Você está na página 1de 10
A Associagéo Brasileira de Engenharia Sanitaria e Ambiental secdo Sao Paulo, Abes-SP, tem formado grupos de trabalho para a discussao dos temas candentes do setor. Em abril e maio passados, um grupo de trabalho coordenado pelo engenheiro Pedro Caetano Sanches Mancuso (coordenador de pesquisa operacional da Sabesp e Me NL OL RN ay een tne ee a Oa ee oe a a cg eo ea dos Santos (especialista na drea de meio ambiente da Sabesp). Integraram o grupo de trabalho: Dione Mari Morita (coordenadora de pesquisas do ROR LLL BIN ee Le cA ee Ld USP), Doron Grull (engenheiro consultor em gerenciamento de recursos hidricos), José Maria Costa Rodrigues (engenheiro consultor de engenharia sanitdria e ambiental), José Soares Pimentel (especialista em desenvolvimento de tecnologia operacional da Sabesp), Manoel Henrique Campos Botelho (especialista em engenharia sanitdria e ambiental), Rubens Monteiro de Abreu (assessor da Coordenacao do Grupo Executivo do Projeto de Despoluicao do Tieté), Sérgio Eiger (professor do Dept? de Engenharia Hidréulica e Sanitaria da Poli-USP). Correspondéncia: Rua Costa Carvalho, 234 — 05429-000 — Sao Paulo, telefone (URES IM) Le CaS oc ae ea Xxill teuso da agua para fins nao potdveis foi impulsio- nado em todo mundo nas tiltimas décadas, devido 3 crescente dificuldade de atendimento da de- manda de gua para os centros ur: banos, pela escassez cada vez maior de mananciais préximos e/ou de qua- lidade adequada para abastecimen to apés tratamento convencional ‘Com a politica do reuso, importantes volumes de égua potdvel so poupa dos, usando-se a égua de qualidade inferior — geralmente efluentes se- cundérios pés-tratados — para aten- dimento daquelas finalidades que po- dem prescindir da potabilidade. As imagens mais comuns associa: das ao reuso da agua sio normal mente aquelas ligadas ao abasteci- mento doméstico, industrial e agricola. O reuso da agua, entretan- to, afeta outras utilizac6es do recurso hidrico, como a da diluigéo dos des- pejos nos cursos d’agua receptores, 0 uso de mananciais para abastecimen- to, anavegagao, as atividades recrea- cionais, a pesca, e mesmo a geracdo de energia hidroelétrica. Torna-se, as- sim, recomendavel que o reuso da gua seja abordado sob a dptica do uso miltiplo dos recursos hidricos ‘Sao muitas as formas e configura- bes de reuso da gua. A selecao de uma determinada alternativa deve considerar seus efeitos locais e sobre as regides vizinhas, em cenérios atual e estimado para 0 futuro. Os impac- tos sociais, ambientais e econémicos, positivos e negativos do reuso plane- jado devem ser criteriosamente ava- liados para que a proposta se apro- xime da 6ptica na exploracéo do recurso hidrico. A forma de reuso pode ocasionar importantes alteracoes na qualidade ena quantidade das aguas, bem co- mo na morfologia dos corpos d'aqua, devido a mudancas no regime de transporte da descarga sélida nestes cursos. A transposigao do recurso hidrico entre bacias hidrogréficas pode as ve- cy 2es gerar confltos entre as necessida- des dos usuérios das bacias afetadas. trazendo para a bacia importadora — como a da Regiéo Metropolitana de Sao Paulo (RMSP) por exemplo — a necessidade de captar mananciais adequados cada vez mais dstantes do p6lo consumidor. Por outro lado, a bacia exportado- 1a do recurso hidrico tem sua oferta para consumo local diminufda, com eventuais prejuizos para manuten¢ao de sua qualidade de vida. O reuso das ‘éguas surge como forma de minimi- zar, ou mesmo evitar, esses conflitos. Um programa de reuso da agua nao pode prescindir de informacées confidveis a respeito das caractersti- cas quantitativas e qualitativas do re- curso hidrico alvo do estudo, tanto o superficial como o subterraneo, De- vem ser avaliadas as demandas de gua, as cargas poluidoras afluentes aos cursos d’4gua e a autodepuracao que eles possam promover As varidveis qualitativas e quantita. tivas significativas devem ser selecio- nadas @ monitoradas com uma fre~ aliéncia eduracao satisfatérias. A con- fiabilidade destas informagdes aumen- ta com a extensao das séries hist6ri- cas de dados, fato importante a con siderarno dimensionamento e na ope ago das redes de monitoramento. O encaminhamento destas ques. tées deve fazer parte de uma estru- tura institucional adequada para abor- dar este problema multidisciplinar, REVISTA: DAL dentro da qual deve ser destacada a importancia de ser criado, incentiva- do e mantido um corpo téenico e aca- démico capaz de compreender e li- dar com os problemas envolvidos com 0 reuso da égua No jomal O Globo, de 8 de maio de 1992, pégina 16, encontra-se uma sintese apropriada para enfatizar a atengao que deve ser dada & escas- sez mundial de égua: “A gua pura € mercadoria rara. E 0 desperdicio é a pratica comum. De toda a 4gua do planeta, apenas seis por cento servem a0 consumo humano, Estima-se que no ano 2000 a égua ser produto es- casso em diversos pafses, pelo au: mento do consumo doméstico, na agricultura e na industria “Em todo 0 mundo, o uso da égua aumenta de maneira dramética, acompanhando a explosio demogré- fica. Em 1950, eram 1360 quiléme- tros etibicos por ano. Em 40 anos, su- biu para 4130 quilémetros cfbicos. A agricultura 6 @ maior consumidora mundial (69%, contra 23% da ind tria e 8% de consumo doméstico) Além das reservas limitadas, a