Você está na página 1de 28
2a Pare Tera ~corteides do Frootana ce Geonta A Tema Ill Os espacos organizados pela populacdo 3.1. As areas rurais em mudanga 3.1.1. As fragilidades dos temas agrarios O peso da agricultura portuguesa no setor econémico ‘Ao longo do tempo, ea semelhanca do que tem acontecldo noutros paises da Unio Europeta,o peso da agricultura na economia nacional tem vindo a diminuir, sendo, no entanto, esse valor ainda elevado quando comparado com a média europea. A diminuigéo da importéncia da agricultura na economia nacional énos dada pela diminuicéo do peso do setor no PIB, de 5,196 em 1990 para 2,8% em 2001, @ ainda pela perda de importéncia do emprego no setor primario, o qual diminuiu de 21% em 1988 para 10% na atualidade ‘Apesar do decréscimo de mao de obra empregue no setor,0 total de ativos é ainda muito elevado quando comparado com a media comunitéria, 0 que revela dificuldades em ultrapassar urn certo atraso estrutural desta atividade. Oespaco rural eas paisagens agrarias O espago rural corresponde ao espa¢o ocupado, preponderan- temente, por atividades ligadas a agricultura, a pecuai cultura. Caracteriza-se por baixas densidades populacionais, por populagées autdctones dispersas ou aglomeradas em nucleos de pequena dimensao, com forte ligacdo a terra. No contexto do espaco rural destaca-se o espago agrario, que im corresponde & drea ocupada para produgo agricola e/ou criago de gado, pastagens, florestas e também pelas infraestruturas e ere equipamentos de apoio a agricultura, como, por exemple, as casas aia de habitacao dos agricultores, os armazéns, 05 caminhos ou os F&1 Regidesagrérias de Portugal continental canais de distribuigo de agua. Tendo por base uma certa homogeneidade das caracteristicas naturals, da estrutura fundiaria e do sis tema de cultura dominante, em 1977 foram delimitadas em Portugal nove regiées agrarias que vigora- ram até 2006 ffg. 1. O espaco rural nao é uniforme, apresenta, pelo contrario, uma enorme diversidade regional. O aspeto dos campos, a variedade das culturas, o ritmo dos trabalhos, a densidade da populacao e a intensidade do aproveitamento do solo imprimem ao espa¢o uma fisionomia propria, que vai exprimir-se, consoante o modo como os diferentes elementos se combinam, em diferentes paisagens agrarias. Estas caracterizam- -se por trés elementos fundamentais. ed sive h 4 ot + Morfologia agréria - Refere-se & forma e & dimensio das parcelas, a rede de caminhos, 8 disposicéo relativa dos campos, da floresta e das paisagens no espaco rural. Relativamente 4 morfologia agraria, as paisagens podem classificar se, por exemplo, em paisagens de ‘campo fechado ou paisagens de campo aberto. “Teme «0: esporos organizes pol poplocbo 'No primeiro caso, as parcelas encontram-se vedadas (por sebes, arbustos, muros ou outtras vedacbes), so, geralmente, de pequena dimensdo e encontram-se servidas por uma rede de caminhos mais ou menos densa. Este tipo de paisagem associa-se, regra geral, a um relevo acidentado, cima hiimido e solos fértels, No segundo exemplo, as parcelas apresentam maior dimens3o média do que as anteriores e com ‘uma forma mais geométrica, néo se encontrando limitadas por qualquer tipo de vedacéo, ea rede de caminhos que as servem é pouco densa. Este tipo de morfologia encontra-se, frequentemente, em regides de relevo aplanado, clima érido e solos pouco férteis. + Sistema de cultura - Forma de utilizar 0 solo agricola e que engloba as espécies cultivadas ¢ a forma ‘como se associam, bem como as técnicas ligadas a sua cultura. Diz-se que o sistema é intensivo quando se verifica uma ocupacéo integral e continua do espaco, e extensivo se se verifica uma ocupago descontinua do solo. +Povoamento rural ~ 0 modo como as casas ligadas atividade agricola se distribuem no espago rural. Pode ser disperso, aglomerado ou misto. ‘As paisagens agrérias traduzem, desta forma, 0 conjunto de lagos duréveis e profundos que o ser humano