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mals de Catalogacio na Publcasso - CTP 166. Paiva, Eduardo rang, Org Amaatino, Marci, Ort Ivo, Iara Ptez, Or. seraidto, mesicagens, sublets, pasagens © espagos / Orzaizasso de Eduardo Fang Paiva, Macia Amaatino ¢ Isa Peer Ivo. ~ St Pato: Anmsbme, 2011 Cole omnes) 2384p 163 om Sinpesto Eseravidao ¢ Mesticagm, Niet (RJ), 2010 ISBN 978.85.391-0258-7 1, isin, 2. Hira do Bros 3. ina da Exe 4, ini do Mesigagem, 5. Histxia Social Cultura. 6. Ecravid. 7. Mesticogem. 8. Espago Usbato. 9. Espace oral. 10. Brasil Colin. 11. Brasil Otocenista, 1. Tio, I. Série. IL. Paiva, Easrdo Fraaga, Organizader IV. Amauiae, Marcia, Organizadn, Ivo, aaa Peeisn, Oszanizador cou oat DD ost ada por Wanda Lucia Schmidt ~ CRE-8-1932 Catalogncio ela ESCRAVIDAO, MESTICAGENS, AMBIENTES, PASAGENS E ESPACOS CCoordenagao de produeto: Tsan Antunes Diegramacdo: sxilopes ‘Cape: Coidos Clémen Imagem da Cope: George Gen Vista da cidade de Saba. leo Sobre tela 57.0 298.5 cx. 1886. Revinao: Rican Kobayashi Finalizagee: Livia C1. Pereira ‘CONSELHO EDITORIAL ‘Edad Peels Caza ‘Nora! Batello Junie Masia Oals Leite d Siva Dias Celia Mia Mario de Azevedo “Gostavo Bernd Kinnse Marin de Lourdes Sebel (ir memoriam) Pedro Roberto Tacob erin D'Alessio Ferra 1 eight de 2011 (© Eduardo Foose Paiva | Mowcia Amino |Taura Persia 150 ANNABLUME edie comnicasto Ris MMLDC. 217. Bota 05510.021, Sao Polo | SP. Breil ‘ele Fag (O11) 3812-6764 ~ Televendss 4081-1754 ‘ronvamblae com A LIBERDADE ENTRE © SALAO E A Rua: Festas £ ABOLICIONISMO EM MINAS GERAIS NOS Uttimos Anos Da EscraviDAo Luz Gustavo Santos Cova Dourotanoo et HstOma SOCIAL PLA UNIVERSOADE FEDERAL F.uminenst — UFF “Ouverture” Quando a noticia “alvissareira” da Abolicao chegou as tortuosas ladeiras da antiga capital de Minas Gerais, Ouro Preto, um dos muitos jovens estudantes que por alicitculavam afirmou ter presenciado um verdadeiro “transbordamento de alegria”. Aurélio Pires, que havia acompanhiado de perto toda lata pelo fim da escravidao, registrou anos mais tarde em stias memérias as cenas vibrantes da comemoragao ‘egada pelo “bimbalhar de todos os sinos de todas as igrejas pelo estrugr de milhares de foguetes, a festejarem o decreto redentor”?, A noticia da assinatura da chamada Lei ‘Aurea, no dia 13 de maio de 1888, em pleno domingo, viajou ligeira (para a época) pelos cabos telegrificos jé existentes, desencadeando tuna explosio em forma de festa que, inclusive, sepultou qualquer possibilidade de reagio contrria por parte daqueles que ainda se apegavam ao “velho sistema”, Entretanto, bem antes daassinatura do “decreto redentor”, as festas j4 eram um componente essencial na luta pela liberdade, ‘Ao longo da década de 1880, derradeiros anos da escravidao no Brasil, 0 ‘movimento abolicionista adotou, entre outras estratégias, a realizagao de festas, ‘quermesses, meetings pegas teatrais na intengao de propagar os Variados projetos ‘que visavam o fim daquilo que chamavam de “cancro roedor da nao”. Muitas vezes identificado como um movimento que ocupava apenas os saldes do Império, 0 1. PIRES, Awio, Homens ¢ fcios de mew tempo: 1962-1987. Sto Poul Brsiina, 1939, p84 2 SILVA, Bardo, “Inezrost0, lobalizastoe fest. Aabeliso da escravatua como histéia cla: PAMPLONA, Marcos A. (op) Escrito, exclu ¢edadania Ri de Jano. Access, 2001, . 