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ConsetHo EprToriAL Alcino Leite Neto ‘Ana Luisa Astiz Antonio Manuel Teixeira Mendes Arthur Nestrowski Carlos Heitor Cony Gilson Schwartz Marcelo Coelho Marcelo Leite Otavio Frias Filho Paula Cesarino Coste | | | | | | FOLHA EXPLICA O PT PUBLIFOLHA ANDRE SINGER {©2001 Ria - Dio de beac de prea Fla do Mar A. (82001 Arie Seget, “pa of oor memos Nurs part dete puesto pode eri Tpiho ou sense mor a au pr eon nes perme eee The ctheldesuaha Buon de cles do Eros Fhe do Mars Flo Nose Noone Capa ree alco Sie Route Cencente de roto co ‘ooo saver ait ge pos en Son ta Same Pein meetin FS nave 7, 49» 7 an En 7 ge Aa 83 too dertnco Feu alta te nt a Mee Sorte Sm ae: ten, fens Tra pecs PUBLIFOUIA Be Vide Cant, 4, 1% ang CEP 07210910, $0 Pal, > Seip asl eau nese Ste wept com be ctor ofr geen xk ep Ato ene (Sin rerun pr) 381880 mera pa alah SUMARIO INTRODUGAO .. 1. AORIGEM DO PT.. 2, DAREVOLUCAO SOCIALISTA A REVOLUCAO DEMOCRATICA .. 3, FLEIGOES: ALONGA JORNADA PARA O INTERIOR, 4. 05 TRABALHADORES NO PODER CONCLUSAO: ESQUERDA OU. CENTRO-ESQUERDA? CRONOLOGIA .. BIBLIOGRAFIA E SITES. 13 29 a 69 83 89 95 Agradego, pelo tempo precios plas informagies ceilidas,a Clara Ant, Claudia Maas, Glauco Arbix, Inés Magallies José Castilho Marques Neto, Luiz Indeio Lula da Silva, Maria Alice Vieira, Mauricio Fornaziari, Paul Singer, Paulo Vannuchi, Pedro Pontual, Ricardo de Azevedo, Rita Dias, Rose Spina e Zilah Wendel Abramo, Pelo inestimdvel auceitio de pesquisa, & professora Janina ‘Onuki e ao Banco de Dados da Folha de $.Paulo. Para Raquel e Kurt Pape, na meméria. es eC SEA TBE INTRODUGAO (1989) deologias 3 parte, quem viu garante que foi de arrepiar. Sao Paulo, domingo, 10 de fevereito de 1980. 0 auditério do tra~ dicional e elegante Colégio Sion estava abarrotado. Eram 242 delegados de 18 unidades da Federa¢io ¢ um néimero indefinido de militantes, de 400 a mil, que, embora nao credenciados, acabaram sendo admitidos com direito a voz." As fotos mos- tram gente sentada nos corredores ¢ em pé ao fundo da sala. Quando 0 sectetirio da mesa, composta em sua maioria de sindicalistas, chamou o critico de arte Mirio Pedrosa, 79, para assinar © Manifesto de Lan- gamento do Partido dos Trabalhadores (PT), a sala veio abaixo. "Wer Pre Abn Un Tina de Note So Palo Editors Fda Pare Abo, 997, -S Zsh Wendel Abn 10 eBid 1980 Sido Dae: wrrebrmnorgt. Vern, Lebo Mans Roig, i ‘ve Sindy Si Ps ts, 1990 saragto 9 Pedrosa simbolizava 0 longo e tortuoso percurso que desembocava no encontro do Sion. Membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na década de 20, ‘9 jovem intelectual do Rio de Janeiro parte para Mos- cou, onde deve fiegiientar o curso para formagio de {quadros na Escola Leninista.A caminho da capital so- vviética, faz uma parada em Berlim, cidade em que adoece e nao pode seguir viagem. Na Alemanha, toma contato com as teses da oposigao de esquerda na Russia, liderada por Leon Trotski.? Com a expulsio de Trotski do Partido Comunista da URSS em outubro de 1927, Pedrosa desiste de ir a Moscow, rompe em 1929 com 0 PCB e passa a organizar o trotskismo no Brasil No dia 7 de outubro de 1934, ferido por um tiro za batalha campal que ops a Frente Unica Antifiscist 3 ‘Acio Integralista Brasileira na praca da Sé, em Sio Paulo. Na década de 40, depois de afastarse de Trotski, Pedrosa adere por um petiodo ao Partido Socilista Brasileiro (PSB), agremiagao que vité a ser extinta pelo golpe militar de 1964. Em 1971,0 professor exila-se no Chile e,em 1973, na Franca. Quando volta ao pais, em 1977, pasa a acom- panhar Com interesse os sinais de que no ABCD pauilista surge um novo sindicalismo, Publica na Folha de S. Paulo, em agosto de 1978, a“Carta a um Operirio”, dirigida a Luiz Inicio da Silva, o Lula entio presidente do Sindicato dos Metalirgicos de Sio Bernardo e Diadema (SP).Nela, sugere a formagio de um partido dos trabalhadores.* teen Toph (1879-1940 oi wm dos conduoes da Revo Ras de 1917, Depo et do eli por Si, frou om 19384 Quars rercon Pages i de Miro Peo frm lead por Fi Aram em m= ‘en jin ogo Bae Rican de Arr Faron Mat or), Remmi. Ese Ste asd She XX. So Pale: Erno Fer ‘Abn 1957 Vert oe Cao Marios Nee Si Rel Mie Fae ti do oan Eh i deo: Pa Tr, 1, ie OFT © velho socialista, que morreria no ano seguin- te ao da criacio do PT, teve a sorte de viver o sufi- ciente para participar, na qualidade de homenageado, da realizagio do antigo sonho: ver surgir, no Brasil, ‘um amplo partido de esquerda dirigido por operirios. Além dele, outras cinco personalidades simbélicas fo- ram convidadas a figurar como os primeiros signati— trios do manifesto que langava o partido naquela manhi de verio. Assinaram o livro de fundac3o, depois extra- viado, Manoel da Conceigio, lider das Ligas Campo- nnesas que levantaram 0 Nordeste antes de 1964; 0 historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-82), autor do clissico Ratzes do Brasil;a atriz Lélia Abramo, millitante desde os anos 30 e presidente do Sindicato dos Artistas de Sao Paulo; professor Moacir Gadotti, em nome do educador pernambucano Paulo Freire (1921-97), criador do método de alfabetizagdo que leva 0 seu nome; € 0 oficial da reserva Apolonio de Carvalho, heréi da Guerra Civil Expanhola e da Re- sisténcia Francesa. ‘A idéia acalentada por Pedrosa, dirigida por Lula € endossada pelos nomes acima deu certo. Com altos € baixos,a legenda fundada naquele domingo conver- teu-se em uma das principais pegas do sistema parti- dirio brasileiro. Pela primeira vez — 3 excegio do curto perfodo entre 1945 e 1947 em que o PCB foi legal -, a esquerda participa de modo competitivo da"“grande politica” no Brasil Tendo meio milhio de filiados e estando orga- nizado em 4.098 municipios, o PT passou a governar, em 2001, 8s estados e 187 cidades, entre elas seis das mais importantes capitais brasileiras. £,desde 1998, um dos cinco maiores partidos dos 23 que tém represen tagio no Congresso Nacional ¢ controla cerca de 10% da Casa, Lull ficou em segundo lugar nas eleig&es pre dio sidenciais de 1989, 1994 © 1998. Na diltima, obteve 21,5 milhées de votos (32% dos validos). E impossivel compreender o Brasil do século 21 sem entender o PT. Nao s6 porque ele detém uma fatia dos postos de controle politico, mas também por- jue influencia © comportamento dos demais atores. Aimedida que se mostrou competitivo na arena elei toral, 0 partido passou a ser um divisor de 4guas Petismo e antipetismo catalisam segmentos crescentes do eleitorado. A surpreendente performance de Lula na elei¢a0 de 1989, quando quase chegou 4 Presidén- cia da Reptiblica, levou a que partidos de centro e de direta se unissem em um inesperado bloco para evi- tara vitéria do PT em 1994 ¢ 1998. Esse bloco, for~ mado em parte para opor-se ao PT, € que detém o Poder Executivo federal e a maioria no Congresso. Mesmo quando distante dos cargos de decisio. politica, sobretudo na primeira metade dos anos 80, a trajetoria do partido influenciou 0 rumo da sociedade. ‘OPT esteve ligado as grandes greves daquela década, & corganizacio da Central Unica dos Trabalhadores (CUT), em 1983, e ao nascimento do Movimento dos Traba~ Ihadores Rurais Sem~Terra (MST), em 1984. Este volume procura, de maneira breve, “expli- car’ o PT, No capitulo 1, conta quem formou e por que se formou o partido, Em seguida, tenta esclarecer, no capitulo 2, qual é a ideologia e o programa que 0 norteiam. No capitulo 3, relata como ele chegou, devagar, a constituir a base eleitoral que tem. José Dirceu de Oliveira, presidente do partido entre 1995, © 2001, declarou certa vez que “o PT foi criado com vocagio. de ser governo”." © capitulo 4 relata, em "Fe dP 1/8/1097 9.112 bp oFr linhas gerais, 0 que o partido tem feito uma vez no poder. Para o marxista italiano Antonio Gramsci (1891- 1937), “escrever a historia de um partido & escrever, de um ponto de vista monogrifico,a historia geral de ‘um pais”. Nos estreitos limites destas poucas paginas, & 0 que se quer fazer aqui. 1. AORIGEM DO PT projeto do PT cresceu na regio do ABCD ppanlista durante a segunda metade da dé~ oO cada de 70. Quando as greves fabris asina- laram a reaparicio do movimento operiio nna cena brasileira, um grupo de sindicalistas, que j se articulava havia algum. tempo, tomou a iniciativa de organizar uma nova legenda, independente dos parti- dos existentes e dos agrupamentos politicos ligados 4 classe trabalhadora que haviam existido até entio. ‘Ossurgimento do PT s6 pode ser compreendido no contexto da intensa mobilizagio social que se es- palhou do ABCD para o pais todo entre 1978 e 1989. * Na reid de condo com Li nico Lda Si," ed gree ‘Seni ov mort dis empies Voge a Ford da Mende en tin aad, Na sede frat el ue pc reo" Le ae Si, ae Son Cos Ro de eno: Vos, 98, p38 * erp ker erin" Now Cardo Sinden: Tie Delt 5, 158 Arig rT ‘Ausentes do noticiério desde o golpe de 1964, exceto cor uma brevissima rentrée em 1968, os conflitos de cdhsse voltaram 4 tona com a patalisagio espontinea {que ating a montadora de caminhdes Scania-Vabis no dia 12 de maio de 1978° e prosseguiram até que 0 desemprego crénico dos anos 90 cortasse o impeto das lutas reivindicativas. © movimento sindical bra~ sileiro chegow a ser considerado, no perfodo,“o mais ativo do mundo”.7 AA Scania fica na cidade de So Bernardo do Cam- po, que pertence 4 area metropolitana de Sio Paulo. {lie nos outros municipios do ABCD, como é deno- minada a regiio que engloba também Santo André, Sio Caetano do Sul ¢ Diadema, concentravam-se as empresas automobilisticas mulkinacionais que come- garam a instalar-se no Brasil ao final da década de 50, Com cerca de 1,5 milh3o de habitantes, 0 ABCD era conhecido como a “Detroit brasileira”. (Os operirios pertenciam, em boa medida, a uma geracio que nio havia tido contato com as mobiliza~ goes anteriores A ditadura.® O crescimento econédmico de 1968 a 1976 quadruplicara o tamanho da classe ope- siria no Brasil, e tal expansio se deu, em geral, pela contratagZo de jovens cujas familias vinham do campo. Havia também, nos poderosos sindicatos oficiais, uma nova fornada de lideres que, como seus compa- nheiros do chio da fibrica, nfo tinham vinculos com a tradigio de luta anterior nem com os partidos a ela ass0- |i, siem Neri cneven oe ovmo opofeor ¢ pega do moreno sal Edoardo Noon, ar de se cd, "Cac de 1 do aban de Sho Bernd a Goes tan meno de 35. snot de ate Ec pesos ge pascment mo vera @ mowers sil Mala na Lib. 1994 96 6 ont iados, como o clandestino PCB, o extinto PTB (Parti- do Trabalhista Brasileiro) ¢ 0 igualmente extinto PSB. Em 1974, o general-presidente Ernesto Geisel (1908-96) comega, de modo gradual, a descomprimir © ambiente repressivo. No destampar da panela de pressio, verifica-se que os personagens instalados no. topo das miquinas sindicais do ABCD ~ e de alguns outros sindicatos espalhados pelo pais —, embora desligados das antigas organizagdes de esquerda, atuam como aguertidos defensores das respectivas ca~ tegorias. Bem mais ousados do que a média dos chefes do sindicalismo pelego. Eles s20 "novos sindicalistas” © mais famoso deles, um pernambucano cha mado Luiz Inacio da Silva, tinha sido torneiro meci~ nico, Lula, apelido usual na regio de Garanhuns, Pernambuco, onde nascera em 27 de outubro de 1945, assumira em 1975 a presidéncia do Sindicato dos ‘Metalirgicos de Sio Bernardo do Campo e Diadema, uma maquina com quase 52 mil associados.” Desde entio, mantinha contato com presidentes de outros sindicatos, além dos metalirgicos, em varios estados. Nessa época, conhece Jacé Bittar, do Sindicato dos Petroleiros de Paulinia (SP),¢ Olivio Dutra, do Sindi- cato dos Bancarios de Porto Alegre (RS) BRAGOS CRUZADOS, CABEGAS EM ACAO A paralisagio da Scania, conduzida por um metalingico da geragio de Lula, Gilson Menezes, gerou uma rea ArigendP az gio em cadeia, que fez pipocarem greves por todo 0 ABCD. A onda depois se alastrou para Sio Paulo Osasco, outro municipio da Grande Sao Paulo. Por fim, mobilizou metaliirgicos em todo 0 estado de S30 Paulo, tendo atingido, no conjunto, 150 mil trabalha- dores."” “No ano de 1978, acho que nés nio passa- ‘mos uma tinica semana sem fazer greve até dezembro”, Jembrou Lula alguns anos depois.” ‘Ao mesmo tempo que a onda grevista se espa~ hava por Sio Paulo, ocorria um debate sobre a for- magio de partidos. Supunha-se que haveria, como de fato houve no final de 1979, uma mudanga da lei, de forma a permitir a onganizagio de novas agremiagdes. Derrotados nas eleigdes parlamentares de 1974, 05 militares pretendiam eliminar 0 MDB (Movimento Democritico Brasileiro), fiacionar a frente que ele re~ presentava e manter unidos, sob sigla diferente da desgastada Arena (Alianga Renovadora Nacional), os grupos que apoiavam o regime autoritirio. O objeti- vo era reter © poder ¢ legitimé-lo por meio do voto majoritirio a0 partido do governo.”” Estimuladas pela perspectiva da reforma partidé~ ria e pelas greves, iniciativas diversas, que terminario por fundir-se no PT, despontam no decorrer de 1978. Politicos e intelectuais afluem ao sindicato de Sio Bernardo. Grupos e liderancas trotskistas, como a Convergéncia Socialista ¢ o presidente do Sindicato dos Coureiros de S30 Paulo, Paulo Skromov, levantam a palavra de ordem “Por um Partido dos Trabalhado- Frei Roto, Ll, Bp Pid a Opi So Pao: ao bere, op 38 "Sia, op p44, er Br ium Lari do Ge Nine Rep. So Po Hee, 8 opr res" ou “Por um Partido Operirio”."" Grupos de ins- piracZo diversa, como a maofsta AlaVermelha, presen~ te no meio sindical do ABCD, também sugerem a ctiagio “de um partido de trabalhadores, legal ¢ de ‘massas”."" Os préprios “novos sindicalistas” comegam, a pensar na formagio de um partido, A CENTELHA TROTSKISTA Embora pequenas em face do tamanho da mobilizacao social que as greves de massa prenunciavam, as organi- zagdese liderancas trotskistas terdo um papel na criagio do PT.Em consonincia com a posigio clissica assumi- da por Karl Marx (1818-83), Trotski sustentava que ca- bia & vanguarda da classe opersria unificar 0 conjunto dos assalariados em uma grande organizagio de massa £,20 mesmo tempo, atuar dentro dela de modo a orient’ Janna ditegao da independéncia revolucionéria. ‘Vale a pena, no obstante um pouco longo, trans- crever aqui trecho do Manifesto Comunista, de 1848, em que Marx e Engels expdem a rela¢io que 0s co munistas deveriam ter com o partido proletirio. Nes- se trecho, pode-se ver, & perfeicio, a teoria que estava A Comerica Socata so dient trust agenting Nel More ro, abou pore exp do PT em 197 e asim dete aetna como Patio Scali ds Tabaadors Uncados(PSTU Sle Paso Stroman ela eli anor mst de "Eu ho abi que ror dos mes compo ram onpizdor oui uo Onan ti so ea que o Alene tina pened ao MICS Palo Soman ee gape” Eon Harecke op ce; 81 Outro penonage gue conpantou somata do PT owncogV nis (ldo Brac dine er epomenta = epeso:"O Palo er uns ends So ‘ogteds en ahi in Harsh op ct p 82. "Hemecker op ct, Aorgmaoer 19 por trés, pelo menos para alguns, da criagio do Parti- do dos Trabalhadores no Bras j0 dos comunistas diante das massas Qual a posi proletirias? ‘Os comunistas nio formam um partido & parte, posto aos outros partidos operirios. Nio tém interesses que os separem do proleta- riado em geral Nio proclamam prinefpios sectirios, nos quais pretenderiam modelar 0 movimento operiio. (Os comunistas 56 se distinguem dos outros par~ tidos operirios em dois pontos: 41 Nas diferentes lutas nacionais dos proletarios, fazem ressaltar e prevalecer os interesses comuns do proletariado, os quais sio independentes da nacionalidade. 