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= ar = Sere Narcativas do Cotiisno Organizadores César Guimaraes Vera Franga Na midia, na rua: narrativas do cotidiano Auténtica BRAGA, José Lulz. Constituigo do campo da comunicasao. In FAUSTO NETO, Antonio, PRADO, José Luiz Aidar, PORTO, Sérgio Dayerel (orgs.). Campo da comunicagae. caracterizacao, problematizagbes © perspectivas. Jol Pessoa: Editors Universtariny UFPB, 2001. p. 17.39, (CERTEAU, Michel de, A imvengdo do cotidiane: ates de fazer. etpals Vozes, 1994, ELIAS, Notbes. © pracesco civilizador. Rio de Janeiro: Jonge Zahar, 1994. va. FRANCA, V. R. V., Comunicagio, sociabildade @ cotidiano: 0 fio de Ariadne, a palavra da rua, In: FAUSTO NETO, A; PINTO, MJ.. (Org) 0 individuo e as midias. Rio de Jancito, 1996. p. 103-111 GIDDENS, Anthony. 4 transformagao da intimidade. Sio Paulo: UNESP, 1995, HELLER, Agnes. 0 cotidiano e @ Historia, Sto Paulo: Paz € Terra, 2000, > MAFFESOLI, Michel. No fiendo das aparéncias. PetwSpolis: Vozes, 1956. MAFFESOL 1985, Michel, © conbecimento comum. Sio Paulo: Brasliense, MARTIN-BARBERO, Jestis. Dos meios @s mediagdes. Rio de Janeiro Ed, UFRJ, 1997 MATURANA, Humberto ¢ VARELA, Francisco. De mdguinias eseres vite. autopoiese: a organizacio do vivo, Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. POLANYI, M. (1969) Knowing and Being essays by Michael Potany GRENE, M. (Ed.)'London: Routledge & Kegan Paul, 1969. RODRIGUES, Adriano Duane. Bratégias da comunicagdo. Lisboa Faitorial Presenga, 1997, PRIGOGINE, Ilya, O fim das certezas tempo, caos ¢ leis da natureza ‘Sao Paulo: Unesp, 1996. p, 32. *Y SANTOS, Boaventura de Sousa, Part uma pedagogia do confit. In SILVA, Luiz Fron da, Reesinituragdo curricular noves mapas cultrais, nnovas perspectivas educacionais. Porto Alegre: Sulina, 1996, p. 15-33, WITTGENSTEIN Ludwig, Investgagdes losficas Petropolis Vozes, 196, 42 Nani sams nana cono¥so Midia: um aro, um halo e um elo Elton Antunes Paulo Bernardo Vaz Ao buscar compreender como uma multiplicidade dle narra tivas estrutura e se estrutura no cotidiana, nossa perspectiva, no cestudo *Narrativas do cotidiano ~na midia, na rua’, reitera a ne- cessidade de se ultrapassar uma abordagem *midiacéatrica’ da comunicagao. Em tal linha de andlise, o quadro de estudio da co- rmunicayao tere a priotizar ou a se restringir ao estado dos melos, afunilando a sua abordagem. Partindo da importincia crescente € do papel de determinacao exercido pela midia no censrio con- temporinco, estudar a comunicacao € estudar 0 funcionamento da midi Se a midia for priorizacla enquanto aparato stcio-téenico Gnstincia de determinagao), isso nos leva a minimizar a interven- cto dos interlocutores, abandonando o processo comunicativo. esta forma, seria reduzida a apreensio da dinamica de produgio de sentidos, fechando a compreensio da extensa “prosa” do mundo {que acontece paralelamente 2 intervengiio dos meios de comuni- cago, marcada por eles ou a sua revelia. Se € postulado nosso que as priticas discursivas constitufdas ‘em tomo da midia esta0 no coragao da cultura ocicental contem- pporiinea € quea sociedace se conduz por uma intensa midiatizacio dos processos sociais, no corroboramos ida de que a mi engolfa totalmente a experiencia social. A midia nao diz sozinha dda comunicacao ¢ tampouco da vida social. forga propulsora dos melas de comunicago enquanto instincia de producto de mensa- gens nao deve obnubilara globalidade do processo comunicativo e 44 Nano, naRun naetemas 0 como sua natureza de intermedigo". A comunicagao nito se resume aos -meios de comunicagio ou a uma fungzo transmissiva, mas compre cendea constinuicao dos discursos € 0 espago da interlocugo. Nosso cempenho analitico, assim, no se di apenas pelos meios em si ‘pelo lugar da midi, mas por sua inserco no ambito da vida social ‘mais ampla—a relagio entre a comunicagao miditica ¢ outras for- mas comunicativas, Postulamos nao 0 recorte estrito de determi das priticas comunicativas, mas a dimensfio comunicativa que permeia priticas sociais mais amplas. Tal compreensio pretende subs- tins uma abordagem causal cas meios ce comunicago como “exter nos" ao social —e, portanto, as perspectivas de estudos dos impactos, los efeitos etc.—, pela busea de compreender uma interseczo: 1 midia nfo est fora da sociedade (ela faz parte di vida e da dinimiea social), ¢ os produtos midisticos tanto refletem quanto orientam uma dada realidade [As priticas comunicativas sto constituidoras da vids social e, a0 mesmo tempo, constituidas por ela ~ 6 {que altera completamente (mas também dificult) forma de abordi-las. (Faaxca; Guar, 2004) No entanto, o lugar da midia nfo pode ser ignorado € nem cla pode ser tomada pela integralidade do processo de comunica- ‘Gio. Qual &, entao, o escopo adequado para se tratar da questo dla midi? Se os meios de comunicagao no Sto fendmenos 2 parte la realidade social, que dimens2o ocupam quando se trata da ana- lise das priticas sociais enqwuanto priticas comunicativas? De saida, midia pede uma definigao para além de um aparato téenico (da qual ela se compe) ¢ de uma forma