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cuss ( ws pre) : DONATELLA DELLA PorTA = que bmp, Cane. Wont ~P cdawdrdale woul. undo, orm - ; ( “ 5 ' Cole? woudl felt » ot Gas oes wma 9 64 Kae tlarkulawt : “ et Bran yok a 7 Co aC wide, nes. BR Wr (No O Gan elas f / ¥ (etb, de afew Oo yates ? Tir x Wer LAr mts don’ re” 2 ~ tut te - Q MOVIMENTO on bawninayue ar POR UMA NOVA (afro i revs aon ee, GLOBALIZACAO yurolnra dos de mares TT x Sek usdordo)- Mosk wrt fodo non ney —) Rode S& hau porte, | Cue yaw wun As, wad 6a an Oe ly Te lace ee . yd Oa ae | Ee nan Ae Sethe wi tres (uu Gklewle) _ hod Uw “pore Ub antiubep opel pt 2 ihe fad do dba t& at ‘Qu Wo witnwio : ayor dir ape gg Lm Axe nal, que aumenta a legitimaco mas reduz a visibilidade. Co- ‘mo se observou a respeito de muitos movimentos do passa- do, se um certo grau de néo-convencionalidade é intrinseco 20 protesto, uma ago considerada muito radical corre o is. co de afastar as simpatias da piniao publica. 4. Entre nucleos e redes sareconhecida;6s limites de organizacao sao Tiéxiveis; a fil que nascem, se mobilizam e declinam continuamente; olicéfala, tom uma estrutura de lideranga plur Geticulas> com grupos ¢ individuos conectados por milltiplos vinculos. Essas caracteristicas gerais dos movimentos manifestam-se Bnfase cada vez maior nas Fe ages sobre a global bee Nas descricBes de Seattle, d se Gnfatizara a estutura. 10 flexivel do protesto, do qual participaram tanto organiza- 982s mais formais (como os sindicatos e as grandes associa. 68s ambientalistas) como pequenos grupos —entre os quais as centenas de grupos de afinidade, definidos na plataforma 5 + de convocaco da manifestagdo em Seattle como um gru- participativa, discursiva, de base. Enfatizando o respeito pe- po, de 5-20 pessoas, composto "com amigos, gente de sua las diferentes opinides (e pelas indumeras individualidades), cidade, vitinhos ou colegas de trabalho, de organizagéo ou 0 foruns sociais deveriam ser sobretudo loceis de troca de comunidade, ou com quem vocé tenha alguma outra afinida- idéias onde — com base em uma reflexio aberta.&s_argu- de, interesse ou identidade compartilhada”. Os porta-vozes rentagdes de todos — se chege a um consenso sobre os de cada grupo se reuniam no Conselho dos Porta-vozes. Mes- ores construidas juntos, Se na prética surgi 0 rsco, per mo depois, grandes mobilizagdes supranacionals foram or- egbido e discutido pelos ativistas de os mais bem organiza- ganizadas por associagdes de interesse piblico e pequenos dos prevalecerem na discusséo, ressaltaram-se também, muito «grupos de afinidade, coordenados em pequenas redes flex rentos do passado, a importancia de che- veis, com decisbes consensuais e porta-v 10 lugar de Ii- ‘decises consensuais (ainda que baseadas as vezes no de minimo denominador comum) e_a tolerancia, ou melhor, a eenfatiza a subj) Yeu. frre, abertura para experiéncias diferentes. Nessa busca de uma oc Lbsdloven. nova forma de cidadania ativa, as organizagbes do movimen- calc, Ve to encontraram-se (mas também se chocaram) com os atores de uma democracia representativa mais tra nal. Também no que diz respeito a dimenséo organizativa, : on no entanto, ao passo que alguns observadores reconhecem cas isoladas © depois se ligam via pequenas redes transna- as organizades criticas da globalizacao aquele cardter reti- jonas, procurando aproveltar recursos (em P cular que é condicéo para a existéncia de um movimento outros preferem ressaltar um caréter: jinda ocasional A integragdo, como veremos neste capitulo, funciona transitério das interagdes, sobretudo em nivel supranacional. tanto por meio de canais virtuais — particularmente a Inte- reivindicada por grupos que net — quanto através do arranjo de arenas de encontro, real, face a face, em nivel local, nacional e supranacional. Esses Individuos em rede locais, sobretudo os foruns sociais, representam experimen- Aadeséo a um movimento é em geral favorecida pela +05 de uma forma de democracia que foi definida no debate insergio em pequenas redes formas e informais de indi cientifico, mas nao ‘6 nele, como democracia deliberativa, duos que compartilham alguns valores: por