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TEXTO 1 Grupos: 0 que sao © Como se Organizam O modulo inicial do curso é dedicado a introdusir o conceito de grupo € a expor seus principais elementos. O objetivo é delimitar o tema de estudo, que sera aprofundado nos médulos seguintes, tanto em termos de sua fundamentagao tedrica quanto de procedimentos metodolégicos e técnicos envolvidos na utilizagao do grupo na drea da satide. Grupos Nossa vida cotidiana esté organizada em grupos: a familia, 0 grupo de amigos, o grupo de trabalho, e outros. Nos grupos, os sujei- tos humanos se reconhecem como participantes de uma sociedade, inseridos em uma teia de relagdes e papéis sociais, por meio dos quais constroem suas vidas. Neste curso, falaremos dos “pequenos grupos”, como os grupos de convivéncia e os de atendimento, e nio dos grandes grupos, como a multiddo, a classe social ou 0 conjunto dos moradores de um bairro. Todos os pequenos grupos dos quais participamos tém, cada qual 4 sua maneira, ligago com uma instituigdo, valores e praticas Sociais, presentes no grupo, mas que 0 ultrapassam, como tal. Assim, existem leis, normas, praticas e costumes para a familia, o mundo do trabalho, a amizade, a religiao, a politica, etc. E, no entanto, os grupos. também tém histéria propria e aspectos particulares. Podemos dizer que todos os grupos tém, ao mesmo tempo, um jeito de ser prdprio (singularidade) e um pertencimento social pelo qual se fazem simila- Fes a outros grupos. . Grupo & um conjunto de pessoas unidas entre si Porque se co- locam objetivos e/ou ideais em comum € se reconhecem interligadas Por esses objetivos e/ou ideais. St td am eae dl enquadiar nessa definigao, um Upo” deve ter « Paras Por ECVE ter “rata. face’, asta €, todas os seus membros se conhece, cows face a hae Mey jecem unio no ghupO, Por exemplo, pessei . AS eM uma saly tk yutal pode até Ler O MEMO ObJeLVE, may nao 4 dtem eneii se percebem miterligados. Fane phe lse EME ENUM E MEISE J Fapenas quand espera de Mi eu gu cuneate pen juntos para alcanyar Seu objets, py wee 7 . or du prec I-Se para uima reivindic : remplo, quando precisa UNIT-S€ rd cayao, que essa pessoas paysamt a CONSULT UHL Krupa Pntretanto, mesmo tendo elyetives em comum, os Panicipan, dividualidade. Isso significa q Q tes mnantém a indiyiduahidade, Isso significa que 0 consenso no grupy € sempre tuto de acordos que yao mudando ao longo do tem, Poe grupo, wf trabalhados para se chegar a construgao do comsenso Taber € preciso lembrar que um grupo pode ter objetivo claro e eaplicita, bem Como outros oObjctivos implicitos ¢ mesmo. Lambén que conflitos © divergéncias fazem parte da vida do precisande apena meonscientes, Yor excmplo, na escola, um grupo de colegas pode resolver estudar juntos, mas, ao mesmo tempo, desejar aprofundar as Interagoes © amusade entre eles. Fony proceso de comsttuigao do grupo que vai se configurar a sua “dindrmca”’, que alyuns autores chamariam mesmo de “dialética” O processo do grupo & justamente Oo movirnento que ele faz ao se constituir coma tal A Dinamica de Grupo é a disciplina que estuda os processos yrupats, Palamos de uma dindmica interna e de uma di- namica ecema do grupo, Na dinamica interna, estudamos caracte- Fsticas, fases © elementos do processo grupal, ressaltando os fatores que al interferem ~ dificultando ou facilitando — esse processo. Na dinamica externa, estudamos as forgas sociais € institucionais que Influcnciam oO proceso grupal. Nenhum grupo € resultado apenas de sua dinannica interna ou de sua dinamica externa. Existe uma relayie entre as dinamicas interna ¢ externa que pode ter cardter juiaaal el do. atray ao, reyerg ao, conthito, espelhamento, ce »mplementandade. outros a » com as Os metodas de trabalho com grupos variam de acord ee ecidos. carat ao bem conh IstiCas € Os Objectives dos grupos. Alguns sao bem c¢ et 28 Maria Paci MO Afonse (Org. como: debate patel, dramatizagao, reuniio, assembléia, Mas, novas metodologias podem surgir part adaptar necessidades atustis em at as diversas. Eo caso do trabalho em equipe e da Oficina que serio objeto do curse. Elementos basicos dos grupos, FE interessante notar que, nas diversas abordagens teoricas, al- guns elementos sao constantes, ou, podemos dizer basicos. A interpretagdo pode variar, Mas sua presenga no grupo é sempre reco- nhecida em teorias diversas, Que elementos sao esses? Vamos procurar sintetizé-los, de forma diddtica, em sete itens que poderao ser facilmente reconhecidos e memorizados: 1) Primei individuos se juntaram em grupo e como esse grupo se relaciona mente, € preciso considerar as razdes pelas quais os em ao com 0 seu contexto. Ou seja, que demanda deu ori grupo e em que contexto social & institucional? Esse “nasei- mento” do