discursiva (que cla permite produzit). A midia 6, entio, algo capaz de transmissio "como nos adverte & Quéré, 0 pensamento ociental esteve por muito tempo marcado pelo paradigms epistemolégico (por uma concepgio representacionista e cognitivista do’ homem e do mundo), atibuindo 3 omunicagho uma fungi de predgio e transmisito de conhecimentos sobre o munda e as pestoas. F preciso substturlo pelo paradigm Praxtol6gico, fundado na concepgio da "consnucio socal da sealed’ arteulada 8 problemaitica da consrucao inesubjetva da objetvidade, subjsividade da socalidade, © 2 uma concepgi0 constiutiisa da lin suagem, da expressio © da cognigio.” (QUERE, 1991, p. 72) que permite uma modalidade de experiencia assentada no trans- porte € deslocamento incessante de signos. Tal processo de ‘midiatizacao, muito mais do que meio, afigura-se também para além de um estado, A melhor tradugao de seu processo éade um fluxo onde se dio as operacdes, onde se mesclam e entrecruzam -munclos simbélicos € materiais que tém os meios 2 montante e & jusante, e que em seu curso carreia grande parte das navrativas na contemporaneidade: cotidianas ¢ institucionais, corriqueiras € cespecializadas, midisticas ¢ flo midiaticas. Os produtos midistioos carregam consigo uma remissio a uma multiplicidade de sujeitos sociais, téenicas, lugares ¢ dispositivos encaixados em momentos diferentes ¢ simultineos de prochuglo, transmissio e apropriacio. ‘A midia vive em permanente estado de transigio entre essa pluraliace de elementos em composigoes constantemente reno- vvadas ¢ reconfiguradas em diferentes graus. Ao procurar defini os tragos estruturantes dlesse processo, passiveis ce constituirem um, estatuto analitico, note-se, por um lado, que a midia pode ser apresentad como um lugar de apontamento dle sentido, de esta- belecimento de formas interativas, de criagao ¢ parthamentos de representagbes, de (reinterpretago de experiencia, de vinculao, de junglo, de formagao de elos, de instrumentacao; por outro lado, a midia também afigura-se como uma forma que carrega ern si uma série de caracteristicas tais como o carter de transmissividade e de reprodutibilidade, um modo de estabeleci- mento de temporalidades, um tipo de solictaco de disponibilida- de aos sujeitos para o compartlhamento de experiéncias, uaa maneira de estabelecimento de contratos © de estruturagio de sentidos. Diferentes tradigdes teGricas caracterizardo tal espago Cora como um campo, um dominio ou um sistema, com énfases Fx nogio de campo enfatin uma dimensto, espacial” que caracteriza posi- ‘es, agentes, a ditibuigio do poder e as rcagbes de fora simbblics. A ogo de ssema saveste na compreensao da comunicai0 como fluxos de regulapo des processos socais no ambito de uma relagio sstemateto. A nosio de dominio de pritiess sociais mosta-se coma uma especie de teniério que tende a regular as trocas comincatvas e insaurar regular dades discusivas. Em tis concepcoes © campo miditco eo sistema miditico se ampliam em demsis, v 96 Aaron imugummmaveceonciane analticas distintas a partir de tais escolhas. Sem nenhuma pre- tensio de “ecumenismo teérico”, mas evitando 0 uso muito alar- zgado de conceitos que acabam por enfatizar a confusio entie “campo midiitico e campo da comunicagao" temos optaco por utilizaruma nogio de dispostivo’ midiitico que, 20 articular as- ppectos dessas teorias, compreende as dimensdes da comunica- 20 como um certo arranjo espacial, uma forma de ambiéncia (um meio em que), ¢ um tipo de enquadramento que insttui ‘um mundo proprio de discurso. A tentativa entao é de caracterizar a midia mais pelo que cla € € pode ser, do que, como se tem visto, caracterizd-la por quilo que ela nao é. A proposta € de se fazer um retrato da midia em positive, Nao mais apresenti-la como um retrato em negativo, onde se induz a existéncias cle formas em um campo de indefinigao feito de sombras — portadores, entretanto, da luz all egistraca, Nesse sentido, um primeito gesto implica em abordar a midia numa perspectiva que nao a reduza a uma de suas ci- menses, ma sob todas as suas facetas, em seus aspectos semio}ipios (que tipo de signos utiliza tal i, lini- tase ela. a transmit 0 texto, ou ensiquece-o com im- ens ou indices, e para que desempenho:?), pragma 0s (Como os usuétios se apropriam das mensagees pan modificartheso semido, que grau de interatvidade sc observa ene 4 emissio ¢ recepeio desta), imagi- navos (como 0 sonho individual ou socal nao se con tenea em uilizar a feramenta, mas irealizaca,esttizs- 4, envolve-a com identificagdes ou projegoes), Sitémicos (como nes possuimos meios de comunica- {20 que fos possuemt = tgicaastciosa! préteses écnicas nos preparam um meio ou um teido conjunivo que tomamos eventualmente por prolong smentos de nds mesmos.), (Bowanx, 1999, p. 15) TO sentido de dispesvo aqui uulizdo procura avanga 2 acepeto cons, sobresudo, com as formulagdes de ura tora do cinema, que, para aém di scepgio foremente técnica, compreenéam o dsposkivo como agenciameno e varios elementos para uma represertagveenstrucio do rea Busca-se compreender, pois, como a midia ou os meios