28Nas diferentes fases da luta entre proletarios e burgueses, representam, sempre € em qualquer parte, 0s interesses do movimento geral. Na pritica, os comunistas constituem, pois, a fra- fo mais resoluta, mais avangada de cada pais, a fragio que arrasta todas as outras; na teoria, tem sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensio nitida das condigdes, da marcha e dos fins gerais do movimento proletirio. CO fim imediato dos comunistas ¢ 0 mesmo que © de todas as fragdes do proletariado: organiza fo dos proletarios em partido de classe, des- truigio da supremacia burguesa, conquista do poder pelo proletariado."* © Kae Maree Fic Ene, Mant Conia Rio aces Hor ove, 1985 9.38, © ovr Inspirados pelas teses acima, os trotskistas tendem, «em todos os pafses em que atuam, a propor a criacio de frentes amplas, que aceitam grande mimero de fragdes, descle que clas queiram organizar os proletérios em par- tido, No interior dessas organizagées, os trotskistas tta~ tam de manter-se como uma facgo, a “mais resoluta, ‘mais avangada”, de acordo com a ligio de Marx. ‘Também por inspiragio direta de Marx, insistem no carter internacional da luta proletiria. Nao por acaso,a Carta de Princlpios,o Manifesto de Langamento © Programa do PT enfatizam que o partido “manifesta sua solidariedade 3 luta de todas as massas oprimidas do mundo” © papel dos trotskistas foi o de servir de veiculo para que chegasse até o ABCD a descoberta tedrica de Marx de que 0 movimento operirio teria um pa~ pel politico central na evolugio do capitalismo, Por tum trajeto diferente, que nio passou pelos escritos marxistas do século 19, 0s novos sindicalistas conclui- ram que era necessirio criar um partido politico para representar 05 trabalhadores. Teoria e pritica por fim coincidiam no Brasil. PARTIDO PARA ELEGER De maio de 1978 em diante,a discussio sobre o partido pipoca na midia. Quando Ihe perguntam sobre 0 as sunto em um programa da televisio naguele més, Lula afirma: “Eu vejo a possibilidade de, num trabalho de preparagio da classe trabalhadora, num futuro bem pr6= ximo, nés, trabalhadores, criarmos um partido saido da base, com a participacio, talvez, nio s6 de trabalhadores, mas com todo mundo que se afinasse com os princi- AOvigoed rT as pios da classe trabalhadora”.!* No entanto,a decisio de colocar a mio na massa viria alguns meses depois. Lala relata que em setembro fez uma viagem a Brasilia, com vistas a obter apoio parlamentar para uma legislagao menos repressiva as greves. No Congresso, fica impressionado pelo fato de que, dentre os mais de ce deputados procurados por ele e pelos colegas que ‘ acompanharam, apenas dois tém origem operitia, “LA, depois de conversar com todos os deputados, voltei sa pensando o seguinte:‘Eu era um babaca, um ” Eu e codos 0s outros. Como 6 que nds que- rlamos que 0s aliados dos nossos patrées fossem fazer as leis que interessassem 4 classe trabalhadora? De 482 deputados s6 tinha dois operirios, que eram 0 Aur lio, do PC do B, e 0 Benedito Marcilio, que era do MDB. Nio tinha mais nenhum companheito ligado ao sindicato; ligado 4 classe trabalhadora.””” Ao voltar Sio Paulo, Lula comega a discutir com Jacé Bittar ¢ Olivio Dutra a idéia de fundar tum partido para que os trabalhadores tivessem alia~ dos em Brasilia. Em dezembro, convoca uma reu- nifo com 12 presidentes de sindicatos ¢ apresenta a proposta de modo formal. Apenas trés dos presences aderem 3 idéia: Jacé Bittar;Jos€ Cicote, do Sindicato dos Metalirgicos de Santo André; e Paulo Skromov. Pouco depois, o grupo recebe 2 adesfio de outros trés sindicalistas: Olivio Dutra; Henos Amorina, pre sidente do Sindicato dos Metaliirgicos de Osasco; ¢ Wagner Benevides, presidente do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais, Esse serd 0 pequeno grupo que levard adiante a proposta do PT. ~ Eee Dicrs Sio Pos ABCD, 198.7, Harecken op op a2 on Com a presenga de Skromov no grupo funda dor, duas iniciativas, a do trotskismo ¢ a do novo sindicalismo, convergem para uma saida nica: 0 Par- ‘ido dos Trabalhadores. No mbito operirio, a tese € aprovada, por iniciativa do Sindicato de Santo André, em janeiro de 1979, em um Congreso Estadual de Metalirgicos, realizado em Lins (SP). Assessorado pela Convergéncia Socialist, que tinha influéncia em San- to André, 0 documento ficou assim redigido: “As aberturas democriticas que estio se delineando nio representam, nem de longe, o fim da exploragio a que os trabalhadores estio submetidos; a0 contririo, os ditadores tentardo utilizar novas formas de acaudilhar os trabalhadores para seus projetos politi- cos. Isto coloca na ordem do dia a articulagio de uma saida para esta situagio, Pazer isso & langar-se na luta pela independéncia politica dos trabalhadores, que se expressa na construgio de seu partido”," Qualquer semelhanga com o Manifesto Consunista nto mera coincidéncia O MOVIMENTO DAS MASSAS O partido esti concebido, mas os acontecimentos de 1979 setdo decisivos para a sua gestagio. Uma se- gunda onda de greves ter como epicentto o ABCD. a partir de margo. Agora a paralisagio dos metaliir- gicos terd caracteristicas distintas das que haviam "Paid ds Tabalador, Re de Ean Cress Si Pal rs Fumdaco Poseu Aba, 1958p. 47 Alm de Conergancia pels menor ds tors grupos tose io ae ao Pha Democrcn Soils «+ Opie (Socal neaconlt (80 : | AoriendorT 33 ocorride no ano anterior. Enquanto o movimento de 1978 fora espontineo e pulverizado, 0 de agora seri plangjado e unificado.” 'A greve foi decretada em uma assembléia no Es tidio deVila Euclides,o principal de Sio Bernardo, com a presenca, segundo os organizadores, de 80 rmil traba- Ihadores, no dia 14 de marco de 1979. Uma semana depois de iniciada a paralisagio, 0 governo intervém nos sindicatos do ABCD e afasta as diretorias. Lula & cassado. Depois de idas ¢ vindas, os empregados voltam, ao trabalho com ganhos parciais. Lula sai do episédio transformado em heréi, No dia 15 de maio,a interven- ‘cio & suspensa,e ele retoma a presidéncia do sindicato. Durante a greve, setores democriticos ¢ de es- querda mobilizaram-se em solidariedade. No Dia do ‘Trabalho, 1° de maio, 150 mil pessoas retnem-se em Vila Euclides, segundo os organizadores. Além de Lula, estava presente ao ato, em que foi rezada a “missa do trabalhador”, 0 escritor Vinicius de Morais (1913-80), ‘um dos maiores nomes da poesia brasileira do século 20. Na ocasido, declama o seu famoso poema “O Operirio em Construgio” (“E foi assim que 0 operi- rio/ Do edificio em construgio/ Que sempre dizia sim/ Comegou a dizer nao”) No ano seguinte, a mobiliza¢io continuard. Depois de uma terceira fornada de greves no ABCD, Lula é preso em abril. A manifestacio de 1 de maio de 1980, com Lula na prisio e Sio Bernardo ocupa da por tropas do Exército, consegue reunir 100 mil pessoas, de acordo com a imprensa, Em dezembro, 0 cantor € compositor Caetano Veloso gravaria uma © crite pontine dv gees de 1978 objeto de plemice Ver pio @ Aepomente do joes Apo Fee em Harncke ope». 182-3, on cancio em que menciona “‘os operirios do ABC” (Nu com a Minha Méisica”). Espalhava-se no pais ‘uma simpatia difuusa pelo que acontecia na chamada “Repiblica de Sio Bernardo”, ‘Nese ambiente, 0 Movimento Pré-PT fortale~ ce-se. No 18 de maio de 1979, a Comissio Nacional Proviséria divulgara uma Carta de Prindpios do parti- do, Nela, rejeita-se a possibilidade de haver uma in- corporagio ao trabalhismo, que estava por ressurgit no bojo da reforma partidiria que acabaria por ser assinada em novembro. © trabalhismo voltaria dividido em duas cor rentes. Uma, conduzida pelas mios de Ivete Vargas, sobrinha-neta do ex-presidente Getiilio Vargas (1883- 1954), ficou com a sigla PTB. A outta, comandada por Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul, formaria o PDT (Partido Democritico Traba- Ihista),jé que The fora negada a legenda do antigo PT. “As tentativas de reviver 0 velho PTB de Vargas, ainda gue, hoje, sejam amunciadas ‘sem erros do passado’ ou ‘de baixo para cima’, nio passam de propostas de arregimentagio dos trabalhadores para defesa de inte- resses de sctores do empresariado nacional”, afirma a Carta de Prindpios do PT Em junho, as greves se estendem para o resto do Brasil, com enorme forca no funcionalismo péblico, em especial entre os professores.A atracio pela auten- ticidade e lideranga do movimento operirio do ABCD, assim como pelo carisma de Lula, levari uma enorme gama de ades6es para a proposta do PT.A mais signi- ficativa ¢ a dos grupos catdlicos progressistas que, du- rante a noite autoritaria, haviam criado uma rede de > Pid dovTabtadons, Resi de Emo Can p54, 1 Avge doer a5 pequenas organizagdes populares dispersas pelo Bra~ sil, a. comegar das Comunidades Eclesiais de Base (CEBS, que, curiosamente, haviam tido uma origem conservadora antes de 1964.7 A incorporacio dos cristaos foi decisiva porque deu capilaridade 20 partido. Onde menos se espe- rava, nos rincdes mais afastados, aparecia, como do) nada, um néicleo pr6-PT, Eram militantes anénimos da Igreja. Além deles, algumas figuras de expressio no meio religioso, como 0 dominicano Frei Beto, 0 ex-deputado Plinio de Arruda Sampaio ¢ a ex-freita Irma Passoni, aderiram & proposta do PT. Posto como opgio para romper com antigos vi ios da politica brasileira, o PT atraiu também, no de- correr de 1979, setores variados e heterogéncos da sociedade. Entre os professores universitirios que se aproximaram do PT, havia um que, naquele momento, transitava da academia para o Congresso: 0 entio st- pplente de senador pelo MDB de Sio Paulo, Fernando Henrique Cardoso, eleito em 1978, com 0 apoio de Lal no ABCD. FHC fazia parte de uma articulagio que envolvia, entre outros, politicos como 0 deputado estadual do MDB paulista Eduardo Suplicy ¢ 0 ex-mi- nistro do‘Trabalho Almino Affonso. Havia nela também, intelectuais como Francisco Weffort, José Alvaro Moisés ¢ Paul Singer. As discussdes tinham em vista format um, partido amplo, de orientacio socialista democritica, Houve dois encontros, em 1979, entre essa arti- culagio ¢ 0 Movimento Pré-PT. Deles resultou que ‘uma parcela dos" socialistas democriticos” acabou ade: Nera pio depimente de Fi De en Hao, pit Yer tn sobre imporincis dos hes, origins op. p12 Sot Mawar Tee Case Pia wo Bil, 19161985 So Paar Brae 1989. 26 opr rindo ao PT’e a outra permaneceu no MDB, como fi o caso de Fernando Henrique, Com a adesio dos socialistas,o PT ganhou um pequeno grupo de parla mentares, entre eles Eduardo Suplicy, que mais tarde seria 0 primeiro senador do partido ¢ cuja mulher, Marta, tornar-se-ia prefeita de Sio Paulo pelo PT, no entio distante ano de 2001. Além de adesdes individuais, o PT receberia 0 ingresso de uma porcdo de grupos clandestinos de orientacio leninista, alguns deles remanescentes da experiéncia da luta armada, De 1979 a 1981, a Acio Popular (AP), 0 Movimento de Emancipagio do Pro letariado (MEP), © que havia restado da Agio Libertadora Nacional (ALN), 0 Partido Comunista Brasileiro Revolucionario (PCBR) e 0 Partido Re. volucionario Comunista (PRC), apenas para citar os mais conhecidos, decidem ingressar no PT Com. Pouca expressio numérica, recém-saidos da violenta repressio que dizimou a esquerda no Brasil,sio entre tanto constituidos por quadros experientes e ativos, Tais organizagdes terminaram por ter fuungio relevan. te na vertebragio do partido e ocupar lugares de des faque no aparato administrativo dele, Uma das verses sobre a adocio da estrela vermelha ~ que no Rio Grande do Sul ¢ no Parani & amarela ~ como sit bolo do PT dé conta de que teria sido uma sugestio do jornalista Jilio de Grammont, tm dos membros da Ala Vermeiha que atuava na regiio do ABCD. Mas a hegemonia do novo partido, fundado off- cialmente em fevereito de 1980, ficaria em um pri- meio momento com os sindicalistas. Na primeita comissio proviséria, de 16 membros, 12 eram sindica- Mer rede op ct Avigmdo Tay stas.A ditecdo executiva provisoria teré Lula na pre- pene een eens presidente e Jacé Bittar como secretitio-geral e de organizacio. Dutra ¢ Bittar continuardo em cargos-chave até 1988, Lula ermanecer’ na presidéncia do partido até 1995. Perm cientista politico Leéncio Martins Rode: gues observa, entretanto, que no final da década de 80 hi tum outto cenitio. Dos 20 membros (14 efetivos e seis soplenes) que sumem a Comisio Executive, Nox cional do PT em 1988, apenas dez tm origem sindi- cal e, destes, 56 quatro vem do sindicalisino operirio. Leéncio conclui que o partido, pela predominancia de profesores e profissionasliberas, deve ser catncte- rizado, entio, como de “classe média assalariada’ Para ele, da composigio original restaria o carisma de Lula ¢ a presenca dos metaliirgicos para contraba- Jangar a ascensio dos outros segmentos no interior da Jegenda, “Sem os metalirgicos e a lideranga carismitica de Lula, o PT provavelmente nio seria mais do que uum dos mikiplos pequenos grupos marxisas exten tes no pats ou um partido catélico, democrata-ctistio, ou talvez mais provavelmente social-cristio”, afirma on diminuigio do peso relativo dos sindicalistas na estrutura partidéria é perceptivel. Entre as persona- lidades de maior destaque do partido no final dos anos 90, havia a mescla tipica do PT, porém mais equilibra~ da que a inicial. Ao lado de Lula, principal lideranga de oposigio no pais, 0 ex-bancario Olivio Dutra tor- nou-se governador do Rio Grande do Sul, 0 tam- bem ex-bancério Zeca do PT, governador do Mato a8 oFr Grosso do Sul. A ex-favelada Benedita da Silva trans- formou-se em vice-governadora do Rio. Em com- pensacio, o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, advogado. O deputado federal Aloizio Mercadante (SP), uma das estrelas ascendentes no partido, é economista A prefeita de Sio Paulo, Marta Suplicy, é psicanalista, | 2. DA REVOLUGAO SOCIALISTA A © 0 seu marido, Eduardo, senador e pré-candidato 3 REVOLUGAO Presidéncia da Repiiblica, economist também, assim | ; como outo pose precandiduern ceeeenaie DEMOCRATICA de Brasilia, Cristovam Buarque. Dois dos mais desta cados representantes, respectivamente, da ala direita e da ala esquerda do partido so historiadores: 0 depu tado federal José Genoino (SP) e 0 jovem Valter Po- ‘ar, (exceito-vice-presidente nacional. O presidente do partido, José Dirceu, é advogado, ermo “tevolugio” pode ser compreend do de pelo menos duas maneiras. No Di- cionério de Politica, aparece como “tentativa, acompanhada do uso da violéncia, de der~ rubar as autoridades politicas existentes e de as substi- tui, fim de efetuar profiandas mudangas nas relages politicas, no ordenamento juridico-constitucional ena esfera socioecondmica”.