gua sofre com 0 lixo, o esgoto e outros elementos t6xicos. A UNESCO, a Or- ganizagéo Mundial da Sade e o Pro- grama das Nagdes Unidas para o De- senvolvimento mantém projeto de monitoramento da qualidade da agua desde 1977, PNUMA, em 240 tios e 43 lagos de 59 paises. “Aproximadamente dez por cento dos cursos d’égua do considerados poluidos, reduzindo a oferta de agua potavel. “As agressdes aos oceanos e ma- res também esto na mira do PNU- MA. Mais da metade da populacao de paises em desenvolvimento obtém do mar 30% de suas proteinas ani- mais.” Definicdes e conceitos A terminologia dos reusos é a ado- tada em (1) Ce Reuso potavel direto Ocorre quando 0 esgoto tratado por meio de processo avancado é in- jetado numa adutora de agua potavel A Abes — SP nao recomenda hoje 0 reuso potdvel direto porque (a) a tecnologia dispontvel torna o custo proibitivo, (b) porque inexiste conhe- cimento em amplitude e profundida de necessérios sobre o rol de poluen tes e contaminantes do. recurso hidrico e, (c). porque a dificuldade em controlar a flutuagéo da qualidade da Agua processada pode trazer riscos inaceitaveis & populacdo. Mesmo em pafses desenvolvidos tal pratica nao é de uso corrente, em virtude dos motivos apontados. Nu- ma escala de prioridades de proble mas a resolver no saneamento bési- co brasileiro, 0 reuso potével direto nao deve encabegar a lista A conceituagao de reuso potavel direto tem sido também vista por al- guns autores sob um enfoque mais amplo, Conceituam muitos que o reuso é direto sempre que 0 efluente tratado é reutilizado pelo mesmo usuario, com ou sem diluic&o, porém sem que tenha ocortido descarga na natureza, o que daria oportunidade para que a auto depuracao natural purificasse o despejo lancado, antes da captag3o para novo uso. Reuso potdvel indireto O esgoto tratado quando lancado em corpos d4gua ou infiltrado no ter- reno reforca a disponibilidade das Aguas superficiais ou subterréneas Trata-se do reuso natural, onde fato- res como a diluicdo e a reaeracao, no caso das aguas de superficie, promo- vem a purificagao natural do recurso rico, viabilizando sua captacao, tra- tamento e consumo como agua potavel, Pode se dar de forma planejada ou nao. No caso das éguas superficiais podem ser planejadas obras para des- cas i SABESP — N° 167 — SI ee cargas intencionais 8 montante do ponto de captagao. A diluigao é de- pendente do volume de égua dispo nivel no receptor e a teaeracao, da ve. locidade das dguas do rio. No caso das Aguas subterraneas, recargas pla- nejadas podem decorrer do tratamen- to dos esgotos por infiltragao-perco- laco no solo, ou por injecdo pressu- tizada, ambas modalidades reforcan- do 0 agiitfero. Na Flérida (2), @ permisséo para descarga de efluentes em agifferos rasos $6 é concedida se nenhuma ou- tra alternativa for possivel e se a ope- ragdo for tempordria. Na California, a recarga é autorizada se puder ser demonstrado que nao existe risco de contaminacao de aqiifferos de quali- dade de gua superior. ‘A Abes — SP recomenda que tal forma de reuso seja estudada e off mizada no Brasil através do gerencia- mento competente das bacias hidro- graficas regionais e da consideracao de seus efeitos sobre 0 uso planeja- do para o agiiffero Reuso ndo potdvel Agricola — Ocorre quando o efluente das estacdes de tratamento de esgotos (ETES), convenientemen- te condicionado, é utilizado para irri- gagao da agricultura de sustento ou forrageira e/ou para a dessedentacao de animais. Como conseqiiéncia des- ta modalidade de reuso, na maioria das vezes ocorre a recarga do lengol freatico. A Abes — SP recomenda (2) que a qualidade da agua para este tipo de reuso seja examinada observando-se 05 limites normalizados para poluen- tes na agua de irrigacao, fixados pa: ta perfodos curtos (menos de 20 anos) e para uso a longo termo. Os primeitos séo para solos de textura fi na, neuttos ou alcalinos. com alta ca- pacidade de remogao dos diferentes poluentes, enquanto os segundos sao fixados conservativamente, para cul- tivo da planta mais sensfvel a deter: minado poluente, em solo arenoso. que tem baixa capacidade de reacao, tendo portanto baixa capacidade de remogao do poluente em questo. Industrial — Trata-se do reuso do efluente das ETES, convenientemen- te condicionado por tratamento pos- terior se necessétio, para torres de res- friamento, caldeiras, gua de processamento, construgdes civis e fins menos nobres que possam pres- cindir da qualidade da 4gua potavel Alguns processos industrials po- dem exigir qualidade superior 8 da Agua potavel, o que deve ser objeto de estudo e negociagao, como abor- dado posteriormente, na referencia 0s aspectos de venda da agua pro- cessada. Por outro lado, so freqien- tes os casos em que as indistrias es- tudam a conveniéncia de captar seus préprios despejos, como seré abor- dado posteriormente ainda neste seg- mento e nos critérios sugeridos para a avaliagéo econémica do empreen. dimento. A Abes — SP recomenda atencao prioritéria para esta modalidade de reuso, pelas seguintes razées: * Sao grandes consumidores, fa- vorecendo a viabilidade econémica do empreendimento, por se tratar de adugdo para consumo localizado. Em ‘Sao Paulo jé foi estimado que dos 55 m3/s de agua potdvel distribuida, cerca de 13% sao consumidos pela indGstria. Em 1980, estimava-se (6) que 0s grandes