de comunicasio se dio a ver como dispositivos midifticos que articu- lam 1) uma forma especifica de manifestacio material dos discur- 0s, de formatacio de textos; 2) um proceso de proxucio de sit nificaglo, de estruturagio de sentilo; 3) uma maneira ce moctelar € lordenar os provessos de interacio; 4) um procedimiento de trans- misao e difusio de materia significantes. Em temas metodok6gioos, tais aspectos podem ser tomados em diferentes facetas, depen- endo do recorte proposto, mas, 2 nosso ver, implicam trés dimen- s6es distintas de andlise: a relacional, a interlocutiva € contratual ensadas sob a forma figurativa de “eitculos concénicos”, tais dimensdes se encontram mutusamente imbricadas ¢ podem ‘ser penssadas como entradas para diferentes perspectivas de an lise dos processos micliticos. O relacional, ane! mais abrangente, diz das interagdes que se do por meio do dispositive midistico, ‘vistas como 0 “processo de influéncias mituas que os participan- tes exercem uns sobre 05 outros na troca comunicativa” € tam- ‘bem como “o lugar em que se exerce esse jogo de acdes ¢ rete ‘cOes" (CHARAUDEAY; MARGUENEAL, 2004, p. 261). Nesse lugar do relacional, 0 dispositivo opera como algo, como diz Bougnoux, ‘que “engloba, precede e ransborda’ os parceitas da comunicagao :mostrando que nao ha um “marco zero" da constituicio do senti- do. A interlocucio, por sua vez, é retomada aqui para evidenciar como os parceiros se acham, sempre, mutuamente implicados nos discursos da midia. F um circulo contido no relacional. A di- mento de contrato € 0 aro mais especifico, onde vemos uma Jinguagem funcionando sob um modo especifico. Conforme for- ‘mula Charaudeau, diz de um dominio de comunicagio que sem- ‘pre indica aos interlocutores um certo nimero de condigdes que definem a expectativa da troca comunicativa. essa forma, a midia € analisada sob diferentes enfoques: ‘uma telenovela, por exemplo, permite uma leitura a partir do con- rato ficcional que diz de uma forma de “captura” do espectador, que ele participe dla interlocuco ancorado numa perspectiva, 10 -mesmo tempo, aberta e encerracla por um dado geneto discursivo, Mas a novela, como lugar de interlocueao com a vida social, tem ferramentas € conceitos que no esto restritos as conformagdes 4 Naw, eA RuArNARRATAS BO COON, postas pelo contrato comunicacional. Ela opera também como um clo que produz e refaz. permanente as representagdes simbdlicas dos parcciros x comunicacio. Ela € também aquilo que os vincuia ¢ constitu’ um ‘nés", que alimenta um estar junto. Sea telenovela de alguma maneira nos liga, ela forma um contexto que condiciora «nossa intericio com 0 mundo, nossa percepeo ta realcade; & ‘um dado da experigncia dos sujeitos, mobili e viabilza a interaglo © a sociabilidade, Quando se procede ao recone anaitico, depen- endo do foco, faz-se valer um aspecto ou ovtro do objeto. Mas, mesmo assim, 0 circulo concéntrico mais amplo nao se torna pre- ponderante em relaglo ao especifico, um “anel” nio se sobrepde _/ 20 outro, Hi sempre um € outro, cada circulo, em relacao 208 de mais, funciona 20 mesmo tempo como um aro, um halo e um elo. A combinatoria cessas dimensbes, as “frcgdes” que cada di- mensio estabelece com as demais é que, a nosso ver, realeam _quilo que vimos consideranclo em nassas pesquisas como atsbu- {os que nas parecem ser no 86 especificas, mas constituintes do dispositive midiitico. Para outros estudos mais aprofundadlos com objetos espec- ficos precisariamos voltar aos quatro pontos prenunciados: um moclo de manifestagio material dos discursos; um processo de produgio de significaglo e estruturacao de sentido; uma manera de modelar € orclenar os processos de interagho; um mei transmit clifundir materais significantes!. Cantudo, nes restringimo-nos a destacar formulagoes te6ricas mais gerais que | em nossas reflexdes tém adquirido mais relevor a) midia coma | sgeadamentoe contote de intragbes, b) como ga de expe | righcias €© seu cardter de transmissibilidade e reprodutiilidde, Lugar de prescricao de agendamento formas de controlar a interagao Parece-nos que nao se pode falar em midia, em suas dife- rentes modalidades, sem dizer agencamento. Mas € necessirio “Alguns esforgos de ailie sob esst perpectiva podem ser avaltdes cs rojetos espectficas desenvolidos na pesquisa “Nanativas do eosidiano, mt Iida, aa ru", elaeados nos volumes 2, 3€ 4 dessa coleines. dleterminar a maneira de prescigo de agendas cla midi, consruila do apenas por aos intemas acs meios de comunicacio, mas por sua “promiscuidade entripica” com outs agendas. A mica no deve ser caracterizada como a agencla da sociedade, mas uit ds, positive cuja_operagio consiste em estabelecer relagdcs de agendamento. A mia, tal qual uma cademeta onde Sto anotadlos temas, Gfena diaiamente ~ na televisto, no rio, no jommal, na intemet~ 0 “prato” (ou a “ordem do dla") que constituetalimento cde uma conversacio social. Ao mesmo tempo, hierarquiza os temas. clispostos,estabclecendo graus de relevincia para os diferente as- > suntos.O reconhecimento dessa operagio de agendamenta consti tuida em tomo da