido que os ir widuos G5 S65 prOdUtGs da Maida varia de acordo com a formagio e as condigdes | “Gas de Gada im, de al iatieare-que a mesma mensagem pode ser entendida varias maneiras em diferentes contextos. Nos préximos capitulos irei me servir mais de alguns destes estudos, mas a vou ficar apenas com as implicacées tedricas mais gerais desta visio dos produtos midia como atividade rotineira e pratica. Esta orientacdo significa, em primeiro lu; que a recep¢io deveria ser vista como_uma atividade: ndo como algo passivo, m2 tipo de pratica pelas quais os individuos percebem e trabalham o material simbd que recebem. No processo de recepgio, os individuos usam as formas simbél para suas prdprias finalidades, em maneiras extremamente variadas e relativame _gcultadas, uma vez que estas praticas nao estéo circunscritas a lugares particula “ Enquanto a produgio “fixa” o contetido simbélico em substratos materiais, a_rec {40 0 “desprende” e o liberta para os estragos do tempo’ JAlém disso, os usos qué ‘Teceptores fazem das matérias simbélicas podem divergir consideravelmente daqui (se € que houve) pensados ou queridos pelos produtores. Mesmo que os individ tenham pequeno ou quase nenhum controle sobre os contetidos das matérias sim licas que Ihe sio oferecidas, eles os podem usar, trabalhar e reelaborar de mane totalmente alheias as intengdes ou aos objetivos dos produtores. Esta orientacdo significa também que a recep¢io é uma atividade situada: os p dutos da midia sio recebidos por individuos que estio sempre situados em espec cos contextos sdcio-histéricos. Estes contextos se caracterizam por relacées de po relativamente estaveis e por um acesso diferenciado aos diversos recursos acum dos. A atividade de recepsio se realiza dentro de contextos estruturados que dep dem do poder e dos recursos disponiveis aos receptores em potencial. Nio se p normalmente receber transmissdes televisivas, por exemplo, sem os equipamen Recessirios; os padrdes de assisténcia TV sio comumente regulados de tal man 42 a mento espacial (¢ talvez também temporal), 0s individuos podem elevar-se acima de seus contextos de vida e, por um momento, perder-se em outro mundo”. A recepgio dos produtos da midia deveria ser vista, além disso, como uma ativi- dade de rotina, no sentido de que é uma parte integrante das atividades constitutivas da vida didria. A recepsio dos produtos da midia se sobrepde e imbrica a outras ativida- des nas formas mais complexas, e parte da importancia que tipos particulares de re- cep¢ao tem para individuos deriva das maneiras com que eles os relacionam a outros aspectos de suas vidas. Assim, por exemplo, os individuos podem ler jornais como passatempo, enquan- to se deslocam para o trabalho; podem ligar a televisio para quebrar a monotonia de preparar um jantar ou para serenar as criangas; ler um livro para relaxar e escapar temporariamente das preocupacdes da vida ordindria. A recepcio dos produtos da midia pode também servir para organizar 0 horario didrio de seus receptores. Indivi- duos podem adaptar suas rotinas de modo a assistir regularmente a certos programas ~ por exemplo, o noticidrio das nove horas, ou reservar um espa¢o didrio ou semanal para o acompanhamento de uma novela ou série televisiva. £ este aspecto de recepsio! ~ a capacidade de ordenar e impor rotinas didrias ~ que tem sido atenuado pelo uso, ; dos videocassetes. Permitindo aos receptores a gravagio das matérias transmitidas e a reapresentacio delas em horérios mais convenientes, os videocassetes gravadores li-. | — bertam os receptores até certo ponto da ordem temporal imposta pelas organizacdes | de radio e televisio e integram os processos de recepcio em suas rotinas, determina- das por outras exigéncias e constrangimentos. ’ Além de ser uma atividade situada e de rotina, a recepsio dos produtos da midia & uma realizagéo especalizada. Ela depende de habilidades e competéncias adquiridas que 0s individuos mostram no processo de recepgio. Estas habilidades e competéncias sio extremamente diversas. Jé observamos que meios