Você está na página 1de 13
Roger Silverstone Por que estudar ; a midia? Laue secounann Tredugde: Chitce da comunicsdo, Milton Camargo Mota L ster Fistria de socedade da iformagio ‘A. Matteart, FHistiva das toras da. comuiasto ‘A. Matelarty M. Mattelart aeogrfia indica, Bley \ Intligéncia coletia, Ply Pesquisa em comieagto, Ms macolata Vesslo Queria que 0 estudo da midia se destacasse destas Paginas como uma tarefa humanist, mas também huma- na, Devia ser humanista em sua preocupagio com o indi- ‘viduo com o grupo. Era para ser humana no sentido de estabelecer uma légica distinta, sensivel a especificidades histéricas e sociais e que recusasse as tiranias do determi nismo tecnoldgico e social. Ele tentaria navegar na fron- teira entre as ciéncias sociais as ciéncias humarias. Acima de tudo, o livro foi talvez concebido como um manifesto. Eu queria definir um espago, Engajar-me ‘com os que estio fora de meu préprio discurso, em algum lugar na academia ou no mundo além dela. Era a hora, pensava, de levar 2 midia a sério. estudo da midia precisa ser eritico, relevante, Deve criar e manter certa distancia entre si e seu objeto. Pre- cisa mostrar que € pensante, Espero que as paginas se- guintes satisfagam, pelo menos em algum grau, a esses cexigentes requisitos. Mas, se o projeto tiver éxito, mesmo parcial, em ‘cumprir seus objetivos, entdo, como qualquer outra coisa, seri porque imimeras pessoas, colegas e alunos, contri- bbuiram de maneira direta e indireta para ele. Deixem-me ité-los, com gratidio: Caroline Bassett, Alan Cawson, Stan Cohen, Andy Darley, Daniel Dayan, Simon Frith, Anthony Giddens, Leslie Haddon, Julia Hall, Matthew Hills, Kate Lacey, Sonia Livingstone, Robin Mansell, Andy Medhurst, Mandy Merck, Harvey Molotch, Maggie Scammell, Ingrid Schenk, Ellen Seiter, Richard Sennett, Bruce Williams, Janice Winship ¢ Nancy Wood. Nenhum deles, é claro, tem responsabilidade pelos erros e infelici- dades que podem ter restado, A textura da experiéncia Talk show vespertino de Jerry Springer, 22 de de- zemibro de 1998, Reprisado pela enésima vez no canal via satélite UK Living, Ele fala com homens que trabalham como mulheres. Duas filers de travestis © transexuais| discutem suas vidas, suas relagdes e seu trabalho. Sao atormentados pela audiéncia televisiva. Ouvem perguntas sobre ter fithos, Um casal troca aliancas: “Afinal, nunca fizemos isso antes ¢ & uma transmissio em rede nacional’. Jey conclui com uma homilia sobre a normalidade a falta de seriedade desse tipo de comportamento, fazendo sua audiéncia lembrar-se de Milton Berle e de Some like it hot (Quanto mais quente melhor), de performances de ‘uma época mais inocente, em que se vestir com roupas do sexo oposto nio era visto como algum tipo de perversdo. Um momento de televisio. Explorador mas também cexplorivel. Momento facilmente esquecido, uma particula subatdmica, uma cabeca de alfinete no espago midiatico, mas agora mencionado, notado, sentido, fixado, nem que seja apenas aqui nesta pagina. Um momento de tclevisdo que foi local (todos os personagens trabalhavam num restaurante tematico de Los Angeles), nacional (origi- For ae er 9 mis? Tenn bone | H nalmente transmitido nos Estados Unidos) e global (che- gow até aqui). Um momento de televisio arranhando @ superficie da sensibilidade suburbana, tocando as mat- ens, a base. No entanto, um momento de televisio que servird perfeitamente, Ele representa 0 ordinério e o continuo, Em Sua unicidade, € absolutamente tipico — um elemento na constante mastigagdo da cultura cotiiana pela midia; seus siguificados depentem de saber se realmente o notammos, se dle nos toca, choca, repugna ou atrai, enquanto entramos, atravessamos ¢ saimos do ambiente midiético cada vez mais insistente ¢ intenso. Ele se oferece ao espectador de passagem € aos anunciantes que solicitam sua atengéo, talvez com desespero cada vez maior. E também se oferece ‘a mim como o ponto de partida de uma tentativa de res- ponder & pergunta: por que estudar @ midia? E o faz con- irariando as expectativas, € claro, mas também de modo muito natural, pois levanta imimeras questdes que nio podem ser ignoradas, questbes que emergem do_ simples

Você também pode gostar