foi estabelecendo com 0 meio, condicionado por fatores naturais (como, por exemplo, as caracte- tisticas do solo, do relevo, do clima) e humanos (como, por exemplo, a densidade populacional, a histéria ouas tradicbes sociais) e que se designam por estruturas agrarias. Nas diferentes formas de ocupacdo do espaco agrério destacam-se: + superficie agricola utilizada (SAU) — érea efetivamente ocupada com culturas; «superficie florestal - rea destinaca & producéo florestal: sincultos ~ érea ocupada com formacdes vegetais espontaneas ¢ degradadas, que se encontram ~abandonadas em termos de exploragio agricola ou florestal Ousoda SAU Aproximadamente um terco (3,4 milhées de ha) da érea total nacional esta coberta por floresta ea SAU ‘ocupa cerca de 50% da érea total nacional, correspondente a 3% da SAU da UE. A maior parte da drea agri- cola esté localizada em zonas pouco favordveis a pratica da agricultura (85%), ¢ dessa rea 28,7% localiza-se fem regiées montanhosas, Este facto sempre constituiu um importante obstéculo natural 8 intensificacao da agricultura portuguesa, principalmente no interior. ‘ASAU pode ser ocupada com: +s culturas temporérias — culturas cujo ciclo vegetativo nao excede um ano, como € 0 caso dos cereais, (ou que séo ressemieadas com intervalos inferiores a cinco anos; sculturas permanentes ~ culturas que ocupam a terra durante um longo periodo de tempo, ofere- cendo repetidas colheitas, como os pomares, as vinhas, 0s olivais; pastagens permanentes ~ culturas, geralmente herbéceas, semeadas ou esponténeas, que perma- hecem por perfodos superiores a cinco anos ese destinam a pasto para o gado; shortas familiares — superficies de pequena dimenséo, onde se cultivam produtos destinados, regra geral, ao autoconsumo. cota — oturae permanentes vires permanentes — > 6) _ pacagine Tere — ‘ardvels Pa ome Teas esi Fig. 2 Evolucio da reparticio da SAL, em 1999 e em 2009 (fonte:Recenseamente Agricola, INE, 2010 — dos preiminare) 125 126 Parte Tera ~ Cones do Programa de Geograia A 0s dados preliminares do Recenseamento Agricola de 2009 permite concluir que se verifica uma sig- nificativa alteragao da ocupagao da SAU pelas diferentes culturas. A percentagem das terras araveis dimi- nuiu de forma significativa, enquanto as pastagens permanentes aumentaram em termos relativos absolutes, ocupando quase metade da SAU ffi. 21. " A anilise da distribuigdo da SAU pelas diferentes regides agrarias do pais revela enormes disparidades, ‘como se pode observar pela fg Destaca-se, a nivel nacional, o Alentejo com a SAU mais cextensa @ as Regides Auténomas dos Acores e da Madeira que, juntamente com 0 Algarve, constituem as regides ‘agrérias onde @ SAU ocupa menor extensdo de territério. Estas irregularidades verificadas na distribuigdo regio nal da SAU justificam-se pelos contrastes de ordem natu- ral e humana que marcam as diferentes regides agratias {que condicionam de forma diversa a prética da agricul tura. Assim, por exemplo, formas de relevo acidentado, constituem um obstéculo a agricultura, diminuindo as, {reas ardveis, n3o 56 pela morfologia do terreno como ‘pela menor qualidade dos solos que se Ihe associa ¢ tarn- ‘bém pelas implicagées que tem no clima. BW EnreDouro BW Abawjoeceste nino As fortes densidades populacionais e povoamento 4 1. B Alentejo disperso conduzem, também, a menores extensdes de a ne 1 bere ort 1 PAdos ores SAU, como resultado da ocupacio do territério com 1B esraieor 1 rea Madeia urbanizacdes e com infraestruturas de apoio as popula- ‘Ges, como € 0 caso das redes vidrias. O proprio desen- FS Repartkaoregiona da SAV em 205 font: NE, 2006. volvimento econémico das regides pode explicar a desigual distribuicéo regional da SAU, na medida em que o desenvolvimento industrial, turstico, comer- al, entre outros, gera maior niimero de empregos e mais bem pagos, responsdvels pelo desinteresse de que é alvo a agricultura e que conduz ao seu abandono. Também a