11 254 ‘A UBEROADE ENTRE © SALAO E A RUA:FESTASE ABCLICIONISHO EM MINAS GeRAIS. abolicionismo também alcangou ruas, portos, senizalas e demais espagos por onde os diversos atores que compunham 0 complexo cenério social brasileiro circulavam, fazendo com que as ideias de liberdade engendradas no seio das elites ganhassem interpretagdes muito diversas, Ao ir além dos teatros e salves de baile, onde a “boa sociedade” dava o tom dos eventos festivos organizados pelos clubes abolicionistas, espraindos pelo Império, os j polissémicos reclames de liberdade ganharam novos ‘ramos, 20, nas palavras de Maria Helena Machado, interagirem com “estratos sociais perigosamente instiveis”, com destaque para os maiores interessados no fim da escravidao, 05 escravos.” Obviamente, muitos dos que se autointtulavam “arautos da liberdade” quiseram. que suas bem lapidadas palavras sufocassem os brados vindos das ruas, temendo, por exemplo, as consequéncias do contato diteto com os cativos e demiais membros do “popuilacho” *. A despeito dos temores existentes entre nao poucos miltantes da liberdade, ocorreram interagoes decisivas entre a chamada “arraia mitida” e 0s virios ‘grupos aboticionistas, tendo como resultado a mescla de ideias de natureza bem diversa complexa’. Império a fora, os discursos estampados nos jomaais ou pronunciados nos meetings € demais manifestagoes pablicas organizadas pelos abolicionistas, chamavam a atengiio dos setores populares das urbes, que mesmo de forma turbulenta e desorganizada, sentiam-se atraidos pelas palavras que ecoavam pelas ruas.° © objetivo desse escrito € tentar observar, através da anilise das noticias cestampadas na imprensa, bem como de relatos de memi6ria, como essas interagbes entre o discurso que nasceu nos saldes € os atores sociais que circulavam pelas ruas da urbe oitocentista podem ter ocorrido em trés das principais cidades da entao provincia de Minas Gerais, Oro Preto, Mariana e Diamantina, ¢ em suas respectivas circunvizinhangas. Nao obstante, tenciona-se ainda observar como as “reunides festivas” dos abolicionistas mineiros se apresentaram em espagos distintos, A categoria espaco seré entendida aqui como produto das relagdes sociais, frato da acio humana, ou, como afirmou o gedgrafo brasileiro Milton Santos, “um conjunto de relagdes através de fungdes e de formas, que se apresentam como 3. MACHADO, Maria Helena P.O plano opénico: 0 movimentossocsis a déada da abliga. 204. et, Sto Plo: EDUSP, 2010, p.137. 4. MACHADO, Humterto Femmandes.Palevas ¢ bados: a imypeensaabolicionista do Rio de Janeiro, 1880-1888, Tese de Dovtrado spesentods ao Depeataneto de Histiia da Faculdade de Filosofia, Letras eCiéncins Humanas da Universidade de Si Pal. So Pai USP, 1991, 5, MACHADO, Maia Helena P.O plano o panic, p. 139. 66, MACHADO, Maia Helena P.O plano o nico, 139 SILVA, Baad, As comelias do Leblon € 1 aboligdo da escravanura: usa ivesigagao de histra cull, Sto Palo: Companhia das Lewas, 2003: SANTOS, Cli Andrade ds. “Proeos soca boticionistas ropa ou continsmo? in: [REIS FILHO, Daniel Ano (orzanizadon).Ielectuai,histéva ¢ pltca: séculos XIX e XX. Rio de Sneeo: 7 Lets, 2060, Lure custavo santos coma ass. testemunho de uma historia escrita por processos do passado e do presente”.” Nao obstante, 08 espagos serto