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COLEC GAO ENSINO DA CIENCIA E DA TECNOLOGIA ANALISE COMPLEXA E EQUAGOES DIFERENCIAIS LUIS BARREIRA Luis Py w AN Luis Barreira é Professor Catedratico de Matematica no Instituto Superior Técnico, onde se licenciou Seren ite Rect enone MDa RCE em Meena Fee Oar ia LO, ono ces accent Oe eC Seca co een CRN Cre Ree Rey eon eee eS ea anc ‘em 2008 (outorgado pelo Institut <’Estudis Catalans, Barcelona). f, autor dos livros Lyapunco Exponents and Smooth Eigodic Theory (American Mathematical Society, 2002) ¢ Nonuniform Hyperbotiity (Cambridge University Press, 2007), ambos com Yakov Pesin, ¢ também Stability of Nonaudonomous Diferential Equations (Springer, 2008), ‘com Claudia Valls, ¢ Dimension and Recurrence in Hyperbolic Dynamics (Birkhauser, 2008, pelo qual recebeu 0 prémio Deseo TET mT eee Ree TE eM er eT cece tran rey at Fite nt scene rt ere ce nee Reet Teo aca e ToS ee Coe ca Peer cre ANALISE COMPLEXA E EQUAGOES DIFERENCIAIS L x(t) = e“'x(0) + [ cA \b(s) ds COLECCAO + ENSINO DA CIENCIA E DA TECNOLOGIA TITULOS PUBLICADOS 20 Introdugiio & Quimica Quintica Computacional, Lis Aledcer 21 Quimica Supramolecular: conceitos e perspectivas, Jean-Marie Lehn, 22, Fundamentos de Transferencia de Massa, Mavia Norberta de Pinko, Duarte Miguet Praceres. 23 Fisica Relativista, Mecdnica e Electromagnetismo, Forge Lowreivo, 24 Uma Introdugao as Telecomunicagdes com Mathematica, Carlos Salema. 25 Fungdes de Variével Complexa: Teoria e Aplicacdes, Antinio H. Sides de Abreu. 26 Comunicagdes Audiovisuais: Tecnologias, Normas Aplicagées, Femando Pera, Ed. 27 Engenharia de Processos de Separagio, Féraundo Gomes de Azevedo, Ana Maria Atves 28 Teoria da Relatividade Geral: uma introducio, Aifredo Barbosa Henriques. 29 Ecologia Industrial: Principios ¢ Ferramentas, Paulo Cadete Ferrio. TITULOS A PUBLICAR Relatividade e Fisica Classica: continuidade e ruptura, Antinio Brotas. ANALISE COMPLEXA EEQUAGOES DIFERENCIAIS LU{S BARREIRA Eaitora: IST Press Ditector: Joaquim J. Moura Ramos Colecsio: Ensino da Ciéneia e da Tecnoloyia Coordenador Editorial: F Miguel Dionisio Titulo: Andtise Complexa e Equagdes Diferenciais Autor: Luis Barreira Produgio: Manucla Morais Design: Golpe de Estado — Produgies Criativas, Lda. Revisio de Texto: Luis Filipe Coelho ‘Composigao/Paginagio: Louriofficina, Atelier de Design da Lourinha, Lda. Impressio/Acabamento: Grilica Manuel Barbosa & Filhos, Lda. ISBN: 978-972-8469-87-0 Depésito Legal: 297905 /09 1" Edigao: Setembro 2009 ‘Tiragem: 2000 exemplares Copyright © 2009, Instituto Superior Técnico ANALISE COMPLEXA E. EQUAGOES DIFERENCIAIS PREFACIO I ANALISE COMPLEXA 1 NOGOES BASICAS 1.1 Naimeros complexos 1.2 Forma polar 13. Conjugado 1.4 — Fungdes complexas 15 Exercicios 2 FUNGOES HOLOMORFAS 2.1 Limites e continuidade 2.2 Diferenciabilidade 2.3. Condigao de diferenciabilidade 24 — Caminhos e integrais 2.5 Primitivas 2.6 Indice de um caminho fechado 27 Formula integral de Cauchy 2.8 Integrais e homotopia de caminhos 2.9 Fungées harménicas conjugadas 2.10 Exercicios 31 $2 o 34 35 41 42 43 44 45 46 Gi ba 53 a4 5.5 56 6.1 62 63 64 65 SUCESSOES E SERIES Sucessbes Séties de néimeros complexos Séries de nitmeros reais Convergéncia uniforme Exercicios FUNGOES ANALITICAS Séries de poténcias Zeros Séries de Laurent e singularidades Residuos Fungdes meromorfas Exercicios EQUAGOES DIFERENCIAIS EQUAGOES DIFERENCIAIS ORDINARIAS Nogdes basicas Existéncia ¢ unicidade de solugdes Equagdes lineares: caso escalar Equagées lineares: caso geral Calculo de exponenciais de matrizes Exercicios RESOLUGAO DE EQUAGOES DIFERENCIAIS Equagdes exactas Equagies redutiveis a exactas Equagies escalares de ordem superior a 1 ‘Transformada de Laplace Exereicios inDICE 69 u 3 3 al 1 93 104 105 ML 113, 1g 125 127 129) 132 139 141 149) 155 159 161 164 167 175 189 vii | inpice 7 72 73 74 7 76 17 8.1 8.2 83 a4 SERIES DE FOURIER Um exemplo Séries de Fourier Unicidade e ortogonalidade FungGes pares ¢ impares Séries de cosenos ¢ séries de senos Integragao e derivago termo a termo Exercicios EQUAGOES DIFERENCIAIS PARCIAIS Equagio do calor e modificagdes Equagiio de Laplace Equagao das ondas Exercicios BIBLIOGRAFIA INDICE REMISSTVO 193 195 199) 207 213 215 218 221 225 227 236 239 242 245 247 LUIS BARREIRA DEPARTAMENTO DE MATEMATICA INSTITUTO SUPERIOR TECNICO Este livro € uma introdugio a duas grandes areas da matemética: anélise complexa e equa- ges diferenciais. Estudam-se em particular fungdes holomorfas, fungdes analiticas, equagies diferenciais ordinarias, séries de Fourier e aplicagbes a equagdes diferenciais parciais. Estes so tpicos naturais € importantes por exemplo em cursos de Engenharia, Fisica, Economia, Gestdo ¢ naturalmente Matematica. Assumem-se ao longo do livro apenas os conhecimentos basicos de Igebra linear ¢ de céleulo diferencial ¢ integral dados por disciplinas anteriores des- tes cursos, como sejam 0s conceitos de valor proprio e vector proprio, diferenciabilidade em R” ¢ integrabilidade & Riemann. Otexto é dirigido a qualquer aluno que tenha obtido aqueles requisitos ¢ que esteja a frequentar uma disciplina que dé a primeira introducio a andlise complexa, a equagdes diferenciais, ou a ambas as areas. Mas pode também servir para estudo independente. Uma parte importante do livto sio os exemplos frequentes (cerca de quatro em cada cinco paginas), que ilustram detalhadamente os novos conceitos ¢ resultados, e 0s exercfcios no final de cada capitulo, com nivel de dificuldade varidvel ¢ sempre com as respectivas solugées. ‘A génesc do livro teve como ponto de partida a dificuldade que senti em encontrar um texto apropriado na literatura (quer seja ou nao em portugués), que pudesse ser usado numa disciptina de um semestre lectivo, cobrindo simultaneamente andlise complexa e equagdes diferenciais, ¢ que satisfizesse trés requisitos a) Acessibilidade e rigor. Como ja referi, 0 livro assume apenas conhecimentos basicos dados por disciplinas anteriores. Mas tem também o objectivo de servir de texto auto-contido para o estudo de anzlise complexa e equagGes diferenciais. Em alguns textos so por