técnicos diferentes requerem dife- rentes tipos de habilidades e competéncias da parte de quem os usa. Mas é também importante ver que, como atributos socialmente adquiridos, estas habilidades e com- Peténcias podem variar em muitos aspectos de um grupo para outro ou de uma clas- se para outra ou ainda de um periodo histérico para outro. Elas sio atributos adquiridos através de processos de aprendizagem ou de inculcagio socialmente dife- renciados ¢ diversamente acessiveis a individuos de formacio diferente’. Uma vez adquiridas, estas habilidades e competéncias se tornam parte da maneira social de ser dos individuos e se revelam tio automaticamente que ninguém as percebe como complexas, e muitas vezes sofisticadas, aquisigdes sociais. 43 tee ee ee eee ee ee EEE EE so de interpretagao neste sentido: um livro pode ser comprado e nunca lido, do me mo modo que um aparelho de televisio pode ser deixado as moscas. Adquirir simplesmente tomar posse de, como se adquire outros objetos de consumo: carro roupas, etc. Mas a recep¢io de um produto da midia implica mais do que isto: imp] ca um certo grau de atencdo e de atividade interpretativa da parte do receptor. O it dividuo que recebe um produto da midia deve, até certo ponto, prestar aten¢ao (le olhar, escutar, etc.); e, ao fazer isto, ele se ocupa inteiramente numa atividade de er a: a tendimento do contetido simbélico transmitido pelo produto. Produtos diferentes r querem diferentes graus de atencdo, concentragao e esforco. Ler um livro geralmen exige um pouco mais de atengio do que, por exemplo, ler um jornal, que se poc folhear superficialmente, detendo-se apenas nas manchetes ou nos artigos de mai interesse. A televisio se assiste com varios graus de atengio, desde uma absorco tot até os curtos € intermitentes acompanhamentos visuais que permitem seguir superf cialmente o sentido geral de um programa. Se considerarmos a recep¢éo dos produtos da midia como um processo herm« néutico, poderemos nos servir de alguns conhecimentos da tradigéo hermenéutica sob este fenémeno. Interpretagdo, como Gadamer diria, no é uma atividade sem pressupos des: é um processo ativo e criativo no qual o intérprete inclui uma série de conjecturas expectativas para apoiar a mensagem que ele procura entender™| Algumas destas conje turas e expectativas podem ser pessoais, isto é, inteiramente particulares 4 historia sing. lar de cada individuo. Mas muitas das pressuposicdes e expectativas que um individu inclui no proceso de interpretagio so de cardter social e historico mais amplo, compa tilhadas por um grupo com caracteristicas originais e trajetérias sociais similares. Est: constituem um tipo de pano de fundo de conhecimentos implicitos que os indiv duos adquirem através de um processo gradual de inculcagio, e que lhes fornece um estrutura para interpretar e assimilar o que é novo. Uma vez que a interpretagio das formas simbélicas exige uma contribuigio atit do intérprete, que traz uma estrutura pessoal de apoio 4 mensagem, segue-se que « maneiras de compreender os produtos da midia variam de um individuo (ou grup de individuos) para outro, e de um contexto sécio-histérico para outro. Como acor tece com todas as formas simbédlicas, o “significado” de uma mensagem transmitid pela midia nao é um fenédmeno estatico, permanentemente fixo e transparente par todos, Antes, o significado ou o sentido de uma mensagem deve ser visto como um fe némeno complexo e mutavel, continuamente renovado e, até certo ponto, transform: do, pelo préprio proceso de recepcio, interpretacao e reinterpretacag. O significado qu uma mensagem tem para um individuo dependerd em certa medida da estrutura que el 44 e deixam largo espago para a possibilidade de que, de um individuo ou grupo de in- dividuos para outro, e de um contexto sdcio-histérico para outro, a mensagem trans- mitida por um produto da midia possa ser entendida diferentemente. A tradicio hermenéutica chama a nossa atenc4o para um outro aspecto da inter- pretacdo que é relevante aqui: ao interpretar as formas simbdlicas, os