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Paz, Produio e Qualidade de Vida no Meio Rural > > [= we REFORMA AGRARIA ; = Fa « (Hiei D®080OCOOO8OCOCOe »o@ e REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO AGRARIO INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACAO E REFORMA AGRARIA Luiz Indcio Lula da Silva Presidente da Repdblica Miguel Rosseto Ministro do Desenvolvimento Agrdario Rolf Hackbart Presidente do Instituto Nacional de Colonizagéo e Reforma Agraria Eduardo Martins Barbosa Superintendente Regional do Instituto Nacional de Colonizagéo e Reforma Agraria — Ceara Onézimo Guimaraes de Lima Delegado Federal do Ministério do Desenvolvimento Agrario no Ceara Ministeo o Desenvetviment Agro Supe Regina ines coms eo0e x e Coordenader Geral do I PRRA - Cearé Coordenacéo Ampliada do Il PRRA - Cearé Coordenagéo Técnica Coordenagéo metodolégica moderacéo das oficinas participativas Facilitagao das oficinas participativas Fotos Editoragao e arte Copa Pesquisa e redacéo do documento final Eduardo Martins Barbosa Superintendente Regional do Instituto Nacional de Colonizagdo ¢ Reforma Agraria - Cearé INCRA - Instituto Nacional de Colonizacio e Reforma Agraria ~ Ceard SEAGRI _ - Secretoria de Agricultura do Governo do Estado do Cearé IDACE - Instituto do Desenvolvimento Agrario do Ceara UFC - Universidade Federal do Ceara SEBRAE —_- Servico Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas EMBRAPA — - Empreso Brosileira de Pesquisa Agropecuéria IBGE - Instituto Brasileiro de Geogratia e Estatistica MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - Ceara CPT ~ Comisséo Pastoral da Terra FETRAECE -Federacao dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Cearé Maria Silma Moreira Magalhées Maria de Fétima Moura Fé Raimunda Cleide Fontes Fabiola Silva Gomes Paulo Roberto Fontes Barquete Aristides Broge Monte Francisco de Assis dos Santos Lopes Francisca Maria Teixeira Vasconcelos (CPT) Francisco Osvaldo de Araujo Madureira (IDACE) Josenildo de Souza Silva (MST) José Ricardo Basilio da Silva (MST) Celecina Moria Veras Sales (UFC) Margarida Maria Souza Pinheiro(CETRA) Maric de Jesus Lourenco (CPT) Irma Maria José (DIOCESE DE LIMOEIRO DO NORTE) José Lima Castro Junior (IDACE) Anténio Souto Lacerda (SDT/MDA) Jorge da Cunha Lopes (CAPS) Ana Cristina Feitosa (MST) José Soares Costa Filho (IDACE) Cicero Milton Moreica da Silva (CPT) Francisco Gomes de Andrade (EMBRAPA) Emanuel Barreto de Oliveira (FETRAECE) Manoel Pessoa Neto (SEBRAE) Vanderlan Nobre Apolénio (IDACE) Arquivo INCRA / CE Paulo Camelo e Zeno Falcao. Zeno Falcéo Joaquim Antonildo Pinho Pinheiro Oscar Arruda d’Alva Seer »@ e e eeoege APRESENTACGAO © governo Lula reafirmou seu compromisso com os trabalhadores e srabalhadoras rurais, langando o Il Plano Nacional de Reforma Agraria na histérica Conferéncia da Terra, ocorrida em novembro de 2003. O INCRA Cearé, referenciado no plano nacional apresenta para a sociedade o seu Plano Regional de Reforma Agrdria — PRRA-CE O espaco do langamento, a Feira da Sécioeconomia Soliddria, da Reforma Agraria e da Agricultura Familiar, foi escolhido pelo seu simbolismo na trajetéria de construgéo de um novo modelo de desenvolvimento para nosso Estado. Anecessidade de conceber este plano apoiou-se na compreenséo de ser a reforma agrdaria uma tarefa complexa, na qual interagem diferentes atores, interesses contraditérios, metodologias diversas, entraves e potencialidades. Realizd-lo, portanto, requer uma agéo planejada, estruturada em bases sélidas, unindo saberes e sonhos. Amparados nesta concepgao, reunimos os mais diversos atores interessados na construgdo da reforma agraria. Homens, mulheres e jovens de diferentes etnias, credos, lugares. Estes atores e atrizes e suas organizagées reuniram-se durante cinco meses, unidos no desafio de sistematizar um plano afinado com os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, considerando, entretanto a sua necesséria exeqiibilidade Com certeza, este plano néo tem a dimensGo do desejo de todos os seus construtores; ainda néo contempla a enorme demanda dos milhares de trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra. Estamos convencidos, contudo, ser este PRRA uma semente, um caminho a ser trilhado na busca de uma reforma agréria ampla e de qualidade. O proceso apenas se inicia com 0 acesso 4 terra, continua no crédito, na produgéo, na comercializagéo, na habitagdo e no respeito ao meio ambiente. O PRRA agrega valores e concepgées do desenvolvimento humano, da agroecologia, da economia solidaria, da ética, do cuidado ao outro e 4 natureza. Na perspectiva dialética, este documento é dindmico, inacabado, devendo ser atualizado quando a realidade assim o exigir. Sinta-se participante deste processo, tanto na sua execugGo, quanto no seu permanente aperfeigoamento. Eduardo Martins Barbosa Superintendente Regional do INCRA-CE e 1SeeOOC « SUMARIO INTRODUGAO.... METODOLOGIA DO PRRA/CEARA.. PARTE | - CARACTERIZAGAO ..... 1.1 ASPECTOS GERAIS DO ESTADO DO CEARA 1.1.1 Aspectos Noturais... 1.2 Aspectos Sécio Econémico : HISTORICO DA FORMACAO RURAL E QUESTAO AGRARIA NO CEARA..... 15 2.1 Primérdios da ocupacéo.. -2.2 O poder dos coronéis e a resisténcia dos trabalhadores rurais . 2. 2: 2. 3 Avtoritarismo, modernizacéo conservadora e crise do o agro cearense 4 Redemocratizacao € neoliberalismo 5 Governo Lula ¢ tendéncias atvais do agro cearense PARTE Il - DIAGNOSTICO 2.1 REFORMA AGRARIA E DEMANDA PELA TERRA 2.1.1 Reforma Agréria no Cearé - 0 olhar dos trabalhadores. 2.1.2 Estrutura Fundiéria : 2.1.3 Categorias Sociais Demandantes . : 2.1.4 Cenério atual do processo de obtengdo de ‘erras no Estado on 39 2.2 AGRICULTURA FAMILIAR E PATRONAL NO CEARA. 2.3. ASSENTAMENTOS RURAS ... 2.3.1. Especificidade do processo de organizacéo dos assenta 2.3.2 Qualidade de vide nos assentamentOs onsen 2.3.3 Assisténcia técnica aos assentamentos 2.3.4 Acesso ao crédito 2.3.5 Comercializacéo .... 2.3.6 Manchas de assentamentos e possibilidades de desenvolvimento territorial 52 PARTE Ill - NOVO MODELO AGRARIO E AGRICOLA .. 3.1 AREAS REFORMADAS E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL... 3.2 ASSESSORIA TECNICA SOCIAL E AMBIENTAL.... ~ PARTE IV - OBJETIVOS E DIRETRIZES ESTRATEGICAS .. 4.1 OBJETIVOS DO PRRA ... 4.2 DIRETRIZES ESTRATEGICAS Diretriz 1 - Democratizar 0 Acess 1 x5 1 1 1 1 ki Diretiz 3 - Promover a Igualdade de Género, Raca, Etni Diretriz 4 ~ Promover a paz no campo e a universal fundameniais; ..... Diretriz 5 - Assegurar um modelo de gestio pUblica, partcipativa ¢ democratica 73 Diretriz 6 - Fortalecer o INCRA como entidade executora da politica de reforma agraria....... GEARETERASGF seo stsescatent cae i 74 PARTE V - ANEXOS... ANEXO 1 - CAPACIDADE OPERACIONAL DO INCRA.... ANEXO 2. - LISTA DE ABREVIACOES.... eels EXO 3. - REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAB.......... ecnncntaansossn INTRODUGAO 9068888008 OHOOOS8OOOOEOHOHHHHOHHHEOHHOOHOH8OOOOO Passados quase vinte anos do inicio da redemocratizagéo do Brasil, vivernos m novo ciclo politico que retoma © processo de permanéncias sociais e micas que desafiam as mudangas politicas. Fica como desafio, entre outros espectos, a intensa concentragéo fundidria, expressdo da gravidade da questéo. ogréria, que exclui milhares de familias e reforca a histérica desigualdade entre ricos e pobres. Mudou, porém, 0 cenério politico, com a eleicéo de um presidente, originério da camada popular da regido mais pobre do pais cuja trajetéria politica esta relacionada ds lutas da sociedade civil. Apresenta-se como desafio para este governo a promocéo de mudangas sociais, econémicas e polificas que resgatem a divida histérica do Pais com a maior parcela da populagao, vitima da desigualdade e exclusdo social, Nesse contexto, o Govemo Lula assume a responsabilidade de transformar o meio rural brasileiro, retomando o compromisso politico com as populacdes do campo, expresso no | Plano Nacional de Reforma Agraria. Seguindo esta orientagéo o II PNRA, apresentado ao Pais durante a Conferéncia da Terra, em novembro de 2003, tem por objetivos democratizar o acesso & terra, desconcenirar a estrutura fundiéria e promover agées dirigidas a impulsionar um novo padréo de desenvolvimento, no qual a reforma agrdria se apresenta como condigéo fundamental para o crescimento econémico com distribuigao de renda e sustentabilidade ambiental. O plano reconhece a diversidade dos segmentos sociais no campo e a necessidade da intervengdo do Estado para a garantia dos direitos fundamentais das populagées rurais a execugdo de ages voltadas a grupos espectficos: mulheres, jovens, negros, indios, extrativistas, pescadores, atingidos por barragens etc. Por meio da adogao. de um novo modelo agrério e agricola que conjuga uma variedade de instrumentos e polificas publicas, pretende-se fortalecer a agricultura familiar, os assentamentos de reforma agrdria, na perspectiva de constituigdo de dreas reformadas integradas uma dinémica de desenvolvimento territorial sustentavel.. Como desdobramento do plano nacional, a Superintendéncia Regional do INCRA no Cearé apresenta o Il Plano Regional de Reforma Agraria, conjunto de reflexdes, proposias e ages em nivel estadual, que tem por objetivo articular e incrementar as agées dos diferentes érgdos de governo envolvides com a reforma agréria. Este documento é 0 resultado de um intenso processo de construgao coletiva que icou no Cearé no perfodo de margo a julho de 2004. A coordenagéo ompliada do PRRA, constituida por representantes do INCRA, érgdos publicos adusis e federais, movimentos sociais e organizagées nao governameniais, discutiu e formulou 0 plano com 0 envolvimento e ativa participagdo de beneficidrios ciérias diretos da reforma agréria, agricultores e agricultoras familiares, afrodescendentes. Apartir das diretrizes estratégicas estabelecidas pelo ll PNRA e demais termos de referéncia, foram organizados oito oficinas microrregionais com a participagdo de aproximadamenie 1.500 pessoas que avaliaram a reforma agrdria e as agées do INCRA/CE no ano de 2003 e propuseram diretrizes e agdes contempladas neste documento. Para a aprovacdo das diretrizes do Il PRRA-Cearé, foi realizado um seminério estadual no qual se discutiram, ampla e democraticamente as potencialidades, obstéculos e propostas, com vistas & implantagdio de um novo modelo de reforma agraria adaptado a nossa realidade que, a exemplo do que se propde no PNRA, altere substancialmente a estrutura agrdria e a qualidade de vida dos beneficidrios e beneficidrias da reforma agréria, O PRRA-Ceard floresceu paulatinamente a partir das contribuigdes de homens e mulheres comprometidos com a consirugéo de uma reforma agraria que possibilite a transformagéo do meio rural cearense em um lugar de vida economicamente préspera, socialmente justa, ecologicamente sustentvel e politicamente democratica. Na primeira parte do documento procedeu-se a uma caracterizagdo do Estado em seus contextos naturais e socioeconémicos e a uma anélise da formagao histérica do rural cearense e da problemdtica da questao agréria, salientando seus desdobramentos na correlagdo de forcas que movem a permanéncia e a mudanga no meio rural. Na segunda parte, realizou-se um diagndstico da questéo agréria no Ceara, que envolveu uma anélise comparativa entre agricultura patronal e familiar, um levantamento dos segmentos sociais demandantes pela reforma agrdria, um estudo sobre a estrutura fundiéria e uma apreciagéio. do estado atual dos assentamentos rurais. Na terceira parte do documento, elaborou-se a orientagao estratégica do plano, amparada ne conceito de agéo compariilhada do Estado e movimentos sociais para a constituigao de dreas reformadas e dinamizagéio de processos de desenvolvimento territorial. Na quaria parte, so apresentados os abjetivos, diretrizes estratégicas, linhas de agéo, diretrizes operacionais e metas a serem atingidas e monitoradas pelo Il PRRA—Cearé. Finalmente, nos anexos, sGo apresentados um breve diagnéstico da capacidade operacional do INCRAe um relato da avaliagdo da reforma agréria pelos trabalhadores e irabalhadoras rurais e movimentos sociais, resultado dos semindrios de elaboragéo participativa do Il PRRA—Ceard METODOLOGIA DO PRRA/CEARA Seguindo as orientagées do MDA/INCRA contidas no Il PNRA, iniciou-se a discussGo do plano regional com a participagdo dos diversos sujeitos sociais envolvidos com a reforma agraria. O objetivo foi discutir e formular o PRRA com os movimentos sociais, ONG's, universidades, instituigées publicas e pUblico-alvo. A proposta metodolégica de construgéo do PRRA teve como referencial o documento base apresentado pela Superintendéncia Nacional de Gestéo Estratégica do INCRA intitulado “Mefodologia para as Oficinas de Trabalho para a Elaboragao do PRRA”. A partir desse referencial e considerando a experiéncia institucional acumulada, o INCRA- CE elaborou a proposta metodolégica para a fermulagéio do PRRA-CE, cuja concep¢éo fundamentou-se na parlicipagéio coletiva dos atores sociais, em bases construtivistas ¢ inspiradas em Paulo Freire, a qual privilegiou, em todas os etapas ¢ insiéncias, a adogdo do enfoque participative. A materializagGo dessa perspective concretizou-se na realizacéo de reunides internas, oficinas de trabalho e de outros eventos para divulgagao, discussdo e tomada de decisées. Os métodos utilizados na consirugéio do PRRA iniegraram trés planos: o aprendizado coletivo, a tomada de deciséo e a convivéncia social. O aprendizado coletivo fundamentou-se na perspectiva de que um sujeito se pS em contato com a realidade, interage com ela, incorporando-a a sua experiéncia e tomnando-se capaz de reelaborar © aprendido em novas situagdes. A tomada de deciséo baseou-se no planejamento do PRRA como construgdo vinculada a realidade individual e coletiva dos participantes. O papel dos moderadores foi de favorecer, estimular, apoiar e orientar as atividades de planejamento. Inicialmente realizou-se uma discusséo no Comité de Decisdo Regional - CDR, tendo em vista a necessidade de contemplar as especificidades locais, bem como atender ao cronograma definido pela diregao do INCRA. Nessa perspectiva, foram realizadas as seguintes elapas: Constiuicéo da equipe do INCRA responsdvel pela coordenago do PRRA. no = ® clizagdo de discussdo com servidores e servidoras do INCRA com o objetivo de © propesta metodoldgica de construgdo do PNRA e envolver este segmento no rugdo do PRRA. ia Oficina de Construgéo Participativa do PRRA com 0 objetivo de socializar PNRA, envolvendo outros atores sociais e propondo estratégias e metodologias do do plano regional. O publico-alvo desta atividade foi constituido por 40s sociais, ONG’s, instituigdes governamentais e servidores do INCRA. Nessa ce coordenagéo foi ampliada passando a ser integrada pelos seguintes movimentos dades: INCRA, MST, FETRAECE, CPT, SEAGRI, IDACE, UFC/NARA, SEBRAE, BRAPA, IBGE Constituigéo de grupos tematicos com 0 objetivo de aprofundar as discussdes sobre as questes propostas, visando a elaboragto de diagnésticos e andlise na perspectiva de fundamentar tedrica e metodologicamente as discussdes e formulagdo do PRRA. Os grupos teméticos seriam integrados por movimentos e entidades ligadas aos temas, com a proposta de elaborar subs{dios sobre: estrutura e acesso 4 terra; desenvolvimento territorial, agricultura familiar e assentamentos sustentaveis; meio ambiente, agroecologia e convivéncia com o semi-drido; seguranga alimentar; socioeconomia soliddria, agroindustria, comercializagéo e crédito; género e geragdo; etnias e etno-desenvolvimento; educagéio do campo, culiurae arte no mundo rural; assessoria técnica, social e ambiental, pesquisa € capacitagéo; e gestdo, arficulagdo interinstitucional e gestéo da informagéo. Esta proposta ndo foi operacionalizada na forma prevista. 5. Realizagdo de cito oficinas regionais nos territérios e/ou Nucleos de Assessoria Técnica Social e Ambiental & Reforma Agraria, com os objetivos de ampliar as discussdes do PRRA, assegurar a particigagao dos assentados, assentadas e demais segmentos envolvidos no plano, consolidando uma viséo comum sobre os avangos e entraves da reforma agraria no estado do Ceard, e estabelecer indicativos prioritérios para a reforma agrdria com reteréncia nas diretrizes do Il PNRA. O poblico participante foi constituide por assentados e assentadas, guilombolas, atingidos por barragens, movimentos sociais, ONG's e outras instituigées. As oficinas foram realizados nas regides: Baixo e Médio Jaguaribe, Metropolitana, Itapipoca, Sobral, Crates, Cariri, Centro sul, e Sertao central. 6. Consolidagdo e sistematizagdo das propostas oriundas das oficinas e das contriubuigées de servidores da UFC/NARA e do IDACE e elaboragao de texto base que seria submetido & apreciag&o dos participantes do Seminério Estadual. 