meio desses vi & ago coletiva; recebe o estimulo de outros. Além disso, as organizagoes formais freqientemente atuam como canais Para um recrutamento em bloco de pessoas j4 dotadas de motivagdes politicas e experiéncias de aco coletiva, Segun- lo numerosas pesquisas, a densidade de associagio da base de referéncia dos movimentos sociais fa a adesao desta & mobilizacéo, oferecendo no apenas recursos logisticos, mas também estruturas de lealdade e solidariedade reciproca, Mais em geral, observou-se que a obtengio de bens coleti- Xo sempre oi faclitade pela presence de um capita social composto de redes de interacdes e normas de teciprocida- de: as associagies seriam as principals fontes de producao ¢ | Os vinculos associativos, de s vinculos associativos, dé individuo mais confiante em si mesmo e nos 1tro8 babs mals confante em si mesmo en outros, habituando-o também a pensar de maneira menos ista e a agir em conjunto com uma comunidade. “Osat ‘ages sobre a globalizacdo es- 10 densa de associages, das de inspiracéo catdlica as ecologistas, do voluntariaco social 08 sindicatos, da defesa dos da mulher, com vinculos muitas vezes m iplos a associagdes de varios tipos. Dentre os manifestantes entrevistados em 8nova, 97,6% declararam que eram ou tinham sido mem- ‘breside.pelo menos uma associagéo; 80.9%, ao menos de de ao menos 3; 38,1%, de pelo menos 4; 22.8%, de no minim 5 © 126%, de seis ou mais. Como escreveu live Diamanti, os grupos que protestaram em Génova: so “forte mente integrados e institucionalizados, Refiro-me sobretudo 20 mundo catélico. A associagSas come as Acli(Associazioni Cristiani Lavorator italiani [Associages Cristas de Trabalha- doresItlianos] e Mani Tese. Ao voluntariado de solidarieda. de social. Aos jovens que, ano pasado, estavam na praca S30 Pedro para cantar com o papa. A setores do sindicat autGnorio, mas também confederatvo...Individuos que con- tribuem para manter unida a sociedade. Nao para desagregé- 'a. Para ligé-la com as instituigées, No para derrub.las Sole-24 Ore, 12 ago. 2001) Ajémencionada pesquisa sobre os ativistas do Férum Social Europeu realizado em Florenca em novembro de 2001 confirma @_densidade de vinculos associativos, mi hiplos e rais. Como se pode observar na tabela 4, os ativistas que Participaram do Férum Social Europeu de Florenga tém ex- Periencias — precedentes ou atuais — de participacto de Vatios Hes. © mutes vezes sobrepostas: das organizacdes nao-governamentals as associa, es de voluntariado, dos sin- Q Osos, dos partidos aos movimentos jal rico e diversificado nao parece ter sido reduzido pelos eventos de Genova, com 0 sucessivo debate dentro e fora do Movimento sobre as formas de agao, nem pelos ataques terroristas de 11 de Setembro — que ha- viam levado a falar, sobretudo nos Estados Unidos, de um fim precoce das mobilizagdes contra a globalizacio neolibe- 1 us ral, oprimidas entre as ameacas terroristas e 0s ventos da guer- ra. Ao invés disso, depots de Génova e do 11 de Setembro, as organizagées crticas da globaliza¢ao parecer ter amplia- do sua capacidade de convencer e de envolver sobretudo os jeres) do movimento sindical. Se ise de refeféncia & confirmada em todos os paises europeus analisados, nao faltam contudo as “Tas. 4, PARTIONAGHO ASSOCITWA PRESENTE E/OU PASSADA DOS ATISTAS OO FORUM ‘SociAL EUROPEU (VALORES PERCENTUAS) Organizagies: éo-governementais 32,1 482 654 583 618 710 632 415 Sindicatos 23 49 Bl Ul 1) 3S 46 318 Pattidos D3 Bl WK Bl 70 457 445 36 Movieentos 465 569 696 400 886 70,1 659 527 Organizago0s cestudantis| 556 449 456 SA? SA 660 6B 575 Centrossocais «49 255 Bl Wl 138 Ws AO 31 Movimentos 22 124 190 135 163 199 7A 193 29 129 188 453 537 S11 435 431 493 522 40 583 554 608 559 513 S17 486 S63 M74 53346 49.4509 nema M; Daa Pont, O; Mosc: Rae, , Global, New Global Frank dg 208 especificidades nacionais para corroborar 0 papel dos recur- sos e oportunidades politcas especticas em cada p O confronto entre Alemanha e Franga confirma, por exemplo, a maior presenca, no caso aletnao, de ativistas de novos movimentos socials e associacdes ecologistas, a0 pas- 0 que no caso francés predomina o componente sind