ago dos meios de comunicacio mio &, porém, ‘uma simples reafirmacio dos argumeitcs de estudos da chamacia teoria do agenctamento ou agenda setting, que buscam identfcar uma correspondéncia entre a agenda da midia ea agenda pablica, Nesse viés, marcado pela identficaco dos efeitos da presenca da rmidia no Ambito da vida social, os estudos centrun-se baskcamente na veiicagio da efcciacognitva da ago dos meios de comunica- {20 € num campo restrito da vida social, em ger o das rlagoes poliico-nstnucionais. A mica como lugar le agendamento acaba por fesumir-se em um lugar de visibilidade de processos ¢ attbui- io de importancia e enquadramentos especficos. Quanclo pensamos no cispositivo miditico operando como construtor de relagoes ce agendamento vislumbramos sobrctudo tuna capacidade de gestoda dimenstio comunicativa das priticas socials. Agendar significa instaurar processos de convocago¢ iden tficacdo dos sueitos soins para uma intensa prosa social e pili ca, O agendamento implica no apenas dar uma visibilidade (Ghierarquizada) a determinados acontecimentos, mas ampliar uma certavisibilidade e conferie rm reconhecimento pablico a deter- minadas priticas. A “agenda midiatica’ ¢ sobretudo uma arena na viamente, ais falas podem ganhar visibilidade de diferentes ma- neiras, desde a “tirania do acontecimento” que modula ‘hegemonicamente 0 discurso mididtico até o reconhecimento pa- blico da legitimidade de diferentes praticas sociais. E certo, nessa erspectiva, que a realidade social & hoje hegemonicamente 5” Nando, na: AABN 0 COME “agendadta” como pestencendo nio a um dominio do acidental, ‘mas clo orentado, cua fungao nto € a de estimular que sujeitos no ‘ambito de sua experiéncia refagam permanentemente juizos ar raigados sabe o mundo social ~ainda que dominios espectficos, como o da informiaco jonalistca, se apresentem como voltados _para o registro do inabitual. A operagao de estabelecer agenda & ‘am apontamento de um sentido, que tem Feito do imprevisivel algo previsivel e regular, numa espécie de “gestio antecipadora do | scontecimento” Jeu, 1995). Essa operacio de agendar nao é uma qualidade do dispositivo, mas sua forma mesma de existnca Vislumbramos, ainda, no dispositive midliatico, as formas de estabelecer © controle da interac. Ao agendar, ele se mostra como um lugar do estabelecimento da interacao € do seu contro- le. O dispositivo nos convoca e nos enreda em seus processes. le pauta aquilo que passa de um grupo social para out. Agenda pessoal ¢ agenda midistica se imiscuem, se recombinam numa conversa comum. © dispositivo engendra uma fala pablica que ro € 0 somatério das falas isoladas dos individuos, nem é a fala coletivae organizacta dos agrupamentos soot, nem € fala “Sobe- rana” dos meios de comunicacao. O dispositivo midtico é um Ix gir de convocagiio ¢ coorsenaso dessa interaso entre 0s sujeitos suas fils, do estabelecimento ce uma dimensio pablica: 0 dispo- sitivo midiatico, a0 fazer tas falas convergizem, projta-as noutro plan e alias poem em permanente circulagao rebatimento, ins tando os sujeitos a se tornarem seus interocutores, Ao por em rla- | sto esses dominios, os meios de comunicago se esfoxgam em pro duziro comum ¢ forgam todo o tempo a sua produ (Ouga-se o ridio-jomal da manha. Talvez pautado pelo tele jotnal da noite anterior, que redunda na apresentagao da edigio da ‘manha, ali o ouvinte/telespectador abre e marca sua agenda a0 ligar seu aparelho de ridlio ou TY, sintonizando-o na emissora do seu jomal marutino, Leta-se o jomal difrio, pela manha. Ali leitor poder confirmar, na capa, a pauta ja conhecida na vor dos apre- sentadores da midia eletronica, ou lida nas paginas ports de seus provedores na internet e/ou em suas listas de discussao na webs Internauta, leitor, telespectador, ouvinte, todos convocados pars 8 conversas pautadas em contiauada mutagto na dependéneia do rtming de cada um dos dispositivos enredados, de acorda com «a grade de programagio da emissora, da hora de fechamento da edigao do jornal ete, Exerce-se'o controle de uma maneita “natural”, no caben= do combinagio prévia entre os responsévels pelos intimeros ver culos envolvidos. A atencio desses responsiveis — editores, re- porteres, apresentadores ~ é “naturalmente” voltada para o dizer do outro (veiculo), seja ele parceiro ou concorrente, de forma a poder estar na vanguarda da atualidade, confirmando e corrobo- rando noticias ou de forma a trazer furos noticiosos (que s confirmados e corroborados pelos demais veiculos). Fsse € 9 “eo rmium" produzido em moto-continuo. a A produgao desse “comum” se da por dois procedimentos | de base: pela criagao de tipificages e pelo acolhimento e meta- \, morfose de outros discursos. Uma taxonomia dos géneros ciscursivos, das priticas de apropriasio e produgao, dos mecanis- | mos de circulacio e difusto deve sempre apontar com clareza sua / namiera hitériea A nvidia padroniaa, rata de um lgar priv legiado par criar padres, ~~ Nesse mesmo movimento, a midia deve ser caracterizade ‘como uma constmigao discursiva obrigatoriamente co-determina- dha por vozes € operacies