ve- PREFACIO zes evitadas demonstragées, apresentando-se certos resultados como se se tratasse de um receitudrio, com a justificagio de que seriam necessdrios conhecimentos mais avangados, quando por vezes ha alternativas, Enquanto numa sitagao concreta o professor pode, ¢ muito bem, escolher nao dar todos os detalhes, ou mesmo nenhum, de algo que considera apropriado, parece-me desajustado que o material de estudo sofra da mesma escolha. Por exemplo, os alunos interessados poderio fazer uma leitura detalhada, além do que foi leccionado na aula, mesmo que isso nao seja avaliado. Uma caracteristica principal deste texto é que permite todas as opcbes, quer por parte do professor quer por parte do aluno, mantendo a acessibilidade sem comprometer o rigor matemético. Nivel consistente, E muito dificil, sendo impossivel, encontrar textos completamente rigoro- 0s € simultaneamente acessivcis com um nivel consistente da exposicio. Por exemplo, no que diz respeito & existéncia ¢ unicidade de solugdes de equates diferenciais, recorre-se por vezes a t6picos de anilisc fimcional quando estes nao s4o necessdrios € € ainda as- sim possivel dar uma demonstracao breve e completa. Também no que diz respeito & convergéneia das séries de Fourier, a teoria é por vezes apresentada sem qualquer de- monstrago, como se fosse um receituario misterioso, e outras com demasiados tépicos, adicionais (em disciplinas posteriores) que padem causar confustio numa primeira abor- dagem. Uma caracteristica principal deste texto € que tudo ¢ demonstrado, com a tinica excepsio de algumas aplicacées a equacbes diferenciais parciais no Capitulo 8 , mas sem- pre de uma forma tio simples quanto possivel e mantendo um nivel analogo em todos os t6picos estudados. Conteido apropriado, Naturalmente, considero que seria desejavel, para uma formacio mais completa c abrangente, cobrir muitos outros tépicos, destas ¢ de outras areas. Mas isso no se compadece com os planos curriculares de muitos cursos, pelo que me parece im- portante fazer assumidamente uma introdugio rigorosa ao longo de toda a exposicao, naturalmente com uma seleccfio apropriada dos tépicos estudados, Claro que a incluso simultdnea de andlise complexa e equagdes diferenciais num mesmo texto foi também causada pelo contexto particular no Instituto Superior Técnico onde lecciono ha varios anos uma disciplina com este contetido, No entanto, ha uma relagio profunda entre as duas dreas (como entre muitas areas da matemética),¢ tanto quanto possivel tentei tornar esta relagio mais aparente em diversos pontos da exposigao. PREFACIO Este livro é pois apropriado para uma disciplina semestral de andlise complexa e equacoes difercnciais, sinmultaneamente com as caracteristicas de acessiblidade ¢ rigor, nivel consistente, e contetido apropriado, Assumidamente, uma caracteristica principal do texto é também a sua simplicidade, tanto quanto o material o permite sem abdicar das caracteristicas anteriores. E minha opinigio que ha mais vantagens que desvantagens em apresentar a matematica, seja a ‘que nivel for, da forma mais simples possivel, cvitando numa primeira abordagem © que é mais técnico ou detalhado. Propositadamente, nao sio discutidas aplicagdes dos t6picos estudados a outras areas, seja da propria matematica, da fisica, da engenharia ou de outras areas do conhecimento, natural- mente independentemente da sua importancia, Estas aplicagées esto detalhadas em referén- Gas incluidas na bibliografia. Este é assumidamente um livro de matematica que pretende ser acessivel e auto-contido, também com um tamanho controlado € sem comprometer as carac- teristicas ja detalhadas acima. Ora isso nfo seria de todo possivel com a inclusio consistente € rigorosa de diversas aplicagdes. ‘Um agradecimento muito especial é devido & Claudia Valls pelo seu encorajamento e pela sua ajuda fandamental, que determinaram a progressio répida da escrita deste texto. Luis Barreira Barcelona, Abril de 2009 ANALISE GOMPLEXA NOGOES BASICAS | NOGOES BASICAS Introduzimos neste capitulo 0 conjunto dos néimeros complexos, bem como algumas nogdes basicas. Descrevemos nomeadamente a adigio, a multiplicago, as poténcias ¢ as raizes de nGimeros complexos. Introduzimos ainda varias fincées que sio uma extensio natural de outras tantas no caso real, como a exponencial, 0 coseno, 0 seno € 0 logaritmo. 1.1 NUMEROS COMPLEXOS Introduzimos primeito © conjunto dos niimeros complexos como © conjunto dos pares ordena- dos de nimeros reais com determinadas operagies de adiga0 € multiplicagao, Definigao 1.1 O conjunto C dos mimeros camplexos 6 0 conjunto R? dos pares ordenados com as operagies (a,b) + (a',b’) = (a+a',b+0') (1) (a,b) - (a', 6) = (aa’ — bb", ab! + ba’) (1.2) para quaisquer (a, 6), (a’,2/) € R?. Notamos que o produto de miimeros complexos em (1.2) nao é 0 produto interno. Podemos verificar facilmente que as operagdes em (1.1) ¢ (1.2) sio comutativas, isto é, temos (a,b) + (a',b') = (a',b') + (a,b) (a,b) -(a’, b') = (a‘,B/) - (a,b) para quaisquer (a,b), (a’,b/) € R?. Exemplo 1.2 ‘Temos por exemplo (5,4) + G,2) = (8,6) (2,1) - (-1,6) = (2- (-1) —1-6,2-6+1- (-1)) = (-8,11) 6 | xumpros compLexos Para simplicidade da notagao escrevemos sempre (a,0) =a, identificando pois 0 par ordenado (a, 0) € R? com o niimero real a (ver a Figura 1.1), Defini- ‘mos a unidade imagindria por (ver a Figura 1.1) (0,1) Figura 1.1: Nimeros reais e unidade imagindria Proposigao 1.3 Temos i? = -Lea+ib (a,b) para quaisquer a,b € R. Demonstragao. De facto, =(0.1)-(0,1 =(-1,0)= a+ ib=(a,0) + (0,1) - (6,0) = (a,0) + (0,8) = (a,2), como queremos mostrar, a ‘Temos portanto C= {a+ib:a,beR}. Introduzimos agora algumas nogies basicas. Definig&o 1.4 Dado z = a+ ib € C, dizemos que a é a pare real de ze que b &a parte imaginéria de z (ver a Figura 1.2). Escrevemos ainda Re(a+ib)=a © Im(a+ib) Figura 1.2: Parte real ¢ parte imagindria Exemplo 1.5 Se z= 2+ 13 entioRez =2eImz =3. Definig&o 1.6 Dado z € C na forma z= rcosd + irsend, (13) comr > 060 € RB, dizemos quer &o méduls de 2 ¢ que @ é um argumento de 2 (ver a Figura 1.3). 