consumidores cresce- riam sua demanda dos “atuais” 2.4, co para 16.8 m/s, até 0 ano 2000 Grande parte do consumo dessa gua de excelente qualidade poderia ser poupada, em beneticio da popu- lacdo, se a Sabesp fornecesse 0 efluente de suas ETEs para este seg- mento do consumo. * Em algumas situagdes, como no ABC paulista por exemple, o efluen- te das ETEs pode se constituir em al- temativa natural para o suprimento de gua para as indtistrias, O rio dos Me- ninos e o Tamanduatef tem suas va- z6es de tempo seco quase intetra- mente formada pelo esgotos da regido: tal vazdo desaparecerd quan- do a ETE ABC da Sabesp comecar a operar, pois os coletores marginais s calhas dos rios fardo a intercepta- G0 dos esgotos — hoje seus tributé ios diretos, A Sabesp, distribuindo seu efluente tratado, estaré servindo uma agua de melhor e mais constante qualidade para as indtistrias, do que @ agua (esgoto ?) hoje captada nos tios mencionados. * Considerando a importante par- cela da agua potdvel que é consumi- da em todas as metrépoles brasilei- ras, a Abes — SP acha oportuno lembrar que desde os anos 600 Con- selho Econdmico e Social das Nacoes Unidas endossa a politica (2),(5): “Nenhuma égua de qualidade supe- rior d requerida para um determina- do fim deve ser utilzada, saluo se se encontrar em excesso, se o fim pre- tendido tolerar uma dgua de qualida de inferior” ("No higher quality wa- Eo ter, unless there is a surplus of it, should be used for a purpose that can tolerate @ lower grade”) Em 1942 (7), 4,5 m3/s do efluen- te secundario por lodos ativados da ETE Back River em Baltimore, US.A., foram clorados e aduzidos por uma tubulacao de 2.44 m de diame- tro e 7.2 km de extensao, para trata mento em Sparrows Point, numa ins talagdo exclusiva da siderurgia Bethlehem Steel Company. E em 1982 (7), uma adutora de 58 km ini- clou a adugio do efluente secunda- tio da cidade de Phoenix, US.A., pa- ta a ETE terciaria da Usina Nuclear de Palo Verde, com o propésito de uso do efluente terciétio em suas tor: res de refrigeracao. Outra forma de reuso industrial é a praticada dentro da prépria indas- tria, obedecendo o principio da eco- nomicidade do recurso hidrico, pelo qual ele deve ser reutilzado 0 maior nidimero de vezes que for possivel, an- tes de ser finalmente descartado. Nesse processo de reciclagem den- tro da indGstria, a Agua tem sua qua- lidade alterada, devendo ser levados em conta, dentre outros fatores co- mo elevacao da temperatura, nutrien- tes, pH, sélidos em suspensio, car- gas orgénicas, metais pesados e téxicos O reuso da Agua, conveniente- mente tratada, tem sido empregado com sucesso (2) mesmo como gua de reposigéio para tomes de refrigera- 0, com ciclos de evaporacao- -recitculagao. Nestes casos, os requi- sitos de qualidade sao severos, devido a0 possivel actimulo de contaminan- tes durante os sucessivos ciclos de re- frigeracéo. As instalagdes de reciclo de égua industrial s80 de iniciativa da propria indiistria, cabendo ao Estado contro- lar a qualidade e/ou quantidade do efluente descartado. Recreacional e/ou piiblico — Trata-se do reuso do efluente das ETS ETEs, convenientemente condiciona- do por tratamento posterior, para a inrigagao de parques, campos de es- porte, rega de jardins, lagos omamen- tais ¢/ou recreacionais, postos de ser- vigo para lavagem de automéveis. A remogao de nutrientes é desnecess& tia (5) quando o reuso for voltado pa- yaa irigagao urbana, incluindo as tes primeiras modalidades acima men- cionadas. Este reuso j6 € praticado hé longa data no exterior e 6 recomendado pe- la Abes — SP. Na Califémia (3), 0 “Porter Cologne Walter Quality Control Act” de 1977, recebeu adendos que prof- bem 0 uso de Aqua potavel para irri gacao de cinturdes verdes, incluindo campos de golfe, cemitérios, parques e faixas de dominio de auto-estradas, nas ocasides em que for possivel rea liar o reuso da agua Doméstico — Trata-se do reuso do efluente das ETEs, conveniente- mente condicionado por tratamento posterior, para rega de jardins residen- ciais, lavagem de carros, areas verdes de condominios, descargas de vasos sanitérios. Como no caso anterior, trata-se de reuso jé praticado habitualmente no exterior e é recomendado pela Abes — SP. Em Cingapura, (3), 0 sistema nao potével foi ampliado, para realizar a descarga de vasos sanitarios em um conjunto de prédios residenciais de 12 andates (25.000 habitantes). O reuso para a descarga de vasos sani: térios, apresenta-se mais convenien- te para grandes conjuntos residenciais ou edificios comerciais do que para residéncias unifamniliares, Manutencao de vazdes minimas de cursos de Agua — Trata-se da uti- lizagdo planejada de efluentes de ETEs para garantir vazéo minima de diluigdo dos esgoios, de fontes pun- tuais ou nao, descarregadas em de terminado curso receptor, A Abes ~- SP recomenda que tal modalidade seja utilizada quando de comrente de planejamento competen- te do recurso hidrico regional. Aquacultura — Trata-se do reuso do efluente das ETEs, conveniente- mente condicionado por tratamento posterior para a alimentacao de reser- vat6rios destinados & produgao de peixes e plantas aquéticas objetivan- do a obtengéo de alimentos e/ou energia da biomassa aquatica. A Abes — SP recomenda que tal modelidade seja utlizada quando de- monstrada ser viével economicamen- te (1). Recarga