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te loys Tumalbo Personagens ana, sertaneja na faixa dos 40 anos Chicé, seu filho, 20 anos Branca, filha de 16 anos ‘Toms, mascate de 30 anos Vina, mulher de 45 anos José, seu filho, 22 anos Cenério Toda a ago se passa em trés planos: a oiticica, onde se arrancha a familia dos retirantes, a casa de Vina e uma nesga de mato, ponto de encontro ou espécie de esconderijo. CENA 01 Chicé, Mariana e Branca, com pequena bagagem as costas, procurando abrigo. Chico’ Mile, vamo_parar_com essas_andanga e ficar aqui até chegar_o inyerno, A senhora jé viu que todo lugar, nesse tempo, € como cantiga de perua — de pior a pior. Manana Chico Mariana Chico Mariana Chicé- Branca Chico” Branca Chico Branca Num € 0s lugar que me desinquieta, meu filho, é os servigo pesado que botam pra riba de vocé, como se fosse qualquer flagelado acostumado a pegar no eito. : Ta certo que eu nunca fui flagelado,,mas chega tempo em que a Situagéo da pra isso — e quem é homem tem que enfrentar toda versidade de trabalho, (cansavo? Mas lhe castigarem desse jeito na picareta, botando serrote abaixo pras estrada passar — pensa que num vejo o seu sofrer, se virando a noite inteira na tipdia, sem poder pegar no sono — as méos inchada de fazer d6? Ora, mie, as maos é minha... E a senhora, por que num dorme? (meas) Acha que posso pregar os olhos vendo vocé num servigo que 86 Satands aguenta? — Aquilo tira a sustanga de qualquer cristao. Besteira, mae — com esse cabra aqui ninguém pode nao, (Retirando Gum saco wn gancd que segura carinhosamente, comeca a sacudi- Jo, cantando.) — Pode chover canivete quem td falando & Chicé ‘fio de dona Mariana macho nascido nas brenha do sertéio do Pianes. (Que observava 0 local, absoria.) Deixa de tua leseira, Chicd, e resolve se a gente fica aqui ou nfo... Eu tou é cansada—e quando a gente té enfadada s6 quer mesmo € canto pra sossegar... Enfadada? — Quem fala. Vinha passando de grande na boleia,do caminhao, — Avalie quem _vinha sacolejando no lastro, bolando mais que xexo em ladeira. Tou cansada de viver pra riba e pra baixo, os cacareco na cabera, como se a gente tivesse sido a vida toda retirante... E vooé pensa que ¢ 0 qué? — A princesa Cesarina ou alguma baronesa? Ai que essa mocinha agora t4 que nem o sol ~ tudo Ihe fede a sangue real. Ora, a gente sempre teve onde morar, com que passar, sempre foi considerado — ¢ agora deu pra correr mundo... Podia ter ficado em casa, como gente decente.. Mariana Branca Mariana Chicé Branca Mariana Chicé Mariana Chicé Branca Mariana Branca Mariana (Que escutava.) E que diabo voce queria ficar fazendo naquele desterro? — Comendo lagartixa assada ou fazendo vida de santa? Se a gente num tivesse saido aparecia um jeito. Das outras vez ninguém saiu e escapou tudo — até as criagao. Mas isso foi das outras vez. ~ Mas dessa feita — num tem jeito que dé jeito... (Veemente.) Sera que vocé num via a urubuzada nas camiga dos bicho morto, as ossada quarando no sol, nem a derradeira rés, que, pra num morrer de fome, tive que vender por pouco mais que nada? (Limpando 0 ganzd, a quem dedica um carinho todo especial.) Isso j4 passou minha gente, E meter os peito de novo. Pra que tamo vivo? — $6 tenho um prazer: tamo de retirada com os piquéio no lombo, mas nunca baixemo o cangote, Sempre seguimo 0 conselho da_velha que toda vida diz: “Quem se abaixa demais... 0 cu aparece”. Chicé fata se opando todo, como se fosse 0 dono do mundo... 0 xente. Ja vi torres mais alta cair... (rritada.) Larguem de bate-boca sem futuro e venham coidar da vida que 0 tempo ti passando. E num ja tamo coidando? (sa1e) (Surpresa.) Entao a gente fica aqui mesmo? Pra que melhor? — Uma oiticica com um sombrao de fazer gosto, toda cercada em redor de marmeleiro — quem fez esse rancho fez caprichado —¢ tem a vantagem de ficar em riba da cacimba e até perto do bafracdo, uma meia leguinha s0... Parece até coisa prometida por Deus:.. (resariv>) (Ainda incrédula,) Como é, a gente fica aqui mesmo? (Sempre irritada.) Vogs num ja tesolveram? (Suspirando.) Fica-se até quando Jesus quiser... (Desconfiada.) Ih, tas escutando essa, Chicé? Arre, menina, o futuro a Deus pertence. Vocé acha que agora a gente vai tirar galé numa beira-de-estrada? — Fica-se enquanto der certo — quando num der. Branca Mariana Branca Chicé Mariana Branca Mariana Branca (Completando 0 raciocinio da mae.) ...pernas pra que te quero, num é mae? — E como das outras vez — a senhora na frente, feito zelagao e nds no rastro, (Amargurada,) E. quem me fez virar zelago? — Vooés. Sera por gosto? Té esquecida do que aconteceu no Rio Grande? mie, ¢ 0 que aconteceu também no Ceara, no Pemambuco... Em todo canto a senhora arranja uma conversa mole pra dar o pira. Jue gosto vocés duas tem de desenterrar defunto, hein? - Vamo tratar da vida, botar os terém nos canto antes que chegue outros e tome conta do rancho, Branca, vigie af uns garrancho e faga uma vassourinha pra ir limpando o terreiro... E a senhora, mie, gue € velha, se assente ali e va tomar o seu deforete. (Cede, & forga, ao carinho do fitho e senta sobre o tinico caixote existente e que faz as vezes de mével.) Essa sua irma tem 0 costume ruim de passar as coisa na cara da gente... Diz cada uma que me fica atravessada aqui. (Gesto na garganta.) Ora, a senhora quer me culpar de ter saido do Seridé... Enquanto a gente foi pequeno até que se ficou quieto num canto, mas quando se cresceu, a senhora jurou tanto que afinal deu pra correr mundo — atras de que num sei. (Misteriosa.) Mas sei eu... E um causo comigo mesma, que num tem nada a ver com voeés... Mas a gente € que paga o pato. ~ Por que foi que se saiu do Juazeiro? Mariana Chico Mariana Branca Mariana Ali foi aquele desgragado que comegou com zonzeira com seu irmao, Duro com duro nao dé bom muro... Vivia se jurando um ao outro. — Se a gente ficasse lé, eles acabava se esfaqueando. (Que facia a arrumagao.) Mas pia mesmo. Aquilo era um ffouxo, Na primeira vez que eu caniei o bicho ele correu com a sela Num é 0 que eu digo? — Vocé mesmo gosta de comprar briga, meu filho, —B voc na valentia e sua irma na La vem mie com a inticanga de novo. A senhora mesmo inventa. Inventa? — Minha filha, eu num tou caduca, num sou doida e nem bebo cachaga pra num saber do que se passa. - Vocé quer dizer agora que nunca deu cabimento aquele pilantra? Branca Mariana Branca Mariana Chico Branca Mariana Chico Branca Mariana Branca Mariana eee eee an Pra mim, votes. —Tenho Agora sim. — Eu num digo que tou mole mesmo? (Zangada.) E num fique ai dando muxoxo e se fazendo de inocente nao. Eu ia lé aguentar ver aquele papangu de novena passar dez vez por dia no meu terreiro, pasando e quebrando, quebrando em ponto de torcer o pescogo, até se encobrir na curva? (Desdenhosa.) Pra mim é que ele num quebrava Se num era pra vocé — era pra mim ou pra Chico, pois, s6 tinha nés irés em casa cara de veado! Ta bom, t4 bom, num jé viemo embora, num jé tamo aqui? — Agora € coidar de ficar e pronto. Mas ficar mesmo, viu? E sua irma que pega com as animagao dela com qualquer catraia—e inda vem com pilerinha, como se eu fosse qualquer trogo que num merecesse respeito... Mae, ja que ninguém quer ajeitar nada — you na cacimba ver agua... Ser que assim esse comer saia... (Pega o pote.) — E fagam logo 0 fogo, ja quero sair pro servigo armocado! (Sai fo coisas.) (Assustada.) Tai, Chicé afobou-se. Vamo logo botar as coisas nos canto, mae. (Conciliatéria.) Eu fago a cozinha desse lado porque ali tem galha boa de armar rede, num 6? (Ainda amuada.) Faga do jeito que quiser... (Noutro tom.) Eu, que ja tou assentada, vou fuxicando os calgao de trabalho dele. (Branca comeca @ varrer. Mariana costura, pensativa.) — Ai que dor nas cruz. (Fala s6.) Tou mais banida que couro-de-pisar-fumo. — ‘Também, viver que nem judeu errante... Mas, j& comecei vou até 0 fim... Esperei a vida inteira por isso: andar, andar até achar aquele ingrato. (Suspira.) ~ Talvez fosse melhor ter morrido tudo em casa, numa ruma feito tapuru.,. Mas as leis de Deus tem que ser justa, tem que fazer ela pagar tim-tim por tim-tim todo 0 mal que me fez. (Que varria e escutava.) Mae parece que ta aluada, falando sozinha... (Continua varrendo e escutando.) Eu toda vida fui injicada com cigano. Parece até que adivinhava a desgraga que uma tinha pra me trazer. Quando era