vistos ainda como ambientes perpassados por diferentes tipos de sociabilidade, nichos de convivio social desde os contatos mais rigidos até aqueles de caréter mais plural, que abrangem as interagdes quotidianas, caso dos locais piiblicos, como a rua. Os intersticios de cada ambiente ou campo de sociabilidade e 0 ‘consequente trinsito de cada ator social entre esses espacos sio importantes para que ‘possamos compreendler 0 desenrolar das agdes ea forma como dialogavam entre ‘Fé com relacao as festas analisadas, cabe ressaltar que estas nao serao vistas, apenas como expressio do universo cultural tido como dominante, tampouco, no ‘caso das festividades tidas como populares, como una espécie de vélvula de escape ‘dos donninados em relagao A hegemionia exercida pelas elites. As festas serdio entendidas aqui como campo de encontro, trocas ou circularidade cultural, ambiente aberto para exercicio de influéncia reciproca, ou mesmo enfrentamento, entre os diversos segmentos sociais® Como destacou Raquel Soihet, a festa nao contém apenas aspectos ‘da chamada cultura dominante, mas também “elementos préprios da cultura popular, ‘com suas tradigoes, seus simbolos, suas préticas. A festa € local de encontro ¢ lazer desses grupos, nela ocorrendo uma influéncia reciproca entre ambos os segmentos”.” Através das festas € possfvel acessar determinada coletividade € seu contexto, ‘observando a forma como seus significados mudaram ao longo do tempo. “contenido as paixdes, 0s conflitos, as erengas e as esperangas de seus préprios agentes sociais”." 7. SANTOS, Milton, Por wma geografia nova: da critica da geogrsfia a uma geoprafia eis. Sto Paulo: Edita da Universidade de Sto Paulo, 2002, p. 183. ej ainda: SOJA, Edward. Geogrfias ‘pésmoderas: a veafsnagao do espago un worn socil critica. Tradugao: Vera Reis. Rio de Simiz: Jorge Zar Edtr, 1993: SANTOS, Millon. Metamorfses do espacohabitade:fundameatos {edricos e metodléyicos &1 Geograia. Claboragao de Denise Bis. Quinta Edig30. Sto Paulo: Eaitors Hucitec, 1997, 8. Sobre 0 conceit de socabtidade eja: LOUSADA, Masia Alexandre. Espacos de socibilidade om Lisbor: finns do s6clo XVII 9 1884, Tece de dostoramento em Geoerafia Humana apresentsds Faculdade de Leas da Universidade de Lisbon, Lisbon, 195, 98. Acerca ds discusses sobre os us0s ¢signifcados da festa, bem como o conceit decitcuariade ‘cultwal, couse: DUVIGNAUD, Jean, Fests ¢ Ciilizaedes, Fortaleza Eigdes Universidade Federal Ceark Rio de Inezo: Edges Tempo Brasileiro, 1983: GINZBURG Caulo. Oquejo eos vermes: ‘ceatdisno es idéas de un mole perseguido pels Inquisico. Tradgo de Maria Retina Amoroso. ‘Sto Pato: Companhia dos Letas, 1987: BURKE. Peter. Cultura popular na Made Modem 0 Paulo, Companhia das Letias, 1989: DARNTON, Reber, O grande massacre de gatos. Rio de Jnneto, Grol, 1986; GINZBURG, Covi, Hisére norma: decfiands 6 sab4. Tnassao Nilson ‘Moulin Louzada. Sto Paulo: Compaahia das Leta, 1991 10, SOIT, Raquel. “O damn da comguista na festa: reflexes sobre resistin ingen ¢ cinculanidade ‘ultra. In Estdos Histricos, Rio Tani, ¥. 5.29, 1992.46, 11 ABREU, Marta. 0 Inpério do Divino estas religiosase cultura popular no Rio de Jaco, 1830- 1900. Rio de Janeiro: Nova Frontera; So Pao: Fapesp, 1999, p38, Sot estas en Minas Gerais, ver, ente onues: CHAMON, Carla Simoue. Festzios Inperials: festa cvica em Minas Gerais — 1815-1845, Bragsng Paulista: EDUSF. 