de aqiiiferos subterré- neos — Trata-se do reuso do efluen- te das ETEs, convenientemente con- dicionado por tratamento posterior se necessério, para suplementar o nivel do agiiffero ou para evitar a intrusdo da cunha salina em cidades a beira- -mar. A recarga permite a redugdo dos custos de bombeamento, uma vez que o nivel da agua subterranea aumenta apés a recarga. A Abes — SP recomenda tal reu- so, cuja tecnologia j4 6 disponfvel no exterior. Pode ser feito por injegao pressu- rizada ou através do uso de égua su- perlicial, cuja vazio de base tenha si- do reforgada pela recarga do aqiiffero alimentador. No primeito caso (2), a Agua deve ser de tal qualidade que no acartete o entupimento do pogo LS de injecdo e/ou do aqiiffero no en- tomo do pogo. Padrées de qualidade Orreuso da dgua exige o conheci- mento das caracteristicas fisicas, qui- micas e biolégicas das éguas residué- rias ou polufdas, de modo a adequar seu tratamento a obtencao da quali- dade que satisfaga 0s critérios reco- mendados ou os padrées que tenham sido fixados para determinado uso. No Brasil, os centros mais avanga- dos tém procurado acompanhar a evolugao mundial da legislacdo nes- te campo. Nas décadas de 70 e 80, foram estabelecidos padrdes de qua- lidade de acordo com essa tendéncia. A Portaria 13/76 da Sema ea Reso- lugo 20/86 do Conama, em vigor, tratam dos padrées de qualidade das 4guas interiores e costeiras. Os pa- drdes de potabilidade foram alvo da Portaria 56/77, sendo hoje regidos pela Portaria 36/GM do Ministério da Satide, publicada em 19 de janeiro de 1990. A Feema e a Cetesb colaboraram através do Cepis da Organizacao Pa- namericana de Satide (OPS), para a elaboracao de um Manual de Avalia- ¢Go e Manejo de Substancias Téxicas em Aguas Superficiais (1988) Entretanto, o incremento constante da atividade industrial e as inovacdes tecnol6gicas tém introduzido um cres- cente némero de substancias orgét cas e inorganicas complexas no meio ambiente. Existem mais de sete mi- Ihdes de substéncias quimicas regis- tradas no Chemical Abstract Service dos Estados Unidos, das quais setenta mil sao usadas corriqueiramente nos paises industrializados. A impossibilidade de quantificar analiticamente tal ntimero de substan- cias levou entidades como a EPA, 2 OMS, a Comissdo das Comunidades Européias e a do Rio Reno, na Ale- manha, a divulgarem listas contendo poluentes denominados prioritérios Sa Foram assim designados por terem si- do considerados os mais t6xicos, per- sistentes, bioacumulativos, carcinogé- nicos, mutag@nicos, teratogénicos € Por estarem presentes com maior fre- qiiéncia e concentracao nos efluen- tes industriais. Tém também como ca- racteristica comum a possibilidade de serem identificados e quantificados. Tendo em vista a proposta de reu- so da Agua, a Abes — SP sugere que a Ministério da Satide desenvolva uma lista de contaminantes priorité- rios que seja adequada ao objetivo do programa e & nossa realidade. Esta ls- ta levaria em conta as limitagdes ana- Iiticas no Brasil, os escassos recursos econdmicos e humanos dedicados a esta Srea e as condigées de uso e ocu- pago do solo dentro da bacia hidro- grafica, alvo do programa de reuso da gua. Seria imprescindivel a atualiza- ao dos padrées de qualidade de for- ma a acompanhat a evolugao do pat- que industrial e 0s novos estudos epidemiolégicos e toxicolégicos. Nao & demais enfatizar que o grau de atendimento & legislagao depen de fundamentalmente da capacitacao tecnolégica dos laborat6rios, da con- fiabilidade e da repetitividade dos da- dos das anélises realizadas. Ao mes- mo tempo devem ser implantadas metodologias para estudos epidemio- légicos e toxicolégicos, de tal forma que a avaliacdo dos riscos do em- preendimento reuso da 4gua possa ser confiavel, atual e continuamente realizada, Embora de forma dispersa, infor- mages sobre a qualidade da gua para o reuso podem ser encontradas com relativa abundancia na literatu- ra especializada. Neste documento, a ‘Abes — SP considera pertinente re- ferenciar estas fontes para faciitar uma pesquisa objetiva orientada pe- Jo interesse do leitor. As referéncias citadas a seguir complementam as mencionadas em cada topico de “Coneceitos e Definig6es”, na parte ini- cial deste documento, e as lembradas em “Tratamento”, em item posterior. Para o reuso potavel a Abes — SP testringe suas observagées ao reuso potavel indireto, 0 tinico hoje reco- mendavel, como enfatizado anterior- mente. Para esta modalidade de reu- soa Abes — SP adota a posigao da Organizagao Mundial de Satide (9) que recomenda a adogao dos pa- drées de potabilidade de cada pats. No caso do Brasil, a jé mencionada Portaria 36 do Ministério da Satide Para o reuso ndo potdvel agricola, o trabalho de Crook, J. (10), apresen- ta 0s limites para coliformes utilizado na Califémia, conforme a cultura e 0 método de aplicacao; compara com 08 tecOmendados pela OMS para os paises em desenvolvimento; sugere direttizes para interpretacao da qua- lidade da agua conforme o solo e a cultura; recomenda os limites de elementos-trago para uso a longo e curto prazos. Weber, M.D. et ali (11), consideram os metais pesados nos so- los € nas plantas. Amaral, R. (12), apresenta as concentragdes méximas de elementos t6xicos, para protecéo ao solo - plantas - animais - homem. Blumenthal, UJ. et alii (13) publica~ ram em, 1989 um modelo para ava- liag&o dos riscos & satide humana com base em uma definic&o epide: miolégica do risco no reuso da Agua. 0 trabalho aborda o tratamento da gua re siduéria, culturas seletivas para aplicag&o do efluente tratado, méto- dos de aplicagao e controle da expo- siggo humana ao efluente. O mode- 1o abrangente do reuso em agricultura € em aquacultura e a apresentagao traz estudos de caso em seis patses di- ferentes, Para o reuso nao potavel recrea- cional, seja o primério (imersao cor- poral Prolongada, como na natacdo), seja © secundério (contato acidental ou transitério com a 4gua, como na Pescaria ou passeios de barco), Culp.