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CRISE DA AGUA -
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Por anos, 0 sol foi um vildo da smide, e aprendemos anos
esconder dele. Hoje, mais da metade da populagao tem niveis
baixos de vitaminaD. Eisso pode estar ligado ao aumento
nos casos de depressdo, cancer e outras doencas.
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GLY
DOIPAD | MAGONARIA
cy coAO LEITOR
Vamos apanhar
EU Set 0 QUE VAI ACONTECER: vamos apanhar. Va
‘mos ser chamados de irresponsiveis por associagBes
‘médieas por dar esperanca a doentes sem salvagio,
‘vamos ser desquaificados como te6ricos da conspira-
‘edo por empresas farmacéuticas, vamos levar cutuca~
das de colegas jornalistas por darmos espaco demas a
tratamentos sem comprovagio. Tudo por causa da
reportagem de capa desta edicio, escrita por Daniel
‘Cunha, que sofre deuma doenca sériae, em sua propria,
Ita para sobreviver, esbarrou numa pauta inerivel.
Sim, eu sei que ainda faltam muitas pesquisas antes de poder afirmar que
1 vitamina D evita cdncer e cura depress2o. Sei que incentivar as pessoas a
‘tomar sol é muito arriseado, porque pode levar a um aumento n0s casos de
cancer de pele. Sei que talver levem dez anos para que a comunidade médi-
ca tenha certeza de que 0 sol é mesmo fundamental para fiearmos vivos.
‘Acontece que, para alguns, dez anos ¢ tempo demais. Daniel, nosso rep6r~
ter, que tem esclerose multipla, concluiu que ndo teria uma década para
‘esperar respostas perfeitas -e saiu em busca das melhores respostas possi
veis. Como ele, ha milhoes de pessoas no Brasil precisando urgentemente de
informagao - gente que pode se beneficiar do que Danie! descobriu.
Claro que levamos a sério nossa responsabilidade de dar informagio con-
fidvel. Por iss0, passamos muito tempo discutindo antes de levar 0 tema 2
‘capa. Mas 0 que nos ajudou a decidir € que temos clareza da nossa missio:
trabathamos para o pilblico. Nao para o establishment médico, ndo para os
hhospitais, no para os laborat6rios. , quando pensamos no que nosso letor
prevsa saber, fia dbvio para.a gente que fazer uma reportagem como essa,
Aida que rodeada de incertezas, ¢ obrigacio - assim como colocar na capa
os debates sobre o ghiten ea maconha medicinal, duas outras hist6rias im-
pressionantes ainda no inteiramente absorvidas pelasinstituigbes médicas.
[Nossa obrigagio ¢ empurrar a medicina para frente, nlo correratris dela
‘Da mesma forma, é nossa obrigagio buscar respostas profundas para a
crise hidriea que se espalha pelo nosso molhado pais, como tentamos fazer
nna reportagem que comecs na pagina 44. Sabemos que essas nossas respos-
tas desagradam quase todo mundo. Afinal, elas revelam a profunda incom-
peténcia do governo patlista para lidar com o problema -e a0 mesmo tem-
po deixam aparente a incapacidade do governo federal de compreender a
natureza ciclica da dgua. Elas expéem o fato de que praticamente nenfum
governo de nenhuma regido do pais est preparado para cuidarsistemica~
mente da agua que precisamos para sobreviver. Vamos apanhar de todo
rundo ~ do PSDB, do PT, do PMDB, do DEM, do PP, do PSD...
“Tudo bem, ndo tem problema gum. Nao trabalhamos para nenhum dees.
‘Trabalhamos para voce.
REDAGAO
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Um dia acordei ¢ nao
senti o lado direito do
rosto. Tinha desenvol-
vido uma doenca incu-
ravel, que poderia me
evar | para a cadeira de
rodas. Tudo indica que
eu era vitima de uma
gece a) global: falta
vitamina D, causada
pela falta de sol. ;‘UM DIA AcoRDEL endo sent o lado direito
do rosto. Achei esquisito, mas nao dei
muita importincia. Nos dias seguintes,
utras cofsas foram acontecendo. Primei-
10, perdi toda a sensibilidade no lado di-
reito do corpo. Fiquei com falta de equli- 1
brio, visto turva, confusdo mental, Nao
conseguia levantar da cama. Depots de
dois meses de internaghes e exames, velo
‘diagnéstico: eu tinhaesclerose multipla,
‘ou seja, meu sistema imunologico estava
atacando meu proprio cérebro ea media
‘espinhal. Desenvolvi uma doenca degene-
rativa, sem cura, que poderia me jogar em
uma cadeira de rodas em menos de uma
década, Um cendrio desolador. Uma vez
por semana eu tomava injeges de interfe-
rons (proteinas de defesa produzidas pelo
préprio corpo) que acabavam por supri- |
‘mir meu sistema imunol6gico.
ae
——SSSSSs5
SuPer /agrit 2015 35,‘Acada aplicagio en tinha uma febre forte ficava
prostrado pelos dois dias seguintes. Todas as sema-
nas, eram dois dias perdidos. Parei de trabalhar e
cai em uma amarga depressao. Eu tinha 24 anos.