que se realizam para além do espaco mitiztico,reconhecendo como fatorininseco midiatizacho, 20 s.acolhida de outras falas, quanto dfinicio das concligoes dessa acolhida, Ao acolher outras palavras, a midia passa a ser lugar de ristura e metamorfose : Lugar de experiéncias evanescentes e formas de redescrevé-las A midia é um lugar de experiéncia e 20 mesmo tempo um. ugar que interpreta e reconfigura a experiéncia, Fala da experién- cia do mundo, mas faz parte dessa mesma experiéneia. Ha uma dimensio “subterrinea” dessa experiéncéa do mundo, a cultura, ‘em que 0s processos se sedimentam e se dio de maneira mais Jenta e adquirem maior espessura. As narrativa irigam constante- ‘mente esse terreno, se infliram vagarosamente, mas, a0 mesmo S52 Naan, wa RUA NAREATINS DO-CMIOUNO tempo, também correm velozmente em uma “superficie” midiatica Aqui constituem experiéncias evanescentes. Quando dizemos que dispositive miditico implica sobretuco um fluxo, no se trata de umn duto nico. Ha escoamentos em velocidades desiguais, diregdes diferentes e camaclas distintas. A midia é um fluxo, ms nao ¢ inintermupto A maneira como vemos um tio, no € fluxo continuo; & sucesso de diferentes pedacos sabrepostos, com bre- chas e falhas entrecruzadas. Daf, fluxos repentinos, verdadeiras enchentes”, inundam os meios de comunicacio em dado mo ‘mento, ampliando a vazio de narrativas sobre determinados acon- tecimentos. Mas eles se alimentam de narrativas que se precipi- tam sobre o universo mididtico articuladas com toda uma *malhi* de pequenas ¢ (quase) invisiveis narrativas que irrigam a vida social, Tal combinagao assegura uma vazio descontinua de deter- minados temas, mas que, combinados, regularizam o luxo doe 0 dispositive midistico. A cultura € “drenada” por diferentes fluxos do mundo da vida. As experigncias que se organizam por intermédio do dis- positivo midiatico tuncionam como um conjunto drenado por um luxo principal; afluente e subafluente. F um dominio conectado de priticas sociais que tem na midia, em alguns momentos, um dos seus cursos mais caudalosos € na cultura uma espécie de estuitio, Aevanescéncia decorte dos tragos de instabilidade e de mo- bilidade dos processos miditicos, 0 que nao implica que tals pro- cessos nilo possam ganhar profundidade © sedimentagao. Mas a iidia & sobretudo uma espécie de franja, uma faixa larga e epiclérmica, uma membrana, uma zona com forga propria © em movimento constante que ajuda também a produzir as zonas saturadas da cultura, O dispositive midiatico realiza tal processo por, meio cle discursas mais ou merios porosos, mais ou menos fissurads, Essa reescritura das experiéncias por meio de outras ex- pperiéncias evanescentes que se constituem com 9 dispositive 'miclitico pode ser vislumbrada na maneira como a midi lida ccm a dimensio da temporalidade. As experiéncias que supdem uma ‘waclicgo compartlhada, um saber inscrito numa temporalidade co- ‘mum, tornam-se, com o dispositive midiltico, mais que simples- ‘mente uma experiéncia transmitida, mas parte de uma atividade narradora que se mostra ponto de articulacio, cle passagem inces- ‘ante entre uma e outra, de uma.2 outa. midia permite a produ- ‘lo de uma confluéncia de tempos. Mas, conforme lemba Bloch, ‘0s tempos que vivemos na atualidade nao sao, necessariamente, ‘contemporineos entre si. A midia conforma uma temporalidade— ‘© presente ~ mas € atravessada por outros tempos (passaco futur fo), em um processo concomitante de sedimentacao € cstilhagamento dos tempos. A midia curto-circuita os tempos: a0 mesmo tempo em que ela & padronizadora do tempo atual ~ ritma e ordena cronologicamente o cotidiano -, ela poe também «em circulagao representacdes de relagdes temporais diversas, fa- endo emergir outros tempos de outros estratos. S40, no mesmo ‘movimento, camadas superpostas e atravessadas. Se, por exem- plo, é marca da midia a promacto de uma obsolescéncia ripida, ‘um interesse incomensurvel pelo que passa —fazendlo-o passat ligeiro, ela 0 faz buscando também outros valores da ordenacao temporal. Para tomar os tempos contemporineos 2 experiencia, a ‘mia ela visibilidade a tempos no contemporineos, Dai que a midia nio apenas transporte 0 tempo, cla faz-0 tempo. Pingamos na obra-prima de Proust, Bm busca do tempo per- dido, alguns exemplos de dispositivos micliticos representatives de tantos outros da atualidacle, Ao ler um antincio de horirio de trens 0 narrador realiza “verdadeiras” viagens com uma répida mirada sobre as informagées impressas. Dando-se conta de que ele poderia embarcar as 13h22min do dia seguinte paraa praia de Balbec ¢ lendo que 0 trem passatia por mais de dez.cidades, 0 narrador aciona seu poder imaginativo e abre ‘num ponto preciso da tarde uma saborosa incisto, um. signo misterioso a partir do qual as horas desviadas, embora conduziisem 2 noite © 4 mankd seguintes,j4 ‘lo wanscorreriam em Paris, mas sim numa das eida- des por onde © trem passa e enizé as quals ele nos ppermitia fazer uma escolha. (Proc, 2003, p. 371) Ao chamar a atenco para a “natureza nervosa” do narrador, Proust diz da natureza no menos nervosa