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(Ciencia Rural, Santa Mara, v.26, .2,p. 315-321, 1996 ISSN 0103-8478 A PRESCRICAO RACIONAL EM MEDICINA VETERINARIA E OS NOMES DOS FARMACOS DOS MEDICAMENTOS ALOPATICOS RATIONAL PRESCRIPTION IN VETERINARY MEDICINE AND THE NAMES OF ACTIVE SUBSTANCES OF ALOPATIC MEDICINES - REVISAO BIBLIOGRAFICA - Augusto Langeloh! RESUMO, Este artigo revisa a quesido da prescrigdo dos edicamentos, no exercicio da clinica veterindria,ressaliando as dificuldadese/ou problemas que podem resultar da existéncia de diversos nomes aribuidos a um mesmo férmaco. Os farmacos tem vérias denominagdes: 0 nome quimico, os nomes genéricos ¢ 0 ‘nome comercial. Cada férmaco pode estar presente em mais de 1uma especialdade farmacéutica producida pelas diversas indis- ‘mas farmacéuticase recebe uma denominagio comercial distina Uma portaria ministerial aprovou as Denominagées Comuns ‘Brasileiras baseadas na terminologia recomendada pela Organiza- (920 Mundial da Saide para o nome genérico dos férmacos, mas parte da indisria farmacéutica de medicamentos de uso médico velerindrio ainda ndo emprega a denominagdo recomendada ¢m seus produtos. A mulipligdade resultant cra dficuldades e pode induc 0 médico-veterinéro aerres no momento da prescrigl0 Ou uillzagto de medicamentos além de obrigé-lo a frequentes consultas « compéndios a procura da sinonimia mais conecida ‘para exercer una terapéutica ractonal. Por outro lado, oimercim- ‘bio comercial decorrente do acordo Mercosul, se inclulr a comercializagao de medicamentos veteriniris, pode gerar dificuldades adicionais caso no sejam adotadas normas uniformes ‘na denominacto das substinciasatvas entre os paises signatérios do acordo Palavras-chave: nome genérico, nome quimico, nome comercial, rnomes de firmacos, prescrigdo,receta ‘SUMMARY Drugs can be designed by their chemical name, by ‘their generic (or non proprietary) names and by the commercial (or proprietary) name. Drugs can be marketed by more than one ‘company and can have several propriciary or trademark names. In Brazil pharmaceutical campanies which produce veterinary druge use different chemical or generic names to designe the active drug of medicines. This clearly create dificulties for veterinarians Inducing errors and misuses. Medicines for human use on the other hhand have a offcial generic (non-proprietary) name known at Denominagdes Comuns Brasleias (Brazilian Common Denomina- tion) which were adopted in accordance with the World Health Organization recomendations It is stressed that Brazilian Oficial non-proprietary names should also be adopted by manufacturers of veterinary drugs. This would either help 10 eliminate the necessity for memorizing multiple chemical and generic drug names as been as reduce the possibilty of misunderstanding and errors. If veterinary medicines would be marketed in various South-American countries, as areslt rom the Mercasul comercial ‘agreement, the existence of many names for the same drug can ‘result in an even more confuse situation. This aricle deals with his problem and calls for attention for the uniformity of drug Key words: generic name, chemical name, proprietary name, drug name, prescription. | édico Veteinro, Mestre e Doutor em Farmacologia, Professor Adjuno do Departamento de Farmacologia do Instituto de Biocincias «da UFRGS, Rua Professor Sarmento Leite, 500/202, $0046-500 - Porto Alege, RS. Rachid para abc em 10196. Aproadee 138296 316 Langetoh INTRODUGAO Prescrever racionalmente em Medicina- Veterinaria significa eleger (8) melhor(es) medica- ‘mento(s) para prevenir ou combater a doenga de um animal ou grupo de animais, levando em conta diagnéstico, progndstico, relagdo custo/beneficio, as cexpectativas do criador ou proprietério e, quando for © caso, resguardando os interesses do consumidor dos produtos de origem animal, Prescrever corretamente & uma tarefa dificil que, apds 0 estabelecimento do diagnéstico, requer conhecimento do “arsenal” tera- péutico, atualizagao constante através de consulta a fontes bibliograficas confidveis, ¢, sobretudo, respon- sabilidade (MILLER, 1977; PUGH, 1991; DAVIES, 1995; LANGELOH, 1995). Um levantamento realiza- do na 26* edigdo do Compéndio Veterinério (AN- DREI, 1993 ) revelou que existem 798 especialidades farmacéuticas distribuidas em 6 (seis) dos principais grupos farmacolégicos de importancia médico-vete- rindria, compreendendo: a) anti-helminticos, b) uimioterépicos e antibiéticos, ¢) ectoparasiticidas, d) analgésico/antitérmicos/anti-inflamatérios (AINE), €) tranquilizantes/anestésicos ¢ f) férmacos com agdo hormonal. Neste niimero ndo se incluem, portanto, as especialidades farmacéuticas integradas exclusivamen- te por vitaminas, oligoelementos € sais minerais, os biolégicos e outras categorias. A estas especialidades de uso