7. — Realizagdo do Seminario Estadual para discussdo e aprovagdo do PRRA, assegurando a participagéo dos assentados, assentadas e demais segmentos envolvidos. 8. Consolidagiio e sistematizagtio das discussées e deliberagdes do Seminario Estadual. Contratago de consultores para pesquisa, sistematizagao e redagéio final do documento cao pela coordenacao ampliada. nto do documento na Feira da Sécioeconomia Solidéria, da Reforma Agraria ura Familiar, divulgando para a sociedade os compromissos, reflexdes ¢ os no PRRA. O evento foi organizado por diversas organizagées de 2 trobalhadoras rurais no qual foram apresentadas e discutidas experiéncias para a construgao de um nove modelo de desenvolvimento para o Cearé. CARACTERIZACAO SSSHOSHSHOSSHSHSHSHSHHHOHOSOHSHHSHSHOSSHSHOHOHSOHSHHOHOOEHOHCOEO 1.1 ASPECTOS GERAIS DO ESTADO DO CEARA 1.1.1 Aspectos Naturais O Estado do Ceara localiza-se na porgao setenitional da regiao Nordeste do Brasil, entre a latitude 02°47°00°’ (norte) e 07°51°30°" (sul) e a longitude 37°15°11” (leste) e 41°26’10”’ (oeste). Tem como limites: 0 norte 0 oceano Atlantico, a sul o Estado de Pernambuco, 0 ceste © Estado de Piauf eo leste os Estados de Rio Grande do Norte e Paratba. Conta com uma extensGo de linha de costa do oceano Atlantico de 573 km, equivalente a 2,48% da costa brasileira, e uma Grea jerritorial de 148.825,6 km? equivalente a 1,7% do Territério nacional e 9,6% da regio Nordeste. O relevo tem predominéncia de terras situadas abaixo do nivel de 400 metros, destacando-se tr&s conjuntos principais: a Planicie Litornea, com altitudes inferiores a 100 metros e uma extensdo de 15.000 km?; as Depress6es Sertanejas, com altitudes variando entre 100 e 400 metros e uma extensdo de 100.000 km?; e os Relevos Serranos, com altitudes acima de 400 metros e uma extensdo de 25.000 km?. As dreas acima de 800 metros tm extensdes restritas (IPECE, 2004). Oclima predominante é 0 semi-drido, caracterizado por médias térmicas elevadas (acima de 26°C) e duas estagées bem distintas: uma seca, ou de “yerGo”, quando chove muito pouco, e uma Umida, ou de “invemno”, quando ocorrem precipitag6es irregulares que vao de um minimo de 300 méximo de 800 mm. A auséncia, escasser, irregularidade e mé io das precipitagées pluviométricas na estagéo chuvosa, a intensa evaporagéo durante o periodo de estiagem e 0 elevado escoamento super- ficial das éguas conjugam-se para conformar um déficit hidrico, agravado quando da ocorréncia do fenémeno das secas. Neste cendrio, a atuagdo do Estado no enfrentamento das secas restringiu- se a medidas emergenciais e execugdo de obras de combate as secas, principalmente construgdo de agudes. Como resultado, atualmente o Ceara dotado de uma infra-estrutura de armazenamento de dgua formada por 8.000 agudes com capacidade de 18 bilhées de m? (SRH/CE, 2004). Em termos quantitativos o Estado € auto-suficiente em recursos hidricos, entretanto, a persisténcia da falta de Ggua, para consumo e producéo, sofrida em especial por familias de trabalhadores rurais, revela que o problema fundamental dos recursos hidricos no Estado néo é a oferia, mas principalmente a distribuig&o e acesso. menos 12 tipos principais de solos no Estado do Cearé. nente 42,76 % da Grea do Estado é formada por solos adequados 0 de exploragéo agricola, pecudria ou extrativista, e pelo menos ‘solos de alta fertilidade natural. Contrapondo-se a idéia de serem os Nordeste brasileiro e em especial da regido semi-érida um fator conte ao desenvolvimento desta regitio, o gedgrafo Aziz Nacib Ab’Saber 1a que “o Nordeste Semi-Arido possui um estoque global de solos muito mais rico em massa e em importéncia agropastoril do que a média das es semi-Gridas conhecidas” (AB “SABER, 1980 apud CARVALHO, 1985). Exisiem no Ceardé onze tipos de vegetagao ou unidades fitoecolégicas, com predomin€ncia da caatinga, formada principalmente por espécies xeréfilas adaptadas as especificidades do clima semi-drido, Outras unidades importantes séio 0 complexo vegetacional litoréneo e os manguezais, as matas Umidas e secas, 0 carrasco, o cerrado, as matas ciliares e os carnaubais. No tocante & situagao ambiental, o desenvolvimento de processos de deserfificagdo no meio rural e a favelizago em centros urbanos podem ser ° apontades como as vulnerabilidades ambientais mais graves do Estado. As a duas ordens de problemas apresentam correlagées, uma vez que a a problemética da questdo agrdria somada ao esgotamento dos recursos naturais a no meio rural contribui para a intensificagéio de fluxos migratérios para as cidades. Enire 0s principais problemas relacionados 4 deserificagéio podemos apontar: desmatamentos e queimadas, uso indiscriminado de agrotéxicos e agroquimicos, irrigagdo mal conduzida tecnicamente, uso e ocupagéio do rd solo de forma inadequada, redugéo da biodiversidade e minerago. = Entre os problemas relacionados @ favelizagdo, podemos indicar: ocupagéo ” e degradag&o de dreas de preservag&o ambiental, uso e ocupagao de dreas Ss impréprias & habitagdo, contaminagao dos recursos hidricos em decorréncia ® do langamento de efluentes, insuficiéncia e ndéo-atendimento por servigos 4 pUblicos bdsicos (agua, esgotamento sanitdrio e destinagdo do lixo). 1.1.2 Aspectos Socioeconémicos O censo demogréfico de 2000 registrou para o Cearé uma populacéo de cerca de 7,4 milhdes de pessoas, sendo 5,3 milhdes (71,53%) residentes em Greas urbanas e 2,1 milhdes (28,46%) na zona rural. Entre o censo de 1991 e © de 2000, a populagdo total cresceu a uma taxa de 1,73 % ao ano, sendo que, enquanto a populagio urbana apresentou taxa de crescimento de 2,75% ao ano, a populagéo rural decresceu a uma taxa negativa de - x 0,46% ao ano. mo da populagGo rural pode ser delimitado & desarticulagdo das atividades as no Estado, principalmente em virtude da crise da cotonicultura, & caréncia de s pUblicas adequadas para o campo e ao modelo de desenvolvimento adotado no io nas Ultimas duas décadas, que prioriza’o desenvolvimento industrial, o turismo no | € agricultura irrigada-empresariatem detrimento da eager fa ferollay, 2 he pata e crecael O aumento na taxa de urbanizagdo de 65,37% em 1991 para 71,53% em a (IPECE, 2004), entretanto, deve ser lido com cautela, uma vez que o préprio conceito de drea urbana, quando aplicado aes municipios do interior do Estado do Ceara, necessita ser relativizado. Sao consideradas urbanas, por exemplo, as sedes distritais e municipais, mesmo quando a maioria da populagao se dedica a atividades agrfcolas e possui um padréo de vida rural. De todo modo, o crescimento da Regiéo Metropolitana de Fortaleza (que concentra atualmente 38,4% da populagdo do Estado), a uma taxa de 3% ao ano, bem como o aumento populacional das sedes municipais de pequenas e médias cidades, so indicadores do agravamento do fluxo migratério rural-urbano. De acordo com relatério do Banco Mundial (1999), 78,06% das pessoas diretamente envolvidas em atividades agricolas no Ceard séo pobres e, do total de pobres do Estado, 54,6% vivem na zona rural. A estreita correlago entre o rural e a pobreza pode ser em parte creditada ao declinio do setor agropecudrio, cuja participagéo no Produto Inferno Bruto do Estado caiu de 12% em 1990 para 6,1% em 2000, enquanto as participagées dos setores secundario e tercidrio subiram respectivamente de 33,8% para 38,1% e de 54,1% para 55,9%, no mesmo periodo (IBGE, DPE/DECNA; MI; PNUD/SIG, 2003). Areducdo da participagéo do setor primério na economia também refletiu na redugdo do perceniual da populagéio ocupada no setor, que caiu de 40% em 1992, para 30% em 2001. No mesmo periodo, a populagéo ocupada no setor tercidrio cresceu de 42% para 50% e no setor secunddrio de 16% para 18% (IBGE; Ml; PNUD/SIG, 2003). Na Gltima década, o Produto Interno Bruto do Ceard cresceu a taxas superiores ds verificadas no Nordeste e no Pais. O PIB expandiu-se em 3,4% entre 1990 e 2000, contra 2,6% da regio Nordesie e 2,8% do Pais, resultado decorrente em especial da expanséo das atividades secundérias, concentradas na Regio Metropolitana de Fortaleza, e do desempenho do setor tercidrio, em especial do turismo litorneo. O crescimento do PIB per capita entre 1995 e 2000, de apenas 1%, entretanto, ficou aquém da média verificada na regio Nordeste, que foi de 1,4% (IBGE; MI; PNUD/SIG, 2003). Em comparagdo com os demais estados da regiéo Nordeste, o Ceard apresenta 0 ferceiro maior Produto Interno Bruto (R$ 20,8 bi) mas, com uma taxa de pobreza de 52,3% (Fonte: IDB — 2000), ocupa ao mesmo tempo a terceira posicdo enire os estados com maior nivel eza da Regido (posigéio que jé ocupava em 1997). Nesie sentido, o ff ior de concentragéo / distribuigdo de renda), que em 2000 foi centragéo de renda no Ceard esié acima da médi 19) (IBGE/Censo Demogrdfico 2000). Estes dados nos levam 4 conclusdo de que, apesar de o Estado do Cearé ter apresentado na Ultima década yigoroso crescimento econémico, isto nao refletiv em melhorias significativas em termos de distribuigdo de renda e redugo da pobreza. O resultado do modelo de desenvolvimento adotado, portanto, foi o de crescimenio econémico com a concentragéio de renda. No que diz respeito aos indicadores sociais, entretanto, regisira-se uma melhoria do {ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,597 em 1991 para 0,699 em 2000. Este fato decorre principalmente da redugéo da toxa de mortalidade infantil de 64,1 (6bitos em 1000 nascimentos) para 53, aumento da esperanca de vide ao nascer de 52 para 63 anos, redugdo da foxa de analfabetismo funcional de 57 para 46% e aumento da taxa de escolarizagdo de criangas de 7 a 14 anos de 80 para 94% no mesmo perfodo (IBGE; Ml; PNUD/SIG, 2003). Deve-se destacar, entretanto, que, comparativamente ds médias nacionais, os indicadores sociais do Ceara néo so motivo para comemoracées, principalmente quando nos referimos s populagées do meio rural e das areas periféricas urbanas, que vivem em situagGo de extrema pobreza e ‘apresentam as piores condigées de vida no Estado * Tabela 1 — Indicadores Socioeconémicos Selecionados Indicadores Ceara _|Nordeste| Brasil PIB - 2000 (R$ milhao) 20.800 | 144.136 | 1.101.255 Taxa de Crescimento PIB 1990 - 2000 (%) 3,4 2,6 2,8 PIB Per Capita (RS) 2.794 3.014 6.473 ‘Taxa de Crescimento PIB per capita 1995-2000 (%) I 14 I Taxa de Pobreza ~ 1999 a 52,3 50,2 28.4 Indice de GINI— 2000 0,628 _| 0,617 | 0,609 IDHM — 2000 0,699 | - 0.769 Taxa de Mortalidade Infantil — 1999 52.4 3 34.6 Esperanga de Vida ao Nascer — 1999 66,1 65,5 68,4 Taxa de Analfabetismo Funcional - 1999 46,4 46,2 29.4 Taxa de Escolarizagao - 7 a 14 anos - 1999 94,8 94,1 95,7 (IBGE; Ml; PNUD/SIG, 2003) 1.2 HISTORICO DA FORMACAO RURAL E QUESTAO AGRARIA NO CEARA 1.2.1 Primérdios da Ocupagao O territério correspondente ao que hoje chamamos de Cearé era, na época colonial, densamente povoado por diferentes povos indigenas. No inicio do século XVII, o historiador Thomaz Pompeu Sobrinho (1995) estimava que havia pelo menos cento e cingienta mil indigenas apenas nesta Provincia. Segundo o historiador Capistrano de Abreu (1976), a resisténcia indigena fez da conquista do Cearé talvez a mais Grdua de toda a Colénia. Até o dime quartel do século XVII, a ocupagéo portuguesa restringia-se ao litoral. O presidio de Forialeza, as vilas do Aracati e do Aquiraz surgiam como primeiros ntcleos civilizadores, enquanto os indigenas lutavam contra o avango do invasor branco no interior da Provincia No Nordeste agucareiro escravocrata, correspondente hoje aos espacos ocupades pelos Estados de Pemambuco, Paratba, Rio Grande do Norte e Alagoas, expandia-se a empresa colonial da cana-de-acticar portoda a foixa litorénea. Com 0 aumento populacional desta regido, cresciam a demanda por alimentos e a oferta de bragos, dois fatores que, conjugados, estimularam a invaséio do sertéo pela atividade pastoril. As terras de v&rzea ao longo dos rios, preferidas para a criagéo do gado, foram as principais vias colonizadoras do Nordeste. No Ceard, os rios Acaraié e Joguaribe foram os que melhor serviram para este fim. Aterra no sertéo era conseguida gratuitamente, bastando ser requisitadas as cartas de sesmarias ds autoridades coloniais. Normalmente se iniciava antes a afividade pecuarista, tomando-se posse da terra e erguendo currais, para depois se pedir a propriedade legal. Mediante o sistema de sesmarias formaram-se grandes latifindios, uma vez que um mesmo. proprietdrio, ou mesma familia, podia ser beneficiado com duas ou mais propriedades. Em toro de 1750, 0 governe metropolitano suspendeu a distribuigdo de terras no Ceard, pois j4 haviam sido doadas mais terras do que a Capitania efetivamente possuia (FARIAS, 2004). Ainvasdo do sertao pelo gado se deu as custas da expulsdo dos indigenas de suas terras, exterminados, escravizados ou reduzidos & serviddo nas fazendas de criagdo. Varias nagées indigenas resistiram ao avango do homem branco. Um dos marcos histéricos da resisténcia indigena ficou conhecido como a “Guerra dos Barbaros”, quando, por mais de 30 10s (entre o fim do século XVII ¢ inicio do século XVIII), varias nagdes enas confederadas lutaram e resistiram até serem chacinades ou lenados 4 aculturagao. SCOOCCHCOOCHOO HCOOH OCEEE pe« « « ee os colonizadores se voltavam para a criagéo do gado no interior e iam se -m agrupamentos que dariam origem a vilas e comarcas, muifas porgées da zona ‘caram desocupadas. Parte dos nativos sobreviventes ao processo de colonizacéo, com descendentes caboclos, negros libertos e (ou) fugidos e demais excluides cidade que se formava na época, fixaram-se na zona costeira, dando origem a smeras comunidades tradicionais que se dedicavam 4 pesca, & produgéo artesanal de “ensilios, & agricultura e ao extrativismo. A distribuigdo desigual da terra dicotornizou a sociedade rural cearense: no dpice da piramide social, estavam os grandes proprietarios de terra, os fazendeiros, e, na base, os trabalhadores rurais (livres e escravos) nao proprietarios e seus dependentes. Asociedade formada no meio rural e que tinha na fazenda sua unidade social e econémica, caracterizou- se pelo conservadorismo e patriarcalismo. Os grandes fazendeiros centralizavam o poder econémico, legal ¢ polifico, enquanto mulheres, jovens, jagungos, trabalhadores sem terra, escravos e minifundistas se submetiam ao mandonismo do pai e senhor de terras Na segunda metade do século XVIII, surgiram as charqueadas e impulsionou-se o comércio, de charque e couro, que possibilitou no Cearé o crescimento de centros urbanos nos vales do Acarat (Acarat e Sobral), Corea (Camocim e Granja) e Jaguaribe (Russas e Aracati). Nestes mesmos centros, onde se encontravam os maiores carnaubais da Provincia, teve inicio 0 extrativismo da carnatiba, voltado inicialmente & produgéo e comércio interno de velas de cera de carnauba e posteriormente ao comércio exportador (D “ALVA, 2004). No final do século XVIII, a Revolugdo Industrial estava em pleno curso na Inglaterra, a guerra de independéncia dos Estados Unidos desarticulou o comércio norte americano de algodGo para o mercado téxtil inglés, que passou a buscar novos fornecedores, entre eles o Brasil. Neste contexto, 0 algoddo mocé, de fibra longa, perfeitamente adaptado as condigdes ecolégicas do Nordeste semi-drido, transformou-se no principal produto agricola de exporiagdo, consolidando a subordinago do Nordeste & divisdo internacional do trabalho como fornecedora de matérias primas, e provocando uma série de mudangas na sua esirutura de produgio, comercializagao e poder De acordo com Chico de Oliveira (1993), O Cearé "...era, em suma, um espaco de atividades extrativistas, que reforgou-se no comeco do século pela descoberta da utilizagao da cera de carnatiba, nativa em vastas porgées do estado cearense e também do Piaul. O algodao reunir-se-4 com a pecudria e a carnadba para transformar o Cearé num vasto algodoal segmentado em milhares de pequenas plantagées, e a imbricagéo latifindio- ifndio, comerciante-fazendeiro, fazendeiro-exportador, nao ocorreu em nenhum outro lugar de Nordeste com maior profundidade que ali”. Jago da pecudria com 0 algodéo e a carnauba era a base da organizagao socioeconémica dos latifindios no sertio do Cearé. Carnaubais e campos de algodéo serviam de excelente pastagem para o gado. As folhas das carnaUbas novas e o restolho de cultura do algodéo apés a colheita constituiam uma ragéo nutritive que garantia cos criadores c sobrevivéncia do rebanho a um baixo custo (D’ ALVA, 2004). A asst ecsco53e eceoeeeeee SOCCOSOSOCEOOCHOLOOS A acumulagéo de capital pelos grandes proprietérios era mobilizada principalmente pela forga de trabalho dos agricultores sem-ferra e minifundistas, cuja reprodugao estava estreitamente vinculada a esie consércio. A reprodugdo. dos moradores do latifindio era garantida por meio da agricultura de subsisténcia praticada no inverno. Neste sistema, batizado de “parceria”, parte da produgéo