® Ji no Diciondrio do Pensa- ‘mento Social do Século XX, junto com a variante acima, registra-se outro significado da expressio: “Revolu- 30" usa-se, por vezes, para descrever qualquer mudan- ¢2 fndamental, quer seja ou nio violenta ou sibita, Nesse sentido, falamos de ‘Revolugio Industrial” ou de ‘revolucio cientifica’”2* » Norberto Bobbio, Nicola Mate Bea: Un, 1995 > Wille OutvareTom Baromon East Gabe Rho Nabe Ai ous, Deis dv Peonen Si Sle XX Rio de rei: ge Zar Eo 356 © Gianance Pin, Dini de Pai, a Revol Saciwe Rely Demin 3 Poder-se-ia dizer que as duas acepgdes represen: tam pélos opostos do sentido de uma mesma palavra Em um,a tonica esti na tomada do poder. No outro, na visio de uma mudanga fundamental, sem referéncia necessiria a0 poder politico. Embora o PT jamais te- nha defendido 0 uso da violéncia e, portanto, nunca se tenha enquadrado por completo na primeira acepsio, assim como segue interessado em exercer 0 poder ¢ por isso nao se ajusta perfeitamente 4 segunda, pode-se dizer que transitou da proximidade de uma para a vizi- nhanga da outra, Isto é, evoluiu da énfase na ocupacio do Estado pelo proletariado para a proposta de uma profunda transformacio social, que é denominada, nos documentos internos, de “Revolugio Democritica”” ‘A transicio de um a outro modo de pensamento, ‘ocorreu na passagem da década de 80 para a década de 90 ¢ talvez nao tenha ainda se completado, uma vvez que cerca de um tergo do partido esti compro metido com o ponto de vista anterior. Para que no ocorresse ruptura entre as facgdes internas, a modifi- cagio deu-se de modo sutil, sem a revisio aberta dos pontos de vista antigos. © contetido transformou-se sob 0 manto da palavra “revoluc0”. ‘A porta para a mudanga foi aberta pelo 1° Con gresso Nacional, realizado em dezembro de 1991,em Sio Bernardo do Campo. Ali, no bergo do PT, de mhou-se uma recomposigio das correntes que, desde © inicio, dispuravam © controle do partido, A GUERRA DAS FACCOES As divengéncias entre a ala esquerda e a direita do PT estiveram presentes jé no marco zero. Ao descrever © B OPT encontro do Colégio Sion,o jornalista Perseu Abramo observou: “O final da manhi e quase toda a parte da tarde foram ocupados com discusses acirradas a res- peito do Manifesto de Langamento, Foi no processo des- sas discusses que se comegaram a delinear com maior nitidez as ceses defendidas por militantes originérios de algumas organizagdes politicas ¢ as endossadas pe~ los principais lideres sindicais e parlamentos [sic] do PT, Foram feitas acusagdes reciprocas de ‘obreirismo’ ¢ de ‘linguajar pseudo-radical’, de ‘legalismo’ e ‘parla- mentarismo"”.” Depois do fiacasso do PT na elei¢io de 1982 (ver 0 proximo capitulo), cresceu a pressio antiinsti~ tucional da ala esquerda, na qual se abrigavam alguns dos partidos de extrema esquerda que ingressaram no PT. (Mais tarde, a maioria desses pequenos partidos optou por diluit-se no PT e formar, em alguns casos, facgdes internas.) Em resposta, os moderados, dentte 6s quais estavam Lula e 0s sindicalistas, criaram em 1983 a Articulacdo, uma maneira de organizar os in- dependentes, que “tinham uma s6 camisa”. Até 0 58 Encontro Nacional, em 1987,a Articulacio enfrentou © bloco de esquerda unido e, mesmo assim, obteve 0 apoio de perto de dois tercos dos delegados. A partir de entio, a ala esquerda se fragmenta, e dois agrupamentos, um comandado pelo deputa~ do federal José Genoino 0 outro pelo deputado Eduardo Jorge, ambos de Si0 Paulo, comegam a apresentat propostas em separado. Na ala esquerda original, permaneceram, entre virios outros, dois grupos trotskistas que li estio quase desde o come: 0,a Democracia Socialista, do ex-prefeito de Por- brane. op ct, 184 De Revo Scion Revue Dencoa 33 to Alegre Raul Pont, ¢ a corrente © Trabalho, anti- ga Organizacio Socialista Internacionalista — OS (comhecida por “Libelu”, de “Liberdade e Luta”, no movimento estudantil dos anos 70). Em 1989, 0 PRC, do qual fiziam parte Genoino € 0 gaticho Tarso Genro, decide dissolver-se, ¢ em poucos meses, sob o impacto da participac3o nos go vyernos municipais ¢ da queda do Muro de Berlim, 0s grupos de Genoino e Jorge se fundem e criam a Democracia Radical, facgio que passa a ocupar o espago da direita no PT e obtém de 10% a 15% dos yotos nos encontros partidérios. Com isso, a Articu- lacio viu-se, pela primeira vez, no centro do partido. Pressionada pelas correntes de esquerda e de direita no 1® Congreso, a Articula¢io pende ora para um lado, ora para 0 outro. Daf ter resultado um docu- mento hibrido, mas que incorpora pontos impor- tantes da revisio proposta pela dircita, entre eles a rejeigio 3 ditadura do proletariado. Em 1993, a Articulacio soffe uma divisio, e, com a adesio 4 esquerda de dirigentes como 0 de- putado Rui Falcio, que antes estavam no centro, ela ganha pela primeira vez o controle do partido. Em 1995, entretanto, a Articulagio fecha uma alianga com a Democracia Radical e recompée aqui Jo que é chamado dentro do partido de “campo majoritario”,logrando retomar, por margem peque- na, 0 controle do PT, No 2® Congreso Nacional, em 1999, surge um novo centro, comandado pelo deputado Arlindo Chinaglia (que detém perto de 10% dos delegados), entre 0 “campo majoritirio” e © “minoritério”. Aliado ao campo majoritirio, 0 centro amplia o seu espaco € deixa outra ver isola~ dos os 30% que votam com a esquerda, como ocor- ria em meados de 1987 —E_ Mor DITADURA DO PROLETARIADO? Nunca houve no PT uma defesa explicita da ditadura do proletariado, mas dizia-se que os trabalhadores de~ veriam tornar-se classe dominante no Estado ¢ colocar © poder politico a seu servico."*Para extinguir o capita- lismo e iniciar a construc3o da sociedade socialista, & necessirio, em primeiro lugar, realizar uma mudanca politica radical; os trabalhadores precisam transform se em classe hegeménica e dominante no poder de Es~ tado, acabando com o dominio politico exercido pela burguesia, Nao ha qualquer exemplo histérico de uma classe que tenha transformado a sociedade sem colocar © poder politico — Estado — a seu servico”, afirmava, por exemplo, 0 5® Encontro Nacional.”* Nao obstante nao aparecer a palavra “ditadura”, a formulagio do 5* Encontro pouco adequada 3 es séncia da democracia representativa. A realizagio de eleigdes livres e periédicas, que caracteriza o funcio- namento da democracia, determina que o perdedor de hoje pode ser o ganhador de amanha, Com isso, torna-se dificil acabar com o dominio politico de quem quer que seja € substitui-lo por outro, 20 menos 2 longo prazo. O maximo que um partido pode almejar é vencer um pleito, ou uma série restrita deles, até que © adversirio o suplante, jé que a alternincia no poder € condigio para a existéncia da democracia A concep¢io de hegemonia na tradigio mar~ xista mantém uma relagZo tensa com a democracia, uma vez que ela supée, tanto na variante leninista quanto na gramsciana, que o Estado é 0 instrumento > Pusido dor Tibhar, Rees Cages 32 ela soils Rede Demat 35 permanente de uma classe e que a transformacao re- volucionsria desejada implica a mudanga da classe que o domina, Em tal concepcio, nao faz sentido a alterndncia tipica das democracias ditas burguesas, em {que 0s partidos disputam 0 governo. Bla é encarada como uma formalidade, na qual 0 verdadeiro poder nfo estaria em jogo. As vésperas da eleicio de 1989, em que o PT quase empalmard a Presidéncia da Repiiblica, o par- sido afirma ter“consciéncia de que governo e poder nio se confundem e de que, por isso, a vitoria de Lala nio pode ser vista como conquista plena do proprio poder politico”. As eleigdes livres sio, a0 mesmo tempo, defendi- das desde a fundagao do PT. Além de constar do pro- grama formulado em 1980, no ano da campanha das Diretas-Ja (1984), 0 4° Encontro conclui:"Queremos cleigdes livres e diretas por entendermos que s6 20 ovo cabe escolher aqueles que devem governi-lo.Nio cremos que eleigdes livres ¢ diretas sejam atributos exclusivos do regime liberal burgués”.”” Porém, uma vez conquistado o poder, por que a classe trabalhadora deveria manter as cleigdes livres? Nos anos 80, tl tipo de discurso duplo era freqtiente nas resolugdes petistas. Havia, lado a lado, conclusdes pouco congruentes.” Uma solucio possivel para 0 problema é a insinuada no 5# Encontro: democracia continuaria a existir no socialismo, mas nela sé6 teriam guarida os partidos que no fossem “inimigos” dos idem pS 2 era mspeto lors Buena de Aer, Lexi Sui Dara —ea De ass Sse» ioc do Pri ds Tables sero de Mota. S86 Paul: Depureamento de Clan Poi da Unie de So Pal, 1991 —_—— trabalhadores.“O PT rejeita a concepgio burocritica do socialismo, a visio do partido tinico, por conside- rar incorreta a idéia de que cada classe social € repre sentada por um tnico partido, de que outros partidos existentes na sociedade que emergir de uma revolu- io serdo necessariamente partidos que representario interesses de classes diferentes dos da classe trabalha- dora”, diz o documento aprovado na reuniio.® DUAS LIBERDADES, DUAS DEMOCRACIAS ‘Tornar compativeis socialismo e liberdade era uma meta do partido desde o infcio.A\ critica do PT a falta de liberdade partidaria, sindical e religiosa nos paises socialistas do Leste Europeu entusiasmava os sindica~ listas, 08 trotskistas © os intelectuais que participaram da criagio do partido. O apoio do PT ao Solidarieda- de polonés, que foi um dos arietes da queda do gover~ no comunista naquele pais, € sempre citado nos documentos oficiais como “prova” da oposicio do PT. 0 modelo soviético bem antes da queda do Muro de Berlim em 1989. J& com respeito a Cuba, 0 partido sempre evitou, nos encontros e congressos nacionais, uma condenagio explicita do regime revolucionirio. A defesa das chamadas liberdades civis no socia- lismo soviético coincidia com a conjuntura de luta pela democracia no Brasil, da qual o PT participou com vigor. Somados os dois estimulos, 0 partido € enfitico na defesa da liberdade de expressio, da Paros dos Tablas, op. Du Rela Surin Rewle Democis 37 liberdade de associacio (sobretudo sindical e partidé ria) e da iberdade de credo. J& no Manifesto de Langamen- to se enfatiza a luta por “liberdades civis” (visivelmente sob influéncia das mobilizagdes sociais recentes) por"sin- dicatos independentes {tanto} do Estado como dos proprios partidos politicos” Seis anos mais tarde, reafirma-se que apoiar a democracia significa “ser favoravel & liberdade de as sociagio e organizagio, 4 livre expressio de idéias, 4 liberdade de culto, ao direito social 4 comunicagio berdade politica, partidéria e sindical”. © proble- ‘ma é saber se essas liberdades valem pata todos ou sé para 0s que nfo tém “interesses de classes diferentes dos da classe trabalhadora”, ‘A mesma ambigiiidade é detectada por Clovis ‘Azevedo nas posigdes do partido a respeito da de mocracia. Entre 1987 ¢ 1989, os documentos do PT. apresentam passagens que contrapdem uma demo- cracia formal e truncada, que seria propria do capi- talismo,a uma democracia real ou efetiva, propria do socialismo. © autor pergunta:“Afinal, o que é a de~ mocracia, para o PT? Uma forma de governo em que o poder pertence ao povo? Ou trata-se de um. governo qualquer, que tanto pode ser do povo quanto da burguesia? Na primeira hipdtese, desde que se julgue apropriado © governo da maioria, é decor réncia valorar-se positivamente a democracia. Na segunda, nio hi democracia propriamente dita, ape- znas democracia com tais ou quais adjetivos.A demo- cracia sera positiva ou negativa a depender de sua qualificagio. © Partido dos Trabalhadores oscila entre uma e outra forma de tratamento da democracia”. 8 orr Em resumo, até 1990 0 PT pode ser lido o} como um partido demoeritica, comprometile cogs manutencio de ampla liberdade para a disputa dos postos de diregio do Estado por meio de eleigdes, ora como um partido em que a luta eleitoral seria s6 uma fase da conquista da hegemonia, apés a qual apenas ox Partidos que nao se opusessem i classe trabalhadora subsistiriam, A REVOLUGAO DEMOCRATICA No 1* Congresso, algumas dessas ambigidades « enffentadas,Aprova-se uma resolugio segundo a qual © PT luta “por uma sociedade efstivamente plara [...] motivo [...] para rechagarmos a chamada ‘plu. nalidade para os partidos operirios’,ou sea, para quem pensa como nés’, que, historicamente, 6. pode levar 2 formas de ditadura™ * cee __Saido congreso, também, uma posigio clara quan to’ alternincia no poder:“A. democracia socials que ambicionamos construir estabelece a legtimagao mac Joritiria do poder politico, o respeito is minorias ¢ 2 possibilidade de alternincia no poder".® A pregagio revolucioniria continua, porém, ais voltada para a sociedade do que pata o Estado “Reafirmamos [...] que as transformagées politica econémicas ¢ culeurais que o Brasil precisa supaein tuma revolujdo social", resolve 0 congresso.