Você está na página 1de 119

MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS

CONTRIBUIÇÕES PARA POLÍTICAS


2001 – Comissão Nacional de População e Desenvolvimento
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
É permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.
1o Edição – 2001

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: Ministro Martus Tavares


Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: Presidente Roberto Borges Martins
Comissão Nacional de População e Desenvolvimento: Presidente Elza Berquó
Coordenadora da Publicação: Mary Garcia Castro

Edição, distribuição e informações:


Comissão Nacional de População e Desenvolvimento
SBS, Quadra 01 – Ed. BNDES – 8o andar – sala 817 – Asa Sul
Tel: (61) 315-5489 – 315-5120 – Fax: (61) 315-5183
Endereço Eletrônico: www.cnpd.gov.br
CEP: 70076-900 – Brasília – DF – Brasil

Capa: Germana Monte-Mor


Projeto Gráfico e Produção: Vila Velasco Comunicação

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Migrações Internacionais : Contribuições para Políticas, Brasil 2000 /


Coordenadora Mary Garcia Castro. - Brasília : CNPD, 2001.
672 p.
Inclui Referências Bibliográficas

ISBN

1. Migrações Internacionais. 2. Políticas Públicas. I. Castro, Mary


Garcia. II. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. III. Comissão
Nacional de População e Desenvolvimento. IV. Seminário sobre
Migrações Internacionais : Contribuições para Políticas, Brasil
2000 ( 2000 : Brasília, DF )
CDD – 20. – 304.82
MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS
CONTRIBUIÇÕES PARA POLÍTICAS

CNPD
COMISSÃO NACIONAL DE POPULAÇÃO
E DESENVOLVIMENTO

BRASÍLIA, AGOSTO DE 2001


PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Fernando Henrique Cardoso

MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO


Ministro Martus Tavares

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICAD A


Roberto Borges Martins

CNPD – COMISSÃO NA CIONAL DE POPULAÇÃO E DESENV OLVIMENTO

Elza Berquó – Presidente

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão


Secretaria-Geral da Presidência da República
Ministério das Relações Exteriores
Ministério da Justiça
Ministério da Saúde
Ministério da Previdência e Assistência Social
Ministério do Trabalho e Emprego
Ministério da Educação
Ministério do Meio ambiente

Eduardo José Viola


Eduardo Rios Neto
Euclides Ayres Castilho
José Alberto Magno de Carvalho
Mary Garcia Castro
Russel Parry Scott
Sônia Onufer Corrêa

SBS – Q. 1 – Ed. BNDES – 8o andar – sala 817 – 70076-900 – Brasília–DF


Fone: (61) 315-5489 / 315-5120 – Fax (61) 315-5183
e-mail: cnpd@ipea.gov.br
SUMÁRIO

A GRADECIMENTOS 9
PREFÁCIO
Elza Berquó 11

QUADROS REGIONAIS E POLÍTICAS 13


MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E POLÍTICAS
ALGUMAS EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
Mary Garcia Castro 15
POLITICAS DE MIGRACIONES EN AMERICA LATINA:
LAS RESPUESTAS GUBERNAMENTALES Y DE LA
SOCIEDAD CIVIL EN LA DECAD A DE LOS ’90
Lelio Mármora 33
MIGRACION, INTEGRA CION REGIONAL
Y LA EXPERIENCIA DE LA CONFERENCIA REGIONAL
SOBRE MIGRA CION O GRUPO DE PUEBLA
Ernesto Rodríguez Chávez 45

BRASIL - GOVERNO E PARLAMENTO 61


CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMIGRAÇÃO
NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto 63
LIVRE CIRCULAÇÃO DE TRABALHADORES NO MERCOSUL?
Marcílio Ribeiro de Sant’Ana 73

ATENDIMENTO CONSULAR A BRASILEIROS NO EXTERIOR


Ministério das Relações Exteriores 95
O PARLAMENTO E AS MIGRAÇÕES INTERNA CIONAIS
Marcia Sprandel 97

BRASIL - EXPERIÊNCIAS DE POLÍTICAS 121


MOVIMENTOS E POLÍTICAS MIGRATÓRIAS EM PERSPECTIVA
HISTÓRICA: UM BALANÇO DO SÉCULO XX
Lená Medeiros de Menezes 123

IMIGRAÇÃO E NACIONALISMO: O DISCURSO


DA EXCLUSÃO E A POLÍTICA IMIGRATÓRIA NO BRASIL
Giralda Seyferth 137

ENTRE A “FORTALEZA” DA EUROPA E OS LAÇOS


AFETIV OS DA “IRMANDADE” LUSO-BRASILEIRA:
UM DRAMA FAMILIAR EM UM SÓ ATO
Bela Feldman-Bianco 151
DESLOCADOS , REASSENTADOS, CLANDESTINOS, EXILADOS ,
REFUGIADOS , INDOCUMENTADOS… AS NO VA S
CATEGORIAS DE UMA SOCIOL OGIA DOS DESLOCAMENTOS
COMPULSÓRIOS E DAS RESTRIÇÕES MIGRATÓRIAS
Carlos B. Vainer 177

TENDÊNCIAS E SISTEMAS DE INFORMAÇÕES 185


PERFIL DOS ESTRANGEIROS NO BRASIL SEGUNDO
AUTORIZAÇÕES DE TRABALHO (MINISTÉRIO DO TRABALHO
E EMPREGO) E REGISTROS DE ENTRAD AS E SAÍD AS
DA POLÍCIA FEDERAL (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA)
Rosana Baeninger e Carla Leoncy 187

ESTIMATIVA DOS SALDOS MIGRATÓRIOS INTERNACIONAIS


E DO NÚMERO DE EMIGRANTES INTERNACIONAIS DAS
GRANDES REGIÕES DO BRASIL - 1986/1991 E 1991/1996
José Alberto Magno de Carvalho, Marisa Valle Magalhães,
Ricardo Alexandrino Garcia e Weber Soares 243

O RETORNO DA MIGRAÇÃO INTERNA CIONAL COMO COMPONENTE


D A DINÂMICA DEMOGRÁFICA BRASILEIRA – ATÉ QU ANDO?
Juarez de Castro Oliveira 253

O CENSO 2000 NO MERCOSUL : UMA EXPERIÊNCIA TRANSNA CIONAL


Alicia Bercovich 275

BRASILEIROS NO EXTERIOR 281


BRASILEIROS NA AMÉRICA LA TINA :
O QUE REVELA O PROJETO IMILA -CELADE
Rosana Baeninger 283

BRASILEIROS NA GUIANA FRANCESA :


UM GRUPO EM VIA DE INTEGRAÇÃO?
Ronaldo Arouck 327

“BRASIGUAIOS”
Tomás Palau 345
SEGUNDA GERAÇÃO DE EMIGRANTES
BRASILEIROS NOS EUA
Teresa Sales 361

A EMIGRAÇÃO BRASILEIRA E OS PEQUENOS EMPRESÁRIOS


Ana Cristina Braga Martes 375

A QUESTÃO CULTURAL E A DISCRIMINAÇÃO SOCIAL


NA MIGRAÇÃO DE BRASILEIROS AO JAPÃO
Lili Kawamura 395

BRASILEIROS (AS) NA ITÁLIA :


NUOVI CITTADINI OU EXTRACOMUNITARI?
Lucia Maria Machado Bógus e Maria Silvia C. Beozzo Bassanezi 409
REDES SOCIAIS NAS MIGRAÇÕES ENTRE
G OVERNADOR VALADARES E OS EST ADOS UNIDOS
Wilson Fusco 427

NOVOS IMIGRANTES 447


AFRICANOS NO BRASIL: UMA AMEAÇA AO PARAÍSO RACIAL
Samuel Santana Vida 449

OS ESTUDANTES AFRICANOS NO BRASIL


E O PRECONCEITO RACIAL
Alain Pascal Kaly 463

“PERSONAE NON GRATAE?” - A IMIGRAÇÃO


INDOCUMENTADA NO ESTADO DO AMAZONAS
Carlos Augusto dos Santos, Marília Carvalho Brasil
e Hélio Augusto de Moura 479

HISPANO -AMERICANOS NO BRASIL :


ENTRE A CID ADANIA SONHADA E A CONCEDID A
Sidney A. da Silva 489

ESTRANGEIROS NO BRASIL E MERCADO DE TRABALHO 503


ESTRANGEIROS, NATURALIZADOS E BRASILEIROS NA TOS
NO MERCADO DE TRABALHO : EXPL ORANDO O CENSO
E PNADS (1980-1998) E ALGUMAS LEITURAS D A MÍDIA
Mary Garcia Castro e Antônio Tadeu Oliveira 505

PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E ESTRANGEIROS


NO BRASIL EM UM CONTEXT O NEOLIBERAL
Carlos Eduardo Soares de Freitas 525

DIREITOS HUMANOS, SOCIED ADE CIVIL E TURISMO SEXUAL 545


MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E
A SOCIEDADE CIVIL BRASILEIRA
Marcia Sprandel 547

MIGRAÇÕES INTERNA CIONAIS E A SOCIED ADE


CIVIL ORGANIZADA : ENTIDADES CONFESSIONAIS
QUE ATU AM COM ESTRANGEIROS NO BRASIL
E COM BRASILEIROS NO EXTERIOR
Rosita Milesi, Margherita Bonassi e Maria Luiza Shimano 563

“GRINGOS” NOS TRÓPICOS : GÊNERO E NA CIONALID ADE


NO MARCO DO TURISMO SEXUAL EM FOR TALEZA
Adriana Piscitelli 589

REFERÊNCIAS 613
NOVOS MIGRANTES DO E PARA O BRASIL:
UM BALANÇO DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Gláucia de Oliveira Assis e Elisa Massae Sasaki 615
8
AGRADECIMENTOS

Muitos colaboraram para a realização do Seminário sobre Migrações


Internacionais–ContribuiçõesparaPolíticas,Brasil2000,convocadopela
Comissão Nacional de População e Desenvolvimento – CNPD. O Seminário,
realizado no Palácio do Itamaraty, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2000,
teveorigemnomandatodaComissão,criadapara,entreoutrosobjetivos,
identificaremapearasquestõesdesegmentosdemográficosespecíficos,
levando,aosformuladoresdepolíticaspúblicaseaopúblicoemgeral,os
anseiosdessaspopulações.
Ao nos debruçarmos sobre o complexo universo dos migrantes,
convocamos um pequeno grupo de pessoas atuantes na área para, juntos,
definirmoscomopoderíamoscontribuireidentificarpessoasougruposcuja
Migrações
colaboração ampliaria o escopo de nossa tarefa. O Grupo de Trabalho daInternacionais:
CNPDsobreMigraçõesInternacionaissofreuváriasalteraçõesaolongodContribuições
o
ano de organização do Seminário, mas todos contribuíram. Pudemos contar Políticas
para

comaProfessoraBelaFeldman-Bianco,doCentrodeEstudosdeMigrações
Internacionais–CEMI/UNICAMP;oProfessorJoséAlbertoMagnodeCarvalho,
Diretor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da
Universidade Federal de Minas Gerais e membro da CNPD; Embaixador
Lúcio Pires do Amorim, então Diretor do Departamento de Assuntos 9
ConsulareseJurídicosdoMinistériodasRelaçõesExteriores;Dr.LuizPaulo
TelesBarreto,DiretordoDepartamentodeEstrangeirosdoMinistérioda
Justiça;DrªMarciaAnitaSprandel,AntropólogadaUniversidadedeBrasília;
Dr. Marcílio Ribeiro de Sant’Ana, Coordenador Alterno do Subgrupo de
Trabalho“AssuntosTrabalhistas,EmpregoeSeguridadeSocial”doMERCOSUL
(SGT 10) do Ministério do Trabalho e Emprego; Drª Rosita Milesi,
Coordenadora do Departamento de Direito e Cidadania do Centro
Scalabriniano de Estudos Migratórios – CSEM; e Drª Teresa Sales,
Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População – NEPO/UNICAMP. O GT
contoucomaeficienteecompetenteCoordenaçãodaDrªMaryGarciaCastro,
então pesquisadora do Centro de Recursos Humanos – CRH/UFBA, do CEMI/
UNICAMP e membro da CNPD. A todos, nossos agradecimentos.
O Ministério de Planejamento, por meio do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, em muito colaborou na viabilização quer do
Seminário quer desta publicação, contando-se com o apoio especial do
PresidentedoIPEA,Dr.RobertoBorgesMartinsedesuaequipe.
O Seminário não teria sido o que foi sem a colaboração do Ministério
deRelaçõesExteriorese,emparticular,doEmbaixadorRuyVasconcelos,
atual Diretor do Departamento de Assuntos Consulares e Jurídicos. Do
mesmo Departamento, destacamos o apoio e interesse, em distintos
momentosdesseprocessoedospreparativosdestapublicação,doSecretário
Ralph Peter Henderson.
O Fundo de População das Nações Unidas e a Representação Regional
paraoConeSuldaAméricaLatinadaOrganizaçãoInternacionaldeMigrações
–OIMapoiaramarealizaçãodoSeminárioeapresentepublicação.Aambas
asorganizaçõesregistramosnossosagradecimentos.

Migrações
Os trabalhos apresentados naquele Seminário foram objeto de análise
Internacionais: porpareceristasexternos,oqueemmuitoajudounaseleçãodostextosque
Contribuições
para Políticas
integram esta publicação e na revisão daqueles selecionados, por seus
autores.Porseudesempenhoequalidadetécnicadospareceres,agradecemos
aos Drs. Carlos Bernardo Vainer, Hélio Moura, Alícia Bercovich, Daniel
Hogan,FaustoBrito,AntônioMoreiradeCarvalhoNeto,JoséIrineuRangel
RigottieJoséMarcosCunha,eSecretarioRalphPeterHenderson.

10 AgradecemosàVictoriaLobo,assessoradapresidênciadaCNPD,porsua
destacadaparticipaçãoquerparaaviabilidadeadministrativadoSeminário,
quernoprocessodeediçãodestapublicação.

ElzaBerquó
Presidente da CNPD

In Memorian
Ao Dr. Ronaldo Arouck, autor de um dos trabalhos desta publicação,
eaoDr.PedroGarcia,participantedoSeminárioeativomilitantepelos
direitoshumanosdosimigrantesedosbrasileirosnoexterior–ambos
falecidosapósoSeminário.
PREFÁCIO

O descompasso temporal com que se deu a transição demográfica no bloco dos


países com economias desenvolvidas e vem se dando no das economias em desen-
volvimento coloca no mundo contemporâneo uma situação pelo menos parado-
xal.Oprimeirobloco,queconcentraosmaioresPIBsdomundo,enfrentasérias
dificuldadesquantoaodeclíniopopulacionaleaoenvelhecimentodesuapopula-
ção –fenômeno decorrente, de um lado, de continuadas taxas de fecundidade
abaixo do nível de reposição e, de outro, do aumento da longevidade. Com isso,
necessitadeumaverdadeira“transfusãopopulacional”,vindadefora,parareju-
venescersuaspopulaçõeseevitarocrescimentonegativo.Jáosegundobloco,com
grandescontingentesdepopulaçãoemidadeprodutiva,emconseqüênciadealtas
taxas de fecundidade no passado e do progressivo declínio da mortalidade, en-
frentasériasdificuldadesdetrabalhoeemprego. Migrações
Internacionais:
Essacombinaçãodenecessidadedepopulaçãoenecessidadedetrabalhogeraos Contribuições
para Políticas
fluxos de migrantes documentados–osquesatisfazematodososrequisitoslegais
paraentrar,permanecereexercerumaatividadeeconômicanopaísdedestinação
– e mesmo não-documentados–aqueles que não preenchem tais exigências.
Apreocupantesituaçãodemográficadospaísesricosmotivouumestudorecen-
te da Divisão de População das Nações Unidas, que mostra que sem migração 11
internacionalaperdadepopulaçãoémuitomaior,emaisrápidoseuenvelheci-
mento.Umexercíciodeprojeçãoaté2050procuraavaliar,diantedevárioscená-
rios, até que ponto a chamada migração de reposição é uma solução para atenuar
essastendências.Migraçãodereposição,entendidacomoamigraçãointernacio-
nalnecessáriaparafrearodeclínionotamanhototaldeumapopulaçãoedeseu
contingenteemidadeprodutiva,econterseuenvelhecimento.
Na Europa, por exemplo, o número de migrantes necessário para manter cons-
tante o total populacional de 1995 até 2050 será de 100 milhões de pessoas, ou
seja, 1,9 milhão por ano. Será bem maior o número de migrantes requerido para
manter no nível de 1995 a população em idade produtiva (de 15 a 64 anos):
4,5 milhões/ano. E para manter a “razão potencial de suporte”– arelação
entre a população em idade produtiva e a de 65 anos ou mais, que em 1995 era
de 4,8 –,a Europa precisará de uma migração de reposição de 28 milhões/ano, o
queéevidentementeimpraticável.Daíasconsideraçõesatuaisdequedevamudar
de 65 anos para 75 a idade da aposentadoria, as quais vêm encontrando sérias
resistênciasdoseuropeus.
Outro aspecto a levar em conta nesse cenário é que, em 2050, 17,5 % da popu-
laçãoeuropéiaseriaconstituídademigrantesláchegadosapós1995eseusdes-
cendentes. Essa proporção sobe para 25,8 % no cenário de constância da popula-
ção em idade produtiva e para 74,4 % no último cenário, com constância da
razãopotencialdesuporte.

Quando os governos falam em migração de reposição, referem-se a migrantes


documentados que satisfaçam aos requisitos em cada país, ou seja, trata-se de
umamigraçãointernacionalseletiva:migrantesemidadesmaisprodutivasecom
ashabilidadesdequeprecisaopaísreceptor.Ocorre,porém,quenospaísesem
desenvolvimentoaforçadetrabalhocontinuaacrescer,aumentandoaspressões
migratóriasquelevamgrandescontingentesnãopossuidoresdaquelesrequisitosa
searriscaremaentrardeformairregularnospaísesdesenvolvidos.
Alutapelasobrevivênciaexpõeessesmigrantesnão-documentadosatodasorte
de vulnerabilidades e exploração. Documentados ou não, eles freqüentemente en-
frentamreaçõesnegativasdaspopulaçõeslocaisnaformadeetnocentrismo,xeno-
fobismoeracismo,adespeitodeváriosdocumentosinternacionaisqueinstamos
governosarespeitaradignidadeeosdireitoshumanosdetodososmigrantes.
Migrações
Internacionais:
Outrosmúltiplosecomplexosfatores,inclusiveviolaçãodedireitoshumanos,
Contribuições têmfeitocrescerasentradasclandestinasderefugiadosemoutrospaíses,nãone-
para Políticas cessariamentedochamadoPrimeiroMundo.Tentamescapardeperseguiçõespolí-
ticas,étnicasoureligiosas.EmboraaConvençãoreferenteàsituaçãodosrefugia-
dos date de 1951 e o Protocolo que estabelece normas para sua proteção seja de
1967 –ratificados ambos por dois terços dos países do mundo–,oPlanodeAção
do Cairo–94 e o Relatório do Cairo + 5 continuam chamando a atenção para a
12 necessidadedeapoioeajudainternacionalaorefugiado,emespecialàmulhereà
criança,quesãomaisvulneráveis.

Esta publicação é dedicada a todos aqueles que tiveram de deixar–comentu-


siasmoousacrifícioesofrimento,massobretudocoragem–seupaís,seuestado,
sua cidade, sua comunidade, sua aldeia, sua rua, sua casa, sua família, como
única ou última alternativa para realizar um sonho, para fugir da pobreza e
degradaçãoouparaserefugiardetodasortedeperseguições.Partircomopensa-
mentodeumdiavoltar,oudetrazerparajuntodesiosqueficaramparatrás,ou
de provê-los com recursos para a sobrevivência onde ficaram–esseéumprocesso
quemesclaexpectativa,esperançadeumnovoporvir,etambémdesencanto,frus-
traçãoedesespero.Éresponsabilidadedetodosnóslutarpelagarantiadeseus
direitosedignidade,estejamondeestiverem.

Elza Berquó
QUADROS REGIONAIS E
POLÍTICAS Migrações
Internacionais:
Contribuições
para Políticas

13
14
MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E POLÍTICAS
ALGUMAS EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS

Mary Garcia Castr o *

BLOCO REGIONAL NA AMÉRICA LA TINA, DIREIT OS HUMANOS E MIGRAÇÕES


INTRODUÇÃO

Exploronestetextoapropriedadedeconjugaraóticadedireitoshumanos notratodasmigrações
internacionaiscomoalertasobreaquestãodasrelaçõesentreEstadoseformasdeafirmaranação,
comoarelaçãocrescenteentremigraçãoedebatessobreintegraçãoeformaçãodeblocosregionais.
Aofinalrefiro-meacontribuiçõesdetextosapresentadosquandodoSeminárioInternacionalMigra-
çõesInternacionais-ContribuiçõesparaPolíticas,promovidopelaCNPD(ComissãoNacionaldePopu-
laçãoeDesenvolvimento),1amaioriaintegrantesdestapublicação,parapensarpolíticaspúblicas.
Entre1999e2000,duranteaorganizaçãodoSemináriocitado,participamosdeencontros
comfuncionáriosdeEstadoparalidarcomotemamigraçõesinternacionaisnaAméricaLatina,
quetiveramlugaremLima,BuenosAires,MontevidéueSantiago,entre1998e1999.2 Migrações
Internacionais:
Ressaltoapreocupação,emtaisforos,dequeosgovernosconcertemmodelagemprópriade Contribuições
governabilidadedamobilidadedapopulaçãoentrefronteiraseorientadasparaáreasextra-continen- para Políticas
taisatravésdeumainstânciaregionalsul-americana;umforodedebateseconsultassobremigrações
internacionaiscomaparticipaçãodegovernosederepresentantesdasociedadecivil,taiscomoa
academiaeentidadesquelidamcomassistênciaetrabalhoadvocacionalcom/paraosmigrantes.
Muitosparticipantesdetaisforosinsistiamnoreconhecimentodapropriedadedenexosde
qualquerinstânciaconsultivaregionalsobremigraçõescomoMercosuleaimportânciadesse
15
bloco,aindaemtermosdepotencialidade.Oudodeverser, sedosocialedosdireitosdemigrantes
edeequiparaçãodedireitosdenacionaisdospaísesmembrosdequesetrata(comobemanalisa,
nesteSeminário,odr.MarcílioSantana).
Apremissasubjacenteatalleituraéque,relacionadaaoMercosul,porserumforosul-ameri-
cano,haveriamaispossibilidadesdeemprestarumatônicadedireitoshumanosaacordosmultie
bilateraiscomincidêncianoirevirtransfronteirasefrisaratônicaregionalsul-americanaauma
institucionalidaderegionalsobremigrações.
JánoplanodaALCA,ingerênciasdepaísescomoosEUA,emquepredominamfortesrestriçõesàs
entradasdemigrantes,possivelmenteemmuitoafetariaatônicaquerdedireitoshumanos,querde
afirmaçãodeidentidadelatino-americana.

* Coordenadora do Grupo de Trabalho Migrações Internacionais da CNPD (Comissão Nacional de População


eDesenvolvimento),períodol999/2000;CoordenadoradePesquisadaUNESCO-Brasil;PesquisadoraAssociada
doCentrodeEstudosdeMigraçõesInternacionaisdaUniversidadeEstadualdeCampinas;BolsistadoCNPq
eProfessoraaposentadadaUniversidadeFederaldaBahia.
1
Agradeçoà drªElzaBerquóaindicaçãoparacoordenaroGrupodeTrabalhoMigraçõesInternacionais(queno
âmbitodaCNPDorganizouoSeminário),suacolaboraçãoecríticasaestetexto.
2
TaiseventoscontaramcomacolaboraçãodarepresentaçãodaOIMnaAméricaLatina.AgradeçoàOIM,através
dodr.LélioMármora,apossibilidadedeparticipardessesforos.
Acombinaçãoentrepolíticasbilaterais,comumtratamentomultilateralecomaparticipação
deváriospaísesdeumaregiãosobrecirculaçãodepessoas,ocorreemtemposdereconhecimento
dosblocosregionaiscompaísescomalgumasimetrianoplanoeconômicoeemsuasrelações
históricasatéumcertoponto,guardadososlimitesdesistema,formasdeconstituir-senãocontra
hegemonias,camposdeforçanasrelaçõescomoutrospaíses,emparticular,osEUA.Umdesafio
quetemprecedência,porém,éoformatodosblocosregionais,istoé,olugardopovo,danação,
nasrelaçõesentreEstados,noEstadoeacorrelaçãodeforçasemnívelregionalemundialparase
solidificar. Primeiramenteosblocos,comooMercosul,edepoisolugardotrabalho,dacirculação
depessoasnoâmbitodetalbloco.Ahipóteseimplícitaéqueumacoordenaçãoregionaldasmi-
graçõespoderiaterdiferenteacento,serelacionada,porexemplo,aoMERCOSUL-commaior
representaçãodevozesdeEstadoslatino-americanosquenoâmbitodaALCA-considerandoa
possívelhegemoniadosinteressesdosEUAemtalformação.Entretanto,emambososformatos
(MERCOSULouALCA),olugardanação,darepresentaçãodasdiversasclassessociaiséuma
incógnitaedependerádesuasrepresentações.(Voltoemoutroespaçoamereferiraonexoentre
integraçãoregionalepolíticasdepopulação.)

BREVE REFERÊNCIA À LITERA TURA SOBRE


MIGRAÇÕES INTERNA CIONAIS E POLÍTICAS

Umavistadeolhosnaliteraturasobremigraçõesinternacionaissugerequenosanos70desta-
cam-seastesesquerelacionavamamobilidadedotrabalhoàmobilidadedocapital,produçãoe
Migrações reproduçãodaeconomiapolíticaefasesdocapitalismomundialintegrado[Amim,1974,entre
Internacionais e
Políticas: Algumas
outros].Assimcomonosanos80,adifusãoefortalecimentodaglobalizaçãodaeconomiaefor-
Experiências mação das “cidades globais”[Sassen,1988].Tambémdadécadade80,osestudosquechamariam
Internacionais atençãosobreasredessociais(osqueficameosquevão,atransmigração)eadiversidadede
Mary Garcia Castro sujeitosedevivênciasdasmigrações.Escrevia,em1984,Morokvasic:

“Temos,hoje,anossodispor,umconsiderávelacervodeestudosecertava-
riedade,aindaquenãonecessariamenteadequada,deevidênciasestatísti-
16 casedeoutrasfontesdeconhecimento,convencionalemenosconvencio-
nal, sobre mulheres na migração internacional. Vem se tornando cada vez
mais evidente que a migração de mulheres, assim como a migração em
geral,nãopodeseranalisada,tendocomoreferênciaaofertadejovens,
homens adultos que respondem à demanda de emprego no setor formal da
economia.”[Morokvasic1984:899InCastro,1986:XVIII.]

Novosagentes,comoasmulhereseosjovens,saemdainvisibilidade,sufocadosnasmédiase
estatísticasgenéricas,emmeadosdosanos80,quandoseescrutinaoprivadoeasrelaçõesentreo
públicoeoprivado,ovalordotrabalhodasmulheresmigrantes,nacasa-e-no-mercado,suavul-
nerabilidadeàsviolênciasdomésticaseinstitucionais,querporbarreiraslingüísticas,não-sociali-
zaçãocomaparatosburocráticosedistanciamentodogrupofamiliar,porexemplo,assimcomo
seusganhoscomamigração,quantoàliberdadedecirculaçãoeautonomiafrentearepressõese
amarrascomunitáriasefamiliares.
Maisrecentementevir-se-iatambémasdenúnciassobreotráficodemulheresbrasileiraspara
oexterioreocrescimentonoBrasildoturismosexual.Emtermosmundiais,otráficodemulheres
éconsideradocomoaterceiramaiorfontederendaparaocrimeorganizado,sóperdendoparao
comércioilegaldedrogasearmas.EstimativasdaInterpolsugeremqueoslucrosestariamem
tornodenovebilhõesdedólares/ano.NoBrasilapenaparatalcrimevariadedoisaoitoanosde
reclusão,sendoquedel996a2000ocorreram94condenaçõesportráfico(artigo231doCódigo
Penal).Maséconsensoquetaisdadosestariamsubestimados,jáqueasvítimastemeriamporsuas
vidasoupelapossibilidadededeportaçãoemrazãodadenúncia.Estima-sequecercade15%das
mulherestraficadasseriamorigináriasdoBrasil(dadoseinformaçõesinGailewitch,2001)3.
Contudo,comparativamenteaoquejáseavançouemoutrospaíses,háumvaziodeorganiza-
ções,noBrasil,emespecialdecortefeminista,queatuemnoplanodedefesadosdireitosedas
singularidadesdemulheresmigrantes.DeacordocomtrabalhodeSprandelsobreaaçãoounão-
açãodoParlamentonaáreademigraçõesinternacionais(nesteSeminário),váriasdenúncias
chegamatéàComissãodeDireitosHumanossobretráficodemulheres.Contudo,étímidootraba-
lho delobbyporlegislaçãomaispunitivasobretaiscasos,esobreacordosdeextradiçãoede
julgamentonopaísdeorigemquandoemsituaçãodeviolência.Poroutrolado,sãoesparsasas
denúnciasdagrandeimprensasobreturismosexualetráficodemulheres,masháindíciosdeque
otemaestariamerecendomaioratenção,emespecialpelaimprensadirecionadaàsmulheres.
Sobregêneroemigrações,insisto,háumalacunadeinvestimentoteóricoeconhecimento
empírico.MesmonesteSeminário,empoucostrabalhoshouveapreocupaçãodesingularizar
discriminaçõesdegênero.Aquestãodosjovenstambéméumalacunadosestudosrecentes
sobremigraçãodebrasileiros,seuimaginárioenecessidades,como,porexemplo,seudesen-
cantocomrelaçãoàspossibilidadesdemobilidadesocialnoBrasileassociaçõesentreesse
desencantoeafaltadealternativasdetrabalhocomamigraçãoecomoenvolvimentode
jovensnotráficoenoturismosexual. Migrações
Internacionais:
JánaliteraturasobreoutroslatinoselatinasnosEUA,porexemplo,enfatizam-seasdiferenças Contribuições
entreaprimeira easegundageraçãodemigrantes,novivereimaginarpátrias. para Políticas
Poroutrolado,énaliteraturadosanos90queosEstadoseterritórios,sítiosdostrânsitose
movimentos,sãointerconectados,nãosóentresi,masentreplanos,conjugando-seidentidades
eEstados[Castro1993,Feldman-Bianco,2000,entreoutros].Flexibiliza-seoléxico,questio-
nando-seofuncionalismoeodeterminismoimplícitonasanálisesconhecidascomodaexpul-
sãoe/ouatração.Fala-seemidentidadestransnacionais,transmigraçãoerespostastranscultu-
17
rais[Basch,GlickSchillereSzantonBlanc,1997,Portes,l996eFeldman-Bianco,2000,entre
outros].Também,hoje,háumalertanessestrabalhosparaosnexosentremicroemacropolí-
ticas.E,nessehorizonte,paraasrelações.Ouaintençãoparaqueserelacione,emnívelde
direitoshumanos,migraçõesecidadania,oque levatambémaflexibilizaroconceitode
cidadania,alémdoclássicomodelodeMarshalldosanos40-cidadaniacivil,socialepolí-
tica[inMarshall,T.H.,Cidadania e Classe Social,publicadoem1949].
Insiste-seemdireitostambémacidadaniacultural,bilingüismos,multiplicidadederefe-
rênciasetrânsitosculturais,ouseja,ocircularentreidentidades,temacaroparaasescritoras
latinas, os “povosin between”(expressãodapoetisaporto-riquenhaSandraMariaEsteves,

3
Emnovembrode2000ocorreu, noBrasil,oISeminárioInternacionalsobreTráficodeSeresHumanos,promo-
vido pela UNDCCP (Organização das Nações Unidas para o Controle de Drogas e Prevenção do Crime). Entre as
formasdecombaterotráfico,discutiu-seacriaçãodeumbancodedadosmundial,montadopelaInterpol.Em
dezembrode2000,oministrodaJustiçaassinounaItáliaaConvençãodaONUcontraoCrimeOrganizado
Transnacional,eassimoBrasilpassouaintegraroProgramaGlobalcontraoTráficodeSeresHumanos.“Os
objetivos são mapear o problema, identificar pessoas e grupos que praticam a exploração, as principais
áreas de atuação e as rotas mais importantes e desvendar os métodos de atuação. A Polícia Federal
negocia com o Ministério da Justiça a inclusão das pessoas que delatarem o esquema do tráfico no Pro-
grama de Proteção às Testemunhas. Para incentivar as vítimas a procurar ajuda, os consulados terão
verbaparafinanciaremergências,comotrazerdevoltaasbrasileirastraficadas.”[Gailewitch2001:l8.]
1980,inCastro,1997)quevivemnosEUA,ashifenizadas-afro-americanas,novaiorrique-
nhas, chicanas, cubano-americanas -,cujaproduçãotraztambémamarcadegênerosem
trânsito[Benmayor,1996,cit.in.Castro,1997].

Nãosouafricana.AÁfricaestáemmim,
Masnãopossoretornar.
Não sou taína. O taíno está em mim, mas
nãohámaisvolta.
Nãosoueuropéia.AEuropaviveemmim,
masnãotenhoumlarali.
Eusounova.AHistóriamefez(...).

FilhadasAméricas,poemadaescritoraRosárioMorales,
porto-riquenha,residentenosEUA,deascendênciajudia-européia.
[InBenmayor,1996,citinCastro,1997.]

Seriamtambémtemasdacontemporaneidade,quetambémapontamparaapositividadedo
estrangeiro,aspectopoucoexploradonosbem-intencionadostrabalhossobrepolíticasemigra-
ções,sejanoplanodosimbólicoeculturale/ounarelaçãoentremigraçãoeidentidade,sugerir
queoestrangeiro,aestrangeira,omigranteeamigranteapontariamnãoparaidentidadesfixas,
Migrações masparabuscasdeidentidadeenão-identidades,identidadesemaberto,negociadas(verEagle-
Internacionais e ton,1990sobrenão-identidadeseCastro,2000b,sobrepolíticasdeidentidade).
Políticas: Algumas
Experiências Osestudossobremigraçãohojetransitamporváriasáreas.Transitamdepropriedadedeconhe-
Internacionais cimentosespecíficossobregruposespecíficosparadiálogoscomoutros-outros,quandoseentre-
Mary Garcia Castro cruzamcomosdebatessobreraçaesobregênero.Porexemplo,napreocupaçãocomacríticaà
modernidade,àsdicotomias,àshegemoniaseàshomogeneidadesnaclassesocial.
Nessedesalinhamentoosestudossobremigraçãoganhariamemabrangênciacompreensivaao
18 serelacionaremadebatessobreracismoeintolerânciasatuaiscomrelaçãoaosestrangeiros.Crescea
importância dareflexãosobreosnexosentre ética,direitoshumanosemigraçõesinternacionais,no
planodeconsideraralteridades.Hámuitoqueaprenderquandooutrassubalternidadessãotambém
enfocadas,comoidentidadesdegênero,deraça,declasse,deetnicidadeedereferênciasnacionais.No
questionamentodoqueésermigrante,marcasdapolêmicacontemporâneasobrepolíticadeiden-
tidadesversusidentidadesnapolítica,ourevisãodosmodelostradicionaisdefazerpolítica,em
especialnossindicatos,movimentossociaisepartidosdeesquerda[Castro,2000b].
Paraosquecirculamentremigrantes,indocumentados,comdiversosproblemas,quando iden-
tidadeéantesdetudoumpapel-umvisto-quelhesdêdireitodelegalmenteser,tal reflexãode
Eagleton[op.cit.]edeoutrosautorescríticosdamodernidadesobretransidentidadespodeparecer
especulação,elitismointelectual,teoriasemraízesesemcompromissosocial.Aocontrario,são
utopiasnecessáriaseograndedesafioparaostrabalhosempolíticasécombinaroestarnoaquie
noagora,porumserviço,umprograma,umalei-oactum-eoinvestimentoemprocessos,
mudanças,pensaralongoprazo-oprojectum.Équandocontra-culturaepolíticasemesclam.
Partodahipótesedequeémarcahojedemilenarmovimento,comoodemigrações,intole-
râncias,queseconsubstanciaminclusiveempolíticaseestranhamentos,sentidodeexclusão,de
excesso,deestarforadelugar,queatingeatodos,nãosomenteosmigrantes.Poroutrolado,advogo
quepovosentreoaquieoacolá,oudaquelelugar,sempremaisalém,comoosnão-machos,não-
brancos,osnão-adultoseosnão-nativos,potencializamrespostasquerpor‘particularismosmilitan-
tes’[Williams,InEagleton1995],políticasidentitáriasemsi,ou,utopiamaior,poralquimias,reor-
ganizandototalidadesnãohomogeneizadoras,masblocosderesistência.Alianças,porexemplo,des-
dea,ecruzandoa,raça,aetnicidade,anacionalidade,ogêneroeoutrascategorizaçõesnaclasse.
Integrando,portanto,identidadesnapolítica,reinventandonações(des)(re)territorializadas[Bha-
bha1993;Basch,GlickSchillereSzantonBlanc,1997eFeldman-Bianco,2000].
Entreosparadoxosdacontemporaneidade,Souza Santos[2000]refere-seaoapeloàterritoriali-
dade,à“revalorizaçãodasraízes”,eàtendênciaaotrânsito,migração,mobilidadeedesterritoriali-
zaçãorelativadocapitalequaseabsolutadostrabalhadores,dosdescapitalizados.Estar-se-ia,segun-
doaqueleautor,gestandoumtipopeculiardenacionalismo,relacionadocomaemigração,um
nacionalismoalongadistância,deraízesaéreasquandosere-imaginaapátria,lugar,idéiarefúgio,
comoaumentodasintolerânciaseracismoqueatingemosestrangeiros,osoutrosnospaísesricos.
Váriostrabalhosindicamtambémaimportânciadosmigrantesparaapátriadealém-mares,
querporremessasfinanceiras,querpeloslobbiesnadefesadeinteressesnacionais,oudegrupose
tendênciasnanaçãojuntoàsautoridadesdooutropaís,odeimigração,querporqueemsiperso-
nalizamolugarnaçãooriginal,ouquaseoriginal.Também,porredes,contatos,internetações,
modelar-se-ia,aindaquetimidamente,cidadaniasglobalizadas,entreéticaesolidariedadenão
comooutro,mascomosoutrosemmim. “OHaitiéaqui” (músicadeCaetanoVeloso).
Outrotemaqueviriaseconsolidandohojenocampodosdebatesdamigraçãoseriaasua
relaçãocomcidadanias-social,civil,políticaecultural-enãomaisapenaspelosindivíduos
migrantes,ougruposdesolidariedadeeagênciasnão-governamentais,mastambémpelosEstados Migrações
Internacionais:
nacionais[Feldman-Bianco,2000].Amigraçãoemmuitoscasos,adependerdosEstadosenvolvi- Contribuições
dos,ématériabásicaderelaçõesinternacionais,pontodebarganhapolíticaeeconômica,como para Políticas
porexemplo,nocasodasrelaçõesentreEUAeMéxicoeEUA eCuba.Maisdoqueascaracterísticas
dosmigrantes,estariamnamesadenegociações,oudebaixodessa,osinteressesdeEstados,nem
sempredecooperação,nemsemprerelacionadoscomnecessidadesdegrupos,pessoasemexclu-
sões.Ascotasdemigraçãosãocontidasouampliadas,asorientaçõessobreprivilégioseconcessões
devistossãomudadasaolongodahistóriadoembargocontraCubaimpostopelosEUA.Eonde
ficalaseñoraMaria,moradoradeMiami,queeconomizouduranteanosparavisitarseufilhoem 19
Havana,masnãopodeviajarpor“razõesdeEstado”,por umaleidoDepartamentodeEstadodos
EUA,desarquivadasegundoconjunturaspolíticasderelaçõesentreEstados?
Defato,nãosomenteovolumedepopulaçãomigrante,masprincipalmenteinteresseses-
tratégicos,dedistintasordens,fazemotemadamigraçãoserpartedaagendadeEstados,ou
melhor,darelaçãoentreEstados.Eesteéotemaquemaisgalvanizaaatençãonoplanode
análisesmacroreferenciadasquantoapolíticas.
Emoutrostermos,oquevemacontecendoemtornodasmigrações,suascodificações,in-
clusivenoplanodeEstados,eoquesugerequepodevirasedesenharcomoalternativa,ultra-
passaosindivíduosdiretamenteenvolvidosnosfluxosmigratórios,pormaisterríveisquesejam
seusdramasdedesenraizamento.Pormaisbelasquesejamasaventurasdosestrangeiros,as
autoealterdescobertasdosquemigram.Osdiversossignificadosdasmigraçõesparaosindiví-
duos,paraosEstadoselugares,hoje,sãosinaisdessesambíguostemposemquesevemalcan-
çandoemtermosdereconhecimentodadiversidade,desrepressõesdasindividualidades,reali-
zaçõesemsubjetividades,aotempoqueseampliamasbarreiras,restringindo-seopoderdos
indivíduos,emespecialintegrantesdecategoriasnaexclusão.
NegrieHardt[2000]consideramquea‘desterritorialização’potencializariacrisesnahege-
moniadoquedenominamo‘Império” -maisqueumpaís,umaorganizaçãomundialdaecono-
miapolíticacontemporânea,comahegemoniadegrandesconglomeradosdecapitais.Osque
transitam,ultrapassandofronteiras,modelariam,segundoessesautores,“sujeitoscoletivos,opo-
derdamultidão”.Umamultidãoque“internalizariaafaltadelugaredetempofixo;móvel
eflexível,aconceberofuturocomoumatotalidadedepossibilidadesqueseinclinapara
diversas direções”[NegrieHardt2000:380].Osautoresreconhecemqueatransformaçãoda
multidãoemsujeitospolíticosémaisclaranoplanododebateconceitualequeestariaaindaem
umnívelaltodeabstração,sendoquesuarealizaçãodependeriadoqueindicamcomo“cidadania
global”,oqueacompanhariaatendênciadatransformaçãodaeconomia.

Fogedoescopodestetexto,etambémnolivrodeNegrieHardttomaacentodeensaio-manifes-
to,acomplexidadedamodelagemdemigrantesemsujeitospolíticosademandaroreconheci-
mentodeuma“cidadaniaglobal”,nãonecessariamenteconcedidaporEstados(formulaçãopre-
senteemoutrosautoresquerecorrematermoscongêneres),maspormovimentosocialradical
pelodireito“decontrolarseusmovimentos”,ouuma“novacartografiaadesafiaroaparato
fundamental do controle do Império sobre a vida e a produção da multidão”[in Negrie
Hardt,op.Cit:400].Contudo,otextodeNegrieHardt[2000]édestacadopor sugerirnovalitera-
turaquediscuteasmigraçõesinternacionaisporuminternacionalismoproletáriorenovado,con-
siderandoapossibilidadedosmigrantes,emarticulaçãocomoutrossujeitospolíticos,seconstituí-
remcomotal,istoé,emgrupodeagentedemudançassociaisampliadas,com auto-representa-
çãocoletiva.Assim,apolíticaganharia,noplanodasmigraçõesinternacionais,umoutroestatu-
to,semcircularpelacomumcompreensãodepolíticascomoconcessõesdeEstadosouporpressões
Migrações
Internacionais e
degruposquerepresentariamosmigrantesporreformaslegaiseinclusõesnoEstado,comopor
Políticas: Algumas organizaçõesnão-governamentaisouredesdestas[Castro2001].
Experiências
Internacionais RELAÇÕES ENTRE EST ADOS , INTEGRAÇÃO E MIGRAÇÕES
Mary Garcia Castro
Ahistóriaindicaqueasmigraçõesnãotêmumcomportamentolinear,variandosegundo
conjunturaspolíticaseeconômicas.Contudo,osanalistasmodernosapostammaisnaintensifica-
çãodosfluxos,querpelasmudançasnomundodotrabalho,querpelamaiorcirculaçãodocapital
20 eaumentodasdesigualdadessociais;e,entrenações,tornandorelativooalcancedasmedidas
restritivas,comoasdecontroledefronteiras.Defato,umdostraçosdomovimentodepopulaçãoé
seucondicionamento poroutrosprocessos,oque lheemprestavariabilidadequantoainterações.

EmanálisesobreosmovimentospopulacionaisnaEuropadesdel800,Sassen[l999]destacaa
contemporâneaforçaderaçaeetnicidade,bemcomoreligiãoparaasmigraçõesforçadas.Tal
racialização serecomporiaemestigmasporoutrascombinações,assimque,porexemplo,os
alemãesorientaisseriamconsideradosumaetnicidadedistintadosalemãesocidentais.
NoplanodocontrolepeloEstadodosfluxosdepopulação,aindaquecadapaístenhamarcas
próprias,considerandoarealizaçãodocapitalismo,ojogodoglobaledolocal,osmodelosde
regionalizaçãoestariampressionandoparaqueseassumadeformamultilateralaquestãodos
deslocamentosdepopulação.AComunidadeEuropéiaéemblemáticaemtaisdebates.Debates
sobreaimportânciadeposturadediálogomultilateral,segundoSassen[l999],nãoseriamconsi-
deradospelosEUA,quandooEstadotendeacadavezmaisinsistirempolíticasdecontrolede
fronteiras,masenfrentando,domésticaeinternacionalmente,gruposdedireitoscivis.

OsacordosmultilateraisseriampartedocaminhoadotadopelaComunidadeEuropéia,caminho
queaindacompercalçosseria consideradoumavanço.Masqueécontrarrestado pormanifestações
dexenofobiaedeclaraçõesdenacionalismorestritivo.Poroutrolado,umasériedemecanismos
legais,uma“infra-estruturainstitucional”estariasendopostaemmarchaparaassistênciaàliberda-
dedecirculação,desdequesesejamembrodaComunidadeEuropéia-emúltimainstância,deslo-
ca-seafronteiraabarrarosoutros,eserequalificaouserenacionalizaquemsãotaisoutros.
Paradoxalmente,aspolíticasdemigraçãodosEUAatérecentementeeramconsideradasmais
liberaisqueasdepaísescomoFrançaeAlemanha,masamodelagemdosEUAdariaênfasenaunipo-
laridadequantoacontrolenoplanodoméstico.Aindaquenamesadenegociaçõesentrepaíses,em
particularcomoMéxicoecomCuba,migraçõesinternacionaissejampeçascomcertaplasticidade
quantoapolíticas,adependerdosinteressesconjunturais.Aleidemigraçãodel996insisteemtal
poderúnicodosEUA(“ounilateralismo”),sendoque,paramuitosanalistas,menosporumperigo
realdeumasobrepopulaçãoestrangeira,emaisporpressõesinternas,deEstadosmembros,deseus
cidadãose,insisto,pelostatusestratégicodotemamigraçõesnasrelaçõesinternacionais.

Noplanodousointerno,aimigraçãoéconsideradaumdesafio“àsoportunidadesdeempre-
godosnaturais,paraa‘CulturaAmericana’,paraasautoridadesdogovernoemrelaçãoa
fronteiras,drogasecrime”[Sassenl999:XVII].
ÉinteressanteobservarquenãosónocasodosEUAhádiscursosdeEstadosobreomesmo
fenômeno,comomigraçõesinternacionais,emtermosdeusoexternoeusointerno,oucomoo
Estadosepensaeseapresenta.

Odr.GustavoMohar,daEmbaixadadoMéxicoemWashington,emtextosobreaCoordenado-
ria Regional de Migrações ouModeloPuebla-instânciaconsultivaqueenvolveEUA,Canadá,
Migrações
México,CostaRica,Guatemala eNicarágua,apresentadonoSimpósiosobreMigraçãoInternaci- Internacionais:
onalnasAméricas,organizadopelaCEPAL,CELADEeOIM,queocorreuentreosdias4e6de Contribuições
setembroemSanJosé,ressaltaquetalinstância(Puebla)teriasidocriadaapedidodoMéxico,e para Políticas
queteriacontribuídoparalevarpaísescomoosEUAeoCanadáadiálogosmultilateraisentre
países.Mastambémressaltouodr.Moharque:

“las politicas de migración en EUA estarian mas asociadas a la agenda


de seguridad nacional, como tema domestico, cuando tiene impacto en 21
otrospayses”[inCastro,2000a].