3 | NUMBROS COMPLEXOS Escrevemos ainda Figura 1.3: Médulo, argumento e forma polar Notamos que o niimero real @ em (1.3) nao é tinico. De facto, se (1.3) é satisfeita enti rcos(8-+ 2km) + irsen(8 + 2k) para qualquer k € Z. Podemos demonstrar facilmente o seguinte resultado. Proposicao 1.7 Sez=a+ib © Centao a4 tg (b/a) sea > 0, mf? sea=0eb>0, arg? = (15) te M(b/a) +m sea <0, —n/2 swea=0eb<0, onde tg desigua wma qualquer inoersa da tangent NOGOES BASICAS Segue-se de (1.4) que [Rez] <2] e [mz] <|2|. (1.6) Exemplo 1.8 Se z= 2+ i2V3 entio le] = V2 422-3 = Vib =4 ¢ usando o primeiro ramo em (1.3) obtemos 2V3 8 tg arg2 = tg quando tg! € a inversa da tangente com valores no intervalo | — 2/2, 1/2|. O seguinte resultado é uma consequéncia imediata da Definigao 1.6. Proposigao 1.9 Sz = 29 enlto |24| = |2a| e angen — arg zz = 2k para algum k € Z. 1.2 FORMA POLAR E frequentemente titil escrever os nimeros complexos na forma (1.3) ou ainda na seguinte forma alternativa. Definig&o 1.10 Dado z € C na forma (1.3), com r > Oe 8 € RB, escrevemos z = re. Dizemos que (1.3) é a forma cartesiana de z € que z = re"® € a forma polar de 2. Exemplo 1.11 Se z = 1+ icntio |z| = V2eargz = tg7!1 = 1/4, pelo que a forma polar de z € Viet"/4, Descrevemos agora a multiplicagao e a divisio na forma polar 9 10 | FORMA POLAR Proposig&o 1.12 Sez = rye! ¢25 = ree entto an a 2 Demonstragao. Para o produto, usando (1.3) obtemos z122 = (ri.cos@y + iri sen6,)(r2 cos 62 + irz sen 62) =ryrz(cos®) + isen1)(cosB2 + isen 62) = rir2(cos 6; cos Be — sen 0; sen 2) + aryra(cos 4 sen Be + sen Oy cos 82) = rirg.cos(1 + 02) + iri sen(O + 82) = ryrpellOr+2) Para o quociente, notamos que se w = pe" € tal que w22 = 71 entio segue-se de (1.8) que way = pryclet®) — 7 08h Pela Proposigao 1.9 concluimos que pr2=1 € a+62—0, = 2kr para algum k € Z, de onde vem a pei = TH ll6a-es42hx) _ M1 gi(0s-0) a "2 T2 para 22 # 0, como queremos mostrar . Consideramos agora as poténcias e as raizes, também na forma polar. Para as poténcias, 0 seguinte resultado segue-se imediatamente de (1.7) Proposicao 1.13 Sez = rel ek € Nentdo z* = rkeiX, Consideramos agora as raizes de mtimeros complexos. nogors sAstcas | 1 Proposigao 1.14 Se =re'® ek EN enléo os nimeros complexos w lais que w* = z sto AfegilOIrD/e 5 = 9,1,, -1 (1.9) Demonstragio. Se w = pe! é uma raiz de 2 ento segue-se da Proposigio 1.13 que Koike — ppif ? Pela Proposigao 1.9 vem p* = re ka — 6 = 2j para algum j € Z. Portanto w= poll = rl/ei(@42m9)/4 Os Ginicos valores distintos de e(°+?"5)/® sio obtidos quando j € {0,1,...,k — 1} a Notamos que as raizes em (1.9) esto uniformemente distribuidas sobre a circunferéncia com centro na origem ¢ raio r/t Figura 1.4: Raizes quintas de 1 Exemplo 1.15 As raizes quintas (com k = 5) de 1 sfo (ver a Figura 1.4) A gilor2nI)/5 e281, w 0,1,2,3,4. GoNJUGADO 1.3 CONJUGADO. Introduzimos agora a nogo de conjugado de um néimero complexe. Definig&o 1.16 Dado a+ ib € C, dizemos que Z = a — ib é 0 conjugado de = (ver a Figura 1.5) Figura 1.5: Conjugado Claramente re'® entao z, Notamos também que se Proposigio 1.17 Temos 22 = |2/? para qualquer 2 € C. Demonstragiio. Dado z = re’? temos rere i? como queremos mostrar. Proposig&o 1.18 Tomos 2 = para quaisquer 2,1 € C. NOGOES BASICAS Demonstragio. Se 2=a+ ibew =a +i entio (Fi) +(e Fi) = (Fa) FIO 4H) =(a+a')—i(b4+0) = (aw) + (a -w) =74+U. Por outro lado, se z= re" ew = r'el®’ entio zw = ret?) € portanto rte OD peal como queremos mostrar. = Exemplo 1.19 Consideremos um polinémio ple) = Sage com coeficientes reais a, € IR. 'Temos ah, = a, para cada k e portanto 7) = Dat Goncluimos pois que as raizes naio-reais de p ocorrem em pares de mtimeros complexos conju- gados. Usamos ainda a nogio de conjugado para demonstrar o seguinte resultado. Proposig&o 1.20 Se z,w € C entdo: a) |2|20 o 13 “ PUNGOES COMPLEXAS by [ew z+ el < [21 + fol. Demonstrag&o. A primeira propriedade segue-se imediatamente de (1.4). Para a segunda i Propt ei notamos que se 2 = a+ ibe w = e+ id entio jew)? = ure = 2027 (1.10) Finalmente, jet wl? = (2+ w)(FF) =(2+w)(Z+0) sett w+ wE+ ww \z|? + |wl? + 2Re(zw). Segue-se de (1.6) ¢ (1.10) que Re(z@) < || = = [z|- lel, e portanto J+ w]? < el? + feo? + 2fe]- bo] = (lel + lel)? Obtemos assim a terceira propriedade. a 1.4 FUNGOES COMPLEXAS Consideramos agora fungées de varivel complexa. Dado um conjunto 2 C C, uma funga0 f: QC pode escrever-se na forma (z+ iy) = u(x, y) + iv(z,y) com u(x,y),v(2,y) € R para cada x + iy € 9, Na verdade, uma vez que identificimos com R2, obtemos fungées u,v: 2 — R. nogors wasicas | 15 Definig&o 1.21 Chamamos a fungdo u a parte real de f € fanco v a parte imagindria de f. Exemplo 1.22 Se f(z) = 2? entio Sa tiy) = (et+iy) =2-y +i2zy ce portanto u(e,y) =2ey, Exemplo 1.23 Se f(z) = 2 entio F(a + iy) = @+ ty)? = 2° — Bay? + i82°y — 9°) © portanto u(z,y) =23— Sry? e v(2,y) =307y—y". Introduzimos de seguida varias fungdes complexas. Definic&o 1.24 Definimos a exponencial de 2 = a + iy € C por = e*(cosy + iseny) Exemplo 1.25 Para z= 2+i0 € Rtemos €* (cos0 + isen 0) = e*(1 + i0) ‘ow seja, a exponencial de ntimeros reais coincide com a exponeneial j4 conhecida. Para 2 = i temos ot a otin = "(cosa + isenm) = 1(-1+40) = — Descrevemos agora algumas propriedades da exponencial. 