™ No en. +P desea op. cp 50 * Idem, ibider. : “Idem 508 Gre | ae aes a Revie 38 tanto, nfo por acaso, o exemplo de revolugio menci- conado em 1991 é 0 da chamada “revolugio de velu- do”, entio recente nos paises do Leste Europeu, nos guais se implantou, com a mobilizagio pacifica da populagi0, a democracia politica ¢ a liberdade de mercado na regio antes controlada pela URSS. Por contraste, até o final da década de 80 0 exemplo re. volucionario mais citado no PT era o da Nicarégua, conde em 1979 uma organiza¢io militarizada,a Frente Sandinista de Libertacdo Nacional (FSLN), derru- ou pela forca a ditadura dos Somoza (que ja durava mais de 40 anos) e procurou implantat o socialismo até perder as cleicdes em 1990, E nese contexto que surge a expressio “revolu~ gio democritica”. Ao adjetivar de democritica a transformacio pretendida, 0 PT faz questio de frisar ‘0s compromissos assumidos com a democracia. Ao manter © termo “revolugio”, faz uma ponte com o proprio passado. A“Revolucio Democritica” tem, por assim di- zer, duas etapas. Na primeira, haveria reformas profian— das, com um programa de redistribuigio de renda, ampliagio do mercado interno e eliminagio da misé- ia, Em 1993, supunha-se que essas medidas seriam implementadas por um governo democritico-popular € que, 20 reali2é-Ias, ele seria capaz de “isolar as elites € reduzir seu poder de manobra”. Com isso, abrir-se-ia 0 caminho para‘'a construcio de uma sociedade radical- ‘mente diferente da nossi”” ~ leia-se:socialista. Em 1999, essa passagem jf no é tio clara:“o socialismo nio ‘uma inevitabilidade”, declara 0 22 Congreso. paid ds Tabaladoes Ronis do 2 Cogs Nona 93 4 or O SOCIALISMO PETISTA Perto ou distante, 0 PT defende 0 socialismo demo- eritico, que foi referendado como meta pelo 2° Con- gresso, Mas 0 que é “socialismo democritico”? Desde a fandacio, os documentos remetem o problema de definir © socialismo petista para “todo 0 povo" e para as lutas “do dia-a-dia".” Ou seja, caberia és maiorias escolherem, mais tarde, o modelo aser implantado. Ao partido cumpritia abrir espago para que a populagio tivesse condigdes de decidir o proprio destino. Du- zante um perfodo, mais importante do que os objeti- vos do partido seria que ele existisse ¢ fosse “dos trabalhadores”, Em certa medida, a existéncia do PT foi, até certo ponto, o seu proprio programa, Tal postura, que pode parecer apenas uma forma de elidir problemas ¢ evitar desgastes internos e exter- nos, tem raizes na concepcio que presidiu a formagio do partido. Um partido de classe, como o que foi pen- sado a partir do ABCD entre 1978 ¢ 1979, nio deve afastar-se em demasia do conjunto dos trabalhadores, sob o risco de tornar-se uma vanguarda descolada da base. Vale lembrar, também, que 0 PT foi criado co- mo antidoto ao vanguardismo de parte da exquerda no periodo anterior (1968-78) A elaboragio te6rica, portanto, precisaria estar proxima da experiéncia da classe, Dai a insisténcia em. que a sociedade do futuro “nao nasceri de decretos, nem nossos, nem de ninguém”, como decidiut o 2° Encontro, ou em que “a Revolucio Democritica é tum Iongo processo, Ela nfo seri resultado de teorias "Paid des Thbuhndors, Roly de Eco ¢ Coss. 16, De Revo Scion Ran Dari 42 pré-elaboradas, nem de vanguardas autoproclamadas”, como aprovou 0 2# Congresso, 17 anos depois." No entanto, o cardter relativamente aberto da plataforma petista serve igualmente 20 propésito de contornar a presenga, no interior do PT, dos grupos com tendéncias distintas e conflitantes. Optar por uma delas implicaria romper com a outta ¢ arriscar-se a uma cisio. © 18 Congresso arriscou algumas definigées. De acordo com 0 que foi resolvido ali, o socialismo petista consiste, no plano econdmico, em uma combinacio de planejamento estatal com um “mercado orientado socialmente”, cujo resultado seria negar a“prepond rincia ¢ a centralidade do capital na dinimica das re- lagdes sociais”, Afirma-se que o mercado 6 compativel ‘com a concepgao petista de socialismo, mas admite-se que poderd, no futuro, haver a superacio definitiva das “relagdes mercantis de produgio”.*' Na politica, idéia é criar mecanismos de parti- cipagio popular direta, que funcionariam junto com as instituigdes representativas.“Lima democracia que articule formas representativas e diretas”, defende 0 documento. No entanto, de modo anélogo a0 que ocorre na economia, admite-se que no futuro possa haver a substituigao da primeira pelas segundas."E um objetivo a ser perseguido” a “superacio de institui- ges que permitem um importante nivel de autono- mia dos governantes perante 0 povo, como é 0 caso dos mecanismos classicos da democracia representati~ va liberal”, Essa superacio “busca abolir a distingio entre governantes € governados ¢ encaminhar a “Pid dos Taluladons Rated 2 Caypes Natl “Pid dsTiballedre, Rel de Baan «Cogs 501-2 @ oFr extingio das desigualdades de classe e do Estado en- quanto aparelho de dominagio”.® A patticipacdo popular, ao ver do PT, “valoriza a democracia representativa”. Essa participagio deve ocorrer por meio de conselhos gestores de empresas ¢ servigos pablicos, de plebiscitos, referendos e consul- tas, dos conselhos populares organizados nas fibricas, nos bairros ¢ no campo e do orgamento participative, 4 experiéncia de participagio direta mais conhecida dentre as praticadas pelas administragdes petistas. A patticipagio é também, em certa medida, a chave do aspecto econdmico do socialismo democri- fico. Ao submeter as decisdes econdmicas a0s meca- rnismos de participacio direta,estar-se-ia realizando 0 rojeto de dar uma orientagio social ao mercado. Tal participacio teria que ser complementada, 4 menos durante certo periodo, pelo Estado, que deveria exercer “uma acio reguladora sobre a econo- ‘mia, através de suas proprias empresas e de mecanis- mos de controle do sistema financeito, de politicas tribucirias, de pregos, de crédito, de uma legislagio antimonopolista ¢ de protegia aos consumidores, aos assalariados ¢ aos pequenos proprietirios”.** A estatizagio dos meios de produsio, contudo, rho € uma peca tipica do socialismo petista. No que diz respeito 4 propriedade, a posicio do PT é privile- giar a propriedade social, porém sem eliminar, por decteto,a propriedade privada. © PT afirma que deseja combinar “diversas formas de propriedade (estatal, coletiva, social, pi- blica, particular, mistas)”, privilegiar “as formas de emp. 516¢501 Partido do Tabaadoes, Rel de Eman Canosa 512 rr utes suited Rei Denetica 43 propriedade de cariter social’ ¢ estabelecer “limites 3 propriedade individual”. De que maneira as di- vversas formas de propriedade iro combinat-se de- penderi de um “longo, demorado e conflituoso proceso, do qual, no momento, s6 podemos vis- Jumbrar as formas mais gerais”.* O PROGRAMA DO PT Com as derrotas de Lula em 1994 € 1998, sentidas pelo partido como duros golpes, sobretudo a primei- ra, as atengdes do PT voltaram-se, contudo, para as tarefas imediatas de governo, ou seja, para a primeira fase da Revolugio Democritica. © socialisto nao voltow a ser discutido depois de 1991, ¢, na pritica, a partir de 1995 a Revolugio Democritica virou o nome do programa de reformas que o PT quer para o Brasil, ainda que o socialismo se mantenha “como uma pos sibilidade hist6rica aberta para a humanidade na era do capitalismo” como decidiu o congresso de 1999. Na diltima versio do programa da Revolugio Democritica, aprovado no 28 Congtesso, a econo- mia capitalista, como no poderia deixar de ser na eta FHC, toma o centro do palco. Boa parte das re~ solugdes objetiva detalhar a proposta de uma “nova politica econémica” a ser adotada pelo partido caso chegue ao poder. dom p 30 “nm dsc fo mad po PT carn um ede debts ora oa rma eee de 200 pl Fano eres Arae anti cide ele Pina Nacional on 1985 pr fnconsr cro erie Je eos dete do Frid) ploDictio Noo edo tats Cid digi po La 4 OFT No fandamental, trata-se de um conjunto de medidas destinadas a criar “um amplo mercado inter- no de bens de consumo de massas” e promover um “gigantesco programa de educagio”. Para tanto, pre~ vé-se 0 financiamento do Estado, “para que este possa impulsionar politicas sociais consistentes” e uma redistribuigao “radical” da riqueza,com uma “politica de rendas” que aumente a participagio dos salarios na renda nacional. Os meios utilizados para atingir essas metas im- plicam uma reversio do que foi implementado em matéria econmica nos anos 90, excettiado, talvez, 0 mandato-tampio de Itamar Franco. Para comegar, 0 PT quer que o Brasil denuncie“o acordo vigente com © FMI” proceda a uma “renegociacio soberana, ime diata e abrangente da divida externa”. O partido, no entanto, no sugete uma suspensio do pagamento, que, se ocorter, seri em virtude da Yintransigencia dos cre ores” e do “contexto da crise cambial” Quanto i divida interna, o congresso foi lacénico. ‘Afirma que ela “tera igualmente que ser negociada, com o alongamento do seu perfil”. Ressalva, porém, que isso s6 poderi ser feito depois de verificada a situ ago do sistema financeiro nacional. Outro aspecto a ser revisto é o das privatizagdes © Programa Nacional de Privatizages seria suspenso, € as jf realizadas sofieriam anditorias. A atitude com respeito As empresas privatizadas dependeria do resul- tado das investigacdes sobre o processo de privatizacio. Além de alterar 0 curso da negociagio das divi- ase da politica de privatizagdes,o PT promete refor- Pui dos Tibalhadons Rolie fo 2 Conese Navi. Tia demas cigs 0 fin do cpt, vem deo ome Fr DeRosa Rede Demsrtica 45 mar de modo “radical” o sistema financeiro, de modo a orienté-lo “mais decisivamente para o fomento da produgio”, ¢ rever a estrutura fundiria do pais. Para © partido, a reforma agréria “pode ser um componen- te fundamental de um projeto de desenvolvimento sustentado, descentralizado ¢ harménico”. Tais medidas, e ainda o fim da guerra fiscal, com 0 estabelecimento de uma politica industrial planejada, deveriam gerar os recursos necessirios para promover uma politica de rendas “que aumente substancialmente © salirio minimo” e permita implementar projetos so- ciais como a Renda de Cidadania, por meio da qual seria garantido a todos os brasileitos 0 atendimento de suas “necessidades vitais”. As reformas politicas propostas pelo 2° Congresso sio todas aperfeicoamentos da democracia representa tiva,como a revisio da proporcionalidade na Cémara,o financiamento piblico das campanhas ¢ o estabeleci- mento de mecanismos de fidelidade partidéria. Na parte reservada 3 participagio direta, ressalva-se que“a defesa do Estado de Direito ~ que teivindicamos firmemente — nio pode ser, no entanto, pretexto para engessar a democracia e paralisar novas conquistas soci ais". Em seguida, defende-se a extensio do orgamento participative para a esfera federal (obre 0 orgamento participative, ver o capitulo 4) e a“ participagdo de traba- Thadores, usuarios e representantes da sociedade” nas“po- Titcas piblicas” nas “empresas piblicas” e nas"atividades privadas essenciais & populacio”, de modo a combinar democracia representativa com democracia direta, ‘Ainda com relagio 3 participacao direta, © pro- grama destaca que nas empresas (puiblicas privadas) “deve multiplicar-se formas de gestio e controle dos trabalhadores sobre a producio”,além de haver fomen- to 3s cooperativas ¢ aos empreendimentos autogeridos. Das propostas que podem causar contlitos mais dros, destaca-se democratizar os meios de comuni- cacio, com “a revisio das concess6es jé em mios dos empresirios, e, ainda, possibilitar de fato 0 controle iiblico”. Tal programa continua a ser entendido como revoluciondrio porque se supde que teria um efeito “profundamente desestabilizador sobre o capitalismo realmente existente no Brasil” No péigna ao ldo, Lula durante @ campanha presidencal (1989) 3. ELEICOES: A LONGA JORNADA PARA O INTERIOR cientista politico Adam Przeworski mos- tra, em Capitalismo ¢ Social-Democracia, que 8 partidos operirios surgidos na Alema- nha, na Franca e nos paises nérdicos du- rante o século 19 por muito tempo consideraram a participagio eleitoral como mera propaganda do so cialismo, Havia neles o temor de que valorizar os pos ts reptesentativos levase 4 perda do “ideal da revol social” e de que a busca de reformas absorvesse © interesse dos trabalhadores”.*” © PT nunca hesitou em disputar eleigdes. Ao con- ‘wirio, como ja foi visto aqui, quando Lula se engaja na ctiagio de um pattido, em 1978, 0 vé como instrumento para enviar trabalhadores ao Congressoem Brasilia. A de~ cisio de participar dis insttuigdes veio antes da ideologia. Adan Peewoo Captions ¢ Swi Drsi Sho Pu: Carpi ds Le 199,21 A tongs rsa Pro iwaier 49 Nio foi, contudo, uma decisio isenta de ten- sbes. Os grupos de esquerda presentes na criagio do partido sempre procuraram contrabalancar a énfase pragmatica na busca do sufrégio com a insisténcia no papel dos movimentos sociais. Esse ponto de vis~ ta tinha a vantagem de cair bem nos niicleos de ori- eniagio catélica, entre os quais tende a haver cerca desconfianca doutrinaria da representagio."* Da re~ lativa popularidade dessas restrigdes a0 voto no inte rior do PT resultou um descompasso entre a pritica do partido ~ fortemente voltada para as urnas — e © discurso interno ~ que refletia as diividas sobre o peso a ser conferido 20 suftigio. © Manifesto de Langamento contém um trecho ilustrativo a respeito:"O PT afirma o seu compromis~ so com a democracia plena e exercida diretamente plas massas. Neste sentido proclama que sua partici- pacio em eleigdes e suas atividades parlamentares se subordinario ao objetivo de organizar as massas ex ploradas e suas lutas”.”” Devido ao empenho em participar e vencer as eleigdes, logo no primeiro pleito, ocorrido em 1982, © PT conseguiu apresentar-se em 23 das 25 unida- des da Federacdo, a0 passo que, dos outros dois no~ vos partidos, 0 PDT restringiu-se a 13 ¢ 0 PTB a dez unidades.®” Mas, abertas as urnas, os resultados do PT foram ruins. No plano federal, nenhum se- nador e apenas oito das 479 vagas de deputado fe- deral eram do PT. ra epi So Manwaring ens Ca aie mB, 19461985 So "arid dor Palade Roun de Be Caps 268 © Ropisio Sehni,Patie Pline wBra (1945-200) dene: ore aba Er, 200, p34, eo yo orn Estudos realizados nas democracias ocidentais re- vvelam que a construcio de bases eleitorais é um trabalho lento, porque implica estabelecer relagdes de confianga entre o partido € 0 eleitor. Uma vez forjados tais vincu- Jos, eles adquirem permanéncia e se dissolvem somente guando 0 partido ow o seu eleitorado mudam de postu 1,0 que ocorre em ciclos de longa duracio, © PTyem 1982, era um agrupamento desconheci- do para a esmagadora maioria dos votantes. Com quase nenhum actimulo prévio, exceto a adesio de pouquissi- mos politicos profissionais e a heranga de alguns frag- -mientos da descontinua insergio eleitoral do PCB,o PT setia obtigado a constr vinculos com 0 eleitorado, Abhist6ria do PT nos primeios 20 anos de existéncia éa historia do enraizamento do partido no solo eleitoral. ‘A viagem inicia-se nas grandes cidades, mais ¢s- pecificamente em Sio Paulo, onde Lula obtém 14% dos votos jé em 1982, quando na média do pais o par- tido nio alcancaria 5%, Das metrépoles, 0 PT cami- hari para o interior, o que do ponto de vista sociol6gico € ébvio: quanto menos urbanizado © ambiente, mais reffatirio a novidades. O trajeto do partido teri dois cixos, de Sio Paulo para o resto do Brasil e das regides metropolitanas para as pequenas cidades do interior. COMECO DURO Em 1982, o pessimismo tomou conta dos petistas. Ne~ hum dos 22 governadores eleitos era do partido, en- quanto 0 PDT elegeu Leonel Brizola para 0 governo do Rio de Janeiro, além de um senador. Na Camara dos Deputados, o PT ficou com 1,7% das cadeizas, a0 asso que o PDT obteve 4,8% ¢ o PTB, 2,7%.A safia | | ; Alongrjonade emo beer 31 de 12 deputados estaduais petistas também foi pequena diante dos 947 lugares a serem preenchidos. S6 duas prefeituras foram conquistadas: Diadema, no ABCD, & Santa Quitéria, no Maranhio (mas nesta o prefeito dei- xaria o PT pouco depois de eleito);e 117 candidatos a vvereador do partido conseguiram mandato nas 3.941 cidades em que houve eleigo naquele ano. Para uma legenda que reunia as maiores lide- rangas sindicais, boa parte dos grupos catélicos orga- nizados e significativa parcela da esquerda brasileira, a experiéncia foi considerada desastrosa."