Talassertivasugereumoutropontocomplexo,qualseja,osconflitosentreaperspectivade
migraçõescomoáreadedireitoshumanosecomoáreadesegurançanacional.Nestaperspectiva
sãotênuesasdemarcaçõesentremigração,tráficodedrogaseconflitosarmados.Talpromiscui-
dadeénegativaparaodireitodemobilidadedosindivíduos.Atônicanasegurançanacionaltam-
bémsugereoutrasrelaçõesperigosas,ascontradiçõesdochamadomundoglobalizado,jáqueo
discursoporglobalizaçãousualmenteconvivecompráticascomerciaisprotecionistaseobjetivos
desegurançanacionallimitadosàagendadealgunspaíses.
AlémdasrelaçõesmultilateraisentreEstados,tambémconsideramosanalistas,comoares
dostemposquepodemcontribuirparaumefeitoneutralizadoràviolaçãodedireitosdosmi-
grantesporpartedeEstados,noplanodepolíticasinternacionais,oestatutodedireitoshuma-
nosesuauniversalização,relativizandofronteiras.AEuropa,porexemplo,teriamaisexperiên-
ciaemacionarinstituiçõescomoaCorteEuropéiadeDireitosHumanos.EtalCorte,naComu-
nidadeEuropéia,teriajurisdiçãoqueanuladecisõesdeEstadosmembros.Poroutrolado,insti-
tuiçõesdenívelcomunitário(ouseja,representandoaCEU)nãonecessariamenteteriamjuris-
diçãoqueanuleaqueladosEstados membros.Foiassimque,emagostode1993,oConselho
ConstitucionalFrancêsnegouumjuízobaseadonosacordosdeSchengeneDublin,quenega-
vamasilopolíticoaalgunsdemandantes,considerandoqueessesacordosviolariamosAcordos
deGenebraeaConstituiçãoFrancesa,emparticularosDireitosdoHomem.
Note-sequeoAcordodeSchengen,aotempoqueflexibilizariarequisitosparaampliaropoder
decirculaçãonaCEU,principalmentedosnacionaisdepaísesmembros,seriamaisrígidoem
relaçãoapedidodeasiloerefúgio-oqueestariarelacionadoaosconflitosrecentesnaEuropa
(comoaGuerranosBalcãs).
Masalegitimidadedosprincípioseinstituiçõesvoltadasparadireitoshumanosteriaefeito,
porexemplo,sobreambiênciasdepolíticasdemigraçãoempaísesdaEuropa.

“Aemergênciadoregimededireitoshumanostornaoindivíduo,indepen-
dentementedanacionalidade,umpossuidordedireitos.Oqueindicariaque
oEstadodeixadeseroexclusivosujeitodeleisinternacionais.Oindivíduo,
aindaquenãocomtantaforça,emergetambémcomosujeito.Poroutrolado
oaumentodosentidopordireitosacidadaniacontribuiriaparadarmais
vozcontraviolaçõesdedireitoshumanosdosmigrantes.”[Sassenl999:XVII.]

NocasodaEuropa,alémdaorientaçãoparacriaçãodaComunidadeEuropéia,háquese
considerarumalongahistóriadeinvestimentoeminstrumentoslegaismultilateraisemrela-
çõesinternacionaisporgruposintergovernamentais.Comoosqueseformameml986eem
Migrações 1990equeelaboramaConvençãodeDublinparaAsiloeaConvençãodeFronteirasExternas,
Internacionais e
Políticas: Algumas
eml99l.UmaárealivredefronteirasnaEuropasematerializacomoAcordodeSchengen,de
Experiências l985,assinadopelosgovernosdaFrança,AlemanhaeBenelux(núcleoformadororiginalda
Internacionais Europa -Bélgica,HolandaeLuxemburgo).MasoscincoEstadosmembrosdoAcordodeSchen-
Mary Garcia Castro gennãoteriamconseguidofirmarumsegundoacordo,emnovembrodel989,paraaáreade
livrefronteira.Entreostemaspolêmicosquefreiaramoacordoestavam:bancos;segredosde
Estado;drogaseproteçãodedados,alémdocasodasfronteirasabertas,considerandoosproble-
mascomasfronteirasentreasAlemanhas.Osegundoacordofoifirmadoeml990,masmuitos
22
dosproblemaspersistiram,sendoadiadasuaimplementaçãoparal995.AInglaterrateriasido
umdospaísesmaisreticentesàidéiadeáreasemfronteiras,estabelecendonexosentrelidar
commigração,terrorismoequestõesdenacionalidade.

Acordosmultilaterais,regimededireitoshumanosuniversaisedefesadecidadaniaseriam
parâmetrosouastrêsnovascondiçõesdeambiênciainternacionalcompromissoresefeitos
para uma governabilidade e acompanhamento por organizações não-governamentais das
migraçõesinternacionais.Taiscondiçõessãoconsideradas,nocasodaCEU,coadjuvantesde
umprocessodecidadaniacomunitária,que,poroutrolado,continuariaasepautarpela
exclusãodeterceiros,emespecialsedepeleescura,casodosmarroquinos,esubordinadaaos
interessesdolivrefluxodemercadorias.
Reconhecemdiferentesorganismoseautoresqueosmigrantesindocumentadosviriamcrescen-
doemváriospaíses,estimandoaOITque,em1991,existiriamcercadeseismilhõesdeindocumen-
tados.Entretanto,aindaquetãoinvocadosporEstados,emespecialdepaísesindustrializados,não
chegariamacontabilizar14%daforçadetrabalhoresidindoemoutropaís,oucaptadapelocenso,
comoestrangeiro.Avalidadedetaldadoéquestionada,maséfrisadaadimensãodasuaproporção
emrelaçãoàpopulaçãoestrangeira.Poroutrolado,advertemdistintosestudosparaaassociação
entremaiorrestriçãoàmigraçãoeoaumento docomércio,ou tráficodepessoas,umdostemasque
tambémvêmpreocupandopaísesdaAméricadoSul,equedemandariaacordosepolíticasmultilate-
raisquantoaocombate(dotráficodepessoas)-oqueseressaltouquandodaIConferênciaSul
AmericanadeMigrações,emLima,1999.Combateaotráficoseriatambémumdospontosprio-
ritáriosnaagendadaCoordenaçãoRegionaldeMigrações,antesmencionada.
Nocasodosindocumentados,osEstadoseuropeustêmdesenvolvidodoistiposderespostas
políticas:regularização,poranistia,dapopulaçãoindocumentada,salvaguardadasumasérie
decondições,emedidaspunitivasqueincluemdeportaçãoepenalidadesparaosempregadores
detaismigrantes.Assançõesparaempregadoresdatariamdel980.
Estudorealizadoemnovepaísesindustrializados,sobrepolíticasdemigração-leis,regu-
lamentoseaçõesexecutivaseseusefeitosparacontermigrações[Cornelius,OllifieldeMartin,
1994, cit.inSassen,l999:xx]- ,concluemqueaspolíticasmaisrepressivasemaisrígidas
mostraram-seineficazesquantoaosfinsdecontrole,gerandodescréditoinclusiveentrelegisla-
dores.Poroutrolado,nocasodaAméricaLatina,serianecessárioummaioracompanhamento
dasposiçõesassumidaspelogovernomexicanoemdefesadeseusnacionais.Invasõesdedirei-
tosnãosejustificariamemnomederepressãoaotráficodedrogaspelosEUA.Defato,muitas
vezestaistensõessãoargüidasnãonecessariamenteemnomededireitoshumanos,maspor
seusefeitosnegativosnocomércio.
SobreoperfilatualdosEUAquantoapolíticasdemigração,escreveSassen:

“Impulsado,porumlado,pelaglobalizaçãodaeconomia,e,poroutro,pelo
crescimentodomovimentodedireitosciviseregimeinternacionaldedirei- Migrações
Internacionais:
tos humanos, os EEUU têmrespondidoàimigraçãoinvocandovelhosargu- Contribuições
mentos:controle,inclusivemilitarizado,sobresuasfronteiraseabsoluto para Políticas
podersoberanounilateralsobrequestõesmigratórias.”[Sassen,l999:XVIII.]

Asdiferençasentreposiçõespolítico-institucionaisdaComunidadeEuropéiaedosEUAquanto
amigraçõessãosugestivasparaodebatesobrepotencialidadeselimitesdeumagovernabilidade
regionalquesepautepelodireitodecirculaçãonaAméricadoSul.
23
Asdiferençasnoprocessodeinstitucionalizaçãoedeseuteoremrelaçãoamigraçõesentre
países,como,nocaso,entreEUAeComunidadeEuropéia,orientar-se-iampordistintosvetores,
comoporexemplo:naforçapolítico-econômicadasrelaçõesentrepaíses;navontadeparase
constituir blocosregionaisnãorestritosainteresseseconômicosdocapitalprivado; eaconsidera-
çãodequeadministraracirculaçãodepessoas,comaparticipaçãoderepresentaçõesnanação-
partidos,ONGsesindicatos,porexemplo-dever-se-iapautarnãosóporprincípiosdedireitos
humanos,maspeloreconhecimentodeseucaráterpositivonoplanocultural,políticoedemográ-
fico(casodoenvelhecimentodapopulaçãodealgunspaíseseuropeus),dalivrecirculaçãode
pessoas.Tambémmereceressaltaracontribuiçãoparaidentidadestransnacionais,porémcom
marcasidentitáriasregionais(porexemplo,européiasoulatino-americanas).
Tornou-senecessáriaaelaboraçãodeumaparatoinstitucionalparaaUniãoEconômicaEu-
ropéia,oquenãofoinecessárioparaocasodoNAFTAedoGAT,masmesmonessescasosfoi
necessáriaaadoçãodeacordosespecíficossobrecirculaçãodepessoasnafronteiraentreMéxicoe
EUA,especialmentesobretrabalhadoresdeserviçosprofissionais.Seria,portanto,pressuposto
pararegionalmentesetratarporinstrumentosdepolíticasacirculaçãodepessoas,queobloco
econômicoregionalsejaforte,relativizadasasassimetriaseconômicasedepoderentreEstados.
ACoordenaçãoRegionaldeMigrações,ouochamadomodeloPuebla(noSeminárioorgani-
zadopelaCNPD,apresentadoporErnestoRodrigues),tangenciaalgumaslacunassobreotrata-
mentomultilateral/regionaldasmigrações,noâmbitodaAméricadoNorteeAméricaCentral,o
queéressaltado,porexemplo,peloembaixadormexicanonosEUA,GustavoMohar[inCastro,
2000a].Poroutrolado,queremacordosbiquermultilaterais,oinvestimentoparalelonadefesa
dosnacionais,poraçãotransnacional,ondequerqueeles/elasseencontrem,ébásicoemvários
níveiseparasecontarcommelhorescondiçõesemtaisnegociações.

TantooembaixadorMohar quantoostextos-declaraçãodaIeIIReuniãosobreMigrações
InternacionaisnaAméricadoSul(Lima,l999,eBuenosAires,2000)destacamaimportânciada
chamadasociedadecivilnaáreadepolíticasegovernabilidadesobremigrações.

MIGRAÇÕES INTERNA CIONAIS E SOCIED ADE CIVIL

Olugardasorganizaçõesnão-governamentaiscomoagênciasderepresentaçãodosmigrantes,
aindaquecomoslimitesdeseremumainstânciaderepresentaçãosemanecessáriaindicação
pelosquerepresentam(verreferênciasanterioresaNegrieHardt,2000), éumavançocontempo-
râneoimportante.Inclusiveconsiderandoqueadiferençadeoutrosgruposidentitários,como
gruposétnicos,mulheres,migranteserefugiados,têmumpodermaisbaixodeseauto-organizar,
deseauto-representar.Inclusive,porqueamaioriadospaísestêmleisrestritivasquantoaodireito
desindicalização,deassociaçãodosestrangeiros,emuitasvezesatéquandodocumentados.Mas
oschamados“indocumentados”viriamseorganizandoesendoinclusiveapoiadosporcentrais
sindicais,comorecentementesenoticiounarevistaTimes,citandoaacolhidadacentralnorte-
Migrações americanaAFLCIOacampanhasdetaisfrações,quantoadireitosaotrabalho[cit.inCastro,
Internacionais e 2001]. (VertextosdeMilesieSprandel,nestevolume,emquemaissedesenvolveparaocasodo
Políticas: Algumas
Experiências
Brasil,otemamigraçõesinternacionaisesociedadecivil.)
Internacionais
Nodebatesobregovernabilidadedamigraçãointernacional,diplomaciamultilateraleopapel
Mary Garcia Castro
dosorganismosinternacionaisenão-governamentais,énecessáriodestacaraquestãodeforma-
çãodeopiniãosobredireitosdosmigrantesesobrearelaçãoEstado- sociedade- indivíduos.

24
TaltemarequertambémperspectivatransnacionalquantoàaçãodosEstados.Ouseja,quese
acompanhecomoamídiadeoutrospaísesrepresentamseusnacionais,cuidandodaexpansãode
umsentimentoanti-imigrante.HáquedestacaraaçãodoMéxico,daRepúblicaDominicana,
entreoutros,emtermosdeprotestoscontraoaumentodehostilidadespúblicascontraosmigran-
tesnosEUA,comoamontagem,pelogovernomexicano,deserviçosmaisefetivosdeacompanha-
mentodeseusnacionaisfrenteapolíticasderestriçãoaoacessoaserviçosdebem-estarsociale
frenteàrepressãodosorganismosdecontrolemigratóriodaquelepaís.Ogovernomexicanojáse
pronunciouváriasvezescontranotíciastendenciosasnaimprensanorte-americanasobreosme-
xicanos,imigrantesdeorigemmexicananosEUA.

Em1993,empesquisafinanciadapelo NewYorkTimes epelaCBSNews,destacou-seque


61%dosentrevistadoseramfavoráveisàdiminuiçãodosfluxosdeimigrantesparaosEUA;em
1996,deacordocomoutrapesquisadeopinião(WallStreetJournal/NBCNews)identificou-se
que52%dosinformantessedeclararamporsuspenderasmigraçõesparaosEUAporcinco
anos.Contudo,comodestacaDavidRimers,3 osnorte-americanosparecempoucoinformados

3
DavidRimers, inUnwelcome Strangers: American Identity and the Turn Against Immigration,NewYork:
Columbia University Press, 1998,cit inMitchell Christopher,ContemporaryUSImmigrationPoliciesinthe
Western Hemisphere, with Special Reference to Source Nations such as Brazil,maiode2000 -NewYorkUni-
versity,CenterforLatinAmericanandCaribbeanStudies.
sobreasmigrações.Cercade68%dosqueresponderamàpesquisadeopiniãode1993(Times/
CBS) afirmaram que“a maioria dos que migraram para os EUA nos últimos anos chega-
ramcomoilegais”,quando,emtalperíodo,aestimativadofluxodeindocumentadoseraque
essenúmerochegariaa25%dototaldemigrantes.

OembaixadorMohar [inCastro,2000a]mencionaqueumdospapéisbásicosdasorganiza-
çõesnão-governamentaisqueadvogamosdireitosdosmigrantesseria:

“Educar a la opinion publica y mejorar la compreension del fenomeno


migratorioenlaregion.”

Háilustraçõescriativasdecombinaçãodesolidariedadeadistintospovosquecirculampor
diferentesdiscriminaçõeseaimportânciadasredesdedefesadedireitos,oquetambémtemo
reforçodacomunicaçãopelaInternetnaaçãoglobaldeorganizaçõesnão-governamentais.Apró-
priaubiqüidadedotransnacionalismopedeoutrotipodeorganização,transterritorial,híbrida,
emquesecombinelutapordireitosàidentidadeculturaledebatessobreaspossibilidadesde
“cidadaniasglobais”[verCastro,2001].

Entreosqueadvogamtalperspectivadeformasdeassociarpertençasculturais/nacionais
estáadefesadacombinaçãodasolidariedadeporjussanguiniscomasolidariedadepor jus
solis(porlugaremterritório,oquetambémdámargemparaquesepossaredefiniraindicação Migrações
espacialdoqueseriataldireitoaoterritório,redefinindo-seentãooslimitesdoqueseriaterri- Internacionais:
tório).ComoressaltaDuschinsky(diplomatacanadense,cit.inCastro2000a),nãoaoazar,em Contribuições
para Políticas
ONGscanadensesdedefesadedireitoshumanosdosmigrantes,muitosdosativistasseriam
filhosenetosdemigrantes-ocompromissodesanguecomaculturaoriginalserelaciona
comumcompromissoético,deestarnaterra,participandodasolidariedadeemtermostrans-
nacionais:entreosqueficameosquesevão.Mexicanos,chicanos(segundageraçãodemexi-
canosnosEUA),guatemaltecosesalvadorenhos nosEUAvêmmontandoumasériedeexperiên-
ciasorganizacionaisricas queligampovosentrefronteiras,colaborando,assim,namigração 25
deretorno;emprogramasdeajudamútuaeemprojetosdedesenvolvimento(osquemigra-
ram)nascidadesoriginais,naAméricaLatina.Poroutrolado,multiplicam-seserviçosnos
EUA,montadosporcentro-americanosjádocumentados,paraajudaraosmigrantesrecentese
indocumentadosalidarcomasangústiaseasdificuldadesrelacionadasaoseuestado,àshos-
tilidadeseaoracismodopaísdeestada.Comunidadeslatino-americanasrelacionadasatraba-
lhosdesolidariedade(amigranteseacausasquedizemrespeitoàsrelaçõesentreEstados,por
exemplo)nosEUAtambémsediversificamportendênciaspolíticas.Decomumtorna-seneces-
sáriodestacaroingredientedasolidariedade,daética,pelohumano,nãosendoraraapresença
ativadenorte-americanosemtaismovimentos.E,poroutrolado,tendopapeldedestaqueuma
Igrejadecorteprogressista.

Nestesentido,pormaisquesedestaqueacontemporaneidadeeexpansãodomodelodas
ONGs,caberessaltaroimportantepapeldetradicionalagêncianaadvocaciadosdireitosdos
migrantesdasentidadesconfessionais.NoBrasil,aABONG-AssociaçãoBrasileiradeONGs -
registrava,em1997,240associações.

Estimativasnão-oficiais,noentanto,referem-seaumuniversodemaisdequatromilONGs
dediferentestamanhosefinalidadesnoBrasil.Contudo,orientadasparaosdireitoseaassistên-
ciaaosimigrantes,sóhaveriaentidadesconfessionais,comoaspastorais,oscentrosdosirmãos
eirmãsScalabrinianos(verartigodairmãRositaMilesi,apresentadonoSemináriodaCNPD),
relacionadasa umatendêncianaIgrejamaiscomprometida.4
Quandoseadvogaaparticipaçãodeagênciasdedistintasinscriçõesinstitucionaisemum
temaquetransitaentredireitoshumanosesegurançanacionaleenvolveinteressesdepessoas
combaixopoderderepresentação,comoosestrangeiros/estrangeiras,edeinstituiçõescomalto
poderdepressãoecontrole,comoempresasmultinacionais,ForçasArmadas eGoverno,insisto,
nãobasta,aindaquesejaimportante,celebrarcontatosentreEstados,intermediaçãodeONGse
criaçãodeforossupranacionais.Trêsvetoresrelacionadosàvidapolítico-socialnecessitamser
examinados:1)opoderdasinstituições;2)alegitimidadesocialdesuarepresentação;3)seu
compromissosocialcomdireitoshumanoseprincípiosdejustiçasocial.Talexamerevelariadiver-
sidadeentreONGsemaiscuidadocomodiscursocelebratóriodeumaambígua“sociedadecivil”,
masexigindocuidadocomaambiênciademocrática.
Naáreademigraçõesinternacionais,organizaçõescomoasdetipoconfessionaltêmtambém
desenvolvidooimportantepapeldecobraratualizaçãodeleis-queestasestejammaisafinsa
realidadesvividaseaocumprimentodeacordosinternacionais.Nessesentido,éparadoxalque,
noBrasil,oEstatutodosEstrangeiros-que,comobemobservaairmãRositaMilesi,doCentro
Scalabriniano(verartigonestevolume),datadotempodaditaduramilitarecolidecomaConsti-
tuiçãoBrasileiraquantoàuniversalidadededireitosaserviçospúblicos-estejaháalgumtempo
esperandoexamepara reformulação,precisamentenaCâmaradosDeputados.
Migrações Poroutrolado,urgetambémmaispressãoparaaratificaçãodaConvençãoInternacional
Internacionais e sobreaProteçãodosDireitosdeTodososTrabalhadoresMigrantesedeseusFamiliares.
Políticas: Algumas
Experiências
Internacionais “Hayunatendenciahoyasedestacarlaimportanciadenuevosmecanismos,
Mary Garcia Castro legislaciones internacionales para la ecuacion capital y trabajo, la
globalizaciondelprimeroylasrestriccionesalsegundo,comotambienen
crearnuevoseimportantesmecanismosporderechoshumanos,contodo,tal
Convencion en que pese haber sido aprobada en diciembre de 1990, en
26 AsembleaGeneraldelaONU,hásidoratificada pormuypocospayses,en
especialporcasiningunodelosprincipalespaysesindustrializados,receptores
demigrantes-noseháatingidoaunlacotade20firmas/ratificacionespara
queesaconvencionentreenvigor.”[Castro,2000a.]

4
“Peroporotrolado,enespecialenAméricaLatina,yAfrica, hayquecuidardeldiscursode
deslumbramiento com las ONGs, en periodo neoliberal, por marginalizacion del estado de bien estar y
enfaseenformasassociativasquepodemtenderacooptaciones.Hoy,variosanalistasenAméricaLatinay
Africaadvertenqueeltercerosector,noesunmodelodeinstanciadegobernabilidadensi,dependedel
perfildelasociedadcivil,delasocieadadpoltica,yqueseanalisequiensonlasONGs,casoacaso,ensu
relacion y compromiso con estados-y,supapelycomposicion-siadvocaciones,siagenciasdepressionen
relacionaestados,usiapendicesdeestos,udealgunos,enlaprestaciondeservicios.Losvariosrolesson
validosendi,perotambienrelativossinosecuestionacomosehánconstituidolasONGsenterminosde
legitimacionporpartedelosrepresentados,enencaso,losylasmigrantesyladependenciafinancerade
muchas organizaciones a agencias internacionales. En terminos de informacion para intercambios, valeria
masconocerlaexperienciadeagenciasdelasociedadcivilenEEUU,asicomoeltrabajodelaIglesia,delos
Santuarios,suconquistaenterminosdelobbiesylasiniciativastransnacionalescuandoorganizacionesse
establecenenredes,enpaysesdiferentes.LasformasassociativasdeorganizacionescomolaLULAC-League
of United Latin American Citizens-,laMALDEF- Mexican American Legal Defense and Educational Fund-
,elNationalCouncilofLaRazaylaFarmWorkers’Feederation,osea,nosololaefectividaddesuslobbies,
labor de pression y denuncia pero tambien de se constituir en redes de ayuda mutua,enniveltransnacional
mereceriamassocializacionporotrospaysesygruposdeAméricaLatina.”[inCastro,2000a.]
Aindasobremodelagemdeintegraçãoregional,participaçãodesetoresdasociedadecivile
migrações,destacoqueapreocupaçãocomforossub-regionais,nocasodepaísesdaAméricado
Sul,sugerequeumdiálogoentreAméricas,quantoamigrações,pressupõeumdiálogonaAméri-
caLatinaenvolvendotambémoCaribe,emplanoassociativo,mesoesub-regional,delineando-se
interessespróprios.EstafoioriginalmenteatônicadoMercosuledaComunidadeAndina:adefesa
daautonomiaporsolidariedadecomospovos,partedeumacomunidadehistórica,culturasde
raiz,porcaminhoimpostoporcolonizaçõeseredesenhadosemlutasindependentistas,emproje-
tosantineocolonizações.AutonomiadepartedaAméricanuestra(expressãodeJoséMarti),no
casoaoSuldoRioGrande.E,emtalperspectiva,poroutrolado,combinaracordosmultilaterais
comoutrosdecaráterbilateral,entrepaíses-sesalvaguardadooprincípiomaiordedireitos
humanos,e,entreestes,odeir,odevireodeficar.Afórmuladecooperaçãoeconsultasbilaterais
temsidobastanterecorrentenahistóriadiplomáticadoBrasil.
Emtodososníveis,negociaçõesdeidentidadessedãonasmigraçõesenestasseenvolvemdistin-
tasagências,atores/atrizes,inclusiveporqueentrelaçam-secomamobilidadedaspessoaseamobi-
lidadedecapitaisváriosinteressesediscursosnãonecessariamenteconvergentesedefácilequação,
emparticularquandosesaidasabstraçõesconceituaisesesituaprocessosemhistórias(derelações
entreasclassesepaíses,bemcomohistóriasdevida).Emtaisprocessosafirmam-sedistintosagentes,
organizaçõeseEstadosquantoausodepoderes-seodasarmas,docapital,daintervenção,da
diplomacia,dadenúncia,doassociativismo,doreconhecimentododireitoaserhumano,dooutro,
daoutra,dodiferenteentreoutros.Emsuma,andamaspessoasentrefronteiraseossentidosdetais
andançasseguemmuitosmapasqueescapamouemqueseperdemos/asandarilhos/as. Migrações
Internacionais:
Écomumfazerreferênciaàassociaçãoentremigraçãoemodelodedesenvolvimentoàecono- Contribuições
para Políticas
mia.Porém,asconsideraçõessobreosefeitosde,ouosefeitossobreasmigrações,deuminvesti-
mento econômico são comumenteexpostfactum;nãosãopartedoplanejamentodocapital.Na
decisãodeinvestimentosmassivosporumanaçãoemoutra,contribuindoparaamilitarizaçãode
fronteiras,aumentandoaíopotencialdeconflitos(comonocasodoPlanoColômbia,deorientação
erecursosdeváriasordensnorte-americanas),osefeitosquantoadeslocamentodepessoasentre
fronteirasnãoforamobjetodenegociaçãoentrepaíses.Mesmoquesesublinheaintençãodocontrole 27
dotráficodedrogas,docontrolepolítico-ideológicoedeintervençãoemconflitosemterritóriosde
outranação,feriu-seumprincípiobásico:aconsultademocráticaepopularaospaíses,povose
naçõesquecompartemalgumaterritorialidadeporvizinhançaeporhistórias.Paraaopinião
públicaficaapergunta:qualopeso,nocálculoderacionalidadedetalplano,doscustosem
termosdedireitoshumanos,daprovocaçãododesalojodecamponeses,damigraçãotransfrontei-
riçadedistintostiposdepopulação,inclusiveparaterceirospaíses,comooBrasil,porexemplo?
Ouseja,nãobastareconhecerqueamigraçãodepessoasseassociaaoutrasdimensões,como
aeconomiaeasegurançanacional,ouaosdireitoshumanos, senãoédiscutida,casoacaso,em
termosconcretos,arepresentaçãodosdireitosdospovos,porsuasprópriasvozesecenáriosde
modelagensdedemocracia,assimcomoopoderdecadaEstadoegruponasnegociações.
Hojeécomumemforosinternacionaisasugestãodedesenhosdemecanismosdeconcerta-
çãoregional,predominandoumdiscursoporconsultaepela integração.Discursoquenão
correspondenecessariamenteaumaprática.Consultasqueenvolvemintervenções,comoocaso
doPlanoColômbia,sedãoaposteriori.Talpráticaindicaquenosdebatessobreintegraçãode
açõesrelacionadasadeslocamentospopulacionaisénecessárioconsiderarqueumdospapéis
básicosparainstânciasregionaisemtaláreaseriaodepressionarqueemoutrosorganismosde
acordoseconômicos,comooMercosul,bemcomoemplanosdecolaboraçãomilitaretratados
desegurançanacionalentrepaíses,nãoseinsistanatradicionalcodificaçãodamobilidadedas
pessoasedosdireitoshumanoscomo“variáveisdependentes”,ouformasdeserendipity-
efeitosnão-esperados[inCastro,2000a].
AsexperiênciasestrangeirastêmréplicadealcancelimitadonocasodaAméricaLatina,mas
deveriamsermaisacompanhadas,discutidas,comoadaComunidadeEuropéia.Poroutrolado,
faz-senecessáriaumaanálisemaisespecializadasobreasreaiscondiçõesevontadepolíticade
integraçãolatino-americanaporpartedediferentespaíses,eosefeitosnegativosparaacirculação
depessoasentrepaíses,daunipolaridadeeconômicaepolíticaouasupremaciadepaísesnoplano
derelaçõesinternacionaisedaeconomiaglobal,pelomenosnaregião.Nessesentido,éimportan-
teacompanhareanalisarosefeitosdeintervençõesmilitaresempaísesvizinhosesobasperspec-
tivasdaALCA,maisdesenhadosparaacriaçãodezonasdecirculaçãodemercadoriasepresença
marcantedosEUAqueafetarãoodireitodecirculaçãodaspessoasecomoseconcebeanação.

ALGO SOBRE O SEMINÁRIO INTERNA CIONAL MIGRAÇÕES


INTERNACIONAIS - CONTRIBUIÇÕES P ARA POLÍTICAS
ÉricooelencodeproposiçõespragmáticasemmuitostrabalhosdiscutidosnoSeminário.Aqui
sediscuteexplicitamenteouseabrirãofronteirasparaqueemoutrosespaçossevenhaadebateros
cenários,processosqueseentrelaçamcomodesentidospolíticos,leiturasdeEstadoedeoutras
instituiçõessobredireitodecirculação.Aquitrataremosdetemastaiscomo:integraçãoregional;
lugardaequaçãoglobal/local;doestranhoedomesmonasrepresentações-quersejampelo
Migrações Parlamentooupororganizaçõesnão-governamentais(quenoBrasilsãobasicamentedeordem
Internacionais e confessional);aquestãodadiversidadenaclasse,nocasodosmigrantes,comoalémdasidentida-
Políticas: Algumas desculturaisereferênciasdeclasse,gêneroeraça/etnicidade.Ouseja,comotaiscategorizações
Experiências
Internacionais questionamanaturalizaçãodoprópriotermomigrante,ouestrangeiro.Veremoscomoosafrica-
Mary Garcia Castro
nosdedistintasnacionalidades,aquesereferememseusartigosVidaePascal,bemcomoos
bolivianoseoutroslatino-americanosdescendentesdepovosoriginários,discutidosporSilva,são
afetadosporviolênciasinstitucionais,oudiscriminaçõeseminstituições,nãoapenasporquesão
estrangeiros,masporquetêm“a-peleada”,ounasuapele,outroestranhamento.Sãonegros,o
28 que paradoxalmenteosuneaumacomunidadededestino-adosafro-descendentes.Equeos
separa,porseremestrangeirosparaestestambém.
Oterríveldaculturadacolonização,ainteriorizaçãodeumoutro,umestranho-somos
todosestrangeiros.
Repito,taissingularidadesentremigrantes,demandamserviçoseprogramasúnicos;cuidado
sobre asambíguasfronteirasentreoestranhoeomesmo,quandosefocalizamproblemas,angús-
tias,choquesculturaisnoser consideradoestrangeiro.
Nãoaoazar,nomesmoeventoforamdiscutidasnarrativasreflexivasepropositivassobreoque
passambrasileirosnoexterioreestrangeirosnoBrasil;debatesobreestrangeirosnomercadode
trabalhoelimitesdarepresentaçãodosinteressesdooutro,ouodesafiodenãosomenterepresen-
tarmasdarvozecontribuirparaqueosmigrantes,pororganizaçõespróprias(oquejáérealidade
emdiversosoutrospaíses)sejamsujeitosreivindicativos,depressãoeimportânciadeinvestir.No
planodaorganizaçãopordireitoseprojetos,nainclusão,masnãonecessariamenteadaptação,
dostrabalhadoresmigrantesàsentidadesdeclasseeorganizações.
Porexemplo,édeconhecimentocomumaescaladadarepressãoecontroledasleisdeimigra-
çãodosEUA;contudo,graçasàaçãodeinúmerasorganizaçõesdemigranteseumethospordirei-
toscivis,conquistadosezelados,háuma reconhecidavisibilidadeevocalidadesobreaviolaçãode
direitoshumanosdosmigrantesnosEUA.
Umaagendavariadasobredistintoscasosnamigraçãoeatentaacenáriosmúltiplosremeteao
queSayad[2000]referecomonecessidadedeumconhecimentototalizantesobremigrações,e,
friso,emespecialquandooenfoqueésobrepolíticas.ComobemdemonstraotrabalhodeSprandel
sobreParlamento,muitostratadoseconvêniosqueinterferemnodireitodeficar,deser,decircu-
lar,dosindivíduos,nãoseregistramcomoendereçadosaquestõesdepopulação.
Nessesentidosãoimportantesdivisõesecomissõesespecíficas.Eatéacriaçãodeumafrentede
comissõesparalidarcomomovimentodegente,violaçõesdedireitos,tráficodemulheres,depor-
taçõeseoutrasarbitrariedadesdeoutrosEstados,emoutrosEstados.Masserianecessárioum
maiorinvestimentoempreencheralacunadeumaculturapolítica.Políticasatentasaprincípios
comodireitoshumanos,identidadesdanação,justiçasocial,direitosdostrabalhadores,indepen-
dentementedolugardeestada.
Tambémsublinhoanecessidadedemaioratençãoparaapositividadeculturaldasmigrações
paranexos,relaçõesentreEstados,emparticularnoplanoregional-orientaçãoBolivariana- ,
emespecialnofazerpolítica,ouseja,noplanodasrepresentações,decorrelaçãodeforçasenego-
ciaçõesfrenteaoutrosEstados.Assimleioapossibilidadepolíticadeumacidadaniacomunitária
aqueserefereMármora,nocasodaAméricadoSul[Mármora,1997],que,comformatopróprio,
tambémfazpartedosprincípiosdoAcordodeSchengen.
Comoanalisam,emtrabalhoparaoSeminário,BoguseBassanez,referindo-seabrasi-
leirosnaItália,seafiguradocomunitariampliaaáreadecirculaçãopermitida,contribui
tambémparaaumentaraexclusãodosoutros,perguntando-seasautorassenãoseriamos Migrações
Internacionais:
brasileirosnaItáliaextracomunitari. Contribuições
para Políticas
Asbrevesreferências,nestaapresentação,àsambiênciaspolíticasedebatessobregoverna-
bilidadedasmigraçõesemoutrospaísesvãomenosnosentidodesugerirmodelosforâneospara
modelosdeintegraçãoetratamentodasmigraçõesnaAméricaLatina,emaisnointuitode
sublinharanecessidadedecriatividadeempolíticasqueextravazemaquestãodamigraçãoem
si,comotambémênfasenopressupostodamultilateralidade.Tambémalertamsobreoslimites
queanoçãodeumoutroindesejávelcria,poisaaberturadefronteirasserásemprelimitada 29
paraosdacomunidade.ComoobservaSassen[l999:l7],

“OAcordodeSchengenindicatantooslimitescomoaspossibilidadesdos
acordosintergovernamentaisemmateriaisdemigração.OAcordodeSchengen
foifortalecidopelainclusãodaItália,Espanha,PortugaleGréciaesuadeci-
sãodeimporfortecontroleàsfronteirasexternasnocontextodeSchengen.
Desenvolveu-seumsistemadeinformaçõesSchengen,localizadoeventual-
menteemStrassbourg.Masaomesmotempo,Schengenrepresentaumtipode
esforçointergovernamentalnosentidodedesmantelarcontrolesfronteiriços
internos,regionais.”

Insisto:crescemasrestriçõessobreooutrotrabalhador/trabalhadora,não-europeu;nãoao
azar,comamaiorpossibilidadenão-branco.
ACNPDrealizouoSeminárioemtemposdesinaisambíguos,contraditórios,mascombre-
chasconstruídasporagênciascríticas.Antepõe-seaumaconjunturainternacionaldemobili-
dadedocapitaledehostilidadesparacomamobilidadedotrabalho,amobilizaçãopordireitos
humanosdediversosgrupospelapaznopaísedecríticaaoneoliberalismoaquieemoutros
países.Nocontinentesãotemposdemobilizaçãoporinstânciasdeintegraçãoregionalquanto
àgovernabilidadesobremigraçõesnaAméricadoSul-mobilizaçãoquesepautaporinteres-
sesdiversos,adependerdabandeira,daorientaçãopolítica.
Mastambémsãotemposdevontadepolítica,inclusivedemembrosdedepartamentosdogo-
verno,comoosquesefizerampresentesnoSeminário,paradebatessobrepráticasinstitucionais,
instrumentoslegais,políticasediálogocomoutrossaberesepráticas.
Migraçõesinternacionais,advertemdiversosespecialistas,inclusivetécnicoscomprometidos
com ostatusquoeorientadosparaumalógicadecontrole,temumusosimbólicoeefeitoslaten-
tesmaisamplosqueosmanifestos,emníveldeEstadoeaparatos.Aindaquesetrate,emúltima
instância,comgente,compessoasdecarneeosso,commedos,necessidades,anseios,emvárias
instânciasdepoder,comoadamídiaedaopiniãopública,proliferammaisconstruçõesqueex-
ploraçõessobreoacontecerdasmigrações,sobreasexperiênciasdemigrantes.Asanálisesreuni-
dasapartirdoSeminárioquestionamobservaçõesimpressionistas.
AbdelmalekSayad,sociólogoargelinoqueresidiunaFrança,autordeváriostrabalhossobre
migrantes,advertesobreosnexosentreemigraçãoeimigração;ofatodequemuitospaísespodem
ser,aomesmotempo,paísesdeemigraçãodeseuscidadãosepaísesdeimigraçãoparaoutros
cidadãos.Tambémobservou, emartigocomosugestivotítuloORetornocomoProdutodoPen-
samentodeEstado,que o“Estadosepensaaopensaraimigração”:

Migrações “PensaraimigraçãoouaemigraçãoépensaroEstado.ÉoEstadoquese
Internacionais e pensa a si mesmo ao pensar a imigração ou a emigração, e, na medida
Políticas: Algumas em que não tem consciência de que, assim fazendo, pensa-se a si mesmo,
Experiências
Internacionais
termina por se enunciar naquilo que tem de mais essencial e, ao mesmo
Mary Garcia Castro
tempo, enunciar da maneira mais evidente as regras de seu funciona-
mentoerevelarasbasesdesuainstituição.Seissoémanifestonocaso
das migrações internacionais, pois tudo se joga através dessa linha de
separação -em si mesma mínima, mas cujos efeitos são de uma impor-
30 tância capital-que é a fronteira entre o nacional e o não-nacional,
distinçãoqueestánoprincípiomesmodaconstituiçãodoEstadoNacio-
nal, de Estado-Nação.”[Sayad,2000:20.]

DequeEstadosetrata?EstadodeSegurançaNacional?Departicipaçãoampliada,derespei-
toa direitoshumanos?Deglobalizaçãosegundointeressesdograndecapital,deresponsabili-
dadesocialinternacional,decidadaniarestritivaancoradaemjussanguinisou naturalizada,ou
decidadaniaampliadanohumano,redefinindodimensãoespacialdojussolis,quandoaoinvés
dotermomigranteganhasentidoodecidadãoporadoçãoouopção?Estadosemmodelosde
integraçãoporzonasdelivrecomércioouporzonasdelivrecirculação,emprojetolatino-ameri-
canoporseconstruirnarelaçãoentrepovos?NaçõessufocadaspeloEstado,ouEstados-Nações?
SãováriasasvozesqueaCNPDconseguiureunirparaoSeminário,masfalta,nossadívida
maior,ado/damigrante,nãoindividualizado,mascomocategoriacoletiva,sujeitodeprojetos.
Paraterminar,comotodoscantamasuaterra,eutambémquerocantarasminhas,homena-
geandoaminhaavóMaria,ciganadeAndaluzia,queaomorrernosertãodeQueimados,na
Bahia,pediu,combinandoidiomas,queaenterrassemcom
“tierrasmisturadas,unacamadadeláeumacamadadeaqui,poisquiero
sentirelolorprópriodecadaunayestarsiempreentodaslastierras”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMIM, Samir,ModernMigrationsinWesternÁfrica,inAmin,Samir,ModernMigrationsin
WesternAfrica(ed.),Londres:OxfordUniversityPress(1974).

BASCH,GlickSchillereSZANTON,Blanc,NationsUnbound:TransnationalProjects,Poscolonial
Predicaments and Deterritorialized Nation-States,Amsterdam:GordonBreach
Publishers(4ªed.,1997).

BHABHA, Homi,BetweenIdentities–InterviewbyPaulThompson,inBenmayor,RinaeSkotnes,
Andor(ed.),InternationalYearbookofOralHistoryandLifeStories,Vol.3,Special
IssueonIdentityandMigration(1993).

CASTRO, Algumas Provocações Sobre Cultura Política E Cidadania-E Os Migrantes?


ApresentadoinFórumSocialMundial,PortoAlegre(26dejaneiro),inpáginadoFórum
SocialMundialnaInternet-aserpublicado(2001).

CASTRO, Mary Garcia,ComentáriossobreTextosdelTemaIIIGobernabilidaddelaMigracion


InternacionalyDiplomaciaMultilateral,inSimpososobreMigraciónInternacional
enlasAméricas,CEPAL/CELADE/OIM,SanJosé(2000ª).

CASTRO,MaryGarcia,PalavrasemBuscadeCorposeTerras.Identidade,Identificação,Políticas
Migrações
de Identidade-LeiturasdeEsquerdas,inCadernosdoCRH,UFBA,nº32,Salvador, Internacionais:
jan/jun2000:55-86(2000b). Contribuições
para Políticas
CASTRO, Trans-IdentidadesnoLocalGlobalizado.NãoIdentidades,MargenseFronteiras:
VozesdeMulheresLatinasnosEstadosUnidos,inRevistaCríticadeCiênciasSociais
(Porto),nº48,junho,p.l47-174(1997).

CASTRO, Mary Garcia,Latinos nos EUA: Unindo Américas, Fazendo a América de Lá, ou
PerdendoaNossaAmérica?InAdorno,Sérgio(org.),ASociologiaentreaModernidade 31
eaContemporaneidade, Cadernos de Sociologia. Programa de Pós Graduação em
Sociologia.PortoAlegre:IFCH/UFRGS(1993).

CASTRO, Mary Garcia,GEARING,JeaneGILL, Margareth,Women and Migration-LatinAmérica


andtheCaribbean.SelectiveAnnotatedBibliography,Gainesville:Universidadeda
Florida(1986).

EAGLETON,Terry,TheIdeologyofAesthetic.Oxford:Blackwell(1990).

FELDMAN-Bianco, Bela,Globalização,NaçãoeDiáspora:incorporaçãodeTransmigrantesna
CriaçãodeNaçõesDesterritorializadas, inFELDMAN-BIANCO, Bela eCAPINHA,Graça
(org.),Identidades,EstudosdeCulturaePoder.SãoPaulo:EdHucitec(2000).

GAILEWITCH,Mônica,comacolaboraçãodeMAURELI,RosanaePINHO,MarcusVinicius,Mulheres
para Exportação,inRevistaClaudianº2,ano40,p.l2-l8,fevereirode2001.

MARMORA, Lélio,LasPoliticasdeMigracionesInternacionales, BuenosAires:OIM/Alianza


Editorial(1997).

MARSHALL,T.H.,CidadaniaeClasseSocial,s.r.b.(1949).
MITCHELL, Christopher,ContemporaryUSImmigrationPoliciesintheWesternHemisphere,
withSpecialReferencetoSourceNationssuchasBrazil,NewYorkUniversity,Center
forLatinAmericanandCaribbeanStudies,NewYork,nãopublicado(2000).

MOROKVASIC, Mirjana,BirdsofPassagearealsoWomen,inInternationalMigrationReview,
vol.XVIII,4(1984).

NEGRI, Antonio eHARDT, Michael,Empire,Cambridge:HarvardUniversityPress(2000).

SASSEN, Saskia,GuestsandAliens,NewYork:The NewPress(1999).

SASSEN,Saskia,TheMobilityofLaborandCapital,Cambridge:CambridgeUniversityPress(1988).

SAYAD, Abdelmalek, OretornocomoprodutodopensamentodeEstado. InTravessia,Número


Especial,anoXIII,janeiro,p.20-23(2000).

SOUZA SANTOS, Boaventura,CríticadaRazãoIndolente:ContraoDesperdíciodaExperiência.


SãoPaulo:CortezEd.(2000).

PORTES, Alejandro,TransnationalCommunities:TheirEmergenceandSignificanceinthe
ContemporaryWorldSystem, inKORZENIEWICKS, R. P. eSMITH,W.C.(eds.), Latin
AméricaintheWorldEconomy,Greenwood:GreenwoodPress,p.l51-l66(1996).
Migrações
Internacionais e
Políticas: Algumas
Experiências
Internacionais
Mary Garcia Castro

32
POLITICAS DE MIGRACIONES EN AMERICA LATINA:
LAS RESPUESTAS GUBERNAMENTALES Y DE LA
SOCIEDAD CIVIL EN LA DECADA DE LOS ’90

Lelio Mármora

ApartirdeunareflexióngeneralsobrelasmigracionesinternacionalesenAméricaLatinaen
ladécadadel90,sepodríadecirqueestamosiniciandoelmilenioconunaseriedecambios,tanto
enlastendenciasmigratoriascomoenlapercepciónsobrelasmismas,asícomoenlaspolíticas
gubernamentalesyenlamultiplicidaddeactoressocialesinvolucradosenestaspolíticas.

1. CAMBIOS EN LAS TENDENCIAS DE L OS


FLUJOS MIGRA TORIOS EN AMERICA LA TINA

Paraelanálisisdeestoscambiosesnecesariotenerencuentaelcontextodelosflujos
Migrações
tradicionalesenlaregiónylaacentuacióndelosmismos,encontrandonuevastendenciasquese Internacionais:
manifiestanenelincrementodelmovimientomigratorionolimítrofeinterlatinoamericano;la Contribuições
para Políticas
disminucióndealgunascorrienteslimítrofes;elasentamientodenuevosflujosemigratorios
latinoamericanoshaciafueradelaregión;asícomoladesaparicióndecorrientesinmigratorias
extrarregionalestradicionaleshaciaAméricaLatinaylaaparicióndenuevasinmigraciones.
Conrelaciónal“mantenimientoyacentuacióndecorrientesemigratoriastradicionales”,cabe
destacar,enprimerlugar,elaumentopermanenteyacentuadoenlasúltimasdécadasdela
emigracióndesdeMéxico,elCaribeyAméricaCentralhacialosEstadosUnidos. 33

Enladécadadel80,másdelatercerapartedelamigraciónlegalalosEstadosUnidosllegódel
Caribe,ysecalculaqueactualmenteel80%yel90%delailegalsegeneraentreesaregióny
México.Enesecontexto,enlasdosúltimasdécadaslosdominicanosseconvirtieronenelsegundo
grupodeinmigrantesenlosEstadosUnidos,despuésdeloscubanos.
Hacia1990secontabilizabancomoprincipalespaísesdemigracióncaribeñahacialosEstados
Unidos:Cuba,con736.974personas;RepúblicaDominicana,con347.858;yHaití,con225.393[OIM,
2000].PuertoRicoesconsideradouncasoparticulardebidoasucondiciónpolítica,encontrandoen
1998que,siendosupoblaciónde3.800.000,otros2.700.000sehallabanenlosEstadosUnidos.
ConrelaciónalamigraciónmexicanahacialosEstadosUnidos,queseremontaalasprimeras
décadasdelsiglo,suevoluciónhaidopermanentementeenaumento.Así,de2.199.221mexicanos
registradosenlosEstadosUnidosen1980,lacifrapasaa4.298.014en1990,ya7.500.000en1998,
cifraquerepresentael8%delapoblaciónmigranteenlosEstadosUnidos.Sudistribuciónseríade
dosmillonesdenaturalizados,tresmillonesdemigranteslegalesydosmillonesymediode
migrantesensituaciónirregular[OIM,2000].
TambiénlasmigracionesdesdeAméricaCentralhacialosEstadosUnidosseincrementaronen
lasúltimasdécadas,encontrandoque,del1.100.000demigrantescentroamericanosllegadosa
esepaísenlosúltimos175años,el90%arribódesde1980[OIM,2000].
Lasguerrascivilesdelos80enElSalvador,HondurasyNicaragua,asícomolosdesastres
naturalestalescomoelhuracánMitchen1998,hancausado-ademásdelascrisiseconómicas-
fuertesdesplazamientosdepoblaciónhaciaelnorte.
ConrelaciónaCanadá,losdatosindicanqueseincrementaronlosflujosmigratoriosprovenientes
delCaribe,AméricaCentralyAméricadelSur,perolasmagnitudessonmenoresconrespectoalos
EstadosUnidos,probablementedebidoalaspolíticasmigratoriasdedichopaís.Porejemplo,en1996
seregistranenCanadá40.000migrantessalvadoreños,mientrasqueelcensodeEstadosUnidos
registra465.433salvadoreños.CanadárecibepoblacióndelCaribeanglófono(Jamaica,Trinidady
TobagoyGuyana)porquetieneconveniosdetrabajoatérmino.SigueenimportanciaHaití,quees
consideradaunacorrientetradicional.Desdeladécadadel80,CanadárecibeinmigrantesdesdeEl
SalvadoryGuatemala.EsmínimalainmigracióndeAméricadelSur[Pellegrino,2000].
Tambiéntradicionalescorrientesmigratoriaslimítrofesinterlatinoamericanassehanmantenido
durantelaúltimadécada,talescomolasdeNicaraguahaciaCostaRica; lasdehaitianoshacia
RepúblicaDominicana,estimadaen500.000personas[OIM,2000];enelConoSur,losbolivianos
yparaguayoshacialaArgentina,conuntotalaproximadode250.000y150.000,respectivamente,
y debrasileñoshaciaParaguaycondiversasestimacionesqueestánentrelas150.000y250.000
personas[Campos,1999;PalauyHeikel,1987].
Conrelaciónal“incrementodelmovimientomigratorionolimítrofeinterlatinoamericano”,este
fenómeno -quedeningunamaneraalcanzalasmagnitudesdelasmigracionestradicionales
Políticas de señaladas,tienesinembargounaimportanciacreciente,tantocuantitativacomocualitativamente.
Migraciones en
América Latina: Porunlado,cabenseñalarnuevascorrientes,comolasdelCaribehaciaVenezuela[Suárez
las Respuestas Sarmiento,2000],obienrecientemente,hacialaArgentina,asociadaestaúltimaaltráficode
Gubernamentales y
mujeresdesdeRepúblicaDominicana.
de la Sociedad Civil
Lelio Mármora Otroprocesoimportantedelaúltimadécadaeseldelaemigraciónperuana,quehaeclosionado
nosólohaciadestinostradicionalescomolosEstadosUnidos,sinotambiénadiferentespaíses
latinoamericanos,entrelosqueseincluyenprácticamentetodoslosdelaregión[Torales,1993].
34
ElconflictoarmadoquesedesarrollaenColombiatambiénhaimpulsadonuevascorrientes
limítrofesynolimítrofesdesdeesepaís,delcualhabríanpartidoenlosúltimostresañosalrededor
de600.000personas.
Encuantoala“disminucióndecorrienteslimítrofestradicionalesinterlatinoamericanas”,
entérminosgeneralespuededecirsequeesotrohechoconstatableenlasdosúltimasdécadas
[Pellegrino,2000].
Entreellos,puedendestacarselasmigracioneslaboralesdesdeColombiahaciaEcuadory
Venezuela,lascuales-comoseseñalóanteriormente-seestaríanrevitalizandoenlaactualidad,
peroconlascaracterísticasdedesplazamientoforzosodepoblación.
Procesosdedisminuciónsontambiénclaramentevisiblesenlasclásicascorrientesdemigración
limítrofedesdeChileyUruguayhacialaArgentina.
Otrofenómenoobservableenlasúltimasdécadaseselincrementooaparicióndecorrientes
migratoriasdesdeAméricaLatinahaciaotrasregionesdeultramar.Taleselcasodelamigración
desdeBrasilaJapón,calculadaporalgunasfuentesenalrededorde150.000personas[Patarra
N.,yBaeninger,R.,1996].
Asimismoseharegistradoenlosúltimosañosunincrementodelasemigracionesde
latinoamericanoshaciaEspañaeItalia,queseconsolidancomolugaresdedestino.Lapresencia
deecuatorianosenEspañaconstituyeunadelasfuentesdemanodeobramásimportanteen
laszonasagrícolasdelsurdeesepaís.Tambiénperuanos,colombianosydominicanossehan
constituidoencorrientesestablecidashaciaestospaíseseuropeos,alascualessehaagregadola
crecienteemigracióndeargentinosyuruguayos,comoefectodelacrisiseconómicadeestos
paísesenlosúltimosañosdeladécadadel90.
Porúltimo,cabedestacartanto“ladesaparicióncomolaaparicióndecorrientesinmigratorias
extrarregionaleshaciaAméricaLatina”.
LamigracióndesdeEuropaoccidentalseagotóluegodelosúltimosflujoshaciaVenezuela
enladécadadel70.
Porotrolado,unacorrienteprovenientedeEuropadelestesehaidodesarrollandodesdela
caídadelmurodeBerlín,mientrasquelasmigracionesprovenientesdeAsia-básicamentecoreanos
ychinos-semantienenenunprocesoenelque,muchasveces,lospaíseslatinoamericanosson
unaetapaenunaemigraciónquecontinúahaciaelnorte[Mera,1997].