‘Meses depois, minha mae viu a entrevista de um
‘médico na internet. Ele se chama Cicero Coimbra,
€ neurologista da Unifesp, e tinha uma teoria dife-
rente sobre a minha doenga = para ele, um simples
tratamento com vitamina D poderia ser a solucio.
Comeceio tratamento com uma megadose dessa
vitamina: 50 mil UI (unidades internacionais) por dia,
cercade oitenta vezes mais do quea dose didriareco-
mendada, Segundo Coimbra, pacientes com doencas
autoimunes, como a esclerose multipla tém caracte-
ristieas genéticas que dficultam a absorglo de vita-
‘mina D, daia necessidade de doses tio grandes.
“Nossa expectativa € que em seis meses, quando
vvoc#tiveratingido oefeito completo do tratamento,
adoenca entre em remissdo permanente, sem novas
crises”, afirmou Coimbra. Era quase um milagre
dante das outras perspectivas para essa “doenca
‘sem cura”, Optei por abandonat as injegdes e, com
las, meu sofrimento semanal. Mas havia um risco.
Com uma dose tao alta, 0 corpo passa a absorver
mais cfcio dos alimentos eos rins podem ficar com-
prometidos. Para lidar com isso, tenho que beber
‘pelo menos 3 litros de dgua ou suco e abandonar 0
leite e seus derivadosricos em célcio. Sacrificio bem
‘pequeno para o beneficio que colhi, O tratamento
esti dando muito certo. A doenca estacionoue, hé
cinco anos s6 com a vitamina D, nunca mais tive
86 suren / opi. 2028
sintoma algum, Meus resultados ja impressionam
‘os neurologistas que ndo acreditavam que isso seria
possivel. Imagine entao o que pensam ao se depa-
rarem com easos de pacientes que tinham ficado
ccegos e recuperarama visio, ou que tinham deixa~
do de andar e levantaram da cadeira de rodas, 36
seguindo o tratamento da vitamina D. Perto disso,
tera “minha doenga controlada” ¢ muito pouco.
ssa €a minha historia. E vocé talver tenha algo
em comum com ela. Um estudo feito em 2010 pela
USP constatou que nada menos do que 77,4% dos
paulistanos apresentam deficiéncia de vitamina D
durante oinverno (no verdo o ntimero cat, mascon-
timua altissimo: 37,3%). Ou seja: ébem posstvel que
vvocé tena falta de vitamina D - e nem saiba disso.
“Provavelmente, esse ¢ 0 problema médico mais
comum no mundo hoje”, diz o endocrinologista
Michael Holick, da Universidade de Boston, Em Pe-
quim, o problema afeta 89% das adolescentes - ¢
48% dos idosos, Na India, 84% das grividas - eas-
sustadores 96% dos bebés. Nos Estados Unidos, 29
dos adultos. Em Recife e Salvador, metade das mu-
Iheres. Os dados, que vem de diversos estudos lo-
cas, que nao ha uma pesquisa global que envolva
grandes populagdes, variam bastante, mas todos
apontamna mesma direcio. 0 mundo esta vivendo
uma ‘epidemia’ de baixa vitamina D. Eisso parece
estar ligado @ uma quantidade impressionante de
doengas: de depressdo a diabetes, de esclerose miil-
tipla (como a minha) a eancer, da dor cronica a
Alzheimer. J4 vamos falar sobre isso. Mas antes:
por que esta faltando vitamina D?
PORTAS FECHADAS
‘Tem algumas grandes diferengas entre aD e todas
as outras vitaminas, Para comesar, embora até seja
possivel absorvé-Ia pela comida, sua maior fonte,
disparado, €o sol. Sim, «luz solar ~ aquela mesma
que agride e envethece a pele e pode causar cincer
de pele, o mais comum entre mulheres eo segundo
‘mais omum entre homens no Brasil. Oraioultra-
Violeta B (UVB) do Sol, 0 mesmo que nos torra, de-
sencadela uma série de reagBes quimicas que pro-