ocupagio da SAU revela contrastes entre as diferentes regides agririas que se justificam ppelas diferengas climaticas, pela aptido dos solos e também por fatores de ordem econémica e social fg. I. (Hoes) 900 099 200000 200000 Pawo pene: BS pn aaa. SS Horst 200000 10000 feDou "Taser tate Bae” bagel 7 Afane "aAdes Pad inno” “Morte; oe taier ete owes aaa Fig. 4 Composicio regional da SAU, entre 1999 ¢ 2005 fonte:INE, 2006) Tema 0s aspacaserganizados pala populego 3.1.2 As principais producées 1, Producao vegetal Cereais « Trigo ~ Cereal de sequeito, cultivado em sistema extensivo, que ocupa a maior parte da érea dedicada {as culturas cerealiferas e apresenta uma produgéo anual irregular, muito dependente e vulnerével face as condigdes meteorolégicas. 0 Alentejo é a regido onde se registam os maiores valores de producao, seguido de Trés-os-Montes e do Ribatejo e Oeste. A producao total revela-se insuficiente para dar resposta as necessidades do mercado nacional, o que obriga a importacdo de grandes quantidades deste cereal + Milho ~ Cereal de regadio, cujos valores maximos de producéo sao obtidos nas regides agrérias de Entre Douro e Minho, Beira Litoral e Ribatejo e Oeste. Utiizado sobretudo para a alimentacio do gado, é atualmente, o cereal com maior valor € volume de producao no nosso pals, apesar de tudo insuficiente para dar resposta as necessidades de consumo interno, + Arroz.~ Exige, para o seu desenvolvimento, solos alagados temperaturas elevadas, localizando-se as 4reas de producéo nas planicies aluviais dos principais rios portugueses (Mondego, Tejo, Sado, Sorraia). CO rendimento agricola deste produto tem vindo a aumentar, mas a produgéo total obtida é ainda deficité- ria relativamente as necessidades do mercado nacional. Batata - Produto de grande importancia na dieta alimentar dos portugueses; a sua cultura esté disse- minada por todo o territério nacional, registando-se os maiores valores de producao nas regiées agrarias da Beira Litoral, de Entre Douro e Minho, de Trds-os-Montes e do Ribatzjo e Oeste. Muito sensivel as pragas eas condigdes meteorolégicas, a produco anual apresenta grandes irregularidades. Vinha - Cultivada por todo o pais, sustenta uma producao de grande significado econdmico, represen- tando mais de metade do valor das exportacdes portuguesas de produtos agricolas. A producao vitivini- ola, organizada em regides demarcadas, instituidas para garantir a sua qualidade, apresenta uma grande diversidade, podendo agrupar-se nos seguintes tipos: verdes, maduros e generosos, destacando-se, entre estes tiltimos, 0 vinho do Porto, produto de projecao internacional. Azeite — Mediterranico por exceléncia, é um dos produtos mais importantes da nossa agricultura, encontrando-se em todo o territério continental. A producéo apresenta grandes variag6es de colheita para colheita, dado que é condicionada pelas condicdes meteorolégicas, registando-se os maiores valores nas regides do Alentejo, Trds-os-Montes e Alto Douro. A producao de azeite atravessa, atualmente, um periodo de crise que resulta, entre varios fatores, do elevado custo de mo de obra, em que é muito exigente, perante a dificuldade de mecanizacéo, do envelhecimento de muitos olivais e da concorréncia determi- nada pelo aumento do consumo dos éleos alimentares. Culturas industriais + Tomate ~ A sua cultura tem como objetivo a transformacéo industrial, para a obtengao de concentra- dos, destinados, na sua grande maioria, & exportacio. As principais regiées de producao sio o Alentejo @ Ribatejo e Oeste. 