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PUBLICAÇÃO

CARTA DA “IVª Internacional” DO SECRETARIADO


Nº 256 8 DE JUNHO DE 2010 DO POUS

Declaração do Secretariado Internacional da 4ª Internacional

Esta Declaração da IVª Internacional, foi escrita a 4 de Junho, após os comandos israelitas
terem aprisionado o conjunto das embarcações que se dirigia para Gaza. Trata-se de uma
nova acção criminosa, na continuidade do beco sem saída e no caos a que o imperialismo
conduz o povo palestiniano e os restantes povos de todo o mundo

Nos quatro cantos do mundo, a violência e a “A votação da ONU foi apenas uma
guerra não param. O imperialismo dos EUA formalidade depois do acordo dos três
– na tentativa de salvar a todo preço o grandes. A partilha da Palestina era,
regime falido da propriedade privada dos virtualmente, um facto consumado... A
meios de produção baseado na exploração e posição da 4ª Internacional perante a
na opressão – empurra a humanidade para as questão palestiniana continua tão clara
maiores catástrofes. como antes. Ela estará na vanguarda da
A última delas foi o assalto, por tropas de luta contra a partilha, por uma Palestina
elite do exército israelita, a um conjunto de unida e independente, na qual as massas
embarcações que se dirigia para Gaza, determinarão soberanamente o seu destino,
matando nove pessoas e ferindo algumas através da eleição de uma Assembleia
dezenas. Há um forte sentimento em todo o Constituinte.”
mundo que aponta, com razão, a Foi o imperialismo dos EUA que, há 20
responsabilidade criminosa dos dirigentes do anos, apoiando a ocupação de 1967, decidiu
Estado de Israel. Mas isso não pode, em – perante a incapacidade do Estado de Israel
nenhum caso, mascarar a plena em reprimir a primeira Intifada – tomar a
responsabilidade do governo dos EUA. situação directamente nas suas mãos. Ele
pretendeu resolver a questão palestiniana
A responsabilidade do imperialismo dos com a assinatura dos Acordos de Oslo,
EUA impondo aos dirigentes sionistas de Israel –
e também à direcção palestiniana – o plano
Para a 4ª Internacional este novo acto que preconizava. Tratava-se de encontrar um
criminoso é um prolongamento do impasse e meio para quebrar a resistência do povo
do caos a que o imperialismo está a levar o palestiniano, que desestabilizava a «ordem»
povo palestiniano, bem como os restantes na região. Assim, sob a cobertura da
povos do mundo. pretensa solução dos dois Estados, na
Recordemos que na origem da partilha da realidade o que estava na ordem do dia era a
Palestina, em Novembro de 1947, negação do direito à terra e à nação para o
legitimando a constituição de um Estado povo palestiniano. Isso era negar décadas de
teocrático baseado na perseguição e combate desse povo pelo direito à vida. Era
expulsão do povo palestiniano, se encontra o desagregar o povo palestiniano fechando-o
imperialismo dos EUA, o qual organizou a em guetos, ou seja, “bantustões” sob
votação na ONU com a colaboração da controlo das tropas israelitas.
burocracia estalinista. Em 1993, a 4ª Internacional tomou a
Pela sua parte, a 4ª Internacional, logo em seguinte posição sobre os Acordos de Oslo:
Novembro de 1947, afirmou:
«Numa palavra, o quadro está fixado: o existência, levando ao paroxismo a lógica
‘Conselho’ palestiniano só tem autoridade racista do sionismo. O massacre regular de
para aplicar essas resoluções – as quais a palestinianos, a violência permanente, o
OLP (Organização para a Libertação da bloqueio e a continuidade da colonização
Palestina) condenou durante anos, antes de constituem apenas uma tradução da vontade
se alinhar com elas – que confirmam a do sionismo em assegurar a melhor posição
partilha da Palestina, que confirmam o possível como pilar necessário para a “Pax
desmembramento do povo palestiniano e Americana”.
pôr em prática uma política decidida no A direção da OLP, ao aceitar os Acordos de
exterior, isto é, pelo imperialismo dos EUA Oslo em 1993 – renunciando, na prática, a
(…). 88 % do território histórico da Palestina –
Trata-se da negação do direito dos povos. A assinou a sua própria sentença de morte,
nova partilha que se opera na Palestina, levando à desorientação do Movimento
através da opção Gaza e Jericó, prepara nacional palestiniano. Este, com efeito, tinha
outras, nas quais – sob controlo da ONU, como base a reivindicação de um só Estado.
braço armado do imperialismo dos EUA – Era a Carta constitutiva do povo
se prepara a constituição de novas palestiniano, dividido geograficamente, mas
‘reservas’, onde serão acantonadas outras unido pelo direito ao retorno, isto é, pelo
fracções do povo palestiniano (…). direito à nação.
Num momento em que o acordo assinado Nessas condições, a constituição da
