O presente trabalho pretende expor de forma reflexiva a concepção de harmonia mais especificamente na ora obra de Filolau de Crotona. Porém, para tanto é necessário a elucidação dos conceitos base como limitantes e ilimitados na esfera ontológica-metafísica do ser das coisas da natureza e elucidar o conceito de número na esfera epistemológica.
O presente trabalho pretende expor de forma reflexiva a concepção de harmonia mais especificamente na ora obra de Filolau de Crotona. Porém, para tanto é necessário a elucidação dos conceitos base como limitantes e ilimitados na esfera ontológica-metafísica do ser das coisas da natureza e elucidar o conceito de número na esfera epistemológica.
O presente trabalho pretende expor de forma reflexiva a concepção de harmonia mais especificamente na ora obra de Filolau de Crotona. Porém, para tanto é necessário a elucidação dos conceitos base como limitantes e ilimitados na esfera ontológica-metafísica do ser das coisas da natureza e elucidar o conceito de número na esfera epistemológica.
A Harmonia: os limitantes e limitados e os nmeros em Filolau de Crotona
Professor: Jos Luiz Furtado
Mestrando: Juliano Gustavo dos Santos Ozga (UFOP) O presente trabalho pretende expor de forma reflexiva a concepo de harmonia mais especificamente na ora obra de Filolau de Crotona. Porm, para tanto necessrio a elucidao dos conceitos base como limitantes e ilimitados na esfera ontolgicametafsica do ser das coisas da natureza e elucidar o conceito de nmero na esfera epistemolgica. A minha inteno do trabalho o fato limitador reflexivo sobre a msica, apenas atravs de uma concepo particular, ou seja, sonora e concreta. Por isso, proponho que a concepo reflexiva e esttica possibilite uma anlise a partir do registro geral filosfico e esttico envolvendo a harmonia musical pitagrica, sendo essa a justificativa de optar por no adentrar no registro particular sonoro e concreto da msica. Por conseguinte, a partir dessa perpectiva 1, podemos parodiar o dito de Leibniz [...] e afirmar: musica est exercitiumphilosophieaccultumnescientis se philosophari animi (a msica um exerccio oculto de filosofia, no qual a mente no sabe que est filosofando). (SCHOPENHAUER, 2001, p. 283).
Sobre essa reflexo de Schopenhauer, possvel pensar que a msica e a
filosofia partilham do mesmo logos, porm, com linguagens diferentes, ambas partilhando o aspecto sonoro, uma atravs de sons expressos por uma linguagem musical especfica (a notao musical), e outra atravs dos sons em um discurso enunciado atravs de letras e sons (o alfabeto).Dessa reflexo partiu meu interesse para uma abordagem filosfica e esttica que norteou minha pesquisa. Assim, necessrio elucidar cada parte da pesquisa. Fragmentos de Filolau de Crotona (Bornhein):
1[...] que a msica coincide por completo em seu tema com a filosofia: dizem o mesmo em duas linguagens diferentes [...] (SCHOPENHAUER, 2003, p. 238).
Fragmento 1: A natureza foi ordenada, no cosmos, com (elementos)
ilimitados e limitados, - tanto a totalidade do cosmos como todas as coisas nele (existentes). Fragmento 2: Necessariamente todas as coisas devem ser ou limitadas ou ilimitadas, ou tanto limitadas como ilimitadas. To-s ilimitadas ou limitadas no podem elas ser. Como, evidentemente, no constam s de (elementos) limitados ou ilimitados, torna-se evidente ter sido ordenado o cosmos e as coisas nele existentes de (elementos) limitados e ilimitados. Pois aquelas das coisas reais compostas de (elementos) limitados so limitadas; as compostas de (elementos) limitados e ilimitados so limitadas e ilimitadas; e aquelas compostas de (elementos) ilimitados aparecem como ilimitadas. Fragmento 3: Se tudo fosse ilimitado, em princpio no haveria nem mesmo objeto de conhecimento. A concepo de limitantes e ilimitados nos Fragmentos de Filolau pressupe um aspecto ontolgico da realidade formado atravs da harmonia de coisas limitadas e coisas ilimitadas. A fundamentao terica ontolgica dos limitantes e ilimitados necessria para analisar a constituio da realidade do cosmos. Sendo assim, o cosmos formado e ordenado a partir de elementos limitados e ilimitados. Os conceitos de limitados (peirannta) e ilimitados (peira) possuem suas caractersticas prprias e especficas. Os limitantes so mpar e indivisveis e os ilimitados so par e divisveis. Por esse fato adentramos na concepo de ordenamento do cosmos dentro da concepo pitagrica, mais especificamente na concepo de Filolau de Crotona, que concebe o cosmos como harmonia dos elementos limitantes e ilimitados. O passo seguinte a constatao da essncia dos elementos limitantes e ilimitados. Os limitantes e ilimitados possuem a caracterstica de ser um acordo de coisas limitadas e coisas ilimitadas, ou seja, a evidncia da realidade expressa atravs dos nmeros. Filolau de Crotona expressa sua concepo atravs da questo tudo nmero de forma diferente de Plato e Aristteles. A conhecida questo filolaica expressa como acordo de coisas limitadas e coisas ilimitadas evidente atravs da
essncia dos seus elementos, ou seja, limitados-mpar e ilimitados-par, expressos atravs