“Os resulta dos das eleicdes constituiram um choque e uma de-~ cep¢io profunda para o PT. O partido no conseguia atingir seu objetivo de conquistar 5% dos votos em nivel nacional e 3% em nove estados, conforme exi- gido por lei”, escreve a cientista politica Margaret Keck." Como lembra Rogério Schmitt, se a lei fos se cumprida,o PT teria o registro cassado. Pata sorte da nascente agremiacio, uma emenda constitucional determinou que a clusula de barreira nao seria apli- cada a0 pleito de 1982." ‘Como o melhor desempenho foi o de Lula, que alcangou 10% dos votos vilidos para governador de Sio Paulo, o PT apareceu como um agrupamento paulista, estado onde, além do mais, elegeu seis dos ito deputados que mandou para Brasilia, Na verda- de,o PT foi caracterizado como um‘*fendmeno fun damentalmente abecedista”, pela vitoria na prefeitura de Diadema.® Fra inexpressivo diante de gigantes nacionais como 0 PDS, que elegera 12 governadores Monge EK, Pa i do De io Pa A, 1991,p 75 Smit op des. 56 Rachel Megalo, PTA Fm ea Pie Rio defn Ta eer 1989,p128 2 opr € controlava 49% dos deputados federais, ou do PMDB, que fizera nove governadores, entre eles os de Sio Paulo ¢ de Minas Gerais, e detinha 42% da Camara dos Deputados. A derrota vai revigorar, dentro do partido, as cor- rentes que descréem da luta institucional e preferem concentrar esforcos na organizagio dos trabalhadores, Convém recordar que 1983 foi um ano de grandes steves metalirgicas no ABCD e da fundagio da Cen- tal Unica dos Trabalhadores (CUT), vinculada 20 PT. A onda de paralisages, iniciada em 1978, ainda nio baixara, € 0 niimero absoluto de grevistas continuatia a crescer.** A CUT evoluiria de maneira acentuada até firmar-se como a maior das centrais sindicais do Pais no final do século, reunindo 3 mil sindicatos, en- quanto a Central Geral dos Trabalhadores (CGT) ¢ a Forga Sindical congregam cerca de mil cada uma. Ou seja,a opgio nio-institucional mosttava-se atraente, Em outros setotes do partido, todavia, 0 revés de 1982 provoca uma reavaliagio do estilo de cam- panha adotado. Conclui-se que a propaganda centrada sobre lemas do tipo “Trabalhador Vota em Trabalha dor” e “Vote no Trés Que o Resto é Burgués” havia afastado a classe média e os eleitores menos poli tizados. O agucamento das divergéncias internas leva, em 1983, 3 criagio da “Articulagio dos 113”, que aglutina os petistas moderados e de “uma s6 camisa”, como jf vimos. Para sorte do partido,a campanha das Diretas-Jé ara presidente, em 1984, oferece a rara oportunidade de aliar luta cle massa ao embate institucional, como * Edo Gar Noro, roe Ts Basin, Decide Meso. (Campinas: de sofa ¢ Cnet Humans ds Union 198 eee eee ee eee A Long jorvads ue viserior 55 assinala Margaret Keck. O partido unifica-se e exerce, nas ruas, um papel destacado naquele que foi o mais importante movimento civico da década, papel que nao fora capaz de desempenhar nas urnas. Os reflexos dessa atuacio ajudariam, no pleito seguinte, a ampliar sua pequena base eleitoral O PARTIDO DAS METROPOLES Com a aura da lideranga nos comicios de 1984 ¢ 0 uso de uma linguagem descontraida, diferente da uti- lizada em 1982, na busca de ampliar o eleitorado, a escolha de prefeitos das capitais em 1985 marca o ini cio do crescimento eleitoral do PT nas metropoles, processo vagaroso que se estende até o ano 2000, quan- do passa a ser 0 partido que governa o maior néimnero de capitais. Nem sequer a perda de trés deputados fe- derais, que, em desobediéncia 4 decisio partidéria,com- parecem a0 Colégio Eleitoral para votar em Tancredo Neves contra Paulo Maluf, prejudica o desempenho do partido em 1985, ‘Maria Luiza Fontenelle & eleita para dirigir For- taleza, capital do Ceari, e 0 PT deixa de vencer por um triz em Goidinia, capital de Goids. Fica em segun- do lugar em Vitoria, capital do Espirito Santo, e em Axacaju, capital de Sergipe. Com isso, planta as se- mentes do partido também nas regiées Notdeste Centro-Oeste.* Em Porto Alegre, atinge a marca de 11%, e, em Sio Paulo, Eduardo Suplicy aufere quase 20% dos votos, Recs op tap 18 4 OFT Os resultados de 1985 so importantes porque suprimem as dividas quanto 4 viabilidade da sigla. ‘Mostra que havia um eleitorado, por enquanto nas ca~ pitais, sensivel 4 sua pregagdo. O sucesso nas capitais reforga a Articulacio,embora a tnica candidata efeciva~ ‘mente eleita em 1985 fosse ligada ao PRC (Fontenelle viria a romper com 0 PT em 1988) A receita de campanha é reaplicada com éxito no ano seguinte, € 0 partido logra cleger 16 deputa- dos federais, E verdade que, com o surgimento do Partido da Frente Liberal, cai da quinta para a sexta posigio na Cimara, Ocorre que, com a mudanga da legislacao partidaria, alterou-se a configuragio da Casa, No topo, continuar3o a existir dois grandes partidos, o PMDB ¢ © PFL. Mas a seguir surge um, grupo de quatro partidos médios. Por fim, aparecem 98 pequenos partidos. O PT, com 3,3% da represen- tacio federal, € o menor dos intermediérios, porém proximo dos demais na mesma faixa: PDS (6,8%), PDT (4,9%) e PTB (3,5%).*° Além disso, em 1986 0 PT consegue obter vo tos onde nio esti tao organizado, ou seja, aumenta 0 seu apelo propriamente cleitoral, aquele que no de~ pende do contato direto com a militincia.”” Sao Pau- lo,estado em que o partido sempre teve mais estrutura (até ser superado pelo Rio Grande do Sul no fim dos anos 90), deixa de representar 80% da bancada federal. Dos deputados eleitos, apenas metade é pautlsta, Os demais sio de Minas Gerais, Rio de Ja- neiro, Rio Grande do Sul e Espirito Santo, nio por as Tee Suk (orp) /84 So alos Mepis, 198, 8 Sei op. 3 Menegcla op p.201 A tenguoaaie ox ower acaso unidades com maior industrializagio e desen- volvimento econémico. ‘A dificuldade em obter cargos majoritirios (go- vernadores e senadores), entretanto, indica que o in- terior continua a representar um obsticulo televante para a expansio do PT, apesar do bom desempenho no Rio de Janeiro, em alianga com 0 Partido Ver~ de.®* No entanto, a atuagio da pequena bancada do PT no Congress que elaborou a Constituicio de 1988 foi considerada exemplar. As posigdes em. defesa dos “direitos sociais dos trabalhadores, [da] reforma agraria e [da] democratizagio do Estado” terminaram por servir de referéncia para os debates € decisdes parlamentares.” Com isso, o PT passa a ser mais flexivel em relagio 3s aliangas, 0 que facili~ tard a marcha para o interior. Embora tenha votado contra 0 texto final da Carta, hd sinais de que a participagao no Congresso constituinte reforcou a socializagao dos petistas no interior das instituigdes € desbloqueou 0 caminho das parcerias eleitorais, decisio que o 72 Encontro, de 1987, ir referendar. Reforcado pela maior votagio para deputado federal do pais em 1986 e pela boa presenga na Constituinte, Lula insiste em que o PT volte a ado- tar um discurso amplo nas eleigbes municipais de 1988, Lembra, na ocasiao, que na campanha de 1982 ele se apresentava como “um brasileiro igualzinho a vocé”, quando “ninguém queria ser um brasileiro igual a mim”. © Mena oc» 201 "Menconad em Kesk opt p25 6 or CAPITAIS E CIDADES MEDIAS O desgaste do governo Sarney, cuja politica econ6- mica levou a uma explosio inflaciondria associada 4 recessio econdmica em 1988, favoreceri os parti- dos de esquerda na elei¢do municipal daquele ano. O discurso leve do PT ¢, 20 mesmo tempo, a sua idemtificagio com os movimentos reivindicativos trario uma expansio para as cidades médias, além de confirmarem a presenga nas capitais. O partido vence em Sio Paulo, a maior cidade do pais, onde Luiza Erundina obtém 30% dos votos, e Porto Ale- gre, onde um dos trés sindicalistas historicos do PT, Olivio Dutra, torna-se prefeito. Vence também em. Vitéria, com 9 médico Vitor Buaiz. Fica em segun- do lugar no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e outra vez em Goidnia, Fota das capitais, o PT ganha em 33 dos 4.287 municipios onde houve disputa, alguns deles impor- ‘antes centros industriais, como Sio Bernardo do Cam- po, Santo André ¢ Campinas (SP) e Joio Monlevade € Ipatinga (MG). O partido comecava a interiorizar-se pelos niicleos fabris. Embora 0 némero total de pre- feirutas conquistadas fosse menos de 1% dos mais de 4 mil municipios brasileiros, 0 partido, por ter base nas, metrépoles e cidades médias, passou a governar 10% da populacio brasileira. © fato de contar com preteitos em oito estados ajudard, por sua vez, Lula a competir, em 1989, a0 cargo de presidente da Repiblica. Em particular, a presenga nacional do PT sera uma vantagem compa- rativa no campo da esquerda, no qual 0 outro concor~ rente,Brizola, tinha raizes sélidas, porém regionais,no Rio de Janeiro € no Rio Grande do Sul | Alongjorsabraae inion 5p Com 05 resultados de 1988, 0 partido enfientaré a campanha de 1989 em maré ascendente. Os primei~ 10s meses de administracio do PT nas cidades cujo governo havia conquistado em 1988 no foram espe- taculares, mas a continuidade da crise econdmica jo~ gou o eleitorado nos bracos da oposi¢io, de esquerda e de direita, a0 governo de centro. Realizada em dois turnos, a elei¢a0 consistiu, na primeira etapa, em uma disputa entre os candidatos de esquerda, de um lado, ¢ 0s de direita, de outro, para saber quem itia para a segunda volta. Logo ficou claro que 05 partidos de centro ndo tinham chances de ven cer." Ao final, Lula, com 17% dos votos validos, supe rou Brizola por 0,6 ponto percentual na batalha da esquerda, uma diferenga de pouco mais de 450 mil sufragios em um universo de 72 milhdes de votantes. Essa pequena diferenga, entretanto, foi importan- te pata a histéria do PT, porque, no segundo turno, Lala quase ganha do candidato da direita, Fernando Collor de Mello, tendo obtido a prodigiosa soma de 31 milhdes de votos. Nas eleigdes seguintes, 0 centro ¢ a direita cuidariam para que isso nao voltasse a acontecet. (O pleito de 1989 representou outro passo para 0 PT, pois comegou ai a superar o PDT como 0 maior partido da esquerda, 0 que se consolidaria na década de 90 e ajudaria o partido a tornar-se hegeménico no Rio Grande do Sul, o estado mais politizado do pats. Lala saiu do pleito reconhecido como a mais forte lideranga nacional na oposigio a Collor. Ao terminar a eleicio, ele findaria e dirigiria o Governo Paralelo, «que mais tarde se transformaria em Instituto Cidada- nia, uma estrutura com assessoria técnica e capacidade "Ande Sing Esquina Bren Sho Palo Ep 200 54 Le or de formulacio de politicas pablicas que funciona fora do partido. O caminho parecia aberto para que ele ganhasse a Presidéncia em 1994, caso 0 governo Collor fFracassasse, NO BLOCO INTERMEDIARIO © reflexo,no pleito de 1990, do processo de naciona~ lizagio ¢ interiorizagio ocortido em 1988 € 1989 faz © PT dobrar a representago na Cimara dos Deputa~ dos (de 3,3% para 7.0%) e, pela primeira vez, eleger tum senador, Eduardo Suplicy, por Sao Paulo. Ajudado pela campanha nacional do ano anterior, o partido dessa vez leva a Brasilia parlamentares de 11 unidades da Federacio, ¢ a participagao de Sio Paulo cai para tum terco da bancada. Além disso, 0 PT s6 deixa de eleger deputados estaduais (81 a0 todo) em Roraima e Tocantins, quando em 1982 tinha representagio em apenas quatro Assembléias Legislativas. Em resumo, a primeira década de existéncia en cerrava-se com néimeros promissores. Desde 0 fracas- so de 1982,a bancada na Cémara havia se multiplicado por quatro (de oito para 35 deputados federais), e a participagio nas Assembléias Legislativas, por sete (de 12 para 81 deputados estaduais). Em 1990, o PT € 0 quinto partido nacional em termos de participacio nas Assembléias Legislativas. ‘Ainda que tenha cafdo da sexta para a oitava bancada na Camara dos Deputados, com a criacio de dois novos partidos (PSDB ¢ PRN), 0 PT est’ © Keck op p10, A tower Pee oinerin 99 mais bem situado do que em 1986, Note-se que a legislatura 1990-4 “representou 0 ponto culminante de fragmentacio partidiria no Brasil” e que 0 nii- mero de petistas na Camara ficou muito proximo do apresentado por partidos como o PDS (42 deputa~ dos) € 0 PSDB (38 deputados) ‘Os dados assinalam,no entanto, que, mesmo com a expansio geogrifica, o PT prossegue relativamente concentrado nas regides Sul e Sudeste € nos centros de urbanizacio acentuada. Por isso, em 1990, ainda no consegue eleger governadores,o que indica a pe~ quena influéncia no interior dos estados. Apesar do susto representado pelo desempenho de Lula no se~ gundo turno de 1989, a velocidade em directo 3 for- magio de um partido competitive em todos os niveis seria menor do que a expectativa dos dirigentes. O espago percortido pelo PT na década de 80 foi de partido pequeno a médio, Observe-se, também, que diferentes dindmicas estruturam as eleigdes locais © regionais (proporcionais © majoritirias) ¢ a escolha nacional do presidente da Repablica A DIFICIL CONSOLIDAGAO A década de 90 trara desafios arduos a0 PT: consoli~ dar-se como partido forte nas metrépoles, expandir- se para o interior, ingressar no bloco dos grandes no Congresso e confirmar a competitividade na disputa presidencial © Semis op cep. 7ANersanbén Oh Bl de Lin J, Damen 6 or (Os conflitos internos e com os funcionirios pi blicos prejudicam varias das administragdes munieipais iniciadas pelo partido em 1988. Isso resulta em derrotas égicas em Sio Paulo,Vit6ria, Sio Bernardo e San- entre outras, tia elei¢io de 1992. Tal como ji havia ocorrido em Fortaleza, depois da conturbada adiinistragio entre 1986 © 1988, um segmento relevante do eleitorado nessas cidades co. megou a firmat uma posicio antipetista.A reprovaio or parte do eleitorado de municipios onde havia sido governo fez com que o partido abrisse um processo de reflexio a respeito do assunto," O PT percebe, aos poucos, que o sucesso nas administragdes locais obedece a leis auténomas, cujas linhas de forca sio ditadas pelo éxito de politicas pii- blicas especificas. Tanto assim que o impeachment de Collor, em setembto de 1992, no qual o PT teri par- ‘icipagio andloga & que teve na campanha das diretas, nio levaré a uma explosio de vitorias petistas em ou. tubro/novembro de 1992, Apesar disso, o partido manteve-se presente na disputa das capitais. Venceu em quatro delas: em Porto Alegre, pela segunda vez; na importante Belo Hori zonte; em Rio Branco, capital do Acre, o que Ihe fir mava o pé na regiéo Norte; e, por fim, em Goiinia, 0 gue consolidava uma cabeca-de-ponte no Centro- Oeste, Dispusou, sem sucesso, 0 segundo turno em Sio Paulo, Rio de Janeiro ¢ Joio Pessoa (PB), No pleito de 1992, ainda que cercada de reveses, prossegue a lenta marcha para fora de Sio Paulo ¢ Para o interior, O maior ntimero de municipios em que o PT venceu estava em Minas, onde conquistou “Joo Machado “Anpiacdes Redan. En: Toi Dx 20. 