pequena, que avistava uma bicha daquelas, as saiona arrastando, chega me dava um baticum no corago. Quando moga, nunca dei a mao pra ler, ‘mesmo assim uma me disse: “- Ganjona, deixe eu cortar mal que Branca Mariana Tomas Mariana Tomas Mariana Tomas Mariana Tomas Mariana uma do meu sangue tem pra lhe fazer.” — Se eu tivesse acreditado. Mas, nesse tempo era muito pegada com 0 meu Padim Cigo e ele excomungava quem andasse com essa qualidade de gente, (Para si.) Isso € sina que a gente traz ¢ tem de cumprir... (Tomds aparece e fica meio oculto, escutando também.) (inda em soliléquio.) Que vida tenho levado! — Isso € baido pra doido. — Queria ver se com Tonho a gente tinha desandado a esse Ponto... Tinha nada! — Tonho era aquela moleza, aquela queda pelas feme, mas era homem — e homem de todo jeito ¢ respeitado. Se num fosse aquela cadela prenha ter se atravessado na vida da gente... Tirou o pai de meus filhos, 0 sossego da familia... Foi que nem a outra disse ~ ah, praga dos seiscentos diabo -, fiquei sem meu Tonho © quem quiser que pense o que é uma mulher nova, forte, vigosa, cagar nos quatro canto da casa o seu homem e sé achar a saudade dele... Dé vontade da gente desabar no meio do mundo ¢ fazer tudo o que num presta... isso eu num fiz, sei mesmo que num fiz pela obrigagao dos filho, mas ele merecia, — Tem nada nao, tudo vem a seu tempo ~ e agora... (Sente a presenca de estranhos.) ~ © xen, quem é 0 senhor? (Aparecendo.) Bom dia, dona. (Arisca.) Que é que o senhor quer? (Tentando explicar.) Dona, eu ia pasando... (gressiva.) O senhor sabe que & muito mal prometido chegar assim, na casa alheia, de chapéu de sol armado, como se ja fosse conhecido antigo? (Desculpando-se.) ... ia passando e vi gente arranchada aqui... E isso era motivo pro senhor embocar sem mais nem menos nos canto, confiado como se jé fosse amigo do peito? (Querendo agradar.) Sabe, dona, eu ando mascateando ¢ vim saber se to precisando de alguma coisa. (Ferina.) E. por isso vem se chegando todo de bandinha, todo mansinho... Isso & 14 procedimento de gente de vergonhal - Se tivesse negogo, aparecesse logo, batesse palma, chamasse pelo Povo — assim é que faz quem tem boa tenedo, meu senhor. Gnleado.) Dona, adisculpe, eu num sou malfazejo néo, sempre Mariana Tomas Mariana Tomas Mariana Tomas Mariana Branca Tomas Branca Chic6. Tomas Chicé soube entrar e sair em toda parte sem deixar fama de desordeiro ou atrevido, O senhor num obrou bem, usando de moitim como acabou de usar... Num ignore, dona, & que por volta de dez légua todo mundo me conhece ¢ cu pensei... Todo penso ¢ torto e num Ihe conhego e nem o senhor a mim, do contrério ja tava sabendo que num sou mulher de prosa nem de brago no pescogo — ¢ mais — pra ter minha confianga a pessoa tem que, primeiro, comer uma saca de sal mais eu... (Reagindo.) Até aqui nunca tive malquerenga com ninguém — 0 que ougo num canto la mesmo deixo, nunca fuxiquei e sempre fui benquisto — se a senhora quiser saber quem & Tomas Mascate é sé especular. (Cortando.) Num tem precistio. Nessa terra num conhego ninguém, nem tenho vontade de conhecer — eles pro canto deles e eu pro meu, ta ouvindo? De qualquer jeito, se a dona precisar de mim é s6 dizer... Agradecida, mas num vou precisar e tamos conversado. (Que escutara 0 didlogo ansiosa, intercede.) Mae, Chicé j4 vem chegando, num era bom o homem esperar por ele? — O senhor espere um tiquinho que meu irmao pode querer alguma coisa... Se assente ai... (Ainda ressentido.) Nao, moga, eu vou-me indo (Apressada.) Pronto, meu irmao chegou. Chic6, esse homem veio aqui se oferecer... e mie... vooé sabe. (Entra e poe 0 pote no chéo.) Bom dia, amigo, eu tinha ido ver gua... E limpa que nem cristal, mae, s6 tem que ¢ meio pesada — de cacimba — e nesse tempo, jé se viu... Branca, va botar 0 comer no fogo, faga ai um caldo-de-caridade pra gente enganar a fome... (4 Tomds.) —E 0 amigo, que é que manda? Eu sou vendedor ambulante e vim me oferecer a dona, mas ja tou de saida — até loguinho.. id im secdo desse... O sol mal sai € a quentura ja ta torrando tudo... (Pensarive ? S6 porque eu cheguei? Demore uma coisinha pra esfriar 0 corpo Tomas Chicé: Tomas Mariana Chicé Tomas Chicé« Mariana Chicé+ Mariana Chicé- Tomas Encoste a - A gente acabou de chegar, td tudo a toa... Entdo, voce mascati (Animando-se.) E... também levo encomenda, trago encomenda. Tempo ruim... © tempo t4 com cara de herege. — Bemardo Cintura anda acochando muita gente... oemeracaemest ‘acochando muita gente. Se anda! A coisa té to vasqueira que as vez a gente tem o dinheiro enum acha o que comprar.. (Que costurava.) Por falar em vasqueira, Chie6, 0 feijaozinho que tem mal da pra quebrar 0 jejum. Pois € se arrumar com o que tem e pronto, que eu num vou, mil ¢axso) chego, enterrar a unha no barracao, pra nunca mais me livrar. E se arranjar com 0 que tem, ja disse — 0 pouco com Deus é muito, ¢ 0 muito sem Deus € nada... Tou ou num iou certo, amigo? Tuto sem Deus € nada... Tou ou num fou certo, amigo? Por falar nisso, a senhora num tome por desfeita — tenho aqui uma ‘ucutinha de feijdo e até um taquinho de jaba — tinha comprado pra uma comadre me fazer o almogo, mas tou avexado pra voltar pra tua... (Estende o pacote a Mariana, que fica imével,) Ora, rapaz, caiu a sopa no mel, ~ E misturar tudo e fazer uma panela so. Pronto, mie, deixe de apocamento e va preparar a béia. — Largue de besteira, o rapaz num deu com tanto gosto? Pegue duma Vez, eu sei que a senhora ta querendo.. a Se CU Se! qué a senhora ta querendo. (Recebe.) Dé cd, vocé té mandando... (Examina.) — Virge Maria, 6 mais gorgulho que carogo de feijao. Deixe de Iéria — gorgulho € catne de pobre. Leve e faga um comer gostoso como sé a senhora sabe fazer. Pela amostra logo se vé 0 que to vendendo nesse barracéio. S6 deve ter 0 que num presta—e pela hora da morte. (Sai.) (A sds com Tomds.) Viu? — Pra viver com mae € preciso jeito, Ela é atisca_por_vida, e muito “desconfiada com desconhecido, “Mas, enquanto a gororoba apronta, vamo nds conversando — eiealgo- ‘esse—enxadeco—c—veed-me—conta-as—coisas—daqui-—me-dé-umas informagie:.. Me diga —tem muita moga bonita nesse lugar? as diversdio — tem sempre um samba ou um forrozino | ‘\___ pra gente balangar o esqueleto? | Tomas enum foi eles faz um furduncio — é Quinca da Consértina ou Zé | do Pole aparecer... | Chico O belage...B.as moga — deixa a gente dangar agarrado? | Tomds _Podia até deixar. Afamilia & que pun deixa, |chice Abe emboanga, 6? | Tomas —_O cabra aqui meteu-se“@ besta, jat4 armado o esternegue. | Chico Eas briga ¢ deomem pra homem ou eles pega na traigdio? Tomés Nessa téfra tem de tudo. Aqui vive toda nagaio de gente. — Mas yee, vocé parece que é meio terra-quente, hein? Chicd ~~ A gente tem que viver — quem passa a semana toda no eiid: tem que ae ter scu reffigério. Mas, venha cé e fique 1 mesmo ~ esse negogo de L ___muther aqui... mulher pra... voc entende, né? see Tomés Homem, isso aqui é um causo meio dificil... Na redondeza mesmo nium tem uma 6, nem pra mezinha.. xen, € 0S homem daqui, como se arremideia? Chicé Tomas Os homem? —Bom,tem os que-se vira por eles mesmo... outros | procura nos campo-.¢"0s mais-luxento vai nas rapariga da rua, se bem-que ‘fa outra semana jé teja nas garrafada-de Maria Roxinha— | ou no Cibazol, que trago aqui comigo Chicé’ —_Vtes!_ — B por perto num se arranja nem uma neguinha pra um namoro achambregado? Tomas $6 se for ld na Pitombeira, praqueles lado. Chicé —_E como se vai la - tem algum festejo? Tomés Tem novena, mas s6 no més de Maria, Sao Joao e Santana, Agora mesmo teve a procisstio de Sao José — quando num chove o povo rouba os santos e faz penitenga. Chics As-reza—também—dé-ingresia?. — Rapaz, cu tou precisando me desforrar dum tempio que passei Sem vernem cara de mulher; («7») quanto mais 0 Testo... Desde que a seca comecou que a gente Vira (r.s.ncsy ‘Juundo!