médico-veterinério podem se somar, para indimeras situagdes praticas na clinica Médico Veteri- nia, em uso “extra-rétulo™, um nimero certamente elevado de medicamentos da linha “humana”, discri- rminados na literatura pertinente (ANDREI, 1989; DEF 93/94). A eleig@o de uma (ou mais) destas especialida- des farmacéuticas envolve varios parametros, um dos quais &a escolha do melhor farmaco, definido como a substincia ativa do medicamento alopstico, eficaz para ‘0.caso em pauta, Desta escotha e da implementagao do esquema terapéutico correto depende 0 sucesso do tratamento. Na prescrigao, ao invés do nome genérico, prefere-se utilizar o nome comercial da especialidade terapéutica, preferéncia esta que parece ser internacio- nal (BRITISH VETERINARY ASSOCIATION, 1991; DOUST, 1994). Neste caso o estabelecimento comercial, seja farmécia, drogaria ou outro (casa agricola, por ex.), s6 pode vender 0 medicamento prescrito, isto é, no pode substitui-lo por outro sem consulta € consentimento do profissional que o pres- creveu. Em medicina, entretanto, tem havido esforgo oficial no sentido de incentivar a prescri¢ao pelo nome genérico da substincia ativa, com objetivo de reduzir 08 custos do tratamento, como se pode inferir do Decreto n° 793 de 05.04.93 (BRASIL, 19932). Nestes casos a escolha da especialidade farmacéutica ¢ delegada para o farmacéutico em atividade no estabe- lecimento escolhido pelo consumidor. Esta pratica pode ser adotada mais facilmente em ambientes hospitalares pelos profissionais que nele atuam. Em Medicina Veterindria a implementagdo de procedi- mento similar seria dificultada ou mesmo inviabilizada pela diversidade de nomenclatura genérica atribuida a lum mesmo farmaco como veremos no decorrer deste trabalho. Este artigo procura demonstrar que, além dos conhecimentos téenicos mais diretamente relacio- nnados com o diagnéstico e dos conhecimentos de farmacologia € terapéutica, também € necessério conhecer os nomes quimicos € genéricos dos farmacos € seus sindnimos para exercitar uma prescrigdo racio- nal Os nomes dos farmacos Os firmacos podem ser conhecidos identificados através de varias denominagdes: 0 nome 4quimico, o nome genérico (que podem ser varios) € 0 nome comercial (PUGH, 1991). Nome quimico © nome quimico seguramente € a mais precisa forma de denominar um farmaco pois enumera ‘95 seus constituintes, sua fungdo quimica, posigao, seqiiéncia e relacionamento na estrutura molecular. Neste nome também deve estar inclufdo, se presente, a propriedade da substdncia, em solucdo, desviar a luz polarizada através da inclusto de um "f" ou (~) se levo ou de um "a" ou (+) se dextrorotatoria, confor- me o desvio da luz seja para a esquerda ou direita respectivamente. Esta é uma propriedade fisica de suma importincia pois inimeros férmacos s6 sao eficazes farmacolégicamente em uma dessas formas - por exemplo sémente os ismeros levégiros do cloran- fenicol e tetramisol sAo ativos. Um dado farmaco pode ter mais de um nome quimico, como exemplificado com 0 tetramisol ¢ 0 triclorfono na Tabela 1. Em geral, quanto mais complexa a estrutura quimica, maior a possibilidade de ter varios nomes quimicos. Isto se deve a que os integrantes da molécula da substancia «em questo podem ser enumerados em ordem diferen- te ou, mesmo, parcialmente aglutinados em uma outra molécula conhecida cujo nome passa a fazer parte da nova substincia. Apesar da sua "preciso" 0 nome quimico nem sempre pode ou € utilizado. Por outro lado, mesmo que fosse, a perfeita compreensio da Ciéneia Rural, v. 26, n. 2, 196, A prescrigto racional em Medicina Veterindria 317 estrutura molecular a partir desta denominagao fica limitada aos quimicos e, as vezes, até restrita aos especialistas de um determinado ramo da quimica. A partir do nome quimico também ¢ dificil estabelecer a que grupo farmacolégico pertencem muitas substn- cias ativas. O nome quimico deve ser grafado com Cédigo alfa-numérico Nas fases preliminares de desenvolvimento ¢ investigagao de uma substancia com potencialidade para se tomar um férmaco de interesse terapéutico importante, o laboratério envolvido costuma utilizar inicial miniscula um cédigo alfa-numérico (MOREAU, 1985). Esta sigla identifica esta substancia e impede aos eventuais concorrentes de copié-la pura e simplesmente, 0 que decerto seria facilitado se, nesta fase, fosse divulgado seu nome quimico. Habi- tualmente a sigla € constituida de iniciais retiradas do proprio nome do laboratério ou industria que desenvolve as investigagdes. O no- me Bayva-1470 foi utilizado pela “Tabela |. Corelagdo entre a sinonimia de set firmacos de amplo emprego em terap2utica, fem Medicina Veterindria com algumas especialidades farmactuticas, de uso rmédico veterinari, onde estas denominagdes sto utlizadas (*). A existénc

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