2. LAS RESPUEST AS GUBERNAMENT ALES

Frentealoscambiosmigratoriosseñalados,losgobiernoshanidoarticulandodiferentes
respuestasylassociedadescivileshanincrementadosuparticipaciónfrentealosderechos
humanosdelosmigrantes.
Enamboscasos,sedancambiosdepercepcióny,enelcasodelosgobiernos,unasuertede Migrações
Internacionais:
transiciónentreelmantenimientodepolíticastradicionalesylabúsquedadenuevosespacios. Contribuições
para Políticas
2.1. LOS CAMBIOS EN LA PERCEPCION SOBRE LAS MIGRA CIONES

Estoscambiosseobservantantoenlospaísesdeorigencomodedestinodelasmigraciones.
Asuvez,elcambioenlapercepciónsehadadotantoconrespectoalaemigracióncomo
alainmigración.
35
Conrelaciónalaemigración,estetemafuevisualizadoporalgunospaísescomouna“válvula
deescape”paraaliviartensionessocialesopolíticas[Maldonado-Denis,1976],obiencomouna
suertede“deserción”enlosperíodosdedictadurasmilitares[Mármora,1989].
Estapercepciónsetrasladabaalámbitopolíticoydelasociedadcivildelospaísesdeorigen,
comounaespeciede“desligamiento”delproblemamigratorioy,porlotanto,trasladado
exclusivamentealosgobiernosysociedadesdedestino.
Elcambioobservableenlaúltimadécadaesquehayunacadavezmayorpreocupaciónporlos
emigrados,derivadabásicamentedeunreconocimientoy revalorizacióndelosmismos.
Encuantoal“reconocimiento”esimportantedestacar,encasoscomolosdeBrasil,Argentina
yVenezuela(paísestradicionalmenteautovisualizadoscomodeinmigración)latomadeconciencia
delaemigracióndesusnacionaleshaciaotrospaíses[Valecillos,1993].Estapérdidadeunasuerte
de “narcisismoinmigratorio”sehadebidofundamentalmente-comoenelcasodeBrasil-al
trabajorealizadodesdecentrosdeinvestigacióndemográficaparapasarluegoaldominiodela
opiniónpública[PatarrayBaeninger,1996].
Tambiénelreconocimiento,peronoprecisamentedenuevasmigracionessinodelaconsolidación
deprocesosquesefuerongestandopordécadas,haabarcadoaotrospaíses.AsíMéxico,unpaísde
largatradiciónemigratoria,peroquesólocomienzaaestudiarsistemáticamenteelfenónemoenlos
últimosveinticincoaños,tambiénempieza areconocerseenlasúltimasdécadascomopaísderecepción
migratoria-básicamentecentroamericana-ydetránsitohacialosEstadosUnidos.
Estereconocimientoypreocupaciónporlosprocesosmigratoriosseobservatambiénencasoscomo
eldeColombia[RuedaPlata, 2000],Perú[Torales,1997]yRepúblicaDominicana[Guarnizo,1994].
Encuantoala“revalorización”delosemigradoshaciaotrospaíses,esdedestacarquedela
tradicionalpreocupacióndelospaísesdeorigenconrelaciónala“fugadecerebros”,manifiesta
yadesdeladécadadel70[FernándezLamarra, 1992],enlaactualidadsehapasadoalavalorización
de “toda”lamigración,seanrecursoshumanoscalificadosono.
El concepto de“ciudadaníaampliada”queabarcaalemigradotienevariasrazones,tales
comoladelaincidenciapolíticayculturaldelosemigradosenellugardellegada,obienelefecto
económicoypolíticodeesosemigrantesenelpropiopaísdeorigen.
Encuantoalimpactopolíticoenelpaísreceptor,lospaísesemisoreslatinoamericanosestán
valorandocadavezmáslainfluenciadesusnacionales.
EnelcasoespecíficodelosEstadosUnidos,laimportanciadelvotolatinosehaido
incrementandohastarepresentarenlaactualidadlossietemillonesdevotos.Suimpacto,además
delcuantitativo,esmásapreciablesisetieneencuentaquelamayoríadeestosvotosestán
concentradosencincoestadosdelaUnión.Otroelementoaconsiderareslaevolucióndelvoto
latinoenrelaciónasiesvotomigranteodelosmiembrosdelacomunidadnacidosenlosEstados
Políticas de Unidos.Encontrandoque,sibienen1990el80%deestevotoprocedíadelatinosnacidosenlos
Migraciones en EstadosUnidos,enel2000elporcentajebajóal50%,yenel2010seprevéqueserásólodel30%.
América Latina: Esdecirqueel70%delvotolatinoserádemigrantes.
las Respuestas
Gubernamentales y NosólolaincidenciapolíticadeestamigraciónlatinoamericanahacialosEstadosUnidoses
de la Sociedad Civil larelevanteyrevalorizada,sinotambiénsuimpactocultural.Enlaactualidad,enesepaíshay
Lelio Mármora unacirculaciónde14diariosy1.300publicacionesencastellano,encontrandoporotroladoque,
enlasgrandesuniversidadesdeCalifornia,el60%delosgraduadossonhispanoparlantes.

36 Todosestoselementosproducen,alavez,unaimportanteycrecienteincidenciapolítico
culturalenelpaísreceptor,yabrenoportunidadesdeinfluenciaynegociaciónporpartede
lospaísesdeorigen.
Lavaloracióndelaemigracióntambiénpasaporelcrecientepesoeconómicodelasremesas
queenvíanlosemigradosasuspaísesdeorigen.
EnpaísescomoElSalvador,lasremesascorrespondenal37%delasdivisasquerecibendesde
elexterior;enJamaica,al36%;enRepúblicaDominicana,al13%;enGuatemala,al10%;yen
México,al7,6%.Enesteúltimopaís,los6.000millonesdedólaresanualesqueserecibenen
conceptoderemesasequivalenalamitaddesuproductobrutointernoyaunmontosimilaral
queelpaísrecibeporsusexportacionesdepetróleo.
Porúltimo,tambiénelemigranteestásiendocadavezmásvaloradoporsupresenciaenel
juegopolíticointernodelpaísdeorigen.Enunaregióncomolalatinoamericana,conestructuras
democráticasqueenmuchospaísesseestánreconstruyendo,laparticipaciónpolíticadelos
ciudadanosqueseencuentranenelexteriorconstituyeunrefuerzoparaestosprocesos.
Elcambioenlapercepcióndelasmigracionestambiénserefierealainmigración.
Asícomoenotrasregionesdelmundo,enlasúltimasdécadaslainmigraciónhadejadode
serenelimaginariocolectivounsinónimode“aportealdesarrollo”parapasaralacategoría
de“problemasocial”.
Elimpactodelasmigracioneshasidovisualizadoenlosúltimosañosnegativamente.
Enlosmercadosdetrabajo,entérminosdedesplazamientodelamanodeobranativa;enla
salud,tantoporunasupuesta“sobreutilización”delosservicios,comoporelcontagiodeenfermedades
endémicas;enlaeducación,porunaocupacióndeloscuposescolaresendetrimentodelosnacionales;
yenlaseguridad,percibiendoal“extranjero”comolacausadelaumentodeldelito.
Esteconjuntodepercepcionesnegativas-enlamayoríadeloscasossinningúnsustentoobjetivo
-estásiendopermanentementerechazadoatravésdeinvestigacionesyanálisisdesarrolladosen
universidadesycentrosdeestudio.Estosdiagnósticoshandemostradoenalgunospaísescomola
Argentinaquelasmigracionesnotienenprácticamenteningúnefectosobreladesocupacióncreciente
delpaís[Maguid,1995;MontoyayPertircara,M.,1995];quelaincidenciadelosmigrantesenlos
serviciosdesaludesínfima[OIM,1999]; yquelapretendida“extranjerización”deldelitonoes
cierta,yaqueelporcentajedeextranjeroscondenadosenesepaísenlosúltimosañosessimilarasu
representaciónenelconjuntodelapoblación[MármorayGorini,1995].
Lapolémicaalrededordeestostemashainvolucradoadiferentesactoressocialesconuna
crecienteparticipacióndelosmediosdecomunicaciónylasociedadcivil,tantodesdeperspectivas
antimigratoriascomodesdeladefensadelosderechoshumanosdelosmigrantes[Mármora,2000].

2.2. LOS CAMBIOS EN LAS POLITICAS MIGRA TORIAS

Enesteprocesodereconocimientoyrevalorización,losgobiernoslatinoamericanosestarían Migrações
enunasuertedetransiciónaúnnodefinidaentrelaspolíticasnacionalesylabúsquedade Internacionais:
nuevasalternativas. Contribuições
para Políticas
Elcambiodepolíticasesmuchomásclaroconrespectoala“emigracióndenacionales”.
Desdelaposicióntradicionaldedesligamientoderesponsabilidadesconrelaciónalosemigrados,
sehanidoconsolidandopolíticascadavezmáscomprometidasconlosnacionalesenelexterior.
Losgobiernosdelospaísesdeorigendemuestranunacrecientepreocupaciónporlosefectosde
losemigrados,tantoenloslugaresdellegadacomoenelpropiopaísdesdedondepartieron.
37
Así,tantolosmecanismosdetransferenciaderemesascomoeldestinoqueéstastienen(enelcaso
mexicano,el80%vaalconsumodirecto)sontemascadavezmásimportantesenelmarcodelas
políticasgubernamentales.Otroaspectoimportanteconrelaciónalosefectosdelaemigraciónenlos
paísesdeorigeneseldelaposibilidaddevotardesdeelexteriorenlaseleccionesnacionalesdelpaísde
origen.EstederechoyahasidootorgadoenAméricadelSurporpaísescomoelBrasil,laArgentina,
Colombia,PerúyVenezuela,yesenestemomentoespaciodedebateenotrospaísesdeAméricalatina.
Por otro lado, el principio de la posibilidad de“doble nacionalidad”-tradicionalmente
negadaporlamayoríadelosgobiernoslatinoamericanosasusciudadanosdeorigenes-otorgado
enpaísescomoColombia,MéxicoyRepúblicaDominicana,defuertescorrientesemigratorias
haciaelexterior.
Esteprincipioabrelaspuertasdelaparticipaciónpolíticadelosemigradosensuspaísesde
residencia,sinnecesidaddenegarsupropianacionalidad.
Otroaspectoquehacealamayorintervencióndelospaísesdeorigeneseldeladefensadelos
derechoshumanosdesusemigrados.
Enesesentido,lapresenciaactivadelosgobiernosdelosmigrantessehapodidoapreciar
desdelascumbrespresidencialeshastalaadopcióndenuevaspolíticasconsulares“proactivas”o
deprogramasderevinculaciónconlosnacionalesenelexterior.
ElcasodeMéxicoesdestacableenelplanodelaprotecciónconsular,con43consulados
instaladosenlosEstadosUnidos.Estosconsuladosincluyenprogramasdeasistenciajurídicaa
sentenciadosamuerteydedefensalegalparalasvíctimasdeviolacionesdelosderechoshumanos,
asícomoprogramasdirigidosalosmenoresmigrantesyalasadopcionesinternacionales.Otro
paísqueiniciórecientementeunapolíticaconsularproactivafueBrasil.
Losprogramasdevinculaciónconlosnacionalesenelexteriorhansidodesarrolladosenlos
últimosañosporvariospaísesdelaregión,entrelosquesedestacanChile,ElSalvador,México,
Perú,VenezuelayColombia[Granes,MoralesyMeyer,1998],encontrandotambiénactividades
relacionadasconestosobjetivosenlaArgentina,UruguayyBrasil.
Conrelaciónalas“políticasdeinmigración”elprocesoesmáscomplejo.Losgobiernosdela
región(aligualqueenotraspartesdelmundo)pareceríancabalgarentreelmantenimientodelas
yatradicionalespolíticasrestrictivasylabúsquedadenuevosespaciosyalternativas.
Lalógicarestrictivaestablecidaenladécadadel30,enfuncióndelaproteccióndelosmercados
laboralesgolpeadosporlacrisisyconaltosíndicesdedesocupación,sehaextendidohastala
actualidadcondiferentesfundamentos[Mármora,1995].
Enlasdécadasdel40y50estalógicarestrictivasefundamentóenlaprotecciónideológico-
culturalypolítica.CulturalenpaísescomolosdelConoSurdonde,luegodeunfuerteproceso
migratoriodurantelaprimerasdécadasdelsiglo,algunosgruposnacionalistasplanteabanla
Políticas de consolidacióndesu“culturanacional”,excluyendoanuevasmigraciones.Protecciónpolítica
Migraciones en queacompañó,primero,aldesarrollodelaSegundaGuerramundialyluego,aliniciodela
América Latina: GuerraFría,prolongándosehastaladécadadel60conlaaparicióndelosmovimientos
las Respuestas guerrillerosenlaregión.
Gubernamentales y
de la Sociedad Civil Estamismalógicaseconsolidaenladécadadel70conelmarcoideológicodelateoríadela
Lelio Mármora “seguridadnacional”,dondelosubversivoyloextranjerosemezclabanfrecuentemente.
Lallamadadécadaperdidadel80-coincidenteconlalentarecuperacióndelainstitucionalidad
38 democráticaenvariospaísesdelaregión-vuelveatrasladarelejedelarestricciónmigratoriaa
la “proteccióndelamanodeobranativa”.Argumentoquecontinúacomosustratodebaseenla
décadadel90,enlacualsurgenademásdosnuevassupuestasamenazasprovenientesdelas
migraciones:elusointensivodelosserviciosdesaludyeducación,ylosproblemasdeseguridad
asociadosalaumentodelnarcotráficoydelterrorismointernacional.
Eldesarrollodepolíticasbasadasenestaslógicasderestriccióncondiferentesargumentos;
sumadoalacrisiseconómicageneralizadaenlamayorpartedelospaísesdelaregión;ala
continuidaddelosprocesosmigratorios-algunosinstaladosdesdehacemásdemediosiglo-ya
laaparicióndenuevascorrientes,pequeñasperodealtavisibilidad,haprovocadoloqueencasos
comoeleuropeosehallamado“crisismigratoria”[Hollifield,1997; WihtolDeWender,1999]y
que,enestecaso,sepodríacategorizarcomocrisisde“gobernabilidad”migratoria.
Crisisquesemanifiestaendiferentessituacionesquehacentantoalamismacuestióndelas
migracionescomoaproblemasmásampliosqueabarcanalassociedadesnacionalesyalas
relacionesentrepaíses.Pormencionarlasmásvisibles,sepuedenseñalar:elaumentodela
irregularidadmigratoria,elincrementodelassituacionesdexenofobiaydiscriminación,elaumento
delnegociodelasmigraciones,laincongruenciaentrepolíticasmigratoriasylosespaciosregionales
deintegracióneconómica,losproblemasderelacionesbilateralesentrepaísesconflujosmigratorios
fronterizos,ylarupturadelafuncionalidaddelaspolíticasmigratoriasenrelaciónconlos
requerimientosdemanodeobrayderecambiopoblacional.
Estacrisis,dondela“unilateralidad”delasdecisionesgubernamentaleshaencontradograndes
dificultadesderespuestas,haempezadoasertratadaatravésdenuevasmodalidadesmultiybilaterales.

2.2.1. LOS CONSENSOS MUL TILATERALES

EnelcontextolatinoamericanoydelCaribe,variasiniciativasmultilateraleshanbuscado
consensosy/oreglamentacionescomunesconrelaciónalmovimientodemigrantes.
Laexperienciamásantiguaquevinculalacuestiónmigratoriaconlaintegraciónregionaly
quepresentaunmayorgradodeformalizaciónhasidoel“InstrumentoAndinodeMigraciones
Laborales”,delInstrumentoSociolaboralSimónRodríguezdel“AcuerdodeCartagena”.Este
Instrumentoesunejemplodecómounderecho“blando”puedetransformarseenpositivo,yaque
fueenfuncióndelmismoque,enelaño1981,elgobiernodeVenezuelapromulgóla“Matrícula
de Extranjeros”quepermitiólaregularizacióndemásdeuncuartodelosmigrantesquese
encontrabanensituaciónirregular[Mármora,1985].
El “InstrumentoAndinodeMigracionesLaborales”esunodelosejemplosdemejorplanteo
paralahomologacióndecategoríasmigratorias,procedimientosdecontratacióndetrabajadoresy
establecimientodemecanismosdeejecución.Fueelprimeracuerdoregionalrealizadoenel
continenteamericanoquetipificócategoríasyprocedimientosmigratorios.
EsteInstrumento,quetuvosumayoraplicaciónduranteladécadadel70 parapasarluegoa
unestadodebajaactividad,hasidorecuperadoenlosúltimosañosconelobjetivodelalibre Migrações
circulacióndepersonasenlaregiónandina[LópezBustillo,2000]. Internacionais:
Contribuições
Tambiénenelmarcodeunprocesodeintegración,elMercosur,lavariablemigratoriacomenzó para Políticas
asertratadaenámbitoscomoeladuaneroyelsociolaboraldesdeeliniciodelTratadodeAsunción
en1991[MármorayCassarino,1996].
EnelcasodelospaísesdelConoSur,eltratamientomultilateralenelespaciodeintegración
regionalestáprecedidoporunaseriedeconveniosmultiybilateralessobrecirculacióndepersonas
ymigracioneslaboralesdesdeladécadadel60[Torales,1993]. 39
Ambosprocesos,eldelaComunidadAndinayeldelMercosur,sehanconsolidadoenlos
últimosañosenelconstituidoForoSudamericanodeMigraciones,quetuvosuinicioenLimaen
1999,conelEncuentroSudamericanosobreMigración,IntegraciónyDesarrollo,ysucontinuidad
enBuenosAires,en2000,conlaIConferenciaSudamericanadeMigracionesInternacionales.
LospuntosprioritariosacordadosporlosgobiernosenlaConferenciadeBuenosAiresestablecieron
laconstitucióndeunforopermanentedecoordinaciónyconsultaenmateriamigratoria,lanecesidad
deaunaresfuerzosparagarantizarlaprotección,defensaypromocióndelosderechosdelosmigrantes,
asícomolaurgenciadeunamodernizacióndelagestiónmigratoriaydelaslegislacionesnacionales
enlamateria(ConferenciaSudamericanasobreMigraciones,2000).
En1996seinició,enelnortedelHemisferio,elllamado“ProcesoPuebla”,constituidopor
Belize,Canadá,CostaRica,ElSalvador,EstadosUnidos,Guatemala,Honduras,México,Nicaragua
yPanamá,alqueposteriormenteseincorporóRepúblicaDominicana.
EntrelosprecedentesmásinmediatosdelProcesodePuebla,seencuentralacreación,en
1990,sdelaComisiónCentroamericanadeDirectoresdeMigración(OCAM),órganoregional
formado por losdirectoresdemigracióndeCostaRica,ElSalvador,Guatemala,Honduras,
NicaraguayPanamá,cuyoobjetoeseldefacilitareldesarrollodeiniciativascomunes
relacionadasconeltemamigratorio.
Enfebrerode1996secelebrólaCumbredePresidentesdeTuxtlaII,dondeseabordóeltema
migratoriodelaregiónydeintentarllegaraunarespuestaintegralalosmovimientosde
población.ElprincipalresultadodeestareuniónfuelaPrimeraConferenciaRegionalsobre
Migración,celebradaenPuebla,México,enmarzodelmismoaño,enlaquetambiénparticiparon
EstadosUnidosyCanadá.
Enesteprimerencuentroquedaronyaesbozadoslosprincipalestemasdeinterésdelos
paísesparticipantes,laslíneasaseguirenmateriadecooperaciónentrelosgobiernosylos
principiosenlosquesebasaríaestacooperación,lacualseconsideraineludibledadoelcarácter
internacionaldelasmigraciones.
LaConferenciareconocequelamigraciónpuedetenerefectosbenéficosparalospaísesde
origenydestino,siemprequeseaordenada;lanecesidaddepromovereldesarrolloeconómicoy
socialdelaregiónparapaliaralgunosdelosfactoresdeexpulsión, asícomodelucharcontrael
tráficoyporlosderechoshumanosdelosmigrantes.
LaIIConferenciaRegionalsobreMigraciónsecelebróenmarzode1997enPanamá.Sus
decisionesmásimportantesfueronlaconstituciónformaldelGrupoRegionaldeConsulta,el
establecimiento de la Comisión Coordinadora y la adopción de unplan deacciónaser
implementadoporelGrupoRegional.
LaIIIConferenciatuvolugarenOttawa,Canadá,enfebrerode1998.Acordó,comopartedela
implementacióndelPlan,lacelebracióndeunseminarioenTegucigalpa,Honduras,ennoviembre
Políticas de
Migraciones en
deesemismoaño,sobreelretornodemigrantesregionalesyextrarregionales,ylareinserciónde
América Latina: losmigrantesregionales;asícomootroseminariosobreprotecciónyasistenciaconsularen
las Respuestas Guatemaladuranteelprimertrimestrede1999.
Gubernamentales y
de la Sociedad Civil LaIVConferenciaRegionalcelebradaenSanSalvador,ElSalvador,en1999,tuvola
Lelio Mármora particularidaddeserunodelosprimerosencuentrosdelosgobiernosdelaregióntraseldesastre
delhuracánMitch,ygranpartedelareuniónsededicóaestacuestión.
LaVConferenciaRegionalsellevóacaboel23y24demarzode2000enWashington.
40 ParticiparonBelice,Canadá,CostaRica,laRepúblicaDominicana,ElSalvador,Guatemala,
Honduras,México,Nicaragua,PanamáylosEstadosUnidosdeAmérica.Enesteencuentro,los
delegadosreafirmaronlavoluntadpolítica,expresadaporsusrespectivosgobiernos,demantener
yconsolidarelForocomoespacioparaeldiálogoylacooperación.

2.2.2. LOS CONSENSOS BILA TERALES

Elconsensobilateralsehamanifestadoatravésdeconveniosdestinadostantoarestringir
losmovimientosdepersonas,brindarunamayorcirculaciónyestablecerellibreasentamiento,
comoapoyaralretornoasistido.
Entérminosregionalessondedestacar,enAméricadelSur,losacuerdosestablecidosentre
ColombiayEcuador(elEstatutoMigratorioPermanente)ylosrecientementefirmadosporla
ArgentinaconBolivia,PerúyParaguay.Estosúltimostienenunaparticularidadmuyimportante,
yaqueatravésdeelloslosgobiernosdeleganygarantizanlaregularizacióndeaquellosnacionales
decadapaísqueseencuentrenenelotrodeformairregular.Enestecaso,laproteccióndelmigrante
sedadehechoydederecho,conlaintervencióndirectadelgobiernodeorigendelosmigrantes.
Otrascuestionesdestacablesdeestosconveniosesqueincorporanensusartículos-apesarde
nohabersidoratificadaporlosgobiernos-alaConvenciónparalaProteccióndelosTrabajadores
MigrantesysusFamilias,establecenlaigualdaddetratolaboral,lalibretransferenciadeingresos,
elaccesoalaeducacióndeloshijosdelosmigrantesaunsiendoilegales,ymecanismosdeinspección
deltratoamigrantesabiertosalcontrolinternacional.
EnAméricaCentral,seencuentraelconveniofirmadoentreCostaRicayNicaraguapararegular
lasmigracioneslaboralesfronterizas.
EnelcasodeAméricadelNorte,enlaúltimadécadasehaavanzadoconunaseriede
conveniosentreMéxicoylosEstadosUnidos.Así,puedenmencionarseelMemorandumde
EntendimientoparalaProteccióndeNacionalesde1996;elMemorandumparaMecanismosde
ConsultaenelInteriorde1998,quepermitealoscónsulesmexicanosreunirseconlosagentes
migratoriosestadounidensesfrenteaproblemasconcretosdelosmigrantesyabreelaccesode
loscónsulesaloscentrosdedetención;elMemorandumdeEntendimientodelConsejoNacional
dePoblaciónconelINSde1998,paraintercambiodeinformaciónsobremercadosdetrabajo;
elMemorandumdeEntendimientoyCooperacióncontralaViolenciaFronterizade1999;el
MemorandumdeEntendimientodelosServiciosdeMigraciónyelINSde2000,enmateriade
rescatedemigrantes;yelmecanismoderevisióndelaviolenciafronterizade2000,dondelos
cónsulesrevisanjuntoalosfiscalesloscasosdetectados.
EnlasrelacionesbilateralesdeMéxicoconlospaísescentroamericanoscabendestacarlas
comisionesbinacionalesestablecidasentreMéxicoyGuatemala,HondurasyElSalvador.
Tambiénsepuedeseñalarlaimportanciaquesehaotorgadoaltemamigratorioenconvenios
bilateralesmásgenerales,talescomoelConvenioIntegradodeCooperaciónentrelaRepúblicade
Migrações
CubaylaRepúblicaBolivarianadeVenezuela,suscriptoen2000,cuyoartículo6establecelafirma Internacionais:
deunacuerdomigratorioconelobjetodefacilitarlaslaboresdelosfuncionariosespecialistasen Contribuições
misionesdetrabajovinculadasadichoConvenio. para Políticas

EnlamismaperspectivasedestacanlosavancesrealizadosentreHaitíyRepública
DominicanaenelmarcodelaComisiónMixtaBilateralentreambospaíses.Enesecontexto,se
encuentraelMemorandumdeEntendimientoparaAsuntosMigratorios,suscritoenjuniode
1998;elAcuerdosobrelosserviciosPostalesparaAsuntosMigratoriosdejuniode1998;el
ProtocolodeEntendimientosobrelosMecanismosdeRepatriacióndediciembrede1999,yla 41
DeclaraciónsobrelasCondicionesdeContratacióndesusNacionalesdefebrerode2000
[SecretaríadeEstadodeRelacionesExteriores,2000].
Másalládelosconveniosformalizados,sonrelevantesenlaregiónlatinoamericanaavances
bilateralescomoeldeBrasilyParaguay,atravésdelEncuentroBilateralsobreMigracionesdeSan
Pablo,enjuniode2000,olasaccionesconjuntasdelaArgentinayChileorientadasal
establecimientodelalibrecirculaciónentreestosdospaíses.
Esdifícilpronosticarsilosespaciosmultilateraleslograránimponersesobrelasprácticasypolíticas
migratoriasunilateralesoquedaráncongeladosenloqueMartinhadefinidocomounasuertede
“hipocresíadiplomática”[Martin,1989],osilosavancesbilateraleslograránsuperarlastrabasde
lasadministracioneslegalesosi,auncumpliéndoselosacuerdosbiomultilaterales,seconseguiráun
verdaderopasajedela“exhortación”alanorma;ocuálseráelverdaderoefectosobreelmigrante-
¿máslibertaddemovimiento?¿másrespetoasusderechoshumanos?o¿másrestricciones?
Enestesentido,laanalistaCostaLescouxseñalabaque,cuandolosgobiernossereúnen,“es
másfácilelaborarunacuerdosobreunsistemacoercitivodecontrolqueunapolítica
comúndeasilo” [CostaLescoux,1992].
Nosólolagobernabilidadbasadaenlaunilateralidad,sinotambiénlaqueseproyectaatravés
deconsensosmultiybilaterales,puedenencontrarsecontrabasybarrerasenelcaminoquevadel
acuerdo a la aplicación de la norma. Con frecuenciaelacuerdoesneutralizadoporla
reglamentaciónlacuales,asuvez,limitadaporlasnormasinternasnacionalesque,asuvez,
puedenestarcondicionadasporpresionespolíticasyeconómicas.Porotrolado,laaplicacióndela
normapierdemuchasvecessusentido,yaseaporlacorrupciónadministrativay/oelprejuicio
antimigratoriodelosagentesresponsablesdesuejecución.
Estosinterrogantesempañaneloptimismoconrespectoaldesarrolloyresultadoefectivode
estosnuevosespaciosbiymultilaterales.Peroporotrolado,nohaydudasdequeenlosúltimos
añoshasidomuyimportanteelavancedeaperturaaldiálogoylabúsquedadeconsensossobreun
temacargadotradicionalmentederecelosyconflictos;quehayunavanceenelrespetoaladiversidad
migratoriaenunmarcodeigualdad;y,básicamente, quehayunamayorconsolidacióndelrespeto
almigrantecomosujetodetodoslosderechoshumanos.

3 . L A PARTICIPACION DE LA SOCIED AD CIVIL


Lacadavezmayorparticipacióndelasociedadcivilfrentealacuestiónmigratoriaesunode
loshechosmásdestacablesdeladécadadel90.
Estaparticipaciónsedatantodesdeposicionesantimigratoriascomopromigratorias.Sonvisibles
enlospaísesderecepciónylasabonandiferentesperspectivashistóricasolaactualsituación
socialylaboraldeestospaíses.
Así,sinllegaralnivelderacismoactivoobservableenalgunospaíseseuropeos,seinsinúaun
Políticas de discursoxenófobo.Basadoenargumentosquesuponenunimpactonegativodelainmigración
Migraciones en
América Latina:
sobrelosmercadosdetrabajo,serviciososeguridad,eldiscursoantimigratorioescompartidoa
las Respuestas niveldeopiniónpúblicaporimportantessectoresdelapoblaciónenpaísescomolaArgentina,
Gubernamentales y CostaRica,RepúblicaDominicanayVenezuela.
de la Sociedad Civil
Sudifusiónpartedelosmediosdecomunicaciónsensacionalistas,algunosdirigentespolíticos
Lelio Mármora
osindicalesqueexplotanlaxenofobiacomoelementodemagógicoelectoralista,obien
funcionariospúblicosqueintentanexplicareldebilitamientodelEstadodebienestarenfunción
42
delapresiónsocialdelosinmigrantes.
Ennopocoscasos,eldiscursoantimigratoriodeestosactoressocialeshaacompañadoa
controvertidosprocesosdelicitacionespúblicasmultimillonariasjustificadaspornecesidadesde
“seguridad”,yaseaenelcontroldefronterasoenlaemisióndedocumentosmodernos.
Elracismoformatambiénpartedeldiscursoantimigratorio,noyaatravésdelosmediosodelas
declaracionespúblicas,perosíenlacomunicacióncotidianadelapoblacióndealgunasciudades
europeizadasdelConoSurfrentealainmigraciónindígenaandinaoguaranío,enelCaribe,frente
amovimientosmigratoriosconmayorescomponentesafricanosquelosdelaspoblacionesreceptoras.
Frentealasposicionesantimigratoriashanidoconsolidándosediferentessectoresdelasociedad
civilquehanasumidounaactivaposturaenfavordelosderechoshumanosdelosmigrantes.
Así,desdelasIglesiassedesarrollanpermanentesaccionesdeasistencia,protecciónydenuncia
anteladiscriminaciónoexplotaciónlaboraldelosinmigrantes[CELAM,1993;Pontin,1992].
Conlosmismosobjetivos,diferentesorganizacionesnogubernamentaleshansurgidodurante
losúltimosañosycadavezmásseencuentranentreellasasociacionesdemigrantesqueasumen
porsímismasladefensadesusderechos.
Desdeotraperspectiva,sedestacalalabordeloscentrosdeestudioyuniversidadesque,conel
análisisobjetivodelascaracterísticaseimpactodelasmigraciones,hanpermitidodesmontar
diferentescreenciasprejuiciosassobreestosprocesosmigratorios.
Porúltimo,tambiéndesdelaprensamásobjetivasehaidodesarrollandoduranteladécadadel
90unintentodedifusióndelarealsituaciónenlaqueseencuentranlosmigrantes,asícomoun
llamadodeatencióncadavezmásfirmefrentealasformasdexenofobiaydiscriminaciónemergentes.
Tampocoesfácilhacerpronósticossobrelaevolucióndeestecompromisodelasociedadcivil
frentealasmigraciones.Enesesentidoesdifícilpredecirquévaapasarconlaopiniónpública
sobrelasinmigracionesenlamedidaquesesigaagudizandolacrisiseconómicaqueafectaagran
partedelospaísesdelaregión.Enestecontextosedeberáevaluarelpoderdepenetracióndel
discursoxenófobo,yenquémedidaesediscursoestáarticuladoel“negociomigratorio”.Estos
problemasdeberánserconsideradosporlossectoresqueestánabocadosaladefensadelosderechos
humanosdelosmigrantesenelmomentoderediseñarsusestrategiasyacciones.
LoqueresultaevidenteesquefrentealasnuevassituacionesmigratoriasenAméricaLatinay
alasrespectivasrespuestasdegobiernosysociedadessonmáslosinterrogantesquelasconstataciones
sobresudesarrollofuturo.
Loqueresultaclaroesquetantoelespaciodeaccióncomodeanálisissocialfrenteaestefenómeno
escadadevezmayorydeunagranresponsabilidadpolíticadetodoslossectoresinvolucrados.

BIBLIOGRAFIA
CELAM, 1993.DerechoshumanosymigracionesenAméricaLatina,SEPMOV,Bogotá,Conferencia
SudamericanasobreMigraciones,2000.Declaración,Mayode2000,BuenosAires.
Migrações
Internacionais:
COSTA-LASCOUX,J.1992.“VersuneEuropedescitoyens?”,enCOSTA-LASCOUX, J. yWEILL,P., Contribuições
Logiquesd’EtatsetImmigrations,Ed.Kimé,Paris. para Políticas

FERNÁNDEZLAMARRA,N.,1992.“Recursoshumanos,desarrolloymigracióndeprofesionalesen
América Latina”, enDécimoSeminariosobreMigraciónyDesarrollo,OIM,Ginebra.
GRANES,J.;MORALES,A.yMEYER,J.B.,1998.“LaspotencialidadesylimitacionesdelaredCeldas
deinvestigadorescolombianosenelexterior:losproyectosinternacionalesconjuntos,un
estudiodecasos”enCharum,J.yMeyer,J.B.(Ed.),Elnuevonomadismocientífico,la 43
perspectivalatinoamericana,ESAO,Bogotá.
GUARNIZO, L., 1994.LosDominicanyorks:TheMakingofaBinationalSociety,Annalsofthe
AAPSS,553.
HOLLIFIELD, J., 1997.L’immigrationetL’ètat-Nationàlarecherched’unmodèlenational,
L’Harmattan,Paris-Montreal.
LÓPEZBUSTILLO,A.,2000.Perspectivasenelámbitodelasmigraciones,derivadasdelobjetivo
adoptadoporelConsejoPresidencialAndino,relativoalaconformacióndelMercado
ComúnAndinoparaelaño2005,SeminarioInternacionaldePolíticasMigratorias,Bogotá.
MAGUID, A., 1995.LamigracióninternacionalenlaArgentina:Característicasrecientes,
CONICET-INDEC,BuenosAires.
MALDONADO-DENIS, M., 1976.PuertoRicoyEstadosUnidos:EmigraciónyColonialismo,
SigloXXI,México.
MÁRMORA, L., 1989.ReturninLatinAmérica,HMP,CIPRA,GeorgetownUniversity,Washington.
———————, 1995. “Logiques politiques et intégration régionale”, enRevueEuropeenne
desMigrationsInternationales,AmeriqueLatine,Vol.11,nº2,UniversitédePoitiers,
France,1995.
———————, 2000. “Migraciones: Prejuicio y antiprejuicio”, enDiscriminación.Entorno
delosunosylosotros.Indice20.RevistadeCienciasSociales,CentrodeEstudiosSociales
delaDelegacióndeAsociacionesIsraelitasArgentinas,BuenosAires,abril.
———————yCassarino,M.,1996.“LavariablemigratoriaenelMercosur(Sutratamiento
ypropuestasparalaarmonizacióndepolíticas)”,enMigracionesyMercosur,Comisión
EpiscopalparalaPastoraldeMigraciones,FundaciónComisiónCatólicaArgentinade
Migraciones,noviembre1996.
MÁRMORA,L.H.yGORINI,J.,1995.Impactodelainmigraciónenlaestructuradeseguridad
deRepúblicaArgentina,SecretaríadePoblación,MinisteriodelInterior,BuenosAires.
MARTIN, D., 1989.Effectsofinternationallawonmigrationpolicyandpractice:theusesof
hipocrisy,IMR,XXIII,Nº3.
MERA, C., 1997.LaemigracióncoreanaenBuenosAires:Multiculturalismoenelespacio
urbano,Eudeba,BuenosAires.
MONTOYA, S. y PERTICARA, M., 1995.Los migrantes limítrofes: ¿aumentan el desempleo?,
Año17,nº170,Febrero.OIM,1999.
OLINTORUEDA,J.O.,2000.Lademografíanacionalenelcontextodelacrisis,Seminario
InternacionalsobrePolíticasMigratorias,Bogotá.
PALAU,T.yHEIKEL,M.V.,1999.Loscampesinos,elEstadoylafronteraagrícola,Base-
Políticas de
Migraciones en Bispal,Asunción.
América Latina:
las Respuestas
PATARRA,N.y BAENINGER,R.,1996.Migraçõesinternacionaisrecentes:ocasodoBrasil,en
Gubernamentales y PATARRA, N.,Emigração e imigração internacionais no Brasil contemporâneo,
de la Sociedad Civil Programa Interinstitucional de Avaliação e Acompanhamento das Migrações
Lelio Mármora InternacionaisnoBrasil,Campinas.
PELLEGRINO,A.2000.Migranteslatinoamericanosycaribeños:síntesishistóricaytendencias
recientes,Documentodereferencia,VersiónPreliminar,CEPAL/CELADE-Información
44 sobrelamigracióninternacionalenAméricaLatinayelCaribe(1960-1990),enbaseala
informacióncensalreunidaenelProyectoIMILA,SantiagodeChile.
PONTIN, M., 1992.Iglesiaymigracioneslatinoamericanas, CEPAM/SIM,Bogotá.
SecretaríadeEstadodeRelacionesExteriores,2000.ConveniosbilateralesentrelaRepública
Dominicana y Haití,SantoDomingo.
SUÁREZ SARMIENTO, N., 2000.DiagnósticosobrelasmigracionescaribeñashaciaVenezuela,
PLACMI, OIM.
TORALES, P., 1993.MigracioneseintegraciónenelConoSur(laexperienciadelMercosur),
OIM,BuenosAires.
———————, 1993. Las migraciones de peruanos a la Argentina,OIM, Buenos Aires.
———————, 1994. Las migraciones del Perú, no publicado, Lima.
VALECILLOS, H., 1993.FugadecerebrosenVenezuela,VadellHnos,Caracas-Valencia.
WIHTOLDEWENDEN,C.,1999.Faut-ilouvrirlesfrontières?PressdeSciencesPO,Paris,1999.
MIGRACION, INTEGRACION REGIONAL
Y LA EXPERIENCIA DE LA CONFERENCIA REGIONAL
SOBRE MIGRACION O GRUPO DE PUEBLA

Ernesto Rodríguez Chávez*

EnprimerainstanciaquisieraagradecerenformaespecialalaComisiónNacionaldePoblación
yDesarrollodeBrasil,ylaOrganizaciónInternacionaldeMigraciones,lagentilinvitaciónyayuda
quemehanofrecidoparaparticiparenesteseminariodetantaimportancia,dondepodrécompartir
algunasreflexionessobrelaConferenciaRegionaldeMigraciónoGrupodePuebla.
Elobjetivocentraldelapresentaciónseráexponerelorigen,funcionamientoyresultados
fundamentalesdeltrabajodelaConferenciaRegionaldeMigracióncomofororegional
gubernamental,perodestacandotambiéneltrabajoparaleloyenrelaciónconlaconferencia
gubernamental,quehandesarrolladolasorganizacionescivilesentornoaestaexperienciade
concertaciónderazones,accionesyestrategiasparaunnuevoenfoquedelamigraciónenelcontexto
Migrações
delprocesodeintegracióneconómicadeNorte,CentroaméricayelCaribe. Internacionais:
Contribuições
Delpropiotextosurgendemaneraobligadadiversaspreguntasquenopodremosresponder para Políticas
acabalidadenlaponencia,peroquesisirvencomoguíaenelanálisispropiodecadalectordel
temaencuestión.¿SerálaConferenciaRegionaldeMigraciónelcaminoparaincorporarla
migraciónalosacuerdosdelibrecomercioeintegracióneconómicaenlaregión?¿Existeun
cambiorealdelacomprensiónyenfoquedelosproblemasdelamigraciónenlosgobiernos
participantesenlaconferencia?¿Esunmecanismodecoordinación,diálogoynegociación
equitativoymultilateralentregobiernos,ounmecanismovertical,jerarquizadoyunilateral 45
dondeunosimponensusperspectivaseinteresesalosotros?¿Hastadóndepodráavanzareste
procesodeconcertaciónregional?
¿ConlaConferenciaRegionaldeMigración,EstadosUnidosestátratandodecorrersus
fronterashaciaelsurdeMéxicoycrearbolsasdecontenciónalaemigración,oesunproceso
gradualhacialalibrecirculacióndelafuerzadetrabajo?¿Quéesmejorparalospaísesde
AméricaLatinayelCaribe,unforopropiodeconcertaciónynegociacióndepolíticasmigratorias,
ounforoqueincluyaaEstadosUnidosyCanadácomoprincipalesreceptoresdemigrantesdel
continenteyconloscualeshayquenegociar?
Laponencialahemosdivididoentrespartesprincipalesyconclusiones.Laprimeraparte
resumeenformageneralvínculosyrelacionesquepodemosestablecerhoyentrelosprocesosde
integración económica y la migración en la región. La segunda, explica el origen,
funcionamientoydesarrollodelGrupodePueblacomotal.Ylatercera,abordalaparticipación
delasorganizacionescivilesenesteesfuerzodeconcertaciónregionalentornoalamigración.
Enunareflexiónfinalamododeconclusionessetratadegeneralizardemaneramuysintética
posiblesrespuestasalaspreguntasantesseñaladas.