_J4 se andou por tudo quanto € canto. Eu mesmo quase fico (ere) Tomas Chico CENA 02 enterrado em Catolé do Rocha, terra em que se mata gente no meio da rua por brincadeira, Entrei 14 numa fria... Por isso sua mae € carrasca: vocé ¢ metido a cavalo-do-cao. Ela € carrasca mesmo, Sustenta a gente no cabresto curto... O cabra_ estremeceu — ela ja té ali, no pé do loro... estremeceu — ela jé td ali, no pé do loro, (Entra) A panela ja abriu fervura. Num & que depois de bem escaldado o comer ta tomando gosto? — $6 falta tempero, mas, a Deus querer, a gente vai ter aqui uns caquinho de verdura... Por falar em verdura, tenho aqui até umas sementinha de coentro que me pediram pra plantar — se a dona quiser. Chegou em boa hora. Dé a mae ¢ vocé vai ver de que essa mao dela & capaz... A gente inda vai fazer muita béia junto e vai ver que ‘mulher_como essa ai,s6 nascendo, porque num existe outra, ‘Vamos comer que ja tou dando uma biloura de fome... (Canta com 0 gancd.) (#A1 96 esnay — Minha mde me dé comida jé num aguento a fome tripa seca faz mofino o mais valente dos home (faz chorar que nem menino todo e qualquer cangaceiro até galo bate o pino, vira capao de terreiro. No caminho, encontro de José e Tomds. Tomas José Tomas José Boa, José, em casa ta tudo em paz? Se vocé chama aquilo de paz — o velho encaranguejado pra um canto e mae pro outro... entrevada com o reumatismo... Assim mesmo a gente assenta ela no batente da cozinha, e dali, tanto ela determina a luta de casa, como da conta da vida de quem vai e quem vem, ‘Vina € uma graga e eu sempre digo: — quando aquela morrer, 0 corpo vai numa caixa de fosco... ¢ a lingua num caminhao. Mae toda vida foi linguaruda — mas disposta. S6 aguentar 0 Tomas José Tomas José Tomas José Tomas José CENA 03 banzeiro da doenga de pai todos esses anos... Vai la em casa, ela tem um monto de encomenda pra Ihe fazer Eu ja tou indo, mas, primeiro, me faga um favor — arranje uma vaga Pra um rapaz que chegou faz 15 dias... ele tava engajado na turma dos Moitas, mas num se deu bem com 0 feitor... que, c pra nds, Pols num quero intriga com ninguém, tem uma cara de arroto choco da molesta... Eu tou com medo de botar gente desconhecida na minha turma por causa do fuzué das lista e da fuxicada do barracdo, mas um pedido seu... Quem é esse sujeito? E desse pessoal que ta arranchado nas oiticica. E gente boa e que num engole as safadeza do Dr. Procope... de vez em quando td abrindo a boca ¢ a mae fica nervosa... Ah, 0 povo das oiticica.. outro dia passei e vi uma mocinha aguando uns caquinho de planta. Ja sei quem é 0 rapaz — ele gosta de tomar bicada ¢ cantar verso. Mas vocé num perde tempo, jé ta de cama-e-mesa la, hein? Que é isso, menino? ~ Ali é gente pobre, mas carrega o seu récio. Uma familia cheia de precato... Nem parece... 0 rapaz é rede rasgada.. Mas as mulher tem preceito. Homem tem passagem livre... Chicd ja andou articulando com gente do barracdo — ladroeira no peso — e ‘num té sendo visto com bons olhos... Vocé arranja a vaga? Vocé num pede ~ manda... E, agora, va vé male, que ta esperando... (Sai. Tomds segue caminho até a casa de Vina.) Vina e Tomas Tomas Vina Tomas © de casa, —Licenga pra um pobre ambulante entrar? (Sentada no batente da porta.) La vem 0 fregués da ma notiga. Até que enfim apareceu. Aposto que as novidades que traz é fome, carestia e safadeza? 6 lingua de prata. $6 falo disso quando encontro pareceira. Que me compra hoje? Vina Tomas Vina Tomas Vina Tomas Vina Tomas Vina Tomas Vina Tomas Vina Tomas Vina Tomas Tudo 0 que tiver no matuléo... E como quem num tem com que pague ja pagou... aga com boas conversa... Como vai essa forga? Num vou bem como vocé que tem uma vida boa. Vida boa... Um pobre que vive de malote as costas, levando fora dum, calote de outro, pra juntar meia pataca na ponta do lenco... Sente, homem, pra descansar as pernas E as pemnas descansando e 0 traseiro tendo trabalho... Castigo é 0 meu, com 0 mucumbu atolado nessa esteira, inturida que num ha remédio que desarrothe. 6 xen, ea piula que eu trouxe da rua? As piula? Aquilo ¢ agua de pote. Também umas porqueirinha Pichititinhas assim... E pior é que me apareceu uma dor de cabega, encasquetada, do carogo do olho aqui pra cova-do-ladriio... Ontem, 44 20 cantar do galo, José teve que ir atrés de uma café aspirina que foi com que ainda dormi uma madorna... Voeé ja ta de pés virado pra cova, criatura. Arrependa-se dos pecados e entregue a alma a Deus. — Quem té na luta da casa? Rita de Oleriana da uma ajuda, mas ali, vocé conhece, é “olho viu — mao andou”... A raga toda é rato puro: t no sangue... A culpa é sua. Foi botar Zé Mutuca pra fora... Aquilo era cabra trabugueiro ¢ preguigoso. $6 aparecia na hora do comer ¢ era enchendo 0 rabo e virando a perna pra fresca e roncar... € tanto roncava pelo norte como pelo sul... $6 queria vida grande, ¢, como sabe ler, j4 botaram como apontador nas listas de cassaco.. Virge. Agora é que a safadeza vai engrossar Se vai... E desses traste que os politicos precisa pra fazer a robalheira. Cadé que chamam José? — Por muito favor deram 0 emprego de feitor — e ainda num tomaram com medo da minha lingua... Quem se atreve a bulir com Ludovina? — Respeitam tudo © que é meu — até o Melado. Sim, senhor, 0 Melado. Falar em Melado, eu me lembrei — vé se Prende ele uns dias... O bicho t4 dando o maior trabalho 20 pessoal que se arranchou nas wseVverTTT Tov VTVTveTVevee eee ee SS Vina Tomas Vina Tomas Vina Tomas Vina Tomas Vina Pois-tambéri t4 na tal lista. — E 0 tataravé-deMinervino? oiticica... Foi num foi aparece Ia e € um destempero Ah, € os retirante que vocé anda parido por cles. — Pois Ihe informaram mal, Melado num sai de redor de casa. Eu num digo: s6 tera de bode nessa terra ele? (dnsistente.) Que num sai de casa, Vina. — Toda vizinhanga vive se queixando. Nem roupa se pode mais deixar nas cerca que ele come tudo. Pois ¢ num deixar. — Quem lavar seus pano que fique pastorando. Ele arranca até dos couro da pessoa. Num viu Maroca? — Saiu de casa vestida e voltou com as vergonha de fora. (Divertida.) Ali foi bem feito — numa seca dessa, vestir roupa verde 6 pra quem quer ficar nu mesmo... Vocé pra desculpar o que é seu — € na hora, mas pra julgar mal os outros... Eu num invento nada de ninguém, agora se me contam, boto pra frente — aplaudir safadeza alheia nunca foi pecado... Pra que 6 que fico o dia todo estatelada nesse batente? — E colhendo as ruindade e abrindo a boca no mundo. E, vocé da corda a quem vai e quem vem, e, depois, vai emprenhar os ouvidos de José. ~ Ele ja td ficando mal visto, viu? Mal visto por quem? — Pelo grande que té enchendo o rabo as custa dos miseraves? — A gente tem que rasgar a safadagem, se num quiser morrer de fome. Eu ja descobri cada coisa. (Em tom de confidéncia) — Se lembra de Pirrita, o jumento de Zé Catota? Ta de nome assentado na lista dos cassaco, ganhando dinheiro. Isso & conversa do povo... Conversa? Me diga, cadé o finado Pedro Bota? Ah, ja entregou a alma a Deus ha muito tempo... = Vina Tomas Vina Tomas CENA 04 E assim, todo 0 cemitério anda agora dando duro nas estrada. — E as tal lista- fantasma, donde o Dr. Procope enraba rios de dinheiro. Tem casa que, além das alma penada, até os gato e cachorro ta alistado, pra essa canalha de gravata embolsar os cobres. (De chofre.) E na turma de José? Na do meu filho num tem disso no, ta com a grenguena pra pensar uma coisa dessa? — José é came-de-galo, por isso tio danado com ele. — Outro dia colocaram nome de um magote de menino-de- cueiro — mas ele cortou na hora. — Tenho até medo de uma treigao, do jeito que aqui, por qualquer besteira, mandam um pra cidade-de- pé-junto... (Othando 0 caminho.) © xen, José jd deu com Chic6? (Dirigindo-se aos que chegam.) Voces dois ja vém assim, de parelha? José e Chicé chegam & casa de Vina. José Chic6 Tomas Vina José Vina Vocé num conhece o dito: “falou do mau — prepare 0 pau”? — Pois assim que nés se deixemo, eu fui logo dando de cara com 0 rapaz — ai entremo no assunto da mudanga de turma, ¢ o resultado é que amanhd mesmo ele ja vem pra ca Gragas a Deus me livrei de matar ou ser morto, porque viver junto com um bando de ladrio daqueles... Valeu porque peguei toda a patuscada — sei de tudo que é robalheira... Foi bom ter encontrado Chicé — 0 que eu faltava saber, descobri agora... Vocés tao sabendo de tudo, mas é bom ficar na moita. Cabra falador aqui, entra logo nas leis de Chico-de-Brito — metem a macaca pra cima, E vocé acha que ainda se deve cobrir 0 sol com a peneira? — O causo dos caminho de mantimento Dando com a lingua nos dente, mae? Eu num sou saco de segredo de ninguém... Pra que me deram égua- Tomas Chicé~ José Vina Chico de-chocalho pra beber, em pequena? Ta desconfiando de mim, José? TA doido? - E que a gente precisa de prova pra poder abrir a boca. Vocés tio