que, sobretudo por meio dos novos sindicatos, teve uma gran- de influ&ncia na evolugéo do movimento altermondialist, A maior hetérogeneidade das experiéncias associativas dos ativistas na Itdlia e na Espanha em relacdo, por exemplo, & Grd-Bretanha parece indicar que, em paises caracterizados por uma estrutura particularmente fechada, o movimento assume predominantemente oportunidades pol com governos de centro-direita berais e (a0 contrario do que ocorre na Franga) favoraveis a uma intervengdo militar no Iraque. aga dessas pequenas redes associativas se de uma estrutura organizativa particularmente. flexivel e descentralizada. Em relago aos movimentos do pasado, o “moviment ovimentos" (priviléGia a pre) organizativos diferenciados? A mabilizagao.de qwupos hete- Togéneos requer, de fat, uma estrutura reticular que respei- te 28 especificidades, colocando.as em contato, O modelo c@ io” concepcao vertical, do alto, excludente, hierarquica, desigual, totalizante. Antes de tudo, 0 cariter reticular da organizagio se manifesta emg im-respeito pelas diferencas ‘A aceitagao da diversidade se contrapée 8 homogeneizacao (’McDonaldi- Zago") da globalizagao vinda do alto: a diferenciagio a uni- formizagéo. Contra a filiago exclusiva a uma organizacio enfatizam-se as m : Segundo um ativista de Bolonha, “[creio que] um dos maiores avancos seja 0 de se poderdizernum dia, vou a festa da taxa Tobin, noutro dia, [vou] & da Rede Lilliput ou visto meu macacio brancé... A forca deste movimento é justamente o fato de vocé poder fazer coisas e aderir coisas, dar sua contribuigao mesmo se no concorda fielmente com tudo, pode concordar as vezes em 20%, em 30% ete.", (Vincutado 8 mulipi idade, o respeito pela subjetivi- dade & pereebido como aspecto novo e posit. do mi mente:)é o salto que se dé dos anos 1970 até hoe [ fato de'nao existir mais uma homogeneidade, nem tedrica, ._ hem pratica, mas a diversidade ser o objetivo a ser manticlo e fortalecido”. A diferenca é um valor para os atvistas: “€ jus- tamente este 0 desafio, o fato de que cada um que ingressa fo: movimento traz a si mesmo, a propria identidade, a pré- é 0 fato de que depois as coisas ., S#UdariUM pouco, se entrecruzam, se encontram € certas — vis6es se contaminam também com as outras, e no final o que emerge nunca é igual ao que se tinha no inicio’ rnsideram fundamen>> ‘como um obstacule § a¢ao caletiva— isplando os individuos das fontas de salidariedade coletivae aceniuando egoismo ¢ egocentrismo —, nas mablizagdes sobre a globalizago parece desenvolver-se um tipo de tancia que, a0 contrério, respeita a subjetividade. Em con- jos movimen- — 1 tos do passado, afirma-se o valor das experiéncias e capaci- dlades individuais. A énfase est nizacdo: estilo de idades, endo anulé-las na coffiunidade. Como dizem alguns ativistas italianos, “se morre a subjetividade morre um pouco todo o movimento, se nao terminar como todo o resto, como 05 partidos |..] a subjetividade pode mudar o quadro em que se encontra, mas nao pode morrer”; “para mim, a subje- tividade é 0 nosso hi Io ponto de chegada...), Para mim, fazer politica significa também construir uma $0. ciedade em que as subjetividades possam coexist, sejam ricas, porque do.contrario deveriamos nos contentar com o modelo nivelador que nos é imposto [...], evidentemente, queremos lutar porque somos diferentes e construimos uma & subjetividade a partir do contraste com 0 outro que esta dian- te denés|...]; a subjetividade sou eu com aquilo que tenho a dizer, 6 a minha proposta”. Uma pesquisa sobre os grupos locais de Attac-Franga mostrou a rejeigao da idéia do sacrifi- cio pela causa: o ativista ndo quer assimilarse a0 grupo, mas par disposiga0 a prdpria diversidade, percebendo-se como indi vidualidade especifica poredora de recursos. Se tividade Gcalhai20 fo consensial: enquanto 0 fas pelo expedien- te da contagem de votos, 9. método consensual requer um debate orientado para a construgao de uma posicao comum. No decorrer da discussio, o confronto entre posicdes diver- as ajuda a encontrar solucdes melhares. Se o método con- sensual j& havia sido proposto pelo movimento estudantil em suas primeiras