era destinada ac latifundidrio como pagamento de renda. Dependendo da regido e da relagéo que se esiabelecia entre morador e proprietério, 0 pagamento poderia ser de metade da produgéo (meia ou meagéo) ou de até dois tercos (terca. Através de ferca ou da meacio, os latifundidrios recriavam modalidades pré-capitalistas de apropriagéo do trabalho excedente dos agricultores sem-terra e valorizavam extraordinariamente seu capital Aocupagao e o desenvolvimento da atividade agropecudria demarcaram os espacos do Estado, de maneira que, por muito tempo, as zonas imidas das serras, os vales Umidos, como também as zonas de litoral exerceram atividades subsididrias ao sistema produtivo dominante do sertéo, que arficulava a cultura do algodéo, a exploragéo pecuéria, o extrativismo da canada e as culturas alimentares. Exercendo predominantemente atividades agricolas, essas zonas detinham o papel de supridoras de alimentos para as populagées sertanejas. Articulavam-se com o sertéo, particularmente as serras, também como Greas alternativas para o deslocamento do gado nos perfodos secos e nos anos de estiagem. (ESPLAR, 1991) Com o desenvolvimento do comércio, alguns latifundidrios se especializaram na atividade mercantil, constituindo importante elo entre as Greas produtoras e a praca de exportagdo. Surgiram verdadeiros mercadores no interior do Ceara, levando produtos de exportagao (algodao, café, cera de carnatba, borracha de manigoba, peles silvestres) e retornando com produtos de consumo bésico (querosene, tecidos e manufaturados) para a populagdo rural. Aacumulagéo de capital propiciada por este comércio interno possibilitou que alguns destes comerciantes estabelecessem casas de exportagéo e beneficiamento, entre fins do século XIX e primeira metade do século XX. O modelo agroexportador que se estabeleceu no Cearé a partir do século XIX estava baseado em uma esirutura fundidria altamente concentrada e em um Circuito perverso de comercializagdo. Latifundiérios, comerciantes, exportadores empresas estrangeiras constituiam extensa rede de atravessadores entre o produtor direto e o mercado, que realizava seus lucros no movimento do capital comercial e reforcava as relagées conservadoras de poder do lalifiindio, como a exiorsGo da renda fundidria dos trabalhadores sem terra (CARVALHO, 1985). Os problemas vinculados a estrutura fundiéria e comercializagdo apresentam- se como fundamentais para a compreensdo das bases em que se consirufram as relagSes sociais e econémicas no espago rural do Ceara. O baixo nivel de desenvolvimento técnico e material e as condigées de pobreza dos irabalhadores rurais podem ser em grande medida debitados a estas questées estruturais. ee@e 1.2.2 © poder dos coronéis e a resisténcia dos trabalhadores rurais . Com o advento da Republica, em 1889, o Estado unitério do Segundo 7 Império toma a forma de uma federagao oligdrquica, expressa na “politica dos 3 governadores”. Emerge, no sertao, a politica dos coronéis calcada em uma rigida 8 estrutura de poder, preexistente. Apoiados por verdadeiros exércitos privados de jagungos, esses coronéis passam a apropriar terras, e a reafirmar, muitas vezes pela forga, 0 pacto da “meia” e da “terga” (ESPLAR, 1991). Nesse quadro de dominio dos coronéis proprietérios latifundidrios, aprofunda-se no sertao 0 jd tao arraigado processo de exclusdo politica dos camponeses. O poder dos proprietarios rurais consolida-se por meio da alianga estabelecida com © Estado. O coronel aparece, nesse momento, como o nico mediador entre os camponeses e 0 Estado, entre o mundo rural e o mundo urbano. Emerge nesse quadro a conhecida politica clientelista, calcada inicialmente no paternalismo do proprietario que se utiliza das fungées e das instncias pUblicas para se manter no poder, € na sujeigdo das populagées camponesas por meio da divida e da troca de favor, dois fortes elementos da relagéo de dependéncia. e« Desta sociedade baseada no poder do latifindio, emergiram elites regionais, que encontraram no poder politico e na relagéo com o Estado, mormente através do “combate as secas”, mecanismos adicionais de acumulagéo de riqueza. A implantagdo, no Cearé, da IFOCS (Inspetoria de Obras de Combate as Secas) em 1909, que posteriormente viria a ser rebatizado como DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), e sua captura pelas elites oligdrquicas, possibilitou a concessdo de empréstimos a juros subsidiados e a fundo perdido, construgdo de agudes e estradas em terras particulares, uso privado da mao-de- obra das frentes de emergéncia, contratos superfaturados para fornecimento de alimentos etc., conjunto de préticas que passou a receber a denominagdo de » “indstria das secas” (CARVALHO, 1985). « q Para estas elites, a propriedade da terra representava a base do poder econémico e politico. A organizagao do campesinato, portanto, era uma ameaga a ser controlada e debelada. Para a populagéo rural sem terra submetida & exploragdo do latifindio, as opgdes de resist8ncia que normalmente se apresentavam eram o cangago, o misticismo ea ragdo. A resisténcia popular, entretanto, sempre a existiu e, com 0 tempo, diversas mobilizacées sociais surgiram para enfrentar esse quadro de exclusdo. Esté registrada na historiografia a ocorréncia de 72 conflitos na provincia do Cearé enire 1850 © 1889, classificados como “banditismo”, em que predominava ociaque és forendas, cos engenhos e vilas, ¢ “revoltas”, compreendendo levantes nes povoades contra medidas do governo (ESPLAR, 1991). forma de resisténcia camponesa pode ser encontrada na agéo dos posseiros que, io-se 4 submissdo dentro dos latiftindios, foram empurrando a fronteira agricola em de ierras, onde se reproduziam como trabalhadores livres em contraposictio aos ‘csiros-moradores, dos latifindios do sertéo. Os Ultimos anos do século XXe as primeiras -cadas deste século sdo ricos em movimentos de posseiros que procuravam se esiabelecer nas terras devolutas em busca de condigées para a prética de uma agricultura livre (ESPLAR, 1991). Um dos grandes marcos da histéria de emancipagao e luta das populagées camponesas do Cearé foi a formagao da comunidade do Caldeirao. Localizada no municipio do Crato, em propriedade doada pelo Padre Cicero, a comunidade chegou a abrigar cerca de 6000 seguidores do beato Zé Lourengo, que adotavam um modelo coletivo de producto e distribuigéo de riquezas. A exemplo do Arraial de Canudos, a comunidade sofreu interveng&o militar que culminou em um massacre dos camponeses remanescentes em 12 de maio de 1937 (FARIAS, 2004). Adécade de 1950 foi particularmente importante no inicio da reversdo desse processo de exclusdio e represstio, até entéio dominanie. Em virtude da ocorréncia de duas grandes secas (de 1951 a 1953 e em 1958), as preocupagées com a regido foram retomadas, entéo com novas forcas atuando no cenério politico regional. A questéo regional comega a ser redefinida @ forma-se ampla mobilizagao em defesa de mudangas na agéo interventiva do Estado. No &mbito das propostas desenvolvimentistas do perfodo do governo Kubitschek, a ideologia do desenvolvimento que se configura no Nordeste, capitaneada pelo economista Celso Furtado e inspirada nos ideais da CEPAL (Comissao Econémica para a América Latina), culmina com a criagéo do GTDN— Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste e realizagéo de um diagnéstico da Regido que serviu de base para a criagéo da Superintendéncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) em 1959. A ideologia da “industria da seca” era substituida por uma “ideologia industrial desenvolvimentisto”. Vindo das primeiras experiéncias organizativas, particularmente em torno das secas ocorridas na década de 1950, o movimento social dos trabalhadores rurais comegou a consolidar suas organizagées em meados dessa década. Em 1955, depois da criagéo de uma entidade nacional, a ULTAB, é criada a Unido dos Lavradores e Trabalhadores Agricolas do Cearé (ULTAC), que, transformada depois (em 1957) em Federagdo das Associagées de Lavradores e Trabalhadores Agricolas do Cearé (FALTAC), conseguiu estruturar 26 associagSes municipais (ESPLAR, 1991). (cio do década de 1960 a Igreja Catdlica comegou seu trabalho de po no Cearé, a exemplo do que vinhe acontecendo em outros estados do #@ © no Pals, dando inicio a uma campanha pré reforma agréria e izag&o rural utilizando-se do seu servigo de escolas radiofénicas. ee ©8808 80888 ee € SOOO OCOOE Encorajades por setores da Igreja e do PCB (Partido Comunista Brasileiro), os camponeses procuravam os sindicatos e mostravam maior disposi¢Go para o enfrentamento. Aprofundou- s2 0 confronto entre trabalhadores e proprietérios de terra que comegavam a ver seriamente omeagada a secular pax agrarie pela qual tanto haviam primado. A criagdo dos sindicatos em si [é foi motivo para conflitos. A repressdo e a expulsGo dos que se sindicalizavam, a violéncia contra as diretorias e sedes, foram ocorr€ncias verificadas com freqiéncia. Apesar do aumento da violéncia e repressdo policial, o movimento, depois de criar 86 sindicaios de irabalhadores agricolas e camponeses, amadureceu sua esirutura interna, cartindo para unificar-se por intermédio da criagéio de federagSes, que participcram inclusive da criagéo da CONTAG em 1963 (ESPLAR, 1991). 1.2.3 Autoritarismo, modernizagéo conservadora e crise do agro cearense Com o golpe militar de 1964, os sindicatos, com pouco tempo de existéncia e quase nenhuma tradicéo de luta e mobilizagéo, pegos de surpresa, foram em grande parie exlintos, desativados, ou fechades por meio de intervengéo militar. As liderangas do movimenio ou foram presas ou ficaram refugiadas. As mobilizagdes foram sufocadas e a represséio abate-se inclusive nas fazendas, onde os trabalhadores sindicalizados sofreram ameacas & expuls6es. Logo depois do golpe, é aprovado o Estatuto da Terra que, além de legislar sobre a reforma agrdria, dava énfase ao desenvolvimento rural, com o estimulo & empresa rural. Com o Estatuto da Terra, completava-se © quadro legal necessdrio para a implementacéio da proposta de modernizacdo da agricultura, a0 mesmo tempo em que se acenava para a sociedade a realizagdo de uma reforma agrdria sob o controle da ditadura e sem ameagas & propriedade privada. Aexpressdo militar, de forga e autoritarismo, foi a forma “necessdria” para a imposigao de um determinado modelo de desenvolvimento. Sufocadas as mobilizagées dos trabalhadores rurais, a agricultura comegou a conhecer importantes incentivos com o firme propésito de modernizar o latifindio, transformando-o em empresa rural e, dessa forma, impossibilitando legalmente a sua desapropriagdo para fins de reforma agraria. Apariir da década de 1970, as estratégias de desenvolvimento do Nordeste passam a ser dirigidas a partir das seguintes prioridades, definides no | PND (Plano Nacional de Desenvolvimento}: expansdo dos investimentos para consolidar a industrializagdo da RegiGo, pela implantagdio de grandes complexos industriais, articulados e complementares & indUstria nacional; reestruturagao da economia agrdria, reunindo antigas proposigées do GIDN com as novas proposiges de modemizagao do campo. Consolidava-se 0 estilo de desenvolvimento agricola baseado na modemizagao tecnolégica, com a internalizagdo do pacote da “Revolugéo Verde”, que estava voliado para um padréo mecinico e quimico de agricultura. Para tanto, adotou-se a politica de crédito rural subsidiado e condicionado & uilizagéo de méquinas, insumos e técnicas predeterminadas, seguindo um padréo de modemizagéo compulséria subordinada as esferas industrial e financeira. Este perfodo de forte intervengdo estatal foi marcado pela priorizagéio da colonizagéo de terras e modemizagéo do latiftindio, mediante a sua transformagao ‘em empresa rural, com incentivos fiscais e crediticios. A politica de colonizagéo com sua opgio de desenvolvimento estava claramente expressa no PROTERRA (Programa de Redistribuigdo de Terras e Estimulo & Agroindistria do Norte e Nordeste). Este programa previa a aquisic&o de ferras particulares para fins de colonizagao com o pagamento em dinheiro. A adesdo do proprietario era voluntaria, e ele ainda tinha como prerrogativas a escolha da area do imével a ser negociada e a redistribuigéo para os colonos sob seu controle. Aacio do Estado estava longe de ameagar aberta e diretamente a estabilidade politica e social dos grupos tradicionais do poder local. Guardado o cardter autoritério, necessdrio para impor ao conjunto da sociedade os interesses do setor urbano-industrial, a intervengdo do Estado nao significou um confronto com as forgas oligdrquicas locais, baseadas no capital comercial e na propriedade fundidria. Pelo contrario, buscou-se a fusdo do velho com o novo para, dessa forma, promover um rearranjo das elites tradicionais dominantes. Nos décadas de 1970 e 1980, aflora a crise estrutural do agro cearense, cujas raizes podem ser encontradas na ruptura das relagées sociais no campo. Esta ruptura foi inclusive agravada pela agdo do Estado, que fragilizou o sistema de producéo sertanejo baseado na exploragio do latifvindio e sujeigdo do trabalhador sem terra, mas ndo logrou reestrutura-lo. O esforgo modemizante do Estado, através do crédito subsidiado e dos incentivos fiscais, nao consolidou no Cearé uma grande produgéo agricola, mais dindmica, que tenha assumido a responsabilidade por parte significativa da produgtio. Pelo contrdrio, a forma de apropriagéio desse esforgo teve uma base mais patrimonial e muito menos produtiva (ESPLAR,1991) Com a aplicagéo das leis trabalhistas no campo, os vinculos contratuais de parceria passaram por uma transformagdo. Os proprietarios, temendo a possibilidade de indenizagao através dos vinculos do parceiro com a terra, buscam eliminar os possiveis riscos nesse sentido. Verifica-se a intensificagao da expropriagéo de parceiros-moradores com a expulséio e a adogdo de novos fipos de contrate em que a terra jd era entregue preparada e plantada, para que © parceiro ndo pudesse exigir indenizagdo caso viesse a ser interrompido o contrato (BARREIRA, 1977). Dois fatores conjunturais importantes - a seca de 1979-1983 ¢ 0 aparecimento da praga do bicudo em 1986 - vieram desnudar a crise estrutural em que estava envolvido o sistema produtive gado/algodao. Os aspectos mais visiveis dessa crise foram a queda da produgéo e dos rendimentos médios das principais cultures iradicionais. »@« oserva-se 0 aprofundamento da minifundizagéo, resultado principalmente da repartigGo das terras por heranga. A terra a que o produtor passa a fer acesso néo & mais suficiente para a pratica de uma agricultura semi-extensiva, tao profundamente arraigada em sua prética cultural. O pequeno produtor é cbrigado, para garantira sua sobrevivéncia, a explorar a terra de forma mais intensiva, necessitando, para isso, mudar a base técnica sobre a qual sua pratica cultural estava assentada. A grande maioria, ndo conseguindo ultrapassar esse limite da reprodugdo, vive um processo gradativo de empobrecimento, caracterizado pela perda das condicées extensivas de produzir e pela dificuldade de aderir as formas mais modernas de produgéo. O empobrecimento ndo passa cbrigatoriamenie pela expropriacdo total da terra, mas pela perda das condigSes de produzirem sua terra, pequena e cansada, que pode deixar de ser o meio fundamental de reprodugo da familia, ou mesmo um meio de produgéo (ESPLAR, 1991). Adesarticulagéo do sistema produtivo do serio e a intervengGo do Estado mediante programas, como o POLONORDESTE, que atuavam em éreas selecionadas a partir do critério de maior potencial de retorno, ajudaram a desintegrar as inter-relagées dos diferentes sistemas produtivos. Com a quebra da articulagao emergiu na serra da Ibiapaba uma agricultura mais comercial centrada na exploragéio de hortaligas, frutas tropicais e cana-de-agicar; nos vales Gmidos, foi intensificada a agricultura irrigada baseada na monocultura e nos pacotes tecnoldgicos e, no litoral, ocorrem na transformagao com a implantagéio de agroindisirias beneficiadoras de frutas tropicais, como 0 caju € 0 coco. As politicas de modemizagéo da agricultura promovidas pela ditadura, de uma maneira geral, nao promoveram melhorias na estrutura fundiéria pois, tiveram resultados questiondveis do ponto de vista da produgGo e implicaram graves impactos sociais e ambientais. A seca que durou de 1979 a 1983, desnudou para o Pais, em um contexto de maior abertura politica, a problemdtica social vivida pela populagao rural nordestina, a persisténcia de antigos problemas e o fracasso dos grandes projetos implantados. Agrande seca foi, ao mesmo tempo, um periods rico de mobilizagio e orgonizagéo do movimento social. Conheceu-se um aumento crescente de conflitos de terra e, da luta dos posseiros/moradores contra proprietarios e grileiros, emergiu a identidade do trabalhador sem terra, uma identidade de destituido resultante de séculos de exclusdo politica e social. Esses trabalhadores, organizados em sindicatos e comunidades eclesiais de base, comecaram a fazer mobilizagées, invadiras cidades e realizar saques como forma de pressGo e denincia. 