190,930, EET EEE eee PERE EEE ree A Long fra un iaror 13 prefeituras, ¢ ndo em Sio Paulo, onde ganhou 11 No Sudeste, @ maior dificuldade seri o interior do Rio de Janeiro, onde o PDT continua forte Ji'no Rio Grande do Sul, comeca uma irradia sao de Porto Alegre — onde Tarso Genro é eleito para dar continuidade 3 administracio de Olivio Dutra — para os municipios vizinhos. O Rio Grande do Sul seri, por sta vez, pélo irradiador do petismo para 0 ‘este de Santa Catarina e o sudoeste do Parand. Com maior flexibilidade para fazer aliangas,o PT elege vice- prefeicos em chapas encabegadas por outtos partidos. No total, vence em 53 das 4.762 prefeituras em jogo, com um crescimento acima de 50% com relacio ‘ao ntimero de cidades em que havia ganhado em 1988; ‘mas a populagio governada pelo partido cai para 5,6%, como reflexo de derrotas significativas, especialmente em Sio Paulo, © pleito municipal seguinte obedeceri a mesma logica. Em 1996, 0 PT nao consegue reter 0 comando de Belo Horizonte, Goiinia e Rio Branco, em uma cleigio marcada pela tendéncia continu‘sta,o que per- itiu aos partidos da direita manter o controle de Sio Paulo, Rio de Janciro e Curitiba. A dervota petista tam bem em Santos, onde estivera no poder desde 1988, ¢ na simbélica Diadema, governada pelo partido desde 1982, da um sabor amargo ao ano de 1996. OPT continua a estar presente de modo compe- titivo nas capitais (foi o partido que mais lancou candi datos nelas), ainda que com poucas vitérias. Das seis capitais em que disputou o segundo tumno (Floriandpolis, ‘Campo Grande, Aracaju, Maceié, Natal e Belém), 56 consegue ganhar nia metrépole paraense. O Rio Grande do Sul é 0 tinico estado onde movimento vai no sentido oposto. Além de o PT el ger o prefeito de Porto Alegre pela terceira vez, 0 ni it laa @ on mero de prefeituras controladas pelo partido no inte~ rior sobe de sete para 25,¢ em outros 19 municipios 0 vice-ptefeito € petista eleito em coligagio.A irradia io do Rio Grande do Sul para os outros estados da regio Sul também prossegue.** ‘Apesar da significativa derrota em Belo Hori zonte,a expansio para 0 interior de Minas Gerais con tinua, com a vitéria em 31 municipios. Observa-se, assim, um maior grau de nacionalizagio: em apenas {quatro unidades da Federacio (trés delas no Nordes- te) 0 PT deixou de eleger 20 menos um prefeito, Com a maior influéncia no interior, o mimero de prefeituras governadas pelo PT cresceri em 100% no pleito de 1996, indo para 115 dentre os 5.378 municipios onde houve eleicio, mas a populagio go- vernada fica em 5%, um pouco menor ainda do que passara a ser em 1992. A derrota em Sio Paulo, outra ‘vez, tem um peso particular nesse niéimero. Do ponto de vista da consolidagio do movimento iniciado na década de 80, pleito municipal de 2000 representou, sem diivida, a melhor oportunidade alcangada pelo PT na década de 90.0 partido conse- guiu reeleger os prefeitos de Porto Alegre ¢ Belém ~ ‘© que é um indice de aprova¢io aos seus governos—e, depois de oito anos, obteve uma segunda chance em Si Paulo, que sozinha responde por quase 6% da populacao do pais, e Goinia, Péde ademais, pela primeira vez, obter a maioria em capitais do Nordeste, onde fez os prefeitos de Recife (PE) e Aracaju (SE). Participa, também, da co- ligacio vitoriosa em Belo Horizonte, encabecada por © Octsmento ne cxsem ldo Bre eon 0 desno sind POT. Peele pct do eto traakes no Rio Grande pn see no PE A Longs jada oe oor 6 prefeito do PSB. Com isso, o partido entra no século 21 como o mais forte do pais nas capitais. Est4 presen- te na administragio de sete delas, quatro de grande ‘peso politico nacional e todas com papel regional des- tacado. A vitéria em Sio Paulo (10 milhdes de habi- tantes, terceiro oramento do Brasil) tem especial significado. ‘A recuperagio de algumas cidades médias pau- Histas, como Ribeitio Preto, Piracicaba e a propria Diadema, assim como a reeleigdo em Santo André, da a0 PT uma possibilidade inédita de firmar-se no inte- rior do estado. Como a expansio para o interior do Rio Grande do Sul (de 19 para 34 municfpios) e de Minas Gerais (de 31 para 34) prossegue, comeca a desenhar-se uma zona de influéncia no Sul-Sudeste, que abrange também o interior do Parané e de Santa Catarina.A eleicio de 2000 representa, desse modo, a possibilidade de consolidar-se nas cidades médias E preciso, no entanto, dimensionar corretamen- te © significado dos niimeros. O Brasil tem 5.528 municipios em que houve eleiges em 2000. O PT ganhou em 187. Como dispde de forca desproporcio: nal nas cidades maiores, passara a governar 17,5% da populacio brasileira, Em cidades com mais de 200 mil eleitores,o partido teve,em 2000, uma média de 26,5% dos votos, a0 passo que nas que contam com até 10 mil eleitores o seu indice & de somente 3,5%.Compa- re-se com os indicadores do PFL, partido com tradi [20 nos grotdes: 19,3% nos municipios menores ¢ 13,8% nos maiores. Isto & no plano local 0 caminho percorrido pelo PT na década de 90 mostra uma fi- nha ascendente que, entretanto,avanga com vagar para © interior. Dados de 1996 mostravam que perto de um ter ¢0 dos eleitores brasileiros estava nas capitais, enquan- 4 or to outro terco habitava as cidades pequenas, com até 30 mil eleitotes. O PT tem, a partir da eleigio de 2000, a chance de consolidar-se nas capitais, onde comecou em 1985 a trajet6ria que descrevemos aqui, ¢ dar al~ guns passos a mais na direcio de tornar-se um partido enraizado nas cidades médias. O interior profundo ainda esti no horizonte. DE MEDIO A GRANDE, APESAR DO REAL © impeachment de Fernando Collor, em setembro de 1992, parecia prenunciar o melhor dos mundos para o PT na eleicio presidencial de 1994. 0 partido, emba- lado pelas pesquisas de junho que apontavam Lula com mais de 40% das intengdes de voto, quando o segun~ do colocado recebia menos de 20%, preparou-se para ocupar o Executivo federal, Nesse contexto, a derrota de Lula foi um choque comparivel ao de 1982. A, composicio de uma frente de centro-direita, entre 0 PSDB, 0 PFL € 0 PTB, € depois a edigio do Plano Real, que pos fim & superinflagio, surpreenderam 0 PT. Recorde-se que no periodo imediatamente pos- tetior a0 impeachment de Collor tinha havido uma apro~ ximagio entre 0 PSDB e 0 PT, o que poderia ter resultado em uma alianga eleitoral, Dai ser ainda mais inesperada a fiente que uniu tucanos a pefelistas. A decepcio do PT nio permitiu ver que, mes- mo com o extraordinatio impacto do Plano Real, Lula feve um crescimento considerivel com respeito a0 primeiro turno de 1989: de 17% para 27% dos votos validos, Em niimeros absolutos, isso significa 17.126.291 sufrigios em 1994 contra os 11.662. 673 A Loge jraaa rao or 65 de 1989. Lula demonstrava ter um potencial préprio tna dinimica da eleigio para presidente, e © partido logrou, pela primeira ver, eleger governadores de es- tado, o do Espirito Santo e 0 do Distrito Federal (sen- do este uma espécie de regio metropolitana), e uma safia de quatro senadores (Acre, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Sergipe).. © partido, entretanto, sentiu o baque da derrota de Lula. Perseu Abramo, membro do Diretério Na- cional, escreveu na ocasiio: “O Partido nio pode minimizar 0 significado politico e histérico de suas, liltimas derrotas cleitorais: 1989, 1990, 1992 e 1994. Derrotas mescladas de vit6rias setoriais € parciais, € verdade. Mas a questo fundamental € que, gragas 3 democracia que o PT ajudou a construir,o eleitorado brasileiro teve duas grandes oportunidades, depois da ditadura, de escolher o pais que queria, Nas duas es- colheu 0 projeto oposto ao do PT”. Diante da perspectiva de alcangar a maioria de maneira ripida, o fracasso de 1994 constituiu uma ducha de {gua fria, Em uma visio histérica, todavia, a novidade era outra:a popularidade do plano que der- rubou a inflagio nio foi capaz de deter a lenta ascen~ sio do PT.A vit6ria do bloco que apoiava Fernando Henrique Cardoso encobria avangos na direcio de o PT consolidar-se como um agrupamento competiti- vo na disputa pela Presidéncia. Estabelecido o instituto da reeleigio para presi dente, o pleito de 1998 torna-se um desdobramento do ocorrido em 1994, Outea vez,a polémica vai girar em torno do Plano Real e de Fernando Henrique, Res Aan Awa. 197, p 29 ota Nt, Sto alo: rs Fala Hoses @ orr ‘candidato agora de uma frente ainda mais ampla que a de 1994, com a participacio do PMDB e do PPB. Desa feita, entretanto, a esquerda também estrutura uma alianga, com Lula e Brizola a somar forgas desde © primeiro turno. O fato de que Brizola tenha aceitado concorrer como vice de Lula confirma a preeminén— cia alcancada pelo PT no campo da oposi¢io. A chapa Lula-Brizola obtém 31,7% dos votos vilidos, 0 que equivale 3 soma do que os dois haviam tido, separados, em 1994. A confirmar que a eleigio de 1998 foi uma reedigio da de 1994, observe-se que Fernando Henrique obteve a vitéria em primeiro eur ‘no, com apenas um ponto percentual a menos do que havia conquistado no pleito anterior. Se 1998 mostra © peso da alianga governista, indica, por outro lado, gue um tetgo do eleitorado estava com a oposicao, na gual o PT passou, na década de 90, a desempenhar um papel central. A LUTA PARLAMENTAR Nos anos 90, ocorrem duas modificagdes na configura- ‘go do Congresso Nacional. De uma parte, hi, em de- finitivo, a superagio da estrutura bipartidiria herdada da ditadura militar. A divisio do PMDB em dois (PMDB e PSDB) e do PDS em outras duas agremiagdes (PFL ¢ PPB), que ocorre nos anos 80, passara a ser ef@- tiva nos anos 90, Até o final da década de 80, como vimos, havia dois partidos dominantes, enquanto na década de 90 eles se transformario em cinco ou sete (a depender do futuro do PDT e do PTB). De outra parte, hi uma menor dispersio dos votos, com a tendéncia a surgir um sistema de poucos rT A tong jor nrior 6 partidos dominantes, acompanhados de uma dezena de pequenas siglas. Nesse contexto, PT, que obtém 9,6% da Cimara em 1994 11,5% em 1998, quando tinha 7% em 90, lograré fixar-se como o quarto ou quinto dos grandes agrupamentos congressuais, em- patando com 0 PPB e ficando logo apés 0 PFL, 0 PSDB e o PMDB. Ou seja, embora a taxa de cresci~ mento do PT na Cimata tenha sido menor do que na década de 80, quando pulou de 1,7% para 7,0%, 0 fato de ele ter prosseguido em ascensio e de ter-se alterado a estrutura do sistema partidario (de dois para cinco partidos dominantes) 0 elevou 4 condicio de um dos maiores partidos brasileiros. Para que se tenha uma idéia da mudanga, recor- de-se que, enquanto o maior partido (PDS) em 1982 era 25 vezes maior que o PT na Camara, em 1990 a diferenga com rela¢30 a0 PMDB (entio 0 maior pat tido) cai para trés vezes, e em 1998 0 PFL, que passa a ser a maior legenda, € menos de duas vezes maior que PT. Com uma bancada de sete senadores em 1998, 0 PT ocupa, também, o quarto lugar no Senado. (Os ganhos do PT no ano de 1998, em particular, foram menos expressivos do que nas eleigdes anterio- tes.O néimero de deputados federaiscresce de 50 para 59, a0 passo que o de deputados estaduais cai de 92 ppara 90, Elegem-se trés senadores petistas (Acre, Alagoas ¢ Sio Paulo), quando em 1994 haviam sido quatro. E preciso considerar, contudo, que o PT é prejudicado pelas distorgdes da proporcionalidade existente no Brasil:em 1998, teve 13,2% dos votos para a Camara, embora s6 passasse a ocupar 11,5% das cadeiras. Em compensacio, faz trés governadores: 0 do Rio Grande do Sul, Olivio Dutra; 0 do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, também bancirio; e 0 do Acre, 0 engenheiro Jorge Viana. Com isso, aumenta a distin~ C—O @ ort cia com respeito a0 PDT ¢ ao PTB, que apresentam nitida tendéncia de declinio. Com a eleigio de trés wvernadores e rés senadores, contra apenas um go- Yernador do PDT e nenhum enador(o PTB tmpoaco 4. OS TRABALHADORES lege governadores ou senadores), 0 quadro tende para NO PODER uma configuracio na qual o PT faz parte dos cinco partidos grandes ¢ o PDT ¢ o PTB caminham para serem partidos médios [No péigina ao lado, Olivo Dutra na reunidio do orcamento participativo de Porto Alegre, na inicio dos anos 90 — omo vimos, 0 PT assumin responsabili- iv dades executivas municipais quase desde © nascimento, quando Gilson Menezes, 0 metaliirgico que deflagrou a famosa greve da Scania em 1978, assumiu a prefeitura de Diadema em 1983 — prefeitura que 0 PT manteve por 14 anos, perdeu em 1996 e retomou em 2000. $6 em 1995, tentretanto, havera estados administrados pelo partido. ‘A experiéncia governativa do PT, portanto, concen- tra-se nas cidades. ‘© chamado “modo petista de governat” é, sobre~ tudo, um conjunto de politicas locais, jf que as expe riéncias tegionais do partido sio poucas ¢ recentes. Deve-se considerar que o governo de Brasilia (1995-8), importante como fonte de exemplos administrativos para partido, nao deixa de ser uma prefeitura ampliada, em- bora tena o status de uma das 27 unidades da Feders- Glo, por abrigar a sede dos trés poderes da Repiblica. Jé Oo exercicio da administracZo no Espirito Santo (1995-8) ee or Talallaksno Per foi de tal maneira conturbado pelo conilito entre 0 go- vernador Vitor Buaiz,o fancionalismo puiblico e o parti- do, que deveria ser catalogado no capitulo dos “modos petistas de ndo governar”. O inicio da criagio de um estilo duradouro de administragio estadual parece ter-se iniciado, portan- to, com a posse & frente do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul ¢ do Acre, em janeiro de 1999, expe- riéncias ainda em curso. ACRENCA NO. ORCAMENTO PARTICIPATIVO. Administragdes locais apresentam, por definigo, enor me vatiedade de politicas piiblicas. Os problemas da pequena Icapui, no Ceard, pouco tém a ver com os da terceita megalépole do planeta, que € Sio Paulo, Algumas caracteristicas comuns, entretanto, tendem a unificar os governos municipais petistas. A principal delas é a tentativa de implementar 0 orgamento participativo, o OP, como é denominado nas discus ses internas De acordo com a Constituigao de 1988, 0 orca~ mento federal é uma lei de iniciativa do Poder Execu- tivo, a ser apreciada e emendada pelo Legislative. A tendéncia € que as Constituigdes estaduais e as legis- lagdes municipais sigam também esse modelo. Ao fix nal de cada ano, a prefeitura envia i Cmara dos Vereadores uma lei que contém a proposta orca mentaria para os 12 meses seguintes. Os vereadores a emendam ¢ a devolvem ao Executivo, que a sanciona Na Lei Orginica do Municipio (LOM) de Porto Alegre ~ cidade na qual a pritica do orgamento parti- nor ipativo ocorre desde 1990, coma gestio de Olivio Dutra, ‘e que teve 0 maior desenvolvimento de todas as gestdes petistas -, esti prevista também a possibilidade de que a sociedade intervenha na pteparacio do orcamento,”"Fica gatantida a participacio da comunidade, a partir das re gies do municipio, nas etapas de elaboracio, definicio acompanhamento da execugao do plano plurianual, de diretrizes orgamentiias € do orgamento anual”, diz 0 artigo 116 da LOM porto-alegrense.” O principio do orgamento participativo € sim- ples, ainda que a sua implementacio seja complexa e tome formas variadas.A idéia é que na confeccio da proposta orcamentiria pelo Executivo,no decorrer do ano, organizem-se plendrias distritais em que a popu- lacio defina para onde ¢ para que devem destinar-se 0s recursos arrecadados pelo municipio. O esquema foi aplicado pela primeira vez durante 0 mandato- tampio do prefeito petista Magno Pires (1987-8) em Vila Velha, Espirito Santo. Naquela cidade jé fancio- nava desde 1983 um Conselho Popular, que tinha co- megado a discutir 0 orgamento como maneira de participar das decisdes locais. Houve também expe- riéneias participativas durante gestio do PMDB no municipio de Lages, em Santa Catarina. O modelo adotado emVila Velha,e depois trans- posto a outros municipios dirigidos pelo PT a partir de 1988, prevé que, nas reuni6es de bairro, depois de expostas por técnicos do governo as previsdes orga mentarias para 0 perfodo subseqiiente, discuta-se e decida-se, por maioria e sem direito a voto dos mem- bros da prefeituta, quais as prioridades locais. ‘© Cio ena Geno e Ubita de Sour, Onsen apie Expt det lg Sao Pal: Eon Fenda eas bra, 1997.9. 