de todo € qualquer Ieitor que se dispe e se capacita para a realizagio de qutras “54 Nana, wa aA nasaAs 00 CONDHNO viagens, com sua sensibilidade agugada para os dispositives midiiticos, Desloca-se o leitor, sem se deslocar, embarcando em viagens mentais e reconstruindo o tempo. Destarte, 0 leitor no faz mais do que usar sua capacidade imaginativa acionada por Tetras ¢ imagens que configuram o impresso a sua frente, Em busca do tempo peritido & vasta de exemplos de dispositives ‘miditicos que ora despertam, ora acionam a mem6ria involuntiria do narrador. Ao mencionar os cartazes afixados na coluna Morris, para a qual corria todas as manhas para ver os espeticulos ali anunciados, Proust diz nao haver nada mais desinteressado ¢ feliz que os sonlios que cada pega programada apresentava minha imaging ‘Gio e que exam condicionados, ao mesmo tempo, pelas imagens insepariveis das palavras que Ibe compunhan ‘titulo, e sambém pela cor dos cartazes, ainda Gmides ‘e empolados de cola, sobre os quais essas palavras se destacavam. (Proust, 2003, p. 76) Aquelas impressbes so estendidas por tempos indefinrdos «que o narrador carrega para outos espagos, como no momento em ‘que vé “onome de uma estrel flamejando 3 entrada de um teatro [Ldeixava em mim uma perurbacao mais longa, umn impotente e doloroso esforgo para imaginar sua vida" (Proust, 2008, p. 77). AS describes daquilo que as pginas de um livroacionam na mente do jover nartdor Marcel tomam ainda muito mais ica e complexaa ‘exempliicagio dos dispositives miciticos reconfigurando o tempo. tim um bomn exemplo de transposicto do tempo no espaco, Proust cita 0 quadro de Giotto que mostra cenas pintadas como mesmo personagem, primeito deiaclo, depois cavalgando. Esta 4 mesma tecnica de dsposigao de fotografia jomalisticas mua mesma pagina de qualquer jomal da aualidade: ao ler remanej ‘otempo a partir de um deslocamento minimo de sew ollie pelos dois ou mais agrantes ftogritics de tempos separicos por meses ov anos, A migia compete a boa utlizacio desses dispos tivos, Ao letor,@ competéncia desse rearranjo temporal em um cespao dado, Esses curtos exemplos iteritios mostram-nos ser trago da mia permitiraolitor, ouvinte, telespectador ou interna, lendo, ouvindo, navegando — perceber¢ realizar transposicbes como aquelas magistralmente descrtas por Mascel Prous Vislumtyamas a mii, entio, como uma forma de redescrever cu refigurara experiencia, Uma maneira de buscar essa imbricagio midia/sociedlade ¢ averiguar como em uma dada situaga social os processos podem se estruturar em tomo ea partir da mia, vei ‘cando de que maneira se co os processos de negociacdo € apro- priacdo de sentidos. O estudo dos programas superpopulares na televisio, por exemplo, evidencia novos vinculos que a sociedade cstabelece com esse meio; a superexposicio da intimidade;a cons- truco de “tibunais” no qual se dao 0 enfrentamento e se encenam a solucio de disputas; um modelo terapéutico para apresentar 03 problemas da experiencia pessoal (um ‘ouvie”incessante dos pro- Demas de cada um). Tal modalidace de programacio em alguma ‘medida diz nto apenas da Kigica comercial de prochucao da mica televisiva atual e sua disputa insacivel por audigncia, mas explicta turra especie de mobilidace das raizes da vid cotiiana na qual e di «ver como se estraturaram "os micro-rtuas, as micro-operagoes de sentido dentro das grancies marcos televisivos* que carregam “um conjunto de incursées pelos quaisa sociedade submete a televisio as suas agendas cle construc de sentido” (Fausto Nevo, 2001, p. 21). Essa refiguragio da experiéncia nao se di sem conflio, 0 dlispositivo midiitico opera procedendo, por um lado, a um certo estilhagamento dle representacio e, por outro, 8 sua mistura ee ccomposicio, Pode-se encontrar ali um conflito entre temporalicades oa mais vinculado, ora maisautondmo. Pade-se, também, al iden- tiicar um lugar de mistura, que deixa transparecer uma contradi« fo, Ao mesmo tempo em que di os padrées clasificadores, por sua promiscuidade, ela metamorfoseia seus “objetas”—tais como ‘05 icones do movimento negro ou anti-racista que, no mesmo movimento de entraca no circuito miditico, aparecem sendo en- quadrados 20s padrées € modismos ¢ encarmam outras posigdes, as wezes contestadoras ao discurso hegeménico que ocupa o cena- rioda comunicacio. Darque a dimensio de processo histori que deve seracionada para dizer dessa espessura dostempas sociais. A :midia em alguns lugares € naturalmente porosa para se nutir do Que ff € compartthado e reforgaro companilhamento. As questBes g é 2 3 tocam em lugares diferentes, oxiando, por exemplo, entre a dif S20 de modelos estereotipados a visibilidade de discursos » contestatrios, A midi dialog com. contemporincidade da vida Socal, mas no acolhe os discutsos da mesma maneira, uns mais, otros menos. Alguns So influxos Cuma vaga) que vem da vida Socal, Guts discursos,na mia mesmo gantiam corpor0discuso ‘que cultua um ideal de belez fsica muita veres mio vem de “two lugar a mia se oferece como “o" lugar para sua emerge a Ou noexemplo das relgies. a midia nto € lugar da