16 | FUNGORS COMPLEXAS Proposicao 1.26 Para quaisquer 2,w € Cok € Z temas: g) et! = ee ele? = ye ¢ (eR =e; ertithe — @# Demonstragao. Se 2 = 1+ iye w= 2! + iy! entio = fete tilyty) ete +2 fcos(y + y/) + sen(y + 9/)) = e%e* [(cosy cosy" — senysen y’) + i(seny cosy! + seny’ cosy)] = e%e* (cosy + iseny)(cosy’ + iseny’) = (cosy +iseny)e (cosy/ + iseny’) Em particular, pelo que I/e* = ==, Obtemos assim a primeira propriedade, Para a segunda notamos que cosy + ie seny # cosy — ie® seny = e (cosy — iseny) = &[cos(—y) + ésen(—y)] = A terceira propriedade segue-se da primeira, por indugio, e para a quarta notamos que eeHOmk — pxtilytthn) *[cos(y + 2kx) + isen(y + 2kn)] =e (cosy + iseny) =e*, ‘como queremos mostrar, Consideramos agora fungées trigonométricas, NOGOES BASIGAS Definig&o 1.27 Definimos 0 coseno e 0 seno de z & C respectivamente por watitet aac cose Eg sone Se. “ 2 - ti Exemplo 1.28 Notamos que se z = 2 +10 € R entio em per 2 cos z osx +isene + cosx —isen) = cose 1 = pjlcosa + isena — cose +isenz) = sence. i Ou seja,0 coseno © 0 seno de um néimero real visto como mimero complexo sio respectivamente ‘© coseno ¢ 0 seno jé conhecidos. Exemplo 1.29 Resolvamos a equagao cos z = 1, ou seja, it pecs 2 Fazendo w = €* obtemos 1/w = e~* portanto 1 wt w ou seja, w? —2w+1= 2km com k € Z. Exemplo 1.30 Para 2 = iy temos ev te 2° “ Em particulary, a fiangao coseno nao ¢ limitada em C, ao contririo do que sucede em R. Mostra- cos(iy) se que a fungio seno também nao ¢ limitada, O seguinte resultado é uma consequéncia imediata da Proposig&o 1.26. ts | rungors comprexas Proposigao 1.31 Para quaisquer 2 € Ce k € Z tenos cos(z + 2km) =cosz ¢ sen(z + 2km) = senz. Definimos também o logaritmo complexo. Definig&o 1.32 Dado z € €\ {0}, definimos o (ealor principal do) lgaritmo por log = log 2| + iargz com arg €] ~ m7] Exemplo 1.33 Para z= —1 + i0 com x > 0 temos log(—) = log|—al + iarg(—x) = log + ix. Para 2 = i temos ogi = log |e] +5 = log + it Exemplo 1.34 Para z = x + iy com # > 0, segue-se de (1.5) que argz = tg} ale 1 onde tg"! € a inversa da tangente com valores no intervalo ] — /2,7/2[ (para que arg 2 esteja em] —x,71). Portanto log 2 = log |2| + iargz y 2 ee = glog(a? +97) + ice eas fungdes u(z,y) = gloala? +92) © ule,¥) sho respectivamente as partes real ¢ imagindria de log 2. Podemos usar o logaritmo para definir poténcias com expoente complexo, Nogoes Bastcas | 19 ‘onde log z é 0 valor principal do logaritmo. ENotamos que 2° = €°%€? = 1 para qualquer z € C\ {0}- Exemplo 1.36 Temos 2 = et bs? = coslog2 + isenlog2. ‘Como log i = i/2, temos Jlogi — yilin/2) — 9-7/2 Temos também. (Cy = e2ttowD a eailoer tin) A propésito, notamos que (= (Capt = (eit)? = (eitesttin)y? = (e*) Isto mostra que em geral as poténcias (2) e 2%" nio coincidem. 1.5 EXERCICIOS LiL Indique as representacdes cartesiana e polar do niimero complexo: a) (+a. by (24+ 44)/(3-1) P+ 20 EXERCICIOS 1.2 Determine o conjugado de 5(2 + i3)*/(2 + 4). 1.3 Determine o conjunto dos pontos (x,y) € I? tais que: a) a+ iy = |x + iy| b) je + iyl < [e+ iy 1] 1.4 Calcule as rafzes quadradas do néimero complexo: a) i. by l-i 6) 2412, 1.5 Verifique que: a) As raizes citbicas de i sao (V3 + i) /2, (—V3 + i)/2¢ =i. b) As raizes quartas dei sao €'7/8, ef57/8, ef87/8 @ @ilia/s, 1.6 Prove que ||2| — ||| < |2 + w| para quaisquer z, w € C. 1.7 Determine 0 conjunto: Ea 43}, a) {2€C: [2] b) {zeC: 1.8 Determine se é injectiva a fungao: a) ef b) 2+z 1.9 Determine se é sobrejectiva a fungao: a) e. b) 1.10 Determine se é bijectiva a fungi: a) 241 b) 1/(lel + 1). NOGOES BASICAS E21 Prove que |z*| < e* para qualquer z € C\ {0}. £2 Determine as partes real e imagindria da fungio: a) iz’ b) 2/z+1/z. 215 Mostre que a) cos? 2 + sen? 2 = 1 b) cos(z + w) = cos z cos w — sen zsen w. o) sen(z + w) = sen zcosw + cos 2 sen w. d) Re(iz) = ImzeIm(iz) = Rez. [14 Determine todas as solugdes da equacao: a) senz = b) cosz =3. 1.15 Classifique cada afirmagio em verdadcira ou falsa: a) log(zw) = log z + logw para quaisquer z,w € C \ {0} 6) Qualquer fungio periédica em C é limitada. d) A cquagdo sen z + cos z = 1 tem solugdes. ©) A fungio e* — 3cos 2 nunca se anula em C. f) A fungao e®* tem zeros. 1.16 Mostre que para quaisquer 2, w € C temos Jze-w?P?+|zet+u 22? + Jul?) LIT Mostre que se 2" =1ez# Lentiol -z4---+2"-1=0, 1.18 Mostre que sen(nz) sen|(n + 1) sen sen(2z) + sen(4r) + +++ sen(2nz) EXERCICIOS sen(nz) cos|(n+ 1)2] cos(22) + cos(dr) + +++ + cos(2ner) = oe ara qualquer n € N. Sugestio: calcule primeiro e!* + ef +--+ + 62” P lq P SOLUGOES 11 a)—44iede™ b)i+izeV2ei"'7 Ql tic V2", 1.2 -83 + 164. 1.3 a) {(x,0):2>0}. b){(x,y) €R?: (+ §)? +y? < §}. 14 a)e*/4 eeiX/4_ by YDet7/F ¢ YeHST/S, cy YBein/* c PBel*/® 17 aR. b{zeCc 1.8 a) Nao é. b) Nao é. 19 a)Naoé. b)E. 1.10 a) Nao é, b) Nao é. 112 a) —22yea?—y?. b) 3a/(x? + y) e —y/(2? +9"). 11d a)z=krcomk eZ. b)z=log(3+2V2) +é2km com k € Z. 1.15 a) Falsa. Bb) Falsa, c) Falsa. ) Verdadeira, ¢) Falsa. ) Falsa. FUNGOES HOLOMORFAS FUNGOES HoLomorras | 25 Introduzimos neste capitulo a nogo de fungao diferencivel, ou funczo holomorfa, a partir da nogio de detivada como limite de uma razdo incremental. Verificamos que a diferenciabilidade ¢ caracterizada por um par de equagdes, as chamadas equagdes de Cauchy-Riemann, Intro- uzimos também a nogio de integral ao longo de um caminho ¢ mostramos que este conceito esta intimamente relacionado com a nogio de fungio holomorfa. Finalmente, introduzimos 2 nogio de indice de um caminho fechado, obtemos a formula integral de Cauchy para uma fang&o holomorfa e discutimos a relacdo entre integrais ¢ homotopias do caminho. 2.1 LIMITES E CONTINUIDADE Seja f: 9 — C uma fungao complexa num conjunto © C C. Escrevemos sempre f(u + iy) = ulz,y) + tv(z,y), onde we v sio fungies reais. Introduzimos primeiro a nogdo de limite. Definigio 2.1 Dizemos que existe o limite de f em zq = 29 + iyo € De que este é dado porw up + ivp se (ule.),v(@sy)) = (uo, %0)- lim (eu) (20.00) esse caso escrevemos lim, f(2) = w. Introduzimos agora a nogo de continuidade. Definigao 2.2 Dizemos que f é continua em 2 € 2se slim £2) = F(@0)- Dizemos também que f € continua em se € continua em todos os pontos de Q. 26 DIFERENCIABILIDADE Exemplo 2.3 temos Para a fiangio f(z) u(y) =2°— ye v(a,y) = 2xy. Como as fungdes we y sio continuas em R?, a fungao f é continua em C. Exemplo 2.4 Mostramos que a fungi f(z) = log z nao é continua em nenhum ponto 2 = —2 + i0 com © > 0. Para w € C no segundo quadrante e fora de R~ temos log w = log jw) + targw comargw € [71/2,a[. Para w € Co tereeiro quadrante ¢ fora deR™ temos a mesma formula mas com argw €]—", 7/2]. Fazendo w — z obtemos respectivamente no segundo ¢ terceiro quadrantes logw —+ loge + ix logw — logx — in Como estas expressdes no sfo iguais, nfo existe o limite da fungo logaritmo em nenhum ponto de R™. Assim, 0 logaritmo nao é continuo em R~. Por outro lado, mostra-se que € continuo em C\ Ry (ver também o Exercicio 2.20). 