falando dos mantimento que © governo manda pros flagelados ¢ os politicos desvia pro barracio? — Eu ja me escondi € (rassusss) eguei... A meia-noite chegou um caminhao, eles descarregaram — cra Teite em pé, jabé, feijao, farinha e rapadura. Enquanto, no escuro, cles botavam pra dentro, eu entrei na boléia e ‘surrupiei'as toe:saav») notas. TA tudo na minha mo, nota fiscal do que veio pra ser dado de graga e os desgracado tio vendendg. $6 tou esperando a hora pra denunciar... © que foi que eu the disse, José? ~ Esse era o rapaz que voce procurava. Mas tenham coidado ~ seguro morreu de velho... Podem contar comigo pro que der ¢ vier. Quero ver como vai ficar a_cara_desses_grandao... calgada_dé ver; jonha, se_tiverem... (Lembrando-se.) Ah, ¢ essa a casa do bodinho? — Mas ele fez uma amizade to grande com minha irma.... Mae & que implica, porque o bichinho caga por todo canto, se atfepa pra comer os caco de. verdura,,¢ ela, Ave Maria, num sabe fazer comer sem as folhinhe coentro e cebola, pra dar gosto... - Sento € cebola, pra dar gosto, Dessa feita 0 Dr. Procope vai responder por f tudo, até pelas ossada dos pobre que ele mandava matar e enterrar na fazenda, O José, vocé diz que eu falo demais — parece é que macaco, num olha pro rabo. Eu escolho com quem falar e vocé pega qualquer cabuleté do oco do mundo e da toda confianga. Se a dona ta dizendo isso comigo, ta redondamente enganada. Eu nunca fui do oco do mundo, sou Sertanejo de vergonha na cara, tenho minha mae e minha irma pfa sustentar € ninguém é 0 que a dona té maginando nao. Mie, irma — mas pai, que é o chefe da familia, por certo 0 gato comeu... O gato, no, foi o destino, dona, ¢ qualquer um peca felicidade a Deus, que ninguém ta livre de softer o Que 2 Sente soften... Ate smanhs yocds Tomas Chicé Vina CENA 05 Em casa de Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Vina, voce € ferina demais — esse povo tem terra, tem gado, 6 Porque a seca quando vem num pede licenga — desembandeira ricos € pobres. ~ Que mulher mais perigosa... ‘Deixe;Tomés--cada-um-dé-o-quetem_Até-amanhd-voods,, (Sai.) Para os dois que haviam ficado silenciosos.) Que cara de jumento- sem-mie € essa? — Parece que viram visagem? —Em vez de ficarem ai, apatetados, me ajudem a levantar que té na hora de botar a ceia.. (Os rapazes; silenciosos, levantam Vina e a levam para dentro.) Mariana Ontem sonhei com pai ¢ parece que ele queria me pedir uma coisa. Isso € pesadeira; como vocé sabia que era seu pai, se nunca viu ele? Mas sabia que era, Até parecia com Chicé, Seu pai, teja vivo ou teja morto, num se lembra de vocés — um homem desnaturado que se sumiu no mundo e nunca deu notiga.. Num sabe nem se tu € viva, inda tava no bucho... Chicd, coitado, & que se arrastava... e tudo ele deixou ai, ao lé E com isso a senhora criou raiva de tudo quanto é homem, Eu conhego a vida, menina, e sei que homem é uma nagtio que so vive pra judiar com as mulher, ora essa... ‘Também tem tanta mulher ruim.. Al vareia ~ tem a raga das que presta e a das que num presta, Agora © bicho homem — todo ele é ruim. Num sabe aquela moda, ela diz assim; “<0 homem é que nem caju quanto mais belo mais ruim por mais doce que ele seja tem sempre ranco no fim. — Pronto, isso diz tudo. (Pensativa.) A senhora acha Chicé Tum? Ora, Chicé num é homem. é filho. — Mas ex sei onde vocé quer Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Branca chegar — t4 pensando naquele coisa com quem seu irmfo ta trabalhando. — Pensa que num vi os olhar dos dois — parecia dois jacaré sustentando um s¢rio. La vem mae com as besteira dela. - Num pode aparecer aqui um perna-de-calga que a senhora malda logo. — Tou admirada de num ter ja desconfiado de Tomds. — Quem sabe se ele ta de tengao na senhora? Dobre a lingua, deixe de ser cabida, viu? - Num sabe que sou casada mae de familia? — Se lembre que sou uma velha de 42 anos — € num cagoe de novo nfo, sua atravessada. Foi cagoada mesmo, mae... Agora, eu queria saber se sou da raga das mulher que presta ou das que num presta? Sei la... eu num conhego o fundo de seu coragio... Cada pessoa é um pogo, ¢ 0 que elas é — fica escondido no porao... Mas a senhora é mae — pode saber. Num me criou? Até agora Ihe criei sujigada 4 minha vontade... Sei 14 quando tomar 0 freio nos dente — 0 que sera capaz de fazer? Ainda bem que a senhora reconhece que me traz pela coleira, ali, no cés da saia. — Se vou a uma festa — a senhora vai, no mocotd. — Num bailes, passo o tempo fazendo renda — quem danado vai titar pra dangar uma moga, com a mie ali, os olhos desse tamanho? — E assim tome cha-de-cadeira. E num ta perdendo nada. Melhor do que as que s6 vai pra ser amolegada, esfregada, futucada, como tou canso de ver. — E um vueo-vuco, uma chambregacao que da nojo olhar. Desse jeito — ja sei que nunca vou casar. E num perde nada. Vocé pensa que vida de casada ¢ essas coisa? — Pois othe aqui —casamento e merda é uma coisa s6. Mas eu num nasci pro carité. Carité ¢ pra quem casa, menina. Queria ter o, que fosse meu — casa, marido.. Num queria ser mandada, como escrava O engano da molesta. — E sair dum dono pro outro. Mulher nasceu Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana pra ser sujeita mesmo. Mas a gente tendo marido, mesmo sujeita a ele, tem direito a outras coisa — coisa que a mulher solteira num pode, a senhora sabe... Ah, meu Deus, agora eu tou entendendo... Menina, vocé pensa num negogo feio desse? Quem botou isso na sua cabega? Ninguém... a gente vé os bicho.. Pois se vocé té num quente ¢ dois fervendo — procura-se um homem de idade, ajuizado, um homem que Ihe garanta o sustento, € que 05 anjo diga amém... (Rebelde) Foi-se o tempo de marido encomendado. — Por certo seu casamento foi nessa base (Sonhadora) Meu casamento. — Pensava que ia ser tao feliz, Pensava que as porta do céu ia se abrir de par em par... Ingrato! — A dor que senti... Pensei que o peito fosse estourar. (Curiosa) E 0 que aconteceu? — A senhora nunca me contou nada — 86 se vingava em chorar e resmungar pelos canto... Eu jé posso entender. (Tomds vem chegando e se resguarda num canto para escutar.) Eu me lembro como se hoje fosse. — Tonho tinha matado uma criagdio e tava despencando a matutagem. Era um bodinho novo, de uma cabrinha que dava leite pra Chic6. Eu ia me assentando junto, com Chicé no colo, quando ela apareceu, puxando um menino pela mio, ¢ foi logo pedindo: “- Ganjao, me dé um pedago dessa came, que eu tou de desejo...” E quem era ela? A cigana, a desgracada... (Tomds redobra a curiosidade.) — Ai Tonho olhou pra minha banda, a faca na mao como quem ia cortar um pedago, e eu, no continente, gritei: “~ Que desejo que nada, sua pidona, o costume de vocés é esse, passar a mao em tudo que vao encontrando.” — Ela, muito cheia de si, virou-se pra Tonho e falou: “— Ganjao, vai negar uma coisa que uma mulher prenhe td desejando?” — Dessa feita perdi a paciéncia e perguntei, bem bruta: “— Por que seu desejo é s6 pra comer coisa boa? — Deseje comer bosta de boi ou chinica de galinha que tem muita, em todo canto.” — Ora, eu ja num aguentava... (Cala-se repentinamente.) Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Branca Mariana Num aguentava o qué? Num aguentava o chamego de seu pai com esses cigano, arranchado a bem dois més na terra da gente... Ai, quando vi Tonho, de faca na mao, fazendo tengo de dar o taco de came, ¢ a bicha, renitente, a pedir: “~ Me dé, Ganjao, pra eu num perder 0 menino.” ~ Larguei Chic no chio e dei um salto no meio dos dois, aritando: “- Dessa came vocé num leva um fiapo. Se quiser passat bem, vé atrés do macho que the emprenhou, sua cadela safada.” E batendo mao do trinchete que tava com Tonho, parti pra ela, com ganas de deixar estirada no chao — a ela ou a seu pai Meu pai num teve culpa de nada. Por certo tinha bom coragao... Que bom coragdo € esse que s6 se derrete pras bicha severgonhal (Suspira.) Desde 0 comego, a bicha ia todo dia no curral ver uma palangana de leite, que ele dava. — Mas, como ia dizendo, quando fiz tencdo de estragalhar a sujeita, ela deu um passo atras respondeu imperiosa: “- Vocé me nega um taco de care, mas pode esperar, que coisas mais importante vai the ser negada pro resto da Vida.” — Disse isso com uma certeza tdo grande, que eu, fora de mim, casquei-lhe o tabefe na cara, chega estralou... Ai ela, que tinha caido, levantou-se © saiu