48 osTrabaadosin Pr 73 Como o orgamento & uma pega integrada,em que tettio de entrar, de maneira escalonada, as diferentes prioridades setoriais, as decisdes locais precisam conver gir para um frum comum. Hi uma multiplicidade de formas para fazé-lo. Em Porto Alegre,a cidade é dividida em 16 regides. Cada uma, depois de reunir-se e deliberar por alguns meses, envia dois representantes para o Con- selho do Orgamento Participativo (COP), que clabora, em co-gestio com o govern, orgamento piiblico € 6 plano de obras para o ano seguinte”. ‘Além das assembleias locais, diversas cidades cria- ram reunides gerais por assunto, como uma forma de integrar ao processo decisério setores pouco propensos «a participar nos bairtos,como jovens,sindicalistas ¢ em- presitios, No caso de Porto Alegre, hé cinco plenicias teméticas:transportes e circulagio; saiide € asistencia social; educagio, cultura e lazer; desenvolvimento eco- némico e tributacio; organizacio da cidade e desen- volvimento urbano. Cada plenéria envia também dois, delegados a0 COP. Em Belém, governada pelo PT desde 1996, ci- dade € dividida em 27 distritos, Cada distrito envia dois representantes a0 COP. O governo nio tem di- reito a voto no conselho ~ tem apenas voz. 0 COP decide a proposta orgamentéria, que é encampada pelo governo e submetida 3 Camara. Uma inovacio de Belém é ter criado, como as- sembléia setorial, um “orcamento participativo da ju- ventude”. Nele, de acordo com os organizadores, retinem-se de 10 mil 2 15 mil jovens para reivindicar “obras e servigos nas areas de cultura,esporte e lazer". Idem. Rae Spin, "Deen, Ner-Cie Twa eb n45 209.22. EEE EEE ee mer 4 Fr Em Brasilia, por ser uma cidade-estado, criou-se tum sistema mais complexo. Cada uma das 16 cidades que compdem o Distrito Federal é dividida em as- sembléias locais. Essas assembléias elegem delegados nna proporgio de um para cada dez presentes. A reu- nido de todos os delegados eleitos compée o forum do orcamento participative da respectiva cidade. O frum, por sua vez, escolhe representantes para 0 COP. Cada cidade tem direito a dois representantes € mais tum delegado para cada 50 membros do frum local. Em 1998, 0 COP do Distrito Federal tinha 97 mem- bros.” As principais criticas feitas a0 orgamento ppatticipativo so que, embora ele tenha nascido como ‘uma proposta de participagio direta, acabou por con- verter-se em um mecanismo de representagio (os COPS cujo fancionamento nio é claro € que se So- brepde 4 Camara dosVereadores. Os COPS seriam, na ritica, um modo alternativo de representacio, no qual, em lugar de todos os cleitores elegerem mandatarios, apenas os que participam das reunides podem fazé-lo. “Esse processo se faz 3 margem e em prejuizo do legislativo municipal, esvaziado das prerrogativas, das famgdes ¢ do poder constitucionais, j4 escassos, que Ihe deveriam caber”, afirma José Giusti Tavares, pro- fessor de ciéncia politica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.” ‘Com efeito,a maior parte dos relatos disponiveis indica que, uma vez entregue 3 Cimara pelo governo municipal, o orgamento preparado em moldes parti- > Rien de Aewal"Eduagio Com Obes” En Tle Ext 37, abe "Jo Gh Ta, in Tino Cu oP rt Age Med Abst a Os Tuan rer 5 cipativos quase ndo é alterado pelos vereadores, em- bora estes mantenham a prerrogativa legal de fazé-lo. ‘Mas talver o fato de que 05 membros do COP acom- panham o tramite da peca orgamentiria no Legislativo iniba a ago dos vereadores, 0 que nio ocorreria caso as emendas propostas por estes fossem legitimas, argu- mentatia um defensor do OP ‘A necessidade de uma etapa “indireta” na con- fec¢io do OP parece Sbvia, dadas as caracteristicas das reunides locais. “Nas audiéncias em ARs [administra ges regionais] periféricas, era impossivel ic além das necessidades imediatas € concretas, que sio sempre Jocais e setoriais, Cada grupo demandante agitava suas, reivindicacdes, sem qualquer preocupagio em compari-las, em termos de priorizagio, com as apre~ sentadas pelos seus vizinhos”, lembra 0 ex-secretirio do Planejamento de Sao Paulo na gestio do PT (1989- 92), Paul Singer.” ara que as propostas locais sejam comparadas, & preciso formar, ao menos em cidades médias e gran- des, um grupo menor, de representantes, que sio os conselhos. Esses conselhos so, entio, o lugar em que as discusses e deliberacdes finais efetivamente ocor~ rem. Singer afirma que "é impossivel negociar de fato a alocagio de recursos de um vasto orcamento com centenas de pessoas ‘Outra questio é saber de que modo so eleitos os delegados aos COPs ¢ de que forma as decisdes sio aleangadas no sew interior. De acordo com Giusti Tavares, “as decisdes do ‘orgamento patticipativo’ sio efetiva- ‘mente tomadas nio pela populacio das regides em que se dividiu a capital e © estado, mas pelos ativistas do ® Pal Sr, Uw Gan Ego Ps Tr, So Ur Ure, 19959121, SS eae 8 onr partido pelos ‘quadros politicos do governo’, munici~ pal e estadual, que, também sob o controle do partido, ‘monitoram os debates, segundo a expressio sugestiva consagrada pelos documentos mais ou menos oficiais”. De acordo com os coordenadores do orcamento, patticipativo em Porto Alegre, as deliberacdes aut6- nomas de cada assembléia tém, sim, peso na decisio final do COP, que resulta de uma composigio de cri- térios, nos quais a “vontade politica” da regio é um deles. No COP, 0s membros do governo também nio tém direito a voto, mas sio eles que coordenam as reunides, e, de acordo com relatos criticos, a maior parte dos conselheinos seria ligada ao partido.”* Quanto 20 néimero de participantes nas assem~ bléias locais e setoriais as informagSes dos organizadores dio conta de que em Porto Alegre, cidade com 1,3, milhio de habitantes, 45 mil pessoas compareceram is reunides do OP no ano 2000, No Distrito Federal, com populacio de 1,9 milho, houve 34 mil presentes em 1997, sempre segundo membros do governo. Em, Belém (1,6 milhio de habitantes),o OP teria mobili- zado 100 mil pessoas em 1999." © orgamento participative é a base do método petista de governar. Um dos seus méritos, segundo 0 PT, € quebrar a cadeia clientelista, em que a distribui- Gio dos recursos, em geral intermediada pelos verea~ ores, fica sujeita a uma retribnigo em votos por parte dos beneficiados. Ver Geno e Soy op de 65-7. par conhacer 0 pots de ite do IT Ver tomboy Dae! Pes" Aes Tats, PF Conde Oran arr” en: la SPs 5/11/2000. Riad de Arcs. opc 7:Spn. ope pa, On Tabhaeswo rer 7 (Outra vantagem € que os participantes acompa- ham, posteriormente, a execugio das obras decididas ppor eles mesmos, Em conseqiiéncia, toma-se mais dificil hhaver desvios de verbas.Talvez isso ajude a explicaro fato de que as administragdes do PTT tendem a ser encaradas como portadoras de um padrio mais sério do que amédia encontrada no servigo piblico brasileito. Segundo pes quisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 98% dos porto-alegrenses, por exemplo, “acham que 0 governo municipal do PT é honesto”.”* Para 0 PT, OP organiza a populagio, que passa a“‘vestir a camisa” da cidade 3 medida que participa do planejamento municipal ¢, assim, melhora substan cialmente os resultados objetivos alcangados. De abrir avenidas em Belo Horizonte a expandit 0 saneamen- to bisico em Belém, de urbanizar vilas em Porto Ale~ gre a construir uma fibrica de gelo em Icapui (CE), de erguer Unidades Bésicas de Satide em Diadema a construir creches em So Paulo, a visio petista é de {que com 0 orgamento participativo a execucio dessas, tarefas, possivelmente comuns a qualquer governo, & realizada com maior eficiéncia {A julgar por alguns indices, a formula pode fan- cionar. Em Porto Alegre, de 1989 a 2000, 0 sanea~ mento bisico foi expandido de 53% para 85% das casas, ca taxa de mortalidade infantil caiu 40%.” Em Belém, de acordo com 0 governo, foi construida “em média uma escola a cada dois meses” entre 1997 e 2000. Em Brasilia, com o programa “Saiide em Casa”, cem equipes, cada uma com um médico, visitavam com er eporagem de fo Gabriel de Lina, Maco Lina € Rica il eon Spina op tp 24 RI Horr regularidade cerca de 100 mil familias até 1998.” O que nio significa, necessariamente, que a maiotia do eleitorado prefira tal caminho aos tradicionais.A der~ rota de Cristovam Buarque para Joaquim Roriz em Brasflia, em 1998, exemplo de que o modo petista de governar esté longe de ser unanimidade. A GUERRA DOS FUNCIONARIOS ‘Apesar de haver criticas dos partidos de centro ¢ de direita a0 orgamento participativo, as dificuldades que o PT costuma enfrentar em suas administragdes pro- vém mais do front interno do que do externo. Para cenfrentar esse ‘iltimo, o PT aprendeu a governar em alianga, como faz. em Belo Horizonte, metrépole na qual © prefeito & do PSB desde 1996, ea relacionar-se melhor com o Legislativo, em geral dominado pela ‘oposicio. © caso de Mato Grosso do Sul, onde 0 go- vernador Zeca do PT, eleito em 1998, conta com ape- nas um deputado na Assembléia Legislativa, parece sintomitico, Apesar de estar em franca minoria,o go- vernador conseguiu abrir um canal de didlogo com os partidos oposicionistas." £ a relagio com 0 funcionalismo piblico e com © proprio PT qne tende a criar os maiores proble- mas. Como o partido conta com sélidas bases entre 08 fiuncionarios, os respectivos sindicatos, em geral ligados 4 CUT, tendem a esperar que os governantes do PT concedam rapidamente aumentos salariais & "oils Enc Now Tie Dr 200, osTablids wo Rer 7 categoria. Se 0 partido cede, corre 0 risco de invia~ bilizar as finangas municipais. Caso nio ceda, tem que se haver com fimcionsrios particularmen- te agressivos Em um caso, ao menos, uma combinagio desas- trada das duas atitudes levou a conseqiiéncias penosas No Espirito Santo, o governador Vitor Buaiz, ele pro- ptio um lider do movimento dos médicos, concede ‘um aumento logo ao tomar posse, em 1995, Pouco depois verificou que havia cometido um erro ¢ pas sou o testo do mandato 4 procura de cortar o benefi- cio inicial. Por conta disso, amargou uma greve permanente no setor da satide e a hostilidade do pr6- prio PT local. Acabou por abandonar o partido, em 1997, € 0 PT perdeu 0 governo do estado, em 1998, para PSDB. © governador Cristovam Buarque, eleito para governar Brasflia, também em 1994, caiu! no mesmo equivoco.“Eu dei reajustes que hoje estou convencido de que nao podia ter dado”, declarou Cristovam anos depois." A diferenga & que Cristovam conseguiu, & custa de muito trabalho, manter o partido a seu lado. ‘Mesmo assim, perdeu 0 pleito de 1998, e 0 conflito com 08 funcionarios foi um dos itens que o prejudi~ cou na tentativa de reeleiczo. A segunda fonte de dor de cabeca para 0 admi- nistrador do PT que, no conflito com os movimen- tos reivindicativos, de funcionarios e outros, a secio local do partido pode, muitas vezes, nio ser solidaria com o governante petista. 180 cria a impressdo, na opinizo piblica, de que o partido nio deixa que o seu proprio governo fimcione, Ricardo de Azevedo. op. ct 8 fo or Aves respeito, um dos casos mais claros,além do protagonizado por Buaiz, foi o de Luiza Erundina, prefeita de Sio Paulo entre 1989 e 193.Vale reprodu- Zr ilustrativo trecho de relato do ex-secretirio Singer sobre reunio no segundo semestre de 1989, em que membros da admtinistracZo expunham a dirigentes par- tiditios a necessidade de aumentar as tarifas de énibus: “Fiquei impressionado pelo tom e pelo contetido das falas dos companheiros, que denunciavam 0 nosso go- ‘vernio como se fosse o de Jinio [Quadras]:reclamavam da piota do servico de énibus ¢ da elevacio tarifiria sem dat a menor atencio 3s explicagdes oferecidas por 16s" © grau de conflito entre o partido ¢ os seus prefeitos conduziu 4 derrota do partido em Sio Paulo em 1992 ¢,no mesmo ano, em outros municipios que havia governado, como Vitéria e Santo Andeé. PREFEITURAS CONTRA A EXCLUSAO A medida que a crise econémica brasileira agrava-se no inicio dos anos 90), com a recessio provocada por Fernando Collor de Mello, politicas de inclusio social passam a ter maior énfase nos programas petistss, Como a piora das condigdes materiais leva a novas ondas migratérias em direcZo aos centros urbanos, o PT se vé com a necessidade de enfrentar o problema da mi- séria nas cidades que administra. Pelo menos a partir de 1996, e com muita forca na eleigio de 2000, com- bater a marginalizagio social e seus efeitos torna-se a principal bandeira do PT nas disputas municipais. © Singrsop. p88 Sst =: AESEESS SERRE I SEEGE SEEDS ESEESISEESSEEtESEFEESSEEEsS=5CS 5005550055050 505550555005(i5 CosTabliadrrne Pr 6 A pat de ages compartilhadas por outros gover~ nos, como o empenho em reduzir 0 ntimero de mors~ dores de rua,surgem duas politicas que se comario marca registrada do partido na década de 90, S40 0s progra~ mas de renda minima ¢ bolsa-escola, cujo principio 6 0 ‘mesmo. A perspectiva de um e de outro & complementar a renda de familias cujos ginhos estio abaixo de pata- mares considerados dignos, o que {oi estabelecido em trés salérios minimos familiares mensais, ‘Tanto na renda minima quanto na bolsa-escola,es- tabelece-se como condicio para o