2.2. DIFERENCIABILIDADE Consideramos agora uma fino f: © — C num conjunto aberto 9c C. Definigao 2.5 Dizemos que f € diferencidcel em zq € Ose existe o limite Heo) = tn £2) 160), eo Z— 2 Chamamos entio a f"(zo) a derivada de f em 20. FuNGOES HoLoMoRFAs | 27 Introduzimos também a nogao de funcao holomorfa. Definigao 2.6 Quando f é diferenciavel em todos os pontos de 9 dizemos que f é holomorfa em Q. Exemplo 2.7 Mostramos que a funcdo f(z) = 2? € holomorfa em C. De facto -2% lim = fg SE Et a gm me zm =e 29) = 229; ¢ portanto (22)! = 22, Mostra-se também que ey para qualquer n. € N (com a convengao de que 0° = 1), Exemplo 2.8 Para a fungao f(2) =, dado h = re’? temos @y Como ¢7? varia com #, nao existe o limite em (2.1) quando r — 0. Assim, a fungao f nao é diferenciavel em nenhum ponto. Exemplo 2.9 Para a funcio f(z) = |z|?, dado h = re'® temos f@+h—f@) _ (@th)\@+h-z h h zh+Zh+hh h zhi oup =Gteek are “0 gt etre” re =e 4 ze rez 28 | pirERENCIABILIDADE quando r — 0. Para 2 # 0, como este limite varia com 6, nao existe a derivada em 2. Por outro lado, F(2) = F(0) z _ PL “a quando z — 0. Portanto, f/(0) = 0. Em particular, f s6 é diferenciavel na origem. As seguintes propriedades obtém-se como em R, pelo que omitimos as demonstragies. Proposigao 2.10 Dadas fingies f,g: 2 —+ C holomorfas em O temas: gy (ftal=f+gs » (fay = f'9+ Fos 9 (S19)! = (S’9 — f9')/9 nos pontos onde g #0; d) (fog) =(F'og)o’ Mostramos de seguida que qualquer funcio diferencidvel é continua. Proposic&o 2.11 Se f 6 diferencivel em 29 entao f & continua em Zo Demonstragao. Para z # 2 temos fi F(2) — Fo) = — 20) operant sim, f2) = Jim [f(2) ~ f€0)] + 4(20) = f'(20)-0+ f(20) = f(20), emacs . Descrevemos agora uma condigao necesséria para a diferenciabilidade num ponto. FUNGOES HoLoMorRras | 29 Teorema 2.12 (Equagdes de Cauchy-Riemann} So f 6 diferancidvel em 2 = 20 + typ entdo Ou _ dv az dy * am (0; ¥o). Além dss, a deioada ¢ dada por Fea) = 2 (ao, y0) +452 90). [Demonstrapia. (Escrrvendo (en) =irt¥b tema Fae ~ 29) = (0+ i) lee 10) +10 ~ w) = [a(x — 20) — O(y ~ yo)] + a(x — 20) + éa(y — yo)] = (zou IG, o=(%, ‘). S(2) ~ f(z0) — f'(0)(2 = 20) = (u(a,y), (2) — (u(@o, Yo), v(ar0, yo)) — (% — 0,y — yo)C- onde © portanto, Para z # 2 temos (2) = f(40) = f'Go)(z = 20) [z= 26] _ £(2)= flea) = S'eo(z= 20) 2-20 z= % lz = 20] 12)- S20) _ yay) 2-0 = (EL — pe) ES none 2=20)_ jamal _lz-20l _ 20l| ~ [eal ~ 2= al” obtemos L(2) = f(20) = fo) —*) _, 4 lz— 20] quando 2 — 29, Isto é 0 mesmo que (u(@,y),0(@, ¥)) = Calo, 20), (Zo. Yo) = (@ = zo1¥= W)C _, 4 I@ = 20,4 = yo) 22) 3) (24) so | pirereNcrapiLipaDe quando (2,4) — (x0, yo), pois lz — 20] = |I(#— 20,4 — vo) |. Segue-se de (2.4) que (u(z,y),v(a,y))* = (u(z0,@0), veo, yo))* = Ce = zoy = wo) _, ° I= 20. —w)l quando (xr,y) — (zo, yo), onde A‘ denota a transposta da matriz A. Segue-se da definigao de diferenciabilidade cm IR? que a fungao F: 2 + R? dada por F(a, y) = (u(x,y), u(y) 2) € diferenciavel em (20, yo) com derivada $2 (#0, wo) cee) (; a) DF (20,40) = (2 a a : fom) G ory) B2(to, 0), Concluimos assim que sto satisfeitas as identidadees em (2.2) : Designamos as equagdes em (2.2) por equacies de Cauchy-Riemann. Exemplo 2.13 Scja F(x + iy) = ulz,y) + iv(x,y) uma fungao holomorfa em C com u(x, y) = 2? — zy — y”. Pelo Teorema 2.12 sabemos que io satisfeitas as equagdes de Cauchy-Riemann, Segue-se de € da primeira equagao em (2.2) que Portanto para alguma fungio C. Derivando obtemos du ov oe 9) =o 99 —G! a—Qy e¢ 2y — C'(«). FuNGOFS HOLOMORFAS | 31 Portanto — 2y = —2y — C(x), ou seja, C"(2) = x. Conchuimos assim que O() = 22/2 +e para algum c € Re 2 Ze v(e,y) =F +22y— Pte Temos entio f(a +iy) 2 2 * ayy?) +i(F +2ry-F 40). Reagrupando os termos obtemos Fle-+ iy) = (a? — y?) + i2ey) + [-a+i(2 -#) tie = 4 il? 9? =e +5[¢ w?) + i2xy] + te 2+ ie sien (145) 2400 Em particular, f"(2) = (2-+a)z. Exemplo 2.14 Mostramos que uma fungio f = u + iv holomorfa em C nao pode ter parte real u(x, y) = x? + y?, Caso contrario, pela primeira equagio de Cauchy-Riemann teriamos Ot oe Oz ~~ Oy ¢ portanto v(z,y) = 2ey + C(x) para alguma fungéo C. Mas pela segunda equagio de Cauchy-Riemann, como av a Hye F=w+C), ae teriamos também 2y = -(2y + C'(2)) ¢ portanto C"(z) = —4y. Mas esta identidade nao pode ser valida para quaisquer x,y € R. Por exemplo, derivando em relagio a y terfamos 0 = —4, 0 que ¢ impossivel, Como ilustragio dos conccitos anteriores, descrevemos de segnida condigées para que uma, fungao holomorfa seja constante, Recordamos primeiro a nogo de conjunto conexo. s2_ | pireRencianiipaDE Definigdo 2.15 Um conjunto 9 ¢ C diz-se desconexo se © = AU B com Ae B niio-vazios tais que Um conjunto 9 C C diz-se conexo se niio & desconexo. Introduzimos também a nocao de componente conexa de um conjunto. Definig&o 2.16 Dado C C, dizemos que um conjunto conexo A C é uma componente conera de Ose qualquer conjunto conexo BC @ que contém A coincide com A. Notamos que se um conjunto © € € é conexo entao ele € a sua tinica componente conexa. Mostramos agora que em abertos conexos as fungdes com derivada zero sfo constantes. Proposigao 2.17 Se f 6 holomorfa rum abertoconexo Oe f’ = 0.em 0 entao f &constante em O. Demonstracio. Por (2.3), temos pelo que, usando também as equagdes de Cauchy-Riemann, au _ Ou _ de dx dy Consideramos agora pontos a + iy ea + iy! em Q tais que o segmento (de recta) que os une esta totalmente contido em ©. Entao, pelo Teorema do valor médio, u(x, y) — ule, y') Healy Sl onde z é algum ponto entre y ¢ y’. Analogamente, ov v(a,y) —o(z,y) = 2 (a, w)y — (2,) —v(z,¥)) = 5 (@w)y—¥/) onde w é algum ponto entre y € y'. Isto mostra que fle +iy) (a+ iy’). (2.6) FUNGOES HOLOMORFAS Mostramos de forma andloga que se + iy’ e a” + iy/ sfio pontos em @ tais que o segmento que os une estd totalmente contido em © entao fle t+iy’) = f(a’ + ty’) 27 Consideramos agora um rectingulo aberto R. com lados horizontais e verticais que esta total- mente contido em 92, Dados # + iy, 2" + iy! € R, 0 ponto x + iy! também esti em R, bem como o segmento vertical entre c+ iy e + iy" eo segmento horizontal entre x + iy’ ea! +iy/ rnotamos que cada um destes segmentos pode reduzit-se a um ponto). Segue-se entto de (2.6) (2.7) que f(x + iy) = fle +i’) = f(a’ + wy’). Isto mostra que f € constante cm R. Consideramos finalmente sucessies Re = (Rn)new de rectingulos como acima tais que Ry = Re Rn 1 Rngi # 9 paran € N. Definimos Un=UU Bo. Raat Notamos que Up é aberto (pois é uma unitio de conjuntos abertos) e que f é constante em Up, pois é constante em cada unio Un? ; Rn. Além disso, o conjunto Up é conexo pela sua propria construgio. Se Ug nao ¢ uma componente conexa entio como @ é aberto existem 2 € Up \ Up, uma sucessio Ry em € N tais que Ry 1S ¢ @ para algum rectingulo SC Qcomo acima centrado no ponto z. Logo, § é elemento de alguma sucesso Rip, pelo que § C Up. Mas por outro lado, $9 (2.