grupo marca muito todo o processo; 2) Estreitamente ligada & demanda é a detinigao dos objetivos do grupo, Quais foram as motivagdes & os desejos que os lizar via pertencimento a esse grupo, membros buscaram re como por exemplo, 0 desejo de ter seguranga, reconhecimento, afeto, novas experiéncias, comparar suas experiéncias, pensar resolver questdes, entre Lantos OUITOS. Nesse se 0 grupo tem objetivos seus problem: sentido. podemos considerar, ainda mensao educativa ou mais a dimensio mais voltados a uma di embora haja Asdes, COMO VereMOS EM NOSSO CUTSO, mpre alguma co-relagdo terapéutica ou clinica, entre essas duas dimer 3) Ademanda e os objetivos estio diretamente ligados A construgao de uma identidade ou “sentimento de nés” no grupo. Essa 29 4) 6) 30 vale grape naan die SAC DE OPTCEN AS ou denna senile analyst tambon ums FU Te COE 04,8 Contr fe dispersion — ne grupo, QUAN MAUOF SUA integracto, mage forte — e riguda — a kdentidadde. A Coesiw & a dispersing en orte = ¢ rigid rnyos fevaann 2rUpo. FESPECTIVAMENLE, 20 aUHLOFitarigmyy grausevre ‘ i alo ASSIM, € PIELISO GUE O gtUpO Sait interme © 2 destntes junto a sua ntentidade, um sistema de ttovas com outa construl srupos socuits & cert toleranena diante de diferengas internas, A identidade grupal esta Vinculada também a sua almostera ou 20 clima, que diz respeto a modo de sentir que permeia grupo como um todo ¢ que caracteriza a sua disposigao geral diante dos objetives a que se propds. Os coordenadores de preocupam-se em favorecer atmostera de aceitagao mitua, respeitosa ¢ demoeratica: No processo de sua constituigio, 0 grupo precisa se organizar diante de seus objetivos. A organiza¢do implica a distribuigado de papeis e fungées entre os participantes, de forma bastante variavel. Mas, principalmente, diz respeito a distribuiggo de poder e relagdes de lideranga. Ora, nao existem, no grupo, relagdes de poder sem que existam também formas de cooperacao, conflito & controle. Essas relagdes poderao set percebidas pela interagdoe comunicagao entre os participantes; Os padroes de interagdo, comunicagdo e participagdo dizem muito sobre a capacidade do grupo de enfrentar suas dificuldades e trabalhar Por seus objetivos. Quanto menos centralizadas, e mais abertas e democraticas, melhor fluem a comunicagao e a participagao. Seguindo esses padrées, vamos nos deparar também com as dificuldades de comunicagao, as quais os coordenadores dedicam atengao especial, visando Sua superagao; A relagao entre 0 grupo, como um todo, e os seus membros, também € objeto de atengao dos coordenadores. De fato. yD Maria Liteia Mo Afonso (Ong.) quando se juntam em grupo, os individuos manejam um duplo investimento: por um lado, buscam ser reconhecidos pelos companheiros como “iguais”, isto é, parceiros de um ideal: Por outro lado, querem ser reconhecidos como pessoas tinicas, que tém suas particularidades diante do ideal do grupo. Esse duplo investimento caracteriza um movimento proprio de todos Os grupos que oscilam entre a grupalizacdo (a énfase nos vinculos € nos ideais comuns) e a individuagdo (a énfase nas diferengas individuais). Ao invés de ser danosa para 0 grupo, a dinamica entre grupalizagao e individuagao serve de alimento ao seu crescimento e ao crescimento dos participantes. E pelo constante desafio de estar junto e se manter tinico que os participantes poderao conhecer melhor suas motivagGes e suas capacidades no grupo; Finalmente, ha que se comentar que 0 grupo nao é um conjunto de caracteristicas estaticas. Todos seus elementos esto em constante movimento, fortalecendo ou nao a produtividade, conduzindo ou dificultando 0 crescimento. Assim, é fundamental sempre pensar 0 grupo como processo. O processo grupal inclui a série de movimentos para alcangar os seus objetivos, trabalhar suas relagdes, transformar sua visio de mundo, promover mudangas nos participantes, e tantas outras dimensoes envolvidas. Ou seja, nesse processo, duas grandes referéncias sdo delineadas: qual é 0 grau de autonomia que 0 grupo tem e/ou desenvolve? Que elaboragao alcanga diante de seus objetivos e relagdes? Além dos elementos mencionados, que dizem respeito mais & estrutura do grupo do que a forma, podemos considerar algumas caracteristicas formais ou descritivas que vém a influenciar seu processo e suas relagdes. Dentre elas, podemos selecionar: 0 nu- mero de participantes ou tamanho do grupo, a rotatividade da parti- cipagdo, a homogeneidade ou heterogeneidade dos participantes € ny OPICIN AS ou Hamatnee de p00 pe a ate a SAU gy a duragae do grupo no tempo. A escolha dess formagdo de um grupo variara contorme an grupo, IS CANCE H sty, na Wo, ECL CO ah. O famanho intluencia no desenvolvimento do pa de telag HaAlOr Cunplie {re os participantes, mas