0 excesso de produgao registado no espaco comunitatio levou a introduc do regime de quotas que veio penalizar este setor. + Girassol ~ Cultura de introdugao recente, apresenta como area de eleicdo para a sua produgao o Alen- tejo e Ribatejo e Oeste. A sua cultura destina-se & producdo de dleos alimentares. + Beterraba-acucareira ~ Cultura recente em Portugal, as reas de produgéo tém vindo a aumentar, loca- lizando-se, fundamentalmente, nas regides do Alentejo e Ribatejo e Oeste. «Tabaco~ Area e 0 volume de producao do tabaco tém vindo a aumentar progressivamente, sendoa Beira Interior a regio onde a sua cultura tem mais expresséo. Fruticultura — 0 clima portugues oferece étimas condiicdes para a cultura de um variado leque de pro- dutos fruticolas, um pouco por todo 0 pais, apresentando-se como um dos setores da nossa agricultura © com maiores potencialidades. Destacam-se as producées de citrinos, especialmente no sul do pafs, de = pera rocha, de magi e de frutos tropicais, como a banana, o ananés ¢ 0 quivi 127 Parte envio ~Cntesos do Programe de Gagrafa A Horticultura ~ Portugal tem excelentes condicées para o desenvolvimento da horticultura, especial- mente ao nivel das caracteristicas climiticas, destacando-se como dreas de producao mais importantes as regides agrarias do Ribatejo e Oeste e Algarve. Nas tiltimas décadas assiste-se igualmente a difuséo da produgao em estufa de virias espécies, sobretudo as que tém maior valor de mercado. Floricultura ~ Producéo de alto rendimento econémico e que se encontra em fase de expansio no nosso pals, realizada essencialmente em estufa. O litoral constitui a rea com melhores condicées para o seu desenvolvimento, com destaque para a regio do Ribatejo e Oeste e também para a ilha da Madeira, onde é de assinalar a produgdo de espécies subtropice 2. Produgéo animal Gado bovine ~ A criagéo de gado bovino reveste-se de grande interesse no contexto da atividade agro- pecuéta, registando um aumento significativo tanto no que diz respeito ao total de efetivos criados como na Introdugao de novas espécies, bem como, mais recentemente, com a preservacéo de racas autéctones. Até hd pouco tempo, o Norte foi a principal regio portuguesa de criagdo de gado bovino, devido telativa abundancia de pastagens, cujo desenvolvimento é favorecido pela elevada precipitacdo e ameni- dade de temperaturas que caracterizam o clima, Atualmente, a criacio de gado bovino para producao de lelte continua a ser muito expressiva, especialmente nas regides agrérias de Entre Douro e Minho e Beira Litoral, mas é realizada em sistema intensivo ou misto. Entretanto, o aumento da superficie agricola dedicada as culturas forrageiras e a introdugao de novas, ‘t€cnicas tém conduzido a expanséo deste gado para outras regides, nomeadamente para o Alentejo, onde écriado em regime extensivo para producao de came. Actiagao de bovinos, para producao de leite, assume especial importéncia no arquipélago dos Acores. Gado ovino e caprino - Adaptando-se bem a tegides de clima érido e pastagens pobres, a criacio de gado ovino e caprino, em regime extensivo, domina no interior e no sul do pais, tanto para a producéo de carne como de leit, sendo este tiltimo, frequentemente, o suporte de desenvolvimento de certas producées regionais de grande qualidade (refere-se, a titulo de exemplo, a produgao de queijo da serra da Estrela). Suinicultura ~ A criacéo de gado suino em moldes industriais tem registado um aumento significativo,” assumindo, hoje, um lugar de destaque na pecuéria nacional. A suinicultura moderna, caracterizada pela Conceitos a reter ‘Agenda 2000 ~ Documento, apresentado em 1997, onde se estabelecem as grandes questées que a Unido Europela deve enfrentar num futuro préximo e que se relacionam com o alargamento a outros paises e com a necessidade de rever polticas comuns. Desenvolvimento sustentével - Desenvolvimento desejével que deve ser concretizado através de medi- das que tenham em vista a satisfacao das necessidades presentes, através da exploracio dos recursos, mas de tal forma que nao coloquem em riscoa satisfacdo das necessidades das gerac6es vindouras. Emparcelamento - Agrupamento de pequenas parcelas, de forma a consttuir conjuntos mais vastos que viabilizem a introdugdo de tecnologias modernas, para aumentar a produtividade e o rendimento agri-

Você também pode gostar