1.2.4 Redemocratizagao e neoliberalismo A crise do padréo de financiamento brasileiro, a pressdo inflacionéria e as mobilizagdes sociais pela abertura politica conduziram ¢ Pais ao restabelecimento do Estado democritico. Durante a Nova Republica, é retomada a mobilizagdo reforma agraria que se materializa em 1985 na elaboragao do | Plano Nacional de Reforma Agraria. O plano refletiv o antagonismo entre as forcas politicas populares e conservadoras atuantes no espago agrdrio brasileiro, e seus resultados frustraram a expectativa de realizagéo de ampla reforma agraria no Pais. Dentro do leque de setores sociais que compunham a Nova Republica, 0 setor social vinculado as lutas por democratizagéo do pais, interpretou o | PNRA como uma tentativa de recolocar a reforma agréria sob o Angulo da justia social. Para o setor vinculado aos setores dominanies, a fungao do I PNRA deveria ser a de aliviar as tens6es sociais no meio rural, sem afetar os interesses do setor agroindustrial e seu projeto de modernizagdo capitalista. Como desdobramento do PNRA, foi elaborado o | PRRA-Ceard. Seus resultados foram muito timidos. No balango do quadriénio, constatou-se que oI PRRA beneficiou 3,094 familias no Ceara, 6,17% da meta previsia de 50.100 familias e desapropriou 125.875 hectares, 8,66% da meia de 1,5 milho de hectares. No &mbito nacional, as aliangas se desfizeram rapidamente para garantir c.afirmagéio dos inieresses espectficos de cada segmento social, expressando os diferengos e divergéncias quanto ao projeto politico almejado para o Pais. Com forca politica para impedir a aprovagéo de um plano que atendesse as necessidades dos trabalhadores rurais, venceram os grupos conservadores que dominaram 0 cenério das grandes propriedades e do mercado agroindustral brasileiro. A politica de teor agrario retroagiu gradativamente, reduziram-se as dreas dispontveis para desapropriagdo e ondmero de assentamentos implantados, culminando com extingao do INCRA em 1987. Esta situagGo provocou uma reagao na sociedade, levando 0 governo a recriar a instituicao. Foi nessa correlagao de forcas que se desenrolou, posteriormente, a constituinte de 1988, que recebeu em torno de 1,5 milhdo de assinaturas apoiando um projeto de reforma agréria. A bancada ruralista, vinculada a0 latifindio, no entanto, conseguiu aprovar um texto pouco favoravel & reforma agréria, deixando diversos pontos importantes para regulamentagao posterior e conferindo um perfil conservador & nova Constituigéo. No Ceara, as transformagées do Estado brasileiro coincidiram com a ascensdo de novas forcas politicas no comando da coisa publica. Em 1987, 0 empresario Tasso Jereissati, representante dos interesses dos industriais cearenses reunidos em tomo do CIC - Centro Industrial do Ceard, assumiu 0 governo. A gestéo “Governo das Mudangas” adotava um discurso de erradicagdo de priticas politicas coronelistas e clientelistas, implantagéo de um modelo empresarial de adminisiragao e modemizagGo da economia. Em realidade, buscava-se a conjugago dos interesses dos setores urbanos industriais com os interesses politicos tradicionai 00000000 Ot stclado ne poder, 0 novo governo estadual, inicialmente, assume bandeiras democréticas, entre elas a reforma agréria, e chega inclusive a ensaiar algumas ‘éncias de intervengGo na quesidio agriria, criando assentamentos em éreas de ito como uma politica agréria estadual articulada 4s agdes do INCRA. Posieriormente a politica agréria e agricola implementada é reorientada, privilegiando a modernizagao do campo com foco na grande propriedade e no agronegécio. As ag6es de governo para a agricultura familiar so transformadas em politicas compensatérias e de “combate & pobreza”, reforcando relagées politicas clientelistas tradicionais. O “Governo das Mudangas” pés em pratica uma gestao fiscal rigida, contendo despesas e “enxugando” o quadro de pessoal. Do ponto de vista das politicas de desenvolvimento, priorizou a atragdo de indtstrias, mediante a concesséo de incentivos fiscais, e o investimento public em infra-estrutura de transporte e recursos hidricos para fomentar o turismo, a indistria e a agricultura irrigada. O setor agricola tradicional foi posto completamente a margem deste modelo de desenvolvimento. No Brasil, o modelo neoliberal, que [4 vinha sendo adotado nos paises centrais, foi posto em pratica na década de 1990 pelos governos eleitos democraticamente. Os presidentes Fernando Collor de Melo, llamar Franco e Fernando Henrique Cardoso adotaram as recomendagées expressas pelo Consenso de Washington, entre elas: 0 gjuste fiscal, a redugdo do Estado e a abertura da economia. Com 0 impedimento de Collor, assume 0 governo ltamar que elaborou e implementou um Plano Emergencial de retomada da reforma agréria. Nos anos seguintes, a luta pela terra se intensificou com as ocupagées € grandes manifestagées locais e nacionais. Durante seu governo, em 1993, a nova lei agréria foi aprovada, registrando-se poucos avangos. Esta lei criou mecanismos que facilitam a contestagéo juridica da desapropriagao pelo latifUndio, tornando os processos lentos e burocraticos. © Governo FHC implantou uma politica agraria voltada para a diminuigéo da pressao social pela democratizagéo do acesso a terra. Observou-se a implantagao de um grande numero de assentamentos, caracterizando uma politica social compensatéria desvinculada de uma agdo de reforma agrdria mais ampla no sentido de viabilizar integrar os assentamentos 4 estrutura produtiva nacional. Ao mesmo tempo, observa- se a transferéncia da responsabilidade sobre a gestéio da politica agraria da Uniéo para os estados.. Em 1995, o Governo federal, partindo de uma reivindicagéo histérica da CONTAG e federagées de trabalhadores e trabalhadoras na agricultura, criou o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), politica publica de apoio & pequena produgao familiar, a primeira linha de crédito para este setor. O PRONAF incorporou a perspectiva da descentralizagdo, envolvendo a participagao de sociedade civil em instrumentos de gestéo social nos diversas esferas govemamentais por meio de conselhos de desenvolvimento. A heranga politica das relagdes ossistenciclistas e paternalistas, entretanto, foi mais forte, determinando a orientagao do programa a partir do jogo de interesses de grupos politicos estaduais e municipais. ©0008 HHHHHHS8HOHOHOHHHHOOHOOCOEEO eco Durante o Governo FHC, houve uma intensificagao das mobilizagées dos trabalhadores rurais e movimentos sociais pela reforma agrdria no Cearé, com ocupagées de terra promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e FETRAECE. Paralelamente, com © agravamento da crise de produgdo agricola tradicional, observa-se um processo de desvalorizagéo do prego da terra no Ceard. Para uma grande parcela dos proprietarios rurais do sertéo, a desapropriagdo das fazendas para fins de reforma agréria passou a se apresentar como a alternativa de obtengéo de recursos financeiros para investimento em outros setores. Neste contexfo, iniciou-se 0 processo de acesso a terra por meio de mecanismos de mercado. Aproposta surgiu no Ceard em 1996, a partir de um acordo do governo do Estado com o Banco Mundial sob a denominagao de Projeto Reforma Agraria Solidéria. Por tras de um discurso de “reforma agraria pacffica” e complementar & desapropriacéo, que possibilitaria ‘© acesso a propriedades ndo desapropridveis, o projeto incorporou a perspectiva neoliberal, estabelecendo processos de compra de terras com empréstimos contrafdos por associagSes comunitérias, muitas delas criadas exclusivamente para este fim e sem vida organizativa. O projeto apresentava-se como uma resposta mais eficiente do que a desapropriagdo para © atendimento das demandas de proprietérios rurais interessados em vender suas propriedades. Este programa posteriormente foi ampliado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrério - MDA para os Estados de Pernambuco, Bahia e norte de Minas, dando origem ao Cédula do Terra, em 1997. Apés passar por algumas modificagdes, como 0 aumento do teto de financiamento, permisséo de propostas individuals, reembolso dos recursos de investimento e participagao patronal no Conselho Curador do Programa, o Cédula é transformado em Banco da Terra. Em 2001, ufilizando a mesma matriz dos programas de acesso é terra por instrumentos de mercado, o governo cria o Crédito Fundidrio. Este programa nasceu da incorporago de eriticas e sugestes da CONTAG, que se fornou parceira do programa, e conferiv respaldo politico para a proposta, que até entéo vinha sendo unanimemente rejeitada pelas organizagées populares do campo. O resultado destas experiéncias foi o endividamento de milhares de familias e o comprometimento de sua capacidade de pagamento e manutengéo das terras adquiridas. Outro efeito foi a redugdo da aplicagao do insirumento de desapropriag&o e arrefecimento des Iutas pela conquista da terra. Complementar a estes projetos que incorporavam a perspéciiva neoliberal & questéo agréria, o governo FHC adotou um conjunto de medidas que coniribuiram para o enfraquecimento dos movimentos sociais do campo, por meio do codestomento, pelo correio, de pessoas interessadas em adquirirferras, ou ainda a proibiggo de realizar vistorias em Greas ocupadas, inibindo a ocupag&e como mecanismo de presséo pore c desapropriagSo de terras improdutivas. ‘orma agréria e de politica agricola criou enorme passivo em virtude nios, deficiéncia de infra-estrutura e assisténcia técnica, iculdade de obiengGo de crédito, elevagdo do grau de endividamento dos niadas e insustentabilidade dos assentamentos. ee © COKCECOe e« -eoeoe « 1.2.5 Governo Lula e tendéncias atuais do agro cearense A situagGo agréria atual constitui um problema social e territorial resultado do envolvimento desigual e contraditério da sociedade brasileira, cujas principais caracieristicas so o processo de concentragéo fundidria, apropriagdo da renda e expropriagGo das familias camponesas. Seu equacionamento pressupde determinagao fica do Governo. Nesse sentido, a reforma agrdria apresenta-se como uma politica publica de competéncia do Estado, que visa 4 desconcentragéo fundidria, prioritariamente pela via da desapropriagao, convergindo para a valorizagéo do conjunto da agricultura familiar e garantindo o acesso e a permanéncia na terra. Aimplementagéo do Il PNRA acontece em meio a uma disputa e convivéncia de concepgdes politicas antagénicas acerca do modelo de desenvolvimento que o Pais deve seguir para superar suas desigualdades sociais, se por meio de um crescimento econémico dependente @ concentrador de riquezas ou pela adogtio de um modelo de desenvolvimento distributive e includente. A contradicdo entre as atuais forgas politicas e concepgdes de desenvolvimento devolve ao tema da reforma agraria sua real importancia estratégica para Pafs como espaco de participagdo dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no planejamento e elaborago das politicas publicas. No ano de 2004, a implaniagéo do Il PNRA situa-se para 0 Governo Lula como uma tentativa de retomar a proposta original do | PNRA, desta vez com a participagao massiva dos setores diretamente interessados na reforma agrdria e organizados em toro da mudanga da estrutura fundidria do Pais. O Il PNRA traz a caracteristica de experimentagao do novo. Com a eleiggo de um Presidente da Repdblica identificado com a viabilizagéo de um projeto popular, o Estado investe na participagéo organizada com vistas a redefinir seu papel gestor de politicas piblicas e a responder a um compromisso firmade com a populacéo. © Governo Lula reconhece, para a realizagéo do Il PNRA e de seus planos regionais, a diversidade social e cultural da populagio rural e a necessidade de garantir os seus direitos fundamenicis, ao mesmo tempo em que assume a reforma agréria como uma condigéo para o crescimento econémico com distribuigéo de renda a partir de uma ago articulada com setores governamentais e movimentos sociais. A elaboragéo do Il PRRA - Ceard, ocorre em um contexio em que se podem identificar dois conjuntos de forgas atuando no campo do desenvolvimento rural no Estado. De um lado os movimentos sociais e demais setores comprometidos com a construgao de um modelo olvimento rural solidério sustentével por meio da realizacdo e viabilizagao da rma agraria € da participagGo ativa e auténoma dos agricultores familiares na definigao ‘cas publicas; e de outra parte, os setores identificados com um modelo de © pautado na implantagéio de complexos agroindustricis conirolados por ades, nos quais os trabalhadores rurais e a agricultura familiar se integrariam endente e subordinada. eo eo « ee eooeos « ¢ ntido, ¢ principal estratégia do Governo do Estado para ‘al 6a modernizagéo da agricultura patronal em éreas deradas de maior potencial agricola com vistas & implantagGo de complexos agroindustriais. Para a viabilizagéo a esiratégia, os principais projetos em andamento sdo: o Aguos do Ceard que prevé « interligagdo das bacias hidrogréficas do Estado, e o Programa Cearense de Agricultura Irrigada Proceagri) que prioriza a organizagdo de seis agropélos - Baixo 2 Médio Jaguaribe, Carri, Ibiapaba, Baixo Acaraii e Regio Metropolitana, voltados & produgdo de frutos tropicais para exporiagéo Aexpanstio da agricultura irrigada nestas bases tende o acentuar © modelo concentrador de riquezas no meio rural, beneficiando © seior empresarial agroindustrial exportador e excluindo a agricultura familiar, Por outro lado a construgdo de infra-estruturas no meio rural, especialmente hidricas, e a perspectiva da expansGo do cultivo de mamona e outras plantas oleaginosas para a produgao de biodiesel, podem ensejar um agravamento da situagdo fundidria, decorrente do aquecimento do mercado de ierras, E neste cenério que o Il Plano Regional de Reforma Agraria, mediante uma ampla participacéo popular em seu processo de elaboragdo, propde a adogéo de um novo modelo agrario e agricola para o Estado do Ceara, pautado na constituigéo de uma sociedade rural composta majoritariamente de unidades de vida e trabalho, de cardter familiar, multifamiliar, comunitério ou coletivo, livremente associadas no processo de produgiéo, beneficiamento, processamento, comercializagéio e consumo. A orientagGo estratégica do plano é o fortalecimento da agricultura familiar e a implementagdo de um reforma agréria ampla e de qualidade, visando & consfituigdo de dreas reformadas integradas a processos de desenvolvimento territorial com forte participagdo dos agricultores, agricultoras e movimentos sociais na gestao des politicas publicas. DIAGNOSTICO 2.1.1 A Reforma Agrai 2.1 REFORMA AGRARIA NO CEARA E DEMANDA PELA TERRA no Ceara - o olhar dos trabalhadores ‘Ao longo das oficinas regionais ¢ do semindrio estadual de elaboragao participativa do Plano Regional de Reforma Agraria do Ceard foi sendo construido um diagnéstico pelos participantes cujos principais aspectos a seguir destacados, foram incorporados ao PRRA como andlise e propostas. Foram considerados avangos o cardter popular do Governo Lula que se expressa no Ceard através do bom relacionamento do INCRA com os asseniados, tendo na figura do Superintendente Regional a principal representagao dessa mudanga. Essa marca fica evidenciada pelo didlogo e respeito para com os trabalhadores e trabalhadoras em contraposig&o a repressdo policial de épocas passadas. Hé incentive a participagéo popular, princisalmenie, @ perspectiva do fortalecimento dos féruns dos assentados e assentadas como espago de discussdo e de planejamento. Onovo modelo de Assessoria Técnica Social e Ambiental, a partir da criagao de Nucleos Regionais, foi apontado como resultado positivo na organizagao dos assentados e assentadas, pois estendeu os servicos prestados aos assentamentos. A partir do envolvimento dos técnicos foi desenvolvido uma maior utilizagao das potencialidades dos assentamentos, com PDAs mais préximos da realidade e aproveitando experiéncias existentes. Esta situagao coniribuiu para a maior participagéo das comunidades nas discussdes e destinagao dos recursos do PRONAF e no desenvolvimento das polificas de género, geragao e etnia. Foi identficade uma maior agilidade na liberacto do crédito- habitacéo e do PRONAF/Investimento. Segundo a avaliagdo dos participantes das oficinas e do semindrio estadual, este cendrio contribuiu para uma maior consciéncia politica e participagdio dos movimentos sociais nas lutas e agdes coletivas com vistas a democratizagéo do acesso 4 terra eee « Foi considerado entrave o modelo de desenvolvimento fundado na histérica concentragéo