¢ et alii (1.4), publicaram tabelas com os limites tolerdveis para cada _pa- rametro. Para. reuso nao potavel indus- trial, nove classes (3) de processos in- dustriais foram relacionadas com suas respectivas exigéncias de qualidade, em ordem crescente das exigencias, pelo Federal Office of Water Research and Technology, em 1979: produgdo primdria de metal, petrdleo e produ: tos de carvdo, curtumes, serarias, in- diistrias téxteis, inddstrias quimicas, indistrias de polpa e papel, alimen- tos enlatados, refrigerantes, A Abes — SP faz restrigées a0 uso no Brasil dos dois ditimos. Devem ser ainda en- fatizados os aspectos de satide publica na distibuigao do efluente tratado pa- rao reuso, cuja qualidade deve ser tal que nao ofereca riscos a ingestao oca- sional da gua sendo distribuida (Okun, DA. (15), Dean, R.B. (16), OMS (9), Para 0 reuso nao potavel domés- tico, valem as observacées do caso anterior quanto as cautelas para pre- servacio da satide publica, comple- mentadas com os critérios de proje- to e construcdo de sistemas duplos de distribuigdo, objeto de enfoque espe- cffico em item posterior. Para 0 reuso néo potével em recar. ga de aqiifferos subterrdneos, os pa- drdes de qualidade séo mais restrit- vos se se trata de recarga pressuri- zada, valendo nestes casos os para- metros da Portaria 36 do Ministério da Saiide. Quando a recarga for fei- ta por infiltragao no solo do efluente tratado, Culp, b et ali (14), recomen- dam padrées menos restritivos. Pata o reuso ndo potével em Aquacultura, podem ser consultados SUSE os parametros recomendados por Blumenthal, Ud. et ali (13) e Culp et ali(14) Tecnologia do reuso no tratamento O planejamento de instalacdes que deverdo servir consumidores de dgua nao potivel, se a ETE secundéria ain- da nao existir, tem enfoque distinto do habitual para a localizagdo das ETEs convencionais (7) Hl A localizagao da instalagao 6 in- fluenciada pela localizagao da area de mercado potencial para a gua nao potdvel 0 Jodo resultante do tratamento nao precisa necessariamente ser tra- tado na ETE terciéria, podendo retor- nar ao emissério para ser tratado e disposto em outra instalagao. Hl 0 esgoto captado para tratamen- to deve ser o necessério para atendi- mento da demanda do reuso, o ex- cedente devendo prosseguit pelo emissério para tratamento em outra ETE. WH 0 produto final é vendavel, sen- do importante a manutencio da quantidade e qualidade oferecida aos consumidores. Desta forma devem ser previstas linhas de tratamento pa- ralelas, fontes de energia de reserva, mMonitoramento continuo da turbidez e do residual de cloro na saida e na ponta do consumo. Muitas destas recomendagées séo pertinentes quando se tenciona a im- planntar 0 terciério em uma ETE existente Também podem ser considerados processos fisico-quimicos para o tra- tamento de efluentes no planejamen- to de instalagées novas dedicadas ao reuso. Os efluentes destas instalcoes podem passar por operacdes unité- rias como por exemplo a precipitagao com cal em pH elevado (efeito bac- ES (aI se tericida), a carbonatacao e a flotacao, concentrando 0 fésforo (remogao de nutriente) no lododotratamento. Seria assim, em alguns casos, evitada a se- qiiéncia “ETE-ETA’, uma vez que tais instalagdes poderiam produzir Sgua de qualidade satisfatéria para o reuso. Em 1989, a Organizagio Mundial da Satide patrocinou a vinda a So Paulo de consultores no reuso da 4gua(4). A Sabesp havia montado uma pequena instalacao experimen- tal que recebia o efluente da ETE Ba- rueti em Sao Paulo, sequindo os pas- sos de uma ETA convencional, A gua de boa qualidade obtida desta instalagao possiblitou aos consulto- res tecer consideracées objetivas so- bre a conveniéncia de implantar um programa de reuso da Agua em Sao Paulo, precedido pelos testes em es cala de laboratério e campo que fo ram recomendados. O escritério de Brasflia da Organi- zagao Panamericana de Satide pres- tou apoio durante a visita dos consul- tores & Sabesp e ofereceu indicagdes sobre a viabilidade de financiamen- to, aps conclufdo o projeto. Tal pos- tura reflete a expectativa dessa enti- dade sosbre 0 acerto de planejar 0 reuso da agua, uma posicao que é endossada péla Abes — SP, que con- sidera vélida a mencdo desta iniciati- va neste texto como forma de incen- tivar acées semelhantes em outras ETE brasileiras, ora em operacdo. ‘A maioria dos reusos da gua re- comendados pela Abes — SP, todos para fins nao potéveis, podem ser atendidos pelo tratamento tpico das ETAs convencionais aplicados ao efluente secundério das ETEs, com a provavel exclusio da sedimentacao, que normalmente néo é feita no tra- tamento terciério, e a possivel inclu- so