* FacultaddeCienciasPolíticasySociales-UniversidadNacionalAutónomadeMéxico(UNAM).
MIGRACION E INTEGRA CION

Durantelasdosúltimasdécadasyconmásfuerzaenlosaños90,elcontinenteamericanoha
sidotestigodeldesarrollodedosprocesosdemúltiplesdimensionesquemantienenunaltoritmo
decrecimiento,peroquetransitanenformaparalelayhastacontrariaenocasiones,noobstante
suestrechavinculación.Nosreferimosporunlado,aldesarrollodediferentesmecanismosde
integracióneconómicaconlaliberalizacióndelcomercioylasinversiones,yporotrolado,al
aumentoaceleradodelaemigracióndocumentadaynodocumenta,incluyendorefugiados,así
comolacircularidadmigratoriaylaevolucióndecomunidadestransnacionales.
Enestosdosprocesoshayqueconsiderarunadiferenciasustancial,laintegracióneconómica
hacontadoconelapoyoyesfuerzodelosEstadosinvolucradosparahacerlaavanzar,mientrasquela
migraciónhacrecidoacontracorrientedelaspolíticasdelospaísesreceptores,quesehaninclinado
porelcierredesusfronterascomovíaderestringirlamovilidadinternacionaldelafuerzadetrabajo
ylamigraciónengeneral,unidoestoalclimasocialanti-inmigratorioqueprevaleciódurantelos
años90enpaísescomoEstadosUnidos,principalreceptordeinmigrantesdelmundo.
Esevidentequelosprocesosmencionados,integracióneconómicaymigración,seexpresan
entodoelcontinenteamericano,sinembargodebedestacarsequeenNorte,Centroaméricay
Caribe,esdondeambosprocesoshantomadosusmásaltosnivelesdeexpresiónenlosúltimos
20años,yesdondeseubicaenlofundamentaleltrabajodelllamadoGrupodePuebla,objeto
centraldeestapresentación.
Migración,
Integración Esaáreageográfica,deunauotraformaestáinterrelacionadaporsietesistemasdeintegración
Regional y la económica,unosmásviejosyotrosmásnuevos,algunosdeloscualesrebasanlaregiónconuna
Experiencia de perspectivadebloquemundialcomoelcasodelTratadodeLibreComerciodeAméricadelNorte
la Conferencia
Regional sobre
(TLC).Otrossistemasdeintegracióneconómicaqueactúanenlaregiónson:AsociacióndeEstados
Migración o delCaribe(AEC)1994,GrupodelosTres(G3)1994,AsociaciónLatinoamericanadeIntegración
Grupo de Puebla (ALADI)1980,ComunidaddelCaribe(CARICOM)1973yMercadoComúnCentroamericano(MCCA)
Ernesto R. Chávez 1960.YmásrecientementeelTratadodeLibreComerciofirmadoenjuniode2000entreMéxico,
Honduras,GuatemalayElSalvador,paraentrarenvigorenenerode2001.
46
Asuvez,dentrodelcontinenteamericano,lospaísesdelGranCaribe,dondeincluimosal
Caribeinsular,Centroamérica,México,Colombia,VenezuelayGuyana,sonlosqueposeenlas
tasasmásaltasdeemigracióndocumentadaynodocumentada,incluyendorefugiados.Esdonde
ladiásporarepresentaunaproporciónmayordesupoblación,ydondelacircularidadmigratoria
ylamigracióntransnacionalsemanifiestanconmásintensidad.
Amaneradeejemplopodemosdecir,quelaemigraciónlegaldeesospaíseshaciaEstados
Unidosenlasdosúltimasdécadas,fuecercadesietemillonesdepersonas,loquerepresenta
casilamitaddeltotaldeinmigrantesenEstadosUnidosentre1981y1998[U.S.INS1991y
2000],ysiaestosumamoslasestimacionesdeinmigrantesindocumentadosdepaísesdelGran
Caribequeresidíanpara1996enEstadosUnidos[U.S.INS1998],estaríamoshablandode10,7
millonesdeinmigrantesen17años.Aunquecomoesconocidoelaportefundamentalaestas
cifraslohacenlosmexicanos,59%deltotal,sedebedestacarelsignificadocuantitativoque
tieneenestosañoslosmigrantesprovenientesde:ElSalvador,RepúblicaDominicana,Jamaica,
Haití,Guatemala,ColombiayCuba,segúnordencuantitativodemayoramenor,ycontando
inmigranteslegalesynodocumentados.
Unanálisisglobaldelainterrelacióndelosprocesosdeintegracióneconómicaymigración,
nospermiteextraeralgunospresupuestosquepodemosconsiderarválidosenelcaminode
conseguiruncambiointegralenlavisiónysolucióndelosproblemasmigratoriosenlaregión.
Paraelaborarestospresupuestossetomaroncomoreferenciasdepartida,estudiosespecíficosde
diversosautores,entrelosqueestán:Bach[1993];García[2000];Mármora[996];Rocha[1997];
Tuirán[2000].Lospresupuestosconsideradosson:

•Losprocesosdeintegraciónsubregionalyregionaldelosaños80y90delsigloXX,obligana
reconsiderarlaspolíticasmigratoriasrestrictivasydecontrolcomosehanvenidoaplicando
hastahoy.Hayqueincorporarlavariablemigratoriaalosprocesosdeintegración,unirel
movimientodelafuerzadetrabajoallibremovimientodemercancíasycapitales.Hayque
sincronizarloscrecientesesfuerzosypolíticastendientesaexpandirlaintegracióneconómica
entrelospaísesdelaregiónconlaspolíticasmigratorias.Esindispensablelacorresponsabilidad
entrelosEstadosemisoresyreceptoresdemigrantescomofactorfundamentalparauna
administraciónefectivadelfenómenomigratorio.
•Lamigraciónactúacomofuerzaintegradorademásalcancequeelcomercioylainversión
libre.Lamigraciónhaceevidenteelimperativoeconómicodelaintegración.Losmigrantes
conectanempleadoresytrabajadoresdeambaspartesdelafronteracreandounmercadolaboral
conjunto.Losmigrantescreanredesestablesentrefamiliasycomunidadesdeambaspartesde
lafrontera,generandomediosdevidayascensosocialenocasiones.
•Elproblemadelamigracióninternacionalyelmayormovimientodelafuerzadetrabajomás
alládelasfronterasestá,enlacontradicción,falsaono,quesegeneraentrederechosdel
inmigranteenelpaísreceptorylasoberaníaeinteresesdeeseEstado,esdecirelposibleconflicto Migrações
aexistirentrelosderechosdelosinmigrantesaentradaysalidadelterritorio,amanifestarsus Internacionais:
Contribuições
tradicionesculturales,alaigualdadsocialconlosnacionales,alasgarantíassocialesyla para Políticas
participaciónpolíticaenotroEstado,versus,losinteresesdeseguridadnacional,distribuciónde
losrecursosyproteccióndelafuerzadetrabajodeeseEstadoreceptor.Estosólosepodráresolver
enlamedidaquelamigracióntiendaaserparteimportantedelosprocesosdeintegraciónyde
negociaciónexterna,conpredominiodelenfoquedelasrelacionesexterioresylacooperación
internacionalsobreeldecontrolinternoyseguridadnacionaldelosEstados.
47
•Enellargoplazolaintegracióneconómicapuedeserenúltimainstancia,unasoluciónperdurable
alfenómenodelamigración,sinembargoenlaactualidadlasasimetríasentrealgunospaíses
sonmuyampliasyenelcortoplazolaintegraciónvaaincrementarlaspresionesmigratorias.
Losgobiernosdelaregióndebenprepararse,no paradisminucióndelamigraciónenlo
inmediato,sinoparaordenaryadecuarlosflujosfuturosalasnecesidadesdeldesarrollonacional
yregional,asícomoparalacorrectaadministracióndeunaaltamovilidadhumanainternacional
enformatemporalopermanente.
•Comomododeaprovecharlomejorposiblelosbeneficiosdelosprocesosdeintegracióny
migración,ydedisminuirsusposiblesconsecuenciasnegativas,esimportanteanalizarenforma
detalladaeltipoyelritmodeintegracióneconómicaqueseproponeorealiza,ylosefectosque
estotraeenelaumentoodisminucióndelamovilidadlaboralylamigraciónengeneral.Quizás
seanecesarioprimerolaintegraciónsubregionaldentrodeAméricaLatinayelCaribe,luegola
regionalyporúltimolacontinental,comovíadeobtenerlosmejoresbeneficiosdelaintegración.
•Alaspolíticasrelacionadasconelmovimientodefuerzalaboralylosprocesosdeintegración,
hayqueincorporarladimensiónhumanadelamigración,susefectossobrelacondicióndelser
humano,losefectossocioculturalesdeestaspolíticas.Deberánarticularseenformaadecuada
losefectosdelaspolíticasmigratoriassobreelmercadolaboral,conlasmedidasdecontrol
necesariasyladimensiónhumanitariadelproceso.
•Elcrecimientodelamigraciónylaintegracióneconómica,aunquetransitenhoycaminos
paralelos,llevanacambiosobligadosenlasrelacionesdelemigradoconsucomunidad,supaís
deorigenyelpaísreceptor,asícomoacambiosenlasrelacionesentrelosgobiernosdepaísesde
origenydestinodelosmigrantes.Todollevaaintensificarycomplicarlasrelacionespolítico
socialesqueestánbajoacuerdosentregobiernos.
•Laspolíticasmigratoriasnacionalesylosacuerdosdeintegracióneconómicabilateralesy
regionalesdeberánestarbasadosenesasreglascomunesyunmarcopolíticolegal.Lamagnitud
delaemigraciónenrelaciónconlosprocesosdeintegración,ono, impulsauobligaalos
gobiernosatomaracuerdossobrereglascomunesyaestablecerunmarcopolíticolegalduradero
parafacilitarelflujomigratorioygarantizarladefensadelosderechosdelosmigrantesen
ambosladosdelafrontera.
•Ladefensadelosderechosdelosmigrantesimplicaunaparticipaciónampliadelasociedadde
ambosladosdelasfronteras,másalládelosacuerdosynormasestatales.Existelanecesidaddel
trabajodeorganizacionescivilesdetodotipo.queayudencomoelementoderegulaciónenlas
fronterasyenlasociedadreceptorasobrelasautoridadescontroladoras.

Comoseverámásadelante,lamayorpartedeestospresupuestosqueconsideramosvalidos
comomarcoconceptualdereferenciaenelanálisisdelainteracciónentrelosprocesosdemigración
eintegraciónregional,estánplasmadosenelconjuntodeobjetivosyprincipiosquelapropia
Migración, ConferenciaRegionaldeMigraciónestablecióensuprimerareuniónen1996,sinembargolo
Integración alcanzadoensuscuatroañosdetrabajo(1996-2000),distatodavía muchodeestenuevoenfoque,
Regional y la sindejardetenerpresentelosavanceslogradosconeltrabajodelaConferencia.
Experiencia de
la Conferencia ¿CuálhasidolaexperienciaconcretadelaConferenciaRegionaldeMigraciónparaNortey
Regional sobre Centroamérica?
Migración o
Grupo de Puebla
Ernesto R. Chávez ORIGENES Y DESARROLL O DEL GRUPO DE PUEBLA

48 ComoGrupodePueblaseconocealaConferenciaRegionaldeMigración(CRM)queseformó
a partir de su primera reunión en Puebla, México, en marzo de 1996. Este foro de tipo
intergubernamentalsecreóconlafinalidadformal,depromoverlamejorcomprensióndel
fenómenomigratorioentrelospaísesdeAméricadelNorteyCentral,impulsandoeldiálogoe
intercambiodeinformaciónyexperienciasentrelosmiembrosdelgrupo,peroaprovechando asu
vezlalabordelasorganizacionesinternacionalesynogubernamentalesvinculadasaltema.El
Gruposepropusodemaneraexplícitayformalayudaradesarrollarpolíticaspúblicasencadapaís
acordealasnecesidadesyproblemasdelamigraciónenlaregión,conlaaceptacióndelrespetoa
lasoberaníanacionaldecadaEstadoyalosderechoshumanosdelosmigrantes.
LaideadelacreacióndelGruposurgióporiniciativadeMéxicodespuésdelafirmadelTratado
deLibreComerciodeAméricadelNorte,enelcontextodeltrabajoylasdeliberacionesquetenían
lugarconelgobiernodeEstadosUnidosparaatenderasuntosmigratoriosyconsularesen1994y
1995[Mohar2000].Duranteestasreunionessehizoevidentequeelmarcobilateralerainsuficiente
pararesolverbuenapartedelosproblemasmigratoriosqueafrontabanMéxicoyEstadosUnidos,
dadalacomplejidaddelosmismosysucaráctermultinacional.
Esconocidoquevariospaísesdelaregión,especialmenteMéxico,nosólosonreceptoresy/
oemisoresdemigrantes,sinotambiénimportantesterritoriosdetránsitodepersonasquetratan
dellegaraEstadosUnidosdesdeotrospaísesdelcontinenteoregionesdistantes.Estasituación
hacemuchomáscomplicadoycostosoalosgobiernosdepaísesdetránsito,resolveralgunos
problemasmigratorios,enparticularlosreferidosalaretención,atencióndenecesidadesbásicas
yretornodepersonasextranjerasinterceptadasensuintentodemigraciónnodocumentada
haciaEstadosUnidos.
FuenecesarioampliareldiálogoatodoslospaísesdeAméricadelNorteyCentralcomoprincipio,
paracrearunmecanismoregionaldeayudaabuscarsolucionesalamigracióncon “unenfoque
integral,objetivoydelargoplazosobreelfenómeno”[CRM1996].AsísurgióelllamadoGrupode
Puebla,mecanismoregionalquedebíaatenderelcaráctermultinacionalymultidimensionalde
lamigracióncomofenómenoqueafectalaestructurasocioeconómicaypolíticadetodoslospaíses
delaregión.Losgobiernostuvieronquereconocerqueelproblemavamuchomásalládelcontrol
delasfronterasyelcumplimientodelasleyesmigratoriasdecadapaís.
LaConferenciaRegionalsobreMigraciónestableciólosprincipiosquedebíanguiarsutrabajo
enelComunicadoConjuntodesuprimerareunión[CRM1996],estossehanreforzadoyampliado
enlasreunionessucesivas,ypuestoenprácticaatravésdeunplandeacción.Losprincipiosdeben
seraceptadosporlosmiembrosyobservadoresqueseincorporanalgrupo.Agrossomodose
puedenresumirenlossiguientes:

•losorígenes,manifestacionesyefectosdelamigración,incluyendorefugiados,sontemas
importantesenlaagendadelacomunidadinternacional;
•entérminosgeneraleslamigraciónesunfenómenobenéficoconventajaspotencialestanto
paralospaísesdeorigencomoparalospaísesdedestino;sinembargo,yparaqueestosbeneficios Migrações
seconcreten,esesencialquelamigraciónseaordenada; Internacionais:
Contribuições
•sereconocelaexistenciadediferenciasentrelaspercepcionesqueexistenencadapaíssobrelas para Políticas
causas,dimensionesyconsecuenciasdelamigración;
•unenfoqueintegral,objetivoydelargoplazosobrelamigraciónenlaregión,contribuiríaal
mejorentendimientodelfenómeno,coadyuvaríaacontrarrestarlasactitudesanti-inmigrantes
yfortaleceríalasrelacionesentrelosEstadosparticipantes;
•necesidaddepromoverlacooperaciónregionaldirigidaaatenuaraquellosfactoresestructurales 49
quemotivanlamigraciónenlaregión,sinprejuiciodelosprogramasdecooperaciónbilateral;
•sereconoceelderechosoberanoeinteréslegítimodecadapaísparasalvaguardarsusfronterasy
aplicarsusleyesmigratorias,observandosiempreunestrictorespetoalosderechoshumanosde
losmigrantes;
•promoverlacooperacióninternacionalparalasolucióndeproblemasenlasfronterascomunes,
paracombatireltráficodemigrantes,paralaproteccióndelosderechosdelosmigrantes
indocumentadosycubrirsusnecesidadesbásicas,paraelintercambiodelegislacionesyel
desarrollodeestas,parafacilitarlamigracióndocumentadaymás.

Hastalareunióndel2000enelgrupoparticipaban,comomiembros11paísesycomo
observadores,cincopaísesycincoorganismosinternacionales.Estosson:

•Países miembros:Belice,Canadá,CostaRica,ElSalvador,EstadosUnidos,
Guatemala,Honduras,México,Nicaragua,PanamáyRepúblicaDominicana.
•Paísesobservadores:Argentina,Colombia,Ecuador,JamaicayPerú.
•Organismos internacionales observadores:OrganizaciónInternacionalpara
las Migraciones (OIM); Alto Comisionado de las Naciones Unidas para los
Refugiados (ACNUR); Comisión Económica para América Latina y el Caribe
(CEPAL);DivisióndePoblacióndelasNacionesUnidas;ComisiónInteramericana
deDerechosHumanos(CIDH).

DesdesusurgimientolaConferenciaRegionaldeMigraciónenfrentódiferentesobstáculos
paralograrlacontinuidaddesutrabajoylosobjetivospropuestosinicialmente.
Unprimerobstáculoimportanteparalograreldiálogofuelacomprensiónyconcertaciónde
ideasenungrupodepaísesdondesibienexistetradiciónmigratoriadealgúntipo,poseen
concepciones,legislaciones,interesesnacionalesyprácticasmigratoriasmuydiferentes,yhasta
encontradasenmuchoscasos.Esteretosehavencidoenlofundamentalgraciasalenfoquepolítico
aplicadoenelgrupoyalosdiferentesmecanismosdetrabajoimplementadosparaeldebate,
aspectosqueseexplicanmásadelante.
OtroobstáculoyriesgofundamentalenelfuncionamientodelaCRM,desdesusurgimiento
hastahoy,hasidolaparticipacióndegobiernosconfuerzaspolíticasyeconómicastanasimétricas
comoEstadosUnidosyCanadáfrentealospaísescentroamericanos.Vistodesdeelprismanegativo
deladiferencia,esteeselprincipalimpedimentoparaalcanzarlosobjetivospropuestosenla
conferenciaylograrunanegociaciónequitativaalosinteresesdetodos,nosóloparallegara
acuerdosyaccionesenprodelasperspectivaseinteresesdelosmásfuertes,delosqueaportanlos
recursosfinancierosparalaacciónconjunta.Noobstantelosavanceslogrados,estesiguesiendoel
retomayorparalasobrevivenciahistóricadelaCRMcomounmecanismopositivoaldesarrollode
Migración, lospueblosdeAméricaLatinayelCaribe.Nobastaquelosprincipiosdefuncionamientoacordados
Integración seanlegítimosydeseables,sinoselogranimplementarenlapráctica.
Regional y la
Experiencia de Unenfoquepolíticodetrabajodelaconferenciaquehaayudadoasuperarmuchasdelas
la Conferencia diferenciasentrelospaíses,aalcanzarresultadospositivosenmecanismosdecoordinacióny
Regional sobre
Migración o
administración,asícomoalogrardiscusionesconaccionesprácticasresultantesdeestas,hasido
Grupo de Puebla laestrategiadevincularaspectosdepolíticaexteriorconlosdeordendoméstico,comoseguridad
Ernesto R. Chávez nacionalypública,nosóloenlostemasdenegociación,sinotambiénconlaparticipaciónconcreta
defuncionariosdeambasesferasparaelanálisisdelamigraciónenunsentidointegral.
50
Esaestrategialacompartimoscomoprincipiobásicoeneltratamientodelosproblemasde
lamigracióninternacionalenlaactualidad.Noeselusodelapolíticamigratoriaenfunción
deinteresesdepolíticaexternaointernadeunpaísenparticularqueimponesusnormas,es
entenderlamigracióncomopartedelasrelacionesinternacionalesentredosomáspaísesque
intervienenenelfenómeno,dondesediscuteenfuncióndelosproblemasybeneficiosdela
migraciónparaambosomáspaíses,teniendoenconsideraciónlosaspectosdesoberanía,
seguridadnacionalyordeninternoparatodos.
EltrabajoconcretodelaConferenciaRegionaldeMigración(CRM)oGrupodePuebla,se
organizó,desdesusegundareuniónenPanamáen1997,enreunionesanualesviceministeriales,
unGrupoRegionaldeConsulta,unplandeacciónyunaComisiónCoordinadora[CRM1997].
ElGrupodeConsultaloformaronconfuncionariosdeniveltécnicoqueseencargandepreparar
lasreunionesviceministerialeseinstrumentarelplandeacción,queseactualizacadaañoen
lareuniónviceministerial.
EsteGrupodeConsultatambiénorganizaotrasreunionestécnicasnecesariasyseminariosque
surgencomopartedelplandeacciónsobretemasespecíficos,enbuscade ampliarlainformación
ylograrelintercambiodecriteriossobreproblemasbásicosquedespuéspuedenconvertirseen
temascentralesdelasreunionesviceministerialesyenconsecuenciaencriteriosparaactualizarel
plandeacción.Losseminarioslorealizanconparticipacióndeespecialistastécnicos,funcionarios,
académicosyrepresentantesdeorganizacionescivileseinternacionalesvinculadasaltemadela
migraciónuotrosrelacionadosqueseanobjetodediscusiónenlaocasión.
Elplandeacciónlotienendivididoenseistemasconsusrespectivosobjetivos,accionesa
implementar,actividadesconcretasycalendario.Lostemasson:

1-políticasmigratorias;
2-vinculaciónentremigraciónydesarrollo;
3-combatealtráficodemigrantes;
4-cooperacióninternacionalparaelretornodemigrantesextraregionales;
5-derechoshumanos;
6-cooperacióntécnica.

EnformaoperativalaCRMestápresididaporunsecretariorotativoquetrabajaenuna
SecretaríaProTemporequecompartelaresponsabilidaddelaorganizaciónyseguimientodel
trabajoentreelpaíssededelaconferenciaacelebrarseyelpaíssededelaanterior,utilizandoala
comisióncoordinadoracomoinstanciadeenlaceycoordinacióndeacciones.

Además,laCRMconstadeuna“SecretariaVirtual”,queaparecióenelsistemadeInternet
(www.crmsv.org)duranteconferenciarealizadaenWashington,D.C.,en marzode2000.Esto
fueposiblegraciasaltrabajopormásdeunañodeunaComisiónAdHoccreadaatalefecto
durantelaConferenciade1999,yalapoyoyparticipacióndelaOIM[Mohar2000].Estapágina Migrações
deInternetconstadedossecciones:unapúblicayotraprivada.Lapúblicadaaccesolibreala Internacionais:
informaciónsobrelostrabajosmásrelevantesdelaCRM:descripcióndelaconferenciay Contribuições
para Políticas
membresía,comunicadosconjuntosdelasreunionesviceministeriales,plandeacción,
informaciónydocumentosdelosseminariosrealizados,organizacionesnogubernamentales
participantesymás.Lasecciónprivadapermiteunespaciodediscusióninterna,usodebasesde
datos,intercambiodeinformaciónydiálogoentrelosusuariosautorizados.

Hastadiciembrede2000elGrupodePueblahabíarealizadonuevereunionestécnicas,seis
51
seminariosespecializadosycincoreunionesoconferenciasdeviceministrosquepodemosresumir
enestalista:

•primerareuniónpreparatoriayprimeraConferenciaRegionalsobre
Migración,13y14demarzode1996,Puebla,México;
•segundaConferenciaRegionalsobre Migración,13y14demarzode
1997,CiudaddePanamá,Panamá;
-seminariosobreTráficodeMigrantes,22y23deenerode1998,
Managua,Nicaragua;
•terceraConferenciaRegionalsobre Migración,26y27de febrerode
1998,Ottawa,Canadá;
-seminariosobreDerechosHumanosylosMigrantes,23y24deabril
de1998,WashingtonD.C.,EstadosUnidos;
-seminariosobreMigraciónInternacionaly DesarrolloenNortey
Centroamérica,21y22demayode1998,CiudaddeMéxico, México.
•cuartaConferenciaRegionalsobre Migración,28y29deenerode1999,
SanSalvador,ElSalvador;
-seminariosobreMigración,RetornoyReinserción,10y11dejuniode
1999,Tegucigalpa,Honduras;
-seminariosobreProtecciónyAsistenciaConsularaMigrantes,29y30
dejuliode1999,CiudadGuatemala,Guatemala;
-seminariosobreMujeresyNiñosMigrantes,24y25defebrerode2000,
SanSalvador,ElSalvador;
•quintaConferenciaRegionalsobre Migración,21al24demarzode2000,
WashingtonD.C.,EstadosUnidos.

Larealizaciónybuenosresultadosobtenidosenlasconferenciasyseminariosanteriores,la
implementacióndelplandeaciónylainteracciónexistenteentreestosmecanismosdetrabajo,
muestraquesehalogradolacontinuidadyampliacióndelostemasdetrabajodelgrupo,así
comolaincorporacióndenuevosmiembrosalmismo.
Enloslogrosinicialeshayquedestacarelsignificadoquehatenido,lacooperaciónyaportes
brindadospordiferentesorganizacionesinternacionalesqueparticipanenelCRMcomo
observadores,OIM,ACNUR,CEPAL,CIADR,oporotrosorganismosquehansidoinvitadosespeciales
adeterminadoseventos,BancoInteramericanodeDesarrollo(BID),BancoCentroamericanode
IntegraciónEconómica(BCIE),ComisiónInteramericanadeDerechosHumanos(CIDH)yFondo
dePoblacióndelasNacionesUnidas(FNUAP).Todasestasorganizacionesuorganismos
internacionaleshan ayudadoalaCRMconsuexperienciaprácticaenlaorganizaciónyformasde
trabajo,conelaportedeanálisisdeexpertos,conrecomendacionesresultantesdeotrosgrupos
regionalesdeconsulta,conapoyofinancieroydemás.
Migración,
Integración Unejemplodeloanterior,eselproyectopilotomultilateralquevariospaísesdelaCRM
Regional y la
Experiencia de estándesarrollandoconunapropuestadelaOIM,paraelretornoconasistenciaasuspaísesde
la Conferencia origendemigrantesextraregionales.Segúnlapropuestaoriginallosfuturosacuerdosdebían
Regional sobre velarexplícitamenteporelrespetodelosderechoshumanosdeestosyquesegaranticela
Migración o
Grupo de Puebla
protecciónnecesariaalosbuscadoresdeasilodurantetodoelproceso. Sinembargoelproyecto
Ernesto R. Chávez
queyaestáendiscusiónentreelDepartamentodeEstadodelosEstadosUnidosylaOIMno
estableceexplícitamentequiéneselresponsabledeasegurarlaproteccióndelosderechos
52 humanosdelosmigrantesyhaceunadiferenciaciónentremigrantesregionalesyextraregionales,
elementosquehansidoseñaladosconpreocupaciónpororganizacionescivilesquedan
seguimientoaestostemasendebate.
Sianalizamoselproyectoanteriorderetornodemigrantesextrarregionales,enunsentido,
podríamosdecirqueesEstadosUnidosquienmássebeneficiaconeltrabajoylacooperaciónde
lospaísesdelaconferencia,alserunobjetivobásicoparaellosimpedirqueesosmigrantes
lleguenasuterritorio.Noobstante,sibienestoescierto,tambiénesciertoqueestosmigrantes
extrarregionalesquesonretenidosenMéxicoualgúnpaíscentroamericanopornotener
documentaciónqueautoricesuestancialegalenesepaís,causangastosdealimentación,
resguardo,asistenciamédicayotrosalgobiernodelpaísdondeseencuentran,quienpordemás
notienerecursospropiospararegresarlosasuspaísesdeorigenquenosonfronteradirecta,en
estesentidolaexistenciadeunprogramaregionalconrecursosfinancieros,tambiénes
importanteparalospaísesdetránsitodemigrantes.Claroqueotrosprogramasconrecursos,
comomodelosalternativosdedesarrollocomunitarioparamejorardemanerasustancialla
calidaddevidaderegionesdealtosíndicesdeemigración,seríandemásinterésparalospaíses
deCentroamérica,MéxicooRepúblicaDominicana.
ParaelavancedeltrabajodelaCRM,tambiénhasidodevitalimportancialacolaboración
yparticipaciónbrindadapororganizacionesciviles,quienesdesdesuperspectivahansabido
enriquecereltrabajogubernamentalydemostrarlavalidezynecesidaddeltrabajoconjunto,
comovíaparalograrresultadosenlastareaspropuestasteniendoencuenta unenfoqueintegral
enlasolucióndeproblemasdelamigraciónregional,talycomoseexpresaenelComunicado
ConjuntodePueblade1996.
Laricaymenosconocidaexperienciadelabordeorganizacionescivilesonogubernamentales
enelProcesodePueblamereceunaexplicaciónconmásdetalle.

PAPEL DE LAS ORGANIZA CIONES CIVILES EN EL GRUPO DE PUEBLA

La importancia de la vinculación de organizaciones civiles al trabajo de un foro


intergubernamentalcomolaCRM,vienedadanosóloporloquepuedenaportaraldebateconsu
experienciayenfoqueparticulardelostemas,sinotambiénporquesonenlaprácticaquienes
afrontanbuenapartedelosproblemasindividualesdelosmigrantesdelaregiónantelasviolaciones
dederechoshumanosyciudadanos,lafaltadeatenciónhumanitariaylegal,losproblemaslaborales
enlafrontera,larepatriaciónolareinserciónenlospaísesdeorigen,entreotros.Lasorganizaciones
civilessonquienespuedengarantizarbuenapartedeléxitoofracasodelplandeacciónqueacuerdan
losgobiernosenlasreunionesviceministeriales.
Lasorganizacionescivilesonogubernamentales,términosqueusamosindistintamente,han
estadopresentesenelprocesodePuebladesdesusurgimientoen1996,ampliandosuespacioy
participaciónenformaprogresiva.Asuvezhancreadoyfortalecidosuspropiasredesyprogramasde
trabajoeintercambioenfuncióndesumejorparticipaciónenlaconferenciaysudesarrollopropio.
Migrações
Durantelaprimeraconferenciagubernamentalen1996,unequipodeHeartlandAlliancefor Internacionais:
HumanNeedsandHumanRightsdeChicago,IllinoisylaAcademiaMexicanadeDerechosHumanos, Contribuições
para Políticas
conscientesdelanecesidaddeorganizarseparasuparticipaciónenelprocesoquereciéncomenzaba
delaCRM,organizaronenlaciudaddeMéxicounareuniónenlaqueestuvieronpresentes30
organizacionescivilesdeMéxicoyEstadosUnidoscuyotrabajoteníainterésenlacuestiónmigratoria.
EntrelasorganizacionesparticipantesdeEstadosUnidosestuvieron:AmericanImmigrationLawyers
Association(Washington,DC),LutheranImmigrantandRefugeeService(Washington,DC)yAmerican
FriendsServiceCommittee(Houston,Texas).Partedelasorganizacionesmexicanaspresentes,fueron:
53
CoaliciónProDefensadelMigrante,CentrodeEstudiosFronterizosydePromocióndelosDerechos
Humanos(Reynosa,Tamaulipas), CentrodeEstudiosDemográficosyDesarrolloUrbanodelColegio
deMéxico(MéxicoDF)ySinFronteras(MéxicoDF).
ComoresultadodelamencionadareunióndeorganizacionesdeMéxicoyEstadosUnidos,la
coaliciónbinacionalenvióunadeclaraciónalareunióngubernamentaldePueblallamandoal
reconocimientodelosderechoshumanosdelosmigrantesyrefugiados.Conestaacciónlas
organizacionesnogubernamentalesgarantizaronsupresenciadesdeelprincipiodelaCRMy
dejaronestablecidassusposicioneseneltratamientoalosproblemasdelamigración.Enesta
ocasiónlasorganizacionescivilesparticipantesexpresaronademás,suaprecioporlainiciativa
gubernamental,peromanifestarontambiénsuinquietudylanecesidaddeiniciarunintercambio
propositivoycontinuoentreorganizacionescivilesygobiernos[EntreRedes2000:4].
Asuvez,enelComunicadoConjuntoqueemitieronlosgobiernosparticipantesenla
ConferenciadePueblaenmarzode1996,seestablecíalanecesidadde“Reconoceryalentarla
labor de las organizaciones no gubernamentales (ONG), que desarrollan programas de
asistenciaenfavordelosmigrantes,losquecomplementanlosesfuerzosgubernamentales
en la materia”[CRM1996].
Ademásdelasorganizacionescivilesyamencionadas,otrasorganizacionesnogubernamentales
sehandestacadoporsuparticipaciónconstanteyactivaenlosforosparalelosqueseefectúanalas
reunionesdegobiernodelaCRM.Entreestaspodemosmencionar:México–U.S.AdvocatesNetwork
(proyectobinacionalcreadoenmayode1997paraeltrabajoenaspectosrelacionadosconlos
derechoshumanosylaspolíticasmigratorias),AsociaciónRegionalparalasMigracionesForzadas
(ARMIF),principalmentedeCentroaméricayCanadianCouncilforRefugees[TheMexico–U.S.
AdvocatesNetworkNews2000].
DurantelaTerceraConferenciaenOttawa,Canadá,en1998,apoyandounainiciativadelpaís
anfitriónlosviceministrosdelosgobiernosdelaCRMsostuvieronundiálogoconrepresentantes
delasONGinteresadasentemasmigratorios,paraconsiderarlaformaenqueestasorganizaciones
podríancolaborarenlainstrumentacióndelplandeacción.Canadátratódeextenderalgrupola
experienciapositivaqueteníadeltrabajoconorganizacionescivilesenlaatenciónalosproblemas
delosrefugiadosdesdeañosatrásymásrecientementeconelprogramaquehabíancomenzado
eseañollamadoRefugeeResettlementModel(RRM)paraidentificarproblemasespecíficosdel
reasentamientoderefugiadosensuterritorioyrecomendarsolucionesalternativas[Duschinsky
2000].Enestaconferenciaquedóreconocidaporlosgobiernoslaparticipaciónformaldelas
organizacionescivilesenlaCRM[CRM1998].
Laprácticadereunirselosrepresentantesdegobiernosasistentesalasconferenciasconlos
miembrosdelasorganizacionescivilesparaescucharsusopinionesypropuestascomosehabía
hechoen1998,secontinuóenlaIVyVConferencia,1999y2000,dondesemanifestóla
complacenciadelosgobiernosporelproductivodiálogosostenidoconlasONGysediolabienvenida
Migración, asuscontribucionesenelmarcodelplandeacción.
Integración
Regional y la DurantelostrabajosdelaIVConferenciacelebradaenSanSalvadorenenerode1999,se
Experiencia de constituyó formalmente la Red No Gubernamental para las Migraciones conformada por
la Conferencia organizacionescivilesdelospaísesqueintegranelGrupodePueblaqueyaveníanparticipandoen
Regional sobre
Migración o esteprocesodesde1996o1997.Conposterioridad,durantelaVConferenciaenWashington2000,
Grupo de Puebla estaRedcambiósunombreaRedRegionaldeOrganizacionesCivilesparalasMigraciones
Ernesto R. Chávez (RROCM).LaRedalreunirseparalelamentealosgobiernosdelaregión,sepropusoincidirenla
tomadedecisiones,promoverpolíticasmigratoriasalternativas,asícomocompartirinformación
54
ycolaboraciónenproyectosconjuntos[EntreRedes2000:3].
ParaesafechalaRedRegionaldeOrganizacionesCivilesparalasMigracionesestabacompuesta
por62organizacionesconrepresentacióndetodoslospaísesmiembrosdelaCRM.Algunasde
estasorganizacionestienencaráctersubregionalobinacional.Lospaísesquetienenunamayor
representaciónsonMéxicocon24yEstadosUnidoscon13.
EnlaConferenciade1999,laRedemitióunadeclaraciónenlaqueseplanteabaninquietudesy
propuestasentornoalosgrandestemasquecomponenelplandeaccióndelaCRM.Entrelaspropuestas
sedestacan:laexhortaciónalosgobiernosdelaregiónparaquefirmenyratifiquenlaConvención
InternacionalsobrelaProteccióndelosDerechosdeTodoslosTrabajadoresMigratoriosydesus
Familiares;lasolicituddeintegraralasorganizacionesdelasociedadcivilenelprocesodediscusión,
elaboraciónyrevisióndelaspolíticasmigratoriasnacionales;lanecesidaddeelaborarundiagnóstico
sobrelasdimensioneseimplicacionesdelaparticipacióndelamujerenlamigración;ylaurgencia
deinstrumentarmodelosalternativosdedesarrollocomunitarioquepermitanunamejorasustancial
delacalidaddevidadelapoblación[EntreRedes2000:4-5,EntreRedes2000ª].
EnlaVCRMenmarzode2000,sereunieronenWashingtonorganizacionescivilesdedefensa
demigrantes,dederechoshumanos,religiosas,detrabajadoresmigrantes, representandoalacasi
totalidaddelospaísesquecomponenlaconferenciaintergubernamental.Enlosinformesnacionales
sobreemigraciónquepresentaronlasorganizacionesporcadapaís,seevidencióquenoobstante
lospropósitosdelaCRMyloavanzado,seguíapredominadocomotendenciaenlaregión,políticas
yprácticasmigratoriascontrariasalosobjetivosdePueblaen1996[Mexico–U.S.Advocates
NetworkNews2000ª].Entreestastendenciassedebendestacar:

•exclusióndelasorganizacionescivileseneltratamientogubernamentaldelfenómenomigratorio,
perousoollamadoaellaspararesolvervacíosycarenciasdelasinstitucionespúblicas;
•asociacióncrecientedelosmigrantesconlosproblemasdedelincuenciaycrimenorganizado,
justificandoasíeltratamientodelaproblemáticamigratoriadesdeelenfoquedelaseguridad
nacionalypública;
•distanciamientoconceptualyprácticodeunanociónintegraldepolíticamigratoria,reduciendo
laspropuestasdecambiosamedidasreguladorasdelamigraciónypropuestasdeleyesque
tiendenaendurecereltratoalosmigrantes.

DuranteestamismaConferencialaReddeorganizacionesciviles(RROCM)propusoalos
gobiernoselaborarunconjuntodenormasmínimassobreaseguramiento,detención,deportación
yrecepcióndemigrantesindocumentadosenlaregión,asícomosuinteréspororganizarun
seminarioalrespectodondeparticipendelegacionesgubernamentalesyorganizacionescivilespara
discutirelcontenidoylaviabilidaddeesasnormasmínimas[EntreRedes2000:5,EntreRedes
2000b].LosgobiernosensuDeclaraciónConjuntatomaronnotadeestapropuestaydieronsu
bienvenida[CRM2000].Seconsideraquelasnormasdebencontarcondoselementosbásicos:el Migrações
desarrollodelosfundamentosdelderechointernacionalyelmonitoreoregionalporpartedelas Internacionais:
Contribuições
organizacionescivilesdelosmecanismosdedetenciónydeportación. para Políticas
Elseminarioantesmencionado,propuestoporlaRed(RROCM),seefectuóenciudadGuatemala
ennoviembredeesemismoaño2000.Aquíselogróeldiálogoentrerepresentantesdelas
organizacionesdelasociedadcivilylosgobiernosdelaregión.Unodelosavancesmásimportantes
fuellegaraundocumentoporcadaunodelos11paísesmiembrosdelaCRMsobreelestado
actualdelasituaciónensupaísrespectoalaproteccióndelosderechosdelosmigrantesen
situacióndedetención,deportaciónyrecepción.Estedocumentoquedesarrollaronlas 55
organizacionescivilesconstóensuelaboraciónconfuncionariosgubernamentalesenlamayoría
deloscasos[EntreRedes2001:7].
Sipara2001selograllegaraunconsensosobrelasnormasmínimasolineamientosgenerales
paralaproteccióndelosderechosdemigrantesencondicionesdeintercepción,detención,
deportaciónyrecepción,ysonaprobadasporlosgobiernosdelaCRM,sepodrápartirdeunreferente
básicoparadarseguimientoyevaluarlasaccionesrealizadasporlasautoridadesmigratoriasde
losgobiernosdelaregión.Además,sepodránimpulsarcambiosespecíficosenlapolíticamigratoria
yenlalegislacióngeneraldecadapaís,todolopermitiráelevarlosestándaresvigentesenese
sentidoenbeneficiodelosmigrantesyfacilitarálalabordelasorganizacionescivilesquetrabajan
porlaproteccióndelosderechosdelosmigrantes.
Porotraparte,laconferenciaviceministerialdemarzode2000reconocióeléxitodelprograma
nacional“BienvenidoaCasa”deElSalvador.Elprogramafueinstrumentadoconelapoyodela
OIMyCatholicReliefServices(CRS),ylacooperaciónfinancieradeEstadosUnidos,eneléxitode
lareinsercióndelosmigrantesretornadostuvounimportantepapellalabordelasorganizaciones
delasociedadcivilqueparticiparonenelproceso[RM2000].
UnasegundapropuestadelaRedenlaConferencia2000fuelaadopcióndeunplande
acciónpropiodeReddeorganizacionesciviles,loquemuestraunidoaloanterior,unsalto
cualitativoenlaconsolidaciónyampliacióndeltrabajodelasONGdentrodelaCRMyensu
desarrollopropio.Esteplandeacciónconstadecuatrotemasprincipalesysusactividades
respectivas.Lostemasprincipalesson:

1)marcoregulatorioyprotección;
2)desarrolloymigración;
3)funcionamientodelaRed;
4)monitoreodelplandeaccióndelosgobiernosdelaCRM
(paraestetemasecreóungrupodetrabajo).

Desdeestaconferencia,laRedestáformadaporlaasamblea,quesereúnecadaañodurantela
reuniónviceministerial,uncomitéconsultivo,conformadoporunapersonauorganizaciónporcada
país,yuncomitéejecutivoencargadodetomardecisionesentrelasreunionesanualesdelaasamblea.
LaspropiasorganizacionescivilesparticipantesenlaRedreconocieronqueapesardelos
considerablesavanceslogrados,lacoordinaciónentrelasorganizacionesmexicanasy
centroamericanasnohabíamantenidoelmismoritmoquelarelaciónmásantiguaentre
organizacionesmexicanasyestadounidenses.Atendiendoaestasituación,SinFronterascomo
unadelasorganizacionesmexicanasqueparticipanenlaRed,tomóladecisióndefortalecerla
relaciónentreorganizacionesmexicanasycentroamericanasqueactúanentornoalfenómeno
migratorio,paraestohaimpulsandounproyectoespecíficodetrabajodirigidoa:
Migración,
Integración
Regional y la a)lapromociónyrevisióndelaspolíticasmigratoriasnacionales;
Experiencia de b)elincrementodelarelaciónentrelasorganizacionescivilesylosgobiernosdelaregiónen
la Conferencia
Regional sobre cadapaís;
Migración o c)lamigraciónyeldesarrollonacional;
Grupo de Puebla d)lamigraciónylosacuerdosdelibrecomercioentreMéxicoylospaísescentroamericanos.
Ernesto R. Chávez

56
ComoresultadodelproyectoparaelfortalecimientoderedesdecolaboraciónentreMéxicoy
Centroaméricasehanefectuadotresseminarios–talleresquehanpermitidoimpulsarla
colaboraciónentreorganizacionescivilesdediferentesáreasdetrabajoypaíses,ymejorarelnivel
decoordinaciónentreestas.Elprimerseminario–tallerfuesobrePromocióndePolíticas
MigratoriasyRelaciónentreOrganizacionesCivilesyGobiernos,enMéxicoDF,enabrilde2000.
Elsegundo,sobreUsodeRemesasyAprovechamientodeHabilidadesdeMigrantesRetornados,en
SanSalvador,enjuliode2000.Yeltercero,sobreLosacuerdosdeLibreComercioysuImpactoen
laMigración,enciudadGuatemala,ennoviembrede2000.

AdemáscomopartedelproyectoanteriorestáneditandoelboletínEntreRedes,citadoen
variasocasionesenestetexto,conelobjetivodemejorarlacomunicaciónentrelasorganizaciones
civilesdeMéxicoyCentroamérica,ayudaraladifusióndesutrabajoentreellasmismasyhacia
otrasinstanciasdelasociedadcivil,losgobiernosoorganizacionesinternacionales,asícomopara
conocerlasituaciónmigratoriaenlaregiónenunsentidomásintegralypermitirlaarticulación
condiversasiniciativasdelasociedadcivilendesarrollo,género,derechoshumanosyotrostemas.

CabeseñalarporúltimoquelaRedRegionaldeOrganizacionesCivilesparalasMigraciones,
nohalimitadosutrabajoalosreferentesdelaCRM,laRedestájugandounimportantepapelen
laatenciónytratamientodelproblemamigratorioendiversospaísesdelaregión,enproblemas
migratoriosbilateralesyenforosdediscusiónregionalsobreeltema,comofuelacoordinación
delreciéncelebradoforoLaSociedadCivil:HaciaNuevasFormasdeCooperaciónHemisféricasen
el TemaMigratorioqueserealizóenSanJosé,CostaRicaenseptiembrede2000enelmarcodel
SimposiosobreMigraciónInternacionalenlasAméricas queconvocóCEPAL,CELADEyOIM.En
esaocasiónporprimeravezsereunieronorganizacionescivilesdeAméricadelNorte,Central,del
SurydelCaribeparadiscutirlostemasdelamigracióninternacional.

CONSIDERACIONES FINALES
Amododeconclusionesqueremosdestacaralgunosdelosresultadosyexperienciasquenos
dejaeldesarrollodelProcesodePueblaensuscuatroañosdeexistencia,tantoeneltrabajodela
ConferenciaRegionaldeMigración(CRM)comoforointergubernamental,comoeneltrabajode
lasorganizacionescivilesengeneralydelaRedRegionaldeOrganizacionesCivilesparalas
Migraciones(RROCM)creadamásrecientemente.
LaCRMnoharesueltoelproblemadelaincorporacióndelamigraciónalostratadosde
librecomercioeinversión,oalospactosyacuerdosdeintegraciónsubregionalyregional,pero
siestáfuncionandocomounmecanismoparalelodeintegracióndeenfoques,perspectivas,
discusionesyalgunassolucionesdeproblemasfundamentalesdelamigraciónenlospaísesque
componenlaconferencia.
Elestablecimientoyavancededosmecanismosparalelosdeintegraciónregional,elqueva
porlavíadelaintegracióneconómicayelquevaporlavíadelaconcertacióneidentificaciónde
políticasybúsquedadesolucionesaproblemasmigratorios,tiendeacrearbasesparaincorporar
Migrações
enelfuturolosproblemasynecesidadesdelfenómenomigratorio,alasagendasdelaintegración Internacionais:
económicay/opolíticaenlaregión, teniendoencuentasusmanifestacionesdirectasyefectosen Contribuições
términosdemovilidaddefuerzadetrabajo,perotambiénsudimensiónsocioculturalypolítica,en para Políticas
elsentidohumanodelindividuoqueparticipaenestamovilidadterritorial.

ElprocesodePueblaademostradolaposibilidadeimportanciadeldesarrollodeesfuerzos
coordinadosmultilateralesentregobiernosyorganizacionescivilesdelaregiónparamejoraro
resolverproblemasvitalesdetantasensibilidadpolíticaytrascendenciahumanacomoesel
fenómenomigratorio.Enelcontextodelaglobalizaciónylaintegraciónregional,laspolíticas 57
nacionalesyhastabinacionalesdelosEstadosresultaninsuficientes.

ConsideramosqueenlaexistenciadelaCRM,lacontinuidadyampliacióndesutrabajo,así
comoenlasaccionesyresultadosconcretoslogrados,hanincididodemaneraimportantevarios
delosprincipiosadoptadosensuprimeraConferenciaenPuebla1996ylosmecanismosdetrabajo
instrumentadossucesivamente.Entreestosdebemosdestacar:

•trabajarcomoprincipioconunenfoqueintegralydelargoplazoenlamigración,másalládela
aplicacióndelasleyesmigratoriasydelaproteccióndelasfronterasporcadapaís;
•sindetrimentodeloanterior,reconocerelderechosoberanoeinteréslegítimodecadapaíspara
salvaguardarsusfronterasyaplicarsusleyesmigratorias,observandosiempreunestrictorespeto
alosderechoshumanosdelosmigrantes;
•aptaciónportodoslosgobiernosdelacorresponsabilidadqueexisteparalograrunaadministración
efectivadelfenómenomigratorioysusvínculosconlosprocesosdeintegracióneconómicay
desarrollodelaregión.Estollevaabuscarsolucionesmultisectorialesconlaparticipaciónde
todoslospaísesinvolucradosenelproblemaatratar;
•lainterrelaciónlogradaentreelsectorexternodelaspolíticasylosinteresesentornoalaseguridad
nacionalypúblicadecadapaísenuncontextoregional.Estopermitióavanzarenunenfoque
másintegraldelamigraciónyayudaraacercarinterpretacionesyprácticasquesobremigración
tienepaísesconconcepcionesmuydiferentesalrespecto,deformaquesepuedanevitarconflictos
internacionalesysetenganencuentalasconsecuenciasexternasdelaaplicacióndeleyesy
políticasmigratoriasnacionales;
•incorporaciónaltrabajodelaconferenciadelaexperienciayenfoquedeorganismosy
organizacionesinternacionales,asícomodeorganizacionescivilesonogubernamentales;
•combinaciónsistemáticadeltrabajodereunionesdefuncionariosdealtonivelejecutivo,con
seminariosdediscusiónespecializada,reunionestécnicasyunplandeacciónconcretoparael
logrodelasmetaspropuestas.

Noobstantelavalidezdelosprincipiosadoptadosporlaconferenciaylosresultadosalcanzados
ensufuncionamiento,yenladiscusióneintegracióndecriteriosentornoalamigración,así
comoelreconocimientodealgunosdelosproblemasfundamentalesdelamigraciónenlaregión,
ylaexistenciadeunplandeacciónconcreto,losinformesnacionalesdeorganizacionescivilesen
cadapaísindicanquesecontinúaconpolíticasyprácticasmigratoriascontrariasalosprincipios
delaConferenciadePueblaensusrespectivospaíses.
Enlarealidadnacionaldelospaísesmiembrosdelaconferenciahaydistanciamientoconceptual
yprácticodeunanociónintegraldepolíticamigratoria,reduciendolaspropuestasdecambiosa
medidasreguladorasyproyectosdeleyesquetiendenaendurecereltratoalosmigrantes.Se
Migración, continúaasociandoalosmigrantesconlosproblemasdedelincuenciaycrimenorganizado,
Integración justificandoasíeltratamientodelaproblemáticamigratoriadesdeelenfoquedelaseguridad
Regional y la nacionalypública.Lasorganizacionescivilessonllamadasenlofundamentalpararesolvervacíos
Experiencia de
la Conferencia ycarenciasdelasinstitucionespúblicas,peronoparaparticiparenlabúsquedadesolucioneso
Regional sobre discutirpropuestasdeleyesyregulacionesmigratorias.
Migración o
Grupo de Puebla PorotrapartehaytemasrelativosalplandeaccióndelaCRMquepreocupanportenerresultados
Ernesto R. Chávez insuficientesopornoestarrecogidosenformaespecífica,loqueindicalaposicióndelosgobiernos
alrespecto.Lamayorpartedelosgobiernosdelaregióntodavíanohanfirmadoy/oratificadola
58 ConvenciónInternacionalsobrelaProteccióndelosDerechosdeTodoslosTrabajadoresMigratorios
ydesusFamiliares.Noapareceenelplandeaccióneltrabajodelosgobiernosparala
instrumentacióndemodelosalternativosdedesarrollocomunitarioquepermitanunamejora
sustancialdelacalidaddevidadelapoblación,noobstantequese realizóunseminarioyse
elaboróunestudioespecialsobrelarelaciónmigración–desarrollo.Tampocoestáenelplande
acción,laintegraciónconcretadelasorganizacionesdelasociedadcivilalprocesodediscusióny
revisióndepolíticasmigratoriasnacionales,apesardelreconocimientoquehandadolas
conferenciasaltrabajodeestasorganizacionesysuparticipaciónenlarealizacióndeotras
actividades comolosseminariosdediscusión,elproyectoderetornodemigrantesindocumentados
extrarregionalesyelproyectodereinsercióndemigrantesretornadosenElSalvador.
ApesardelasinsuficienciasantesseñaladaseneltrabajodelaCRMydelaslimitaciones
existentesrespectoalaparticipacióndelasorganizacionescivileseneltrabajodeesteforo
gubernamental,podemosplantearquelasorganizacionescivileshanalcanzadoimportanteslogros
consuparticipaciónenelProcesodePueblaalolargodeestosaños.Lograronaumentar
gradualmentesuparticipaciónenlasreunionesintergubernamentalescondiferentesmecanismos
yquelosgobiernosreconocieranlaimportanciadesuparticipaciónylovaliosodesusaportesen
ladiscusióndelosproblemaseinstrumentaciónprácticadelplandeacción.
Alapardelavancedelostrabajosenlaconferencia,lasorganizacionescivilesparticipantes
handesarrolladosuspropiosmecanismosdetrabajoeintercambio,creandoredesnacionales,
binacionalesyregionales,comoeslaRedRegionaldeOrganizacionesCivilesparalasMigraciones
(RROCM)queactúaconunplandeacciónpropio.
Tambiénestasorganizacionescivileshanllegadoaunamayorinteracciónconlosgobiernos
nacionalesenalgunoscasosyenconsecuenciaaaumentarsusespacioseneltratamientodelos
problemasmigratoriosensusrespectivospaíses.
EntérminosgeneralesnohaydudasquelaConferenciaRegionaldeMigraciónhasignificado
unimportantepasodeavanceenlacomprensiónyeltratamientodemigracióndesdeunaóptica
regionaleintegral,sinembargoestáaundistantequelosprincipiosytemasdediscusióny
sugerenciasenlaconferenciaseanparteefectivadelaspolíticasyprácticasmigratoriasencada
país,yhastadelapropiaconferenciaenalgunosaspectos.Lasdiferenciasentrelospaísesdela
regiónsonmuchasylademandademovilidadhumanamayoraun.Elcaminoporrecorreres
largoycomplejoparahacerefectivolosprincipiospropuestosenPueblaen1996enelámbitodela
propiaconferenciayaniveldecadaunodelosgobiernosparticipantes.