2002: ARAUIO, Patricia Vargas Lopes de. Foleancas Populares: fesejs de entrado camaval em Minas Gerais uo sécule XIX. Sto Palo: Ansablume: [Belo Herzonte: PPGH/UEMG: Fapenie: FCC, 2008, 256 ‘A UBEROADE ENTRE © SALAO E A RUA:FESTASE ABCLICIONISHO EM MINAS GeRAIS. ENTRE 0 SALAO EA RUA A realizagio de encontros ou reunives de carter festivo foi uma das principais estratégias adotadas pelos abolicionistas brasileiros, sendo entendidos como umia ‘oportunidade de propagacao de seus projetos de abolicao e divulgagao de suas agves. Império a fora, esses eventos seguiam quase sempre o mesmo programa: apresentacoes _musicais e/ou teatrais, seguidas de efusivos discursose, por derradeiro, a distribuicao de cartas de alforria a alguns “sortudos”.?” © uso do ambiente das festas como foco de propaganda abolicionista teria, surgido no meio teatral. inaugurando “uma fémmaula de equilbrio magico entre ficgo ¢ realidade”.!* De acordo com Eduardo Silva, no dia 27 de juno de 1870, a0 fim de ‘um “beneficio” organizado por ocasino da despedida do ator italiano Emesto Rossi dos palcos da Corte, atores brasileiros da Companhia Fénix homenagearam o colega cstrangeiro libertando,em.cena sberta, una “pardinha de 2 mos de dade”, sensbilizando tanto o pitblico que lotava o Teatro Lirico Fluminense quanto o homenageado, que em seguida drigiu a plateia um emocionado discurso a favor do fim da escravidao. Com pporgoes de ficgto (teatro e misica) realidade (propaganda abolicionista e libertagaio de escravos) estava criado aquilo que Eduardo Silva nomeou de “formula Rossi”, a perfeita combinagao de entretenimento e propaganda através da qual os espectadores seriam convencidos da necessidade da Aboligdo através da emogao gerada pelo “espeticulo de beneficéncia”.* Anos depois, as conferéncias abolicionistas da Corte inauguradas em juno de 1880, por inicitiva da Associagao Central Emancipadorae capitaneadas inicialmente pelos intelectuais negros Vicente de Souza e José do Patrocfnio, nto deixaram de seguir a “formula Rossi”, aliando os discursos doutrindrios a um “espetéculo teatral, antistico e cultural completo”. O douto conferencista dividia a cena com artistas os ‘novos proxifgios da militancia abolicionista. Daf em diante a“férmula” se estendeu ds ‘matinées abolicionistas que elevaram o tom artistico, atraindo um paiblico cada vez ‘maior, a0 apresentarem uma programacao dividida entre apresentacao de orquestra, discursos, representagoes teatrais e poéticas e, finalmente, os “beneficios aboticionistas”,integralmente dedicados i libertagio de escravos em cena pablica.” 12, SILVA, Eduardo. “Resistencia nepsa, tat esboligao da escravaa™ Tn: 26° Reuniao da Sociedade Brasileira de Pesquisa Historia, Soho, 2005: SANT ANNA, Thiago, “Notes abolicionistss 9s snulheres eacenam o tate abesam do piano na cidade de Goi (1870-1885). OPSIS- Revista do [MIESC. V6, 2006. 