da ozonizacao. Constituem casos a parte os reu- 508 para fins industria, cujas exigen- cias de qualidade podem, em alguns casos, superar aquelas requeridas pa- "2.0 uso potdvel. A operagao e 0 monitoramento de tuma estaco piloto sdo indispensdveis a fixagao dos parémetros de projeto do tratamento terciério para fins nao. potdveis, em escala real Precedendo ao projeto da intala- ao piloto devem ser feitos estudos em escala de laboratorio para deter- minar 0 produto quimico mais eficien- te (coagulantes e polimeros), as do- sagens étimas e os tempos de contato que deverdo ser usados na partida da instalagao piloto, o que pode ser fei- to usando os procedimentos padrao de jar-test. 0 objetivo principal da instalagao piloto é 0 de ajustar a informagao ob- tida na escala de laboratério, referente 8 dosagem de produtos quimicos, e 0 de determinar 0 processo especffi- co de tratamento requerido e as téc- nicas operacionais necessérias, para producao de uma agua adequada as finalidades de reuso. local da intalagao piloto deve ser isolado da ETE, para permitir facil acesso aos visitantes — inclusive po- tenciais interessados em contratar fornecimento futuro da gua. Os vi- sitantes devem perceber a instalago como algo de natureza diferente da ETE, providenciando-se a atrativida- de que se espera encontrar numa ETA. O projeto e a operagao de uma ins- talacdo piloto requer conhecimento e experiéncia. Estudantes universitérios qualificados, orientados por um pto- fessor experiente, podem acompa- nhar os estégios da operacao e pes- quisa inerentes ao projeto. Entidades ambientalistas e organi zacées piblicas e privadas afins ao euso da 4gua devem ser informadas do programa e convidadas a partici per de debates e programas educa- cionais sobre o tema. Os parémetros criticos que devers ser monitorados, no minimo diatia- mente, na ETE fornecedora do afluente a instalacdo piloto, sio a DBO. os SS ¢ 0s inorgénicos espect- ficos ou constituintes orgénicos cuja presenca tenha sido constatada e que possam afetar 0 reuso planejado, Allinha de tratamento e 05 padrdes de qualidade adotados na California 2 em outros locais, e que tem garan- tido um efluente de qualidade ade- quada para fins nao potdveis, consiste em (4): « Tratamento biolégico convencional em nivel secundério. * Coagulagao quimica e floculagao, sem decantacao. * Filtragdo convencional com areia, antracito, ou dupla camada filtrante * Tubidez < 2NTU apésa filtracao. * Desinfeccao com cloro. * Cloro residual combinado de 2-5mg/I na salda da instalacdo. © Tempo de contato na cémara de cloracao de 60-120 minutos, com 0 produto concentracao residual de clo- 10 (mg/l) multiplicado pelo tempo de contato (minutos), igual a 240. * Coliformes totais < 22 / 100 ml. Em St, Petersburg (8), a contagem de coliformes é indicadora da quali- dade da 4gua na safda dos tanques de cloracao das 3 ETE que promo- vem 0 reuso. Quando se compara a contagem de coliformes destas ETEs, de 1983 a 1986, com os niveis exigidos para a captacao de 4gua bruta superficial para fins de abastecimento, nota-se que o efluente tercidrio possui niveis de coliformes fecais inferiores aos exi- gidos para as guas classe I, II e Ill. A classificagao padrao é a de 1983 (Water Quality Standards, Florida De- partment of Environmental Regula- tion) e as &guas de classe Ill sdo para tecreacéo — inclusive contato corpo- ral total — e para saudavel manuten- cao da vida dos peixes e plantas aquaticas, Na distribuicéo Um dos maiores sistemas duplos de distribuicao de &gua do mundo (4) encontra-se em St. Petersburg, Fl6ri- da, onde cerca de Im3/s de égua para fins nao potéveis 6 usado prin cipalmente para irigagao de parques, campos de golfe, cinturdes verdes propriedades comerciais e resi- denciais. A substituigao do consumo da Aqua potivel para estes fins permitir estabilizar a demanda por 4gua po- tavel na decada 1978-88(4) apesar do crescimento populacional da cidade. O maior potencial de consumo da gua nao potdvel em S80 Paulo, situa-se a oeste da Regido Metropo- Iitana, porque (4) os custos de insta- lacao do sistema distribuidor diferen- ciado séo menores nos estégios iniciais de urbanizacao. Como segun- do maior potencial de servigo, 0 abas- teciento dos atuais grandes consumi- dores de Agua potavel, como indiistrias de papel e quimicas, cujos sos ndo requeiram a potabilidade da gua consumida. Em 1989, a Sabesp fez realizar um estudo sobre a viabili dade técnica, econdmica e financei- ta da reutilizacdo dos efluentes de suas ETE por inddstrias da RMSP, tendo sido recomendados como vié- veis dois polos industriais. A Abes — SP recomenda que a construgéo e a operacéo dos sistemas duplos de distribuicéo, para égua po- tével e nao potével, se fagam com a Pang adaptacao das normas que vém sen- do sendo empregadas no exterior. A necessidade de adaptacao torna-se aparente no exame da pratica norte- americana, referenciada a seguir (2) Observa-se que so concordantes ou diferem de um estado americano para o outro. As seguidas na Califor- nia (Irvine Ranch) e na Flérida (St Petersburgh) regem que: © A rede distribuidora de 4gua nao potével seja delimitada para servir de- terminada area onde este consumo tenha sido aprovado. * Sejam obedecidas as distancias mf- nimas tabela das que devem separar © assentamento das tubulacdes dos dois