BIBLIOGRAFIA

BACH,RobertL.(1993).“ProcessesofMigration”,pp.201-221.InTheChallengeofIntegration:
EuropeandtheAmericas,editedbyPeterH.Smith.NewBrunswick:TransctionPublishers.
Migrações
Internacionais:
ConferenciaRegionalsobreMigración(1996).IConferencia.ComunicadoConjunto.Puebla, Contribuições
México,14demarzo(www.crmsv.org). para Políticas

ConferenciaRegionalsobreMigración(1997).IIConferencia.ComunicadoConjunto.Ciudadde
Panamá,RepúblicadePanamá,14demarzo(www.crmsv.org).

ConferenciaRegionalsobreMigración(1998).IIIConferencia.ComunicadoConjunto.Ottawa,
Canadá,26y27defebrero(www.crmsv.org).
59
ConferenciaRegionalsobreMigración(1999).IVConferencia.Comunicado Conjunto.San
Salvador,ElSalvador,28y29deenero(www.crmsv.org).

ConferenciaRegionalsobreMigración(2000).VConferencia.ComunicadoConjunto.Washington,
D.C.,EstadosUnidos,24demarzo(www.crmsv.org).

DUSCHINSKY,Peter(2000).TheRoleofNon-GovernmentalOrganizations:thePueblaProcess
Experience.(PonenciaalSimposiosobreMigraciónInternacionalenlasAméricas.CEPAL/
CELADE/OIM.SanJosédeCostaRica,4al6deseptiembrede2000.)

EntreRedes(2000).BoletíninformativodelasOrganizacionesCivilesdeCentroaméricayMéxico
sobreaspectosrelacionadosconlamigración.Nº1.MéxicoD.F.,marzo.

EntreRedes(2000a).BoletíninformativodelasOrganizacionesCivilesdeCentroaméricayMéxico
sobreaspectosrelacionadosconlamigración.Nº2.MéxicoD.F.,julio.
EntreRedes(2000b).BoletíninformativodelasOrganizacionesCivilesdeCentroaméricayMéxico
sobreaspectosrelacionadosconlamigración.Nº3.MéxicoD.F.,octubre.
EntreRedes(2001).BoletíninformativodelasOrganizacionesCivilesdeCentroaméricayMéxico
sobreaspectosrelacionadosconlamigración.Nº4.MéxicoD.F.,enero.
GAMARRA M., Carlos (2000).Declaración de Lima de 1999 y seguimiento.(Ponenciaal
SimposiosobreMigraciónInternacionalenlasAméricas.CEPAL/CELADE/OIM.San
JosédeCostaRica,4al6deseptiembrede2000).
GARCÍA C., Mary (2000).ComentariosaltemaGobernabilidaddelamigracióninternacional
ydiplomaciamultilateral.(PonenciaalSimposiosobreMigraciónInternacionalen
lasAméricas.

CEPAL/CELADE/OIM.SanJosédeCostaRica,4al6deseptiembrede2000.)
GARCÍAyGRIEGO,ManuelyMónicaVerea(2000).“Colaboraciónsinconcordancia:lamigración
enlanuevaagendabilateralMéxico–EstadosUnidos”,pp-119-142,enLapolítica
exteriordeMéxicoenladécadadelosnoventa,compiladorasRobertaLajousy
BlancaTorres.SenadodelaRepúblicaLVIILegislatura.

MÁRMORALelio(1996).“Amigraçãodetrabalhadoreseosprocessosdeintegração”.Travessia–
Revista doMigrante.Nº25,Maio-Agosto,pp.43-50.SãoPaulo:CentrodeEstudios
Migratorios(CEM).

México – U.S. Advocates Network (2000).MesaRedondaBinacional:ReplanteandolaMigración


México–EstadosUnidos.InformedelaReunión.18y19defebrero.

Mexico–U.S.AdvocatesNetworkNews(2000a).EspecialEdition:FifthAnnualVice-Ministerial
Migración,
Integración MeetingoftheRegionalConferenceonMigration.April4.
Regional y la
Experiencia de MOHAR, Gustavo (2000).Reflexionessobreel“GrupodePuebla”:enbúsquedadeundiálogo
la Conferencia pendiente.(PonenciaalSimposiosobreMigraciónInternacionalenlasAméricas.CEPAL/
Regional sobre CELADE/OIM.SanJosédeCostaRica,4al6deseptiembrede2000.)
Migración o
Grupo de Puebla
ROCHA,Alberto(1997).“AméricaLatina:lagestacióndelEstado-regiónsupranacionalenla
Ernesto R. Chávez
dinámicapolíticadelaintegraciónregionalysubregional”.EstudiosLatinoamericanos,
60 nº7,enero-junio,pp.69-92.MéxicoD.F.:CentrodeEstudiosLatinoamericanos(CELA).

RODRÍGUEZChávez,Ernesto(1998).MigracióninternacionalydesarrolloenelGranCaribe.
PonenciaalVCongresoAnualdelaAsociaciónMexicanadeEstudiosdelCaribe(AMEC),
Xalapa,Veracruz,abril.

TUIRÁN,Rodolfo,PARTIDA,VirgilioPartidayAVILA,JoséLuis(2000).“Crecimientoeconómico,
librecomercioymigración”,pp.53-75inMigraciónMéxico–EstadosUnidos.Presente
yfuturo,CoordinadorRodolfoTuirán.MéxicoD.F.:ConsejoNacionaldePoblación
(CONAPO).
United Nations.InternationalMigrationPolicies.NewYork,1998.(ST/ESA/SER.A/161)

U.S.ImmigrationandNaturalizationService.(1998).IllegalAlienResidentPopulation.http://
www.ins.usdoj.gov

U.S.ImmigrationandNaturalizationService.(1991)StatisticalYearbookoftheImmigration
andNaturalizationService,1990.Washington,D.C.:U.S.GovernmentPrintingOffice.

U.S.ImmigrationandNaturalizationService.(2000)StatisticalYearbookoftheImmigration
andNaturalizationService,1998.Washington,D.C.:U.S.GovernmentPrintingOffice.
BRASIL
GOVERNO E PARLAMENTO Migrações
Internacionais:
Contribuições
para Políticas

61
62
CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMIGRAÇÃO
NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto*

Commuitafreqüênciaaquestãoimigratóriaocupaaspáginasdosprincipaisjornaisdetodoo
mundo.Emgeral,produzdebatesacirrados,suscitandodiscussõesqueenvolvem,dentrevários
outros,aspectospopulacionais,étnicos,econômicosetrabalhistas.
Algunsgovernoseuropeusvêmadotando,nestemomento,umenfoquerestritivoaodebateda
questão,colocando-aemprismaalarmistae,nãoraro,despertandosentimentosdexenofobia.Nos
últimosdias,amídiaeuropéiaenorte-americanatêmdadodestaqueàafluênciadeimigrantes
turcos,chineses,coreanos,albaneses,africanos,latino-americanos,etc.Discutem-semedidaspara
conter,principalmente,aimigraçãoeconômica,ouseja,adeindivíduosdepaísespobresbuscan-
doemeconomiasmaisdesenvolvidasmelhoresoportunidadesdevida.
Comoaumentodasrestriçõesimigratórias,intensifica-seaatuaçãodequadrilhasespecializa-
dasnotráficodeimigrantes.OassuntoassumiutaldimensãoqueasNaçõesUnidasacabamde Migrações
Internacionais:
aprovaraConvençãodePalermoparaCombateaoCrimeOrganizado,adotadaemconjuntocom Contribuições
trêsprotocolos,equetratadotráficodearmas,pessoaseimigrantes.Duranteasdiscussõesdo para Políticas
Protocolosobretráficodeimigrantes,ocorridasnacidadedeViena,Áustria,foipossívelverificara
nítidadiferençadeopiniãoentreospaísesricos,intermediáriosepobres.Dependendodotemado
Protocolo,colocadoemapreciação,podia-seprever–equasenuncaerrar–oposicionamento
favorávelounãodecadadelegação,tendoemvistaapreocupaçãoquemanifestavamcomos
conceitosmaisliberaissobreoingressodeestrangeiros.Algumasrepresentaçõeschegaramasuge-
rirqueoimigrante,narealidadeavítima,fosseconsideradoco-autordocrimedetráfico.Outros 63
defendiamaequiparaçãoaotraficantedaqueleindivíduoquetentassepromoveroacessodeseus
familiaresaopaísdeacolhida.Felizmente,porseroplenáriocompostodeumamaioriadenações
geradorasdeimigrantes,prevaleceuobomsensoeforamrefutadasessasposições.
Épossívelpreverqueotemacontinuarápresentenaagendainternacionaleseráobjetode
intensosdebatesnospróximosanos.Afortepolíticarestritivaàimigraçãoadotadapormuitos
países,bemcomooflagrantedespreparodaimprensaparaavaliaressetemacomprofundidadee
serenidade,sãofatoresqueacarretampreocupação.OBrasilnãopodeenemdeveafastar-sedessa
discussão.Aocontrário,poderáatémesmoassumirumaposturadeliderançanocenáriointerna-
cional,capazdepropiciarumclimadeserenidadeaodebatedoproblemaimigratório,buscando,
inclusive,soluçõesdecunhohumanitário.
Ospaísesprecisamedevemreagiràadoção–porquemquerqueseja–demedidasque
penalizemoimigrante,infligindoaeste,muitasvezes,tratamentomaisrigorosoecrueldaque-
lequeédadoaocriminoso.Aliás,deve-seresistiratodoequalquersistemajurídicoquetente

* LuizPauloTelesFerreiraBarretoédiretordoDepartamentodeEstrangeirosdoMinistériodaJustiça,membro
doConselhoNacionaldeImigraçãoedoComitêNacionalparaosRefugiados.ParticipadoGrupodeTrabalho
sobreMigraçõesInternacionaisda ComissãoNacionaldePopulação e Desenvolvimento – CNPD.
classificaraimigraçãoilegalcomoviolaçãodaleipenalenãocomoinfraçãoadministrativa.A
imigração,quasesempre,émotivadapelodesejodoindivíduodeprogredir,buscandomelhores
condiçõesdevidaparasieparaosseusfamiliares,razãopelaqualnãohácomovislumbrar
qualquercrimenessaconduta.Apesardeospaísesteremodireitodecontrolaroacessode
pessoasaseusterritórios,otratamentodaquestãoimigratórianãodeverájamaissercontextu-
alizadosobosparâmetrosefundamentosdaleipenal.
Opaíspodeedevebuscarestedebate,mesmoporquesuatradiçãohistóricaderarasvezes
encararaquestãoimigratóriasobopontodevistaxenófoboocredenciaparatal.Oconceitogeral
éodequetratamosbemoimigrante,semqualquerdiscriminação,permitindoquedesfrutede
todasaspossibilidadesparaumaperfeitaintegração.Somosumpaísdeimigração.Umanação
cujaetniaécompostadediversasnacionalidades,produtodasváriascorrentesimigratórias,mui-
tasvezesincentivadaspelogovernoparapovoaredesenvolverváriasregiõesdoBrasil.
AimigraçãonoBrasilcomeçoucomosprópriosdescobridores,osportugueses,noprocesso
decolonização.Posteriormente,comodesenvolvimentodalavoura,principalmenteparaex-
portação,tivemosaimigraçãoforçadadeafricanosquechegaramaoBrasilcomoescravos.
Entretanto,comofimdaescravidão,tornou-seimperiosaavindadeimigrantesparasuprira
necessidadedemão-de-obraparaaspequenaspropriedades,queobjetivavamodesenvolvimen-
toeasegurançadosuldopaís,bemcomoparaalavouracafeeiradeexportação.Nessecontex-
to,chegaramitalianos,alemãesejaponeses.
Considerações AtéosdiasdehojeexistemmovimentosimigratóriosemdireçãoaoBrasil,emborainferiores
sobre a aosqueocorreramnopassado,oriundosdepaísesdaprópriaAméricadoSul,ondesedestacamos
Imigração
no Brasil
nacionaisdaBolívia,Argentina,Paraguai,ChileeUruguai.Nestemomento,dentrodoprocessode
Contemporâneo aberturadaeconomianacionaledaglobalização,aafluênciadeestrangeirosaonossoterritório
Luiz Paulo Teles temporobjetivoaexecuçãodetrabalhossazonais,geralmentevinculadosàinstalaçãodeempre-
Ferreira Barreto sasmultinacionais,àreestruturaçãodaquelasqueforamprivatizadas,aolançamentodeprojetos
mundiaiseaodesenvolvimentodeestratégiascomerciaisregionais.Emgeral,suapermanência
nopaísvariadeumaquatroanos.Constituemumcontingentedepessoasespecializadase,em
64 suamaioria,deexcelenteníveltécnicoeacadêmico,quecontribuem,inclusive,paraoaprimora-
mentodeváriossetoreslaborais,comaconseqüenteaberturadenovospostosdetrabalhoaos
profissionaisbrasileiros,alémdoindispensávelintercâmbiodeexperiências.
Emnúmerosgerais,contudo,épequenaaquantidadedeestrangeirosnoBrasil.Dadosre-
centes apontam para o total de um milhão de estrangeiros, número que vem se mantendo
estávelnosúltimosdezanos.Em1987,dadosdaPolíciaFederalapontavamparaumtotal
aproximadode960milestrangeirosnopaís.Noanoseguinte,1988,foiconcedidaanistiaper-
mitindoaregularizaçãodaquelesqueseencontravamclandestinaouirregularmentenoBrasil.
Essaanistiabeneficiouumtotalde39milestrangeiros.Noveanosdepois,em1996,aPolícia
Federalrealizouumrecadastramentodosestrangeirosemsituaçãoregularnopaís,substituin-
doodocumentodeidentidadeparaaquelesresidentes,ocasiãoemqueseverificouque,na
realidade,existiam980milestrangeiros,umacréscimode20milaototalanteriormentedivul-
gado.Em1998houvereediçãodoprocessodeanistia,noticiadaporumaamplacampanha
publicitária,emtomsimpático,conclamandotodososirregularesouclandestinosacompare-
ceremàPolíciaFederaleregularizaremsuapermanência.Duranteoprazode90diasconcedi-
dospelalegislação,umtotalde40milestrangeirosbeneficiou-sedaanistiarecebendoum
registroprovisório,comvalidadeinicialdedoisanos,suscetíveldeprorrogaçãoporigualperío-
do,findooqualtransformar-se-áempermanente.
Osprincipaisanistiadoseramprovenientesdosseguintespaíses:
ESTRANGEIROS EM SITU AÇÃO IRREGULAR BENEFICIADOS PELA ANISTIA - 1988

1–Bolívia 14.006 42 – Panamá 22


2–China 9.940 43–CaboVerde 21
3–Líbano 3.091 44–Malásia 20
4–CoréiadoSul 2.577 45–Bélgica 19
5–Peru 2.158 46–ElSalvador 17
6–Uruguai 1.736 47–Nicarágua 16
7–Argentina 1.314 48 – Moçambique 15
8–Chile 515 49 – Gana 15
9–Angola 435 50–Zaire 13
10–França 289 51–CostaRica 11
11–Portugal 280 52–Romênia 9
12–EstadosUnidos 250 53 – Noruega 9
13–Nigéria 225 54–Singapura 8
14–Itália 210 55–Filipinas 8
15–Paraguai 200 56–Senegal 8
16 – Alemanha 188 57–Dinamarca 8
17 – Colômbia 155 58–Grécia 8
18 – Espanha 142 59–CostadoMarfim 7 Migrações
Internacionais:
19–Grã-Bretanha 105 60–Honduras 6 Contribuições
20 – Cuba 97 61–Austrália 6 para Políticas
21–Japão 96 62–Mongólia 6
22–Jordânia 74 63 – Armênia 5
23–Síria 59 64 – Camarões 5
24–Suíça 54 65–Etiópia 4
25–Venezuela 51 66–Kuwait 4 65
26 – Equador 50 67–Líbia 4
27 – Canadá 48 68–Finlândia 4
28–Suécia 47 69–Guiné-Bissau 4
29–Polônia 44 70–Irlanda 3
30 – Holanda 44 71–Sri-Lanka 3
31–México 37 72–ÁfricadoSul 3
32–Israel 34 73–Tunísia 2
33–Áustria 34 74–Tanzânia 2
34-Guiana 34 75–Bangladesh 2
35–Palestina 32 76–Turquia 1
36 – Suriname 32 77–Haiti 1
37–Rússia 30 78–Rep.Dominicana 1
38–Libéria 30 79–Letônia 1
39–Paquistão 27 80–Benin 1
40–Marrocos 25 81–Liechtenstein 1
41–Índia 24 TOTAL GERAL 39.131
FONTE: DEPA RTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL.
Osdadosantesapontadosmostramquetantoonúmerodeestrangeirosregulares(processosde
recadastramento)quantoonúmerodeirregularesouclandestinos(processosdeanistia)mantive-
ram-seestáveisnosúltimosdezanos.Essesdadoslevam-nosàconclusãodequeofluxoimigrató-
rioatual–emsentidoglobal–estápraticamenteparalisado,havendoapenasumaligeiramu-
dançaquantoaoperfildoimigrante,quedeixoudesernotadamenteempreendedorparasermais
administrador.Oatualingressodeestrangeirosparatrabalhoemempresasbrasileirascertamente
estáapenascompensandoarecentereduçãonoingressodecidadãosdediversasnacionalidades,
taiscomocoreanos,árabesejaponeses,porexemplo.
Nomesmoperíodo,houveumcrescimentodapopulaçãobrasileira,oquedemonstra,em
númerospercentuais,areduçãodonúmerodeimigrantesnoBrasil,quesefazmaisexpressiva
quandocomparadaadadospassados.EmseutrabalhoImigraçõesInternacionaisnoBrasil:um
panorama histórico,MariaSilviaC.BeozzoBassanezipublicaumatabelaquefazacomparação
dapopulaçãobrasileiracomaestrangeira,entre1872e1980:

POPULAÇÃO BRASILEIRA E ESTRANGEIRA : CENSOS 1872-1980

Considerações
sobre a
Imigração
no Brasil
Contemporâneo
Luiz Paulo Teles
Ferreira Barreto

FONTE: CENSOS 1872, 1890, 1900, 1920, 1940, 1950, 1970 E 1980.

66

Hoje,com170milhõesdehabitantes,dosquaisfazemparteummilhãodeestrangeiros,aper-
centagemdeimigrantesemcomparaçãocomapopulaçãobrasileiraédeaproximadamente0,6%,
númeropequeno,aindamaisquandocomparadoaodeoutrospaíses,inclusivenossosvizinhosdo
Mercosul.Valeressaltarque,nestemomento,cercade1,5milhãodebrasileirosvivemnoexterior.
ApolíticaimigratóriaatualéorientadapelaLeinº6.815,de19deagostode1980,quedesdeo
iníciodesuavigênciavemsendoalvodecríticasnopaís,dentreasquaisasdeMarceloCerqueira,
constantes de sua obraNovaLeideEstrangeirosouRegimentoInternodaBastilha?[Editora
PLG,1981],queainterpretavacomoum“desdobramentodachamadadoutrinadesegurança
nacional”.Defato,trata-sedeleielaboradasoboregimedeexceção,quecarecedeinstrumentos
maiságeisesimplificadosparaaconduçãodapolíticaimigratória,quetemcomosuaprincipal
característicaodinamismo.Nãoparece,contudo,serpossívelatribuiràleiaestagnaçãoouredução
dasimigraçõesnosúltimosanos.Aoquetudoindica,essefenômenodeve-se,muitomais,àsquestões
socioeconômicasmundiais.Esseaspectopoderiaexplicarmaisdiretamenteainversãodofluxo,que
fezcomqueoBrasil,depaísreceptor,fossetransformadoemexportadordemigrantes.
Em1991,oPoderExecutivoencaminhouaoCongressoNacionaloprojetodeumanovaleide
estrangeirosquetramitasobon°1.813/91.Seutextoinicialjácontémumsériodefeito:apresen-
ta-seexcessivamentelongoedetalhado,contendoatémesmoasexigênciasparaaobtençãodos
vistos.Essefator,aliadoaodinamismoinerenteaofluxoimigratório,tornaoprojetodeleijá
defasadonotempo,apesardeterrecebidomaisde50emendasnaCâmaradosDeputados,onde
tramitaatéhoje.Épossívelafirmar,portanto,queaatualleibrasileiradeimigraçãoestáultrapas-
sada,assimcomoultrapassadotambémestáoprojetoquepretendereformá-la.Conseqüentemen-
te,urgeelaboraroutrotexto,aserapresentadosobaformadesubstitutivooudenovoprojeto,que
contempleaconjunturadaimigraçãocontemporâneaedoteopaísdeinstrumentoshábeispara
controlareorientarofluxodeestrangeirosqueingressamemseuterritório.
OnorteorientadordaatualLeideEstrangeirosconstanoparágrafoúnicodeseuartigo16,
quedispõe:

“Parágrafoúnico–Aimigraçãoobjetivará,primordialmente,propiciar
mão-de-obraespecializadaaosváriossetoresdaeconomianacional,vi-
sando àPolíticaNacionaldeDesenvolvimentoemtodososseusaspectos,
e,emespecial,aoaumentodaprodutividade,àassimilaçãodetecnologia
eàcaptaçãoderecursosparasetoresespecíficos.”

Pararegulamentarofluxoimigratório,aleiprevêsetetiposdevistos.Sãoeles:
1–Vistodetrânsito–Éovistoconcedidoparaqueoestrangeiroconsigachegaraopaísdedestino,
passandopeloterritórionacional.Possuivalidadedeapenasdezdias,improrrogáveiseadmite
umasóentrada.Hoje,comodesenvolvimentoderotasaéreasinternacionais,essetipodevisto Migrações
praticamentenãotemsidomaisutilizado. Internacionais:
Contribuições
2–Vistodeturista–ÉconcedidoaoestrangeiroquevemaoBrasilemcaráterrecreativooude para Políticas
visita,semfinalidadeimigratóriaouintuitodeexercíciodeatividaderemunerada.Possuiprazode
validadedeatécincoanos,proporcionandomúltiplasentradasnopaís,comestadasnãoexceden-
tesa90dias,admitidaumaprorrogaçãoporigualperíodo.
3–Vistotemporário–Aleiprevêsetetiposdevistostemporários,comprazosvariáveis,vinculados
àatividadequeoestrangeirodesenvolveránopaís.Sãoeles: 67
3.1–Viagemculturaloumissãodeestudos–Admiteestadadeatédoisanos,prorrogáveis,para
missõesdeestudosqueenvolvamcursosdepós-graduação,pesquisas,desenvolvimentodeprojetos
técnicoseoutrasfinalidadescorrelatas.Estevistonãoadmitetransformaçãoempermanente,de-
vendooestrangeiroretirar-sedopaísapósseuprazodevalidade.
3.2–Viagemdenegócios–Estevistopossuipequenavalidade,porperíododeaté90dias,prorrogá-
veis.ÉconcedidoaoestrangeiroquevemaoBrasilparaprospecçãoouconcretizaçãodenegócios.
3.3–Artistaedesportista–Vistooutorgadoparaapresentaçõesartísticasoucompetiçõesesporti-
vas.Possuivalidadedeaté90dias,prorrogáveis.
3.4–Estudante–Éovistoconcedidoparacursossecundáriosoudegraduação.Possuivalidadede
umano.Ovistopodeserprorrogadodeanoemano,atéofinaldocurso,mediantecomprovação
deaproveitamentoescolaregarantiadematrícula.
3.5–Cientista,professor,técnicoouprofissionaldeoutracategoria,sobregimedecontratooua
serviçodogovernobrasileiro–Estevistopossuiprazomáximodedoisanos,admitidaumaprorro-
gaçãoetransformaçãoempermanente.ÉconcedidoaoestrangeiroquevemaoBrasilparatraba-
lhoremunerado,medianteaformalizaçãodecontratodetrabalhocomempresaouinstituição
sediadanopaís.ParaliberaçãodovistoénecessáriaumapréviaautorizaçãodoMinistériodo
TrabalhoeEmprego,queverificaascondiçõesdeadmissibilidadedoestrangeiroedadosdaem-
presainteressadanacontratação,bemcomosobreacapacitaçãoprofissionaldoestrangeiroea
necessidadedeseusserviçosnoBrasil.
3.6–Correspondentedejornal,revista,rádio,televisãoouagênciaestrangeira–Éovistoque
admitemaiorprazodeestadanopaís:trêsanos,prorrogáveis.Nessacircunstância,oestrangeiro
recebeseusalárionoexteriorepossuivínculoempregatíciocomaentidadeestrangeira.
3.7–Ministrodeconfissãoreligiosaoumembrodeinstituiçãodevidaconsagrada,congregaçãoou
ordemreligiosa–Vistodadoporatéumano,admitidaaprorrogaçãoetransformaçãoempermanente.
4–Vistopermanente–Éconcedidoquandooestrangeiropretendefixar-sedefinitivamenteno
Brasil.Alegislaçãoatualprivilegiaavindadeestrangeirosqualificados,investidoresdecapital
produtivo,detentoresdeconhecimentoquepermitamatransmissãodetecnologia,professores,
cientistas,pesquisadores.Dáespecialatenção,ainda,àreuniãofamiliar,permitindoaresidência
definitivaaosestrangeirosquetenhamcônjugeoufilhosbrasileiros.
5–Vistodecortesia–Trata-sedevistodecontroleexclusivodoMinistériodasRelaçõesExteriores,
utilizadoemcasosexcepcionais,emgeralenvolvendomembrosdogrupofamiliareserviçaisdos
diplomatasestrangeiros.Estevistonãoadmitetransformaçãoempermanente.
6–Vistooficial–ÉconcedidoparapermitiroingressoeestadanoBrasildeestrangeirosque
estejamemmissãooficial,aserviçodeseusgovernos,deoutrospaísesouorganismosinternacio-
nais,quandonãocabívelaconcessãodovistodiplomático.Aconcessãoeprorrogaçãodessevisto
Considerações constituematribuiçõesexclusivasdoItamaraty.Alei,contudo,permitequesejatransformadoem
sobre a
Imigração
vistotemporáriooupermanentepeloMinistériodaJustiça.
no Brasil 7–Vistodiplomático–ÉovistooutorgadoaosrepresentantesdiplomáticosestrangeirosnoBrasil,
Contemporâneo
sejacomorepresentantesdeseusgovernosoudeorganismosinternacionais.Osistemadeprorro-
Luiz Paulo Teles
Ferreira Barreto gaçãoetransformaçãodessevistoéomesmoadotadoparaovistooficial.
Alei,ainda,criouoConselhoNacionaldeImigração–CNIg,órgãopresididopeloMinistério
doTrabalho,comrepresentantesdosseguintesórgãos:
68
•MinistériodoTrabalho;
•MinistériodaJustiça;
•MinistériodasRelaçõesExteriores;
•MinistériodaAgriculturaedoAbastecimento;
•MinistériodaSaúde;
•MinistériodoDesenvolvimento,IndústriaeComércioExterior;
•MinistériodaCiênciaeTecnologia;
•MinistériodasComunicações;
•CentralÚnicadosTrabalhadores;
•ForçaSindical;
•ConfederaçãoGeraldosTrabalhadores;
•CentralGeraldosTrabalhadores;
•SocialDemocraciaSindical;
•ConfederaçãoNacionaldaIndústria;
•ConfederaçãoNacionaldoComércio;
•ConfederaçãoNacionaldaAgricultura;
•ConfederaçãoNacionaldasIndústriasFinanceiras;e
•SociedadeBrasileiraparaoProgressodaCiência.
OCNIg,pormeiode49resoluções,orientaapolíticaimigratória,que,nestemomento,privi-
legiaaimigraçãosobopontodevistadaassimilaçãodetecnologia,investimentodecapitales-
trangeiro,reuniãofamiliar,atividadesdeassistência,trabalhoespecializadoedesenvolvimento
científico,acadêmicoecultural.
Asresoluçõesmaisimportantessãoasseguintes:
•ResoluçãoNormativanº01/97–Dispõesobreaconcessãodevistoparaprofessor,técnicoou
pesquisadordealtoníveleparacientistasestrangeiros,facilitandoasexigênciasparaaconces-
sãodovistotemporáriooupermanente.
•ResoluçãoNormativanº05/97–Regulamentaaconcessãodevistopermanenteaosestrangeiros
queperderamessacondiçãoporausênciadopaís,notadamentequandoessaausênciadecorreu
deestudosuniversitários,treinamentoprofissional,atividadedepesquisaouatividadeprofissio-
nalaserviçodogovernobrasileiro.
•ResoluçãoNormativanº06/97–Prevêaconcessãodepermanênciadefinitivaaestrangeiros
asiladoserefugiadosemumadasseguintescondições:quandooperíododeresidênciatemporá-
rianoBrasilultrapassarseisanos;quandosetratardeprofissionalqualificado;quandooes-
trangeirofordetentordecapacitaçãoreconhecidaouquandodoestabelecimentodenegócio
resultantedeinvestimentodecapitalpróprio.
•ResoluçãoNormativanº10/97–Disciplinaaconcessãodevistoaestrangeiroadministrador,
gerente,diretorouexecutivodesociedadecomercial. Migrações
Internacionais:
•ResoluçãoNormativanº12/98–Estabelececritériosdeescolaridadeeexperiênciaprofissional Contribuições
paraautorizaçãodetrabalhoaestrangeirosquevenhamaoBrasilcomvínculoempregatício. para Políticas

•Resoluçãonº14/98–Disciplinaasaídadoestrangeirodopaísquandotitulardevistotemporário.
•ResoluçãoNormativanº16/98–Disciplinaaconcessãodevistoacientista,professoroupesqui-
sadorestrangeiroquepretendaviraoBrasilparaparticipardeconferências,semináriosoureu-
niõesnaáreadepesquisaedesenvolvimento,paraintegrarmissãodeestudosoudecooperação
eaestudantesdequalquerníveldegraduaçãooupós-graduação. 69

•ResoluçãoNormativanº18/98–Regulamentaaconcessãodevistopermanenteaestrangeiro
quepretendaviraopaísnacondiçãodeinvestidor,administradoroudiretordeempresalocali-
zadaemZonadeProcessamentodeExportação–ZPE.
•ResoluçãoNormativanº23/98–Regulamentaaconcessãodevistoaestrangeiroquepretenda
viraoBrasilpararealizaçãoderesidênciamédica.
•ResoluçãoNormativanº26/98–Disciplinaaconcessãodevistodestinadoàpráticaintensivade
treinamentonaáreadesportivaporatletasestrangeirosmenoresde21anos.
•ResoluçãoNormativanº28/98–Disciplinaaconcessãodeautorizaçãodetrabalhoparafimde
obtençãodevistopermanenteparainvestidorestrangeiro–pessoafísica.
•ResoluçãoNormativanº31/98–Regulamentaaconcessãodevistoparatripulantedeembarca-
çãoestrangeiraafretada,sobprestaçãodeserviçosoucontratoderisco.
•ResoluçãoNormativanº33/99–Prevêaconcessãodeautorizaçãodetrabalhoaartistasou
desportistasestrangeiros,semvínculoempregatícionoBrasil.
•ResoluçãoNormativanº34/99–Dispõesobreautorizaçãodetrabalhoeconcessãodevistoa
estrangeirossobcontratodeprestaçãodeserviçodeassistênciatécnica,acordodecooperação,
convênioouinstrumentossimilares,semvínculoempregatício.
•ResoluçãoNormativanº35/99–Disciplinaachamadademão-de-obraestrangeiraaserviçodo
governobrasileiro.
•ResoluçãoNormativanº36/99–Regulamentaaconcessãodevistotemporáriooupermanente
atítulodereuniãofamiliar.OestrangeiropoderátrazeraoBrasilseucônjuge,filhosmenorese
ascendentes.Emcasosexcepcionais,irmãos,netosoubisnetos.
•ResoluçãoNormativanº37/99–Dispõesobreaconcessãodevistoaestrangeiroquepretendavir
aoBrasilparatreinamentoprofissional,posterioràconclusãodecursosuperiorouprofissiona-
lizante,semvínculoempregatícionopaís.
•ResoluçãoNormativanº38/99–Disciplinaavindadeestrangeiropararealizaçãodereporta-
gense/oufilmagensdefundojornalístico,noticiosooucomercial.
•ResoluçãoNormativanº39–Regulamentaaconcessãodevistoparaministrosdeconfissão
religiosaoumembrosdeinstituiçãodevidaconsagradaouconfessional,decongregaçãoou
ordemreligiosa,quevenhaaopaísparaprestaçãodeserviçosdeassistênciareligiosaouna
condiçãodeestudante.
•ResoluçãoNormativanº40/99–Disciplinaaconcessãodevistoaestrangeirosquevenham
estudarnoBrasil,noâmbitodeprogramadeintercâmbioeducacional.
•ResoluçãoNormativanº41/99–Dispõesobreaconcessãodevistoaestrangeiroquevenhaao
Brasilefetuarestágiocultural.
Considerações
sobre a •ResoluçãoNormativanº42/99–Dispõesobreaconcessãodevistoaestrangeiroquevenhaao
Imigração
no Brasil Brasilefetuarestágioprofissional.
Contemporâneo •ResoluçãoNormativanº43/99–Disciplinaaconcessãodevistoaestrangeiroquevenhaao
Luiz Paulo Teles
Ferreira Barreto
Brasilaoabrigodeacordodecooperaçãointernacional.
•ResoluçãoNormativanº45/2000–Regulamentaaconcessãodevistoparaestrangeirosaposen-
tadosnopaísdeorigem.
70 •ResoluçãoNormativanº46/2000–Disciplinaaconcessãodevistoatripulantedeembarcações
depescaestrangeirasarrendadasporempresasbrasileiras.
•ResoluçãoNormativanº47/2000–Regulamentaaconcessãodevistoaestrangeiroquevenha
aoBrasilparaprestarserviçosjuntoaentidadesreligiosasoudeassistênciasocial.
•ResoluçãoNormativanº48/2000–Disciplinaaconcessãodevistoparatripulanteseoutros
profissionaisqueexerçamatividaderemuneradaabordodenaviodecruzeiroaquaviáriona
costabrasileira,nabaciaamazônicaoudemaiságuasinteriores.
•ResoluçãoNormativanº49/2000–Disciplinaaconcessãodevistoaestrangeirosquevenhamao
Brasilnoâmbitodeprogramadeintercâmbioeducacional.
•ResoluçãoAdministrativanº02/99–Estabelececritériosparaaconcessãodevistotemporário
oupermanenteaocompanheirooucompanheiradeestrangeiroresidentenoBrasil.
•ResoluçãoRecomendadanº02/2000–Estabelececritériosparaaconcessãodevistoaoestran-
geiroquevenhaaoBrasilparatratamentodesaúde.

Comoépossívelperceber,oConselhoNacionaldeImigraçãodesenvolveárduotrabalhona
regulamentaçãodasconcessõesdevistos,tratadasapenasgenericamentepelalei,objetivandocon-
templarasnovassituaçõesgeradaspelademandaimigratórianoBrasil.
AexecuçãoeocontroledapolíticaimigratóriasãoexercidospelosMinistériosdaJustiça,das
RelaçõesExterioresedoTrabalhoeEmprego.ODepartamentodePolíciaFederalpromoveocon-
troledospontosdefronteira,assimtambémconsideradososportoseaeroportoseoatendimento
aosestrangeirosnosestadosdaFederação.
Destaca-se,ainda,naconduçãodapolíticaimigratóriabrasileiraotrabalhodesenvolvidopelo
ComitêNacionalparaosRefugiados–CONARE,órgãodedeliberaçãocoletiva,vinculadoaoMi-
nistériodaJustiça,quetemporfinalidadeaconduçãodapolíticanacionalsobreosrefugiados.O
CONAREépresididopelaSecretáriaNacionaldeJustiça,doMinistériodaJustiça,sendocomposto
porumrepresentantedosseguintesórgãos:

•MinistériodasRelaçõesExteriores;
•MinistériodaSaúde;
•MinistériodoTrabalhoeEmprego;
•MinistériodaEducação;
•DepartamentodePolíciaFederal;
•CáritasArquidiocesanadoRiodeJaneiroeSãoPaulo;e
•AltoComissariadodasNaçõesUnidasparaRefugiados–ACNUR.

NoBrasilencontram-se,nomomento,2.642refugiadosde47nacionalidadesdistintas,amai-
oriaprovenientedepaísesafricanos.OBrasilésignatáriodaConvençãodeGenebrade1951,sobre
oestatutodosrefugiados,etemcompromissointernacionalnosentidodeprotegerpessoasvítimas Migrações
Internacionais:
deperseguições.Contamos,ainda,comaLeinº9.474/97,consideradapelasNaçõesUnidascomo Contribuições
umadasmaismodernasdomundo,queincluiemsuadefiniçãoderefugiadostodasaspessoas para Políticas
perseguidaspormotivosderaça,nacionalidade,religião,gruposocialouopiniõespolíticas.Como
inovação,aleibrasileiratambémconsiderarefugiadooindivíduoque,devidoagraveegenerali-
zadaviolaçãodedireitoshumanos,éobrigadoadeixarseupaísdenacionalidadeebuscarrefúgio
emoutropaís.Essetrabalhoédesenvolvidodentrodavertentededireitoshumanosquedevecarac-
terizaraimigração.AodefenderoinstitutodorefúgiooBrasilafasta,cadavezmais,apossibilida-
dedequeseusnacionais,nofuturo,assimcomoaconteceunopassado,tenhamquedelesevaler 71
paraprotegersuasvidas,integridadefísicaeliberdade.
ComobemlembradoporJoséH.FischeldeAndrade,emDireitoInternacionaldosRefugia-
dos[Ed.Renovar,1996,pág.10],paraosgregos,aformadetrataroestrangeiroconstituium
critérioparamoldaraculturaouabarbáriedeumpovo.
Emconclusão,oBrasil,atémesmoporrazõeshistóricas,nãopodeadotarumapolíticaimi-
gratóriaxenófoba.Axenofobianãoconstrói,massim,volta-secontraquemapratica.Nãohá
comodescontextualizarimigraçãodeDireitosHumanos.Nãoédatradiçãodenossopaís,feliz-
mente,discriminarourepudiarestrangeiros.Paratanto,todavia,faz-senecessáriaumaeterna
vigília.Costumocompararxenofobiaaumgrandeurso,que,mesmoemestadodehibernação,
estásempreali,àesperadequealguém,embaladoemalgumdiscurso–pretensamentenaciona-
lista–,venhaacordá-lo.Aoacordar,certamente,esseursoprovocaráestragosedestruição.Ahistó-
riajánosmostrou.Sónosrestaaprender.
72
LIVRE CIRCULAÇÃO DE TRABALHADORES NO MERCOSUL?

Marcílio Ribeiro de Sant’Ana 1

1. INTRODUÇÃO
Aquestãomigratóriadenaturezatrabalhistaocupalugardedestaquenaspolíticaspúblicas
brasileiras.DoImpérioaosnossosdias,chegaaser,emdeterminadoscontextos,umdosele-
mentoscentraisdosprojetosdedesenvolvimentonacionaledeconstruçãodanacionalidade.
Hoje,otemadamobilidadelaboralreinstala-senaagendapolíticadopaís,sobascondições
ditadaspelanovaordemeconômicaglobaleosnovospadrõesdegestãodotrabalho.Noquadro
mundial,aconstituiçãodosblocosregionaiséumdoscondicionantesmaisativosdoproblema
migratório,querpelastransformaçõeseconômicasqueengendranasrelaçõesintraeextrablo-
co,quer,principalmente,peloredimensionamentoeconômico,socialeculturaldaquestão
migratórianosespaçosintegrados.
AcriaçãodoMercadoComumdoSul(Mercosul),aexemplodeprojetossemelhantes,abreum
novocenárioparaosmovimentospopulacionaisedostrabalhadoresemparticular,umavezquea Migrações
Internacionais:
livrecirculaçãoécomponenteessencialdeummercadocomum.Todavia,asvicissitudesnaturais Contribuições
doprocessodeintegraçãoregional,aheterogeneidadesocioeconômicadospaísesmembros,a para Políticas
baixainstitucionalizaçãodadimensãosociolaboraltêmretardadoaincorporaçãododireitoda
livrecirculaçãoàagendadoMercosul.Nele,prevaleceaindaoconceitodequeaquestãomigrató-
ria,comooutrostemasdaesferadotrabalho,épartedoscustossociaisdaintegração,enãofator
dedesenvolvimentoeconômicoeprogressosociocultural.
Estetextobuscacompreendercertosobstáculosqueseantepõemàlivrecirculaçãodetraba-
73
lhadoresnoMercosul,apartirdaanálisedetraçosdominantesdapolíticamigratóriabrasileira
-algunsencontramfortecorrespondêncianaspolíticasdosparceirosdobloco- ,quemoldam
umacultura,senãorefratária,poucoafeitaàidéiadeexercíciodessedireito.Sefundadaessa
abordagem,acondutaalgoconservadoradoBrasil-considerando-seaimportânciadopaís
nasnegociaçõesdomercadoregional-contribuiria,senãodeformadeterminante,demanei-
raapreciávelparaamanutençãododivórcioentreoprojetodeconstruçãodeumespaçoeconô-
micointegradoesuadimensãosocial,quesemanifestadeformamaiscompletanalivrecircu-
laçãodetrabalhadores.

2. O EST ADO BRASILEIRO E A QUESTÃO MIGRA TÓRIA

Agênesedaquestãomigratóriacomorazãodeestadoécontemporâneadosurgimentodo
Estadonacional,comoressaltaVainer[1996],aorecordarqueumdosprimeirosatosdoBrasil
independenteéaDecisãonº80,de31demarçode1824.Nela,D.PedroImandademarcaras
terrasdacolôniaalemãSãoLeopoldo,reconhecendo-acomodeutilidadeparaoImpériopor
empregargentebrancalivreeindustriosa(p.39).Esseatoinauguraldapolíticaimigratória
comportadoiscaracteres-aeuropeizaçãoeoconceitodecontribuiçãoeconômicadaimigra-

1
CoordenadorNacionalAlternodoSGT10eMembroGovernamentalAlternodaComissãoSociolaboraldoMercosul.
ção-quemarcarão,comsuasvariantes,acondutadoEstadonessecampo,desdeentãoaté
nossosdias.DuranteoImpério,essapolíticaconstitui-seumempreendimentoexitosodoEsta-
dobrasileiro,capazdeoperaratransiçãodotrabalhoescravoaotrabalholivre,intervindona
formaçãodeumexércitodetrabalhadoresaptosasustentaraexpansãocafeeiraeoprimeiro
surtourbano-industrialdopaísId.:43].
OBrasilnãoestáisoladoemsuainclinaçãoeuropeizante.Kratochwil[(1996:157]observa
queosnovosEstadosindependenteseescassamentepovoadosdaAmérica“professamquaseem
uníssonoumapolíticadepromoçãodaimigraçãoeuropéia”.
ARepúblicabrasileiradácontinuidadeàpolíticamigratóriainiciadapeloImpérionadécada
de1870.Umdeseusprimeirosatos,oDecretonº528,de28dejunhode1890,queregulamentao
ServiçodeIntroduçãoeLocalizaçãodeImigrantes,declarainteiramentelivreaentradadeindiví-
duosaptosparaotrabalho,excetuadososindígenasdaÁsiaouÁfrica,admitidosnoterritório
brasileirosomentemedianteautorizaçãodoCongressoNacional.
Vainerresumeemtrêsosobjetivospretendidosouasnecessidadesaserematendidaspelapolí-
ticamigratória:aeconômica,pelaobtençãodeforçadetrabalhoadestradaedisciplinada;aeugê-
nica,medianteaeuropeizaçãodopaís;eanacional,pelaconstruçãodeumpovounificadoe
integradoporpadrõesculturaishomogêneos.Mas,assinala,oconceitoprevalecenteéodeassimi-
laçãodoimigranteàsociedadenacional,talcomooexprimeOliveiraVianna,umdosexpoentes
daarianizaçãodapopulaçãoedefesadanacionalidade,autordoAnteprojetodeLeideImigração,
Livre Circulação de1935.Viannacriticaapolíticaimigratóriacentradaapenasnaatraçãodobraçotrabalhador,do
de Trabalhadores
no Mercosul?
imigrante-trabalho,sematençãoaopapeldoimigrantenaconstruçãodanacionalidadeeavirtu-
alameaçaquepoderiarepresentaraoprojetodenação.
Marcílio Ribeiro
de Sant’Ana Apartirde30edita-seumconjuntodemedidasconcernentesàentrada,circulaçãoelocaliza-
çãodosestrangeiros,carregadasdeparadoxoseambigüidades:aomesmotempoemqueafirmam
anecessidadedeintegração/assimilaçãodeestrangeirosànacionalidade,sublinhamsuacondi-
çãodeestrangeiroseossubmetemanormasdiscriminatórias.
74 Asconcepçõeseuropeizantesediscriminatóriasdapolíticamigratóriabrasileiramantêm-se
mesmoapósaSegundaGuerraeaderrotadonazismo.ExemplodissoéoDecreto-Leinº7.967,de
18desetembrode1945,quereafirmaaliberdadedeingressodoestrangeironoBrasil,desdeque
satisfeitaanecessidadedepreservaredesenvolverascaracterísticasdaascendênciaeuropéiaea
defesadotrabalhadornacional[Vainer:44].
Documentosediscursosoficiaisoudeentidadesdeclasses,aindanosanos50,coincidemna
preocupaçãodemanterascaracterísticasdaascendênciaeuropéiadamaioriadopovobrasileiroe
deaprimoraracontribuiçãoeugênica,moraleprofissionaldoscontingentesdeimigrantes.
Umadasconseqüênciasmaispalpáveisdaeuropeizaçãodapolíticamigratóriaéqueoestado
deorigempassaainfluenciartambémacondiçãosocialdosimigradosefuncionarcomoelemen-
todediscriminaçãopolítica,econômica,cultural,sendoosimigrantestratadosdeformadistinta
segundoaprocedênciaeasrelaçõesassimétricasprevalecentesentrepaíses[Id.:45-50].

3. O TRABALHO E A QUESTÃO MIGRA TÓRIA

Noiníciodosanos30,cenáriodeprofundastransformaçõessociais,políticaseeconômicas,a
preocupaçãocomaproteçãodotrabalhadornacionalganhalugarderelevonapolíticamigrató-
ria.ODecretonº19.433,de26denovembrode1930,promulgadopelopresidenteGetúlioVargas,
criaumaSecretariadeEstadocomadenominaçãodeMinistériodoTrabalho,IndústriaeComér-
cio,queabsorveoServiçodePovoamento,antessubordinadoàSecretariadaAgricultura,Indús-
triaeComércio(art.5º).ODecretonº19.667,de4defevereirode1931,organizaonovoministé-
rio,aoqualsesubordinaoDepartamentoNacionaldoPovoamento.Aessaunidadeatribui-se
(Decreton.19.670,tambémde4defevereirode1931)“asuperintência(sic)efiscalizaçãodos
serviçosdeimigraçãoecolonização,promovidosdiretamentepelaUniãoouporintermédio
dosestados,empresasdeviaçãoférreaefluvial,companhias,associações,outrasempresase
particulares”(art.1º).Oúltimoatoarticula,administrativaefuncionalmente,osserviçosde
imigração,fiscalização,assistência,orientaçãoecolocaçãodosimigrantes.
Acriaçãodoministériocoincidecomimportantemudançanapolíticamigratóriabrasilei-
ra,queassumefeiçãocrescentementerestritiva,soboargumentodeproteçãodotrabalhador
nacional.ODecretonº19.482,de12dedezembrode1930,éumdosatosquemelhortraduz
essainflexão:porele,ogovernoprovisório,considerando“asituaçãodedesempregoforçado
de muitos trabalhadores”, causada em grande parte pela“entradadesordenadadeestran-
geiros,quenemsempretrazemoconcursoútildequaisquercapacidades,masfreqüente-
mente contribuem para aumento da desordem econômica e da insegurança social”,deter-
minaalimitaçãodaentradadepassageirosestrangeirosdeterceiraclassedosnavios,pelopra-
zodeumano(art.1º).Alémdisso,fixaaobrigatoriedadedosempregadoresdecomprovarem
peranteoMinistériodoTrabalho,IndústriaeComércioaproporçãomínimadedoisterçosde
brasileirosnatosentreseusempregados(art.3º).
Oprincípiodadefesadotrabalhadornacionalquesustentaanovapolíticamigratóriabrasilei- Migrações
raécomumaoutrospaísesdoConeSuledeoutrasregiões.Elereflete,notaPérezVichich[1999: Internacionais:
10-11],umcontextomarcadopelamudançadanaturezadoEstadodiantedastransformações Contribuições
para Políticas
socioeconômicas,emquesemisturam críticaaomodeloliberale necessidadedesolucionaro
problemados“semtrabalho”,frutodacrisedomodeloagroexportadoredainstabilidadepolítica.
Robortella[1989]percebe,nasmedidasderestriçãoàentradadeestrangeiros,motivospolítico-
ideológicos,especialmenteointuitodelimitarainfluênciadetrabalhadores,sobretudoeuropeus,
nosmovimentossociaisesindicais,portadoresde“inspiraçõesantinacionais”.
AsambigüidadesdapolíticaimigratóriaestãoevidentesnojácitadoDecreto-Leinº7.967. 75
Promulgadocomoobjetivode“imprimiràpolíticaimigratóriadoBrasilumaorientação
racionaledefinitiva,queatendaaduplafinalidadedeprotegerosinteressesdotrabalha-
dornacionalededesenvolveraimigraçãoqueforfatordeprogressoparaopaís”,determi-
na(art.2º)queaadmissãodeimigrantesdeveráatender“ànecessidadedepreservaredesen-
volver,nacomposiçãoétnicadapopulação,ascaracterísticasmaisconvenientesdasua
ascendênciaeuropéia,assimcomoadefesadotrabalhadornacional”.
Aproteçãodotrabalhadornacionalconcretiza-se,sobretudo,nareservademercado,ele-
mentoqueseincorporaàlegislaçãotrabalhistaemesmoàsconstituiçõesbrasileiras,apartirda
de1946atéade1988,segundoRobortella[1989].AConsolidaçãodasLeisdoTrabalho(CLT),
expedidapeloDecreto-Leinº5.452,de1ºdemaiode1943,reservatodoumcapítuloànaciona-
lizaçãodotrabalho(art.352a371).Deleconstaaobrigatoriedadedasempresasdeobservara
proporçãodedoisterçosdeempregadosbrasileirosnoquadrodepessoal.Segundodoutrina
trabalhistalargamenteaceita[Martins,1999:298ess],essesdispositivosperderameficáciaem
facedoprincípioconstitucionaldeigualdade,semdistinçãodequalquernatureza,debrasilei-
roseestrangeirosresidentesnopaís,perantealei,inclusivenoquetangeaolivreexercíciode
trabalho,ofícioouprofissão,desdequeatendidosrequisitosprofissionaisestabelecidosemlei
(art.5,XIII).Todavia,esseentendimentonãoéunânimeentreosjuristas,nemacatadopelo
ConselhoNacionaldeImigração.
AlgunselementosdessapolíticarestritivacontinuamemvigornoBrasil,especialmentenaLei
nº6.815/80,principalinstrumentoreguladordasituaçãojurídicadoestrangeironopaís,inclusive
damotivadaporrazõesdetrabalho.Oatolistaosaspectosdeterminantesàconcessãodevistos
temporáriosoupermanentes,dispondonoart.2º:

“NaaplicaçãodestaLeiatender-se-áprecipuamenteàsegurançanacional,
àorganizaçãoinstitucional,aosinteressespolíticos,socioeconômicosecul-
turais do Brasil, bem assim à defesa do trabalhador nacional.”Ecomple-
menta,noartigosubseqüente:
“Aconcessãodovisto,asuaprorrogaçãooutransformaçãoficarãosempre
condicionadasaosinteressesnacionais.”