entre a direção da OLP e o Estado de Israel «Autoridade Palestiniana» teve o único
anuncia, sem qualquer dúvida, novos objectivo, explicitamente mencionado nos
sofrimentos para o povo palestiniano e para Acordos de Oslo, de garantir a segurança de
todos os povos da região, aparece Israel – com a perspectiva hipotética de um
claramente que o caminho da paz não pode «Estado» palestiniano de fachada. Foi assim
ser diferente do caminho da democracia, que uma organização de combate do povo
isto é, do direito de todos os povos viverem palestiniano se transformou numa
livres na sua terra, a começar pelo direito organização de repressão do povo
do povo palestiniano ao retorno e à palestiniano, à conta do opressor israelita.
independência nacional; esta é a única via A consequência da aceitação da solução dos
realista. Hoje, mais do que nunca, a paz no dois Estados significava a renúncia à solução
Médio Oriente é o direito ao retorno para da questão palestiniana, da qual o primeiro
todos os palestinianos, é um só Estado laico acto é o direito ao retorno dos refugiados e
e democrático, uma só Palestina laica e dos seus descendentes, que já constituem
democrática, constituindo-se com base na dois terços do povo palestiniano. Oslo foi
igualdade das suas componentes árabe e apenas uma tentativa de desmembrar o povo
judaica em todo o território da Palestina.» palestiniano, considerado até então como
As violências, guerras e massacres que se uma totalidade: os palestinianos de Gaza, os
deram desde aquela data decorrem dos da Cisjordânia, os que vivem dentro das
Acordos de Oslo, feitos sob o comando do fronteiras de 1948 e os refugiados no
imperialismo dos EUA. exterior da Palestina constituem,
É neste quadro que os sucessivos governos efectivamente, um só e mesmo povo. Nas
do Estado de Israel – inquietos com o manifestações que ocorreram esta semana
reequilíbrio da posição dos Estados Unidos em Gaza, Ramalá, Haifa e nos campos de
em favor de países árabes – se refugiados esta unidade foi a reafirmação
comprometeram na via da repressão maciça central – “Somos um só povo”.
do povo palestiniano para preservar a Foi a lógica de tal posição desagregadora e a
entidade sionista, numa corrida louca para decomposição do Movimento nacional
assegurar a sua preeminência e a sua palestiniano que levaram à divisão entre
Gaza e a Cisjordânia, colocadas sob controlo imperialismo dos EUA, mesmo se é o
de grupos rivais. imperialismo dominante, não pode pretender
assegurar sozinho a ordem mundial. Ele
O imperialismo em crise precisa de precisa de ajudantes para fazê-lo. Ele precisa
ajudantes de campo dos imperialismos europeus – o que tomou a
forma, por um tempo, do chamado
Essa situação permitiu ao sionismo acentuar “Quarteto” – tal como precisa do Estado de
ainda mais o desenvolvimento criminoso da Israel e de um certo número de governos
sua política, que se expressa de forma árabes.
particularmente cruel na guerra e bloqueio Esta crise do sistema capitalista – que não
de Gaza. pára de se aprofundar e agravar – reflecte-se
Os governos de países árabes que hoje na crise que divide entre si distintos sectores
denunciam o acto criminoso do Estado de dos círculos dirigentes da classe capitalista,
Israel, “esquecem” que, em colaboração com crise que se expressa nas contradições no
ele, o Governo egípcio participou e ainda seu seio, que por sua vez encontram a sua
participa no bloqueio a Gaza, com a expressão na política israelita. O governo de
construção de um muro para destruir os Obama – que pretendia romper com a
túneis subterrâneos que permitem levar política militarista do governo de Bush, para
provisões à Faixa de Gaza. Poderíamos citar, chegar aos mesmos resultados de pilhagem
ainda, outros governos da região. Eles agem de riquezas e de manutenção da dominação
dessa forma porque estão ligados ao imperialista nessa região e no mundo, como
imperialismo dos EUA. São os mesmos que demonstra a guerra no Afeganistão –
exerceram pressões sobre a direcção do procura, em vão, reequilibrar as relações
Movimento nacional palestiniano para que entre os regimes árabes e Israel, e sair do
capitulasse diante das exigências do atoleiro do Iraque. Mas ele choca-se com as
imperialismo. suas próprias contradições, as da burguesia
As exigências do imperialismo dos EUA – dos EUA.
particularmente depois da sua ocupação É esta situação que permite ao regime
militar do Iraque – visam o controlo do sionista – com o apoio de fracções da
conjunto do Médio Oriente. E com a sua burguesia norte-americana – avançar, cada
vontade de controlo, para ligar o Médio vez mais, numa política de terra queimada,
Oriente petrolífero ao Mediterrâneo, o de guerra e de massacres.
imperialismo ameaça todos os povos,
nomeadamente o do Irão. A única solução de acordo com o direito à