chorando, o vestidao varrendo o caminho e 0 menino correndo atras... E meu pai... num fez nem disse nada? Tonho? ~ Ficou por ali, zanzando... Dai pra frente tratou de vender © gado e largou-se no mundo, com ela, E... a senhora? Eu... eu fiquei com as terra... os filho... Sim, quando voeé nasceu, ‘num teve pai que Ihe abengoasse... (Revoltada) Aquela boca de praga dos inferno! E por isso que a senhora to seca, tao dura, tao amarga, mae. A senhora é um espinheiro. Eu sei... Sou como as planta da terra ~ 0 cardeiro, o xique-xique... Elas € assim pra resistir secura do serio. Como podiam ser macia, delicada, se tem de viver num chao esturricado, sem agua que amolega o barro donde tiram seu sustento? — Mesmo assim sou cu — enffento a secura de meus dias, sem o refrigério de palavra amiga, sem ajuda de um ombro ou mao que me sustente nas fraqueza, que me acarinhe a cabepa cansada de pensar, de padecer Branca Mariana Tomas Mariana Tomas Mariana Tomas Mariana Branca Tomas Branca Tomas Branca as agonia de ta s6, de viver s6 0 resto de meus dias. Coitada.,. Teve de criar a gente, lutar sozinha como 0 homem ¢ a mulher da casa, cuidando do rogado, das criagio... podia ter se casado outra vez, mae. Que é isso, menina? — Eu nem sei se sou casada ou vitiva. Ia la cometer um pecado? (Tomas aparece.) Boa tarde, donas. Branca, vim trazer umas fruitinhas de jua pro passarinho, (Aspera.) O senhor num perde esse costume feio de chegar nos canto sem bater? ~ Isso ¢ procedimento de cabra safado. Eu vim chegando agorinha... Tinha ido levar Melado em casa. Qualquer dia vocé leva é 0 couro dele. — Tiro-lhe a vida, que num tou pronta pra agiientar um bicho alheio atentando o dia inteiro, cagando 0 terreiro todo e comendo 0 que se tem atrepado. ‘Ave Maria, num diga uma coisa dessa que o bichinho & de estimagdo. — Eu vou falar deveras com a dona, tou até com a encomenda de um tabaco pra evar... Quer uma narigada? Esse negogo de vicio é perdido me ofrecer. E quanto a Branca, num encha as venta dela de folha no — eu tenho visto as prosa dos dois, os recadinhos, Um homem decente num se presta a isso. (Mariana sai.) Tava doidinha pra lhe ver. E eu também, pra Ihe passar um caro, Que est6ria ¢ essa de fazer bilhete e esconder na tira do pescogo do bode — seré pombo correio? Se a mfie de José ver —o diabo ia se soltar. E eu ligo? — Vocé tirou? Tirei ¢ tiro tantas vez vocé bote. Se Vina descobre que Melado é um leva-e-traz... 0 couro do bicho sé cheira a mijo de rato. E agua de flor que eu boto. — Num posso botar no dono... Tomés Branca, tome 0 conselho de mais velho. Ponha cobro a esse hamoro, que se sua mae € braba, a de José é um siri dentro duma lata e num solta o filho por dinheiro nenhum, Branca ois diga a ela que se nunca topou uma mulher de verdade, vai topar agora. — E vocé, tome isso ¢ leve pra José, diga que mando bem na boca e um abrago bem apertado. (Beija e abraca Tomés, depois sai. Tomés anda, enleado, para a casa de Vina.) CENA 06 Tomds volta 4 casa de Vina. Tomas (Chegando.) Ainda nesta sujeigao, criatura de Deus? Vina E a mesma penitenga. Vocé agora custa a aparecer, todo merecido, de amores novos, cu sei tudo. Cadé minha encomenda? Tomés Mal agradecida. — Ta aqui o mandapoldo, linha Corrente ¢ Urso, botiio de osso de ceroula, ¢ 0 principal ~ 0 seu tabaco, que tirei & forca do corrimboque do velho Duda. Vina Aquilo é um cheira-tabaco safado.— Quanto custou este pano? Tomés Dois cruzado 0 cévado. Vina xen, tés pensando que tou ganhando na emergenga ou roubando como 0 Dr. Procope? — Va vender caro aquele povo que vive correndo mundo. Pensa que num sei que j4 tem gente de olho em ‘José? ~Me diga quem sto eles e © que andam fazendo pot aqui. Tomas Vina, eu num chorei na barriga de minha mae pra adivinhar as coisa no, mulher. E sabe mais? ~ Quem quer saber de duas vidas — casa no civil. José (Enira.) Tomas, quer ir comigo resolver um causo ali? Ontem, no trecho de cima, o pagamento dos trabalhador foi feito com gas, Como num tinha mais mantimento, 0 Dr, Procope mandou que dessem uma lata de gis a cada cassaco, como paga da semana de trabalho. Vina Com gas? — Gente sera lamparina pra comer gis? José Pois ¢ isso — como ninguém é candeeiro pra comer gés, 0 povo Quero ver a cara desse ladrdo quando a gente apresentar as provas dos roubg ~ as lista de defunto e bicho ganhando dinheiro, as gui hos sacos de leite assentado o prego, Ja pensou quando forem fazer a chamada? E bicho latindo, miando, e as alma-penada fazendo assombragao... (Cania.) La vem bicho, I4 vem alma assombragao ) La vem bicho, 14 vem alma, Vocé inda tem coragem de brincar? ~ 0 sangue de barata. uem canta seus males espanta. —E a tengao da gente ¢ boa. Tamos agindo em favor da pobreza, Eles é que tao errado. De uma coisa eu tenho certeza — num sou ma pessoa ~ e voce, José, num é missa-de- Corpo-presente ni, mnas se eu tivesse um pai ou tum irmao ~ queria que fosse que nem voce. (Afito.) Num diga isso que eu fico morto de vergonha. - Num sou quem vocé pensa nfo, Chicd, Que € isso, t4 nervoso? ~ Porque frouxo vocé num é... — ode frouxo vocé num €. (Num desabafo.) Eu sou ruim, Chicé, eu sou um cabra safado. Voo8 num devia nem me dar as horas que eu num merego. Ta _doido? — Vocé é uma prenda, Um rapaz bem arecido, Bi s Tespeitador eitador das familias, das filha alheia., Nem sequer farra, — Se i i m-pode-achar i g0-eting no-irmiio:—, fosse outro, vivia de conquistar, de passar bem, acoloiado com os grande =<. em vez disso, té aqui, esperando a hora de defender 0 quinho (= dos miseraves... Isso & muita bondade — toque aqui (rrasado.) Vocé num devia nem me dar a mao... Num me faga ‘mais infeliz do que ja sou. ~ Diga que num presto, que num merego a sua amizade, que eu devia era levar um tiro nos peito — diga, Chics, que eu devia ser morto como um cachorro doente, Ai que o homem perdeu o juizo. Que é isso, meu amigo, descanse Seu. coragdo que vocé num fez nada de errado na vida, Vocé é incapaz duma safadeza, meu irmao. ‘peapaz duma safadeza, meu irmao. Cale a boca, num faga eu me sentir mais canatha ainda. Fu sou um cachorro, Um cachorro, entendeu? Coitado, destrambelhou-se sem motivo. — Rapaz, volte a si, a enrascada ¢ grande e a gente precisa agir de cabega fria. A Deus queter vai dar tudo certo e a gente vai ficar numa boa. Chicé, vocé promete que num vai ficar contra mim? ‘CENA 08 Em casa de Mariana. Chic6, Tomas | Branca. Chic José Tomas Chicé | | Mariana ninguém? | Tomas | Chic | Mariana \. era paisagem bonita \\veio a seca e queimou tudo (Cantando com 0 ganzé:) — O sertéo, antigamente hoje a quentura maldita ‘mata a semente de vida / de quem se atreve a ficar a gente, disiludida parte daNterra querida sempre pénsando em voltar... \ Eita que a saudade hoje ta mexendo cor \ Besteira, todo canta é bom de se viver’. (Soltando 0 ganzé.) &... isso aquj/por certo é uns céus aberto, com esses urubu pinicando a gamica/le quem ta vivo? Mas a desforra ta perto. E tomar coidado. Essa analha ja ta pressentindo 0 reboligo. E, aqui, qualquer caculo dé terra que a gente aviste, pode cavar que di em assada de pene XN \ Quem vai ter med6? Nés num tamo cdberto de raza? (Que escutavg/ de parte.) E quem a razio salvar vida de E 0 que gf digo. Conversem pouco. Matos 1 olhos, paredes tem ouvidos Mag’ faca um café pra gente. 