fases, e depois fora retomado com mais con- viccdo pelo movimento feminista, ele se revelara, contudo, dificil de administrar, alongando o tempo das decisbes a ponto de cheger a impedir a ago. Muitos grupos do movimento poruma nova globalizagéo retomaram o modelo consensual, elaborando porém novas regras, mais ou menos formaliza- das, que deveriam ajudar a superar os bloqueios & deciséo iados pela permanéncia de diferencas de opiniao, oua ma- nipulagéo do processo por parte de poucos. Uma complexe formalizagao do processo decis6rio orientado ao consenso foi elaborada, por exemplo, pela Direct Action Network (DAN), @(ib-coordenou 0 bloqueio dos delegados em Seattle. No interior dos pequenos niicleos de afinidades que se reme- tem a coordenacao geral, dois “facilitadores” (escolhidos em rodizio) tém a tarefa de animar a discussao, favorecendo a participacao de todos. Quando parece ter-se chegado proxi- mo a um consenso, os fé dores resumem a proposta que surgiu do debate, convidando os participantes a expressar a sua posi¢ao, que pode ir do veto ao apoio, pasando por uma gama de escolhes intermediérias, como 0 néo-apoio, a indi cago de reservas, a abstengo. Como observou uma socié- loga que estudou a evolucao das praticas de democracia par- iva nos movimentos americanos, Francesca Polletta, “um ativista dos anos 1960 ficaria surpreso com o arsenal pro- cedimental que acompanha proceso decisorio democrati- co hoje. Ha papéis formais — cronometristas, faciltadores, observadores de emocdes — e um sofisticado gestual. Le- vantar os dedos, movimentando-os como se estivesse tocan- do piano, significa que se apéia um ponto; fazer um triangulo no ar com o indicador e o polegar das dues maos indica uma preocupagao pelo respeito das regras do processo delibera- tivo; 0 opunho levantado indica a intencéo de vetar a decisao. pressassem a propria oy aprendendo uns com os ou- tos e che: is6es mais faceis de implementar,jus- tamente por ser compartilhadas. Diferenciando-se do que ‘eles critica como ‘estilo californiano’, acusado de privilegiar as emogdes em relago 3s agdes, os grupos pela nova global- zaco procuram combinar consenso e deciséo, com um certo betes ea eovuiorwe @, z pragmatismo que as vezes leva também a aceitar o pi de maiorias qualificadas (freqdentemente os dois tercos) Redes de redes Acestrutura al - ‘tros movimentos {particularmente o movimento das mulhe- res e 0 €m prol da paz), apresenta-se nas mol a globalizacéo em uma versao de acentuada reticularidade, O objetivo torna-se sobretudo o de fa truindo uma rede de in serva um ativista, “uma palavra que a meu ver é chave para uma maneira diferente de fazer politica é o conceito de rela. Go\...; vale mais a capacidade de suscitar e de ampliarrela- es do que a de fazer com que elas venham do alto e, por- tanto, & justamente 0 conseguir relacionar Ambitos diferen- tes, pessoas diferentes para criar ocasides que depois po- dem ser repetidas que, a meu ver, é um patriménio dessas mobilizagdes dos ditimos anos em relagao 6, por si s6, horizontal Anticupulas internacionais e campanhas, mas também 0s protestos em nivel local normalmente sao organizados por estruturas de coordenagao de centenas, se nao tra oNeoliberalismo, organizado pelos zapatistas em agosto de 19%, inicia-se a constituigao de Ago Global dos Povos, ume coalizdo flexivel de centenas de grupos do Sul e do Norte, vinculados por meio de um site na Internet. Como declararé © subcomandante Marcos, porta-voz dos rebeldes de Chia- pas, "essa rede intercontinental de resisténcia sera um meio pelo qual as diferentes resisténcias podem ajudar-se mutua- mente, Essa rede intercontinental da resisténcia ndo 6 uma estrutura organizativa, nao tem uma cabeca ou lideres, ne- ‘nhum comando supremo nem hierarquia". No decorrer dos Dias de Agao Global (0 primeiro foi 18 de junho de 1999), seus atiyistas convocaram protestos simulténeos em diversas Partes do mundo, com repertérios que vio das festas em praca publica as caravanas com distribuicéo de mater formativo aos “go-in", espécie de ocupagées simbélicas. Os sitsin em Seattle haviam sido organizados, como dissemos, pela Direct Action