Otextolegalrefleteasconcepçõesdesegurançanacionaledesenvolvimento,predominantes
napolíticabrasileiraduranteoregimemilitar.Achamada“doutrinadasegurançanacional”tem
nocontroledoingressodapopulaçãoestrangeiraumdeseustraçosmaisenfáticos,noperíodode
regimesditatoriaisconhecidospelospaísesdaregião,e,apesardaredemocratizaçãoedoprocesso
deintegração,algunsdeseusprincípioscontinuamemvigência[PérezVichich,1999:8-9],robus-
tecidosatualmentepelainternacionalizaçãodotráficodedrogasedocombateàssuasatividades
capitaneadopelosEstadosUnidos.
Naesferadotrabalho,aLei6.815/80reafirmaoprincípiodadefesadotrabalhadornacional.
Livre Circulação
de Trabalhadores
Omecanismousualdeaplicaçãodesseprincípioéoquesepoderiadenominar“provadenecessi-
no Mercosul? dadeeconômica”,versãorecondicionadadoenfoqueeconômicodapolíticamigratóriadeperío-
Marcílio Ribeiro dosanteriores,administradapeloatualMinistériodoTrabalho.Arazãoeconômicamanifesta-se
de Sant’Ana demaneiramaisexplícitanoparágrafoúnicodoart.16doatolegal,emqueselistamascondi-
çõesparaaconcessãodovistopermanente:

“Aimigraçãoobjetivará,primordialmente,propiciarmão-de-obraespe-
cializadaaosváriossetoresdaeconomianacional,visandoàpolíticana-
76
cional de desenvolvimento em todos os aspectos e, em esspecial,aoau-
mentodaprodutividade,àassimilaçãodetecnologiaeàcaptaçãodere-
cursosparasetoresespecíficos.”

Aqualidadedaforçadetrabalhoestrangeiraécritériomencionadotambémnoart.357da
CLT,cabendoaoMTEavaliaradisponibilidadedetrabalhadoresnacionaisparaoexercíciode
funçõestécnicasespecializadas.
Acontribuiçãoeconômicafunciona,hoje,comooprincipalmecanismodefiltragemdaentra-
dadetrabalhadoresestrangeirosnoBrasil.Todavia,nãoécritériodefácilaplicação.Emprimeiro
lugar,pelaausênciaouinsuficientenitidezdeuma“políticanacionaldedesenvolvimento”,que
deveriaservirdereferênciaàpolíticamigratória.Faltam,ademais,indicadoresquetraduzam,
objetivamente,acontribuiçãodosimigrantesaodesenvolvimento,àprodutividade,àtecnologia.
Operaressecritériopressupõe,porpartedosadministradorespúblicos,umacapacidadedemoni-
toraromercadodetrabalhoquelhespermitisseajustar,diantedaofertainternademão-de-obra,
ofluxodosimigrantesàsnecessidadesnacionais.Nafaltadessespressupostosestratégicosetécni-
cos,osagentespúblicosdaimigraçãotendemaconsiderar,emsuasdecisões,quasequeexclusiva-
menteaobservânciadeexigênciasformaiseburocráticas.Maisgraveainda,é quepodemestar
sujeitosapressõeseainteressesdegrandesempresasegruposeconômicos,queapelamaoargu-
mentofácildainexistênciaouescassezdeprofissionaisnoBrasilparajustificaroingressodeseus
executivos,profissionaisespecializadosetécnicos.Nãoestranhaqueofluxodeentradadeestran-
geiros,nosanosrecentes,sejaconstituídopredominantementedetrabalhadoresvinculadosàs
empresastransnacionaisqueadquiriramasestataisbrasileiras.
Aburocratizaçãodaautorizaçãodetrabalhoaestrangeiro,queotrabalhadorraramente
consegueenfrentarporsisó,deuorigemàfiguradodespachante,naformadeescritóriode
advocaciaouprofissionalautônomo,queseincumbedodesembaraçodosprocessosjuntoàs
autoridadesdaimigração.
Desprovidasdeumavisãoestratégicadodesenvolvimentonacionaledocomportamentodo
mercadodetrabalho,asdecisõesdegovernooscilamentreumaaberturamaiscéleredomercado
detrabalhoaprofissionaisdasempresastransnacionais(acatando,portanto,oargumentocorren-
tedaincorporaçãodetecnologiadeponta,depadrõessuperioresdeprodutividade,denovoscon-
ceitosdegestãodotrabalho)emedidaslimitantesdoingressodetrabalhadoresestrangeiros,to-
madas,freqüentemente,sobpressãodasorganizaçõessindicaiseamparadasnavelharazãoda
defesaeproteçãodosnacionais.

4. NORMAS E A GÊNCIAS REGULADORAS D AS


MIGRAÇÕES INTERNA CIONAIS TRABALHIST AS

AConstituiçãoFederalde1988afirmacompetirprivativamenteàUniãolegislarsobreemigra-
ção,imigração,entrada,extradiçãoeexpulsãodeestrangeiros(art.22,XV).ALeinº9.649,de27
Migrações
demaiode1998,quedispõesobreaorganizaçãodaPresidênciadaRepúblicaedosministérios, Internacionais:
remeteapolíticadeimigraçãoaocampodeatuaçãodoMinistériodoTrabalho(art.14,XVIII). Contribuições
Emcomplemento,oDecretonº3.129,de9deagostode1999,queaprovaaestruturaregimental para Políticas
desseórgão,definecomocompetênciasdaSecretariadeRelaçõesdoTrabalho-SRT,noart.17:

“IX–supervisionareacompanharasatividadesrelacionadasaautoriza-
çãodetrabalhoaestrangeirosnoterritórionacionalemanterbancosde
dados informatizados sobre o mercado de trabalho e mão-de-obra, forne-
77
cendoàPrevidênciaSocialosdadosnecessáriosparafinscadastrais;
X–supervisionareacompanharasatividadesrelacionadascomaautori-
zaçãodoMinistérioecontrataçãodetrabalhador,porempresaestrangeira,
paratrabalharnoexterior;
XI–darsuporteaoConselhoNacionaldeImigração.”

OMTEexercesuascompetênciasnaáreadeimigraçãoemduasesferas:a)oConselho
NacionaldeImigração,órgãocolegiado–comapresidênciadestinadaaoMTE–ecomposto
porrepresentantesgovernamentais,deempregadoresedetrabalhadores.Incumbeaoconselho
orientar,coordenarefiscalizarasatividadesdeimigração(Leinº6.815,art.129);eb)aCoor-
denação-GeraldeImigração(CGIg),encarregadadecoordenar,orientaresupervisionarasati-
vidadesrelacionadasàautorizaçãodetrabalhoaestrangeiroseàcontrataçãooutransferência
debrasileirosparatrabalhonoexterior.
Aautorizaçãodetrabalhoaestrangeiroséoatoadministrativoexigidopelasautoridadescon-
sularesbrasileiras,emconformidadecomalegislaçãoemvigor,paraefeitodeconcessãodevisto
permanentee/outemporárioaestrangeirosquedesejamingressarepermanecernoBrasilpor
motivodetrabalho.Aconcessãodevistodetrabalhoestácondicionadaàexistênciadecontrato
formaldetrabalhocomempresaematividadenoterritórionacional.Aexigênciadecontrato
escritoéparticularismodalegislaçãomigratória,jáquealegislaçãotrabalhistaadmiteoutras
modalidadescontratuais,inclusiveoacordoverbal(CLT,art.443).
OvistoéoatoadministrativodecompetênciadoMinistériodasRelaçõesExteriores(MRE),
queconcedeaoestrangeiroaautorizaçãoparaentrarepermanecernopaís,umavezsatisfeitasas
exigênciasprevistasnalegislaçãodeimigração.Segundooart.4ºdaleiacimacitada,aoestran-
geiroquepretendaentrarnoterritóriobrasileirosepoderáconcederovistodetrânsito,deturista,
temporário,permanente,decortesia,oficialediplomático.
AintervençãodoMTEdá-senaconcessãodosvistostemporárioepermanente.Noprimeirocaso,
aautorizaçãodetrabalhoérequeridaquandooestrangeiropretendeviraoBrasilnacondiçãode
artistaoudesportista(Leinº6.815,art.13,III),ounacondiçãodecientista,professor,técnicoouprofis-
sionaldeoutracategoria,soboregimedecontratoouaserviçodogovernobrasileiro(art.13,V).
OvistopermanenteéaautorizaçãoconcedidapeloMREaoestrangeiroquepretendaseestabele-
cerdefinitivamentenoBrasil.Suaconcessãorequertambémpréviaautorizaçãodetrabalho,quando
setratardeprofessor,técnicooupesquisadordealtonível;cientistaquepretendaexerceratividadeem
entidadespúblicasouprivadas,deensinooudepesquisacientíficaetecnológica;investidor(pessoa
física);ouocupantedecargodeadministrador,gerenteoudiretordesociedadecomercialoucivil.
ALeinº6.815dispensatratamentoespecialaoestrangeiroresidenteemáreascontíguasao
territóriobrasileiro,permitindo-lheoingressonosmunicípiosfronteiriçosmedianteasimples
apresentaçãodeprovadeidentidade.Alémdomais,autoriza-oaexerceratividaderemuneradaou
Livre Circulação
de Trabalhadores afreqüentarestabelecimentodeensinonosmesmosmunicípios,sendo-lhefornecidodocumento
no Mercosul? especialdeidentificaçãoe,seforocaso,carteiradetrabalho(art.21).
Marcílio Ribeiro Valemencionar,porsuasimplicaçõessobreamobilidadetransnacionaldetrabalhadores,a
de Sant’Ana
Leinº7.064,de6dedezembrode1982,quedisciplinaasituaçãodetrabalhadorescontratadosno
Brasil,outransferidosporempresasdeengenhariaeassemelhadas,paraprestarserviçosnoexte-
rior.Essaregrasingular,estranhaaoprincípiodaterritorialidadedalegislaçãotrabalhista,aceita
pelosEstadosPartesdoMercosul[Paula,1995],temdadomargemaque,emumamesmaempre-
78 sa,trabalhadoresrecrutadosnoBrasilrecebamtratamentodiversodaqueledispensadoaosnacio-
naisdopaísdedestino.Esseprocedimentoconstituiviolaçãoflagrantedodireitofundamentalda
igualdadedetratamentonoempregoenaocupação,consagradonaConvençãonº111ena“De-
claraçãodaOITrelativaaprincípiosedireitosfundamentaisnotrabalho”[1998].
Desde1991,tramitanaCâmaradosDeputadosoProjetodeLeinº1.813-A,querevogadisposi-
tivosdaLeinº6.815eque,seaprovado,regularáasituaçãojurídicadoestrangeiroemterritório
brasileiro,assimcomoosprocedimentoserequisitosparaaconcessãodevistosdetrabalhoe
outrasdisposiçõesaplicáveisaoassunto.Emsuaexposiçãodemotivos,ogovernosustentaa
necessidadedeadequaranormalegalaonovoquadrojurídicoinstauradopelaConstituiçãoe
dedaràmatériatratamentosistemáticoeunificado.Oprojetocuidadeprecisaranoçãode
interessenacionalquedevepresidirasdecisõesquantoaingresso,permanênciaelocomoçãode
cidadãosestrangeirosnopaís,masnãoinovanaabordagemdaimigraçãodenaturezatrabalhista.
EmboraposterioraoTratadodeAssunção,otextopropostoquedaalheioaotemadaintegração
regional.NãocontémnenhumadisposiçãoquefortaleçaarelaçãocomossóciosdoMercosul,
limitando-searepetiraconcessãooutorgadapelaleiatualaosfronteiriços.Arigor,aúnica
referência ao bloco vem da Emenda nº 26, que propõe“asseguraraosnacionaisdepaíses
integrantesdoMercosul,sehouverreciprocidade,osmesmosdireitosgarantidosaosbrasi-
leirosnotocanteaoexercíciodeatividadeseconômicaselaboraisedefreqüênciaaestabe-
lecimentosdeensino”[CâmaradosDeputados,1999].
5 . A D I MENSÃO SOCIOLABORAL DO MERCOSUL
5.1. GÊNESE D A Q U E S T Ã O

EmboraaspreocupaçõesdecunhosocialnãosejamestranhasaoTratadodeAssunção–há
mençãoexplícitaàrelaçãoentreoprocessodeintegraçãoregionaleodesenvolvimentoeconômi-
cocomjustiçasocial[Mercosul,1992]–,oatoconstitutivodoMercosulnãoprevênenhuma
instânciadestinadaaconsiderarosassuntosdenaturezasocialetrabalhistadaintegração.Ele,a
exemplodaexperiênciadeformaçãodoMercadoComumEuropeu[Franco,1993]edeoutros
blocosregionais,estásustentadoporrazõesfundamentalmenteeconômicasecomerciais,esurge
noambienteimpregnadopelavagaideológicaneoliberal,quepostulaasupremaciadosdogmas
daliberdadeindividualedemercado,dacompetição,daprodutividade,sobrequalquerpressupos-
todenaturezasocial.Atemáticasociolaboralinscreve-senaagendanegociadoradoMercosul
fundamentalmenteporpressãodosmovimentossociais,emespecialdaCoordenaçãodeCentrais
SindicaisdoConeSul[Rodríguez;Castro,1995].
Háoutrosfatoresquetornariaminevitável,cedooutarde,odebatesobreasimplicaçõessociais
dasnovasconfiguraçõeseconômicas.Fortalece-seaconvicçãodequeaglobalizaçãodaeconomia
esuascontrapartidasregionais,diversamentedasexpectativasquantoàgeneralizaçãodosbenefí-
ciosdeespaçoseconômicoscrescentementeunificados, fazem-seacompanhardeumaprofunda-
mentodaconcentraçãoderendaedadesigualdadesocial[Ricupero,1997].Diferentesfóruns
internacionaisalertamparaanecessidadedeseinstituirmecanismosdeacompanhamentoeava-
liaçãodoscomponentessociaisdessesprocessoscomomeiodegarantiraharmoniaentreprogres- Migrações
Internacionais:
soeconômicoebem-estarsocial.GrandeimpulsoaessaidéiafoidadopelaCúpuladeCopenhague Contribuições
(1995),cujasdeliberaçõesrecalcamaimprescindibilidadedeumesforçodecoordenaçãodaspo- para Políticas
líticasnacionaisedapromoçãodorespeitoaosdireitosfundamentaisdostrabalhadores,sobretu-
dopelaratificaçãoecumprimentodasnormasinternacionaisbásicasdotrabalho[OIT,1996].
Sobumaformamaistangente,otemadadimensãosocialinstala-senapautadoMercosulà
proporçãoqueamarchadaintegraçãoafetademodoinequívocoascondiçõesdetrabalhoede
vidadaspopulações,acarretandomudançasnonívelenacomposiçãodoemprego,mobilidade 79
socioespacial,assimetriaslaborais,obsolescênciadashabilidadesprofissionais,problemasdepro-
teçãosocial.TalsituaçãoexigedosEstadosPartesumesforçoconjuntodirigido:a)melhorcom-
preensãodosproblemascomunsdaesferadotrabalho;b)aproximação/harmonizaçãodaslegis-
laçõesenormastrabalhistas;c)garantiadosdireitosfundamentaisdotrabalhoedaseguridade
social;ed)aprofundamentodacooperaçãoentreosserviçospúblicosdossóciosdobloco.

5 . 2 . O S G T10: NA TUREZA E COMPOSIÇÃO

AestruturainstitucionaldoMercosul,apartirdaassinaturadoProtocolodeOuroPreto(1994),
contemplaadimensãosocialdoprocessodeintegraçãoemváriosforosnegociadores–entreos
quais,aReuniãodeMinistrosdoTrabalho,oForoConsultivoEconômicoeSocial(órgãoderepre-
sentaçãoexclusivadossetoreseconômicosesociais)eoSGT10“AssuntosTrabalhistas,Emprego
eSeguridadeSocial”–,competentesparaproporaosórgãossuperioresmedidasconcretasdestina-
dasapromoveramelhoriadascondiçõesdevidaedetrabalhodaspopulaçõesdosEstadosPartes.
OSGT10,deacordocomaResoluçãoGMCnº20/95,constituiumórgãodeapoiotécnico
doGMC,competindo-lheanalisarostemasdaesferadotrabalhoedaseguridadesocialepropor
aesseforoexecutivoasmedidaserecomendaçõescompatíveiscomamarchadaintegração
regional.Reveste-sedecarátersingular–suaestruturaefuncionamentotripartites–,servindo
comoamploespaçodenegociaçãoentregovernos,empregadoresetrabalhadoresemtornodos
componentessociolaboraisenvolvidosnaformaçãodoMercosul.Oprincípiododiálogosocial
traduz-senapráticadoconsensoadotadonaformulaçãoenodesenvolvimentodostemasde
suapautanegociadora,condutaquetornamaisconsistenteseduradourasassoluçõesepropos-
tasporeleelevadasaoGMC.

5.3. PA U TA NEGOCIADORA DO SG T 1 0
ApautanegociadoradoSGT10,aprovadapeloGrupoMercadoComum,medianteasresolu-
çõesnº115/96e153/96,abrangeextensoecomplexoelencodetarefaseações;ameradesignação
dosubgrupojáodáaentender.Paraimplementarsuaagenda,oSGTorganiza-seemtrêscomis-
sõestemáticas(CT),asaber:

a)CTI,RelaçõesdeTrabalho,cujatarefaprimordialéoestudocomparativodosinstitutosjurí-
dicosepráticosqueregulamentamasrelaçõesindividuaisecoletivasdetrabalhonospaísesdo
Mercosul,comvistasàfuturaharmonização;
b)aCTII,Emprego,Migrações,QualificaçãoeFormaçãoProfissional,temaseuencargoum
diversificadoelencodeproblemas,noqualsedestacamaestruturaçãodo“ObservatóriodoMer-
cadodeTrabalhodoMercosul”,oestudodaquestãomigratóriaeacriaçãodosistemadecerti-
ficaçãodecompetênciasprofissionais;e
c)aCTIII,Saúde,SegurançaeInspeçãodoTrabalhoeSeguridadeSocial,buscadesenvolver
Livre Circulação mecanismosqueampliemosistemadeproteçãotrabalhistaesocialnosquatropaíses.
de Trabalhadores
no Mercosul? 5.4. PRINCIP AIS REALIZAÇÕES DO SG T 1 0
Marcílio Ribeiro
de Sant’Ana OSGT10contabilizaimportantesfeitosaolongodosanos,entreosquaisvaledestacar:

a) ADeclaraçãoSociolaboraldoMercosul,firmadapelospresidentesdosEstadosPartes,no
RiodeJaneiro,em10dedezembrode1998,congregaosdireitosecompromissosfundamen-
taisnaáreadotrabalhoreconhecidospelospaísesdaregião.Integram-na:a)direitosindivi-
80 duais(igualdadenotrabalho,proteçãoatrabalhadoresmigrantesefronteiriços,eliminação
dotrabalhoforçado,eliminaçãodotrabalhoinfantil);b)direitoscoletivos(liberdadesindi-
caledeassociação,greve,negociaçãocoletiva,diálogosocial);c)direitosconexos(fomento
doemprego,proteçãodosdesempregados,formaçãoprofissional,proteçãoecondiçõesde
trabalhoeseguridadesocial);ed)ummecanismodeaplicaçãoeacompanhamento;ea
ComissãoSociolaboraldoMercosul,órgãotripartite,auxiliardoGrupoMercadoComum,
comcaráterpromocionalenãosancionador,dotadodeinstânciasregionalenacionais,in-
cumbidodefomentaraobservânciadosdireitosecompromissosinscritosnaDeclaração,
esclarecerasdúvidassobreaaplicaçãodessa,revisá-laperiodicamente.Acomissãofoiinsti-
tuídaoficialmentepelaResoluçãoGMCnº15/99.
b) OAcordoMultilateraldeSeguridadeSocialdoMercosul,subscritoemMontevidéu,em14de
dezembrode1997,visaasseguraratodosostrabalhadoresdoMercosulforadeseupaísdeori-
gemeaseusdependentesosmesmosdireitosàseguridadesocialreconhecidosaosnacionaisdo
paísemqueseencontremtrabalhando.OAcordotramitanosparlamentosnacionaispararati-
ficação,oquejáocorreunoUruguai.
c)Oestudocomparativodaslegislaçõestrabalhistasdospaísesdaregião,comvistasàidentifica-
çãodasassimetriaslegaiseàharmonizaçãonormativaemritmoeextensãocompatíveiscoma
marchadaintegração.Oestudodeveconcretizar-senochamadoNomencladorMercosul,do-
cumentoquevairetrataraconvergênciaeadiscrepânciaentreaslegislações.
d) oObservatóriodoMercadodeTrabalhodoMercosul,emfasedeestruturação,éorganismo
destinadoaomonitoramentopermanentedomercadodetrabalhoregional.Seupapelconsiste
naproduçãoedifusãodeinformações,estudosepropostasdeação,paraembasarpolíticase
programasdeagentespúblicoseprivadosnaáreadoemprego;
e) osPlanosOperativosConjuntosdeInspeçãodoTrabalho,eventosquereúnemgovernose
setoressociaisdosquatrospaísesparaointercâmbiodeinformaçõessobreaorganização,a
baselegal,osmétodoseaspráticasdossistemasinspecionaisdotrabalho,inclusivenoque
tangeàscondiçõesdesaúdeesegurançaemeioambiente.OSGT10,porintermédioda
ComissãoTemáticaIII,levouacabodoisciclosdeexperiênciasconjuntas,comenfoque
privilegiadosobreascondiçõesdetrabalhonaconstruçãocivilenacadeiaprodutivadosetor
dealimentos,incluindoasatividadesagrícolas.

NasrealizaçõesdoSGT11,antecessordoSGT10,sobressaemaanálisecomparadadaslegisla-
çõesmigratórias,oestudosobreatividadeseconômicasmaissensíveisàsmigraçõeseoestudodos
custostrabalhistasnoMercosul.Taisempreendimentosforamlevadosacaboporconsultoresex-
ternos,contratadoscomrecursosdoBancoInteramericanodeDesenvolvimento(BID).

6. O TEMA MIGRA TÓRIO NA P AUTA NEGOCIADORA DO MERCOSUL

AquestãomigratóriaprecedeaconstituiçãodoMercosul.OConeSulcaracteriza-se,de
longadata,comoimportanteáreademobilidadesociolaboral,tendoamigraçãointernacional
Migrações
desempenhadopapelfundamentalnaformaçãosocioeconômicaeculturaldospaísessignatá- Internacionais:
riosdoTratadodeAssunção.Apósasondasimigratóriasprovenientes,sobretudo,depaíseseuro- Contribuições
para Políticas
peus,asmigraçõesentrepaíseslimítrofespassamarepresentaroprincipalfluxopopulacional
nasúltimasdécadas[Vichich:1999].Trata-sedemovimentoespontâneodetrabalhadores,que
acompanhamamobilidadedoscapitaiseodeslocamentodafronteiraagrícolaembuscade
melhoresoportunidadesdetrabalhoedevida.Partedessefluxolaboralrealiza-seàmargem
dosquadrosnormativos.Nãoraroatitudesxenófobaseracistas,abrigadassobacapadadefesa
dosinteressesnacionaisedosempregos,lançamàcontadosimigrantes“ilegais”aresponsabi-
81
lidadepeloscustossociaisdaspolíticasdeajuste.Apartirde80,cresceaemigraçãodetrabalha-
doresdaregiãoparaaEuropaeosEstadosUnidos,porefeitodadesaceleraçãoeconômicaeda
reduçãodaofertadeempregos.
OprincipalproblemamigratórioenvolvendooBrasileparceirosdoblocoé,comcerteza,o
casodosbrasiguaios,gruposocialformadopelostrabalhadoresexcluídosdomercadodeterrase
dosplanosdedesenvolvimentorural.Anterioraoprojetodomercadocomumregional,oproblema
dosbrasiguaiosaindaaguardaumapolíticasocialsatisfatóriaeumaadequadacompreensãodos
nexosentresuasdimensõessocioeconômicasedemográficas[Salim,1996].
AassinaturadoTratadodeAssunçãotransformaocenáriodasrelaçõesentreospaísessig-
natários,inclusivenoquetangeàmobilidadesocialelaboral,consideradasobumenfoque
novo,odalivrecirculação.
Migraçãoelivrecirculaçãosãoconceitossocialejuridicamentedistintos.Oprimeirobaseia-se
nanoçãodefronteirasfechadasenopoderdoestadodecontrolaroingressodeestrangeirosemseu
território.Osegundoliga-seàidéiadefronteirasabertaseàpossibilidadedoscidadãosdesloca-
rem-se,livremente,nosterritóriosdospaísesmembrosdeumacordodeintegração.Hágenerali-
zadoconsensodequeodireitodelivrecirculaçãodepessoaséumdireitofundamentaleuma
exigênciasocioeconômica,aoladodaliberdadedecirculaçãodecapitais,debensedeserviços,de
umprocessodeintegraçãoplena,comoaquelapretendidapelosestadossignatáriosdoTratadode
Assunção[PérezdelCastillo,1995;PérezVichich,1999].Alivrecirculaçãoé,especialmente,um
pressupostodomercadodetrabalhointegrado.Naóticamaisestritamentejurídica,GoldineRivas
assim a definem:“Alivrecirculaçãoimplica(...) aliberdadededeslocar-seaoutropaís
integradoeobteraliempregoeresidência.Mastambém,emsuaessência,ogozoefetivo
de um nível satisfatório deigualdadedeoportunidadesedetratamento,eoreconheci-
mento correlativo dos que designaremos genericamente comofatoresacessóriosdebem-
estardotrabalhadormigrante(v.g., totalizaçãodeserviçosparaaseguridadesocial,“ex-
portaçãodeprestações”emcasodemudançaderesidência,reuniãocomfamiliares,fer-
ramentasdetrabalho,acessoàescolaridade,remessadelucros,etc).Ausentesumaou
outros,alivrecirculaçãonãoémaisqueumagarantiafictícia” (grifosoriginais).Numa
perspectivamaismarcadamentesocioeconômica,alivrecirculaçãoexerce,segundoateoriada
integração,umainfluênciapositiva,aopermitirqueaforçadetrabalho translade-seaoslugares
ondedesempenhemelhorsuacapacidadeprodutiva[LohrmanneProfazy,1997].
OTratadodeAssunçãocontempla,emborademaneiravaga–autoresreferem-seaodéficitdo
atoinauguraldoMercosulemmatériadequestõessociaisnoprojetodeintegração,queserefleti-
riatambémnaausênciadosministrosdoTrabalhodoConselhodoMercadoComum,ondetêm
assentoosministrosdasRelaçõesExterioresedeEconomia[PérezdeCastillo,1995:35]–,o
direitodelivrecirculaçãodetrabalhadores,aoestabeleceremseuart.1º:

“Este Mercado Comum implica:


Livre Circulação
de Trabalhadores Alivrecirculaçãodebens,serviçosefatoresprodutivosentreospaíses,atra-
no Mercosul? vés,entreoutros,daeliminaçãodosdireitosalfandegários,restriçõesnão
Marcílio Ribeiro tarifáriasàcirculaçãodemercadodequalqueroutramedidadeefeitoequi-
de Sant’Ana valente[Mercosul,1992:6].”

ÉinevitáveloparalelocomostatusjurídicodotrabalhadorcomunitárionaComunidade
EconômicaEuropéia.OTratadodeRoma(1957)erigealivrecirculaçãodepessoas,juntamente
comadebens,serviçosecapitais,comomarcoparaoestabelecimentodomercadocomum
82
[LohrmanneProfazi,1997],determinando:“Alivrecirculaçãodostrabalhadoresdentroda
Comunidadeficaráassegurada,nomaistardar,aofinaldoperíodotransitório.Alivre
circulaçãosuporáaaboliçãodetodadiscriminaçãoemrazãodanacionalidadeentreos
trabalhadores dos Estados membros, no que concerne ao emprego, à remuneração e às
demaiscondiçõesdetrabalho.”(art.48,§§1ºe2º).Alivrecirculaçãodetrabalhadoresencabe-
çaosdireitoscompreendidosnaCartaComunitáriadosDireitosSociaisFundamentaisdosTraba-
lhadores,adotadaem9dedezembrode1989,emEstrasburgo.Essediplomaafirma:“1.Todosos
trabalhadoresdaComunidadeEuropéiatêmdireitoàlivrecirculaçãoemtodooterritório
daComunidade,semprejuízodaslimitaçõesjustificadasporrazõesdeordempública,
segurançapúblicaesaúdepública.2.Odireitoàlivrecirculaçãopermiteatodoequal-
quertrabalhadoroexercíciodetodaequalqueratividadeprofissionalnaComunidade
segundooprincípiodaigualdadedetratamento,noqueserefereaotrabalhoaoacessoao
trabalho,àscondiçõesdetrabalhoeàproteçãosocialnopaísdeacolhimento.”Passa-se
imediatamentedospropósitosàação.Apartirde1958,aComissãoEuropéiaincumbe-seda
eliminaçãodasbarreirasaolivremovimentodetrabalhadoresentreospaísesdacomunidade,o
quecompreendetantoaremoçãodeobstáculosformaisquantoagarantiadeoportunidades
iguaisparaoscidadãoscomunitários.Dezanosdepois,editam-seosprimeirosregulamentos
viabilizandoodireitodelivrecirculaçãodaforçadetrabalho[LohrmanneProfazi,1997;Pa-
pandreou,1990].OTratadodeAmsterdã,de1ºmaio1999,absorveasdecisõesadotadasdesde
1985pelosmembrosdochamado“espaçoShengen”(aboliçãodasfronteirasinternasentreos
Estadossignatáriosecriaçãodeumafronteiraexternaúnica,einstituiçãodasmedidasdesegu-
rançaespecialmentecontraoterrorismoeocrimeorganizado),integrando-asaoquadrojurí-
dicoeinstitucionaldaUniãoEuropéia.
NapresenteetapadaconstruçãodoMercosul,definidacomoperíododeaperfeiçoamentoe
consolidaçãodaUniãoAduaneira,aintegraçãorestringe-seàliberdadedecirculaçãodecapi-
tais,debenseserviços,comassalvaguardaspertinentesàslistasdeexceçõesedeprodutoscom
regimeespecial.Nãoobstante,comosublinhaDíazLabrano[1996],alivrecirculaçãoédas
liberdades,aqueexternacommaiorclarezaaexistênciadeumprocessodeintegração,porque
afetadiretamenteavidadocidadão,produzindoumaadesãoimediataaoidealintegracionista,
aopassoqueamanutençãodosentravesàcirculaçãoprovocaaversãoaesseprocesso.Rodri-
guez-Piñero[apudGoldineRivas:547]acrescentaquealiberdadededeslocar-sealémdas
fronteirasnacionaisporrazãodetrabalhoé“ainovaçãomaisradicaldodireitocomunitá-
riocomrespeitoaofenômenomigratório”.
Adespeitodosavanços,inclusivesociais,naintegraçãosub-regional,noMercosulconti-
nua-seafalardemigraçãotrabalhista,nãodelivrecirculaçãodetrabalhadores.Oscidadãos
dospaísesmembrosquesedeslocampormotivodetrabalhonoespaçodoblocosubmetem-se
aomesmotratamentodispensadoaosoriundosdepaísesextrazona.Háiniciativasdesimplifi-
caçãodeprocedimentosadministrativos,comooacordoArgentina-Brasildeisençãodevistos
paradeterminadosprofissionais,oProtocolodeServiços,normasdefacilitaçãodotrânsitofron- Migrações
teiriço,osacordosbilateraisnaáreasocial(q.v.oitem8).Trata-se,todavia,demedidaslimi- Internacionais:
tadas,algumasanterioresaoTratadodeAssunção,quenemsempreseenquadramnoprojeto Contribuições
para Políticas
integracionista.OnúcleodaspolíticasmigratóriasnoMercosulaindanãoconsideraosmovi-
mentospopulacionaiscomofatordedesenvolvimentoeconômicoesocial,continuandoaenca-
rarasfronteirascomoespaçodeconflito,emevidentecontradiçãocomaconcepçãosubjacente
aoprocessodeintegraçãoregional,queredefineessamesmaregiãocomoáreapolíticaeeconô-
micacontínua[PérezVichich,1999:26-28].
Nãoobstante,aquestãomigratóriaéobjetodeinteressedeváriosforossociais,emparticular 83
doSGT10.JáoSGT11,aosercriadopeloGrupoMercadoComum(Resoluçãonº11/91),tinha
entresuasatribuiçõesoestudodaquestãomigratória.AComissãonº3“EmpregoeMigrações
Trabalhistas”,umadasnovequeocompunham,deveriaocupar-sedoestudodalivrecirculaçãode
trabalhadoresedaidentificaçãodasmedidasnecessáriasparaalcançá-la,tarefasquesedeveriam
concluiraté31dedezembrode1994,segundopreviamoCronogramadeLasLeñaseaDecisão
nº 01/92deConselhodoMercadoComum.AComissãopropôsaexecuçãodediagnósticodos
mercadosdetrabalho,aserconfiadoaumgrupotécnico,masapropostanãocontoucomoapoio
doSGT11,queexortouacomissãoaoprontotratamentodotema.Gradativamente,cresceua
resistênciaemencararotemaeatendênciadeconsideraramigraçãoumefeitoindesejadoda
integraçãoenãoumcomponenteessencialdessa,concepçãoqueexplicariaosmodestosavanços
registradosnosanosseguintes[PérezVichich,1999:60-62].
Estudiosos,entreosquaisamesmaPérezVichich[1999]eVigevani[1998],sustentamaidéia
deperdadaimportânciadaquestãomigratórianaagendadoMercosul.Aprimeira,emborareco-
nheçaoirrealismodasmetasdoCronogramadeLasLeñas,afirmaqueacentralidadedamatéria
migratória indicava“umasólidadecisãopolíticaconsensualeorientadapararesolvera
questão social”(p.62).Segundoela,odesaparecimentodotemadalivrecirculaçãocoincide
comoadventodoProtocolodeOuroPreto,emdezembrode1994,atoqueredefineaorganização
funcionaldoMercosul.Emconseqüênciadele,oGrupoMercadoComum,pelaResoluçãonº20/
95,instituioSGT10emsubstituiçãoaoSGT11.Nosucessor,ofocosobreaquestãomigratória
transfere-sedotemadalivrecirculaçãoparaoestudodosfenômenosmigratórios,compreen-
dendoarealizaçãodediagnósticos,produçãodeestatísticaseelaboraçãodenormas.Altera-se,
também,aorganizaçãodotrabalho,comasubstituiçãodascomissõestemáticaspermanentes
pelotratamentodetemasprioritários.Emsuma,alivrecirculação,deobjetivoprioritáriono
Cronograma de Las Leñas–oqueindicavaadecisãopolíticadecobrirtodososaspectosda
integração –, comasmudançasdecorrentesdoProtocolodeOuroPreto,transforma-seem
objetivosecundárioefragmentado[PérezVichich,1999].

Pode-seexaminaressesupostodebilitamentodaquestãomigratórianaagendadoMercosul
soboutraótica.Emprimeirolugar,hágeneralizadoconsenso(dequeparticipamoscitados
autores)quantoaoirrealismodasmetasfixadasnoTratadodeAssunçãoenoCronogramade
LasLeñas,prevendoofuncionamentodomercadocomumapartirde1ºdejaneirode1995.
Esseprazo,segundoSeitenfus[1994]eoutros,adequava-semaisàduraçãodosmandatosdos
presidentessignatáriosdoTratadodoqueàscondiçõesconcretasparaseatingiromercado
comum.Oanode1994e,maisespecialmente,a5ªReuniãodeCúpula,emColôniadoSacra-
mento(Uruguai),representamumimportantepontodeinflexãonasnegociaçõesdoMercosul:
oobjetivoprioritáriopassaaseraimplementaçãodeumaUniãoAduaneiraapartirde1ºde
janeirode1995,aprovando-seapautanegociadoraeosinstrumentoscomunsessenciaisaessa
etapa,comoaadoçãodaTarifaExternaComum (TEC).OProtocolodeOuroPreto,assinado
em17dedezembrode1994,alémdefirmaroMercosulcomopersonalidadejurídicadedireito
Livre Circulação
de Trabalhadores internacional,estabeleceosmecanismosorganizacionaisetécnicoscapazesdeviabilizaras
no Mercosul? metasdoTratadodeAssunção[Gonçalves,1996].
Marcílio Ribeiro
de Sant’Ana Aorelatarafrustraçãodasexpectativasquantoàentradaemfuncionamentodomercadoco-
mum,Seitenfus[1994]comentaatentativadeautoridadesbrasileirasdeatenuarosfracassoscom
oargumentodequeosgovernosdospaísesmembrosnãoencaravamaconsolidaçãodeummer-
cadocomumcomoumobjetivoreal.OBrasil,observa,defronta-secomumdilema:consideraro
Mercosul, “comomuitasvezesogovernobrasileirodáaentender,apenasumaquestãoco-
84 mercial”epassaratratá-locomo“umdesafiodepolíticaeconômicanacional”,ouencará-lo
comoumespaçoúnicoquepodesignificar,alongoprazo,ofimdasfronteiraspolíticas.

Osobstáculosàlivrecirculaçãonãoserestringemàsmudançasnocronogramadeimple-
mentaçãodomercadocomum.Antes,aheterogeneidadesocioeconômicadospaísesdaregião,
asegmentaçãodosmercadosdetrabalho,asassimetriasentreaslegislaçõestrabalhistas,a
desconexãodossistemasdecapacitaçãoprofissionaledereconhecimentodecompetências
laborais,aausênciadeinstitutocomumdeproteçãosocial,sãofatoresque,ontemcomo
hoje,limitamaspossibilidadesdecirculaçãoorganizadadetrabalhadores.Assim,seopropó-
sitodeabrirasfronteirasnacionais constituiu-se,algumdia,prioridadenoMercosul–como
entendemalgunsestudiosos–certamentehaveriadeesbarraremumaparatolegaleinstitucio-
nalinadequadoparatanto.

Alivrecirculaçãodostrabalhadorese,deresto,doscidadãoscontinuaaexigir,porseraspecto
indissociáveldoprojetodeintegração,tratamentomaisclaronasdefiniçõespolíticaseprogramá-
ticasdoMercosul.OTratadodeAssunçãoéreticente,paradizeromínimo,noquetangeaomerca-
dodetrabalhoregionalintegrado.Nãoseencontrammençõesexplícitasaodireitodelivrecircu-
laçãoemoutrosatosfirmadosnoâmbitodobloco.Otemaapareceaquieacoláemdiscursose
entrevistasdeautoridadesdaregião.Ovice-presidentedaRepúblicadoBrasil,porexemplo,escre-
vequeaintegraçãoeconômicaserácomplementada,maiscedooumaistarde,pelalivrecircula-
çãodetrabalhadores,ealertaparaograndeesforçodeharmonizaçãodaslegislaçõestrabalhistas
epolíticassociaisdospaísesdobloco[Maciel,1996;vertambémSardenberg:11-13].
Emrealidade,apenasomovimentosindicalconsideraalivrecirculaçãodetrabalhadoresele-
mentoprioritáriodaintegraçãoregional,situando-onomesmoplanodaobservânciadosdireitos
trabalhistas[Vigevani,1998].ApropostadeCartadosDireitosFundamentaisdoMercosul,de
autoriadaCoordenadoradasCentraisSindicaisdoConeSul–CCSCS,dedezembrode1993,dizno
art.6º:“TodotrabalhadordosEstadosPartestêmdireitoàlivrecirculaçãoemtodooterritório
compreendidonoâmbitodoTratado.Alivrecirculaçãoimplicaquetodosostrabalhadores,
qualquer que seja seu país de origem, terão em todo momento igualdade de tratamento,
direitosecondiçõesdetrabalhoqueostrabalhadoresnacionais.”ParaaCCSCS,alivrecircu-
laçãodeveriaalcançar-semedianteaaboliçãodeproibiçõeselimitesaomovimentodostrabalha-
dores,harmonizaçãodascondiçõesderesidência,reconhecimentodetítulosouqualificaçõespro-
fissionais,melhoradascondiçõesdevidaetrabalhodostrabalhadoresfronteiriçoseharmoniza-
çãodossistemasdeseguridadesocial(art.7º).Umsegundoinstrumento,tambémsugeridopelas
organizaçõessindicais–aPropostaSindicaldeProtocoloSocio-LaboraldoMercosul,dejulho
de 1998–repeteoconteúdodomencionadoart.6º[CCSCSeOIT].
Poderecorrer-seaváriashipótesesparaexplicaropoucorelevoatribuídoàlivrecirculação
detrabalhadoresnasnegociaçõesdoMercosul.Olugardesignadoaotema,comoaoutrosas-
suntossociais,ésecundárioedependentedaconclusãodosacordoscomerciais,àsemelhança
doqueocorrenaconstituiçãodeoutrosblocoseconômicos,emqueprevalecemrazõeseconô- Migrações
Internacionais:
micaseideologiadomercado.Porém,oprincipalfreioaoexercíciodalivrecirculaçãoéo Contribuições
temordequeaaberturadasfronteiraspossaintensificarascorrentesmigratóriasemdireção para Políticas
aospólosdecrescimentoeconômicoeáreasdepadrõestrabalhistasmaiselevados,desorgani-
zandoosmercadosdetrabalhoepressionandoosserviçosbásicoseaseguridadesocial.Alguns
estudiososreplicamnãoexistirevidênciadeefeitosnegativosdamigraçãosobreoemprego.
PérezdeCastillo[1995:19-20]invocaaexperiênciaeuropéia,emqueaamplaliberdadede
circulaçãosuscitouescassamobilidadelaboral,restritaatécnicos,funcionáriosdealtaqualifi-
caçãoouexecutivos.Alémdisso,aludeaestudosrealizadosnaArgentinaquedemonstramque 85
amigraçãolimítrofenãoafetaomercadodetrabalhoe,particularmente,nãoéfatoragravante
dodesempregonaquelepaís.Aocontrário,oreferidopesquisadorconjeturaqueamaiorpresen-
çadeimigrantestenhaefeitospositivossobreacapacidadedepoupançainterna,onívelda
atividadeeconômicaeasoportunidadesdetrabalho.

Adespeitodasolidezdosargumentos,deve-senotarqueocasoeuropeunãoconstituiparâme-
troapropriadoparaseestimarpossíveisimpactosdamobilidadelaboralnoMercosul.AUnião
Européiaconformaumespaçoeconômicoesocialmuitomaishomogêneoqueoblocosul-ameri-
cano.Paratanto,contribuíramdecisivamenteaspolíticasdeinvestimentoemáreasmaispobrese
deconvergênciadeníveisdevida[LohrmanneProfazi,1997].AEuropaOcidentalé,delonga
data,cenáriodeintensosfluxosdetrabalhadores,sazonaisoupermanentes,eáreadeacolhidade
grandenúmeroderefugiados,exiladospolíticos,perseguidosreligiososetc.Aindaassim,segundo
osmesmosautores,aliberdadedecirculaçãodepessoasfoidasliberdadesamaisdifícildeimple-
mentar,tambémpeloreceiodequeosdiferenciaisdeganhoserendapudessemconstituirfatorde
estímuloàmigraçãolaboraleperturbarosmercadosdetrabalhonacionais,oquenãoocorreuem
nenhumaetapadeconcretizaçãodessedireito.

Jáoexemplodasituaçãoargentinapareceválidonumquadrodemobilidadesocioespacial
controlada.Seadotadaalivrecirculaçãosemosdevidoscuidados,seriarazoávelanteveruma
intensificaçãodofluxodetrabalhadoresdepaísescommaiorcrescimentodemográficoemenores
níveisderendaparaaquelesdemaiordesenvolvimentoeconômicoesocial.
Recorde-se,ainda,queconjunturaseconômicasrecessivaseaumentodadesocupaçãocriam
umambientepropícioaosurgimentodeatitudesxenófobasemesmoapolíticasrestritivasao
ingressodeestrangeiros,soboargumentodequeestessubtraempostosdetrabalhodosnacionais,
pressionamosserviçospúblicos,elevamosníveisdecriminalidade.OspaísesdoMercosulnão
estãoisentosdessasmanifestações.NodizerdeNegri[2000],essassãoformasdeviolênciaquea
novaordemmundialtambémimpõeàlivrecirculaçãodetrabalhadores,emnomedeprivilégios
nacional-corporativistas,queencobrematrocadesigualNorte-Suleaexploraçãoferozdascama-
dasmaisfrágeisdoproletariadomundial.
Amobilidadedostrabalhadoresconstituionógórdiodosprojetosdeintegração,sobretudoem
contextoseconômicosesociaisheterogêneos,querpelasdificuldadesintrínsecasàaberturade
fronteiras,querpelaprimaziadalógicadomercadoemtaisprojetos.RecenteartigodeDornbusch
[2000]éelucidativoquantoaosdoisângulosdaquestão.Aocomentaroincrementodasrelações
econômicasecomerciaisentreaUniãoEuropéiaeoLesteeuropeu,aqueleeconomistaadverte
paraosproblemasdeumaintegraçãoqueincluaamobilidadedetrabalhadoresesuaparticipação
narededeseguridadesocialeuropéia,oucomoelediz,“adifusãodoEstadodeproteçãosocialem
direçãoaoLeste”.Aintegração,sustenta,ébem-vindanostermosdomercadolivreemcomércio,
serviçosbancários,câmbioeseguroemobilidadeirrestritadecapitais,nãohavendo,porém,razão
parasepromovertotalmobilidadedaforçadetrabalho.
Livre Circulação
de Trabalhadores Paraalémdosaspectosmetodológicosoupráticosquecondicionamalivrecirculaçãodetra-
no Mercosul? balhadoresemespaçosintegrados,épossívelentrever,comoassinalaPérezVichich[1999:64]a
Marcílio Ribeiro lógicasubjacenteàsdecisõespolíticas,quepermiteirrestritamobilidadedecapitaisecircunscreve
de Sant’Ana
oselementossociaiseculturaisnoâmbitonacional:ocapitaltiraproveitodasassimetriasentre
países,deslocando-se,sobaformadocapitalfinanceiroouindustrial,oquenãoacontececomo
trabalho,excetoseomesmocapitallegitimaamobilidadedetrabalhadores.