\ Un) # ; pois $ esta centrado num ponto da fronteira de Up. Esta contradigo mostra que Up € uma componente conexa de @, ¢ como 2 éconexo coneluimos que Up = 0. Portanto f é constante em 2. . Descrevemos de seguida varias aplicagées da proposi¢ao anterior. Exemplo 2.18 ‘Mostramos que para uma fungio holomorfa f = u + iv num aberto conexo, se u € constante ou v é constante entao f é constante, Se u € constante entio Farin) 33 4 CONDIGAO DE DIPERENCIABILIDADE, € segue-se da Proposigio 2.17 que f é constante. Analogamente, se v é constante entio ; Ou | dv f'{a+iy) oat ae Ov Ov dy Or f é também constante. Exemplo 2.19 ‘Mostramos agora que para uma fungio holomorfa f = u + iv num aberto conexo, se |f| € . constante ent&o f é constante. Notamos primeiro que | f|? = u? +v? é também constante. Se a constante é zero entdo necessariamente u =v = Oe f = u+ iv = 0. Suponhamos agora que a constante é ¢ # 0. Entio u? + v? = ce derivando vem ou av dus, +205, =0 ‘Usando as equagées de Cauchy-Riemann, podemos reescrever conjuntamente estas cas equa- C -)@) ‘Ges na forma Gomo o determinante da matriz. é —(u? + v?) = —c # 0 temos necessariamente du _ dv _4 dx ~ Be ~ € portanto fi Segue-se novamente da Proposigdo 2.17 que f é constante. 2.3. CONDIGAO DE DIFERENCIABILIDADE © exemplo seguinte mostra que para que f seja diferenciavel num ponto zo néio basta que as equuagdes de Cauchy-Riemann sejam satisfeitas nesse ponto. FUNGOES HOLoMORFas | 35 Exemplo 2.20 Mostramos que a fingao f(x + iy) = v/Jey] nao é diferenciével na origem. Dado h=re® = rcos0 + irsend, temos Or send] rd = V|cos sen Bje~. Como esta expressio depende de 6 nao existe o seu limi quando r — 0. Portanto f nao é diferenciavel na origem. Por outro lado u(@,0) — u(0, 0) 2-0 0 au 9g (09) = Lim, Uy oy — yor, WO) — (0,0) 30 a bem como ov av &@,0) = 20,0) =0, Hql020) = Gy (020) = 0 pois v = 0, Assim, as equagdes de Cauchy-Riemann so satisfeitas em (0, 0). Apresentamos de seguida uma condigio necesséria e suficiente para a diferenciabilidade num conjunto aberto. Teorema 2.21 Sciam u,v: 2 — C fagies de classe C num aberto 2 CC. Entao a fiengdo f = w+ iv é holomoyfa em Q see sé se as equagies de Cauchy-Riemann sao satisfeitas em todas os pontos de Q. Demonstrag&o. Pclo Teorema 2.12, se f é holomorfa em Q entio as equagies de Cau- chy-Riemann sao satisfeitas em todos os pontos de 2. ‘Supomos agora que as equacdes de Cauchy-Riemann sio satisfeitas em ©. Isto implica que & g)-C) sR boa 36 | CONDIGAO DE DIFERENGIABILIDADE em cada ponto de {2 (com a e b dependentes do ponto). Por outro lado, como ue v sio de classe C1, a fungio F = (u,v) em (2.5) € diferenciavel em Q. Segue-se também da demons- tragio do Teorema 2.12 que f é diferenciavel em z com f’(zj) = a+ ib see s6 se Fé diferenciével em (to, yo) com DF(oo,10) = (Gow % ca) = (; 2) $520.) $2(e0.4)) \b a Logo, f é diferenciavel em todos os pontos de ©. 7 Exemplo 2.22 Consideremos a exponencial f(z) = €*. Temos u(z,y) =eF cosy e v(z,y) =e7seny, e ambas as fungdes so de classe C! no aberto R?. Como * cosy —e* seny, as equagdes de Cauchy-Riemann sio satisfeitas em R?, Pelo Teorema 2.21 a fungio f € dife- rencidvel em C = RR?. Além disso, segue-se de (2.3) que 12) = OE 4 1M et cosy tie ny =e, x "Ox ou seja, (€?)! =e? Exemplo 2.23, Para 0 coseno ¢ 0 seno temos respectivamente tan (< +e (sen z)! = 08 Z. FUNGOES HoLoMoRFas | 37 Exemplo 2.24 Determinemos agora todos os pontos onde a fungdo F(e-+ iy) = ay + ia é diferenciavel. Temos u(z,y) = v(a,y) = ay. As fungdes u¢-v sao de classe C* em R?. Por outro lado, as equagdes de Cauchy-Riemann eee dz” By © By Or tomam a forma A nica solugdo 6 = y = 0. Pelo Teorema 2.12 sabemos que a fungao f no é diferencivel em nenhum ponto de C \ {0}. Mas como 0 conjunto {0} no é aberto nao podemos aplicar 0 Teorema 2.21 para decidir se f 6 diferenciavel na origem. ‘Temos pois de usar a definigao de derivada, isto é temos de verificar se existe 0 limite de f@+iv)-f(0) _ yd +8) @+iy—0 atiy quando (,y) > (0,0). Segue-se de (1.6) que lel -lylv2 Je + iv] zy(1 +i) a+iy < vic + iy| +0 quando (7,1) — (0,0) ¢ portanto f"(0) = 0. Em particular, f é diferencidvel na origem. Exemplo 2.25 Consideremos agora a fungio f(2) log 2. Segue-se de hoes glogeltiange = ell2l gia Jalen = 2 que log = é a inversa da exponencial. Portanto, se log 2 é diferenciavel em 2 entio (ers 38 | casunnos & INTEGRAIS e segue-se da formula para a derivada da composta na Proposicao 2.10 que een (log 2)! Ou seja, (log2)’ = az = 5 Mostramos agora que log z é diferencidvel (pelo menos) em R+ xR. Para isso usamos a formula 1 logs = 5 log(a? +92) + ig é (2.8) obtida no Exemplo 1.34 para x > 0. Segue-se de (2.8) que Ou_ to fet Oz +y Oy T4+(y/e? Pty a ee Oy +y? Ae 1+ (yf? a+ y? Portanto, pelo Teorema 2.21 a fungio log z € holomorfa em R* x R. 2.4 CAMINHOS E INTEGRAIS Para definir o integral de uma fungao complexa introduzimos primeito a nogo de caminho. Definigao 2.26 Uma fungio continua ¥: [a,8] + © C C diz-se um caminko em 9 ¢ a sua imagem (a, b]) diz-se uma cua em 0 (ver a Figura 2.1). Notamos que uma mesma curva pode ser a imagem de varios caminhos. Definimos agora duas operagdes. A primeira é a inversa de um caminho. Definigao 2.27 Dado um caminho 7: {a, | — 9 definimos 0 caminho ~7: [a,b] + © (ver a Figura 2.2) por (Nt) = a+ b-2), para cada t € [a, 8 FUNGOES HoLoMoRFas | 39 0) (0) a) (a) Figura 2.1: Caminhos e curvas | 0) Cala) i } 4 a) Ho Figura 2.2: Caminhos ye —7 4o | camrsnos & INTEGRAIS A segunda operacio é a soma de