Network, uma redé de grupos que prepa- raré também as manifestagdes em Washington em 16 de abril do ano seguinte. A mobilizacdo contra o G-8 em Génova ha- via sido em boa parte coordenada pelo Forum Social de Gé- nova, para o qual afluiram cerca de 800 grupos de consistén- Cla muito diferente e proveniéncia heterogénea. in- mente para a organi truturas temporérias, elas em geral assumem como nome-a data do evento planejado (J18, N30, A16, $26). Quando es- Ses eventos terminam, as coordenacdes freqiientemente se dissolvem, deixando o testemunho de sua existéncia em uma 1. O site €: . IN. da) pagina de Internet arquivada. Contudo, eles no apenas pa- recem capazes de elaborar projetos de mais longa duracao, mas em alguns casos também de sobreviver no tempo, ainda ue assumindo outros nomes. Por exemplo, o Férum Social de Génova foi inicialmente concebido como um organismo com um horizonte temporal limitado e uma estrutura flexivel, ‘com um uso intenso da Internet para manter os contatos en- tre as organizagdes que aderiram a iniciativa e um conselho de porta-vozes. Os recursos logisticos vinham sobretudo das organizagSes mais estruturadas que aderiram ao Férum So- cial. Em seguida, contudo, a experiéncia de Génova co nuou, quer no Férum Social Italiano quer nos fruns sociais locais que envolveram centenas de grupos, que continuam a ter vida auténoma, em uma agregacao comum que varia em fungo das diversas cidades e iniciativas. A fung&o dos organismos de coordenagéo, assim como de seus porta-vozes, ¢ continuamente rediscutida, com uma tengo ao respeito da autonomia dos diversos componen- tes, até mesmo na tentativa de evitar competig&es entre elas. A busca de didlogo e de consenso, continuamente ressalta- da como valor positive, do ponto de e te 10 valo nto de vista organizativo se tra- duzem uma redescoberta das assembléias, como arenas de glaboragdo de valores comuns, mas também do empenho RO pequeno grupo. Essa busca de formas novas de patticipacSo desen- _ ole se também em nivel local. Jé no passado, movimentos | | sociais (do movimento feminista dos anos 1970 ao movimen- to pacifista dos anos 1980) experimentaram espagos autoge- tidos de comunica¢ao politica em pequenos grupos coesos: que se coordenavam com outros sobre.campanhas especifi- cas ou também sobre temas gerais. Quer para as manifesta ‘ges em Genova quer sucessivamente, esses espagos publi- Cos foram criados nos féruns sociais locais que, surgidos es- pontaneamente em diversas cidades italianas durante a pre- paracdb das manifestagdes contra o G-8, em seguida se mul- tiplicaram ese reestruturaram. O processo de empowerment’ da_comunidade local é, um elemento cent tar o poder, e A estrutura em rede tem vantagens indiscutiveis nos upos mantenham sua identidade auténoma impele a uma participagao ample e a amplas. O fato de que os diver necessério para a mobilizegSo comum. Nao reprimindo as diferengas, o movimento expande seus 2. O conceito de empowerment, ou capacitagéo, remete ao processo_ de reconhecimento, criagao e utilizagdo de recursos e de instrumentos ‘por parte de individuos, grupos e comunidades, emsimesmos eno meio ‘que os circunds, que se traduz em um aumento de poder —psicolagico, sociocultural, poltico e econémico— que lhes permite aumentaraefics- a do exercicio da sua cidadania,Fala-se nesse caso de “cidadari grupos de referéncia potenciais. J a propésito das manifes- {ages em Seattle, Starhawk observara que "a fluidez tornao ‘Movimento capaz de se adaptar a répidas mudangas; os gru- pos G8 afinidade, com uma alta responsabilidade pessoal, sé0 menos permedveis & fragmentago — embora seja resolver 0s contrastes internos, superar a competigao, nao. *| deixar cooptar, definir critérios de representatividade, plura- imo”. Como ressalta a descrigio de Aguiton da ago dal Direct Action Network, uma organizacdo flexivel facilitsfam- « 'bém ages mais explosivas, reduzindo os rscos de repres- so: “Duas ou trés vezes por dia, pouco antes da manifesta- ga0, a DAN estabelecera as reunides dos porta-vozes dos Grupos de afnidade, os spokecouncils, para aribuir papéis e tarefas precisas, proteger as varias zonas e estabelecer