sistemas, O exame da tabela da norma mostra que as distancias reco- mendadas sdo funcao do regime de escoamento (pressurizado ou nao} em ambas linhas, da posicao relativa das tubulagdes nos dois sistemass em planta (paralelo ou perpendicular) e em perfil (para o reuso por tubulacao acima ou abaixo da tubulacdo de gua potével). Em fungao destas ca- racteristicas do projeto, é entio espe- cificada a classe da tubulacdo, cuja instalagdo se torna permitida * Em Irvine Ranch, o cruzamento dos sistemas obedece as mesmas normas seguidas para o cruzamento ou assen- tamento proximo das redes de gua potével-esgoto. Adotam ainda tubos de material especial nestes locais. * Todas as valvulas de safda sao mar- cadas (na Calif6rnia pela cor; na FI6- rida, as caixas so de forma diferen- te e tém inscri¢do gravada) caracte- tizando a égua nao potdvel. As tubu- laces séo diferenciadas por cores ou por rétulos em fitas de vinil adesivas, fixadas a cada dois metros ao longo do tubo, com a inscricao “esgoto tra- tado”. A execugao das juntas é nor- malizada de forma distinta para os dois casos. Em St. Petersburg estuda- se a adogio de tubulagdes de PVC com cor especial, para a 4gua néo potével. ESS IESSe * Os hidrémetros para o sistema néo potével so de marca diferente dos utlizados para a égua potavel e sao guardados em almoxarifados distin- tos, junto com suas pecas de reposi- cao. Em St. Petersburg séo marrons @ trazem uma faixa amarela, diferenciando-se dos de gua poté- vel (cor prateada) * Os aspersores de irrigagao com qua nao potavel e os registros de pa~ rada ou de saida tém cabecas de ti- po que impede a operacéo por pes- soal nao autorizado. O uso de mangueiras é proibido para a 4gua nao potdvel, sendo evitado pela fal- ta da conexéo para engate no siste- ma distribuidor. * O pessoal recebe treinamento e possui manuais especfficos para a operacao do sistema. ASPECTOS ECONOMICOS A anélise econémica de um pro- jeto de reuso de gua, especialmen- tea voltada para o parque industrial, esté fortemente condicionada pelas circunstancias de cada caso particu- lar, nao se prestando a generali zacées. A pratica do reuso tem como con- segiiéncia a reducdo parcial ou total da quantidade de Sgua refirada do re- curso hidrico, a0 qual retorna apés ser usada. Estas redugSes representam valores que devem ser considerados nas anélises econémicas respectivas, tomando imprescindivel a avaliacdo ae dos custos em cada caso, com e sem o reuso, para fins de comparacéo. Para comparagao dos custos envol- vidos na operagao, com e sem o reu- so, a Abes — SP sugere a avaliacao dos itens a seguir discriminados, nao como norma rigida ¢ insubsttuivel, mas como um elenco de sugestdes que visam auxiliar a sistematizacéo da anélise econémica que for feita *# Custos de capital e de operacao das instalagdes para tratamento das aguas residuérias no grau requerido 8 ob- tenc&o da qualidade necesséria a um determinado fim, seja este o reuso ou a disposigao final * Custos de capital e de operacio pa ra dar destino adequado aos subpro dutos dos processos de tratamento. * Custos de capital e de operacao pa- ra as instalagdes de conducéo das Aguas residuérias, desde os pontos de geracdo até o local de tratamento pa- 1a disposicao final ou reuso. * Custos de capital e de operagio pa- ra autoprodugao de Sgua com a qua- lidade tequerida pelo uso a que se destina, potével, industrial ou outros * Custos de capital ou de operacdo da instalagao necesséria para assegu- rar um certo grau de confiabilidade 20 sistema, como os requeridos por te- servatérios de amortecimento, de re- gularizacao de vazées, de reservat6- rios para emergéncias, unidades de reserva ete. Sa *# Custos relativos & compra de agua produzida por terceiros, abrangendo taxas e tarifas, dentre outros. © Custos operacionais relativos a ati- vidades e despesas normalmente ine- tentes & comunicagao social, relacbes publicas, atendimento de exigéncias burocraticas dentre outros impostos pela legislacdo de protegao sanitéria e ambiental. * Custos decorrentes de reservas fi- nanceiras como ativos imobilizados e seguros, requeridos para enfrentar despesas eventualmente necessérias para restaurar a qualidade da Agua a jusante da descarga de efluentes, ou para indenizar prejuizos que tenham ocortido e onerado usuérios de jusante, A anélise econémica acima suge- rida 6 mais adequada aos casos de reuso em que o usuério restitui seu fluxo residuério apés tratamento a0 mesmo corpo d’égua que iré utilizar como manancial sendo a descarga feita a montante da tomada dégua para abastecimento. Quando a captacéo for feita a ju- sante da descarga do primeiro usud- rio por outro usuario, este Gltimo po- de realizar a anélise econdmica da forma convencional, ou seja, pode- 4 comparar esta alternativa de cap- tagdo com a de aduzir agua de outra colecio hidrica mais protegida ou me- nos polufda. As consideragées cabiveis para 0 cotejo econdmico de alternativas de captacao para 0 reuso industrial po- dem seguir em linhas gerais a seqiién- cia de estudos acima discriminada, sem entretanto perder de vista a es: pecificidade do uso, em alguns casos mais restritivos do que para os outros, fins j& discriminados. Por outro lado, do ponto de vista da entidade formecedora do efluente tratado para fins industriais, o primeiro passo recomendével (4) é a realiza- do