individuos as incorporam na propria compreensio que tém de si mesmos e dos outros. Eles as usam como veiculos para reflexdo e auto-reflexio, como base para refletirem sobre si mesmos, os outros e o mundo a que pertencem. Usarei o termo “apropriagéo” para me referir a este extenso processo de conhecimento e de autoconhecimento. Apro- priar-se de uma mensagem é apoderar-se de um contetido significativo e tornd-lo proprio”. & assimilar a mensagem e incorpord-la 4 propria vida — um processo que algumas vezes acontece sem muito esforco, e outras vezes requer deliberada aplica- sio\E adaptar a mensagem 4 nossa propria vida e aos contextos e circunstancias em que a vivemos; contextos e circunstincias que normalmente sio bem diferentes da- Uy queles em que a mensagem foi produzida.| A apropriacao das formas simbélicas — e, em particular, das mensagens transmiti- das pelos produtos da midia — é um processo que pode se estender muito além do ( contexto inicial da atividade de recepcio. As mensagens da midia sio comumente discutidas por individuos durante a sua recepgio e depois; elas sio portanto elabora- das discursivamente e compartilhadas com o circule- mais amplo de individuos que _podem ter participado (ou nao) do processo inicial de recepcig. Desta e de outras maneiras, as mensagens podem ser retransmitidas para outros contextos de recepcao ¢ transformadas através de um processo continuo de repetigio, reinterpretaao, co- “mentario, riso e critica. Este processo pode acontecer numa variedade de circunstin- cias — em casa, ao telefone, no lugar de trabalho — e pode envolver uma pluralidade de participantes. Pode fornecer estruturas narrativas dentro_das quais os individuos relatam seus pensamentos, sentimentos e experiéncias, tecendo aspectos ge suas vidas com as mensagens da midia e com suas respostas as mensagens relatadas/Através des- te processo de elaborac¢ao discursiva, a compreensao que um individuo tem das men- - ‘sagens transmitidas pelos produtos da midia pode sofrer transformagoes, pois elas sio vistas de um Angulo diferente, sio subrnetidas aos comentarios € 4 critica dos outros, | € gradualmente impressas no tecido simbélico da vida cotidianay yx ) (a ews: Na recepcio e apropriagio das mensagens da midia, os individuos sio envolvidos num processo de formacio pessoal e de autocompreensio — embora em formas nem sempre explicitas e reconhecidas como tais. Apoderando-se de mensagens e rotineira- mentos e gostos e expandindo os horizontes de nossa experiéncia. Nos estamos ativamente nos modificando por meio de mensagens e de contetido significativo ofere- cidos pelos produtos da midia (entre outras coisas). Este processo de transformagio pessoal nao é um acontecimento subito e singular. Ele acontece lentamente, imper- ceptivelmente, dia apés dia, ano apés ano. £ um processo no qual algumas mensa- gens so retidas e outras s4o esquecidas, no qual algumas se tornam fundamento de agio e de reflexdo, tpico de conversacio entre amigos, enquanto outras deslizam pelo dreno da meméria e se perdem no fluxo e refluxo de imagens e idéias Dizer que a apropriayao das mensagens da midia se tornou um meio de autofor- mac4o no mundo moderno nao é dizer que ele é 0 tnico meio: claramente nao é. Ha muitas outras formas de interacao social, como as existentes entre pais ¢ filhos, entre professores e alunos, entre pares, que continuario a desempenhar um papel funda- mental na formacio pessoal e social. Os primeiros processos de socializacio na fami- lia e na escola séo, de muitas maneiras, decisivos para o subseqiiente desenvol- vimento do individuo e de sua autoconsciéncia. Mas no devemos perder de vista fato de que, num mundo cada vez mais bombardeado por produtos das indiistrias da midia, uma nova e maior arena foi criada para o processo de autoformagio. £ uma arena livre das limitagdes espago-temporais da interagio face a face e, dado o alcance da televisio em sua expansio global, se torna cada vez mais acessivel aos individuos em todo o mundo. 46

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