da terra e fortalecido pelos governos anteriores. Sua execugGo se deu através de acées desarticuladas, principalmente, das instituigdes que atuam na reforma agréria, que priorizaram 0 agronegécio de exportagéo em detrimento da agricultura familiar. Como conseqtiéncia dessa opgao, o Ceara foi “partido em duas bandas”, “dos ricos e dos pobres”, num modelo de desenvolvimento inadequado para o semi-érido, que desvaloriza as diversas culturas produzidas pela agricultura familiar Os desdobramentos desse modelo econédmico excludente apresentaram-se na forma de burocracia dos bancos e cobranca de juros altos, na reduzida caréncia para © pagamento, na insuficiéncia de recursos para a reforma agraria e liberagdo em 6poca inadequada Na questao ambiental foram identificados outros sérios entraves, principalmente no que diz respeito ao uso indiscriminado de agrotéxicos, manejo inadequado do solo, destruigéo de matas nativas e nascentes, e descumprimento de planos de manejo. Acentua-se neste quadro, as atitudes autoritérias do IBAMA e da SEMACE que néo realizam a¢ées educativas, mas somente acées coercitivas e punitivas No contexto sécio-cultural, aparece a educagtio em estado precdrio nos aspectos de infra-estrutura fisica e da formagéo de seus profissionais, inadequada 4 realidade da reforma agraria. Do mesmo modo ocorre com a sade, esporte, cultura, lazer, transporte © comunicagéo, bem como o acesso aos direitos sociais. Ficou evidenciada na avaliagéo, agresséo 4 identidade das populagées e ds suas culturas. Foi criticada a permanéncia da medida proviséria que impede a vistoria de terras com ocupagéio, bem como a atuagio de técnicos de governo que n&o percebem as mudangas quanto a um novo modo de atuagéo do Governo Federal. Este quadro se agudiza com a morosidade no processo de desapropriagdo e auséncia de posicionamento do INCRA em relagGo a algumas situagées conflituosas como na relagéo aos “novos” latifundidrios da carcinicultura, Evidenciou-se nos debates, uma clara divergéncia quanto cos instrumentos utilizados para garantir 0 acesso a terra. Identificou- se 0 enfraquecimento da desapropriagée como principal instrumento da reforma agréria em detrimento da compra de terras através do Crédito Fundidrio. Este ponto foi pol&mico, merecendo exaustiva reflexGo no decorrer de todas as oficinas regionais e no semindrio estadual. x) eo @« « eee « Em fungdo dos questionamentos sobre o Crédito Fudiério quanto 2 sua viabilidade , bem como quanto as irregularidade nciadas por entidades e movimentos comprometidos com a reforma agréria, o seminério estadual propos que os recursos programa fossem destinados para o mecanismo de sapropriagGo por interesse social. les: Selientou-se que apesar do esforco atual, os resultados da assisténcia técnica nao tem sido suficientes para fazer face ao enorme passivo hoje existente, decorrente da descontinuidade, inadequagao e insuficiéncia na prestagdo dos servigos em anos passados, resultando na demora na elaboragdo ou na qualidade do PDA, desconsiderando as potencialidades e necessidade dos assentamentos, desconhecendo os aspectos culturais, de etnia, de género, e de geragéio. Na avaliagéo considerou-se que hé insuficincia de técnicos para o némero de familia. O INCRA, por sua vez, apresenta dificuldades no acompanhamento das empresas prestadoras de servigos. Também foi destacada a auséncia de assisténcia técnica e extensdo rural pela EMATERCE para os assentamentos estaduais. Este quadro é qualitafivamente agravado em alguns momentos conflituosos entre técnicos e assentados, quando ocorrem relagées auloritérias. Com respeito ao INCRA foram detectadas dificuldades operacionais que comprometem 0 cumprimento da sua missdo, fais como insuficiéncia de recursos humans e financeiros e a estrutura ceniralizada em Fortaleza. Nos assentamentos também foram evidenciades alguns pontos considerados entraves: aus8ncia de compromisso e oportunismo por parte de alguns assentados; auséncia de intercambio entre assentados; organizagées deficientes e regimentos internos que néo contribuem para a autonomia. No que tange aos movimentos sociais, ficou evidenciada a falta de unidade entre os mesmos, a inexisténcia de férum de assentados em algumas regides, e o acompanhando inadequado des projetos. Considerou-se que a sociedade, de uma forma geral, ignora a importancia da reforma agréria, possibilitando a manifestagao de setores conservadores que contestam a mudanga. Neste sentido, @ bancada ruralista foi vista como um entrave que, juntamente com seiores da midia, combatem os movimentos sociais, especialmente o MST. SSSSSOOOSOSOSCOSHSHOSSSOOSOSOOOSCOSOSCOSOOSOSSOSSCSOCOSCCCRECO 2.1.2 Estrutura Fundiaria Os dados disponiveis para se proceder a uma andlise da estrutura fundiéria no Cearé estéo no SNCR e no Censo Agropecuario do IBGE. Optou-se aqui pela adogdo do SNCR, uma vez que os dados do IBGE utilizam © conceito de estabelecimento rural, enquanto os dados do INCRA baseiam-se no conceit de imével rural e permitem a agregagdo de dados por médulos fiscais. A Constituigo Federal definiu normas especificas quanto 4 desapropriagéo. para fins de reforma agrdria, estabelecendo no arfigo 185 duas modalidades que sdo insuscetiveis de desapropriagdo: a pequena e média propriedade rural, desde que seu proprietério néo possua outra, e a propriedade considerada produtiva. A Lei 8.629/93, a chamada Lei Agraria, no arfigo 4°, defini a pequena propriedade como sendo a drea compreendida entre um e quatro médulos fiscais (inciso I), e média propriedade o imével rural de Grea superior a quatro e até quinze médulos fiscais (inciso Ill). Assim, & passivel & desapropriagdo para reforma agriria a propriedade rural que: pelo tamanho, seja superior a quinze médulos fiscais ou sendo pequena ou média, desde que seu proprietario tenha outro imével rural; e ndo seja produtiva. Os dados do SNCR, portanto, sdo interessantes para esta anélise por permitirem agrupar os dados de acordo com as categorias definidas pela Lei Agrdria. Na tabela a seguir é apresentada a situagéo cadastral dos iméveis rurais no Cearé segundo as categorias de propriedades definidas pela Lei Agréria: + Tabela 2 — Estrutura Fundidria Segundo Categorias de Propriedades - 2004 Categorias Iméveis % Area % Minifiindio (Até | MF) 93837 | 72% | 1.65.1695,50 c Pequenas_propriedades (1 a 4 MF) 30017 | 23% | 2.932.604,10 Médias Propriedades (Acima de 4 a 15 MF) 6062 5% | 2.110.575.40 ‘Grandes Propriedades (Mais de IS MF e até 10.000 ha) 1087 1% | 1.520.783,60 ‘Acima de 10.000ha 9 0.01% |” 116.607,00 Total isi.012 | 100% | 8.332.265.6 | 100% (SNCR-INCRA, Novembro de 2004) 120080008808 OHHHHOHOHEEOHOCOHHECOHO88EEE8OECSEEEOC8ES Aleitura destes dados revela a prevaléncia de uma estrutura fundidria concentrada e polarizada. Enquanto minifindios e pequenas propriedades respondem por 95% do total de iméveis rurais e ocupam 56% da Grea, médias e grandes propriedades que representam apenas 6% do total de iméveis ocupam 45% da Grea. O elevade percentual de minifindios, 72% do total dos iméveis, é um grave indicader, na medida em que estas propriedades estéo aboixo da quantidade minima de Grea suficiente para a manutengao de uma familia. No que diz respeito 4 prevaléncia de um elevado percentual da ocupagéo da Grea por grandes propriedades, deve-se levar em conta 0 fato de que os dados do Sistema Nacional de Cadastro Rural n@o discriminam os assentamentos rurais constituidos. Estes so contabilizados juntamente com os demais iméveis rurais. Em um estudo preliminar, realizado para efeito do PRRA, foram operadas uma discriminagdo e uma subtragéo dos assentamentos rurais, federais e estaduais, dos dados do SNCR, obtendo-se o seguinte resultado: + Tabela 3 — Estrutura Fundidria Segundo Categorias de Propriedades e Assentamentos Categorias Iméveis_ | % Area % “Minifindio (Até 1 MF) 93.837 | 72% | 1.651.695.5 | 20% Pequenas ¢ Médias propriedades (Mais de I a 4MF) 30.002 | 23% | 2.930.181,9 | 35% ‘Médias Propriedades (acima de 4 a 15 MF) 5.857 4% | 2.005.0282 | 24% Grandes Propriedades (Mais de 15 MF e até 10.000 ha) 755 1% | 746.5694 | 9% ‘Acima de 10,000 ha 9 0,01% | 116.607,00 | 1% | ‘Assentamentos Rurais Federais 309 [0,24%| 724.888.4 | 9% ‘Assentamentos Rurais Estaduais 228 [017%] _154.873,1 W% Total 130.997 8.329.8434 (SNCRINCRA 2004 / IPLANCE 2002) Estes dados revelam que a constituigdo de assentamentos de reforma agraria impactou significativamente a estrutura fundidria do Estado, sobretudo na redugdo da area ocupada por grandes propriedades. Atualmente os assentamentos rurais respondem por 11% da rea total, enquanto grandes propriedades e propriedades acima de 10.000 ha ocupam 10% da Grea. Go obsianie a politica de assentamentos dos governos anteriores fer representado uma melhoria significativa da estrutura fundidria do Estado, o acesso a terra permanece como m grave problema, tanto para familias totalmente destituidas de terra, como para aquelas ossuem terra, mas com Grea insuficiente ou com acesso precdrio. Esta populagdo ingide em sua cidadania pelo problema do acesso 4 terra corresponde ao piiblico-alvo gréria no Cearé, 0 qual se procura agora melhor definir e quantificar. Qo ¢ e e 8 3 e e e e e e 9 e e 8 e e e 3 ® e e @ e e e e e e @ e e 8 a ® e e a e e e e e 2 3 e e 6 e 2.1.3 Categorias Sociais Demandantes Seguindo as diretrizes definidas no Plano Nacional de Reforma Agréria, o PRRA- CE parte de uma viséo ampliada de reforma agréria a fim de contemplar a diversidade social dos segmentos sociais no campo. Neste sentido, sGo considerados piblico-alvo desie plano: pobres no meio rural, agricultores (as) sem terra, minifundiérios (as), comunidades quilombolas, agricultores(as) néo indios ocupantes de terras indigenas, atingidos(as) por barragens, trabalhadores (as) extrativistas e pescadores (as). * Demanda Explicita e Emergencial Pode-se identificar uma demanda explicita pela reforma agréria no Cearé composta pelas 8493 familias inscritas, via correio, no “Programa de Acesso & Terra” e ainda néo beneficiadas. Do total de 10.600 familias cadastradas pelo correio, 2107 jé foram assentadas pelo INCRA no Cearé. Considera-se como demanda emergencial e prioritéria do II PRRA 0 atendimento com acées de reforma agréria das 2.276 familias acampadas e mobilizadas no Estado. Deve- se destacar, entretanto, 0 fato de que algumas familias acampadas estado contidas no cadasiro realizado via correio. + Demandas Espectficas - Remanescentes Quilombolas: De acorde com dados fomecidos ao IDACE por entidades ligadas aos movimentos afro- brasileiros, foram relacionados 47 agrupamentos negros localizados em 17 municipios no Estado do Ceard. Saliente-se que jé foram identificados, pelo Governo do Estado do Ceard, 05 comunidades quilombolas, atualmente em processo de regularizago fundi aplicagao de um plano para 0 einodesenvolvimento. * Mapa das Comunidades Quilombolas Morin Serra do Bastises Ingoraira - Sito Pave Sitio Vargem da Pedra ‘Umer! = Familia Bem-Sem ‘Vila Tevares Silo Vargem da Pedra fonie: IDACE - Posseiros em Terras Indigenas: Segundo informagées da FUNAI-CE, existem delimitados, o serem demarcados/ desapropriades, 4 territérios indigenas no Estado do Cearé, ocupados por etnias indigenas: Potiguara (Municipios de Maracanau e Pacatuba); Jenipapo e Kanindé (Municipio de Aguiraz); Tapeba (Municipio de Caucaia}; Tremembé de Almofala (Municipio de ltarema), Tremembé do Cérrego (Municfpios de ltarema e Acarat). A obtengéo de iméveis para csseniamento de familias néo indigenas ocupantes destes ferritérios depende de levantamento ‘ser realizado pela FUNAI. Segundo informagées da Organizagéo Nao Governamental Missdo Tremembé existem diversos povos indigenas no Ceard ainda nao reconhecides, em sua maioria, vivem situagGo. de acesso precario 4 terra e enfrentam conflitos com posseiros. Na tabela abaixo e no mapa a seguir, sGo relacionados alguns grupos que aguardam estudos etno-histéricos de rar idade indigena, para reconhecimento oficial pela FUNAI - Fundagéo Nacional do Indio. * Tabela 4 — Povos aguardando estudos para reconhecimento de sua etnicidade POVOS MUNICIPIO: ‘COMUNIDADES | POPULACAO. AREA INDIGENAS ESTIMADA| Pessoas Kalabaga Crateis oO Poranga on Kanindé “Aratuba ol Canindé o2 Kari Cratetis or Potiguara ‘Monsenhor a 2 14h Tabosa/ Tamboil! o1 600 ha Cratetis o1 Novo Oriente OL Pofiguara Piaui Agricolandia on Alltos OL Potiguara de Crates o1 30 180 Monte Nebo Potiguara Fortaleza - Distrito de oO ® 6 | Paupina Tabajara Cratetis, a 3 445 6.000 ha Poranga ¢ Monsenhor o1 : Tabosa on Tupinamba Cratetis OL Total 21 457 [2.348 | 7530 ha (Associagao Missdo Tremembé, 2004) SSSHHHHSSHOHSHHSHSHHOHHHOSHHSHHHHSHSHHSHSHOHHHHHHSHHHOCOOEOD * Povos Indiginas no Cearé (resistentes e reconhecidos oficialmente) @ (Associagae Missao Tremembé, 2004) © © 0CCCOCe © COO® ":. - Comunidades Litoraneas: As comunidades litorneas tradicionais constituldas por homens mulheres que se dedicam & pesca, ao artesanato e extrativismo, tem sido alvo nas dltimas décadas de conflitos sobre a posse da terra, em virtude do aumento do fluxo turistico e da especulagao imobilidria. De acordo com diagnéstico realizado pela Organizagéo Nao Governamental Terra Mar (2004) existem diversas situagées de contfito pela posse da terra no litoral, « exemplo do que acontece nas comunidades de Fontainha, Prainha do Canto Verde e Tatajuba. Algumas comunidades litoréneas, como Redonda (caput), Balbino (Cascavel), Moitas e Caetanos (Amontada), conseguiram garantir a posse coletiva da terra com a criagéio de assentamentos 4 beira- mar. No final da década de 1990, a criactio de um marco legal por meio do SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservacéo) garante a possibilidade de implantagdo de reservas extrativistas reservas de desenvolvimento sustentavel que asseguram o direito de uso e ocupagao por populagées tradicionais. A comunidade. de Batoque (Aquiraz) obteve recentemente o ifiulo de reserva extrativista, e as comunidades de Balbino (Cascavel), Ponta Grossa (Icaput), Tatajuba (Camocim), Canto Verde (Beberibe), Caetanos de Cima (Amontada) ¢ Cana Brava (Irairi) estéio em processo de corganizagéo para o mesmo fim. * Demanda Potencial De acordo com dados da PNAD (IBGE, 2002), existem no Ceard 314.330 familias vivendo no meio rural com renda familiar mensal de até 2 salérios mi grande pdblico potencialmente beneficiério das ages de reforma agraria no Estado. No que diz respeito aos agricultores sem terra existem, de acordo com a pesquisa INCRA/ FAO, que se baseou nos dados do Censo Agropecudrio de 1995/96, pelo menos 156.707 familias em situagGo de acesso precdrio & terra (moradores, parceiros e arrendatérios). Com relacéo as famflias que possuem terra, mas com érea insuficiente para a producéo e subsisténcia familiar, os dacos do SNCR/INCRA (2004) déo conta de 93.837 minifundios (aié 1 médulo rural), correspondentes a 72% dos iméveis rurais do Estado. O atendimento da demanda por reforma agrdria no Ceard é um elemento fundamental para ¢ garantia de um modelo de desenvolvimento includente, que concilie crescimento jo de renda. A democratizagéo do acesso d terra combinada com ie desenvolvimento rural/territorial dinamizaré a agricultura familiar, que, pode observar a seguir, 6 © setor que, apesar das limitagées fundidrias © mm respondido pela produgéio agricola e geragao de emprego e renda SOHSHHSHHOSHSSHHSSOHSHSHHOSSSHSHHSSHOSHHHHHOHHHHHOHSHHHOHOO: - Atingidos por barragens De acordo com o Movimento dos Atingidos por Barragens, a maioria das familias com problemas de acesso 4 terra em virtude da construgdo de barragens no Ceard, concenira- se no entorno do acide Castanhao. Esta populagdo faz parte do publico demandante por agées de reforma agréria, que vo além do acesso & terra e coniemplam polificas na perspectiva da garantia de seus direitos humanos, econémicos, sociais e ambientais. Entre 08 problemas vividos pelas populagées atingidas por barragens podemos destacar: perca do acesso 4 terra, indenizagées depreciadas, reassentamentos adensados além de sua copacidade de suporte, caréncia de infra-estrutura nos reasseniamentos € acesso &s politicas piblicas. 