6 se for de mangiroba e sem doce — serve? Tem um taco de rapadura no meu matulao. E s6 tirar, don: Tire o senhor mesmo, num tenho costume de meter a ose yes de homem nenhum. (Recebe e sai.) (Pega o ganzd.) Ai, meu companheiro de andanea e folganga. EB 2S dimensdes ada pelo a nas su Chico « Mariana Branca Mariana Chicé Mariana Branca num te vendia por prego nenhum. Esse bichinho aqui, nao se vende e nem se troca — que € de maroca. (Canta — Ta-ra-ra, désenrola o carrité quem td morto té det quem td vivo ta em pé néga danada (Cania.) — Peguei na perna da véia pensando que era da fia perna de véia é caspenta perna de moca é macia. (Entra com o café.) Deixe de bestidade, Chic6. Num é tempo de se andar cantando nao, (4 Branca.) — Que acelero é esse, menina; assentada de parelha com um estranho? Entre pra dentro que tem 0 que fazer. (Aos outros.) -. is . Que tem eu ficar? — Ninguém vai me tirar pedago. Me respeite, desaforada. E escute bem — so depois que tiverem sacudido a derradeira pé de terra na minha cova é que se pode armar escandelo na minha casa. Marche jé pra dentro. Untervindo.) Deixe de carrancismo, mag. Deixe a moga ver gente E aqui ¢ tudo que nem irmiio. (ara reves) so Le Te gue nema. Nem que fosse irmao da opa. ~ Mestre mundo jé me deu uma ligdio muito dura, — Entre, menina, que jé tou injuriada de tanto assanhamento, (Chorando.) Eu vou, mas a senhora me paga. — Vive se comendo de 6dio de quem ¢ mogo. Vive consumida de desgosto, por isso quer desgracar a vida dos outros. — A sua roedeira é uma ferida braba — Ihe come a came viva e, como soffe, quer que todo mundo se arrase também. -E eu que me acabe, Sewgue-somtéanes, envelheca a Chicd+ Mariana CENA 09 forga, porque a senhora num aguenta ver alegria nem felicidade em ninguém. Eu, que tenho a ver com suas penas passadas? — A dor sua. — Eu também vou ter as minhas. Mas, agora... deixe... eu viver. (Sai solugando desesperada.) Ta vendo, mae, 0 que a_senhora foi fazer sem_precisdo? ak pobrezinha num matou, num roubou nem se desgrai ou pra viver num castigo desse nao? — Ela tem toda razao de ficar sentida com a senhora. Agora ~ ¢ chaleirar_a bichinha, pra cla desparecer_o ‘desgosto. (sai 08 cana) (Vai saindo, cabishaixa.) Quem jé viu cristo pra softer mais do que mae? Encontro de José e Branca no esconderijo (Luz sobre Branca, que espera ansiosa. Fundo musical.) Branca José Branca José Branca José Branca José (o avisiar José.) Voc custou tanto que eu jé ia embora, Ta se julgando, é? Ta doida? — Desde aquele dia que sua mae té de orelha em pé, a minha escabriada... (Desdenhosa.) Mofino. — Eu num queria ser homem pra ter medo de mulher. E as mae da gente, néga. — Num se pode fazer finca-pé. Mesmo, tem 0 causo dos roubo que a gente precisa agir. Esses roubo num tem nada a ver com nds dois. Ta querendo voltar a palavra dada atrés, 6? Tai, vocé mesma num disse que sua mie viu vocé entrando tarde da noite, e depois escutou os solugo dela, bem baixinho, pra Chicd num acordar? E como vem me agoniar agora? Eu também num tou agoniada, fazendo das tripa coragao — pra esconder 0 entojo? — Quando como uma besteira, a forga, tenho que correr pra langar 0 comer fora, e mae de olho grelado, assuntando tudo. Vamos ter pacienga, minha néga, até que o causo dos furto se Tesolva. A coisa ta crescendo e ninguém pode se descoidar. Branca José Branca José Branca José Branca José Branca José Branca José Branca José A coisa ta crescendo e o meu bucho também. — Vocé pensando nos outro ¢ eu s6, com o meu aperreio... Vamo deixar passar esse reboliga do barracao.. (esesperada.) Eu num tou em condigdo de deixar passar nada. Vocé tem que enfrentar nosso causo é agora. — Eu num tou mais me aguentando. (Desconfiada.) Sera que quer cair fora? Sera que peguei também um juda, feito minha mae? Que nervoso é esse, sem motivo? Sem motivo? ~ Era pra té rindo pras paredes? — Serei alguma lesa? ~Me dé gana de chegar pra mae e contar tudinho. Ia ser a desgraca da gente. - Minha mie é fogo de caieira, Vamo esperar uns diinhas s6, enquanto as coisa se ajeita, ai nés casa, eu juro. Num sei se posso esperar, num tou mais em mim... Eu num tou me aguentando? Homem é diferente. - Em vocé num pega nada, Mas em mim... Se me der 0 vexame eu desembucho tudo ¢ Chicé da fim a nos dois... Num pense que sou qualquer mamulengo, uma desvalida que num tem quem the chore... Pelo amor de Deus, crie juizo. - Nem pense em falar nada a Chico, aquem ——estimo como a um irmao. S6 de pensar fico doido, Voeé s6 quer bancar o bonzinho, pra sua mae, pra todos, e eu que aguente as agonia sozinha... Vocé ta desatinada. — V4 pra casa, que cu tenho que ir falar com uns cabras. Preciso agir de cabega fria, porque tem gente confiando em nds ¢ a gente num pode deixar o povo na méo. — Vamo, eu Ihe deixo no passadico e, depois do causo liquidado, a gente pensa no que vai fazer. — Chore nao, tudo vai dar certo, (Mariana aparece ao fundo, escondida, escutando tudo.) (Num desabafo.) Voc’ s6 pensa nos outro. ~ Precisa agir porque tem gente confiando em vocé. — E eu, onde é que fico? Também num confiei? (Aftito.) Voc’ num sabe que a gente fez uma deniincia e que 0 governo ta mandando apurar? — A gente precisa lutar pra botar essa cambada de velhaco abaixo. — Eu e seu irmao somos os cabega. A gente tem de enfrentar, de ir em defesa dos trabalhador. (Tentando convencé-la.) — Minha bichinha, é os pobre que nés tamo defendendo. Branca Eu também tou defendendo, tou defendendo o meu filho. — Se Chicé me matar, mata o bichinho também. — Ele num vai aceitar uma irma desonrada. José Eu Ihe juro que vou resolver isso amanh mesmo. — Juro que vou enfrentar as iras de minha mae, enfrento tudo pra ficar com vocé — mas agora, va pra casa, que eu preciso ir. — Chieé ta me esperando, cu num posso falhar na hora da preciso. — V4, amanha tudo se resolve — vocé vai ser a noiva mais bonita desse lugar. (Beija-a ¢ corre, apressado,) Branca o homem nessa sede de botar , de ser o salvador, ° herdi... E 1a se vo eles, e mui volta; vai se o marido, vai-se | © pai, vai-se 0 filho... ; era... herdis... herdis, | que nem se in com as mie que chora, com-as_noiva que susp os filho que pode ficar na orfandade... (Levanta_a| que possa acontecer... E criar coragem ¢ enfientar tudo — a compart, ouo abandono; a bengao ou a malta —[mas Tutar, (Mariana chora baixinho e logo mais sai atrés da filha.) CENA 10 José e Chicé no esconderijo. Chicé + Tou suando frio ¢ até tremendo, — Parece que tou ja escutando o ronco dos carro subindo a ladeira. Fonco Cos carro subind’ a laderrg. José Mesmo que eles chegue, a gente s6 sai daqui quando Tomés avisar. Quero ver a cara desse ladréio quando a gente apresentar as provas dos roubg — as lista de defunto e bicho ganhando dinheiro, as uias, ‘nos sacos de leite assentado o prego, Ja pensou quando forem fazer a_chamada? E bicho latindo, miando, e as alma-penada fazendo assombragao... Canta.) La vem bicho, [a vem alma... Vocé inda tem coragem de brincar? — © sangue de barata, Quem canta seus males espanta, — E a tengo da gente ¢ boa. Tamos agindo em favor da pobreza, Eles & que tio errado. De uma coisa eu tenho certeza — num sou ma pessoa — e voc8, José, num é missa-de- corpo-presente no, mas se eu tivesse um pai ou um irmao— queria De Ee que fosse que nem voce. (Aflito.) Num diga isso que eu fico morto de vergonha, — Num sou quem vocé pensa nao, Chics. Que ¢ isso, ta nervoso? ~ Porque frouxo vooé num é.. Que ¢ isso, t nervoso? — Porque frouxo vocé num ¢. (Num desabafo.) Eu sou ruim, Chic6, eu sou um cabra safado. Voc’ num devia nem me dar as horas que cu num merego. Ta doido? — VYocé ¢ uma prenda. Um rapaz_bem_parecido, Tespeitador das familias, das tha alheia.., Nem _sequer farra. — Se .em-num-pode-achar ouiro-b 4 eu-falo-como-irmae -, fosse outro, vivia de conquistar, de passar bem, acoloiado com os grande =<, om vez disso, t4 aqui, esperando a hora de defender 0 quinhio =» dos miseraves... Isso € muita bondade — toque aqui. (Arrasado.) Vocé num devia nem me dar a mao... Num me faga mais infeliz do que ja sou. —Diga que num presto, que num merego a sua amizade, que eu devia era levar um tiro nos peito — diga, Chic6, que eu devia ser morto como um cachorro doente Ai que 0 homem perdeu 0 juizo. Que é isso, meu amigo, descanse seu coragaio que vocé num fez nada de errado na vida. Vocé é incapaz duma safadeza, meu irmao. incapaz duma safad 9 Cale a boca, num faca eu me sentir mais canalha ainda. Eu sou um cachorro, Um cachorro, entendeu? Coitado, destrambelhou-se sem motivo. — Rapaz, volte a si, a enrascada é grande ¢ a gente precisa agir de cabega fria. A Deus querer vai dar tudo certo e a gente vai ficar numa boa. Chieé, voeé promete que num vai ficar contra mim? José Chico Branca Chicé’ Branca Chico" Chicé Tomas Chic Tomas Chico’ José Tomas Chico Vamo fazer um trato — se nesse frege um de nés perder a vida, 0 outro fica na obrigagao de zelar pela familia do que morreu. (Se refazendo.) Minha carga € muito pesada: um pai encaranguejado ¢ uma mie paralitica, dificil de viver... Vocé é mais afortunado que eu, pois mesmo encaranguejado, ainda tem pai... Pior sou eu... pai deixou a gente, eu me arrastando e Branca no bucho, ainda... Branca, aquela irma que cu adoro — Deus no céu ¢ ela na terra... Pois tamo certo — se um morrer 0 outro toma © encargo das duas familia. (Chega correndo.) — José! Branca, tu € doida. — Que veio fazer aqui? — Volte