13, SILVA, Eduardo. “Resstncia negra, teatro e abolish da eseravnur”,p. 2 14, Expeticulo especial jared revesiaem favor de wi artista, geralmeate a prande exe, eto de ‘compaatia tetra come ui todo, SILVA, Eduardo. “Resistencia negra, teatro e bolig3o ds fecaavats”,p 2 15, SILVA, Eduard, “Resstécia negra, testo e aati da servant”, p 2 16, SILVA, Eduardo. “Resstacia negra, teatro e aboligt da escravatra, pd. 17, SILVA, Eduardo, “Ressténcia negra, teato sbotigso da exeravsna” p58 Lure custavo santos coma 237 Nio fugindo a “regra” criada pelos abolicionistas da Corte, a estratégia de ‘combinar festa e propaganda esteve presente em saloes e ruas de Minas Gerais, no ‘caso aqui analisado, nos cendios das importantes cidades de Ouro Preto, Diamantina ‘ Mariana e seus arrabaldes. Capital da entao provincia de Minas Gerais, Ouro Preto pode ser considerada centro do abolicionismo mineito, tendo concentrado o maior nimero de sociedades abolicionistas ao longo da década de 1880, entidades que nao se furtaram do uso da “formula Rossi." A primeira festa abolicionista da antiga Vila Rica foi organizadaem 1881, ano emblemitico para o movimento devido a fandagao da Sociedade Brasileira ‘contra a Escravidao, entidade criada na Corte, inspirada na British and Foreign Anti- slavery Society, capitaneada por figuras eomio Joaquim Nabuco, André Rebougas, Jono Clapp e José do Patrocinio."” Onganizada por “alguns mogos de talento e elevados sentimentos”, com a finalidade de homenagear a chamada Lei do Ventre Livre (1871) e seu propugnador, 0 visconde do Rio Branco, «festa chamou a atencto do redator do jomal A Actualidade, ‘que a identificou como umia reunio espléndida, como ha muito nao se via na capital Nao fugindo a regra das festas abolicionistas de outras plagas, o festim ouropretano foi regado a encenacoes teatrais, declamacao de poemas e até a execucto de um hino ‘em homenagem lei de 1871, composto pelo autor de A Escrava Isaura, 0 famn0so poeta e romancista Bernardo Guimaraes: “E pois sincera homenagen/ Rendamos 20 grande vulto/ Que abotitt a eseravaturay E:merece nosso culto/ Em nossa pitria formosa ‘nfo nasce mais prole escravat (..)". Assim cantavam os convivas que enxergavam na lei promnalgada por Rio Branco a solugto para fim da escravidao. Em sua “Formosa ptria” nao nasciam mais escravos. A “instituicao negreira” estava com os dias contados."® 18, Foran funds em Ouro Preto cinco socedesablionstae: 9 Sociedade Aboticionista Ouropetons (1881), 0 Clube Abolicionsta Minezo Visconde do Rio Braco a Sociedade Liber Minisa {cunbas em 1883), o Clube de Litertos Viscondessa do Rio Novo (1884) «por fn 2 Sociedade Liberadara Owopretna, fundoda 0 ayo de 1886. COTA, Luiz Gustave Saas. 0 sagrado dete da liberdade:escrvidto,liberdade e abotcionismo em Ouro Preto Mariana (1871 a 1888). Dissestagho (Mestad em Histra)~ Progra de Pos Graduaco em Hist, Universidide Federal Juiz de Fora. Juiz de Fra: 2007p. 63-135, Sbeeabliioniin en Minas Gerais ver nds: JOSE, (Otiam. A abeticao em Minas. Belo Horizonte: Hatsia, 1962: REIS, Liana Mas. Escroves ¢ abolicion'sno na imprensa mincira: 185088. Dissertaso de mestrado apresentda 00 Departamento {de Histvia da Universidade Federal de Minas Gesss. Belo Horizonte: UFMG, 1993; SILVA, Denison {be Ciao, “nclectsis,eseravido eliberdade en So Jao Det Reino final do sécalo XIX". a: ‘ABREU, Marthe: PEREIRA, Mathens Serva. (Org). Caminhos daliberdade: historias da aboligao ¢ do pSx-aboigdo no Brasil. Naess: PPGHISTORIA-UFF, 2011 19, CARVALHO, Jose Muito, “Esertid80 «riz acon”. Ponore ordados: ects de bistiia «© politica, Belo Horizont: Edtora UNG. 1999p 3637: CONRAD, Rober. Os tinas anos da ‘scroatira no