2.1.4 Cenario atual do processo de obtengado de terras no Estado Em decorréncia da atuagéo da reforma agréria no Ceard tem ocorrido uma mudanca no perfil fundiario dos iméveis. Existem atuamente no Estado, 901.975 ha reformados. Como resultado dessa agdo fundidria, imédveis passiveis de desapropriagGo, possuem Greas menores, consequentemente apresentam capacidade de assentamento reduzida. Quando anteriormente um s6 imével possibilitava o assentamento de 100 a 200 familias, hoje para assentar esse mesmo ntimero de famiias, é necesséirio a desapropriagéo de vérios iméveis. Em 2004 o INCRA/CE trabalhou com uma média de 47 famiias por imével desapropriado. Outro aspecto importante a destacar é a maior resisténcia apresentada pelos proprietarios refletida na interposig&o de recursos, ocasionando demora na tramitagéo da maioria dos processo de desapropriacéo. Tais recursos tem como fator preponderante a valorizagéo das terras em fungéo principalmente, da expangéio das dreas de cutivo do camarao; da reativagéo da cultura da mamona, com vistas a utilizagéo na produgéo de biodiesel; e, a futura oferta de Gguas advindas do Canal da Integragdo, no baixo e médio Jaguaribe. Por outro lado, os parametros definidos na legislagdo vigente para a reforma agréria, constituem-se, em muitos aspectos, em entraves para o processo de obtengao de terras. Essa sitaugGo aponta, de forma explicita, para a necessidade de discussdo mais aprofundada sobre essa questdo, objetivando uma readequagdo do marco legal para que o INCRA possa cumpriro seu papel: promover uma reforma agrdria ampla, massiva e de quaalidade. @e@eeeeeseee eee oooeeooeooeeee »@98eeoaee < eo > 2.2 AGRICULTURA FAMILIAR E PATRONAL NO CEARA Partinde dos dados disponibilizados pela pesquiso INCRA/FAO acerca da cogricultura familiar no Brasil, que teve como subsidio os dados do Censo Agropecudrio do IBGE de 1995, pode-se verificar a necessidade de que sejam incrementadas as politicas de desenvolvimento rural, como foce o ptiblico da agricultura familiar, como estratégia para a superagéo da pobreza e melhoria da distribuigdo de renda. Apesar dos dados do Censo Agropecuério (1995) carecerem de atualizagio, a pesquisa INCRA/FAO é um marco importante pois retrata pela primeira vez no Pats a diferenciagao entre a agricultura familiar e a patronal e serviu de subsidio para a criagdio de PRONAF. Wivemos em 2004 um cendrio diferenciado daquele caracterizado pelo censo. Os dados revelam entretanto, que mesmo antes da existéncia de um programa especffico, a agricultura familiar no Ceardé jd se destacava, comparativamente a agricultura patronal. Os estabelecimentos rurais familiares representavam 90,2% do total de estabelecimentos rurais do Cearé contra 6,4% da agricultura empresarial. Ocupavam uma érea praticamente equivalente, expressGo do processo de concentragdo fundidria e minifundizagGo.Apesar de proporciona uma geragéo de renda por hectare (R$. 75,09/ha) superior & renda da agricultura patronal (R$44,24), apresentava um perceniual bastante inferior de acesso a crédito, 38,4%, enquanto a agricultura patronal absorvia 52,4% do volume total de recursos. Com relagéo a geragao de emprego no campo, a agricultura familiar respondia por 87% do emprego de mo-de-obra, com um indice relative de 1 emprego gerado a cada 5 ha, enquanto a agricultura patronal representava 12% do emprego, com uma média relativa bastante superior de 1 emprego para cada 32 ha. Estes dados sinalizam para uma eficiéncia maior do retorno econémico e social do investimento piblico, quando aplicado na agricultura familiar. Daf a importancia estratégica deste setor e das agdes de reforma agrdria e desenvolvimento territorial voltadas ao seu fortalecimento. + Tabela 5 ~ Dados comparatives da Agricultura Familiar e Empresarial no Cearé Dados Comparativos Familiar Empresarial Quantidade de estabelecimentos 306.213, 21.756 (es “Percentual de estabelecimentos 90,2% 6.4% Quantidade da drea total 4.742.830.576 ha_| _4,064.110.694 ha Percentual da drea total 52,9% 45.3% Percentual de emprego da m&o-de-obra no campo 37% E 12% Percentual do valor bruto da produgio agropecuaria 52.2% 45.2% Percentual do acesso a crédito 38.4% 52.4% Geragio de renda por unidade de drea (1 ha) RS 75,09, RS.44,24 1 emprego a cada Sha 32ha "esquisa INCRA/FAO, IBGE Censo Agropecudrio 1995/1996) CO0SSOH OS OOOHHHHHHHHHHHHHOHHOHHHHOHHEHHOOHOHHHOOD 2.3. ASSENTAMENTOS RURAIS Existem atualmente no Estado do Cearé 17.836 familias assentadas em 309 projetos de assentamento federais, distribuidos em 82 municipios, correspondendo a uma Grea de 724.888 ha, equivalente a 9% da drea total de iméveis rurais cadastrados no Ceara, segundo o SNCR. O diagnéstico realizado a seguir refere-se a este universo. * Mapa dos Projetos de Assentamentos e e e e e e e e e e e e e e e e @ @ e e e e e e e e @ e e e e e e ® e e e e @ e @ e ® e e e @ e 2.3.1. Especificidade do processo de organizagéo dos assentamentos do Ceara Perseguindo o desafio de ocupar e produzir a partir de um novo modelo, os assentamentos do Estado do Ceard adotaram, desde meados da década de 80, o modelo misto de organizagao e uso da terra, ao contrdrio do que acontece em assentamentos de grande parte do Pais, em que ha um parcelamento de lotes e posterior titulagéio logo apés A criagéo. Esta proposta, apresentada aos recém-assentados e assentadas, tem como objetivo estabelecer relages de produgGo solidérias e cooperativas na gestéo e organizagéio comunitéria. O principio é estabelecer maior dinamizagao do uso, melhor utilizagao da ierra e gesido de bens indivisiveis. Assim, o chamado modelo misto, se estabelece mediante um processo de discussGo com a comunidade, no qual sdo definidas coletivamente normas de utilizagéo da terra e de equipamentos coletivos, tais como Greas de aluvido, terras de varzea, acudes, rios, pastagens, grandes cultivos, tratores, forrageiras etc. A partir da defi de dreas comunitérias e de dreas de uso individual, organizam-se 0 trabalho coletivo eo individual, com a participagdo de representantes das familias assentadas. Aproposta de utilizagao mista busca compatibilizar a experiéncia de organizagao coletiva elaborada durante a mobilizagéo pela conquista da terra, e a experiéncia de produgéo camponesa que os trabalhadores e trabalhadoras trazem e que se traduz no modelo de posse individualizada da terra. A intengdo é reinventar idéias e valores impostos, de modo que os préprios assentados e assentadas elaborem suas formas de pensar e agir, através da reflexdio do processo de exploracéio e expropriacéo a que estavam submetidos. As Greas de produgao coletiva utilizam o principio da distribuigdo das riquezas geradas a partir do trabalho. Os resultados sGo repartides entre as familias, proporcionalmente ao seu trabalho, e investidos na organizagéo coletiva como forma de capitalizar o grupo. O planejamento do trabalho é definido em fungéio da disponibilidade das familias e da demanda por atividades a realizor. Periods de colheita de grandes cultivos, de recuperagto de cercas ¢ de implantagao de estruturas coletivas, como currais e apriscos, que requerem grande quantidade de trabalho, sdo alternados com perfodos em que hé maior necessidade de méo-de-obra nas dreas de exploragéo familiar, como 0 preparo da terra e dos tratos culturais da produgao familiar. Apesar do predominio de um sistema de exploragdo misto das terras, esta proposta é por vezes questionada pelos assentados e assentadas. Hd um tensionamento entre a perspectiva de produgéo de base familiar e a organizagéo coletiva do trabalho e de uso comum de parte da terra. Este questionamento, em alguns casos, se traduz na redugdo ou perda da capacidade de organizagiio dos assentamentos. Tal questo esié relacionada a problemas e e e e e e e e e e e e e e e e e @ e e e e e e @ e e e e e @ e e e @ e e e @ e e @ e e e e e @ da gesi&o e formagao social dos trabalhadores, que, antes da conquista da terra, néo passaram por experiéncias de administragao coletiva, a néo sero trabalho, com seus pares, subordinado a um patréo. Dessa maneira, 6 necessdrio aprofundar a discusséo da organizag&o nos assentamentos, buscando superar a falsa dicotomia entre o coletivo eo individual. Ainda que estes limites se apresentem, a implantagéio do modelo misio demonstra resultados positivos na qualidade de vida e nos aspectos econémico, social ¢ politico. A utilizagao dos recursos naturais, humanos e financeiros, disponibilizados com a conquista da era, requer processos dialogados mediante a constituigdo de organizagées associativas que representem o conjunto do assentamento, de modo a implantar projetos produtivos que contribuam de modo significativo para a geragéo de trabalho e renda e melhoria da qualidade de vida. Estas condigées refletem-se na conquista da cidadania construfda coletivamente para todos. Hé concordancia do INCRA e dos movimentos quanto a organizagéo do trabalho a partir do modelo misto. Para o INCRA, o assentamento é considerado uma unidade produtiva geradora de renda, com atividades agropecudrias e de prestagdo de servigos, e uma unidade juridica, na qual a associagéo é a representante legal do assentamento, com objetivo relacionado a gestao coletiva do trabalho e dos recursos investidos. Para os movimentos, além do cardter econémico, da gestao do trabalho e do acesso a condigées de produgéo, a experiéncia é considerada uma vivéncia social e de produgao. conquistado pela luta, na qual se considera o caréter politico vinculado a conquista de direitos mais amplos. Neste sentido, os movimentos assumem papéis de mediadores sociais nos assentamentos ao desenvolverem formas de organizagdo relacionadas 4 cooperacéo agricola, ampliando as dimensées propostas inicialmente através do modelo misto. Os movimentos apresentavam ainda como argumento favorével ao trabalho coletivo, a maior produtividade, pois mais pessoas realizavam com maior rapidez uma tarefa, e o debate de idéias e 0 aprendizado coletivo da solidariedade e construgao da cidadania, ao discutir regras que estabelecem direitos e deveres no convivio social. 2.3.2 Qualidade de vida nos assentamentos A qualidade de vida nos assentamentos, incluindo questées relativas a moradia, tratamento de esgoto, acesso 4 dgua de boa qualidade, energia elétrica, disponibilidade de escolas e servicos de satide, lazer, bem como 0 transporte coletivo e as condigées de acesso Gos projetos de assentamento, constitui uma dimensdo importante para se mensurar 9s resultados da reforma agraria como politica econdmica e social. A pesquisa A Qualidade dos Assentamentos da Reforma Agréria Brasileira, realizada recentemente pela USP/MDAVFAO (SPAVOREK, 2003), avaliou projetos de assentamento em todos os estados. Por meio de um indicador, 0 indice de Qualidade de Vida - QV, foram considerados a qualidade da moradia e © acesso a servigos de educagao e saude. De acerde com a pesquisa, no Ceard, entre 1985 e 1994, o QV foi de 70 e, no perfodo de 1995 a 2002, de 71, acima da média nacional (63) e regional (62). Aligeira variago positiva da situagdo cearense revela que, ao longo de quase 20 anos, pouco se avangou no sentido de promover mudangas na qualidade de vida nos asseniamentos. Na pesquisa, os melhores fatores isolados que elevam o indice do Estado sdo os de moradia (casas definitivas) e os de acesso 4 eletricidade. Os piores fatores que contribufram para a deplecdio do indice séo os de acesso & dgua potdvel e a servicos de esgoto, o nimero restrito de escolas de nivel médio, bem como a precariedade das estradas de acesso. * Educagéo Com referéncia & educagdo nos assentamentos do Estado do Cearé, pode-se afirmar que a situagdo é grave, considerando-se, dentre outras coisas, a inexisténcia de uma polltica pUblica permanente que atenda as especificidades da escola para o meio rural. Os assentamentos sofrem de modo particular, pois esta realidade comunitéria requer escolas a que valorizem o seu modo de vida, sua histéria e tradicées. Aproximadamente 38% dos assentados de mais de 30 anos nunca foram @ escola. Talvez por isto, a escola, para os filhos constitui uma das primeiras preocupagées dos familias apés a imissdo de posse da drea desapropriada. Sobre as escolas dos assentamentos, em geral, verificam-se problemas de infra-estrutura, funcionando estas em condigées precdrias. Segundo pesquisa realizada pelo PRONERA, quase metade destas escolas nao tem luz elétrica, a maioria néo tem biblioteca, nado possuem equipamentos para préticas esportivas e laboratério de ciéncias ou de informatica, Este estado de precariedade das escolas dos assentamentos ganha maior visibilidade nas demandas registradas ao longo dos anos no Sistema de Informagéo da Reforma Agraria - SIPRAe reapresentado sisternaticamente nas pautas de reivindicagdes encaminhadas pelos movimentos sociais e as associagdes dos assentados. O SIPRA registra a existéncia de 81 asseniamentos sem escolas, o que equivale a 26% das reas. Tal situagéo faz com que criangas e adolescentes se desloquem para locais distantes para terem acesso & educagao. Outre informagéo relevante 6 a existéncia de 164 escolas que funcionam em outras instalagSes, que nao prédios especificos destinados & educagao escolar. Muitas destas instalagdes sGo casas-sede regularmente usadas como locais de reuniées, paralisando as atividades escolares quando é necessdrio realizar tais atividades. ‘0 a0 aspecio didatico-pedagégico, os materiais e metodologias ndo consideram a ‘idade cultural das criangas e jovens do campo. A formagao dos professores e professoras eva em conta a especificidade da realidade local, realizando um ensino descontextualizado. Os curriculos sdo desvinculados da realidade, nao respeitando a especificidade da educagdo do campo e a diversidade de seus sujeitos. As mGes ressentem-se de servigos de educagdo infantil, de creches ¢ de dreas de recreagéo para as criangas pequenas. Essa auséncia redobra o trabalho das maes que, além do cuidado dos filhos, fm que participar das atividades nos rogados. Na pesquisa USP/MDA/FAO realizada junto aos assentamentos situados no sertéo do Ceara, constatou-se que existem escolas em 100% dos assentamentos, sendo que 80% dos escolas foram implantadas apés a conquista da terra. 60% delas funcionam somente até a 4° série do ensino fundamental, em classes multisseriadas, fator que contribu para a queda da qualidade da educagéio, dada a heterogeneidade das turmas. Somente 20% das escolas possuem 0 ensino até a 5° série e 20% até a 8° série. Tal contexto contribui para a dificuldade de acesso dos jovens ao ensino médio, tornando quase inacessivel o ensino superior Esta situagdo causa dois efeitos para os jovens que terminam o ensino fundamental - um é que a grande maioria dos jovens esté fora da escola, em virtude do avango da idade e da necessidade de coniribuir no sustento da familia. Estas dlficuldades, as freqiientes reprovagSes as interrupgées dos estudos, contribuem com a acentuada defasagem idade/série. Outro efeito 6 o deslocamento para fora da comunidade para continuar os estudos. As escolas de ensino médio, como também as do segundo segmento do ensino fundamen- tal, estdo geralmente na sede do municipio, exigindo o deslocamento dos estudantes. Os transportes oferecidos, quando 0 sdo, normalmente séo de péssima qualidade, desestimulando a continuagéo dos estudos, fator agravado pela descontextualizagao dos conteddos curriculares com a realidade da juventude dos assentamentos. Aqueles que, vencendo todos os obstdiculos, chegam ao ensino médio, muitas vezes so obrigados a se afastar do convivio familiar, do trabalho e do cotidiano do campo, pela disi€ncia das escolas. O levantamento da problematica referente & educagéo realizada durante as oficinas participativas de construgdo do PRRA corrobora os aspectos identificados na pesquisa USP/MDA/FAO, acrescentando alguns de outra natureza. Denire eles, destaca-se a intervengGo politica partidaria nas escolas, as metodologias inadequadas para as realidades dos assentamentos, a formagdio de professoras e professores centrada exclusivamente em uma concepgae urbana, sem reflexdo sobre o modo de vida e o trabalho no campo. Ainda foram citadas a auséncia de programas de educagéio ambiental e a desarticulagdo entre as demais politicas e a politica de educacéo. Essa situagdo levou os movimentos sociais rurais a reivindicarem programas especfficos de escolarizacGo de jovens e adultos para as éreas de assentamentos, resultando na criagdo, pelo INCRA, em 1998, do Programa Nacional de Educagéio na Reforma Agraria - PRONERA, visando a reduzir o analfabetismo e promover o aumento do nivel de escolarizagio de jovens e adultos assentados, fortalecendo a educagGo nas dreas de reforma cgréria, por meio de metodologias voltadas as especificidades do campo, coniribuindo com o desenvolvimento sustentavel dos assentamentos. Esta experiéncia de educagao do campo, voltada para as populagées dos assentamentos de reforma agrria, foi iniciada no Ceard em 1999 e desenvolveu suas agées até 2002, envolvendo 2.747 jovens e adultos de 80 assentamentos, mediante uma gestao tripartite, com a participagao de representantes do INCRA, de universidades (UFC, UVAe UECE) e de movimentos sociais (MST e FETRAECE). As aces do PRONERA foram retomadas em 2003 com a elaboragdo de projetos que possibilitoram em 2004, a viabiizagdo através da Fundagio Cearense de Pesquisa e Cultura, dos seguintes cursos: - Projeto de Alfabetizagdo de jovens e Adultos de Greas de assentamento - 95 turmas atendendo a 1.898 educandos de 60 projetos de assentamentos localizados em 24 municipios do Estado; ~ Projeto de Escolarizagéo de Educadores e Educadoras Rurais de Areas de Assentamento do Cearé - 1 turma contemplando 40 educandos de 28 projetos de ossentamentos localizades ‘em 26 municipios do Estado; * Curso de icenciatura plena - Graduagéo - 2 turmas totalizando 110 educandos de 38 Greas de projetos de assentamentos. Aavaliagéo nacional do PRONERA realizada em 2003 aponta este Programa como uma possibilidade relevante na construgdio de um modelo de desenvolvimento para o campo, is que possam promover melhores condigées de vida para as familias assentadas. Ha um reconhecimento do PRONERA. como alternativa de educagéo que contribui no fortalecimento da organizagéo das comunidades na luta pelos seus direitos. Para além da inexisténcia de educagéo infantil, da precariedade do ensino fundamental, das dificuldades ao acesso ao ensino médio, e das possibilidades do PRONERA que precisam se tornar realidade, algumas experiéncias exitosas so realizadas. Eo caso do Centro Rural de Incluséo Digital — CRID. Recentemente no Ceard, foi instalado no projeto de assentamento Santana, Municipio de Monsenhor Tabosa, o primeiro CRID. O objetivo deste ceniro é estimular criangas, jovens e adultos para a utilizagéo da informatica, criando o habito da cultura digital, estimulando o desenvolvimento humane ¢ 0 desenvolvimento econémico das comunidades beneficiadas. O CRID € fruto de uma parceria do INCRA com a UFC e Banco do Nordeste. Os CRID © laboratérios de informatica educativa que funcionam em ambiente virtuais de rendizagem, instalados em locais de dificil acesso, oferecendo servigos de informética, jucagdo 4 distancia e telecomunicagées, mantidos sob a responsabilidade das comunidades beneficiadas. 