a or. ganizagao de formagées especificas ¢ estratégias de luta néo- violenta, Varias centenas de pessoas participam dessas reu- nides. Os militantes so sempre avisados no iltimo momen- to por telefones celulares, para afastar o risco de uma inter- vengao da policia’, Arecusa de uma li rmanente limita os peri- gos de personalizaco ou oligarquizago. A pluralidade de grupos, fundagées, Igrejas, intelectuais, associagbes e comu- nidades reduz o peso da identifi a nitagdo, © 0 conseqiiente risco de uma burocratizacio, en- tendida também no sentido da predomindncia das dinami: 9s de sobrevivncia da organizacao em relagio & realizagio dos objetivos. A estrutura federativa permite tanto uma mo- eficiente. Em Seattle, por exemplo, observou- Se a perféita preparacSo dos manifestantes: da distibuigso de mapas e acessérios ao centro multimidia independente. Como escreveu a Economist de 11-17 de dezembro de 1999: “As organizagSes ndo-governamentais que afluiram a Seattle eram um exemplo de tudo aquilo que os negociadores do comércio ndo eram. Eram bem organizadas, tinham construl- do coaliades incomuns (ambientalistas e sindicalistas, por exemplo, superaram antigas divis6es para agir juntos contra a OMC). Tinham uma agenda clara: impedir as negociacdes. E eram muito habeis na utilizaco dos meios de comunica- 40 de massa”, A.estrutura descentralizada 6 apresentada como recu- sa explicita da centralizacgo das grandes corporacées, a dis- perso do poder como contraproposta a concentracio do poder. Uma pesquisa recente destacou justamente 0 cresci- mento de otganizagSes néo-governamentais reticulares na forma de éoalizbes pouco coordenadas, possibilitadas pela reducio dos custos da comunicagio, mas também mais har ‘moniosas em relacdo a uma cultura individualizante. De res- to, a evolucao da centralizagao hierarquica a estrutura reticu- {arrefere-senao apenas as organizagées de movimentos, mas também a empresas econémicas e administragées piblicas, dada a oficacia das reticulas em reduzir os custos de coorde- nago e facilitar a transmisso ao centro das informacées obtidas na periferia. Permanecem, contudo, algumas dificuldades das es- truturas reticulares, ligadas particularmente ao alto investi- inento de tempo necessério & tomada de decisées e ao risco de fragmentagio, sobretudo nas fases de refluxo da mobi zago. Como se esta evidenciando na experiéncia dos foruns sociais, os diversos componentes do movimento as vezestém dificuldade em se manter ligados, tendendo a prevalecer a desconfianga em relagdo ao compromisso politico nos gru- pos catélicos, as tenses da politica nacional na ala mais pro- xima a “antiga esquerda”, a busca de formas autonomas de expresso do conflito social entre os Disobbedienti. O Fé- rum Social Italiano, criado em Florenga em outubro de 2001 como coordenaco dos féruns locais, de fato tem de enfren- tar varias dificuldades; so freqiientes as criticas de persona- lismo dirigidas aos porta-vozes, e muitas vezes expressa-se © temor de que a coordenagao funcione como “intergrupos", mais que como arena deliberativa. O ideal da democracia deliberativa, baseado em uma abertura as argumentagSes dos outros, exige efetivamente altas doses de confianga rect Ga e solidariedade, muitas vezes mais presentes em nivel o- cal que em nivel nacional. A énfase no consenso nao elimina anecessidade, mais ou menos freqiente, de decises majo ritarias, nem o problema da representatividade e do controle aspattir de baixo de delegados e porta-vozes. A estrutura descentralizada € definida como mais adequada a extenséo dgsmobilizacio que & elaboracdo de propostas de sintese jancias &instrumentalizagdo por parte das organizagées | | cade um modelo di mais bem estruturadas, assim como a pouca transparéncia los préprios ativistas, que ainda assim acreditam em sua bus- ferente de democracia interna. Mais em geral, teme-se que a necessidade de uma estrutura organi- zativa mais estavel futuramente gere no movimento conflitos relevantes sobre a concepgao e a pratica da democracia Umaesfera publica virtual? ‘A.capacidade de mabilizaco de grupos tio hetero-

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