A situação actual na Palestina e no Médio autodeterminação dos povos
Oriente não pode ser entendida
independentemente da situação mundial. A A prova está feita. Dirigir-se ao
crise que se desenvolve na Europa tem um imperialismo para que ele «sancione» o
alcance mundial. É na Europa, berço do Estado de Israel, para que pressione os seus
capitalismo, que se expressa, de forma mais dirigentes para chegar a um acordo
espetacular, a via para a transformação da «equitativo» entre a Autoridade Palestina e o
mais grave crise que já conheceu o sistema Estado sionista, é aceitar que nunca haverá
capitalista em crise mundial generalizada. solução para a questão palestiniana. É
Com efeito, a intervenção do FMI para aceitar a manutenção do Estado de Israel,
“ajudar” a Europa, por ordem dos EUA, que engendra a violência.
traduz o pânico que assalta a Administração A única solução é a que a 4ª Internacional
de Obama face aos riscos de uma crise que defende desde 1947-1948, quando os
se generalize a todo o planeta e se repercuta, dirigentes do imperialismo dos EUA e os da
em cheio, nos próprios Estados Unidos. O burocracia estalinista do Kremlin (ex-URSS)
decidiram fazer a partilha da Palestina, A 4ª Internacional recusa juntar a sua voz às
expulsando dois terços do povo palestiniano forças “de esquerda” e “de extrema-
para criar o Estado de Israel. Esta posição, esquerda”, “pan-arabistas” e “pan-
tomada há 60 anos – contra a partilha da islamistas”, que, à escala mundial,
Palestina, por uma Assembleia Constituinte pretendem apoiar o povo palestiniano
soberana, por uma Palestina livre, laica e defendendo, ao mesmo tempo, a solução de
democrática, na qual judeus e árabes, dois Estados – propondo para tal iniciativas
cidadãos de uma República palestiniana, dirigidas à União Européia ou à ONU para
possam viver em igualdade num só Estado – que sejam mediadores – pois tais iniciativas
continua actual. Mas o tempo urge. A apenas reforçam a política do imperialismo
opressão e a violência podem levar a uma dos EUA e dos seus ajudantes sionistas.
situação impossível para as massas judias de A 4ª Internacional considera que a saída não
Israel. está numa mediação das instituições
Há apenas uma via para parar com a internacionais e dos Estados imperialistas,
violência e a guerra na Palestina: é que os mas sim na mobilização dos povos de todo o
direitos imprescritíveis do povo palestiniano mundo ao lado do povo palestiniano.
à nação sejam respeitados, a começar pelo É por isso que a 4ª Internacional não dá
direito ao retorno – que constitui a exigência crédito aos discursos que evocam um
fundamental que unifica o povo palestiniano pretenso conflito comunitário étnico. Não,
no seu combate contra o imperialismo. do que se trata é do direito dos povos.
A 4ª Internacional reafirma: através da sua Repetimos, para a 4ª Internacional o
resistência, através da luta de classe, os combate do povo palestiniano é uma das
povos levantam-se contra o imperialismo. A expressões mais avançadas do combate dos
solução não está na política dos EUA, da povos de todo o mundo para se livrar da
ONU e da União Europeia, nem nas opressão e da exploração. Reafirmamos que
instituições internacionais. Todas elas são o caminho para conquistar a soberania das
cúmplices da política do imperialismo dos nações só pode ser assegurado pelos
EUA, porque todas foram criadas para trabalhadores, em aliança com os
respeitar a ordem social ligada à existência camponeses e as massas sem meios para
da propriedade privada dos meios de viver.
produção. É exactamente esta propriedade
privada dos meios de produção que constitui
a base da dominação imperialista. Ela A 4ª Internacional reafirma:
procura satisfazer a sua necessidade de lucro
com a pilhagem do petróleo do Médio • Fim imediato ao bloqueio de Gaza.
Oriente, logo procura a necessária
“segurança da exploração energética”. • Direito ao retorno para todos os
A constituição de um só Estado sobre todos refugiados para os seus locais de origem.
os territórios históricos da Palestina
constituiria – de imediato e num mesmo • Um só Estado – livre, laico e
impulso revolucionário – uma lufada de ar democrático – sobre todo o território da
para todos os povos da região. O conjunto Palestina, onde cada cidadão possa gozar
dos regimes árabes ligados ao imperialismo de direitos iguais, independentemente da
tem tanto medo quanto os dirigentes sua origem, da sua religião ou da sua
sionistas da revolução palestiniana. É por cultura.
isso que uns e outros se subordinam ao
imperialismo dos EUA.
POUS Página na Internet: http://pous4.no.sapo.pt E-mail: pous4@sapo.pt
Morada: Rua de Santo António da Glória, nº 52 B, cave C, 1250 – 217 Lisboa 
(fax): 21 325 78 11

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