experén- cia elie (mai fore, mas ca doua), mas pode we ferecer como tal, quando pastors ceupam as ondasherezianas para conversix comos iis. On ela disp, ora € fread a spor Ha naoéasciuas coisas igualmente. A intelocucto que a midia esabelece com a Catura bras éresutado diquilo que et para alm del. © § peso do discuso tem a ver com a mancia como ele nasce na vida | Social. Asexperéncasmbém sto mills inclusive por conta de sua temporalidade Estamos sempre sujetos 20 consumo de temas Gdominantes ¢ sic, Seem dado moment, por algamas sem2- ras, o munch prantea a morte do pape, ets sea mia ocidental, a0 mesmo tempo nela aparecem coisas isoladas, temas residuais Em momento seguine, aparece a escolha do novo papa, Nova onda em formacio aos ols ouvids do ets, cuvite, tclespectaclr,inernauta, © movimento midtico pode ser compa: rado 20 da formacio ¢ propagacto de ondas, ue comecam ea algum lugar e seguem crescendo e se movimentand até se tornar uma grande onda ues varend. Depois do impact da onda ma pia, pode se observaroque dea reautos. Aonda dea sua marca fa pai, moficando a forma orelevo da auca. Oestudo dessas forages (onda, vents) ¢0 su percuso (camiaho de dependér- a) poe nos usar na compreensio dos fenémenes comunicat- voscapturidos no con, F Ammidia €tugar de uma expesiéncia; mas & também ataves- 2 sada porsua duragio. A midia€.0 lugar da cultura, onde as repe- » sentagbes no sio desencamads,e sim, feias de Hinguagem. Mas, | as vezes, a midia des(en)carna. Finalmente, deve ser lembrado que hé um requerimento do sujeito para por'se em clsponibildade para perceber algo em ccomum, © estudo da mia requet a analse das produtos midiiticos cele suas formas materiais, de modo a se poder verificar as moda lidades de apropriacto por diferentes puiblicos; nao se deveria pprojetar sobre essa relagio uma visacla tomada como a-hist6rica, Deve serlevacio em conta que a relacao mantis entre os agentes | co discurso midiitico no pode ser considerada como dotada de| ‘mecanismos universais e considerada como uma constante. Transmissibilidade/reprodutibilidade © eaniter transmissive do dispositive midiitico nao supde sua efinisio como simples “agéncia intermediria que permite que a ‘comunicagito acontega. Mais especificamente, consiste em um de- senvolvimento tecnol6gico que estende os canais, 0 aleance ou a velocidade da comunicacio” (O'Suunnas, 2001, p. 151). Tal pers- ppectiva reitera a caracteristica da micia como instrumento para as- segurar a dimensao de veiculaciio/transmisstio presente nos pro- ccessos comunicacionais. Os meios seriam o clo material que vViabilizaria 0 contato entre os sujeitos. Por meio deles se dia difu- io do material significante que estrurura as interagSes como interagdes discursivas, Pensada de tal maneira, a midia é vista como ‘uma realidade eminentemente empirica cyja andlise envolve aiden tificagao da materialidace propria do meio, a caracterizagio da esca la de ago as técnicas proprias de organizaga0 dos elementos significantes. Sem dvida, a mica abarca © conjunto das técnicas ue propiciam o intercimbio entre os interlocutores, os sujeitos da ‘comunicagio. Sob essa perspectiva diferenciamos as meias de co- municagio, distinguimos, por exemplo, 0 ridio, a tclevisio ea im- prensa, Mas a anise cla midlia, restrita a tais procedimentos, vai to somente buscar revelar as diferentes maneiras de estruturicio do sentido em cada dispositivo (a forga da oralidade no rio, peso da immgem no sistema semioldgico da televisio, a tradicao analitica dda imprensa escrita etc.) ¢ o tipo de interago que se estabelece entre os interlocutores nesse “ambiente”. A televisio, por exemplo, ‘como midia de informagao, tem maneinis préiprias de constituir 0 seu discurso, articuladas a condigdes de produc interpretagio também especificas. Essa nilo € uma demarcacio incorreta, porém, algo imprecisa e por demais insatisfatoria para caracterizar © papel S538 NaMin, wa RUA: NAREATIA HO COON dda midia na consttuigao de diferentes modalidades narrativas e seu regime de representaciio, Primero, tendea conferir primazia’ ca racterizacio da midia a partir de sua configuragao técnica, Nio se pode, sem chivida, esquecer que 2 comunicagio se di constrangida por determinadas condlicdes materiais vetorializadas pelo meio, ou dispositive midiitico, O dispositive implica um dado material ou meio técnico, muitas vezes nomeaclo suporte ou canal (0 papel, as onclas eletromagneéticas etc), uma certa tecnologia, a combiracio cespecifica para uso clesses materiais com um dado cédigo, © a cesiruturagiio de um sisterna significante. Contudo, falar da midia camo esse dispositive que assegura transmissto/propagacio/veiculagao nao ¢ falar apenas de meios materiais, mas de um “circuito”. A midialogia cle Debray (1995) bem define tal proceso: ra transmissio de uma mensagem, médium pode ser entendido em quatro sentidos que no se contradizer, rem se confundem: 1) um procedimento geril de simbolzagdo (palavra, escsta, imagem analogicz, cal culo digital; 2) um cédigo social de comunicagio (a lingua natural na qual a mensagem verbal é pronuncia- da); 