86 7. A QUESTÃO MIGRA TÓRIA NA A GENDA DO SG T 1 0


Comosepôdeobservar,alivrecirculaçãodetrabalhadores,emboracomponenteessencial
doprojetodeintegração,nãoconstituiobjetivoprioritáriodosEstadosPartesnapresenteetapa
deconstruçãodomercadocomum.Contudo,especula-sequeoaumentodointercâmbioeconô-
micoecomercialsefazacompanhardeincrementodamobilidadedetrabalhadoresnaregião,
conjeturanãocorroborada,noquetocaaonossopaís,pelosdadosoficiaisdoMinistériodo
TrabalhoeEmprego.OBrasil,observamestudiososdaquestãomigratória[RepettoAguirre,
1995;PérezVichich,1999],esteveexcluídodosprocessosmigratórioshistóricosentreospaíses
daregião,oquesedevetantoàpolíticapreferencialpelaforçadetrabalhoeuropéia,quantoà
capacidadeinternadesuprirasexigênciasdemão-de-obradoprocessodeindustrialização.As
exceçõesficamporcontademovimentosmigratóriosemzonaslimítrofesedotransladode
profissionaisaltamentequalificadosaosprincipaiscentroseconômicos.Emanosrecentes,cres-
cetambémapresençadetrabalhadoresprocedentesdepaísesvizinhosmenosdesenvolvidos,
geralmenteemocupaçõesdesprovidasdeproteçãotrabalhistaeprevidenciária,comoéocaso
dosbolivianosnaindústriadeconfecçõesemSãoPaulo.
OsdadossobreoingressodetrabalhadoresnoBrasil(quadro),emboranãoencorajemjuí-
zoscategóricos,parecemconfirmarassuposiçõesacimamencionadas.Comefeito,observa-se
escassapresençadenacionaisdospaísesmembrosdoMercosul,cujaparticipaçãonototalde
imigrantessuperaempoucoos3%.
NÚMERO DE A UTORIZAÇÕES DE TRABALHO CONCEDID AS A CID ADÃOS
ESTRANGEIROS E A ORIUNDOS DOS P AÍSES DO MERCOSUL

MERCOSUL
Ano Total Total Argentina Paraguai Uruguai
1998 14.110 563 484 29 50

1999 12.711 306 274 8 24


2000* 14.580 424 373 24 27
Total 41.401 1.293 1.131 61 101

FONTE: MINISTÉRIO DE TRABALHO E EMPREGO. COORDENAÇÃO -GERAL DE IMIGRAÇÃO.


(*) Até setembro, inclusive.

Osargentinosformamocontingentemaisexpressivodessefluxomigratório,respondendopor
maisde87%dostrabalhadoresprocedentesdobloco.
Músicos,artistas,esportistaseassemelhadossãoascategoriasprofissionaiscommaiorpartici-
pação(36,8%),ressaltando-sequesuaestadanopaísé,emregra,temporária.Seguem-nosdire-
toresegerentesdeempresas(21,5%),técnicosedesenhistastécnicos(9,5%),engenheirosearqui-
tetos(3,6%)eoutrosgruposdeprofissionaisqualificados.SãoPaulo(47,6%),RiodeJaneiro
(19,5%)eParaná(13,0%)sãoasprincipaiszonasdedestinodessaforçadetrabalho. Migrações
Internacionais:
Contribuições
OsdeslocamentostransfronteiriçosentreoBrasileparceirosdoMercosul,emboranãorecen- para Políticas
tes,sevêmintensificandoapósacriaçãodobloco,segundoafirmamórgãospúblicos,entidades
profissionais,meiosdecomunicação.Asfronteiras,lembraKratochwil(p.159),sãocenáriode
intensacirculaçãodepessoasdesdeaorigemdosestadosdaregião.Todavia,nãosecontacom
dadosquepossibilitemdimensionartaismovimentos,nemcomestudosqualitativosquecondu-
zamàmelhorcompreensãodesuascaracterísticasedinâmicaesustentemprogramasdedesen-
volvimentodasáreascontíguas.AConfederaçãoNacionaldosTrabalhadoresnaAgricultura(CON- 87
TAG)chamaaatençãoparaoaumentodamobilidadenasfronteirasmotivadapelademanda
sazonaldaatividadeagrícola.Ocomércioresponde,provavelmente,pelofluxomaisintensode
trabalhadoresbrasileirosemdireçãoaospaíseslimítrofes:estima-sequedeoitomiladezmil
nacionaiscruzemdiariamenteafronteiraentreFozdoIguaçueCiudaddelEste(Paraguai)e
PuertoIguazú(Argentina),atraídosespecialmentepelosalário,queatingeUS$600fixosemlojas
deeletrodomésticosnoladoparaguaio(CorreioBraziliense,em23dejulho2000).

Ausentealivrecirculaçãodetrabalhadoresdofocodasprioridadesnoatualestágiodainte-
graçãoregional,asiniciativasdosEstadosPartesorientam-se,sobretudoparaomelhorconhe-
cimentodamobilidadelaboralereflexosnosmercadosdetrabalho,acoordenaçãoentreos
agênciaspúblicasdeimigraçãoeagarantiadosdireitosdeproteçãotrabalhistaesocialaos
trabalhadoresmigrantes.

ApautanegociadoradoSGT10,aprovadapeloGrupoMercadoComum(Resoluçãonº115/
96),prevêaexecuçãodasseguintestarefasprioritáriasnocapítulodasmigraçõestrabalhistas:

a)aavaliaçãodosestudossobrei)fluxosmigratórioseii)harmonizaçãodenormasparalivre
circulaçãodetrabalhadoresnoMercosul,levadosacaboporconsultorescontratadoscom
recursosdoBID;
b)arealizaçãodeestudossobreasituaçãodotrabalhoemzonasfronteiriças,contemplandoa
necessidadedetratamentobilateral/setorialparadeterminadasquestõesedeintercâmbiodas
informaçõesjálevantadaseminiciativasnacionais;

c)aatualizaçãodosestudoscomparativosdasnormasdeimigraçãoeempregodetrabalhadores
imigrantesemvigoremcadaEstadoParte,bemcomodoscompromissosdecorrentesdaadesão
atratadosmultilateraisrelativosàmatéria,parapossíveltratamentocomumeadequaçãodos
institutosmigratóriosaosobjetivosdaintegração;

d)aincorporaçãodocomponentemigraçõeslaborais,comocritérioadicionaldaseleçãodeativi-
dadeseconômicasobjetodosdiagnósticossetoriaisdeemprego.

NonovoarranjofuncionaldoSGT10,otratamentodosassuntosmigratórioséconfiadoà
ComissãoTemáticaII“Emprego,Migrações,FormaçãoeQualificaçãoProfissional”,umadas
trêsquecompõemosubgrupo.Aoconceberazonafronteiriçacomoumaespéciedelaboratório
daspolíticasmigratóriasdobloco,oSGToptouporconcentrar-seemduaslinhasdeaçãointer-
dependentes:a)oestudodasmigraçõesfronteiriçasedeseusimpactosnosmercadosdetraba-
lhoeserviçoslocais;eb)aelaboraçãodenormacomumparadisciplinarotrânsitodetraba-
lhadoresnessasáreas.Paratal,oSGT10instituiuaComissãoAd HocdeMigraçõesTrabalhis-
tas,tripartite,queoraseaplicaàdiscussãodeprojetodepesquisasobreotema.Oprojeto
reconceituaafronteiracomoespaçoativoderelaçõeseconômicas,sociaiseculturais,maisque
Livre Circulação simpleselementogeográficooulegal.Ametodologiadeinvestigação,alémdeaproveitarosa-
de Trabalhadores beracumuladoemuniversidadesecentrosdepesquisa,lançarámãodeinformaçõesestatísticas
no Mercosul?
eregistrosdisponíveisnasrepartiçõesdosministériosdaJustiça/PolíciaFederal,dasRelações
Marcílio Ribeiro Exteriores,doTrabalhoeEmprego,daPrevidênciaeAssistênciaSocial,ededadosprimáriosa
de Sant’Ana
obternolevantamentodoperfilsocioeconômicodapopulaçãofronteiriça.

8. O TEMA MIGRA TÓRIO EM INSTRUMENT OS NORMATIVOS DO MERCOSUL

88 Agarantiadeigualdadedetratamentonoemprego,daproteçãotrabalhistaeprevidenciá-
riaaostrabalhadoresmigrantes,nosníveisasseguradosaostrabalhadoresnacionais,éumou-
tropontodeatençãodeváriosforossociaisdoMercosul.Essesdireitostranscendemoconceito
eoespaçodeintegração,alcançandoindistintamentetodosostrabalhadoresmigrantesquese
encontrememsituaçãoregularnospaísesdobloco.Asconstituiçõesdospaísesmembrospro-
clamamoprincípiodaigualdadedetratamentoatrabalhadoresestrangeiros,comreservas
paraoexercíciodealgumasprofissões.Ospaísestambémseobrigamagarantirtratamento
igualitárioaosimigrantesporforçadaadesãoatratadosinternacionais.Entreesses,estãoas
normasdaOITe,emespecial,asconvençõesnº97(1949)enº143(1975)easrecomendações
nº86(1949),nº100(1955)enº151(1975).NocasodaConvençãonº111(1958),queconsa-
graaigualdadedeoportunidadesedetratamentonoempregoenaocupaçãocomodireito
fundamentaldotrabalho,aobrigatoriedadedecumprimentoresultadacondiçãodemembro
daOrganização,independentementedaratificaçãodanorma.
Otemadaigualdadedetratamentodostrabalhadoresimigrantestempautadoasreuniões
deministrosdoTrabalhodoMercosul,BolíviaeChile.NoencontrodePuntadelEste,em
fevereirode1996,osministrossublinharamaimportânciadaquestãomigratóriaparaos
paísesdaregião, dorespeitoaosdireitosdotrabalhoedaseguridadesocialedocombatea
atitudesxenófobasediscriminatórias.Demodoanálogo,osministrosreafirmaram,nareu-
niãodeBuenosAires(11demaiode1998),anecessidadedeseavançar,paralelamenteao
processodeintegraçãoeconômicaecomercial,comacordosnaáreadasrelaçõestrabalhis-
tas,emprego,migraçõeseseguridadesocial.
Aspreocupaçõescomosdireitoseaproteçãodostrabalhadoresimigrantesmaterializam-seem
declaraçõesdecompromissoquefiguramemváriosatosdoMercosul,dentreosquaisvalecitar:

a) aCartadeBuenosAiressobreCompromissoSocialnoMercosul,BolíviaeChile,firmada
pelospresidentesdaRepública,em30dejunhode2000,propõeofortalecimentodacooperação
entreospaísesemmatériamigratóriaeagarantiaaosmigrantesdoexercíciodosdireitosede
tratamentodigno,justoenão-discriminatório;
b)ajámencionadaDeclaraçãoSociolaboraldoMercosul(1998)consagraoart.4ºaosdireitos
dostrabalhadoresmigrantesefronteiriçoseaosrespectivoscompromissosdosEstadosPartes,
determinando:

“Todosostrabalhadoresmigrantes,independentementedesuanacionali-
dade,têmdireitoàajuda,informação,proteçãoeigualdadededireitose
condiçõesdetrabalhoreconhecidosaosnacionaisdopaísemqueestive-
remexercendosuasatividades.
OsEstadosPartescomprometem-seaadotarmedidastendentesaoestabe-
lecimento de normas e procedimentos comuns relativos à circulação dos
Migrações
trabalhadoresnaszonasdefronteiraealevaracaboasaçõesnecessárias Internacionais:
para melhorar as oportunidades de emprego e as condições de trabalho e Contribuições
devidadestestrabalhadores;” para Políticas

c) oAcordoMultilateraldeSeguridadeSocialdoMercosul(1997),tambémreferidoalhures,
visaasseguraraostrabalhadoresmigrantesefamiliaresoacessoàsprestaçõesdaseguridade
socialnospaísesdobloco;
d) oProtocolodeCooperaçãoeAssistênciaJurisdicional,subscritoemMendoza(Argentina),em 89
27demaiode1992,comoobjetivodefortaleceroprocessodeintegração,criaumaautoridade
centralemcadapaís,encarregadadereceberefazertramitarospedidosdeassistênciaju-
risdicionalemmatériacivil,comercial,trabalhistaeadministrativa,evitando-sedessemodoa
desigualdadenoacessoàjustiçaentreoscidadãosdoMercosul.

Outrosatostocammaisdiretamenteaotemadacirculaçãodetrabalhadores.OProtocolo
de Montevidéu sobre o Comércio de Serviços do Mercado Comum do Sul,assinadopelos
chefesdeEstadoemUshuaia(Argentina),em24dejulhode1998,liberalizadeformagradati-
vaocomérciodeserviços–engenharia,planejamentourbanoearquitetura,psicologia,admi-
nistraçãodeprojetoseoutros–entreospaísesdoMercosuleacirculaçãodeprofissionais
ligadosaessasáreas.CabeaoGrupodeServiçosdoMercosul,daComissãodeServiços(Resolu-
çãoGMCnº36/00),elaborarosanteprojetosdenormasaplicáveisàlivrecirculaçãotemporária
depessoasfísicasprestadorasdeserviços.
O AcordoentreoGovernodaRepúblicaFederativadoBrasileoGovernodaRepública
ArgentinasobreIsençãodeVistos,celebradoemSãoBorja,em9dedezembrode1997,facilita
ocrescentetrânsitodenacionaisentreaspartes,noâmbitodoprocessodeconsolidaçãoeapro-
fundamentodaintegraçãoregional.Oatobeneficiaartistas,professores,cientistas,desportis-
tas,empresáriosougentedenegócios,jornalistas,profissionais,técnicosespecializados(de
nívelmédio),liberando-osdovistodeentradanoterritóriodaoutraparte,emestadainferior
ouiguala90dias,prorrogávelporigualperíodo.2 OacordofoipromulgadonoBrasilpelo
Decretonº3.435,de25/4/2000.

9. UMA A GENDA MÍNIMA CONDUCENTE À (LIVRE) CIRCULAÇÃO


DE TRABALHADORES NO MERCOSUL

EmboraoSGT10abarqueemsuapautanegociadoraosgrandestemassociolaboraisimpli-
cadosnoprocessodeformaçãodoMercosul,seudesempenhotemsidomodestoquandosepen-
saemrespostasinstitucionaisaosdesafiosdaintegraçãonocampodotrabalho.Alémdasra-
zõesjámencionadas–papelsecundáriodasquestõessociais,segmentaçãodasesferasdotraba-
lhoeintegraçãocomercial,unificaçãodomercadodetrabalhoaindaremota–,váriosoutros
motivospodemserinvocadosparaexplicaraperformancedoSGT10.Omaispalpáveldeleséa
amplitudeecomplexidadedamesmapautanegociadora,cujaimplementaçãointegralexigiria
umasomaderecursoshumanos,materiaisefinanceiroscomqueoSGTjamaiscontou.Ao
invés,esseforotemdependidoexclusivamentedosmeiosproporcionadospelasinstituiçõesgo-
vernamentaiseprivadasqueointegram.
OformatotripartitefazdoSGT10olugarporexcelênciadodiálogosocialnoMercosul,
mastambémoestuáriodeconcepçõesdistintaseporvezesconflitivasacercadoconteúdo,da
configuraçãoinstitucionaledoritmodedesenvolvimentodachamadadimensãosociolaboral
Livre Circulação daintegração.AfeituradaDeclaraçãoSociolaboraldoMercosulé,indubitavelmente,oem-
de Trabalhadores preendimentomaisreveladordascontradiçõesedaspossibilidadesconsensuaisquetecemo
no Mercosul? quotidianodoSGT10.
Marcílio Ribeiro
de Sant’Ana Noqueconcerneemparticularaoproblemadamobilidadedostrabalhadores,aatuaçãodo
SGT10setemmostradodemasiadamentetímida,pelasrazõescomentadasempassagensprece-
dentes.Aausênciadalivrecirculaçãodetrabalhadoresdofocopolítico-programáticodoprojeto
deintegraçãoregionalprivaoSGTdeumeixocapazdegalvanizareconduzirosesforçose
iniciativasnessaárea.
90
DuasgrandestarefasdesafiamacapacidadedoSGT10edesuaComissãoAd HocdeMigrações
Trabalhistas.Aprimeiraéconstruiroconceitodelivrecirculaçãodetrabalhadores,paraalémde
seusignificadonodireitocomunitário,comoelementoqueexpressademodomaiscompletoas

2
Nofinalde2000,emFlorianópolis,oConselhodoMercadoComum(CMC)adotouváriasdecisões(DEC)relacio-
nadascomacirculaçãodepessoasnoMercosul.Aprincipaldelas(CMC/DECnº48/00)aprovao“Acordosobre
IsençãodeVistosentreosEstadosPartesdoMercosul”,paraartistas,professores,cientistas,desportistas,jornalistas,
profissionaisetécnicosespecializados,porestadasdeaténoventadiascorridos,prorrogáveisporigualperíodo.
ACMC/DECnº44/00aprovao“AcordodeDispensadeTraduçãodeDocumentosAdministrativosparaEfeitosde
ImigraçãoentreosEstadosPartesdoMERCOSUL”,oquecompreendepassaporte,céduladeidentidade,certidõesde
nascimentoecasamentoeatestadonegativodeantecedentescriminais.ACMC/DECnº45/00temconteúdoseme-
lhanteaanterior,masincluiBolíviaeChile,estadosassociadosaoMercosul.
Doisoutrosatos,aCMC/DECnº46/00eaCMC/DECnº47/00,aprovamoestabelecimentodecanaisprivilegiadosde
ingressoemaeroportospara cidadãosdoMercosul,BolíviaeChile,nosquaisaoperaçãodecontroledosnacionais
doMercosulserá,namedidadopossível,semelhanteàutilizadaparaosnacionaisdopaísdeentrada.
Emboraessesatossejaminspiradospelopropósitodefortaleceroprocessodeintegração,apenasaisençãodevistos
paradeterminadascategoriasprofissionaistemimplicaçõesmaisdiretassobrealiberdadedecirculação.Osdemais
simplificamtrâmitesburocráticos,masnãoafetamaessênciadaquestão.Demaisamais,excetuadososacordos
sobrefacilitaçãodeentradanosaeroportos,quevigorarãoapartirde1ºdemarçode2001,osdemaisdependemde
incorporaçãonosordenamentosjurídicosinternosparatervalidade.
novasrelaçõessociais,econômicas,políticaseculturaisnoMercosuleque,portanto,dásustenta-
bilidadeaesseprojetocomumdedesenvolvimento.
Asegundatarefaédenaturezaprogramáticaeconsisteempôremmarchaumaagendade
trabalhoqueremovaosobstáculosàlivrecirculaçãoecrieascondiçõesparaoexercíciograda-
tivodesseinstituto.Emgrandeslinhas,aagendacorrespondeàquelasaçõesjáintegradasao
quotidianodoSGT10,asaber:

1) OestudodoscenáriosatualeprospectivodamobilidadelaboralnoMercosul,desuascausas,
característicaseconseqüências,emcorrelaçãocomasmudançassocioeconômicasdaregiãoeo
cursodoprojetodeintegração.Acomplexidadedofatomigratórioeaslimitaçõesnaturaisdo
SGT10indicamqueomelhorcaminhopararealizaçãodesseempreendimentoéestreitara
cooperaçãocomuniversidades,centrosdepesquisaeoutrasinstituiçõesinternacionaisproduto-
rasdeconhecimento.
2) Aanálisedosimpactosdosmovimentosmigratóriosnasatividadeseconômicas,nosmercados
detrabalho,nosserviçospúblicos,nosistemaseguridadesocialeemoutrasvariáveisdomeio
físicoehumano.

Essasduasaçõesvãoproporcionarosconhecimentosindispensáveisàsdefiniçõespolíticase
àmodulagemdoritmodeaberturadasfronteirasaostrabalhadoresnoMercosul.Suaexecução
poderiaserconduzidapeloObservatóriodoMercadodeTrabalhodoMercosul,àproporçãoque Migrações
esseórgãofortaleçasuacapacidadedemonitoramentodomercadodetrabalhoregionalem Internacionais:
suasdistintasfaces. Contribuições
para Políticas

3)Acriaçãodamolduranormativaquepossibilitaráacirculaçãoorganizadadetrabalhadoresno
Mercosul,deformagradativa.Detãoimportante,aaçãonormativachegaaconfundir-secoma
políticamigratória[Marmora:181].Emboraoidealsejaainstauraçãodeamplaliberdadede
circulação,háumperíododetransiçãoentreasnormasmigratóriasnacionais,bilateraisemul-
tilateraisaumsistemanormativosupranacionalregional[Kratochwil:156;PérezdeCastillo: 91
17,37ess].Oúltimoautorimaginaumahipóteseintermediária,queconciliaelementosdeum
regimecompletodeliberdadedecirculação(hipótesemáxima)eauniformizaçãodasnormas
migratóriasvigentesemcadaEstado(hipótesemínima).
4)Odesenvolvimentodesistemasdereconhecimentocomumdetítulosecompetênciasprofis-
sionais,condiçãotambémimprescindívelàlivrecirculaçãodetrabalhadoreseàsuainserção
nasatividadesprodutivas.Nocasodeprofissõesuniversitáriasetécnicas,oreconhecimento
devefundar-se,sobretudo,naharmonizaçãodoscurrículosformativos,objetodealgunsacordos
entreosministériosdeeducaçãodosquatropaíses.Emrelaçãoaosdemaistrabalhadores,o
sistemadereconhecimentoimplicadificuldadesespeciais,nãosópelograndenúmerode
ocupações,mas,também,pelamultiplicidadedasformasdeaquisiçãodeconhecimentose
habilidadespelostrabalhadores.
5)Aintensificaçãodointercâmbioedacooperaçãoentreossistemaspúblicosqueadministrama
políticadeimigraçãotrabalhistanospaísesdoMercosul,visandoàadoçãoconjuntadasinova-
çõesnormativasedeprocessosoperacionaisquevãopossibilitarapassagemdeumestadode
circulaçãolimitadaaumespaçotransnacionalhomogêneo.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÂMARADOSDEPUTADOS.ComissãodeRelaçõesExterioresedeDefesaNacional.ProjetodeLei
nº1.813-A,de1991(DoPoderExecutivo).s.n.t.
CASTRO,MariaSílviaPortelade.ReflexosdoMercosulnoMercadodeTrabalho.FundaçãoSEADE.
Mercosul:BlocosInternacionais.SãoPauloemPerspectiva,v.9,nº1,jan-mar1995:
139-144.
CCSCS–CoordenadoradasCentraisSindicaisdoConeSuleOIT–OrganizaçãoInternacionaldo
Trabalho. Declaración Sociolaboral del Mercosur: el camino recorrido y la
participaciónsindical.s.n.t.
DIAZLABRANO,RobertoRuiz.OdireitoàlivrecirculaçãonoMercosul.DireitoeJustiça.Correio
Braziliense,25/11/1996.
DORNBUSCH, Rudiger. Expansão da União Européia: opções e erros. Folha de S. Paulo,
13/08/2000.
FRANCO, Tomás Sala.“LapolíticasocialenlaComunidadEuropea”. RELASUR–Revistade
RelacionesLaboralesenAméricaLatina–Cono Sur,nº1.Montevideo,1993:45-56.
GOLDIN,AdrineRIVAS,Daniel.TrabajadoresmigrantesenelámbitodelMercosur.RevistaDerecho
Livre Circulação
de Trabalhadores
Laboral,t.XXXV,nº167.
no Mercosul? GONÇALVES,JoséBotafogo.Mercosul,retrospectivahistórica.DireitoeJustiça.CorreioBraziliense,
Marcílio Ribeiro 25/11/1996.
de Sant’Ana
KRATOCHWILL,Hermann.“Migraciones,circulacióndepersonasypolíticamigratoriaenel
Mercosur”.In:PATARRA,NeideLopes(coord.).Emigraçãoeimigraçãointernacionais
noBrasilcontemporâneo. v.2.SãoPaulo:FNUAP,1996:155-166.
92 LOHRMANN,ReinhardePROFAZI,Manfred.LibrecirculacióndepersonasenlaUniónEuropea:
laexperienciarecogidaluegodetreintaañosdeimplementación.Organización
InternacionalparalasMigraciones(OIM).EncuentroRegionalSudamericanodel
MERCOSUR.Montevideo,19ago1997.
MACIEL, Marco.MERCOSULerelaçõestrabalhistas.InformativoMERCOSUL,ago-set1996.
MÁRMORA, Lelio.Eldesafíodelaspolíticasmigratorias:sugobernabilidad.In:PATARRA.
Op.cit.:167-183.
MARTINS, Sérgio Pinto.ComentáriosàCLT.SãoPaulo:Atlas,1999.
MRE.MERCOSUL:origem,legislação,textosbásicos.Brasília:MRE,1992.
NEGRI,AntonioapudTsu,VictorAiello.Anovasoberania.FolhadeS.Paulo.CadernoMais!,
24set2000.
OIT – Organização Internacional do Trabalho.Laconsultatripartitaenelplanonacional
sobrepolíticaeconómicaysocial.InformeVI.Ginebra:OIT,1996.
PAPANDREOU, Vasso. In:Comunidades Européias-Comissão.CartaComunitáriadosDireitos
SociaisFundamentaisdosTrabalhadores.Luxemburgo:ServiçodasPublicaçõesOficiais
dasComunidadesEuropéias,1990.
PAULA, José Alves de.Dados básicos comparados nas relações de trabalho do MERCOSUL.
RevistaLTr,v.59,nº9,setembrode1995.
PÉREZ DEL CASTILLO, Santiago et alii. Armonizacióndenormasparalalibrecirculación
delostrabajadores.Informefinal.ProgramadeApoyoTécnicoparalaImplantacióny
Puesta en Marcha del MERCOSUR (Cooperación Técnica BID-ATN/SF-4130SE).
Diciembre,1995.
PÉREZ VICHICH, Nora.MigracioneslaboralesyconveniossocialesenelConoSur;elcasodelos
conveniossocialesargentino-chilenos. BuenosAires:ConsejoArgentinoparalas
RelacionesInternacionales.
CARI;CentroInterdisciplinariodeEstudiossobreelDesarrolloLatinoamericano-CIEDLA;
FundaciónKonradAdenauer,1999(ColecciónDocumentosdeTrabajo,nº38).
REPETTOAGUIRRE,JorgeG.(coord.).ProyectoMigracionesLaborales.InformeConsolidado
Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay.Programa de Apoyo Técnico para la
ImplantaciónyPuestaenMarchadelMERCOSUR(CooperaciónTécnicaBID-ATN-SF
4130).1995.
RICUPERO, Rubens.Oreinodospobres.FolhadeS.Paulo,27set1997.
ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. Trabalho estrangeiro no Brasil, as normas
nacionalizadoraseaConstituiçãode1988.RevistaLTRLegislaçãodoTrabalhoe
Migrações
PrevidênciaSocial,v.53,nº11,nov.1989:1345-1353. Internacionais:
Contribuições
RODRÍGUEZ,JuanManuel.Elmovimientosindicalantelosprocesosdeintegración.Nueva para Políticas
Sociedad,126.Integración:estrategiaofatalidad?
SALIM, Celso Amorim. AQuestãodosBrasiguaioseoMercosul. In:PATARRA.Op.cit.,v.1:
144-145.
SARDENBERG, Ronaldo Mota.OMercosuleoséculoXXI.OAB-DF.Brasília,1996.
93
SEITENFUS,RicardoAntônioSilva. AinsustentávellevezadoMercosul.FolhadeS.Paulo,
23/01/1994.
VAINER, Carlos B.Estado e migração no Brasil: da imigração à emigração.In:PATARRA.
Op.cit.,v.1:39-52.
VIGEVANI, Tullo.“MERCOSULeglobalização:sindicatoeatoressociais”.In:VIGEVANI,T.e
LORENZETTI, Jorge (coord.).Globalizaçãoeintegraçãoregional:atitudessindicais
e impactos sociais.SãoPaulo:LTr,1998:322-342.
94
ATENDIMENTO CONSULAR A BRASILEIROS NO EXTERIOR

Ministério das Relações Exteriores

UmdosfenômenosmaisimportantesnasrelaçõesexterioresrecentesdoBrasiltemsidoo
crescimentoacelerado,apartirdosanos80,dofluxodebrasileirosquesedestinamaoexterior,
buscando,pordiversosfatores,umaalternativadevida. Entreasrazõesdeordemdoméstica,
destacam-seassucessivascriseseconômicasdopassadorecenteeareduçãodoempregonosetor
formaldaeconomia. Entreosfatoresdeordemmaisgeral,ressalta-seoavançoextraordináriodos
transportesecomunicações,quefacilitaasviagens,eadivulgaçãodeoportunidadesdetrabalho
foradoBrasil,principalmenteempaísesdesenvolvidos.
Aemigraçãocriouumadinâmicaprópria:brasileirosestabelecidosnoexteriorpassarama
atrairfamiliareseconhecidos,quechegamaoestrangeirocontandocomumabasedeapoio.
Comoresultadodesseconjuntoderazões,oBrasil,apartirdemeadosdadécadade80,deixoude
serumpaísapenasdeimigraçãoparatornar-se,também,umpaísdeemigração.

Paraconhecermelhoressanovarealidade,oMinistériodasRelaçõesExterioresefetuouum
Migrações
censodebrasileirosresidentesnoexterior,fazendousodesuarededeembaixadaseconsulados. Internacionais:
Apurou-seaexistênciademaisdeummilhãoemeiodebrasileirosvivendonoexterior,sendo Contribuições
queasmaioresconcentraçõesdebrasileirosresidentesforamencontradasemtrêspaíses:nos para Políticas

EstadosUnidos,sãocercade750mil;noParaguai,emtornode350mil;enoJapão,aproxima-
damente220mil.
Considerandoonovoquadromigratóriobrasileiro,opresidenteFernandoHenriqueCardoso
determinouaformulaçãodeumapolíticaconsularque,semdeixardeladoassuasfunçõestradi-
cionais,estivessemaisvoltadaparaumaefetivaassistênciaeproteçãoaonacionalnoexterior 95
pois,comoosdemaiscidadãosbrasileiros,templenodireitoaosserviçosprestadospeloEstado.
Emfunçãodessadeterminaçãopresidencial,propôs-seoItamaratyestabeleceralgumasbasescon-
ceituaisquenorteariamsuasaçõeseprojetosnocampoconsular.
Emprimeirolugar,definiu-se,comclareza,aassistênciaeproteçãoaosbrasileirosnoexterior
comoumadasprioridadesdapolíticaexternabrasileira.
Emsegundolugar,decidiu-seoperarumamudançanaculturaadministrativadoItamaraty,
notocanteaoatendimentoaocidadãobrasileiroquerecorreaosconsuladoseembaixadas. O
atendimentoconsulartem-setornadocrescentementeprofissional,unindocortesiaeeficiência,ao
contráriodoatendimentoburocráticoquesefazianopassadorecente.

UmaterceiramudançaconceitualprevêqueaRepartiçãoConsulardeve,semprequepossível,
terainiciativadeprestaçãodeapoioaoscidadãos,deixandosuaposiçãoanteriordemeroreceptor
dedemandas. Advémdessainovaçãoconceitualainstituiçãodos“ConsuladosItinerantes”,que
consistenodeslocamentoalocalidadesdemaiorconcentraçãodebrasileiros,deumaequipeinte-
gradapelocônsuleoutrosfuncionáriosconsulares,aqualprestaatendimentoinloco.
Umquartoaspectodizrespeitoàdivulgaçãodasfunçõesconsulares. OItamaratyvembus-
candodivulgar,commaiorregularidadeefreqüência,serviçosquasedesconhecidosaogrande
público,afimdetornaraaçãoconsularnãomeramentereativa,mastambémpreventiva.
Afinaldecontas,numasociedadecrescentementedemocrática,comoabrasileira,adiplomacia
devededicar-seaumaassistênciamaisdiretaecompetenteaoscidadãosbrasileiros,quepodem
edevemexigiroatendimentodeseusdireitos.

UmadasmaiorespreocupaçõesdogovernobrasileirodizrespeitoàimagemdoBrasilno
exterior. Oatentoacompanhamentodosproblemasenfrentadospelascomunidadesbrasileiras
noestrangeiroeaprontaeeficienteproteçãoaosnacionaissãoimportantesfatoresdapreserva-
çãodaimagempositivadopaísnoexterior.Aomencionaraimportânciadaimageminternaci-
onaldoBrasil,nãosequerreferir-seapenasaotemadacredibilidadedogovernonoexercício
dasrelaçõesexterioresmas,principalmente,àmaneiracomosãovistos,aceitoserecebidosos
brasileirosnosdemaispaíses.Elesserãotantomelhortratadosàmedidaqueaimagemdopaís
estiverpassíveldeassociaçãocomatividadeseventualmentedesempenhadasporcidadãosbra-
sileirosemviolaçãoàslegislaçõeslocaiseinternacionais. Oqueestáemjogo,nessassituações,
é,aomesmotempo,acredibilidadedopaísearespeitabilidadedeseuscidadãos,doisconceitos
que,numasociedadedemocrática,secomplementam.

Paradarcumprimento,naprática,àsnovasdiretrizesdapolíticadeassistênciaabrasileiros,o
Itamaratyelaboroualgunsprojetosqueestãoemexecuçãoequeimprimiramnovaseimportantes
característicasàsfunçõesconsulares. Entreessesprojetospodemosdestacar:

Atendimento •osconselhosdecidadãosjuntoaosconsuladoseembaixadas;
Consular •oredimensionamentodaredeconsularbrasileiraparaotimizarautilizaçãodosrecursoshuma-
a Brasileiros
no Exterior
nosemateriaisdisponíveis(fechamentodeconsuladosemcidadescompequenapresençabra-
Ministério das
sileiraecriaçãodosconsulados-geraisemTóquioeNagóia);
Relações Exteriores •aampliaçãodaRedeConsularHonorária;
•ainstituiçãodosConsuladosItinerantes,járeferidosanteriormente.

Alémdessesprojetos,foramdestinadosrecursosparacusteardespesasurgenteseimprevis-
96 tasdeassistênciaconsular. Emboraemmontantelimitado,emrazãodasrestriçõesorçamentá-
rias,forambeneficiadasmaisde60repartiçõesnoexterior,justamenteasdemaiormovimento
consular.Éumaespéciedefundoderecursos,quesãoadiantadospreventivamentenoiníciode
cadaexercício. Adisponibilidadeimediatapermiteaosconsuladoseembaixadasoatendimen-
toaobrasileirodesvalido,evitando,assim,situaçõesconstrangedorasparaarepartiçãoe,prin-
cipalmente,paraocidadão.
Esseconjuntodeprojetostraduz,naprática,aprioridadeatribuídapelogovernoàassistência
eproteçãoaobrasileironoexterior. Ainteraçãodasrepartiçõesconsularescomascolôniasde
brasileirosnoexteriorconfirmaocompromissodogovernocomoaperfeiçoamentoeademocra-
tizaçãodosserviçoseassistênciaconsulares,desenvolvimentoquepermitiráatantosmilhõesde
brasileiros sentirem-secrescentementeamparados,maiscidadãosemenosdistantesdopaís.
O PARLAMENTO E AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS

Marcia Sprandel 1

INTRODUÇÃO
Oprincipaleixodestetrabalhoéarepresentaçãopolítica.Seuuniversodeanáliseéoacessode
cidadãoseconomicamenteeculturalmentedesfavorecidos,brasileirosqueestãoforadasfronteiras
nacionaiseestrangeirosquevivemnoBrasil,aocampopolíticonacional;nocaso,oCongresso
Nacional.ParatantotomeicomobaseBourdieu[1998],paraquemalutapolíticatemcomo
fundamentoasdeterminanteseconômicasesociaisdadivisãodotrabalhopolítico.Atravésdesse
mecanismoanalítico,Bourdieunosalertaparaoperigodanaturalizaçãodosmecanismossociais
queproduzemereproduzemaseparaçãoentre“mandatários”e“mandantes”:

“Ocampopolítico(...)nãoéumimpério:osefeitosdasnecessidadesexter-
nasfazem-sesentirneleporintermédiosobretudodarelaçãoqueosman-
dantes,emconseqüênciadasuadistânciadiferencialemrelaçãoaosins-
trumentos de produção política, mantêm com seus mandatários e da rela-
çãoqueestesúltimos,emconseqüênciadassuasatitudes,mantémcomas Migrações
suas organizações.”[Bourdieu1998:163-164.] Internacionais:
Contribuições
para Políticas
Bourdieudefinecampopolíticocomoumcampodeforças,ondesedãoaslutasquebuscam
modificaracorrelaçãodeforçasqueoestruturamemdeterminadomomento.Daíanoçãodevida
políticacomológicadaofertaedaprocura,queseexplicapeladistribuiçãodesigualdosinstru-
mentosdeproduçãodeumarepresentaçãodomundosocial.Nesteartigobuscoidentificarqualo
capitalpolíticodose/imigrantesparaparticipardessaslutaspolíticasnoCongressoNacional2e
qualsuacapacidadedefazer-serepresentarnomesmo.
97
Nopresentetrabalhobusqueilevantaralgunsdadoseanalisá-losàluzdeminhaexperiência
comoantropólogaespecializadaemcampesinatoevivamenteinteressadanaemigraçãobrasileira.
TambémpudeutilizarminhaexperiênciacomoassessoraparlamentarnoSenadoFederal.Muitas
dasmatériasqueconstamdosQuadrosIeIIItiveaoportunidadedeexaminarnascomissõesde
AssuntosSociaisedeRelaçõesExteriores.Tambémpudeparticipardequasetodasasatividadesda
ComissãodeDireitosHumanosdaCâmaradosDeputados,registradasnasseções1e2.Sobretudo,
semprequepude,ouviatentamentediscursosdesenadorespreocupadoscomasituaçãodebrasi-
leirosnoJapão,Bolívia,EstadosUnidosouEuropa,edeestrangeirosnoBrasil.

1. POLÍTICAS MIGRA TÓRIAS BRASILEIRAS - INFORMAÇÕES BÁSICAS


OBrasilfoi,porlongasdécadas,considerado“umpaísdeimigração”.3DoSegundoReina-
do(1840-1889)atéoiníciodaTerceiraRepública(1946-1964),osmeiospolíticosdiscutiram

1
Historiadoraeantropóloga,doutorandadoPPGAS/UnB,membrodoNúcleodeAntropologiadaPolítica/UnB
eassessoradaLiderançadoPTnoSenadoFederal,desde1997.
2
Issoédiferentedealgumaspropostascontemporâneasdaciênciapolítica,quetêmcomoobjetooCongresso
Nacionaleoseugrauderepresentatividadedemocrática,entendidocomoasuacapacidadederefletiros
segmentossociaiseasdimensõesrelevantesdeumasociedade[LimaJúnior;1999].
3
Autoresconsagrados,comoBorisFausto,datamcomoiníciodesseprocessoaaberturadosportos(1882)eseu
finaladécadadetrinta,comavindadecolonosjaponeses.
exaustivamenteosriscoseosbenefíciosdacolonizaçãodopaíscomestrangeiros,emdetrimen-
todo“elementonacional”.SantosJúnior[1991],embrevecronologiasobreasituaçãojurídica
doestrangeironoBrasil,apontacomoaspolíticasdeatraçãodoimigrantesetransformaram
aospoucosempolíticasdecontrole,queculminaramemleisprofundamenteautoritáriase
restritivas,editadaspeladitaduramilitar.
Aatuallegislaçãoemvigor,Lein°6.815,de19deagostode1980,que“defineasituação
jurídicadoestrangeironoBrasil,criaoConselhoNacionaldeImigraçãoedáoutrasprovi-
dências”,foienviadapelogeneralJoãoBatistaFigueiredoaoCongressoemregimedeurgênciae
aprovadapordecursodeprazo,menosdetrêsmesesdepois.Oscríticosdestetextolegaldemons-
tramqueomesmonãolevaemconsideraçãoostratadosinternacionaiseosdireitosfundamentais
dapessoahumana.Alémdisso,permitequeapolíticadeimigraçãopossasertraçadapeloPoder
Executivo,semoavaldoParlamento.Emrelaçãoaosestrangeirospropriamenteditos,“aLeide
1980criouatmosferadeinsegurançaeverdadeiropânicoentreosnão-nacionais,dadoo
arbítriocomquepoderiamsertratados”[SantosJúnior;1991:6].4
Pressionadopelosorganismosinternacionais,oCongressoNacionaleditou,emdezembrode
1981,aLeinº6.964,queapenasabrandaocaráterautoritáriodaleide1980.Asprincipaismudan-
çasforamainclusãodosreligiososentreosbeneficiáriosdovistopermanente;aimpossibilidade
deexpulsãonocasodeestrangeirocasadohácincoanosoucomfilhocombrasileiro/a;eoenvio
dosdadospessoaisdeestrangeirosporproprietáriosdehotéisoulocatáriosdeimóveisocupados
pelosmesmosapenasquandosolicitadopeloMinistériodaJustiça.
O Parlamento
e as Migrações Paraalterarestalegislação,tramitanoCongressoNacional,desde1991,oProjetodeLeinº1.813/
Internacionais
91,que“defineasituaçãojurídicadoestrangeironoBrasil”,deautoriadoPoderExecutivo.
Marcia Sprandel
Seutextolegalnãoagradaàsassociaçõesdeimigrantesnemàsentidadesconfessionaisqueas
representam.Paramodificá-lo,afavordosimigrantes,temsidograndeapressãojuntoaos
relatoresdascomissõesporondeestátramitando.5 ConformeentendimentodoServiçoPastoral
dosMigrantes(SPM)edoSetorPastoralSocialdaConferênciaNacionaldosBisposdoBrasil
(CNBB),oprojetoapresentapoucosavançosemrelaçãoàleiemvigor:“basicamente,otexto
98 preservaelementosdaantigaDoutrinadeSegurançaNacionaleincorporaaspectosrefe-
rentesapenasaoMercado,commaiorflexibilidadeemrelaçãoaprofissionaisespecializa-
doseinvestidores”[SPM;1995].Em1998,aPolíciaFederalcalculavaqueviviamnopaíscerca
de100milestrangeirosemsituaçãoirregular:bolivianos,chineses,coreanos,argentinos,chi-
lenos,uruguaios,libaneses,peruanoseangolanos.
AlémdoPL1.813/91,tramitamnoCongressoNacionaldiversosprojetosquebuscamam-
pliaracidadaniadosestrangeirosnoBrasil(verQuadroI).Destoandodessatendência,aPresi-
dênciadaRepúblicaenviouaoParlamentodoisacordosinternacionaiscomaFrançaquecri-
minalizamosimigrantesemsituaçãoirregularnosdoispaíses:aMensagem882/96,queapro-
vatextodoacordorelativoàreadmissãodepessoasemsituaçãoirregular,eaMensagem594/97,

4
Estadeterminaqueoimpedimentodaentradadeumintegrantedafamíliapodeserestendidoatodogrupo
familiar(art.26,§2o.);impede,comoregra,alegalizaçãodassituaçõesirregulares(art.37);obriga,emvárias
circunstâncias,adelaçãodoestrangeiroaoMinistériodaJustiça(art.44ess.),entreoutrasimposições.
5
AprovadonaComissãodeRelaçõesExterioresenaComissãodeConstituição,JustiçaeRedaçãodaCâmarados
Deputados,oPL1.813/91recebeucinqüentaequatroemendasemPlenário,todasdeparlamentaresdaoposição,
preocupadosemaprimoraroprojeto.Regimentalmente,oprojetoretornouàsduascomissõesdemérito.Na
ComissãodeRelaçõesExteriores,arelatoraacatoupartedasemendas.Encontra-seatualmentenaCCJR,tendo
comorelatorodeputadoWalterPinheiro(PT/BA).
queaprovatextodoAcordodeParceriaedeCooperaçãoemMatériadeSegurançaPública
(itens03e04doQuadroIe01e02doQuadroIII).
Emtermosdelegislaçãosobreemigração,omaterialémínimo.Nãoquearealidadeseja
nova,comoentendemalgunsautores.Naverdade,aidéiadequeéramosumpaísdeimigração
ajudouaocultarapresençademilharesdebrasileirosemterritóriosdepaíseslimítrofes.Em
1985,comoprocessodeaberturapolíticanopaís,oproblemaveioàtona.Nessaépoca,cercade
cincomilbrasileirosqueviviamnoParaguairetornaramaoBrasil,deformaorganizada,de-
mandando terrasaogovernodaNovaRepública.
Apartirdessamobilização,aopiniãopúblicanacional“descobre”quequasemeiomilhãode
brasileiros,grandepartedeagricultores,vivenopaísvizinho.Seguiram-senovosconflitosemobi-
lizaçõesenvolvendobrasileirosemoutrasregiõesdefronteira,apontodosmesmosserempercebi-
doscomovítimasdeumverdadeiroprocessodeexportaçãodetensõessociais.Aincapacidadedo
governobrasileirodetratardequestõescruciais,comooacessoàterraeaempregosdignos,estaria
levandoumnúmerosignificativodebrasileirosacruzarasfronteirasnacionais.
Aindanadécadadeoitenta,segmentosdeclassemédiaurbanacomeçaramaemigrarpara
maislongeemfunçãodefatoresdiversos,quevãodoaprofundamentodacriseeconômicano
Brasilàaberturadevagasparaestrangeirosemalgunspaísesdohemisférionorte.Comonocaso
dosbrasileirosempaíseslimítrofes,avisibilidadedessaemigraçãosedeuapartirdedenúnciasde
discriminaçãoveiculadaspelamídia:dentistasbrasileirosimpedidosdeexercersuaprofissãoem
Portugal;dekasseguisexploradosnoJapão;ajuventudedeGovernadorValadares(MG)arriscan- Migrações
Internacionais:
do-seaocruzarafronteiracomosEstadosUnidos. Contribuições
Asdenúnciasereivindicaçõesdebrasileirosnoexteriorforaminicialmenteapenastemade para Políticas
discursosnastribunasdoCongresso.Posteriormente,osparlamentarespassaramaatuarcomo
mediadoresjuntoaoExecutivobrasileiroeaviajarparacolôniasdebrasileirosnoexterior.No
entanto,sãoaindapoucososprojetosemtramitaçãoquetratamdotema.
AComissãodeRelaçõesExterioresdaCâmaradosDeputadosacompanhouasdificuldades
enfrentadaspelosdentistasbrasileirosemPortugal;fez-sepresentenoprimeirograndeencon- 99
trosobreaemigraçãobrasileira,realizadoemLisboa,em1997;ecriouumasubcomissãopara
tratardasituaçãodosbrasileirosnoexterior.Noentanto,pormotivosqueinvestigaremos
adiante,asprincipaisquestõesenvolvendootematêmsidotratadaspelaComissãodeDireitos
Humanos da Câmara dos Deputados.

2 . ESTRANGEIROS NO BRASIL : DISCUSSÕES E PROJET OS EM TRAMIT AÇÃO

NaCâmaradosDeputadosexistemquatroComissõesquepodem,combaseemfunçõesregi-
mentalmentedefinidas,tratardasituaçãodosestrangeirosnoBrasil:aComissãodeDefesado
Consumidor,MeioAmbienteeMinorias(CDCMAM);aComissãodeRelaçõesExterioresedeDefesa
Nacional(CREDN);aComissãodeDireitosHumanos(CDH);eaComissãodeTrabalho,Adminis-
traçãoeServiçoPúblico(CTASP).6 No âmbito do Senado Federal, tais prerrogativas são da Comis-

6
ConformeoRegimentoInternodaCâmaradosDeputados,emseuartigo32,entreoscampostemáticosdaComissão
deDefesadoConsumidor,MeioAmbienteeMinorias,estãoos“assuntosreferentesàsminoriasétnicasesociais,
especialmenteaosíndioseàscomunicaçõesindígenas;regimedeterrastradicionalmenteocupadaspelos
índios”.OmesmodocumentoelencaentreasáreastemáticasdaComissãodeRelaçõesExterioresedeDefesaNacio-
nal a “políticaexternabrasileira”,“nacionalidade;cidadaniaenaturalização;regimejurídicodosestrangei-
ros;emigraçãoeimigração”.AComissãodeDireitosHumanos,porsuavez,tementresuasáreasdeatuaçãoo
“recebimento,avaliaçãoeinvestigaçãodedenúnciasrelativasàameaçaouviolaçãodosdireitoshumanos”.
sãodeAssuntosSociais(CAS)edaComissãodeRelaçõesExterioreseDefesaNacional(CREDN).7
TemosaindaaComissãoParlamentarConjuntadoMercosul(CPCM),umdospoucosespaços
acessíveisàsociedadecivilnoâmbitodoMercosul.8
NaSecretariadaComissãodeDefesadoConsumidor,MeioAmbienteeMinorias(CDCMAM)
daCâmaradeDeputadosnãoháregistrodeaudiênciaspúblicasousubcomissõesespeciaiscria-
dasparatratardasituaçãodosestrangeirosnoBrasil.OmesmofoiverificadonaComissãode
RelaçõesExterioresedeDefesaNacional,nascomissõesdoSenadoFederalenaComissãoPar-
lamentarConjuntadoMercosul.ÉnaComissãodeDireitosHumanos(CDH)quesãodiscutidos
osprojetosdemaiorinteresseparaosestrangeiroseseusmediadoreserealizadasasaudiências
públicasparatratardotema.
AComissãodeDireitosHumanosdaCâmaradosDeputadosfoicriadaem1995.Diferentemen-
tedasoutrascomissões,nãotementresuasatribuiçõesadiscussãoevotaçãodeprojetosdelei.
Suasáreasdeatividadesão,entreoutras,orecebimentoeinvestigaçãodedenúnciasrelativasà
ameaçaouviolaçãodedireitoshumanoseafiscalizaçãoeoacompanhamentodosprogramas
governamentaisrelativosaotema.
Desdesuacriação,aComissãodeDireitosHumanosjáorganizouduasaudiênciaspúblicaspara
tratardasituaçãodosestrangeirosnoBrasil.Aprimeiradelas,emmaiode1996,discutiuoProjetode
Leinº1936/96,doPoderExecutivo,quedefinemecanismosparaaimplementaçãodoEstatutodos
Refugiadosde1951.EstavampresentesdirigentesdaCáritasdoBrasil,doAltoComissariadodasNa-
O Parlamento çõesUnidasparaosRefugiadosedoCentroScalabrinianodeEstudossobreMigrações.9
e as Migrações
Internacionais Asegundaaudiênciafoirealizadaemabrilde1998,edebateuasituaçãogeraldosestrangeiros
Marcia Sprandel noBrasil.DelaparticiparamaPastoralSocialdaCNBB;aProcuradoriaGeraldaRepública;o
ServiçoPastoralMigrante;oDepartamentodeEstrangeirosdoMinistériodaJustiçaerepresentan-
tesdacomunidadeárabeedaOrdemdosAdvogadosdoBrasildeFozdoIguaçu(PR).
Naquelaocasião,opresidentedaComissãodeclaroutratar-sedetema“deindiscutívelrele-
vânciaeoportunidade,considerando-sequetemaumentadomuitoavindadeimigrantes
100 paraoBrasilequetêmsidofreqüentesosproblemasdedireitoshumanosenvolvendoestran-
geiros,relacionadosprincipalmentecomamoradiaecomalegalização dapermanência
dessaspessoasnopaís”.10Emrelatórioapresentadonomesmoano,aCDHcaracterizouareferida
audiênciapúblicacomoeventodestinadoaumamelhorcompreensãodasituaçãovividanoBrasil
pelosimigrantes,principalmenteosqueseencontramemsituaçãoirregular:

7
Àprimeira,consoanteRegimentoInternodoSenadoFederal,entreoutrostemas,competeopinarsobreproposi-
ções que digam respeito a“relaçõesdetrabalho,organizaçãodosistemanacionaldeempregoecondição
paraoexercíciodeprofissões,seguridadesocial,populaçãoindígena,assistênciasocial,normasgeraisde
proteçãoeintegraçãosocialdaspessoasportadorasdedeficiênciaeproteçãoàinfância,àjuventudeeaos
idosos” (art. 100).QuantoàComissãodeRelaçõesExterioreseDefesaNacional,estáentresuasatribuições
emitir parecer sobre proposições“referentesaosatoserelaçõesinternacionaiseaoMinistériodasRelações
Exteriores”(art.103).
8
SuasatribuiçõesestãonaResoluçãonº1,de1996-CN do Regimento Comum do Congresso Nacional. Seu
nomecorretoéRepresentaçãoBrasileiranaComissãoParlamentarConjuntadoMercosul,comrepresentação
paritária da Câmara e do Senado,àqual cabe, entre outros, “apresentarrelatóriosobretodasasmatériasde
interesse do Mercosul que venham a ser submetidas ao Congresso Nacional”e“apresentar,àdeliberação
da ComissãoParlamentar Conjunta do Mercosul,proposições que devam, nos termos do disposto no artigo
26 do Protocolo de Ouro Preto, constituir recomendações ao Conselho do Mercado Comum”.
9
OprojetofoitransformadoemNormaJurídicanoanoseguinte(Leinº9474/97).
10
Cf.notastaquigráficas,disponíveisnaSecretariadaCDH.
“Examinou-seonúmeroaproximadodeles,osproblemasdetrabalhoemo-
radia,alémdarepressãopolicialqueenfrentam.Asinformaçõessubsidia-
ram a ação da CDH na defesa dos direitos dos imigrantes, inclusive na
tramitaçãodoprojetodispondosobreaanistiaaosestrangeirosemsituação
irregulareonovoEstatutodosEstrangeiros.” [CDH;1999:32.]