1SSSSOHOSSHOSHHHHSSSHOHHHSHHOHHHOHOOHSHOHHCHHOSSCHHOOBEO * Arte e Cultura O desenvolvimento das potencialidades artisticas e culturais nas dreas de reforma agrdria & um elemento fundamental para a melhoria da qualidade de vida e fortalecimento comunitério dos assentamentos. Reconhecer a importincia da arte e da cultura é afirmar que além de espacos de produgGo, os assentamentos sdo espagos de vida e sociabilidade. O Semindrio Arte e Cultura na Reforma Agraria, que aconteceu nos dias 11 e 12 de dezembro de 2003, em Fortaleza, e do qual parliciparam 46 entidades e instituicoes, indicou alguns caminhos para a elaboragao de uma politica cultural nos assentamentos do reforma agréria Foi identificada a necessidade de um levantamento da cultura dos assentamentos desde sua formagao, verificando a origem dos seus habitantes e que culturas trouxeram. Este resgate tem como objetivo manter e ampliar a histéria e o modo de vida do assentamento. E importante para integrar a populagdo ossentada e para o fortalecimento da sus identidade, contribuinde com 0 processo de organizagtio e superacéo das dificuldades. Deste processo, poder&o surgir grupos de interesse para o desenvolvimento de atividades artistico-culturais, por meio de um trabalho continuo e que contemple o intercdmbio com outros assentamentos e seu entorno. A educagéio escolar e extra-escolar deve ser articulada e desempenhar um papel na construgao cultural do assentamento, adequando os curriculos & realidade do lugar, introduzindo saberes que contemplem néo sé a histéria do assentamento e da regio como também 0 trabalho que nele é desenvolvido. Devem ser introduzidos nos assentamento as modemas tecnologias digitais de comunicagao e da informatica com a expansdo dos CRID, para que sejam propiciados cursos fécnicos aos jovens assentados de modo a qualificar suas produgées culturais. Do mesmo modo, é preciso cuidar da manuteng&o e ampliagéo da diversidade cultural através da cidadania e da organizago do assentamento. Para tal, é importante o estimulo ao associativismo de grupos de mulheres, étnicos, de jovens e idosos etc, como coletivos de promogao da cultura e de sociabilidade. O aumento da ocupagao e a ampliagao da renda podem ocorrer mediante a valorizagio do modo de vida tradicional das populagées do campo em geral e dos assentamentos em particular, por meio do turismo rural que respeite o modo de vida daquelas populagées, promovendo o assentamento como um lugar de visitagéo para os amantes da natureza e da vida no campo. Uma politica cultural norteada por estas premissas deve se basear no estabelecimento de parcerias as mais diversas, por meio de trabalho aiticulado com um conjunto de instituicées, em busca n@o apenas de recursos, mas para estabelecer sinergias com prefeituras, universidades, organizagdes governameniais e no governamentais, movimentos sociais € culturais, grupos artisticos etc. e 3 e e e e 8 e e e e e e 3 e 8 e e e e e ® e e e e @ e e @ e ® e 2 ® @ e e 8 e e e e ® ® @ 6 e * Seguridade Social Questées referentes a previdéncia e assisténcia social nao foram abordados nas oficinas, no enfanio esse assunto esté presente nas pautas dos movimentos sociais, nas quais se destacam como reivindicagées a maior agilidade e desburocratizagao dos processos para obtengéo dos beneficios, bem como a garantia e ampliagao dos direitos dos trabalhadores e irabalhadoras rurais. N&o existem informagées sistematizadas quanto as politicas de assisténcia social acessadas pela populagéo assentada quanto aos programas dirigidos a pessoas portadoras de necessidade especial, aos idosos, criangas ou segmentos outros que necessitem de atengéo especial das politicas publicas de assisténcia. Além disso, pode ser considerada timida a relagéo institucional do INCRA com o INSS. Faz-se necessdria maior articulagdo a fim de melhor contribuir na divulgagao dos direitos previdencidrios e conseqlientemente na melhoria do acesso dos assentados e assentadas a esies direitos. O quadro da satide pdblica na Grea rural do Ceard é de precariedade, néo havendo uma grande diferenciagao dos assentamentos em termos de acesso a esses servigos. Amaioria dos assentamentos néo possui postos de sade, ou enconiram-se desativados. O Programa de maior abrangéncia é o “Agentes de Satide”. Segundo pesquisa realizada por Rua e Abramovay (2000), na maioria dos assentamentos, néo hé ambulatérios ou postos de atendimento bdsico, ndo hé médicos nem dentistas e os servigos ptblicos de satide stio considerados precdrios. Jaa Seguridade Social enquanto direito & sadde publica foi bastante debatida durante as oficinas de construgGo do PRRA, quando foram destacadas a falta de servigos de boa qualidade, de saneamento bdsico e de dgua potavel, e a pouca cobertura do Programa Satde da Familia Algumas experigncias sGo realizadas quanto & atengGo priméria & saéde, como iniciativas de medicina alternativa realizadas por mulheres voluntarias, orientadas pela Pastoral da Sade ligada & Igreja Catdlica, com 0 uso da fitoterapia. Outras ages também sGo desenvolvidas pelos movimentos sociais, ONG e pastorais sociais relativas 4 educagao alimentar e prevengdo ds doengas, especialmente as sexualmente transmissiveis. A Superintendéncia do INCRA, desde 1999, desenvolve um Projeto de Hortas familiares, realizando atividades de cultivo de plantas medicinais e capacitagao de assentados e assentadas para a manipulagdo de medicamentos caseiros. Nos cinco anos do projeto foram insialadas 21 hortas medicinais em 13 municfpios. Essa experiéncia tem boa repercusséo entre os projetos de reforma agraria e nas éreas circunvizinhas, no entanto a a de cobertura ainda é bastante restrita. ‘cipais demandas apresentadas nas oficinas foram: universalizagGo do acesso ao de Satide da Familia, construgéo de postos de satide para atendimento bésico, co de cisternas de placas, égua tratada para o consumo, uso racional e higignico as dos agudes e outros reservatérios, disseminagao das hortas medicinais e imento de programas de educagao alimentar. 2.3.3 Assisténcia técnica aos assentamentos A assist€ncia técnica constitui um desafio crescente para a consolidagéo dos assentamentos. Ela esteve presente de infcio de forma contingencial em projetos de assentamento no Ceara, através da EMATERCE e de convénios com o CETREDE, durante © | PRRA, mediante programas como o CONTACAP (Conta de Capacitacéio), primeira experiéncia de assisténcia técnica e extensdo rural realizada a partir da parceria com entidades vinculadas aos movimentos sociais e, posteriormente, com o Projeto LUMIAR. Implementado no periodo de 1997 a 2000 o Projeto LUMIAR foi uma experiéncia que, pelas suas caracteristicas, principalmente no que tange a relagdo Estado x Sociedade I, merece algumas consideragées. A formatagao final do Projeto foi fruto de intensas negociagées entre governo e movimentos sociais. A primeira conquista dos movimentos fez com que INCRA assumisse, mesmo que em cardter temporario, a execugto de um projeto de assisténcia técnica especifico para os assentamentos rurais. © LUMIAR nasceu com alguns aspectos politico-estratégicos limitantes para a sua implementagao, quais sejam: a contradigdo entre a caracteristica de longo prazo de uma agGo educativa com 0 cardéter emergencial de assisténcia e o problema da sustentabilidade financeira de responsabilidade exclusiva do Governo federal. Aexperiéncia no Ceard contou com 16 equipes técnicas que atenderam 6.901 familias. A supervisdio, conforme previsto no programa, foi inicialmente composta por profissionais indicados pela FETRAECE, MST, UFC e CPT, e do INCRA. As dreas de atuagdo das equipes foram definidas pelo MST e FETRAECE. Com o fim da experiéncia do LUMIAR, por cerca de dois anos entre 2001 e 2002 as agées de assisténcia técnica foram bastante reduzidas e fiveram um caréter pontual. Em 2003 0 governo LULA retomou, na perspectiva da universalizagéo, a politica de assisténcia técnica para a agricultura familiar e assentado(a)s da reforma agraria. No Cearé, a reesiruturagéo da assisténcia técnica como servigo essencial para a recuperagéo dos asseniamentos, é prioridade da atual administragéo e é formulada por intermédio de discussGo e mobilizagao com assentados e assentadas e representantes dos movimentos sociais. O nove modelo de Assessoria Técnica Social e Ambiental & Reforma Agraria 6 detalhado ne terceira parte do documento. PHOS SCHOSOOHOHOHHHHHOHHHHHHHHHOHOHOHOCOOHOHHOOOOCOHECOCOCE 2.3.4 Acess0 a0 Credito O acesso ao crédito pelos assentados da reforma agraria, tem como marco a criagéo do Programa de Crédito da Reforma Agraria PROCERA. Os dados referente ao Ceara , ‘orme tabela abaixo demostram que no periodo de vigéncia desse Programa, 6.337 lias tiveram acesso ao crédito. Um dos graves problemas enfrentados na execugao do PROCERA foi a precariedade no acompanhamento iécnico garantido apenas na fase de implantagéo. A criagéio do PRONAF em 1996 estabelece um hove elena para o acesso ao crédito para agricultores familiares e assentados. Os assentados passam a ser beneficiados pela Linha do PRONAF A ¢ posteriormente com o PRONAF AVC. Segundo os dados levantados, a implantagao do PRONAF ampliou significativamente o n&mero de beneficidrios no primeiro ano, apresentando uma situagao atipica em 2000 para em seguida retormar a uma média de um pouco mais de mil familias anualmente, revelando uma dificuldade de ampliagdo dessa base no Estado. PROC rR nanan Fai | RSTO [Fame] "RS 180 — i] RS Fie — AFT [roac| sete | ssonanneo| sar | srsees00 saaocresc0| sie anarseesan| az] azar — ea . TA] vasa] ssa) cam] arssease| aea| sxerremae| ar] tase 13590408824 Agrande inovagéo do PRONAF, foi o estabelecimento da elaboragdo do Plano de Desen- hives do Assentamento PDA como condigéo prévia para o acesso ao crédito e a sua adequagio a legislacao ambiental. Um outro aspecto que merece destaque é a garantia da assisténcia técnica para os produtores pelo perfodo de 4 ( quatro) anos com patamares de remuneragao dos técnicos compativel com o mercado. Existe hoje no Estado, um esforco de integracéio das agées da assisténcia técnica executadas pelo PRONAF e os Nicleos de Assessoria Técnica. Quanto aos créditos de implantagao assegurados pelo INCRA atualmente denominados de crédito instalagdo ( apoio e materiais de construgGo) temos um volume de recursos que oscila ao longo dos anos, conforme tabela abaixo. A aplicagao desses créditos tem como resultado a garantia de recursos para que as familias ao se instalarem no assenta- mento possam iniciar o processo produtivo com a compra de pequenos animais, aquisi- G0 de instrumentos de trabalho, e preparo de Grea para o plantio e também recursos para portal de moradia ( casas de alvenaria ) para todas as familias assentadas, néo existindo 10]2, passivo nesse aspecto no Ambito dos assentamentos federais do Ceard. i RE enimnon leposee Tera lastcabo ie = = asa aia eee a Stans 5 iad ice (a aria | See oo cma cae oi asserran | arrears samtzo | mm Tatas Pere ssriem [ato de crédito para implantagdo e recuperagdo dos assentamentos, definida no Plano nual 2004/2007 do governo Lula aportou em 2004, um total de recursos na m de R$ 21.552.772,00 beneficiando 6.920 familias correspondendo a 30% dos jados. Esse recurso foi alocado para recuperagéo das casas € para construgao de cisternas de placas em 184 assentamentos, beneficiando todos os projeios dos municipios do Semi Grido, num fotal de 11.000 mil cisternas construidas. Séo agées de longo alcance e que apentam efetivamente para a melhoria da qualidade de vida das familias garantindo a sustentabilidade nos assentamentos.Recuperar 100% dos assentamentos é a meta a ser afingida até 2006. 2.3.5 Comercializagao A criagéo das Cooperativas de produgéo Agricolas - CPA pelo MST nos assentamentos Sao Joaquim/ Madalena, Santana/Monsenhor Tabosa e Lagoa do Mineiro/ ltarema juntamente com a Cooperativa do imével Maceié/ltapipoca, sd as primeiras experiéncias de organizagGo cooperativa, voltadas para a produgéo e comercializagéo nas dreas de reforma agraria, comercializando mel, mudas de caju e castanha beneficiada ou inatura.As bodegas comunitdrias foram também iniciativas registradas em grande némero de assentamentos. Essas experiéncias entretanto, no avangaram para a criagéo de um sistema cooperativo dos assentamentos no Estado. Varios assentamentos, muitos deles com o apoio de ONG e da cooperacéo internacional, esto beneficiando seus produtos , implantando experiéncias de agricultura orgénica e se inserindo nos mercados locais, regionais e encetado também, iniciativas de exportagdo. As mulheres tem se organizado, ainda que de forma incipiente, principalmente as que trabalham com artesanato através da Associagdo das Artesds do imével Maceié ARRIMA envolve cerca de 80 assentadas. As Feiras da Agricultura Familiar e da Reforma Agraria realizadas ern varios municfpios, com periodicidade semanal ,quinzenal ou anual, tem se mostrado como um espago de sucesso para a comercializagdo dos produtos da reforma agréria e da agricultura familiar. Merece destoque pela potencialidade demonstrada, a Feira da Socioeconomia Solidéria , da Reforma Agraria e da Agricultura Familiar realizada em dezembro de 2004 em fortaleza/ CE com a participagao de 35 assentamentos totalizando 266 empreendimentos urbanos erurais. O PRONAF infra-estrutura, a partir de 2003/200, priorizou o fomento & agroindustrializagéo das cadeias produtivas do caju, do mel de abelha, da ovino- caprinocultura e a construgdo de unidades de beneficiamento. Foram financiandas unidades de processamento do beneficiamento do caju, construgéio de casas de mel e ceniros de processamento do mel, instalagdo de unidades de abate e processamento de came le de ovinos e caprinos, bem como a construgéo de unidades de comercializagao gerantinde apoio institucional ds Feiras da Agricultura Familiar , Construgéo e recuperagao de Centrcis de Comercializagéo na regiéio de Nova Russas . como uma das principais iniciativas na Grea de comercializagéo, a ‘0 Ceniro de Comercializagéo e de Desenvolvimento da Economia © conjunto dessas agées criam um novo ambiente para a agricultura forma agréria no Ceard. 