caminhos Definic&o 2.28 Dados caminhos 7; : [a;, bj] > 2 para j = 1,2 tais que 71(b1) = 72(a2) definimos o caminho ya +72: [abi +2 — a2] > Q (ver a Figura 2.3) por ee Me sete laybih alt —bi ag) set & [b1,b, +b. — ag], 71 (b1) = y2(a2) ig " alba) (a1) Figura 2.3: Caminho 1 +72 Consideramos ainda as seguintes propriedades. Definig&o 2.29 Um caminho 7: [a, 6] > © diz-se regular se é um caminho C tal que ¥(t) # 0 para qualquer t € [a,b], tomando derivadas laterais nos extremos do intervalo (a, b} Definigao 2.30 Um caminho -y: [a,b] + 0 diz-se seccionalmente regular se existe uma partigao de [a, 6] num niimero finite de subintervalos [a,, bj] tais que cada caminho 7;: [a;,bj] + © definido por g(t) = 1(@) para t € [aj,b,] é regular, tomando derivadas laterais nos extremos do intervalo (a, bj] ‘Temos entaio 0 seguinte resultado, Proposicao 2.31 Sey é seccionalmente regular entao > [ l'Oldt < ve. FuNGOES HoLomoRFas | a1 Demonstragio. Como 7 é seccionalmente regular, a fungio t + |4/(t)| ¢ continua em cada intervalo [43,0] na Definigo 230. Portanto ¢ + |y/(E)| é integravel A Riemann em cada intervalo [ay, bj] ¢ logo também na sua unio [a,b 2 Chamamos a Lo comprimento do caminho + Exemplo 2.32 Sejay: [0,1] + Co caminho dado por 7(¢) = t(1 +4) (ver a Figura 2.4). Temos ' 1,=f rol fi rl [nria=v3 b lta Figura 2.4: Caminho 7 no Exemplo 2.32 Exemplo 2.33 Seja 7: [0,22] + Co caminho dado por y(t) S t= [ole 2x = [Co rat= ann, 0 et (ver a Figura 2.5). ‘Temos [rie | at lcost + ésent| = y/cos®t + sen?é = 1 a CAMINHOS F INTEGRAIS Figura 2.5: Caminho 7 no Exemplo 2.33 Introduzimos agora a nocio de integral. Definic&o 2.34 Scja f: © + Cuma fangio continua e seja7: [a, ] + um caminho seceionalmente regular. Definimos o indegral de f em 7 por fi-f * polayn'cae 5 : = f rerown'olaess [miro@yolan [i [roe ‘Notamos que com as hipéteses da Definigao 2.34 as fungdes tro Relf(r(t))V'(O]_ & t> IM[FO®)7'O] sio integraveis & Riemann em (a,b), pelo que o integral f., f esté bem definido. Escrevemos também. Exemplo 2.35 Calculamos o integral [, Rez dz para os caminhos 71,2: [0,1] > C dados por PCL +i). nlt)=t(1+i e lt) FUNGOES HoLoMoRFAs | 43 ‘Temos ‘ [ rerae= [ Refé(1 + a)] - [1+ 0] at he 1 2 t ati -f t (+)a=F0+9), - 1 f Rezaz= [ Re{t?(1+4)]-(?(1+ a) de I 0 21+ a) dt 1 -[ 2 (1+ i)dé fh tt a =5+i) t lta lo 2 Exemplo 2.36 Caleulamos agora o integral [, Re dz para o caminho 7: [0,27] > C dado por 7(t) = e'*. ‘Temos Re 7(#) = cost ¢ portanto 2m [Reede= | cost ie! dt y 0 ae oft 4 git ete - [ Se lt ly 2 an =f ipeaie = (igre i = ge +1dt (i +i) = GE 1) + 50n-0) = 0+ im =i 2m lo ‘Temos também as seguintes propriedades. Proposic&o 2.37 Se fg: 1 © sao fines continuas ey: [a,b] —> 6 um caminho seccomalmente regular entao: 4) para quaisquer ¢,d € C temos fe ef + dg) efsrafs “4 CAMINHOS F INTEGRAIS y sempre que c: [p,q] —+ C &um caminka secioncdment euler com o(p) = "(b) tos [ i= [ f+ [ ie ra reli ar Demonstragio. Para a segunda propriedade notamos que (-1'() = -7 (a+ 6-8) © portanto : [ J [ivor-v'oau 3 Sih ~fO(a+b~t))7(a+b—t) at Fazendo a mudanga de varivel a +b — t = 8 obtemos Lief “Folay/(a)as --f ” FOL) (0) ds = — fs ‘como queremos mostrat. As outras propriedades resultam imediatamente das definigies. Mencionamos ainda mais duas propriedades. Para a primeira necessitamos da nogdo de cami- tnhos equivalentes. Definigio 2.38 Dois caminhos 7; : [aj,bj] + C para j = 1,2 dizem-se equivalentes se existe uma funcao 9: [az, bo] — [ar, ba] bijectiva e diferenciével com g! > O tal que yw» = 1g. ‘Temos entao o seguinte resultado. Proposigéio 2.39 Sef: O + C é wma fingto continua ¢ 4 € 2 so caminhas em Q seccionalmenteregulares e equivalentes: Leos entao FUNGOES HOLOMORFAS Demonstragao. Temos ‘ [t= [ fontorswae = [ Keneororttemeoae Fazendo a mudanga de varidvel s = g(t) obtemos [ue [ : Flouls))n4() ds = f A como queremos mostrar, Obtemos de seguida uma estimativa para o médulo do integral. Proposigao 2.40 Sef: 0+ C é uma fing continua ey: [a,b] > 2 é um caminko seccionalmente regular entda ; | f tls [vo@n oars typ {\re—oyl te ftp Demonstragao. Escrevendo J, f = re'®, temos fi “Foy Wat. Gomo | f, f| é real, segue-se de (1.6) que ff = [ Re [e~ F(y(t) '(t)] dt i < [ie*soor'ola. Como |e = 1, obtemos |/] < f oWyrwlae . < [ W@lat-sup (VO): fab} = Ly sup {If(v(t)| + # € (a, 5]}, como queremos mostrar, 45 46 PRIMITIVAS Exemplo 2.41 Consideremos o integral f_ 2(z ~ 1) dz para o caminho 7: [0,1] + C dado por 7(t) = 2 [ [2ie®| dt = 2n. lo Como |7(¢)| = 2 para cada t € [0,7], obtemos ‘Temos [s]s trp {le@ D122 € aD} < 2nsup{|z?| + |z|: 2 € (0, 7])} = 2n(4 +2) = 127 Por outro lado, = [ber -10Kv"oae 0 2.5 PRIMITIVAS Para o calculo de integrais ¢ itil conceito de primitiva, Seja f: 0 > C uma fungao. Definigao 2.42 Diz-se que uma funcio F: 2 + C é uma primitioa de f no conjunto Q se F é holomorfa em 2 cF=femQ. ‘Mostramos que em conjuntos conexos todas as primitivas diferem por uma constante. Proposigao 2.43 Se F e G sto primitioas de f mum aberto conexo ©. entto F ~ G é constante an 9. Demonstragao, ‘Temos (F-GY=F'-@’=f-f=0 em ®. Segue-se entdo da Proposicao 2.17 que F — G € constante em . FUNGOES HoLOMoRFAs | 47 As primitivas permitem calcular integrais, da seguinte forma. Proposigao 2.44 Se F € uma primitia de wna fingao continua f 2 —> C no conjunta Oey: [a,b] > 26 um caminko seecionalmente regular entda [5=F60)- FOU). l Demonstrag&o. Scjam [a,j] para j yess com by = 02, by = 03,.-.5bn—1 = ny os subintervalos de [a,b] onde 7 é regular, Notamos que a fungiot ++ f(>(t))9/(t) é continua em cada intervalo [a;, 0j]. Obtemos entao [f= ie ef Foon ae any ->f ” Fete) 7! (t) dt = Da (Foy) (dt aia F (00s) — F(a(a3))] = FO) - FO(@)), como queremos mostrar. s Exemplo 2.45 Consideremos o integral J, (2° + 1) dz onde o caminho +: [0,7] + C é dado por 7(t) = ev Pa Ge) =41, Como afungio F(z) = 24/4 + z é uma primitiva de 2° + Le | [e +1)dz = F(o(n)) - F(0)) 5 “CG Consideramos agora caminhos com 0 mesmo ponto inicial e final. Definigao 2.46 Um caminho 7: [a,] > C diz-se feckado se (a) = 7(b) (ver a Figura 2.6) O seguinte resultado segue-se imediatamente da Proposicao 2.44. as | priurivas Figura 2.6: Caminho fechado Proposigao 2.47 Se f: QC & uma fungao continua com primitioa no conjunto 2 ey: [a,b] + 2 é um caminko seccio- [rs Mostramos de seguida que as fungdes holomorfas tém primitiva. Recordamos que um conjunto nalmente regular fckado entdo CC se diz convexo se para quaisquer 2,w € Qe t € [0,1] temos tz + (1— tw EQ. Teorema 2.48 Se f: © C.