de um levantamento dos grandes consumidores atuais e potenciais na area de influéncia das ETEs, para orientar 0 planejamento do reuso da gua regional Requisitos necessétios e que as ve- zes nao constam nos levantamentos existentes, sio os quesitos de quali- dade da 4gua requerida pelo indus- trial, as variagGes diurnas e sazonais na demanda e a pressio de servico requerida pela indéstria. A empresa responsavel pelos ser- vigos de 4gua e esgoto pode nego- ciar com as indiistrias os custos adi- cionais necessétios para atendimento dos padrdes de qualidade requeridos. Se apenas uma indistria numa de: terminada regiao possuir necessida- des especiais de qualidade, torna-se mais econémico, para esta indistria, arcar com os custos de seu préprio tratamento adicional(4). A tarifa para reuso da &gua deve- ria ser menor do que a hoje cobrada pela 4gua potével (como é usual em outros paises), 0 que seria um incen- tivo ao seu consumo. Em Irvine Ranch, na Calférnia, o reuso da égua possui uma tarifa que é igual a 85% da tarifa cobrada pela 4gua potdvel Agées recomendadas pela ABES-SP a médio e a longo prazos Evidentemente, as idéias apresen- tadas nao tém a pretensao de esgo- taro tema, Visam estimular a criagao de uma mentalidade que utilize o reu- so da 4gua como alternativa de pla- nejamento ambiental. A Abes — SP finaliza apresentando as seguintes re- comendagées, que objetivam facilitar a implantagéo de um programa de reuso: Tl Ciiacdo de um grupo de trabalho interinstitucional para implantacdo de diretrizes que levem a estudos sobre © reuso da Agua, observando o en- foque de uso miltiplo dos recursos hi- dricos, Wl Giiacdo de um programa de mo- nitoramento de qualidade da agua que subsidie o grupo. Tl Desenvolvimento de modelos de acompanhamento da qualidade das Aguas de superficie que sejam utliza- das por vérias comunidades, como fonte de agua bruta para abasteci- mento péblico, como no caso do rio Parafba do Sul Hl Desenvolvimento de padrées de qualidade da gua atendendo simul- taneamente os requisitos ambientais @ o pretendido reuso. WH Criacao de programas de recicla- gem da aqua em indistrias e em es- tagdes de tratamento de agua, visan- do & minimizacao das descargas nos cursos receptores. HH Estudo e desenvolvimento dos chamados sistemas duplos de distri- buicdo, para utilizacdo no reuso nao potavel industrial. WH Criacdo de néicleos de pesquisa para o desenvolvimento de processos avangados de tratamento de esgotos. Il Desenvolvimento ¢ implantacéo de programas de adequacao de mao- -de-obra de tratamento de esgotos. I Criagdo de disciplina espectfica sobre reuso de 4gua nos programas de pés-graduacao das universidades. Hh Informar a sociedade da existén- cia das diversas formas de reuso po- tavel inditeto nao-planejado ja exis- tentes, como forma de enfatizar as vantagens de planejar o reuso potd- vel indireto. Referéncias (1) — Mancuso,PCS (1990), Reu- so de Agua, 1-16, Seminario sobre Protegao do Meio Am- biente, Santiago do Chile- SABESP (2) — Camp Dresser & Mckee Inc., (1980), Guidelines for Water Reuse, 1-106, — Arquivo E.T.A — SABESP. (3) — Santos, HF, Reuso da Agua Para Fins Nao Potveis. Seu Lugar no Gerenciamento dos Recursos Hidricos (1991) — Revista DAE, n° 160,15-19, traducao do Journal WPCE, May, 1987, 237-241, “The Place of Nonpotable Reuse in Water Management”, James Crook, Daniel A. Okun. (4) — Okun, D. A. Crook, J. (1989), Water Reclamation and Reu- se in Sao Paulo, Brazil, rela torio preparado para a Orga- nizagao Panamericana de Satide, 1-29, SABESP — ETA — ET, (5) — Awwa manual M24 (1983), Denver, Colorado, 1-56, Sa- besp ELA — ELT. (6) — Lew L, Plonsky, GA. (1981), Viabllizacao do Abastecimen- to de Agua Mediante o Aten- dimento do Mercado de Grandes Consumidores, Re- vista DAE, n° 126,231-238 (7) — Okun, DA. (1990), Water Reuse in Developing Coun- tries, Water and Wastewater International, 5-1, 13-21 (8) — St, Peterburg Public Utilities Departament, Florida (1987}, Urban Water Reuse in the VESEY City of St. Petersburg— Wa- ter Quality and Public Health Considerations — 116, SA- BESP - ETA. — ET. (9) — World Health Organization (1973), Reuse of Effluents, Methods of Wastewater Treat- ment and Health Safeguards of a WHO Meeting of Ex- perts, Technical Reporis Se ries Nb. 517 — Genebra. (10) — Crook, J. (1991), Quality Cri teria for Reclaimed Water, Wat. Scl. Tech, Vol. 24, No. 9. pp. 109-121 (11) — Weber, M.D. et alli (1984) apud Environmental Protec- tion Programs Directorate Minister of Suplly and Services-Canada, Manual for Land Application of Treated Municipal Wastewater and Sludge, Ontario, Canada, pp. 1-216 (12) ~ Amaral, R. (1979} apud En- vironment Canada, Water Quality Sourcebook, Canada (13) — Blumenthal, Ud., Strauss, M. Mara, DD. Caimeross. S. (1989) Generalized Model of the Effect of Different Control Measures in Reducing Health Risks from Waste Reuse, Wa: ter and Science Techonology, vol. 21, Brighton, pp 567-577 (14) — Culp, G. et alli (1980) Was- tewater Reuse and Recycling Techonology, New Jersey, Noyes Data Corporation. (15) — Okun, D.A.(1975), A Poten- cial for Water Reuse — Dual Supplies, AWWA Seminar on Reuse, Proceedings, Minnea- polis, Minnesota (16) — Dean, RB, Lund, E. (1981), Water Reuse Problems and Solutions, New York, Acade- mic Press, pp. 1-263 SSE

Você também pode gostar