dos nmeros. Portanto, aqui nos interessa a reflexo sobre a contribuio de Filolau de Crotona, conhecida como soluo filolaica (baseada nos fragmentos de Filolau) que ser decisiva para o impasse entre a concepo platnica e aristotlica acerca do conceito de nmero como princpios ontolgicos, pelo fato de a soluo filolaica tratar os nmeros como princpios epistemolgicos, ou seja, como acordo de coisas limitadas e coisas ilimitadas. Desse fato,seguindo Cornelli, possvel objetivar a pesquisa atual, ou seja, expressar uma sntese entre cosmologia milesiana do ilimitado e a concepo da perfeio do ser no limite da matriz eletica, expressa atravs da escala diatnica pitagrica, sendo o parmpar o equivalente numrico da mistura ou harmonia para os limitantes/ilimitados. Fragmento 4: E de fato, tudo o que se conhece tem nmero. Pois impossvel pensar ou conhecer alguma coisa sem aquele. Fragmento 5: O nmero possui duas formas prprias: par e mpar e uma terceira forma resultante da mistura das outras duas: o par-mpar; ambas as formas apresentam, contudo, muitas configuraes, as quais cada coisa demonstra por si. Assim os nmeros so entes que imitam a realidade do cosmos. O nmero Um formado da unio e vigor do mpar e do par, ou seja, o Um seria par-mpar em sua essncia. A partir dessa concepo epistemolgica e gnosiolgica dos nmeros que podemos conhecer a realidade do cosmos. Sendo o cosmos a harmonia do indivisvel limitante e do divisvel ilimitados, atravs dos nmeros que podemos conhecer a realidade das coisas. Dessa concepo de nmero fica claro o conceito de arithms como nmeros, ou seja, unidades plurais. O conceito de arithms atribudo no ao nmero Um mas sim a partir do conjunto de unidade plural, ou seja, dois, trs unidades. Os nmeros possuem a caracterstica de por em evidncia as realidades das coisas limitadas e coisas ilimitadas. atravs dos nmeros que temos a evidncia abstrata da existncia emprica da realidade, e assim podemos calcular e medir o cosmos
e seus elementos. O nmero possui uma evidncia epistemolgica e gnosiolgica em
sua essncia. Fragmento 6: As relaes entre natureza e harmonia so as seguintes: a essncia das coisas, que eterna, e a prpria natureza, admitem, no o conhecimento humano e sim o divino. E o nosso conhecimento das coisas seria totalmente impossvel, se no existissem suas essncias, das quais formou-se o cosmos, seja das limitadas, seja das ilimitadas. Como, contudo, esses (dois) princpios no so iguais nem aparentados, teria sido impossvel formar com eles um cosmos, sem a concorrncia da harmonia, donde quer que tenha est surgido. O igual e o aparentado no exige a harmonia, mas o que no igual nem aparentado, e desigualmente ordenado, necessita ser unido por tal harmonia que possa ser contido num cosmos. A grandeza da harmonia (oitava 1:2) compreende a quarta (3:4) e a quinta (2:3). A quinta maior que a quarta por um tom (8:9). Pois da hypate (mi) at a mese (l) h uma quarta; da mese at a nete (mi), uma quinta; da nete at a trite (si), uma quarta; da trite at a hypate, uma quinta. Entre trite (si) e mese (l) h um tom. A quarta, contudo, est na relao de 3:4, a quinta de 2:3, a oitava de 1:2. Portanto, a oitava composta de cinco tons e dois semitons, a quinta de trs tons e um semitom, a quarta de dois tons e um semitom. O conceito de tetraktys pitagrico uma expresso clara dessa ligao ontoepistemolgica entre limitados e ilimitados e os nmeros. Atravs da soma dos nmeros 1, 2, 3 e 4 conclui-se 10. Usando os exemplos dos intervalos musicais pitagricos podemos exemplificar melhor a situao. Atravs da relao de 3:4 obtemos o intervalo de quarta, da relao de 2:3 o intervalo de quinta e da relao de 1:2 o intervalo de oitava, sendo que um tom o resultado da relao 8:9. Assim, atravs dos nmeros podemos conhecer a realidade e mensurar a diferena dos intervalos sonoros que compe a realidade do cosmos atravs dos sons, ou seja, a concepo exterior da viso cosmolgica da realidade do limitante e ilimitado. Assim, os nmeros e sua concepo epistemolgica e gnosiolgica atravs da mmesis possibilitam a evidncia e traduo da realidade ontolgica dos limitantes e ilimitados para uma forma inteligvel atravs de uma linguagem matemtica que posteriormente expressa na harmonia musical pitagrica.
Portanto, atravs da concepo esttica da harmonia musical pitagrica que
expressamos o conhecimento atravs dos nmeros oriundos dos limitantes e ilimitados. A expresso esttica da harmonia musical pitagrica a ponta da pirmide do sistema pitagrico de viso de mundo. O Um como harmonia do par-mpar expressa atravs da gerao dos nmeros e da sua expresso nos intervalos musicais. A forma numrica de expressar os intervalos musicais sonoros uma forma epistemolgicagnosiolgica para fundamentar toda a teoria da harmonia musical pitagrica. Portanto, a base da pirmide atravs dos limitantes e ilimitados ontolgica, o intermedirio dos nmeros epistemolgico e a ponta da pirmide do sistema pitagrico esttica atravs da harmonia musical pitagrica. Assim, nas linhas anteriores ficou claro a derivao e ligao da concepo esttica da harmonia musical pitagrica com a linha epistemolgica dos nmeros e a linha ontolgica dos limitantes e ilimitados. Ou seja, o sistema pitagrico uma hierarquizao e interdependncia da realidade e de como ns conhecemos essa realidade ou cosmos. Assim no sistema pitagrico de Filolau de Crotona, a esttica musical dependente de um aspecto epistemolgico dos nmeros que evidncia da realidade da ontologia dos limitantes e ilimitados que ordenam o cosmos. Referncia Bibliogrfica: 1- BORNHEIN, G. (Org.). Os Filsofos Pr-Socrticos. So Paulo: Editora Cultrix, 1998.