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segunda-feira, 29 de março de 2010

Carta do Dia: A RODA DA FORTUNA


Peço, por favor, que comecem a leitura da postagem de hoje acionando o
“play” no vídeo abaixo para poderem ter, como fundo musical da leitura, a canção
“O Fortuna”, composta por Carl Orff sobre os manuscritos encontrados em 1803 na
biblioteca da da antiga Abadia de Menediktbeuern, na Alta Baviera.
Fortuna, que antigamente era chamada de Vortumna, era cultuada pelos ro
manos (os gregos a chamavam de Tyche) como a deusa da sorte e da esperança. Simb
olizava a distribuição de tudo o que havia de bom e de ruim na face da terra, de
maneira aleatória, pois tal como a figura da Justiça, era representada com os o
lhos vendados. Todo ser humano tinha as mesmas oportunidades de viver os ciclos
de benefícios e de prejuízos que essa divindade trazia.
Roda da Fortuna A carta da Roda da Fortuna remete-nos a um conceito fil
osófico medieval que discute a caprichosa natureza do Destino. A Roda pertence à
deusa Fortuna, que a gira a seu bel prazer, mudando as posições daqueles que ne
la estão situados, permitindo que alguns experimentem grandes ganhos e venturas,
enquanto que a outros está reservada uma fase muito mais cruel. O movimento per
pétuo que a deusa imprime à roda traz, alternadamente, sorte e azar. Podemos ver
nessa simbologia uma parábola das nossas vidas, sempre expostas às transformaçõ
es. Nascemos, crescemos, aprendemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos para
novamente renascermos. Repetimos ciclos pré-estabelecidos, como as estações do a
no, solstício e equinócio, as fases da lua, o movimento do sol criando o dia e a
noite.
424px-ForutuneWheel Em muita das ilustrações feitas para as cartas de t
arot, especialmente as mais antigas, vemos a Roda dividida em 4 partes, como os
pontos cardeais que representam a jornada do sol, com 4 figuras humanas presas a
ela, onde pode-se ler: Regnabo (eu irei reinar), Regno (eu reino), Regnavi (eu
reinei) e, na base Sum Sine Regno (eu não tenho reino). Essa última afirmação re
feria-se à humilhação sofrida pelo Imperador Valeriano, imposta pelo rei Shapur
I, da Pérsia, por volta do ano 260 D.C., que nele montou como se montasse um ani
mal. Diga-se que Valeriano foi o único imperador a ser preso e feito cativo. As
representações medievais da Roda da Fortuna sempre enfatizam a sua dualidade e i
nstabilidade. Se bem repararmos, as cartas próximas a esse Arcano Maior reforçam
essa idéia. Basta que vejamos a carta do Carro (7) como um movimento ascendente
; a do Eremita (9), como o amadurecimento que nos garante uma visão mais ampla,
do topo. A carta do Pendurado (12) reflete o movimento descendente, com sua posi
ção invertida e, finalmente, a Morte (13) não possui nada.
O número dessa carta é o 10, que simboliza o fim e o começo de uma sequ
ência, pois de acordo com os pitagóricos, os números vão de 1 a 9. O 10 (1+0) re
presenta, ao mesmo tempo um primeiro passo, um primeiro movimento (1) e o fim, o
retorno ao potencial absoluto (0).
Astrologicamente, este Arcano Maior é representado por Júpiter, que é c
onsiderado um planeta cuja influência pode ser medida através da expansividade,
da prosperidade, da benevolência e do otimismo. Júpiter quer que prosperemos e c
resçamos. Ainda que possamos ver nisso unicamente um símbolo de boa sorte, devem
os refletir e compreender o valor inestimável das valiosas lições que a má-sorte
nos oferece ao impelir-nos em busca de respostas, de soluções. Poderíamos dizer
que o importante não é o que nos acontece, mas como lidamos com isso e o que ap
rendemos disso.
O Fogo criativo, regenerador, transformador e imprevisível é o elemento
da Roda da Fortuna, assim como a letra hebraica Kaph, significando a “palma da
mão” está associada a ela. A quiromancia, a crença de que as formas e as linhas
das mão possam revelar a personalidade e o caráter das pessoas, bem como evento
s futuros em suas vidas, sempre teve muitos seguidores, numa tentativa humana de
ganhar acesso a algum conhecimento sobre o que o Destino lhes reservava. Ainda
que a quiromancia e a astrologia possam sugerir alguma forma de predestinação, e
xiste um olhar mais modernos sobre essas artes, inclusive sobre o tarot, que enf
atiza considerar-se a importância do livre-arbítrio. Os eventos em potencial mos
trados nos desenhos de nossas mãos ou nos traçados dos nossos mapas natais, ou a
inda nas cartas dispostas aleatoriamente numa jogada de tarot, apenas se “concre
tizam”, se realizam em nossas vidas quando agimos ou deixamos de agir, de uma ma
neira específica.
Devemos aceitar o que a vida nos oferece, mas termos em mãos as rédeas
do nosso próprio destino, sem nos esquivarmos ou negarmos a vivê-lo, utilizando,
para isso, a nossa experiência adquirida. As variações e mudanças que percebemo
s em nossas vidas podem ser atribuídas à boa ou má sorte. A Sorte (Fortuna) cert
amente exerce sua influência. Mas em fazendo escolhas acertadas, equilibradas, n
ós também podemos contribuir com os resultados e exercermos um certo grau de con
trole sobre os nossos destinos. O poeta Virgílio, por volta do ano 30 antes de C
risto, já dizia: “Fortes fortuna adiuvat”, que podemos traduzir como “ a sorte
favorece os bravos”.
Quando a carta da Roda da Fortuna surge numa leitura de tarot, dependen
do sempre da sua posição e das demais cartas que a acompanham, bem como do assun
to proposto pelo consulente, pode significar uma mudança de sorte; mutação; a ch
egada de um período mais benéfico; mutação; coincidências; consequências; algo i
nevitável com que temos de lidar; vontade divina; reencarnação; renovação; mudan
ças; viagens; consequências de atos praticados; grande oportunidade que se apres
enta; sorte; rotatividade; ciclo; carma.
O lado “sombra” deste Arcano Maior se revela quando a posição da carta
representa obstáculos, assumindo assim a possibilidade de simbolizar azar; fatal
idade; resistência à mudanças ou adaptação; interrupções inesperadas; inseguranç
a; estar à deriva, perder o rumo; estagnação, imobilização; atraso; situações pa
ssageiras; ter medo ou não querer aceitar o progresso; ter a vida regida e dirig
ida pelos outros.
A carta da Roda da Fortuna pode, também, representar um flerte, uma paq
uera inconsequente, um entusiasmo amoroso passageiro, um “ficar” descompromissad
o, ou então, o surgimento de um novo romance, com boas possibilidades. Pode indi
car o fim de um relacionamento difícil, que não seja satisfatório ou então pode
estar indicando uma mudança, uma transformação para melhor numa relação já exist
ente.
Devemos estar cientes que não há certezas absolutas na vida, a não ser
a própria incerteza. Tudo muda. Tudo tem o seu tempo. Devemos estar preparados p
ara mudanças e termos paciência para enfrentar as transformações e esperar por n
ovos ciclos. Se os tempos são bons, devemos nos fortalecer e preparar-nos para e
mbates futuros, caso venham a ocorrer. Se são maus, certamente ficarão melhores
no futuro. As mudanças acabam sempre trabalhando a nosso favor, pois senão ficar
íamos estagnados. Portanto, podemos entender a Roda da Fortuna como um bom press
ágio.
Hoje, segunda-feira, novo início de uma nova semana (ciclos…), dia regi
do pela Lua que estará também iniciando o seu ingresso na fase Cheia, o que sign
ifica expansividade, e também mudanças de hábitos (fim de ciclo…), favorecendo,
inclusive, a mudança de residências (transformações e adaptações). A Lua em Libr
a nos sugere equilíbrio em nossas ações, agindo com sensatez, sem precipitações
e fazendo-nos valer da paciência, inclusive como uma forma diplomática de nos re
lacionarmos socialmente.
Tenham todos um ótimo começo de semana, com muita sorte e transformaçõe
s que lhes tragam sempre grandes benefícios.
E se tiverem interesse em conhecer o poema que inspirou Carl Orff a com
por uma das peças musicais mais conhecidas e executadas, segue abaixo a tradução
para o português. “Carmina Burana” significa literalmente “Canções de Beuern”,
em alusão à Abadia de Menediktbeuern situada naquele local, ao sul de Munique, n
a região da Baviera. Fatalista e dramático, como o girar da Roda da Fortuna.