recebimento do be~ neficio que os filhos de até 14 anos freqiientem as salas de aula. O objetivo, além de ajudar grupos em estado de profunda necessidade, é estimular a escolarizagio das criangas, fiandamental para que tais segmentos popu- Jacionais logrem superar a médio prazo, por intermédio do proprio trabalho, a condigio de excluidos. A bolsa-escola teve particular éxito no Distrito Federal, onde foi implantada primeiro. Mais de 22 mil familias foram atendidas, ¢ a evasio escolar caiu de 10% em 1994 para 0,4% em 1997." A partir daf, a pritica generalizou-se, vindo a ser adotada até mesmo or governos municipais de outros partidos. Ao con- tririo do oramento participativo, que parece ser uma marca intransferivel do PT, as medidas antiexclusio, desde que efetivas, sio copiadas. Na mesma linha de combate 3 exclusio,uma ten- déncia crescente nas administragbes é buscar formas de fomentar a atividade econdmica no municipio © nos estados por meio do apoio 3s micro e médias empresas € das experiéncias de economia solidaria, A economia solidaria consiste em formas de produ- * Rando de Azeeda oct. gio e consumo cooperativadas, em que 0 controle da atividade econémica é exercido de modo democriti- co pelos participantes, trabalhadores ou consumido- res. Experiéncias de “bancos do povo” e outras instituicdes, como incubadoras de cooperativas, co- megam também a tornar-se marcas dos governos do PT.A formagio de cooperativas populares capazes de gerir e recuperar empresas falidas é vista como uma forma de evitar 0 declinio da atividade econémica local ou regional. Outro efeito das duas décadas de relativa estag- nagio econdmica do Brasil entre 1980 e 2000 foi © crescimento assustador, nas cidades, da violencia e do crime organizado. O confronto com a explosio de cctiminalidade vem se constituindo como um dos no- vos desafios a ser assumidos pelas administragdes petistss. A passagem pelo estado do Rio de Janeiro, onde participou do governo do PDT por cerca de tum ano (1999 2 2000), legou uma fonte de caminhos alternativos na érea da seguranca que deverio ser tri- Ihados pelo partido nos préximos anos. Entre eles, a busca de mobilizar ¢ organizar as populacdes periféri- «as, espitito que se coaduna com © do orcamento participativo."* * Ver La Edo Sores, Mo Cast Gem Si Po: Compana ds es ‘Nai pagina ao lado, ceriménia de posse da prefeita de Séo Paulo, Marto Suplicy (2001) CONCLUSAO: ESQUERDA OU CENTRO-ESQUERDA? ascido para levar os trabalhadores a0 po- der, pela representagio ou pela conquista hegeménica, 0 PT cumpre no Brasil 0 percurso tipico dos grandes partidos ope- rarios europeus formados no século 19? Do ponto de vista cientifico, trata-se da principal pergunta sobre 0 Partido dos Trabalhadores.. Na experiéncia européia, ais partidos, de inicio, estio fora do sistema, Sio porta-vozes de uma classe que mal adquirin o direito de voto, , para quem ests de fora, preservar as regras do jogo democritico tem papel secundério. caminho € o da revolucio. A medida que decidem participar das eleig6es — € essa € a decisio fundamental -, comegam a exercer parcelas de poder e, com isso, a defender desde dentro a causa dos trabalhadores. Adquirem interesse na pre~ secvagio da legalidade democritica. A retérica muda, devagar, para nio parecer que houve traigio aos ve- Ihos princfpios, da énfase na revolugio para a crenga Cons em reformas profundas ¢, depois, apenas reformas, 0 que nio significa que deixem de exist diferengas sig nificativas entre esses partidos e os conservadores A principal lideranga do PT, Lula, nunca teve diividas em participar do jogo eleitoral. Criou o par tido para isso, Desde 1982, 0 PT disputa as eleigdes. Ganhe ou perca, é sempre dos partidos que mais langa candidates. A participagZo levou os trabalhadores a0 poder. Nio na velocidade imaginada, nem ao poder cent ‘Mas 0 partido tem no ano 2001 cerca de 3 mil mem- bros com mandato no pais, entre governadores, sena~ dores, deputados federais e estaduais, prefeitos ¢ vereadores. S6 esses iiltimos sio 2.485 em 2001. A. ‘maquina petista (cujo coragao funciona no triangulo paulistano que une a sede do Diret6rio Nacional, perto da praca da Sé, 0 Instituto Cidadania, no Ipiranga, ¢ a Fundagio Perseu Abramo, naVila Mariana) esté longe de ser desprezivel. Cada parlamentar emprega certo niimero de as- sessores, a gue © cargo Ihe di direito. As verbas de gabinete costumam ser generosas. Cada membro do Exccutivo nomeia secretirios, 0s quais, por seu turno, dispoem de assessores e funcionitios. Sao milhares de fumcionsrios ligados ao partido. Em levantamento realizado durante 0 2° Con- reso, verificou-se que a maioria dos 941 delegados gue estiveram em Belo Horizonte entre 24 € 28 de novembro de 1999 era formada de funciondrios pi- blicos: 49% contra 23% de assalatiados do setor priva~ do Quantos desses delegados que trabalham para 0 “sce de Opinio itis da Figo Pee Abrano, Pl de Bow esas Ems wrefbraocns % ort Estado nao eram contratados pelos mandatirios do PT? £ provavel que a participagio tenha mudado a base social do partido. E compreensivel, assim, que a maioria incline-se para o compromisso com a legalidade estabelecida. As mudangas na ideologia do PT o refletem. Desde 1991, © partido rejeita a ditadura do proletariado e defende a alternincia no poder, ¢ 0 socialismo petista admite a convivéncia com 0 metcado e a propriedade privada Nem todos os grupos do PT, entretanto, enca~ ram as mudancas com alegria.A Convergéncia Socia- lista, uma das facgdes trotskistas que impulsionou a criagio do PT, tanto se opds ao curso posterior do partido que acabou expulsa. H, também, insatisfeitos dentro. Uma das teses apresentadas 20 congresso de 1999 era explicita a respeito disso: “Para 0 neo- teformismo da diregio petista,o insteumenta privile- giado para operar mudanas no pais sio as eleigdes, Assim, conquistando deputados e vereadores, prefei furas ¢ governos,irfamos acumulando forgas ¢ ganhan- do hegemonia na sociedade. Para esse setor, a mobilizacio cumpre o papel de auxiliar na luta institucional. (.] Infelizmente, isto no & possivel, ¢ a experiéncia novamente nos dé razio. A partir do fim do periodo reformista do capitalismo, ou seja, a partir do surgimento da sna etapa imperialista, que existe até hoje, mesmo as conquistas mais basicas fo- ram conseguidas com terriveis revolugdes”.** Desde 1995, tais pontos de vista sio minoritirios, porém nao inexpressivos, Cerca de um terco do Diretério Nacional, formado por 91. membros, per~ tence dala exquerda. Os moderados,aliados a0 centro, Vee Tie ia wwe conto 97 que detém perto de um décimo dos delegados, gover~ nam o partido, como 0 fizeram sempre, com excegio do periodo 1993-5. O deputado José Dirceu, um aliado de Lula, teve 0 mandato de presidente da sigla renovado por trés vezes, a contar de 1995, Lula, presi- dente de honra desde 1995, ainda é dono de poderosa influéncia No entanto, a disputa interna continuari e, com ela, o debate a respeito do firturo do PT. Com a mu- danga estatutiria prevista para 2001, 0 presidente do partido, com mandato de trés anos em lugar de dois, assim como todos os dirigentes partidatios, seri eleito pelo voto direto dos filiados que estejam em dia com © partido. Calcula-se que possam ser 280 mil." Isso Jogari o debate entre as alas para a massa de filiados e, provavelmente, para o debate piiblico e aberto na midia. Em outra consulta diteta, os filiados sero convida- dos a pronunciar-se sobre quem deveri sero candidato a presidente da Repiblica em 2002. Como Lula repre- senta um ponto de unificaco dos dois campos, majo rititio e minoritério, que existem no partido, é provivel que volte a ser candidato em 2002. Até porque, com uma trajetéria ascendente € mais de 30% dos wotos validos na eleigio de 1998, arrasta suftdgios para os milhares de candidatos a deputado, senador € gover- nador que o PT tera nos estados. ‘Outro nome, o do senador Eduardo Suplicy (SP), langou-se no final de 2000. Suplicy foi vereador, pre- sidente da Camara Municipal de Sio Paulo, deputado ¢ ptimeiro senador eleito pelo partido. Candidatou- "A secre de Organiza da Coisio Execute Nacional pete cart se nmer de care ends nada wet em elegoeseenconterpebest fy 20 Es ane Di 49,9415 de denen de 2, se, sem sucesso, a prefeito de Sio Paulo (duas vezes) a governador do estado. E um homem de posi moderadas. A mulher, Marta, no discurso de posse no cargo de prefeita de Sio Paulo, afirmou que “a forga que estrutura a nova administragio” esté identificada “com a oposicao de centro-esquerda aos governos fede- ral ¢ estadual”. No dia-a-dia, 0 PT mostra preocupado em realizar governos ef pliem a participagio direta e que diminuam o grau de exclusio social, sem afastar a classe média e os eleito: res despolitizados. Tem ampliado o leque de aliangas, ¢ a burguesia nao é mais tratada como “inimiga”, com forme aparecia nos documentos da década de 80. Depois de ter sido o primeiro a assinar 0M festo de Langamento, naquele 10 fevereito de 1980, Mi \da_vez mais tes, que am- rio Pedrosa fez um discurso. Nele, afirmou: “Partido de massa nfo tem vanguarda, nio tem teorias,nio tem livro sagrado. Ele € 0 que é, guia-se por sua pritica, acerta por seu instinto”.” © que o PT seri no futuro 4 8 pritica dizer. cabe rid dos Na pagina ao lado, Lula em greve dos metalirgicos (1979) CRONOLOGIA 1980 — O PT é fandado em 10 de fevereiro no Co- égio Sion, em Sio Paulo. 1981 —O PT obtém o registro legal, realiza 0 12 En- contro Nacional (nia Assembléia Legislativa de Sio Paulo) ¢ elege Lula presidente do partido, 1982 ~ Realizam-se eleigdes para governadores, se~ nadores, deputados federais, deputados esta- dais, prefeitos e vereadores. PT faz 0 28 Encontro Nacional e lana candidatos em 23 das 25 unidades da Federacio. Elege oito de- putados federais, 12 deputados estaduais, dois prefeitos e 117 vereadores 1983 — Fundacao da Central Unica dos Trabalhado- res (CUT) Criagio da Articulagio, a principal tendéncia interna do PT. 1984 — O PT tem papel de destaque na campanha pe- las Diretas-Jé. Realiza 0 3* Encontro Nacional 1985 — O PT recusa-se a votar em Tancredo Neves Ciombyia 1 no Colégio Eleitoral. Trés deputados federais gue 0 fazem sio forgados a deixar a legenda E fundado 0 Movimento dos Trabalhadores Ronrais Sem-Terra (MST). OPT vence a eleicao para a prefeitura de For- taleza (CE) 1986 - O PT realiza 0 4# Encontro Nacional e deci- de dar prioridade & Constituinte. Blege 16 de- putados federais e 40 deputados estaduais. 1987 — O 5* Encontro Nacional, realizado em Brasilia, define a estratégia de um “governo democré tico-popular” e de uma politica de aliangas para evar Lula & Presidéncia da Reptiblica. 1988 ~ Nas eleigdes municipais, o PT vence em Sio Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Vitéria (ES) © outras 33 cidades. 1989 — O 6? Encontro Nacional formaliza a candida tra de Lula, que chega ao segundo turno da eleicio presidencial com 11.622.673 vatos (17,1% dos votos validos). No segundo turno, disputa com Fernando Collor de Mello e ob- tém 31,076,364 votos (47% dos votos validos). Caio Muro de Berlim. 1990 — © PT elege um senador (Sao Paulo), 35 de- putados federais e 81 deputados estaduais ‘07° Encontro Nacional procura posicionar- se sobre 0 colapso do comunismo no Leste Europeu. O grupo Causa Operitia expulso do PT. 1991 — O PT realiza em Sio Bernardo do Campo 0 18 Congresso Nacional. E aprovada a formu. lagio mais extensa sobre o tipo de socialismo defendido pelo PT, que aceita a economia de mercado ¢ as instituigdes da democracia re- presentativa oPr 1992 ~O partido tem papel de destaque na campa- nha pelo impeachment de Fernando Collor de Mello, que renuncia em setembro. O PT perde as prefeituras de Si0 Paulo ¢Vi- t6ria, mas mantém a de Porto Alegre. Vence em Belo Horizonte (MG), Goiinia (GO), Rio Branco (AC) e outras 49 cidades, A Convergéncia Socialista é expulsa do PT. 1993 - No 8 Encontro Nacional,a ala esquerda fica mais forte © passa a controlar a diregio do partido. 1994 ~ © 9 Encontro Nacional aprova o programa da “Revolugio Demoeritica”. Fernando Henrique Cardoso lana o Plano Real Lula candidata-se pela segunda ver a Presi déncia ¢ obtém 17,126,291 votos (27% dos vvotos vilidos). Fernando Henrique vence no primeiro turno, com 54,3% dos votos vilidos. OPT elege dois governadores (Distrito Fe- deral e Espirito Santo), quatro senadores (Acre, Distrito Federal, Rio de Janeiro ¢ Sergipe), 50 deputados federais 92 depu- tados estaduais. 1995 — No 10* Encontro Nacional,a Articulagio reto- ma o controle do partido. Lula deixa a presi déncia, para a qual vinha sendo reeleito desde 1981, torna-se presidente de honra.José Dir~ ‘cou de Oliveira, da Articulacio, vence a disputa pela presidéncia por uma margem pequenia. 1996 — EleigSes municipais.O PT ganha em Porto Ale- gre pela terceira vez, mas perde em Belo Hori- zonie, Vence em Belém (PA), mas perde em Goiinia ¢ Rio Branco. Aumenta o grau de interiorizagio do partido, com a vitéria em um Combat (otal de 111 cidades. © Rio Grande do Sul des- ponta como o estado em que o PT € mais forte, 1997 —No 11 Encontro Nacional, José Dirceu ree~ ege-se por uma margem pequena,e aArticu- lacdo, em alianca com a “dircita”, mantém © controle do partido. © Encontro decide arti- cular uma alianga para enfrentar Fernando Henrique em 1998. 1998 — Lula candidata-se pela teweira vez, tendo como vice Leonel Brizola. A chapa obtém 31,7% dos votos vilidos. Fernando Henrique Car- doso vence no primeiro turno, com 53% dos votos vilidos. OPT vence a eleigio para os governos do Rio Grande do Sul, Acre ¢ Mato Grosso do Sul. Elege trés senadores (Acte, Alagoas ¢ Sio Pau- 10), 59 deputados federais e 90 deputados es- taduais, 1999 —No 2° Congreso do PT, realizado em Belo Horizonte, reafirma-se o programa da Revo- lugio Democratica. José Dirceu é eleito, pela terceira vez, presidente do partido, agora por ‘uma margem mais folgada, Forma-se 0““cam- po majoritirio”, em que se unem a direita, a Articulagio e o centro do partido. A esquerda fica isolada, com cerca de um terco dos votos. 2000 — Eleigdes municipais. O PT ganha pela quarta vez em Porto Alegre, pela segunda em Belém, volta as prefeituras de Sio Paulo ¢ Goinia ¢ vence pela primeira vez em Recife ¢ Aracaju. No total, em 2001, passa a dirigir 187 cidades, onde vive 17,5% da populacio brasileira. BIBLIOGRAFIA E SITES BIBLIOGRAFIA Perseu Abramo, Uin Trabalhador da Noticia, Sao Paulo: Editora Fundacio Perseu Abramo, 1997. Ricardo de Azevedo ¢ Flamarion Maués (orgs.), Rememéria. Sao Paulo: Editora Fundacio Perseu Abtamo, 1997, Frei Betto, Lula, Biograia Polltica de um Operiri, Esta io Liberdade, S20 Paulo, 1989, Jorge Bittar (org.), © Modo Petisia de Governar. Sio Paulo: Teoria e Debate, 1992. 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