também menor diversid. vist dentro do grupo. Grupos menores propiciam 1 hae ey de Ue poten, Muitas vezes, os participantes se IPFESSAN 4 Cnitrar ey, con Grupos Marores aceitam a diversidade de pontos de vistas © os contlitos Com Senso para defender a muitua satistagao afetiva, Mator Presteza. Mas, neles, as trocas emocionais sao MAIS SUpEHiciais, ou tendem a se limitar aos pequenos grupos, ‘Ao mesmo tempo, podemos lembrar que: 6 funcionamente demo. cratico do grupo aumenta a Possibilidade de express de diferentes pron de vista, mesmo nos grupos Pequenos © que grupos grandes, mas com funcionamento autoritério podem coibir as difereng: as Internas ¢ Enfatizar as trocas emocionais em um padrao mais rivido Tepelitivo, Assim, nao se trata de dizer qual o melhor tamanho de mas de se perguntar, em cada caso, qual tam: para dada proposta de trabalho. Para trabalhos que envolvem reflex: pecial quando existe grau maior de literatura da area tem recomend: Grupos até 12 Participantes demc grupo, anho de grupo & melhor 40 € Criatividade, © em es- Integragao afctiva no grupo, a lado grupos de 5 a 8 Participantes. onstram mais integragao e tendéncia a consenso. Quando uma dimensao educativa é também almejada, ou quando os objetivos do grupo estado limitados a uma intervengao focalizada, esse nimero pode subir um pouco, dig: ticipantes. amos, para 15 par- Esses nameros sao como uma estimativa de vem para dar uma re} tém e nem poderia diversos fatores int qualidade que ser- feréncia aos coordenadores de grupo. Mas, nao 'm ter © peso de uma formula matemiatica, pois erferem na produtividade de um grupo. O grupo pode ser “fechado”, quando a rolatividade dos partici- pantes € zero ou pequena, ou “aberto” quando se admite entrada € saida de novos membros ao longo do proceso. Rotatividade alta pre- judica a formagao de vinculos entre OS Participantes, mas rotatividade 32 Mal via Me Mons (Ong nula pode ser por demais rigida. Quando 0 mais conflitivas ou emocionalmente mobil, grupo de pacientes com c: grupo trata de questdes f izadoras, por exemplo, um Ancer, € mais dificil lidar com a rotatividade dos participantes. Mas um grupo que tem um carate; e¢ educativo pode até achar interessante acolher suportar a said: T mais preventivo novos membros e la de outros. Por exemplo, grupos de gestantes com diabetes podem funcionar em estrutura aberta, permitindo a safda e chegada de novos membros dependendo de sua insergao no acompa- nhamento pré-natal. Esse raciocinio pode ser empregado para as outras caracteris- ticas dos grupos. A homogeneidade pode ser produtiva e assim também a heterogeneidade, dependendo das possibilidades de sua expressdo, comparabilidade e de seu aproveitamento no grupo. Al- guns grupos podem se beneficiar mais da homogeneidade, por exemplo, grupos de pacientes onde todos tém o mesmo problema de satide. Outros se beneficiam da heterogeneidade, assim como os grupos de criatividade em uma sala de aula. Podemos dizer que, examinando as caracteristicas dos participantes, havera sempre certo grau ou tipo de homogeneidade e certo grau ou tipo de heterogeneidade. A duragdo do grupo no tempo, que pode ser pensada tanto em termos de numero de encontros quanto de extensao desses encon- tros ao longo de dado perfodo, é um fator importante para se avaliarem as possibilidades de aprofundamento de trabalho nesse grupo. Tam- bem existe grande variagdo nesse aspecto. Podemos dizer que quanto mais um grupo estende seu trabalho no tempo ou intensifica seus encontros, mais possibilidades terao de aprofundamento em suas re- fexdes e interagdes. Assim, um grupo de apoio para pacientes com depressao provavelmente precisaré mais tempo do que um grupo de Prevengao, educativa, do cancer de mama. Nao precisamos manter uma atitude do tipo “ou oito ou oitenta”, Isto € ou o grupo € rapido e meramente educativo ou é do tipo terapeutico € nao terd tempo definido para acabar. Mas Precisamos, sim, adequar nossa proposta de tempo de funcionamento aos obje- Vos e tipo de participantes. 33 OFICIN YS ean dina de genpe na a ie SAC DE, Mais uma vez, nao existe receita, mas critérioy variaveis com, proposta do grupo. Ao formar um grupo na area da satide, ox coord, nadores examinam esses critérios, avaliam sua pertinéncia e Propoen dada forma de funcionamento. " Veremos que, para se propor um trabalho com ETUPOS, precisa. mos de uma teoria ou modelo de interpretagdo dos elementos acima citados bem como de uma metodologia de trabalho. Esses topices, serao abordados em nosso curso, em diferentes médulos. Bibliogratia AFONSO. Maria Lucia M. Oficinas em dinamica de grupo ~ um método de intervencao psicossocial. Belo Horizonte: kdigdes do Campo Social 2002,

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