3) um suporte material de inscrip2o © estocagem (rgla, papizo, pexzaminbo, papel, banda magnetics, tel); 4) um dispositivo de gravagio conectado a determina ca rede de difusto (gabinete de manuscritos, posal, foto, tlevisto, informatica). Médium € o sister dispo- sitivosuporte-procedimento. (Deseay, 1995, p. 23) Entrctanto, permanece nesse vies uma forte énfsse nos as- pectos estruturantes do “canal”, nao mais neutro como em pers pectivas teéricas de matiz funcionalista, mas ainda reclucionisa em, relagio 20s processos comunicacionais. Tal perspectiva de andlise demonstra dimensio de transmissio da comunicagio, mastitubeia em zevelar, no mesmo movimento, a dimensio de vinculagoentre (0 sujeitos; ainda que reconheca a interdependéncia, tal perspectiva admite uma disjuncio entre a dimensao da difusto ¢ 0 do comparilhamento. A midia se caracteriza, sobretudo, por ser um dispositive cénico, no sentido de “quadro constituido pelo corjunto rime Sa dias circunstincias materiis liters peta realizacho de todo ato ‘comunicac2o e que, para a comunicacao medlitica, e compoe tum tipo de materia, le suponte e de tecnologia que agem engus to consirangiimentossituacionais"(Chanateat, 1997, p. 199). «quanto tl, esse cendrio pode logicamente ser montado e arma antes da entrada dos atores em cena, e a0 fazé-1o matca ur hg constitu um mundo proprio, mas nem por sso pode ignoraro.< tltrapassa o'quadro e que com ele guarda eelagoes. Verse que a midis, nesse caso, carcteriza-se por uma rela, sdeimbricamento com a ordem social. Porém, ela €“capturida” 1 em sua dnfimica ce retagdes, mas naquilo que aparece como er lzagao de dacs configuragbes;fe-se menes uma biografia do que seu retrato, Mas como evita fixar a reflexto apenas ne dimensio miclitica? Se o pressuposto €a dimensio relacional comunicagao, nil se deveria centr em um dos ples. $20 4 pos se foreanco reciprocamente, os dspesiives € os sueitos. Cox ‘combina analicamente ume dimensio funcional das meios que “obrigum” a respeitar regras enunciadas © as expectativas € interdocutores e as necessidaices cle um regime de representacé Na dsjune2o, podemos, por um lado, avaliar uma mica na sus « pacidade de ora ser fiel, ora distanciarse ca lgica que rege s ‘economia enunciativa; por outro lado, verificar condligoes ‘enunciagio ¢ recepe0 a0 produto miditico, Slo modes de cone ber a midia que reforcam 0 seu papel de “veiculo” de diseurs produzidos de acordo com determinadas egras ou de exigéne da experiéncia singular de enunciagao, cig ela respeito-a0 cary da produgao ow a0 campo da apropriago. Finalmente deve ser lembrado que as presentes rellexo resultam de amplos debates promovides pelos diversas integra tes do Gris, descle 1995, em tomada de posiio conta. mit citacdes generalizadas/generalizantes que, nas estos da Commut cago, referemse 10 campo miditico, Midi‘denominaio usu: ‘mente simplificada que, tomada como lugar-cormum, escamote toda a complexidade, amplitude ¢ contradigoes que a envolver A opeio por esta complexizacio & encontrada nas pesquisas d senvolvidas no Gris, que tem, nesta coletinea, exemplos de an lises empreencidas nesta perspectiva: Narrtivas Televisivas (1 Narrativas Fotogeaficas (v.2) e Narrativas Telemiticas (w.3). Ou- rordagens especificas tos estuclos com outros objetos e no que conceme o campo midiitico. Aos pesquisadores, natural Iberto suas préprias opcdes € complexizagoes para a {qual prenunciamos quatro pontos, vendo a midia como manifes- tagdo discursiva, prodotora/estruturadora de sentido, modeladora/ orddenaclora de interaclo e transmissora/difusora de significagto. Referéncias BOUGNOUX, Daniel, Introduede ds ciéncias da comunicagdo, Bauru, SSP: Eduse, 1999, CCHARAUDEAU, P, Lediscoursd information médiatique Pais, Nathan’! INA, 1997 DEBRAY, R. Manifstos midiolégicas: Pets6polis: Vozes, 1995. FAUSTO NETO, A. Desmontagens de sentiios ~ Leituras de discitrso: ‘mididtices. joao Pessoa: Editora Universtiria UFPB, 2001 FRANGA.Y. € GUIMARAES, C. Narrativas midiaticas e experiencia es tetica. Recife: 208. HALL, STUART, Da dléspora: Kdontidades e mediagées. Belo Horizon. te; Editora UFMG, 2003, JEUDY, Henry Pitre, socieddade mamsbordant, Lisboa Século XX, 1995 MAINGLUENEAU, D. Andiise de textos de comunicagdo. 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Sujeito da comunicacao, sujeitos em comunicacao Vera Franga Narativas sio priticas ordenadoras de sentido, intervengoes Concrets, em contextoseapeifica, desenvoWvids por sujet; clas esto inseridas ou que S80 0s procests comtnicativos.Temos asim, componds dec Procession comatvos poet em cena inden i Nosso objetivo nese texto, problematzartaleonccto, peor reno ses vio sgnfeados em busea deur cot fens comunicacionas Que sujeito é este? “Sujeito da comunics avo dos indo prod /eepe das ome deus Como lembra ou di expe sa mate de yet soc, jo ture no mundo. Expresso atria, la no eno senereae pov sida €ampl, masa. O que seo social’? Trata-se de uma forma vazia, para acionar ou congregar cessas outras qualidades de sujeito, ou € um conceito dotado de

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