ACDHapoiouaaprovaçãodeumprojetodeleiquepermitiuumanovaanistia,fundamental
paraqueosimigrantesilegaispossamregularizarsuasituaçãomigratóriajuntoaogovernobrasi-
leiro.11 Ocorreramanistiasem1981,1988e1998,quebeneficiaram,respectivamente,27,30e37
milimigrantes.12 Estes números sempre ficaram aquém das expectativas oficiais e das entidades
deapoioaosimigrantes.APastoraldosMigrantesdefendequetaisanistiaspoderiamtersidobem
maiseficazesseastaxascobradasparaaregularizaçãofossemmenores.
OutrafrentedeatuaçãodaComissãodeDireitosHumanoséoencaminhamentodedenúncias
deviolaçãodedireitoshumanos.Emrelaçãoaestrangeiros,emoutubrode2000,constavamsoli-
citaçõesdecidadãosdenacionalidadeitaliana,angolanaedelatino-americanosemgeral,presos
empenitenciáriasbrasileiras.TambémconstavamdenúnciasencaminhadaspelaProcuradoria
RegionaldosDireitosdoCidadãodeSãoPaulo,sobreasituaçãoirregulardeestrangeiros,princi-
palmentebolivianos,nacidadedeSãoPaulo,sujeitosaaçõesarbitráriaseilegais.Taisdenúncias
sãoencaminhadasaosórgãosgovernamentaiscompetentes.
Emoutubrode2000,tramitavamnoCongressoNacional17proposiçõesreferentesaestran- Migrações
geiros,conformeoQuadroI.AlémdanovaLeideEstrangeiros(item01),quatromatériastrata- Internacionais:
vamdoprocessodenaturalizaçãodeestrangeiros(itens10,12,15e16);duasdoprocessodeobten- Contribuições
para Políticas
çãodevistopermanentenopaís(itens7e9);eduasdocontroledaimigraçãoilegal(itens3e4).
Comumaocorrênciacadaum,tramitavamprojetossobreisençãodetaxasparaestrangeirosca-
rentes(item11),direitoaovotoeaoalistamentoeleitoral(item5),reciprocidadecompaíses
africanosdelínguaportuguesa(item6),proibiçãodeexpulsãoemcasodecasamentocomcônju-
gebrasileiro(item8),contrataçãodetrabalhadoresestrangeiros(item14)eConselhoNacionalde
Imigração(item17).Esteúltimoestendeaconcessãodevistosdiplomáticosaautoridadesde 101
paísesquemantêmapenasrelaçõescomerciaiscomoBrasil,comoéocasodeTaiwan.
ChamaaatençãoqueoitodessesprojetosalteramaatualLeidoEstrangeiro(Lei6.815/80);
cincotratamdeumaadequaçãoentreestaeaConstituiçãoFederal,noqueserefereànaturaliza-
ção,eduasalteramaConstituiçãoFederal,emartigosquetratamdeeleiçõesedereciprocidade.
Alémdosprojetos,colocamosnoQuadroIosRequerimentosdeInformação13 enviadospela
ComissãoaoExecutivo(itens18a25).Taisrequerimentostêmcomobasedenúnciasrecebidaspor
parlamentaresouveiculadaspelaimprensa.Seisdelestêmcomopreocupaçãoacontrataçãode

11
Em1998,oServiçoPastoraldosMigrantes(SPM),oCentrodeEstudosMigratórios(CEM),aComissãode
JustiçaePazdaArquidiocesedeSãoPaulo,entreoutrasentidades,encaminharamaoCongressoNacionalum
documento intitulado Clamor dos Imigrantes Indocumentados,noqualpediamurgêncianaaprovaçãodoPLC
1289/91,dodeputadoAlbertoHaddad(PTB/SP),oqueampliavaparaoestrangeiroemsituaçãoilegalnoterritó-
rionacionaloprazopararequererregistroprovisório.Nomesmoano,oprojetofoitransformadoemNorma
Jurídica(Lei9675/98),possibilitandoonovoprocessodeanistia.
12
Naverdade,foiregularizadaasituaçãode37.477estrangeiros.Destes,3.980erambolivianos,1.995chineses,
644coreanos,582argentinos,558chilenos,309uruguaios,291libaneses,252peruanose225angolanos.
13
Cf.art.50,§2º daConstituiçãoFederal;asMesasdaCâmaradosDeputadosedoSenadoFederalpoderão
encaminharpedidosescritosdeinformaçãoaministrosdeEstado,importandoemcrimederesponsabilidadea
recusaouonão-atendimentonoprazode30dias,bemcomoaprestaçãodeinformaçõesfalsas.
trabalhadoresestrangeiros,enquantoquedoisreferem-seàaquisiçãodeimóveisruraisporestran-
geiroseumaoacessodeestrangeirosàAmazônia.

I - ESTRANGEIROS - QUADRO DEMONSTRATIVO DAS MATÉRIAS EM


TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO NACIONAL - OUTUBRO 2000

O Parlamento
e as Migrações
Internacionais
Marcia Sprandel

102
Migrações
Internacionais:
Contribuições
para Políticas

103
O Parlamento
e as Migrações
Internacionais
Marcia Sprandel

104
Migrações
Internacionais:
Contribuições
para Políticas

105

FONTE: PRODASEN.
CD=Câmara dos Deputados. SF=Senado Federal. PL=Projeto de Lei. PLS=Projeto de Lei do Senado. PDC/PDS=
Projeto de Decreto Legislativo Câmara/Senado. PEC=Proposta de Emenda à Constituição. RIC=Requerimento de
Informação/Câmara. RQS=Requerimento de Informação/Senado. CCJR=Comissão de Constituição, Justiça e Redação
(CD). CCJ=Comissão de Constituição e Justiça (SF). CREDN=Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.
OQuadroIdemonstraumacertacongruênciaentreasatividadesdoCongressoNacionaleas
reivindicaçõesdosestrangeirosnoBrasil.Estesjáobtiveramduasvitórias,quaissejam,aaprovação
doEstatutodosRefugiadosearealizaçãodeumanovaanistia.Lutamagorapelamelhoriadanova
LeidoEstrangeiro,aindaemtramitação,epelaratificaçãodaConvençãoInternacionaldeProteção
aosDireitosdetodosostrabalhadoresmigrantesedosmembrosdesuasfamílias(1990).
Éprecisoficarclaro,noentanto,queosdiversosgruposdeestrangeirosqueresidematualmente
nopaísnãotêmvisibilidadenocampopolíticoqueestamosanalisando.Nocasoespecíficodosimi-
grantesilegais,suaparticipaçãosedáatravésdedelegaçãoàPastoraldosMigrantes. Comexceçãoda
comunidadeárabedeFozdoIguaçu(PR),quetemforçaeconômicanaregiãoetemsidovítimade
denúnciasgravesdeacobertarterroristasinternacionais,nenhumoutrogrupodeestrangeirossefez
presentediretamentenoCongressoNacionalparatratardesuacondiçãomigratória.

3. BRASILEIROS NO EXTERIOR: DISCUSSÕES E PROJET OS EM TRAMIT AÇÃO


AsmesmascomissõesdoCongressoNacionalquetratamdasituaçãodosestrangeirosnoBrasil
podem,regimentalmente,tratardasituaçãodosbrasileirosnoexterior.NaComissãodeDefesado
Consumidor,MeioAmbienteeMinoriasdaCâmaradeDeputadosnãoháregistroconhecidodeau-
diênciaspúblicasousubcomissõesespeciaiscriadasparatratardotema.Omesmoaconteceem
relaçãoàscomissõesdoSenadoFederaleàComissãoParlamentarConjuntadoMercosul(CPCM).
ACâmaradosDeputadosinstituiuduasComissõesExternas14 para conhecer de perto a situa-
O Parlamento çãodosbrasileirosquevivemnoParaguai.Aprimeiradelas,emmaiode1996,apurouasdenún-
e as Migrações ciasdeviolaçãodosdireitoshumanosdebrasileirosnoParaguai,principalmenteaquelesdetidos
Internacionais
empresídios.Asegunda,emnovembrode1997,destinadaaapurardenúnciasdeprostituição
Marcia Sprandel
infantilnafronteiradoBrasilcomoParaguai.
AComissãodeRelaçõesExterioresedeDefesaNacionaldaCâmaradosDeputados,comovi-
mos,acompanhoudepertooproblemadosdentistasbrasileirosemPortugal.Umpoucodesua
atuaçãofoinarradapeladeputadaSandraStarling,suarepresentanteno1ºSemináriosobreEmi-
graçãoBrasileira,realizadoemLisboaem1997.Aoqueparece,ointeressesobreotemadiminuiu
106
comasaídadareferidaparlamentardaComissãoedavidapolítica.Asubcomissãoparatratarda
situaçãodosbrasileirosnoexteriorinfelizmentejamaissereuniu.Aúltimaatividaderelevanteem
relaçãoaotemanaCREDNaconteceuemdezembrode1998,quandoparticipoudeaudiênciapúbli-
caconjuntacomaCDH,paradebateraviolaçãodedireitoshumanosdebrasileirosnoexterior.
Maisumavez,foinaComissãodeDireitosHumanos(CDH)queosbrasileirosquevivemno
exteriortiveramsuasdenúnciasedemandasdiscutidas.Noanode1996,porexemplo,acontece-
ramduasaudiênciaspúblicasparatratardotema.Umaemjunhode1996,sobreotráficode
mulheresbrasileirasparaoexterior,comapresençadefamiliaresdevítimas,jornalistaseautori-
dadespoliciais;outranomêsdeagosto,sobreotráficodemulheresparaaEspanhaeoSuriname,
daqualparticipouoDepartamentodeAssuntosConsularesdoItamaraty.
Aindaem1996,integrantesdaCDHparticiparamdeumaComissãoExternadaCâmarados
Deputadosencarregadadeapurardenúnciasdeviolaçãodosdireitoshumanosdebrasileirosresi-
dentesnoParaguai.Estetrabalhofoifundamentalparaaatuaçãointegrada,apartirdaí,deorga-
nizaçõesdedireitoshumanosdoBrasiledoParaguai,estimulandoaintensificaçãodoapoioaos
brasileirosnopaísvizinhopeloItamaraty.

14
Cf.art.38doRegimentoInternodaCâmaradosDeputados;asComissõesExternaspodemserinstituídas
paracumprirmissãotemporáriaautorizada.
Em1998,aCDHpromoveuarealizaçãodediversasatividadesligadasàsdificuldadesdebrasilei-
rosnoexterior.Aprimeiradelas,emjulho,foiumaaudiênciapúblicasobreasituaçãodosbrasileiros
residentesnaregiãodoconflitomilitaremGuiné-Bissau,deflagradonofinaldejunhodaqueleano.
ParticiparamdamesmaoDepartamentodeAssuntosConsulares,JurídicosedeAssistênciaaBrasilei-
rosnoExterior,doItamaratyerepresentantesdacomunidadeguineenseresidentenoBrasil.Oobje-
tivodoeventofoiconhecerasprovidênciastomadaspeloMinistériodasRelaçõesExterioresnosentido
deretirarosbrasileirosdopaísconflagradoeaspossibilidadesdeoBrasil,comointegrantedacomu-
nidadedelínguaportuguesa,contribuirnasnegociaçõesdepaznaquelepaís.

UmaoutraaudiênciapúblicadiscutiuaviolaçãodedireitoshumanosdebrasileirosnoPara-
guai.DelaparticiparamoDepartamentodeAssuntosConsulares,JurídicosedeAssistênciaaBra-
sileirosnoExterior,doItamaraty;aSecretariaNacionaldaJustiça;aComissãoNacionaldeDirei-
tosHumanos;eoMovimentoNacionaldeDireitosHumanos.Naocasião,foiexibidaumafitade
vídeocontendoumasériedereportagensdoSistemaBrasileirodeTelevisão,divulgadasno“Pro-
gramadoRatinho”,dandocontadegravesproblemasenvolvendoonarcotráfico,aprostituiçãode
meninasbrasileirasnoParaguaieasituaçãodepresosbrasileirosnaquelepaís.
ACDHbuscou,comaaudiência,“conheceraextensãodasviolaçõesdosdireitosdosbra-
sileirosnoParaguai,alémdesolicitarprovidênciasenérgicasdasautoridadesresponsá-
veispelaassistênciajurídicaaosbrasileirosnoexterior.Concluiu-se,doevento,emque
pesemosesforçosdoItamaratynoapoioaosnacionaisnopaísvizinho,queaestrutura
disponíveléinsuficienteparaoatendimentojurídicodaquelacomunidade,principalmente Migrações
emseconsiderandoasdeficiênciasdaJustiçaparaguaia.” [CDH;1999:36.] Internacionais:
Contribuições
para Políticas
Emdezembrode1998aconteceuumaaudiênciapúblicaconjuntadascomissõesdeRela-
çõesExterioreseDefesaNacionalparadebateraviolaçãodedireitoshumanosdebrasileirosno
exterior.EstiverampresentesrepresentantesdoDepartamentodeAssuntosConsulares,Jurídicos
e deAssistênciaaBrasileirosnoExterioredoDepartamentodeDireitosHumanoseTemas
Sociais,doItamaraty;aprofessoraTeresaSales,doCentrodeEstudossobreMigraçõesInterna-
cionaisdaUnicamp;oprofessordeDireitoInternacionaldaUSP,MasatoNimomya;aeditora
107
CéliaAbeOieajornalistaCáciaCortes.
Emseurelatóriodaqueleano,aCDHassimsereferiuaoevento:“Aagressãoadireitosdos
brasileiros que emigraram vem aumentando com a própria emigração. Estima-se que
cercade1,5milhãodebrasileirosestejamvivendohojenoexterior,concentradosnosEsta-
dosUnidos,Paraguai,Japãoepaíseseuropeus.Oêxodoapresentaascaracterísticasde
refúgioeconômico,emrazãodasprecariedadesdomercadodetrabalhonoBrasil.Muitos
membrosdessascomunidadesbrasileirasvêmsofrendosançõesdenaturezadocumental,
laboralesocial,comrestriçõesdedireitoserepresáliassociaisegovernamentais,emfla-
grantecontrastecomotratamentoasseguradopelaConstituiçãobrasileiraaosestrangei-
rosresidentesnopaís.Sãofreqüentestambémosepisódiosdealiciamentodebrasileiras
com a finalidade de serem exploradas sexualmente no exterior.”[CDH;1999:36.]
Aindaem1998,aCDHenviourepresentaçãoàFlórida(EUA),paraparticipardeumasérie
deeventoscomacomunidadebrasileiraresidentenaqueleestadonorte-americano,inclusive
visitaroConsuladodoBrasilemMiamiefazercontatoscomoConselhodeCidadãosBrasilei-
ros.AmissãofoiconsideradafundamentalparasubsidiarasaçõesdaCDHnadefesadosinte-
ressesdenacionaisresidentesnoexterior.Alémdisso,aCDHnãomediuesforçosparademons-
trarainocênciadacidadãbrasileiraRosimaryGarciaFerreira,deLondrina(PR),presahádois
anosesetemesesemAssunção,Paraguai.
Em1999,foiaprovadorequerimentodeaudiênciapúblicacomaparticipaçãoderepresentan-
tesdoserviçoconsulardoBrasilemPortugal,paratratardeincidentesocorridoscomquatro
jovensbrasileirosnoaeroportodeLisboa,emPortugal.Nodia26demaiode1999,estesjovens
teriamsofridotratamentodiscriminatórioepreconceituosodoserviçodeimigraçãodaquelepaís.
FoiaprovadoaindaenviodeexpedienteaoPresidentedaRepúblicaaoMinistériodasRelações
ExterioreseaoMinistériodaJustiça,manifestandopreocupaçãocomasituaçãodosbrasileiros
residentesnoParaguai,tambémconhecidoscomo“brasiguaios”,diantedasdenúnciasdeinvasão
desuaspropriedadesporcamponesesparaguaios.Outrasolicitaçãoaprovadapeloplenárioda
CDHdirige-seàPolíciaFederal,demandandoumlevantamentodonúmerodebrasileirosdeporta-
dosdePortugalnoperíododosúltimosdezanos.
Aindaem1999foramaprovadosoconvitearepresentantedoMinistériodasRelaçõesExterio-
resparaqueesclarecesseasituaçãoemqueseencontravaobrasileiroFelipeLourenço,naSuíça,e
aintervençãojuntoàsautoridadesrussasebrasileirasparaterminarcomoseqüestrodobrasileiro
GeraldoCruzPiresRibeiro,doComitêInternacionaldaCruzVermelha,naChechênia.

Alémdestasatividades,aCDHtememseusarquivosdezenasdedenúnciasdeviolaçãodos
direitoshumanosenvolvendobrasileirosnoexterior,conformedemonstraoQuadroII.

AsocorrênciasdeviolaçãodedireitoshumanoslistadasnoQuadroIIsãoextremamentepreo-
cupantes,umavezqueretratamumarealidadebastanteadversa.No“mundoglobalizado”deste
O Parlamento
finaldeséculo,osbrasileirosnoexterioraparecemvítimasdeprisões,mortes,tráficodemulheres,
e as Migrações impedimentodeentradaempaísestrangeiro,impedimentodeexercíciodeprofissão,discrimina-
Internacionais çãoeretençãodecriançasporpaisnão-brasileirosempaísestrangeiro.Oscenáriosdessasocorrên-
Marcia Sprandel ciassãoprincipalmenteaeroportos,mastambémpostoselinhasdefronteira,bordéis,prisões,
tribunais,hospitaisecemitérios.

Impossívelnãofazerumaligaçãoentreessesdadoseoconceitode“não-lugar”deAuge[1994],
pensadoemoposiçãoànoçãosociológicadelugar,associadaporsuavezànoçãodeculturaloca-
lizadanotempoenoespaço.Osaeroportossão“não-lugares”porexcelência,espaçosquenãosão
108
nemidentitários,nemrelacionaisenemhistóricos.Estaregra,noentanto,sóserveparaosusuá-
riosdo“não-lugar”quetêmcomeleumarelaçãocontratual,quepodemfornecerdocumentos,
cartõesdecrédito,passagensaéreas.Talfunçãodecontroledo“não-lugar”nãoescapaaAuge:

“De certo modo, o usuário do não-lugar é sempre obrigado a provar sua


inocência. O controleapriori ouaposteriori daidentidadeedocontrato
colocaoespaçodoconsumocontemporâneosobosignodonão-lugar:sóse
temacessoaeleseinocente.”[Auge;1994:94.]

Porironia,sãonesses“não-lugares”dasupermodernidade,instalaçõesnecessáriasàcircula-
çãoaceleradadaspessoasebens,quealgunsdosbrasileirosenvolvidosnasocorrênciaslistadas
acimasãodetidoseimpedidosdecircular. Damesmaforma,sãonasfronteirasnacionais,queo
sensocomumaindaacreditateremsidorelativizadaspela“globalização”,queosbrasileirossão
impedidosdeavançar,presos,seqüestradoseassassinados.Édeseperguntarseexistealgomais
carregadodesignificadodoquecorposdejovensbrasileiros,mortosnatentativadeingressarem
territórionorte-americano,seremutilizadoscomoobjetosdeestudosanatômicosporjovensnorte-
americanos,futuroscirurgiõesnaquelepaís.
Nogeral,oquadrodeocorrênciasacimaestálongedeterumacontrapartenosprojetosque
tramitavamnoCongressoNacionalemoutubrode2000(QuadroIII).Foramidentificadasapenas
II - QUADRO DEMONSTRATIVO DAS DENÚNCIAS DE VIOLAÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS CONTRA BRASILEIROS NO EXTERIOR EXISTENTES NA
CDH - OUTUBRO 2000

Migrações
Internacionais:
Contribuições
para Políticas

109
O Parlamento
e as Migrações
Internacionais
Marcia Sprandel

110
Migrações
Internacionais:
Contribuições
para Políticas

111

dezproposiçõesreferentesabrasileirosnoexterior-duasnosentidodedificultaraindamaisseus
deslocamentosespaciais.Refiro-meaacordosinternacionaiscomaFrança,comoveremosaseguir.
OProjetodeDecretoLegislativonº62/97aprovaotextodoAcordoRelativoàReadmissãode
PessoasemSituaçãoIrregular,celebradoentreoBrasileaFrançaem1996.Oacordovisaaestabele-
cerregrasdefinidaserecíprocasparaoretornoaopaísdeorigemdepessoasquenãoatendam,ounão
atendammais,àsqualificaçõesmínimasexigidasaosturistas:apresentaçãodepassagemdecontinu-
açãodeviagem,comprovaçãodeseuobjetivoepossedemeiosfinanceirossuficientespararealizá-la.
OpontoprincipaldoprojetoéqueoBrasilsecomprometeareceberdevolta,semformalidades,
cidadãosbrasileirosqueestejamemsituaçãodeilegalidademigratóriaemterritóriofrancês.
OProjetodeDecretoLegislativonº131/97aprovaotextodoAcordodeParceriaedeCoopera-
çãoemMatériadeSegurançaPública,celebradoentreBrasileFrança.Talacordovisaodesenvol-
vimentodecooperaçãotécnicaeoperacionalemmatériadesegurançapública,maisespecifica-
mentecrimetransnacionalorganizado,tráficodeentorpecentes,imigraçãoirregulareterrorismo.
Notemcomoaimigraçãoilegaléconsiderada,nesse texto legal,umcrimedamesmagravidade
queotráficodedrogaseoterrorismointernacional.Comoagravante,esseacordoatingedireta-
menteosbrasileirosquevivemnaGuianaFrancesa,cercade16milpessoas,foraosquesazonal-
metecruzamsuasfronteirasembuscadetrabalho.
AsquatropropostasdeemendaàConstituiçãoemtramitação(itens03a06)alterama
alínea“c”doincisoIdoartigo12.Originalmente,ascriançasnascidasnoestrangeiro,depai
brasileirooumãebrasileira,eramconsideradasbrasileirasdesdequefossemregistradasem
repartiçãobrasileiracompetenteouviessemaresidirnoBrasilantesdamaioridade,e,alcança-
daesta,optassememqualquertempopelanacionalidadebrasileira.AEmendaConstitucional
deRevisãonº3/94excluiudasexigênciasoregistronoconsuladoeanecessidadederesidência
noBrasilantesdamaioridade.Emdecorrência,estavaacontecendoque,duranteointervalo
entrearesidêncianoexterioreaopçãopelanacionalidadebrasileira,acriançaficavaapátrida
naquelespaísesquenãoadotamoconceitodenacionalidadejussoli. AsPECsemtramitação
reintroduzemnotextolegalanecessidadederegistroconsular.
Dosquatrosprojetosdeleiidentificados(itens7a10),trêsbuscamampliaraparticipaçãodo
brasileiroqueestánoexteriornavidapolíticaemnossopaís,garantindo-lheoexercíciodoseu
direitodevoto.Oquartobuscaisentardetributosaremessadevaloresparaoexteriorquando
destinadosacustearatransladaçãodecorpos.
Alémdisso,temosumaindicaçãoedoisdiversos.Aindicação(item11)sugereaoPoder
O Parlamento Executivo,porintermédiodoMinistériodasRelaçõesExteriores,aadoçãodeprovidênciasne-
e as Migrações cessáriasparalocalizarumcidadãobrasileirodesaparecidonoJapão.Quantoaosdiversos,um
Internacionais
édeautoriadoMinistériodasRelaçõesExteriores,encaminhandoaoSenadoFederaldocumen-
Marcia Sprandel
toinformandosobreasituaçãodeprofissionaisbrasileirosemPortugal(item12);ooutro,de
autoriadaCâmaradosDeputados,encaminhaaoSenadocópiadorelatóriodostrabalhosda
ComissãoExterna,criadacomafinalidadedeapurardenúnciasdeviolaçãodosdireitoshuma-
nosdebrasileirosnoParaguai(item13).
Aescassezepoucaabrangênciadasmatériaslegislativaslistadasacimademonstramqueo
112
acessodosdiversossegmentosdebrasileirosnoexterioraocampopolíticonacionalaindaé
incipiente.OsacordosinternacionaiscomaFrança,porexemplo,passaramsemproblemas
pelaCâmaradosDeputados.Sóhouvemobilizaçãocontraelesporpartedeentidadesdebrasi-
leirosnoexterior,principalmenteporpartedaCasadoBrasil,emLisboa,emfunçãodoempe-
nhopessoaldealgunsparlamentareseseusassessores.Eofatodeestesacordosestaremhoje
emsuspensonoSenadoFederaltemmuitomaisavercomdisputasdegruposdabasegovernis-
ta(tendocomosubstratooProjetoSivam,ondeaFrançaperdeualicitaçãoparaosEstados
Unidos)doquecomaatuaçãodoslíderesdaoposiçãosobreoméritodostextoslegais.15

15
Esteacordofoidenunciadopelaex-deputadaSandraStarling(PT/MG)noISimpósiosobreEmigraçãoBrasileira,
realizadoemLisboaem1997.OPDS62/97(SF)jáestavaemplenárioparavotaçãoquandoosenadorJoséEduardo
Dutra(PT/AL),preocupadocomasituaçãodosbrasileirosirregularesnaFrança,pediuseureexamedaCREDN.O
PDS131/97(SF),emsuaprimeiratramitação,teveparecerfavoráveldosenadorRomeuTumaerecebeuumvoto
emseparadodasenadoraBeneditadaSilva(PT/RJ),contráriaàformacomootextotrataoimigranteilegal.O
senadorEduardoSuplicy,líderdaoposiçãoem1998,foiinflexíveldiantedaspressõesdoItamaratyedoMinistério
daJustiçaparaqueoPLSfosseaprovado.Quandofoiaplenário,em7deabrilde1998,composiçãocontráriado
blocodeoposição,osenadorGilbertoMiranda(PFL/MA)apresentouRequerimentodeInformaçãosobrearelação
desteacordocomoutroassinadoentreBrasileFrança,dereaparelhamentodaPolíciaFederal,jáaprovado.Foi
pedidooreexamedamatériapelaCREDN.Nestacomissão,voltouàpautaemjunhode1999,tendocomorelatoro
senadorMauroMiranda,queapresentouparecerfavorável.FoiquandoosenadorTiãoViana(PT/AC)pediuvistase
apresentourequerimentodesobrestamentodamatériaatéoexamedesuaconstitucionalidadepelaCCJ.
III- BRASILEIROS NO EXTERIOR - QU ADRO DEMONSTRA TIVO D AS MA TÉRIAS
EM TRAMIT AÇÃO NO CONGRESSO NA CIONAL - OUTUBRO 2000

Migrações
Internacionais:
Contribuições
para Políticas

113
O Parlamento
e as Migrações
Internacionais
Marcia Sprandel

114

FONTE: PRODASEN.
CD=Câmara dos Deputados. SF=Senado Federal. PL=Projeto de Lei. PLS=Projeto de Lei do Senado. PDC/PDS=
Projeto de Decreto Legislativo Câmara/Senado. PEC=Proposta de Emenda à Constituição. RIC=Requerimento de
Informação/Câmara. RQS=Requerimento de Informação/Senado. CCJR=Comissão de Constituição, Justiça e Redação
(CD). CCJ=Comissão de Constituição e Justiça (SF). CREDN=Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.
Aampliaçãododireitodevotodosbrasileirosnoexterioraoutroscargoseletivos,alémde
presidentedaRepública,éumamedidalouvávelnosentidodeidealmenteaumentaropoderpolí-
ticodosemigranteslegais.OsbrasileirosnoJapão,praticamentetodosemsituaçãoregularnaque-
lepaís,poderiamajudar,porexemplo,aelegernoBrasilumdeputadofederalquelutassepelos
seusdireitos.Damesmaforma,asPECsquetratamdanacionalidadebrasileiraedotransladode
corposlhesserãoextremamenteúteisseaprovadas.
Serãoestas,noentanto,suasreaisnecessidades?
Eoquedizeremrelaçãoaosemigrantesbrasileirosemsituaçãoirregular?Osprojetosacima
listadospodemserconsideradosfundamentaisparaos“brasiguaios”envolvidosemconflitosde
terraemCanindeyu,os“brazucas”quelavampratosemBoston,asprostitutasbrasileirassemi-
escravasnoSurinameeospeões-de-obrabrasileirosnaGuianaFrancesa?
Comosaberdesuasreaisnecessidadesseelestêmpouquíssimopoderparainfluenciarno
campopolíticonacional?Comexceçãodos“brasiguaios”,queretornaramorganizadamenteao
país,em1985,equeestiverampordiversasvezesnoCongressoNacional,quemselembrade
mobilizaçãosemelhante?
Umfatomepareceemblemáticodaatualcorrelaçãodeforçasnocampopolíticobrasileiro
edabaixarepresentatividadedosemigrantesbrasileirosnomesmo.Quandodaaberturada
últimaConferênciaNacionaldeDireitosHumanos,naCâmaradosDeputados,umauditório
lotadoassistiu,entrefascinadoeemocionado,aapresentaçõesdegrupossociaisqueestãoem
Migrações
plenamobilizaçãoporseusdireitos. Internacionais:
Contribuições
Nopalco,liderançasindígenasprotestaramcontraos500anosoficiais;omovimentonegro para Políticas
trouxejovensdaperiferiaquecantaramumrap;umrepresentantedosmeninosderuaveiocontar
oquefariasefossepresidentedaRepública;senhorasquebradeirasdecococantaramsuasbata-
lhascontraolatifúndio;sem-terrasentoaramseucanto;ciganasdançarameofereceramflorese
homossexuaisdefenderamseusdireitos.
QuandoopresidentedaComissãodeDireitosHumanos,quedirigiaostrabalhos,encerrava
aaberturaparaconvidarosprimeirospalestrantesasentarem-seàmesa,foiinterrompidopela 115
vozfirmedeumamulherdaplatéia.Apósalgunsminutosdeburburinho,fez-sesilênciopara
queelacontassesuahistória.
Eraumabrasileira,vítimadediscriminaçãonaFlórida,quenãosabiaaquemsedirigirpara
terseusdireitosdefendidos.JátentaraoItamaratyeparlamentaresdeseuestadonatal,semsuces-
so.SabendodaConferência,decidiuquealipoderiaterinterlocução.
Bourdieuconsideraqueosprincipaisinstrumentosmateriaiseculturaisnecessáriosàpartici-
paçãopolíticasãootempolivreeocapitalcultural.Aconcentraçãodecapitalpolíticonasmãosde
umpequenogrupoémaiorquantomaisdespossuídosdeinstrumentosmateriaiseculturaisne-
cessáriosàparticipaçãopolíticaestãoosdemais. Estedespossuimentodecapitalpolíticoépróprio
dosbrasileirosemigrantes:nãoestavamnopalco,masnaplatéia;nãovieramcomomovimento,
mascomoindivíduos;nãoforamconvidadosafalar,precisaramgritar.

4. CONGRESSO NA CIONAL E REPRESENT AÇÃO: S U G E S T Õ E S PARA O DEBA TE


NocampopolíticoqueéoCongressoNacional,comovimos,osproblemasdose/imigrantes
sãotratadospreferencialmentecomoproblemasdeviolaçãodosdireitoshumanos.Destaforma,é
aComissãodeDireitosHumanosquepromoveeventossobrebrasileirosnoexterior,edelespartici-
pamoDepartamentoConsulareoDepartamentodeDireitosHumanosdoItamaraty.Éamesma
comissãoquempromovediscussõessobreestrangeirosnoBrasil,tendocomoconvidadosinvariá-
veisoDepartamentodeEstrangeirosdoMinistériodaJustiça,a ProcuradoriaGeraldaRepública
eaPastoraldosMigrantes.
Ocampopolíticoemquestãolimitououniversoparaodiscursopolíticodasmigrações
internacionais,definindooquepodeserpensadopoliticamenteemrelaçãoàsmesmaseo
quenãopode.Falandomaisclaramente,osimigrantesnoBrasileosbrasileirosnoexterior
podem ser pensados como pessoas que têm seus direitos humanos ameaçados. Não podem,
noentanto,serpensadoscomopartedeuma“não-política”migratóriadogovernobrasileiro
paracomosmesmos.
Aoestudaropoder,MichelFoucault[1983]chamaaatençãosobreosmodosdeobjetivação
pelosquaisossereshumanossãotransformadosemsujeitosesobreaspráticasdedivisão.Tais
técnicasdeexercíciodepoderproduzemsaberespráticos,cujosmecanismossãoantigoseaper-
feiçoam-secomonovatécnicadegestãodaspessoas,decontrolarsuasmultiplicidades.Entreos
saberespráticosdestaca-seoexame,entendidocomo“avigilânciapermanente,classificató-
ria,quepermitedistribuirosindivíduos,julgá-los,medi-los,localizá-lose,porconseguin-
te, utilizá-los ao máximo”[FOUCAULT;1979:107].Comoexemplodessessaberespráticos,tem-
sequehoje,noCongressoNacionalbrasileiro,asmigraçõesinternacionaissãoassuntodaCo-
missãodeDireitosHumanos,enãodaComissãodeRelaçõesExteriores.
RestasaberporqueasComissõesdeRelaçõesExterioresdaCâmaraedoSenadonãotêmsido
O Parlamento oespaçoinstitucionalparaosgrupossociaisemquestãofalaremouseremfalados.Examinemos
e as Migrações
Internacionais algumaspistas.AComissãodeDireitosHumanoséumespaçodemocrático,acessívelepróximo
Marcia Sprandel dasdemandasdapopulação.Temsidotradicionalmentepresididaporparlamentaresdaoposição,
paraosquaisosdireitoshumanossãoantigabandeiradeluta.AComissãolhesdáboavisibilidade
namídiaeseuseleitoresesperamdelestalatuação.
AsComissõesdeRelaçõesExteriores,porsuavez,têmpreocupaçõesmaisburocráticas.
Aprovamassinaturadeacordosinternacionais,aprovamnomesparaocuparpostosdiplomáti-
116 cosebuscamreproduzirodiscursoelaboradamente“neutro”dachancelaria.Dentrodouniver-
sodasrelaçõesexteriores,noentanto,nãosãopropositivasenãotêmforçapolítica.Mesmoque
quisessem,estariamdistantesdapossibilidadedeformularpolíticasdemigração.São,noen-
tanto,comissõesque“dãoprestígio”paraseusintegrantes,sendodisputadíssimasportradicio-
naisfigurõesdaRepública.Noentanto,como“nãodãovoto,”16 suaparticipaçãonasmesmas
tendeaserburocráticaedesinteressada.
Podemosconcluir,então,queoCongressoNacionalnãopriorizaentresuaspreocupaçõesa
políticaexternabrasileiraemuitomenosajudaaformulá-la.OpresidentedaComissãodeRela-
çõesExterioresdaCâmaradosDeputados,em1999,deputadoMatheusSchmidt(PDT/RS),credi-
touestarealidadeaofatodeaConstituiçãode1988deixarclaroqueaconduçãodapolíticaexter-
naéprivativadopresidentedaRepública.Naocasião,adeputadaSandraStarling(PT/MG),mem-
brodamesmaComissão,lembroucomperspicáciaqueaConstituiçãotambémafirmaquecabe
aoLegislativoimpedirqueosinteressesnacionaissejamferidosnosacordosinternacionais.17Fer-
nandoHenriqueCardoso,recém-eleitopresidentedaRepública,em1994,tambémchamouaaten-

16
Conformeareportagem“Nãorendevotos”,dePedroPauloRezende,publicadanoCorreioBraziliensede
11dejaneirode1999,integrá-lasignificaperderoportunidadesdeconseguirverbasparaobraseprogramas
sociaisemestadosemunicípiosqueformamoredutoeleitoraldosparlamentares.
17
Ibid.
çãoparaesteimobilismodasComissõesdeRelaçõesExterioresdoCongressoeseudistanciamento
emrelaçãoàdiscussãopolíticadoItamaraty18.
Oassuntocostumaviràtonasemprequeparlamentaresseposicionampelomelhoramentode
textosdealgunsacordosinternacionaisesevêemconstitucionalmenteimpedidosdefazê-lo.Para
alterarestasituação,odeputadoJoséDirceu(PT/SP)elaborouPropostadeEmendaàConstituição
quepermiteumamaiorparticipaçãodolegislativobrasileironocampodapolíticaexterna.19Para
oautordaproposta,otextoconstitucionallimitaacompetênciadoLegislativo,noquetangeà
apreciaçãodeatosinternacionais,apenasaosqueseriam“gravosos”aopatrimônionacional,
sem,noentanto,determinaroalcanceeorealsignificadodetallimitação:

“A condução da nossa política externa permanece, infelizmente, como


prerrogativaexclusivadoPoderExecutivo,oquenãoécondizentecomo
necessárioprocessodeaperfeiçoamentodasnossasinstituiçõesdemocráti-
cas.Oqueocorrenapráticadaelaboraçãoetramitaçãodeatosinterna-
cionaiséqueoExecutivonegociaaoseubel-prazerosacordosetratados
quejulganecessários,semnadainformaraoLegislativo.OCongressosó
toma conhecimento desses atos internacionais quando eles são enviados,
jáprontoseassinados,paraapreciação.”20

Casosejaaprovada,aPECdodeputadoJoséDirceuretirarádoExecutivoopoderdedecidirquais
acordosetratadosdeverãoounãoserenviadosaoCongressoNacional.Alémdisso,permitiráquea Migrações
Internacionais:
decisãodoCongressoNacionalsobrequalqueratointernacionalpossaincluir“emendas,reservase Contribuições
cláusulasinterpretativas”.Istoé,oLegislativopoderáaprovarparcialmenteumacordoquetenha para Políticas
cláusulaslesivasaosinteressesdopaísouaseuscidadãos,oumesmointroduzirmodificaçõesnum
determinadoatointernacionalquenecessitedeaperfeiçoamentos.Finalmente,permitiráaoLegis-
lativoterumpapeldecisivonasdenúnciasdeatosinternacionais.Podeparecerimpossível,aprin-
cípio.Lembremos,noentanto,deBourdieueevitemosnaturalizarosmecanismossociaisque
produzemereproduzemaseparaçãoentremandantesemandatários.Estesmecanismossãore-
sultantesdelutasnocampopolíticoedeacúmulosdecapitalpolítico,podendosermodificados. 117

Semmedodenavegarpeloperigosocampodoimpressionismo,arrisco-meaidentificarnos
discursosdenossosparlamentares–comhonrosasexceções–umdesconhecimentoaindamuito
grandesobrequemsãoosestrangeirosemnossopaíseosbrasileirosquedaquisaíram.Háuma
tendênciaaquasenaturalizá-loscomopartedeumprocessomodernode“globalização”erelati-
vizaçãodefronteiras,numdiscursoquenãoabremão,noentanto,develhosjargões:

18
Cf.“FHCquerfimdas‘picuinhas’comEUA”.Folha de São Paulo, caderno Mais!, 18 de dezembro de 1994,
pp.6-5.
19
PropõeumanovaredaçãoaoincisoIdoartigo49daConstituiçãoFederaleacrescentaumnovoinciso.O
art.49tratadascompetênciasexclusivasdoCongressoNacional.Comoestáhoje,oincisoIatribuiaoCon-
gresso a competência de“resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional”. Pelanovaproposta,oincisoI
teria a seguinte redação:I- DecidirdefinitivamentesobretodoatointernacionalfirmadopeloPresidente
da República ou por autoridade por ele delegada, à exceção dos acordos executivos ou acordos de forma
simplificada que não tenham modificado o ato que lhes deu origem ou que sejam de natureza estrita-
mente inerente à rotina diplomática ordinária, podendo a decisão referente ao ato incluir ressalvas,
emendas e cláusulas interpretativas. EonovoincisoIIficariaassim:II-Decidirdefinitivamentesobre
todadenúnciadeatointernacionalmultilateral.
20
Conforme Justificativa da PEC, disponível nahomepage do deputadoJoséDirceu.
“Naopiniãodosenador,aexclusãododireitodevotodoestrangeirotorna
essaspessoasnoBrasilcidadãosdesegundaclasse,pornãopodereminflu-
enciaremdecisõesquelhesdizemrespeito.(...)Tambémalegaqueasgran-
des correntes migratórias do mundo moderno exigem uma mudança no
conceitodepovoeumarelativizaçãonanoçãodesoberanianacional.(...)
Excluiucontudoapossibilidadedeoestrangeirodisputarocargodeprefei-
toouvice-prefeito,paraquesuaproposta(...)nãosejachamadadealie-
nanteeimpatriótica.”[JornaldoSenado, 17demaiode2000.]

Para Bourdieu,“nada é menos natural do que o modo de pensamento e de ação que é


exigidopelaparticipaçãonocampopolítico”[Bourdieu;1998:169].Osdiscursosparlamentares
nuncasãogratuitos.Enquantoagentespoliticamenteativos,detentoresdetodososinstrumentos
materiaiseculturaisnecessáriosàparticipaçãonapolítica,seusdiscursossãoinstrumentosde
percepçãoedeexpressãodomundosocialnaquelemomento.Gohn[1997]identificarianessetipo
dediscursoumprivilégiodo“problema”emdetrimentodosatoressociais.Ossujeitosdaação,
comseusnomes,rostosehistóriasdevida,transfiguram-seemproblemática:“ospobres”,“os
sem-terra”,“osestrangeiros”,“osbrasileirosnoexterior”.

Portrásdessainvisibilidadedosujeitopareceestarumproblemasériodedelegação.Bourdieu
[1990],aotratardamediaçãocomoetapanecessáriaparaqueogrupoalcanceexistênciacoletiva,
afirmaque,nocasodosgruposdominados,estasedápordelegaçãoparapolíticosouentidades
O Parlamento
e as Migrações diversas,quefuncionamcomoporta-vozes:
Internacionais
Marcia Sprandel “Oatodesimbolizaçãopeloqualseconstituioporta-voz,aconstituição
do ‘movimento’, é contemporâneo à constituição do grupo; o signo faz a
coisasignificada,osignificanteidentifica-seàcoisasignificada,quenão
existiriasemele,quesereduzaele.” [Bourdieu,1990:192.]

118
Aimportânciadoporta-vozparaaexistênciadogrupofoifundamental,porexemplo,no
casodoschamados“brasiguaios”queretornaramaoBrasilem1985.Masparecenãoestar
funcionando com os que tentaram retornar mais tarde, nem com os que permaneceram no
Paraguai.Omesmosepodefalardosbrasileirosqueenfrentamproblemasnohemisférionorte
oudasignificativacomunidadedebolivianosnacidadedeSãoPaulo.Silva[1998]eDornelas
[1998]jádemonstraramcomo,dopontodevistadessesúltimos,adefesadeseusdireitospor
entidadescivisereligiosaspodeprejudicá-los,namedidaemquedespertamointeressedaim-
prensaedasautoridadesparasuasituaçãoirregularnopaís.

ArealidadeéqueosbrasileirosnoexterioreosestrangeirosnoBrasilencontram-semuito
distantesdoslocaisdeproduçãodefatospolíticos.APastoraldosMigrantes,umadasprincipais
entidadesdemediaçãoparaestrangeiroseemigrantesbrasileirosnoCongressoNacional,falaem
nomedeumuniversoimensodepessoas,nãodandocontadetrazeràluzsuasespecificidadeseseus
possíveisagrupamentos.Aprópriaconceituaçãode“migrante”conduzàessaindiferenciação.

Terminoesteartigocomacertezadequeéaindabastanterestritooacessodebrasileirosno
exterioredeimigrantesnoBrasil,enquantocidadãoseconomicamenteeculturalmentedesfa-
vorecidos,aocampopolíticonacional.Nãocabenesteespaçotãocurtoanalisarprofundamente
oporquêdisso.Esperoapenasqueseamplieodebate.Queeleecoe,setivermossorte,entreas
comunidades;quesejadiscutidopelasentidadesdeapoio;equetenhaalgumtipodecontinui-
dadedentrodoCongressoNacional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUGÉ,Marc, Não-lugares -introduçãoaumaantropologiadasupermodernidade.Campinas,


Ed.Papirus,1994.
BOURDIEU, Pierre,“Adelegaçãoéofetichismopolítico”.In:CoisasDitas.SãoPaulo,Brasiliense,
1990.
____________, “Arepresentaçãopolítica.Elementosparaumateoriadocampopolítico”.
In:OPoderSimbólico.RiodeJaneiro,BertrandBrasil,1998.

COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS,1997, Relatório anual/1996-


Umanodelutapelavida.Brasília,CâmaradosDeputados,CoordenaçãodePublicações.
____________ , 1998,Relatóriodeatividadesde1997.Brasília,CâmaradosDeputados,
CoordenaçãodePublicações.
____________, 1999,Relatório de atividades 1998. Brasília, Câmara dos Deputados,
CoordenaçãodePublicações.
____________, 2000,Relatório de atividades 1999-Semdireitossociaisnãohádireitos
humanos.Brasília,CâmaradosDeputados,CoordenaçãodePublicações.
DORNELAS,SidneiMarco,“Umflagrantenaclandestinidade”.Travessia,AnoXI,nº30,jan/abril. Migrações
Internacionais:
pp.30-33,1998. Contribuições
para Políticas
FOUCAULT,Michel, MicrofísicadoPoder,RiodeJaneiro,Ed.Graal,1979.
____________,“Thesubjectandpower”.In: Rabinow&DreyfussMichelFoucault.Chicago,
TheUniversityofChicagoPress.1983

GOHN,MariadaGlória,“MovimentossociaiseONGsnoBrasilnaeradaglobalização”.In: Teorias
dosMovimentosSociais.SãoPaulo,EdiçõesLoyola,1997. 119

LIMAJÚNIOR,OlavoBrasilde, “Partidos,eleiçõesePoderLegislativo”.In:SergioMiceli(org.)-
Oquelernaciênciasocialbrasileira(1970-1995)-CiênciaPolítica(volumeIII).
SãoPaulo,EditoraSumaré/ANPOCS;Brasília,CAPES,1999.

SANTOSJÚNIOR,Belisáriodos,“OestrangeiroesuasituaçãojurídicanoBrasil”.Travessia,
setembro/dezembro,pp.5-8,1991.

SILVA,SidneyAntônioda,“Clandestinidadeeintolerância-ocasodosbolivianosemSãoPaulo”.
Travessia,AnoXI,nº30,jan/abril,pp.25-29,1998.

SPM-ServiçoPastoraldosMigrantes/CNBB-ConferênciaNacionaldosBisposdoBrasil,Migrantes
LatinosAmericanosnoBrasil-apelodaIgrejaparaaAcolhidaSolidária. SãoPaulo,
EdiçõesLoyola,1995.

Você também pode gostar