Bras. Rio de Jmcizo: Caiiagio Braslea, 1978, p. 172173 20, Sistema lrerado de Acesso do ArquivePiblico Mineo (doravante SLA-APM) A ACTUALIDADE. ‘Ouro Preto, 0 de eatabro de 1881 258 ‘A UBEROADE ENTRE © SALAO E A RUA:FESTASE ABCLICIONISHO EM MINAS GeRAIS. A “formula Rossi” trazia consigo a construcio do mito do her6i visconde do Rio Branco, tido como o grande responsével pelo esmorecimento da nefasta “érvore da escravidao”, expediente muito usado especialmente entre 0s correligionsrios conservadores. Todos 0s anos eraun realizadas festas uo dia da promulgagao da Lei do Ventre Livre, 28 de setemibro, na intengao de que a imagem heroica de Rio Branco fosse disseminada e cristalizada, sobretudo entre os escravos e libertos. A meméria do visconde surge nesse discurso como uma espécie de redentor dos escravos, 0 responsivel pela morte por inanigio da escravidao, e que, de acordo com o hino cantado por aquela “inteligente pléiade de mogos”, é havia praticamente decretado o {im do trabalho escravo. Segundo Raoul Girardet, a nanrativa legendaia e profética {que constitu o mito politico composta por uma sucessiio ou combinagio de imagens associadas 20 fato ou a figura que se pretende glorificar, Para o autor, “o temia do salvador, do chefe providencial, aparecerd sempre associado a simbolos de purificagao: © heréi redentor & aquele que liberta, corta os grilhoes, aniquila os monstros, faz reewar as forcas més”. Forjar a imagem de salvadores da pétria & uma tética consttuinte da cultura politica brasileira, quic do mundo intero, desde muito tempo: Anos mais tarde, em novembro de 1883, foi a vez de arecém-criada Sociedade Abolicionista Libertadora Mineira organizar uma festa em comemoracaio a posse de sta diretoria (ocorrda no a 10 daquele mesmo més).no pago da Assembleia Provincial 0s discursos doutrinérios de costume foram seguidos da distribuigao de duas cartas de liberdade, além de um “brilhante concerto musical” executado por “distintas senhoras” da sociedade ouropretana.* Aleuns dias ap6s a posse da diretoria definitiva da Sociedade, uma nota assinada por seu primeiro-secretitio, o estudante gaticho Luiz Caetano Ferraz, que anos mais tarde se formaria engenheiro pela Escola de Minas de Ouro Preto™, informava que, a pedido de seu presidente, fora constituida ‘uma comissio entre seus membros com o fim de organizar e recolher prendas para ‘um bazar em prol dos fundos da entidade, COuscio de que as “excelentissimas senlioras cavalheiros” da capital, “aquiescentes das ideias do progresso social”, colaborariam com o ato de beneficéncia intentado pela Sociedade, o secretério informava que os donativos também poderiam ser depositados na casa do professor Archias Medrado, presidente da entidade.* 21. GIRARDET, Rooul. Mitos¢ miolgias politics. So Paulo: Companhia das Leta, 1987, p17. 22, Sobre citora potitica veja: BERNSTEIN, Serge. “A Cultura Pobitica. In: RIOX. JeanPiene & SIRRINELL, ean-Feaagos (it). Para sna historia cultural. Lisboa: Eat Estapa, 1998, p. 349-363 23, SIA-APM - A Provincia de Minas. Ouro Preto, 15 de novembro de 1883, 24. Engeaheiso de Minas com epalias de Civil, tusma de 1888. Ainda como ano seston oabsevatéio reteoroldgico mexo 8 Escola, encaregando-se dele eratitamente dante és shox. Deseivolvet

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