é uma fing holomayfa num aberto convexo OC C entao f tem primitiva em Q. Mais geralmente temos o seguinte resultado. ‘Teorema 2.49 Se f: © C & uma fimgao continva mun aber consex0 2 CC e existe p € tal que F & holomorfa om Q\ {p} entao f tem primitioa em O. Demonstragao. Fixamos um ponto a € 9. Para cada z € 9 consideramos o caminho 2: (0,1) + Q dado por y(t) = a+ t(2—a) (lembramos que 2 € convexo). Definimos enti uma fungéo F: 2 C por F@=| fF Me FuNGOES HoLomorras | 49 Mostramos primeiro que F(e+h)- F(2)= [ 4; (2.9) com o caminho a: [0,1] + € dado por a(t) = 2 + th, Isto é 0 mesmo que Pneaset bet LP Joa? =Fe)+ [ s-F(e+h) 0. eth Yeth Figura 2.7: Triangulos Ay, Ag, Age Ay Seja A o triéngulo cuja fronteira é percorrida pelo caminho 7z -+ a + (Yen). Supomos primeiro que p ¢ A. Dividimos o tidngulo A em 4 triangulos, Ai, Ao, Ag e Aa, adicionando segmentos de recta que unem os pontos médios dos lados de A (ver a Figura 2.7), Entéo e Da tuma vez que se anulam os integrais ao longo de lados comuns dos triéngulos 4, pois tém sinal contrério, Notamos que existe i tal que | faa, f| 2 lel/4, ou terfamos ons far] peaBoqur wy) & “1 Td a th 2d td sooniga woo By a Ly sopSuytn so Sop ue opusuMEre oad 9 ont ‘oq Soraey aq “(6°% emMBUY v 209) aoNIPA oMOD dw} anb sope] Sou % a Th sowuod sod sopeuruuarap sojnSuenn sezoprstos wiseq Y ap 2NIDA UM 9 Sd = d opueNy “td v oysodo ope] ou ys donb apepyeaata® ap prod uras opuodns “(g'z eansiy v saa) d ‘8d “td 9 d“%d ‘td 10d sopeuruuarep somBuvin so serapssuo9 somapod Wy ap saonaga so Sd ‘2d ‘Td opuas ‘oLEnUOD ost9 ‘CIDE ACL song wn 9 d anb wo ose> o rezoprstioo wiseq anb soumony “Wy 3 d nb tose sowiodng 72) so9paqeiso anb 09 = f Vf = 9 aonb soumppuos 9 — 2 opuazey no wees | f [ars anb (11-2) 2 (01-2) ap as-anBas ‘wissy wa 2 G/ (02 — 2)(02),f — 2(02)f— vantusud w wor (02 — 2)(02),f — (02) f— ‘opey onno 10g 0 = =P ll — =)(02),f — ownentod ara) aes = “Vegas cove piles —=y(e2)f— (=F —Ce)s) | sowua) opuess quowoUsDYNs U eed “V7 ap opLoUTAduIOD 0 9 VET apuo every = VE 2 (uy ap onuawudu0s 0 owtoD ‘ouanbad amauraitarayns 9 |9z — 2] anb aidwias loz — 2s > |(02 — 2)(02),f — (2) — (2) Souln 9 < 2 pep 47 3 9 ojuod epeD ered “Vy wid wpLOWOJOY, 9 f OUIOD anb wIOBe soUTEON oer (11) y 2p opp eed sopngo F sop wn opuas ([ —u)y sono ou opputos wan epeD (u) a (ora) anb per sojnfiugin ap opssoons eum sorgo wed ‘7 omBuplN a1s9 Wo OluawNSE © anedax sourspog SVALLINDLL | 06 FUNGOES HOLOMORFAS | 51 Po PL Ps Figura 2.8: Caso em que p est num lado de A. Seja agora A’ o triingulo determinado por qi, g2,p. Fazendo q1 — p € g2 — p concluimos que | < Low sup {|f(2)| 12 A’} = 0, aa uma vez. que Loa’ — 0. Mostramos que Fé uma primitiva de f. Temos FEHB APE 902) =F fine seas, a [seas [ sena=sen. Como f € continua, dado ¢ > 0 temos | f(¢) ~ f(z)| < sempre que |¢ — 2| € suficientemente pequeno. Portanto FEAF _ 709 < 1 Aa [u@- 1014] < % - sempre que |h| é suficientemente pequeno (pois |¢ — 2] < |hl). Fazendo = + 0 obtemos Pz) = f(z). . By oF ” am de =a sod vpep 9 quad vam (¢1°z) 10d ‘ossip wapy “3 wa vapunid war f anb GFZ eusoi0ay, op as-anfiag -{g} \ 3 we epowofoy 2. wa eMUEAUOD 9 O= 208 I #298 2z/rus =O copsury 8 “WIS nb (1-4 opduraxgy 0 428) apawy ste sousaI2, I9'% Ordway, (ra) 2) souiaigo 9 = » opurwoy seonsed way 9 ra 4p (v—2)((0—2)2+ 0) fF [-@2 : aod epep 2 f 9p (9)% souras g}°z varioay_ op ogSenstourap BU *L oNUIUD o IE vapruud eum 20 cz ofduroxg 7 ap sons we vasa d anb wo osen 36°z BANE oD td SYALLINIYd | 25 Fungors HoLomorras | 53 seguinte resultado segue-se imediatamente do Teorema 2.49 e da Proposigéo 2.47, ‘Teorema 2.52 (Leorema de Cauchy) Se f : 1+ C é uma fimo continua mum aberio comvero 1 & C e existe p € GL tal que f é holomorfa em Q\ {p} entao [ f=0 ‘para qualquer caminko secconalmente regular fechado em 0. 2.6 INDICE DE UM CAMINHO FECHADO Introduzimos agora a nogio de indice. Definicao 2.53 Dado um camino seccionalmente regular fechado 4: [a,b] + C, definimos o indice de cada ponto z € €\ 7([a,0]) em relagio a 7 por dw Ind, (2) Exemplo 2.54 Seja 7: [0, 2x] + C 0 caminho dado por 7(t) =a + re. Entao are ae [ neat = f idt=1 rel O proximo resultado identifica os valores que o indice pode tomar. Ind, (a) Teorema 2.55 Ssjay: (a, 6] + C um caminko seccionalmente regular fchado e soja Q = C\ (a, 8])- Entao: a) Ind, (2) € Z para cada z € Q; B) a fumgao 2 Ind (z) é constant em cada componente conexa de; o) Indy(z) = 0 para cada z na componente conexa ilimitada de Q. 3t INDICE DE UM GAMINHO FECHADO. Demonstragéio, Definimos uma fungio y: [a,b] + C por snl staat) ¥(s) a8) —2 em cada subintervalo [a,, bj] de [a,b] onde 7 € regular. Entdo (62 e para cada j existe ¢; € C tal que ‘Temos (8) = ls) J = eee = 74s)9(s) _ 9 O@)-2? / els) (8) —2 = para qualquer s € [aj, bj]. Mas como 7 € ¢ sto fungdes continuas, conchuimos que existe © € Ctal que os) _ we) -2° para qualquer s € (a, 6]. Em particular, ols) _ of) it as)—2 yla)—z fa)— ou seja, = 105) 8) = 30 Fazendo s = b, como 7 é fechado obtemos (b) = ; ou seja, eld) = exp f re) at) = exp (2ai Ind, (2) = Q14) a2 Notamos que ere] & oeZ, pois 2 = cos(2na) +i sen(2ra). Segue-se entio de (2.14) que Ind,(z) € Z. FUNGOES HOLOMORFAS | 55 Para a segunda propriedade, notamos primeiro que lInd,(z) — Ind,(w)| Ful (S - =) «| 1 z-w glace |z-w| 1 . EA ae (ima aan (t) € [a,b]} > 0. Concluimos entio que [Ind (2) ~ Ind, (w)| < w oe AA e fazendo w — 2 obtemos Ind, (z) + Indy(2). Q.15) Como 0 indice s6 toma valores inteiros, segue-se da continuidade em (2.15) que a fungao 21+ Ind,(z) é constante em cada componente conexa de Q (notamos que como @ ¢ aberto, cada componente conexa de 2 é um conjunto aberto). Para a itltima propriedade, notamos que 218) {y'(t): t € [a, BI} [= sup{o(@) = t € [a,8]})°

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