Ó Fortuna és como a Lua, mutável,


sempre aumentas e diminuis;
a detestável vida ora escurece e ora clareia
por brincadeira a mente;
miséria, poder, ela os funde como gelo.
Sorte monstruosa e vazia,
tu – roda volúvel – és má,
vã é a felicidade sempre dissolúvel,
nebulosa e velada,
também a mim contagias;
agora por brincadeira o dorso nu
entrego à tua perversidade.
A sorte na saúde e virtude
agora me é contrária.
Dá e tira
mantendo sempre escravizado.
Nesta hora sem demora
tange a corda vibrante;
porque a sorte abate o forte,
chorais todos comigo!
……………………………………….
Choro as feridas da fortuna com os olhos rútilos;
pois que o que me deu ela perversamente me toma.
O que se lê é verdade:
esta bela cabeleira, quando se quer tomar,
calva se mostra.
No trono da Fortuna sentava-me no alto,
coroado por multicores flores da prosperidade;
mas por mais próspero que eu tenha sido,
feliz e abençoado,
do pináculo agora despenquei, privado da glória.
A roda da Fortuna girou:
desço aviltado;
um outro foi guindado ao alto;
desmesuradamente exaltado o rei senta-se no vértice –
precavenha-se contra a ruína!
Porque no eixo se lê
Rainha Hécuba.
Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura
Arcanum)
WWW.ELEMENTOSDOTAROT.COM.BR

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