pra junto de mae que isso num € lugar pra vocé nao. (Surpresa.) Eu queria... ver José ¢ vocé... tou com medo. (Enérgico.) V4 simbora ja-j4. — Lugar de mulher é em casa. Numa hora dessa, vocé deixa mae sozinha! Que diabo tara ela adivinhando? — Branca nunca fez isso. (Chega pelo lado oposto a Branca.) Voces tio mouco? — Faz um tempiio que o pessoal chegou, 0 reboligo la ja té o maior. A gente ficou esperando 0 seu aviso. ~ Vamo, José, ta na hora da onga beber agua. - Vamo desmascarar aqueles peste. (Reparando no companheiro.) Que & que tem José? — Ta doente? Na hora aga — ficou meio sistema-nervoso. — Mas isso passa. (Num apelo desesperado.) Tomas, vocé num sabe de tudo? Desembuche logo. — Eu num aguento mais essa situagao. (Enérgico.) Deixe de tua besteira, José. — Isso € hora de se ameninar — 0 povao todo esperando por vocés? — E coidem de fazer a coisa direito, que seguro morreu de velho. Vambora. Eu ia sendo morto em Catolé do Rocha ¢ inda tou Gontando a estéria... tudo vai ser macio — pao com queijo... mas, pelas_divida — vamo encomendar a alma a Deus... Cjoelha e rezam. Black-out.) CENA 11 Monélogo de Mariana, enquanto caminha até a casa de Vina. Mariana CENA 12 (Pano enrolado & cabega; continuagdo da caminhada, na qual encontrara Branca e José.) Ai, meu Jesus Crucificado, nunca pensei sofrer uma agonia dessa. - Nem quando Tonho me largou passei um desespero igual. — Foi um palpite que tive, pois ja tinha visto uns pantim e ja vinha desconfiando... Eu sempre tive desses aviso... Quantas noite ia na rede de Branca e via que tinha se escapulido... E ela, com as desculpa: “tinha ido fora”... Eu, sofrendo as agonia da incerteza, até que hoje criei corage — e segui atrds... ¢ presenciei tudo. — Ah, desgragada, por que num te matei na hora? — $6 tive gana de te arrochar as goela até... (Gesto de quem estrangula.) ...pra num fazer de teu irmao um criminoso. — Num foi preciso botar em confissdo — 0 que escutei deu pra acusar todo 0 papel da verdade... A minha filha, a minha donzela, os zelos de minh’alma e orgulho do immio — mum passa duma desavergonhada, que se entregou nos mato, como um bicho bruto.. E, agora, prenha, corre atras do macho, rebaixada até o ultimo ponto — mulher bulida, sem valia, mendigando a compaixao que num merece. — Quem quer casar com uma puta? — Quem tem coragem de levar pro altar uma virgem de mentira, uma virgem com um menino pinotando no bucho? — Nem ele, 0 culpado. — Agora, eu, a mae, que bote o pano na cabega e va me humilhar, va rogar nos pés do sedutor que limpe o nome dela — antes que o irmao dé fé © acabe com os dois. Mae é bicho pra softer. Engole cada bocado amargo... O filha pra dar trabalho. — Acho que foi as agonia que passei buchuda dela — a pobre nasceu em ainsia. Toda a raiva, toda a revolta de minha vida passou pra ela... ai, meu Deus, Id esté a casa... Com que cara vou aparecer na frente do rapaz? Dai-me coragem, Virgem Santissima... Na casa de Vina. (Aproxima-se e encontra Vina no batente.) Mariana Vina Boa tarde, dona, é a casa de José? (Desconfiada.) B, mas ele num esta. Se tiver algum negogo — eu mesina posso resolver. Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina A senhora € a mie dele? Sou. Por que pergunta? — Qual é a novidade? (Suspira forte.) Nada. Era s6 com ele. Sera que demora? Como posso saber — se ele saiu numa missao de vida ou de morte? Que Deus nos ajude. — E 0 causo do barracdo — Chico também ta 1a... Eu, no aperreio, nem me lembrei.. A senhora é a moradeira da oiticica? Sou... tamo arranchado 1d... (Ofhando Vina demoradamente.) Me deu a impressio de que Ihe conhego... A senhora dé os ares com alguém, num me lembro quem é... (Na defensiva.) Ta me tomando por outra pessoa. Num tenho parente nem aderente por aqui Num é gente de perto, E Ismbranga que vem de longe... do passado. — Qual é a sua graga, que mal pergunto? Eu acho que a senhora td areada... V4 simbora que t4 escurecendo e aqui num se usa mulher andar sozinha pelo mato, principalmente noite. Isso é que num fago. Botei na cabega resolver uma situago e 86 saio daqui com ela resolvida, Vou esperar a volta de José. E se ele num voltar hoje? — Isso pode se estirar até a madrugada e eu preciso entrar pra dentro e fechar minha porta A porta ¢ 0 terreiro é seu, mas o caminho num tem dono - me assento ali, naquela pedra, trés dias, se for preciso, mas s6 saio com a resposta dele. Qualquer negogo que a senhora tenha e qualquer resposta que meu filho dé — tudo passa pelas minhas mfo, que ele nada faz sem me ouvir primeiro. (Recordativa.) Primeiro foi as feig&o, agora o tom da voz... Eu lhe conheco — ja lhe vi, num sei bem onde nem quando, mas sei que vi Cgressiva.) Onde, por certo? — Dessa terra nunca sai, nunca fui arretirante... Mariana — Mas num t4 livre de ser. O futuro a Deus pertence. Vina Se ¢ praga, que caia no seu lombo, desgragada. Mariana (Vitoriosa.) Ludovina! — Agora me lembro! Até que afinal Ihe Vina encontro! Quem € voce? Mariana Ora, num € 0 que eu digo, até as pedras se encontra, — Entdo vocé Vina num me conheceu? — Othe pra minha cara — num dé pra se lembrar? (Desdenhosa.) Nunca te vi tio gorda. Mariana Num me conheceu? ~ Pudera. — Quem faz sempre esquece. Vina Num tou entendendo nada do que vooé ta dizendo. Mariana Num ta entendendo? — Pois eu ja the refresco a memoria — ha Vina quanto tempo num vai ao vale do Piancé? A senhora ta maluca — saia daqui, sentio estrumo 0 cachorro em cima. Mariana Antes de me estrumar seu gozo, me responda a uma pergunta — Vina cadé Tonho? Cadé meu marido que vocé roubou, sua cigana maldita? Vocé ta doida, mulher. — Saia daqui, eu num sei quem é vocé. Mariana Sabe, sabe muito bem, agora, que sou a mulher de Tonho da Vina Baratina, sou Mariana, aquela que voces deixaram sozinha, com um filho se arrastando ¢ outro no bucho. — Se lembra do curral, onde todo dia vocé ia ver leite? - Se lembra do quarto do bode que vocé foi corejar ¢ saiu com a vontade no bico? — Pois aquele eu the arranquei das unhas, mas, agora, vou the mandar a metade daquele nojento, que todo dia vai me aperrear e cagar no meu terreiro. (Enraivecida.) Vocé num toca no meu bode ~ assim como eu num toquei no seu. — E, olhe 14, se bulir num cabelo do Melado vai se arrepender. Mariana —_E vocé se arrependeu de ter tomado o meu Tonho, mentindo que Vina tava prenha dele? E tava mesmo. Era dele. E, se quiser saber melhor, naquele tempo Jé fazia trés més que nés se gostava — ai ele levou o bando pra morar 14, no sitio. Mariana Vina Mariana Vina Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Até que enfim se descobriu e contou mais do que eu queria saber. Entdo, Tonho vivia com vocé ha tempos. — Cachorro vira-lata! E, agora que se deu a conhecer — conte o resto da putaria - me diga aonde aquele infeliz ta, se ta vivo ou se 0 cfo ja carregou ele pras profundas. (Soberba.) Tonho? — Quer mesmo saber 0 que é feito dele? (Tomada de édio) Quero. — Nunca é tarde pra se justar as conta (Cinica.) Entao, quet mesmo ver aquela beleza? ~ Quer ver a pega boa do seu marido? — Pois num sé Ihe mostro, como dou inteirinho pra vocé pendurar no pescogo ¢ fazer bom proveito. — Entre, num faga ceriménia, encontra ele logo ai, na saleta — 0 seu tao chorado Tonho da Baraina. (Mariana empertiga-se e, insensivelmente, mum gesto de vaidade, passa as méos na roupa, enrola 0 pano na cabega e penetra na casa de Vina.) (Sé) “O meu marido... 0 meu Tonho” (Com desprezo) — Vai, danada, pega ten saco inctiquilhado de riba da esteira. — Leva teu feixe de osso — um peso-morto que s6 serve pra dar trabalho, — Grande figural Uma carga pesada que me caiu no lombo desde que veio pra minha companhia! — Quem me dera me aliviar dessa cruz, era mesmo que uma carta de alforria, ou 0 perdio duma prisiéo perpétua, — Uma boca que come mais que impingem e, quando o comer vai entrando, ja vai saindo e desgragando tudo... Vai-te, espirito de Satanés! Vai-te com tua mundiga! (Entra, arrasada.) Tonho... aquilo € Tonho... Coitadinho. (Fala num sussurro.) — Faz. quanto tempo? (Constrangida ante a dor da outra.) Quando ele Ihe deixou, eu também deixei 0 bando... Viemo pra cd, compremo essa tetra... Num deu trés més, ele pegou um ramo e ficou nesse estado (Reagindo, com citime.) Bem feito! — Tou de peito lavado! Foi castigo de Deus. Eu pedi—e vi. E essa a mulher boa? Tanto que chorei por Tonho, tanto que me docu a saudade dele. Tanto que esperei, pelas noite adentro, a volta do meu homem, desse marido.. (Cinica.) Tardou ~ mas achou. ~ Agora é s6 levar. Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana. Vina dia. Mariana Vina Mariana Pra qué? Quem comeu a came — que roa os ossos Leve. 0 homem ¢ seu. ~ Quando Deus casa — & pra eternidade. Pra qué vou querer um morto-vivo? (Divertida.) Onde foi casa — é tapera. — Afinal, vocé é a mulher... a “esposa”, Naguele tempo eu jé era — e vocé me passou a mao Reconhera, dona, que eu num tenho nenhutna obrigacao com ele — Voeé, sim, que é a “mulher legitima”. Ah, vocé me lembrou muito bem que sou a mulher legitima, Entdo, Ja que sou, quero que vocé desocupe essa casa ~ que ¢ minha, e ssa terra ~ que foi comprada com o dinheiro do meu marido, Cnraivecida.) Essa n&o! — Bos anos de trabalho meu e de meu Filho aqui dentro? ~ Basta o tempo que passei perdido, tomania Conta do seu bagulho, pra pagar o dinheiro da terra, E 0 que se vai ver —pra que se quer justiga? Se voc€ quer entrar em questo — leve primeiro seu traste pra desocupar o canto, Jé que apareceu a dona, bote nas costa e desate Ainda vou pensar... combinar, saber se os filho quer ou n&o,, ‘Vai saber se 0s filho quer ou nao? ~ Pois se num quiserem Id — eu também num quero ed... Quer dizer que a geringonga do velho vai ficar pra Id e pra cé ~ boiando mais que bosta n’égua? Ai que fim de vida tiste! (Lembrando-se.) ~ Sim, ja ia me esquecendo do assunto que me trouxe aqui — mas, primeiro, me diga uma coisa: ~ José é filho de. Nao, Deus me livre. Ele € 0 menino que me acompanhava naquele Quer dizer que ele num é mesmo de Tonho? O dele ta no céu, Felizmente (Suspirando.) Era com José que eu vinha falar Com José? ~ © causo dos flagetado ou o chamego roxo dele com a sua desmiolada? Ludovina, é a sua protegao que cu venho implorar. Que é que espera de mim? Que é que uma mae, sabendo que a filha foi esfulorada, pode mendigar por ela? (Escandindo as palavras.) Ent%io vocé quer que cu lave a honra de sua filha, €? (Humithando-se.) E... eva isso que eu queria de vocé. (Arrogante) Apois escute o que vou the respostar: quem tiver suas filha doida, amarre no pé da mesa ou cosa as buceta delas — que num tou pronta pra encobrir ruindade nem consertar cabago de ninguém Ludovina, 0 que vai ser de minha filha, pelo amor de Deus? Ora, num foi a primeira nem ser a derradeira feme a se perder. Vocé pensa que os “réi-couro”, por ai, to cheio de donzela? Ai, que bocado de fel eu tenho que beber! — Mas, num tem nada nao. Minha tengao, agora, é outra. — Vou atras de Chicd. Vai buscar seu filho? — Pra qué, pra levar o pai? — E bom, a carga, pra José, j4 ta muito pesada. — E ele num é parente nem aderente. Vou mandar fazer a trouxa. Ainda num é dessa vez que eu venho buscar Tonho ~ nés tem conta de mais pressa a ajustar. — Aquilo que num se faz. por gosto, faz por desgosto, o que num se faz por vontade, se faz sem vontade. Se vocé pensa que José vai casar com sua doida — pode quebrar o bico, que num casa mesmo. — Se pensa, também, que levando 0 velho, vai tomar a terra, pode voltar, em riba do rasto, porque a terra, que foi regada com nosso suor — num tem vivente que tire de nds. (Num desespero.) O marido... a terra... Num tem dor que compare a essa que ta me queimando o peito — saber que minha filha foi desonrada, Ludovina, me pague a divida de tantos anos, limpando 0 nome de minha Branca. Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana COMGGA A BATIOA + Tomas Tinha graga. — Eu criar José com tanto sacrificio pra botar no altar com uma noiva sem grinalda. Mulher sem coraga, se o seu filho num casar por bem — casa por mal. — Eu num sou de levar desaforo pra casa ¢ dormir com ele debaixo da rede nao. E uma ameaga? — Pois ajunte autoridade af no terreiro que nem me bate a passarinha, Criatura, tem dé de uma desatinada. E num tava tio valente, tio imperiosa? — Va, dé parte ao delegado, ao juiz. de paz. —Encha 0 terreiro de gente pra ver se sai casamento. (Num entrechoque de emogées.) Eu posso encher seu terreiro, mas € pra fazer 0 vel6rio de seu filho — porque — Ihe juro como ha Deus no céu — ele, daqui pro quebrar da barra, ser defunto. — Vina, eu tou Ihe prevenindo ~ depois num va chorar lagrimas de sangue, (Solene.) Se vocé assim quer, vai ser praga contra praga, — Eu Ihe garanto, pela luz que me alumia, que, antes de mim — vocé vai se cobrir de tuto. Ludovina, vocé venceu a primeira vez — quando me tirou o marido; venceu a segunda ~ quando seu filho fez mal a minha filha; mas, da terceira, 0 tiro sai pela culatra... E vocé, pode fazer reclamagiio, pode berrar, pode gemer ~ mas dessa vez eu me vingo, — E vocé que esperneie, que arranque os cabelos como eu fiz — e chore, chore, pois boca de couro num se rasga nao. Num tou nem de liga. Ja viu praga de urubu matar cavalo gordo? — E eu ja tive muita pacienga — agora meta essa boca podre na mochila ¢ va dando o fora se num quer sair escorragada como se faz aum cachorro. Num precisa me escorragar nao, eu vou ~ mas fico na escuta, pra ver povo cantar as incelenga em redor do seu defunto. Ai, entio, é aminha vez de dangar, de saracotear ~ gozando a minha vinganga.. (Tiros soturnos, vozes, tumulto & distancia, ambas as mulheres ficam iméveis, @ escuta.) (Entra correndo.) Depressa, & preciso acudir José e Chicd. Tao baleados. Vou atras de Miguel da Bicicleta pra ir na rua chamar 0 doutor. Mariana e Vina Tomas Mariana Tomas Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Tomés, meu filho t vivo? S6 vi ele caido no chao numa poga de sangue ¢ num tem carro que queira ‘levar pra rua, Tomas, eu vou com vocé. Me leve pra junto de meu filho. Tome o caminho do barracao, — Eu vou atras de Miguel. (Sai.) Ai, filho de minh’alma! Valei-me, mae santissima! Meu José ~ acuda ele, mae de Deus! O barracao! — Adonde é? — Por onde se vai, que eu num sei E eu, que num posso andar. Rita... Rita... Riiitaa!... — Ai, meu Deus, largou-se tudo. ~ Que & que eu fago, meu Deus! Cadé a vereda... eu nunca andei aqui... por onde se vai? (Lembra-se da outra.) — Ludovina, me ensine como se vai. Eu sei ir... me ajude a levantar que eu vou também, Me ensine © caminho, s6 tem mato, tapando tudo. — S6 tem garrancho... Por onde se vai, Ludovina, Me ajuide, Mariana! — Me leve — pelo bem do seu filho! Eu sei por onde se vai ~me leve que cu ensino, Num posso, eu tenho que chegar logo ~ depressa. Pena de vocé que nunca teve de mim? — Cade a vereda... Num va sozinha, num me deixe. ~ Me dé ao menos sua milo, faga essa caridade, (Sai se arrastando atrés de Mariana, que debalde fenta encontrar 0 caminho.) (Reflete.) Se eu lhe levantar — Vocé me ensina o caminho? Eu sei onde é — tem um atalho que vai bater ld — voce me leva também? Eu levanto — mas num posso perder tempo com uma aleijada. Voce Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina ensina por onde ¢ e vai se arrastando atras... 86 ensino se voce me levar. ~ Sé tem nés duas aqui — uma pra ajudar a outra, Se lembre que também sou mac... (Jntencional) de José (Lembrando-se.) Sim, de José... (Tomando uma resolugéfo.) Bu the catrego, the ajudo, Ihe levo, até — mas se vocé me prometer... se voeé jurar... vocé jura? (Compreendendo.) Se eu prometer... se eu jurar... — vocé me leva? S6 se vocé jurar pela vida, pela salvagao dele... Se eu jurar... sim, eu juro, eu juro... (Aproxima-se de Vina e vai levantando-a.) Entdo, jure... jure comigo... diga: — Eu juro... Eu juro. pela vida de meu filho. (Dando os primeiros passos apoiada no bastiio ¢ em Mariana.) ... pela vida de meu filho... Pela salvagao dele... Pela salvacao dele. Juro por Deus. ...juro por Deus... Pela Virgem Santissima. ... pela Virgem Santissima... Num quero encontrar mais ele vivo... (Sempre caminhando.) ... num quero encontrar ele mais vivo... Se cu quebrar a minha jura... .. $e eu quebrar a minha jura... Juro pela héstia consagrada,.. juro pela héstia consagrada... Mariana Vina Mariana Vina Mariana Vina Quero encontrar ele jé defunto.. quero encontrar ele jé defunto. Se eu quebrar a minha jura, se eu quebrar a minha jura... Juro por toda a corte celest .-. juro por toda a corte celeste. (Desaparecem as duas, caminho afora, sob 0 vermelho do ocaso, ainda murmurando juras.) FIM ria] | NORMAL GRAVE RAPIDO NORMAL LEnrTe

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