2.3.6 Manchas de assentamentos e possibilidades de desenvolvimento territorial Pesquisa recente realizada por Leite ¢ outros (2004) constatou, a partir da observagGo de mapas de regides que continham assentamentos em varios estados do Brosil, a grande concentragao de projetos e de familias assentadas por unidade territorial. Enquanto isso, outras regides eram praticamente vazias quanto a esta forma de propriedade e uso da terra. Estas dreas com grande concentragéo de assentamentos em determinadas regiées aparecem como manchas, indicando uma forma de territorializagéo da reforma agraria. A pesquisa indicou que tal regionalizagdo agrdria produz impactos econémicos, sociais e politicos, nGo s6 nos assentamentos como também na vida de familias que moram em seu entorno e no municipio, com efeitos diretos e indiretos. Mostrou ainda que a forga das manchas depende da capacidade de organizagéo dos assentamentos, do contexto politico (local, estadual e nacional) por meio das ages dos diferentes esferas de governo, das politicas & da atuagao dos movimentos sociais. Suas origens sao diferenciadas: regularizagdo de terras sob dominio de posseiros, Greas improdutivas ocupadas pelos movimentos sociais, reservas extrativistas, e ndo se relacionam com a légica da politica do Governo federal, que se pautou em desapropriagées isoladas, sem estabelecimento de éreas prioritarias. No Ceard, a observagéo de mapas permite identificar uma distribuigao de assentamentos por quase todo o Estado. Hé, no enfanto, a presenga de manchas, notadamente no Serko Central, com 67 assentamentos, no Sertéo de Crateds, com 60, na Regio do Baixo e Médio Jaguaribe, com 49, na Regido de Sobral, com 46, na Regiéo de ltapipoca, com 45, no Sertéo de Canindé, com 38, e na Regido Metropolitana, com 25. Observa-se jambém menor concentragao de assentamentos na Regiéo do Cariri, com 5 assentamentos ¢ RegiGo Centro Sul, com 7. Atabelaaseguir —apresenta os municfpios cearenses com maior némero de ossentamentos, relacionando-os com a populagéo e érea municipal. SHOSSHOHSSHOOSHSOHOHOHSHSOSHSOHSHOSOHSOHOOCHOSHOSOSEOOCOSCOCEOSESEO + Tebele 6 — Municipios com maiores concentragées de assentamentos Manip ae | Populagio Popuagio [% da Popular] — Area dos | % da Area do Assenta- | Rural” | Astentada* | Rural do | Assentanentos ‘municipio Municipio (kn) 300287000 231 653.72 BST 23.020 | 2.530 10,99 704,02 155 30.551 [ 2.705 $86 | 198,02 Tas 14.997 2210 14,73, 203,70 633 28.635 [ 4.050 1428 358.55, 10,34 20.531 1.735 | 8a} 130,49 Ti 45.888 [4550 10.00, 218.93 1355 13.744_| 2-705 19.68 132.81 15,76 645 [1210 1820 149.94 2a (Anuétio Estatistico do Ceard, 2001 © INCRA/SIPRA, 2004). * Estimativa: familia de 5 pessoas Os impactos da territorializagdo da reforma agréria nestes municipios podem ser constatados pelas mudangas econémicas, politicas e sociais resuliantes do maior volume de investimentos e de maior articulagéo/mobilizagéo dos assentamentos. Hé um incremento da economia local por meio da injegdo de recursos provenientes de créditos liberados para assentamentos, que potencializam o mercado de consumo, ao mesmo tempo em que aumentam a producgao e oferta de alimentos, como identificado na pesquisa Impactos dos assentamentos: um estudo sobre 0 meio rural brasileiro (LEITE, 2004). Na maioria destes municipios, hé processos de organizagao local por intermédio de féruns e comissées que ultrapassam os limites dos assentamentos e dos municfpios, que se consolidam como espacgos de discussdo das politicas publicas para o rural e de elaboragdo de estratégias de “empoderamento” das familias assentadas junto aos érgéos publicos. Tal experiéncia demarca uma ruptura com @ postura tradicional de demandatdrios de bens de uso coletivo, na qual os assentados e assentadas ndo esperam o cumprimento da lei como beneficio, mas organizam téticas e estratégics para sua obtengdo por ser um direito social (GOHN, 1992). Neste processo, hd formagdo de liderangas que assumem papéis politicos destacados, fortalecendo entidades e movimentos representativos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Além deste aspecto, a organizagéo dos assentamentos influencia no contexto politico local por meio das eleigdes municipais, elegendo prefeitos e vereadores comprometidos com os assentamentos. As manchas de assentamentos, ao se constituirem em territérios sob gestao do Estado a partir de demandas da sociedade civil, passam a ser alvo de politicas pUblicas. Esta atuagéo, a partir da abordagem do desenvolvimento territorial, possibilita a consolidagdo de uma intervengao que resgata a divida com um setor da sociedade historicamente excluido e permite a promogéio de mudangas a partir de uma ago articulada politica, social e econémica com a base local. NOVO MODELO > AGRARIO E AGRICOLA OOOOH OSHOHHHHHHHHHHHHHHHHHOHHOHHHOHHHHOOHOCHEECHOO Os quinhentos anos de histéria do Brasil foram marcados por sucessivos modelos conservadores de desenvolvimento, caracterizados pela exclusdo social, concentragéo de terra e renda, e produgtio de impactos sociais e ambientais. No documento Vida Digna do Campo (2002), afirma-se a necessidade de superar esta situagéo histérica por meio de uma mudanga na ago do Estado: “Para viabilizar um novo modelo de desenvolvimento rurale agricola seré fundamental a implementacéo de um programa de reforma agrdria amplo e nao atomizado, isto é, centrado na definigGo de areas reformadas que orientem o reordenamento do espaco territorial do pais”. Um novo modelo que aponte para a constituigao de uma sociedade rural composta majoritariamente de unidades de vida e trabalho, de cardter familiar, multifamiliar, comunitario ou coletivo, livremente associadas no processo de produgéio, beneficiamento, processamento, comercializagéio e consumo. Fundado nas bases cientificas da agroecologia e nos principios da socioeconomia solidéria, do desenvolvimento humano, do planejamento participative e do desenvolvimento local. Buscando maximizar a produgdo respeitando o potencial de cada ecossistema, com a regionalizagdo das estruturas de beneficiamento e transformagGo de produtos e colocando os produtores e consumidores organizados o mais préximo possivel. Existe forte consenso, entre o Governo federal, movimentos sociais esiudiosos do desenvolvimento rural, acerca da idéia de que duas estratégias so fundamentais para se avangar na construgo deste novo modelo: a implementagéio de ampla reforma agraria de qualidade e o fortalecimento da agricultura familiar e camponesa. O I PNRA ressalta que a desconcentragéo da propriedade da terra é uma condicéo necesséria, mas nao suficiente para o éxito dos assentamentos. O avango no serd significativo enquanto “os beneficidrios da reforma agréria e os agricultores familiares ndo estiveram inserides por meio de suas associagdes e cooperativas em um espago geogrifico, social, econémica e politicamente dindmico, se as ages néo estiverem integradas num enfogque de desenvolvimento territorial sustentével”. Por isso, o planejamento das dreas reformadas deverd ser arficulado com 0 das agées dirigidas & agricultura familiar e Gs comunidades tradicion criando sinergias e um dinamismo que possibilitard a intensificagéo da pluriatividade e o aumento da renda da familia rural. Sintonizado com este enfoque, o Il PRRA-CE define como orientagdio esiratégica das ages de reforma agraria no Ceard a articulagdo entre dreas reformadas e desenvolvimento territorial. « eo @ e eee 3.1 AREAS REFORMADAS E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL A intengao de realizar a democratizagGo do acesso 4 terra com foco na constituigéo de Greas adensadas remonta ao Estatuto da Terra, de 1964. Esta Lei prescrevia a necessidade da criagéo de “zonas prioritérias” Na prética, contudo, o interesse governamental volfou-se para a modernizagéo do latifindio e a colonizagdo de ferras, geralmente em éreas distantes dos focos de tensao social onde os trabalhadores se encontravam corganizados para conauistar a terra. Com 0 fim do regime militar retomou-se o debate sobre a importancia da reforma agréria para o desenvolvimento. Novamente, no Ambito do Plano Nacional de Reforma Agraria, do governo Samey, em 1985, ressurgiu a preocupagéo com o adensamento, mediante a delimitagéo das dreas prioritérias. N&o se constituiram tais dreas, entretanto, e a énfase inicial nas reas reformadas se diluiu quando se estabeleceu como prioritéria toda a drea rural dos estados brasileiros. Isto obscureceu a possibilidade do agéo do Estado, pela imprecisdo de drea de intervencéo. Seguiu-se um periodo de criagéo de assentamentos de forma isolada, em n&mero mais significativo do que no regime militar, na tentativa de minimizar 08 conflitos e atender as reivindicagées dos irabalhadores. A mobilizagdo popular intensificou-se e novos desapropriagées foram realizadas em areas préximas, que assumiram um efeito demonstragéo, estimulando novas ocupagées e, conseqiientemente, a constituigdo de éreas adensadas. Na formulagao do II PNRA, o debate é retomado e a &nfase nas dreas reformadas passa a compor © novo modelo de reforma agréria, cujas bases envolvem, além da recuperagéo e fortalecimento das dreas j4 existenies, os novos assentamentos e a ampliagao do pubblico beneficiério, inserindo as comunidades tradicionais ¢ os temas de género e geragdo. Reconhecendo a necessidade de articular agdes com foco em territérios, 0 Governo adota essa estratégia para a dinamizagao da reforma agréria e construgdo do tecido social, na perspectiva do desenvolvimento territorial sustentével. No Ceard, a delimitagao dos territérios rurais pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural, a partir das diretrizes emanadas da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrério, teve como um dos critérios fundamentais a concentragéo de assentamentos rurais, federais e estaduais. Até 2004 jd foram constituidos 5 territérios no Estado envolvendo 73 municfpios, conforme quadro abaixo e mapa da disiribuigéo dos territérios. * Mapa dos Territérios Oceang Quadro I - Territérios constitufdos pela Secretaria do Desenvolvimento Territorial + INHAMUNS / CRATEUS - Avvabo, Ararendé, Ameirez, Cres, Independénca, Ipaporanga, pu, putes, Monsenhor “Tekosa, Nowe Russo, Novo Orient, Parambu, Pires Ferreiro, Porangs, Quiterianépolis, Tamborl,Tavé. © SERTAO CENTRAL - Benabud, Chor, [beratoma, Quixedé, Quixeromobim, Solonépole, Depulado lopu Pinheiro, Momboea, Fiquet Comeiro, Mins, Pedra Branca, Senedor Pompeu. * ITAPIPOCA - Amontod, Apuiarés, General Sampoio Irouguba, Kapa, lapipoco, sorams, Musima, Poracury, Parsinaba, Pentecost, Sao Gongalo do Amarante, Sao luis do Cur, Toiuguoca, iri, Turur, Unsirim, Uruburetcme. * SOBRAL- Alegrtares, Crit, Coread,Frecherinho, Forquiho, Graco, Groaivas, Mastoné, Mervoco, Moraija, Mucema, Pac, Reritaba, Sartanade de Aearai, Senador Sé, Sobral, Vorjoa. » SERTOES DE CANINDE - Boa Viggem, Corinds, Coridade, Catura, Hera, Hidrolandi, Madolena, Peramti Santa Quite, aL SHES SOHROSOHOSHSHSSHSHHSHHOHSHSHSHOHOCHOHSOSHOCHCOCOOECESCOEOOEEEE No processo de elaboragéo do PRRA-CE, iniciou-se a reflexdo acerca do conceito de recs reformadas, sendo identificados alguns critérios Uteis para delimité-las na perspectiva de consirugdo de indicadores para aferir o desenvolvimento territorial, que reflitam as seguintes caracterfsticas: adensamento espacial de assentamentos; existéncia de infra-estrutura (estradas, eletrificagéo, dgua,educagao, lazer, sadde, esporte, comunicagéo, transporte, arte e cultura); presenga de assessoria técnica social e ambiental; vinculagdo dos assentamentos com projetos produtivos; viabilidade econémica-ambiental; integracGo produtiva na perspectiva do desenvolvimento territorial; iniciativas de ajuda métua (cooperagdo, solidariedade}; estabelecimento de relagées de interdependéncia. As Greas reformadas tém como elementos consfitutivos os assentamentos rurais, comunidades de agricultores familiares © perimetros irrigados. Sua expresséo se dard por meio da cooperagéo solidéria enire estes sujeitos, mediante arranjos produtivos locais e regionals articulagao de politicas piblicas no plano territorial que garantam a sustentabilidade a partir do potencial produtivo, ecolégico ¢ cultural de cada érea. o @ eee econo « 3.2 ASSESSORIA TECNICA SOCIAL E AMBIENTAL A concepgo de uma Assessoria Técnica, Social e Ambiental para a reforma ‘agraria traz em si uma inovagéo no campo da extensdo rural, e consiste em uma superagdo 2 ampliagdo do conceito de assisténcia técnica rural. Aassessoria técnica, social e ambiental pressupe uma visGo integrada de desenvolvimento nas escalas local e territorial e requer um trabalho inter e transdisciplinar que vai muito além do atendimento as questées produtivas. Incorpora, em um objetivo maior de inclusdo social e econémica da agricultura familiar, questées relativas a cidadania, meio ambiente, arte ¢ cultura, economia solidéria, infra- estrutura, arficulagao e acesso a politicas publicos. Aossessoria 6 um subsidio publico, e, portanto, seu manejo deve ser eficaz e transparente. Estado, movimentos sociais, agricultores e entidades executoras sao co-responsdveis pela execugdo e controle social do processo. Os agricultores e agricultoras sGo os destinatérios dos subsidios publicos e, organizados, participam de forma ativa, assumindo a responsabilidade de colaborar para sua boa aplicagéo. A Assessoria Técnica, Social e Ambiental é um processo educative que demanda uma relagao horizontal entre técnico e agricultor e que deve ser esiendida por perfodos adequados de tempo. A tecnologia empregada na Assessoria Técnica, Social e Ambiental deve ser adaptada a cada situacdo e pressupde um conhecimento profundo da realidade local e uma visdo sistémica que leve em consideragGo © conjunto da familia - homem, mulher, jovem, crianga e idoso - como sujeitos do proceso. Tal reorientagdo deve estar acompanhada de uma preparagGo substantiva para o adequado tratamento das questes de género geragéo. Acrientagdo para a assessoria é a de considerar 0 conjunto dos sistemas familiares e sua interagdo no assentamento, no municipio e no territério. A produgéo do assentamento deve estar orientada primordialmente ao consumo familiar e 4 garantia da seguranga calimentar. Superada esta etapa, deve-se orientar o excedente da produgéo para o mercado, buscando a cooperagdo com outros grupos produtives com a criagao e fortalecimento de redes de economia solidaéria. Deve-se entender o desenvolvimento como ascendente e gradual, exigindo compreensdo e respeito ds etapas e diferentes niveis de maturidade de cada assentamento, municipio & ieritério envolvido. Aquestée ambiental deve ser entendida como eixo estruturador do processo e ndo como uma agGo acesséria. O ecossistema do assentamento deve ser considerado como um todo integrado a um territério que, por sua vez, esté inserido em um bioma particular, O planejamento deve propor agées para a recuperagéo ambiental, conservagéo e uso sustentével dos recursos naturais, orientando as agées produtivas na diregdo da susientabilidade ambiental. SCCOOHOHSCCOHHHHSTHOCHHHHOOCHOCOHOHOHECESEHOCOCHECOSCEEEECEOO A cultura e as manifestagdes artisticas tém papel importante no que diz respeito ao desenvolvimento humano, fortalecimento comunitério e geragGo de renda e, portanto, devem ser reconhecidas e estimuladas, constituindo objeto de agdes especificas da assessoria. No caso do Cearé, seguindo o “desatio de redefinir um estilo de atuagdo estatal cooperative com a sociedade civil organizada de forma a organizar um sistema de assessoria & reforma agraria que forneca servicos profissionais de qualidade & maior quantidade possivel de familias rurais”, optou-se pela consirugéo de um Modelo de Gesidio Compariilhada. Aconstrugéo de um modelo compartilhado da gestdo pressup6e a participagéo dos atores envolvidos, desde a concepgéo do modelo, até sua implantagdo, controle e avaliagao. Cada ator, entretanto, tem njveis diferenciados de responsabilidade para cada papel a ser desempenhado no proceso compariilhado. Os seguintes atores esto envolvides na gestiio comparilhada da Assessoria Técnica, Social e Ambiental & Reforma Agraria no Estado do Cearé: INCRA, SEBRAE, movimentos sociais e sindicais (MST, CPT, FETRAECE), entidades executoras da assessoria técnica e demais parceiros (BNB, Banco do Brasil, Férum Cearense pela Vida no Semi-Arido e outros). As inst€incias de deciséo do processo de gestdo so o Nucleo Gestor Estadual e as Secretarios Executivas Regionais. Os Nécleos de Assessoria Técnica, Social e Ambiental & Reforma Agraria so instancias politicas e operacionais regionais, responsdveis pela assessoria 4 reforma agréria em territérios definidos. Os Nucleos de Assessoria estdo localizados em nove microrregides definidas a partir do balizamento dos seguintes fatores: micromegiées definidas pelo IBGE; regionalizagéo adotada no dmbito dos movimenios sociais; regides adotadas pelo INCRA a partir do Plano de AgGo 2002/2003 e regionalizagéo adotada pelo Forum Cearense pela vida no Semi- Grido. Na tabela abaixo, e no mapa a seguir, pode-se apreciar a atual configuragao dos Ncleos Regionais de Assessoria Técnica Social e Ambiental no Estado do Ceara. * Tabela 7 — Nucleos Regionais de Assessoria Técnica, Social e Ambiental Nicleo Regional ‘Assentamentos | Familias | Técnicos N. Superior | Téenicos N. Médio Regifio Metropolitana 26 1109 3 3 Regio do Baixo e Médio Jaguaribe 30 3184 5 0 Regido do Cari 3 387 1 2 Regio do Sertiio Central 30 2120 2 2 Regio Centro Sul 7 345 1 3 Regido de Cratets 60 3275 6 14 Regio de Sobral 47 2086 4 8 Regido de Itapipoca 46 2839 5 8 Regido do Sertdo de Canindé 38 1975 2 5 Total 309 17520 29 47 (INCRA, dezembro de 2004) 1s esquipes técnicas cada ndcleo regional tem uma esquipe de articuladores composta -cnicos (as) do INCRA e do SEBRAE. SSHHHHSHSSHHSHHSHSSHSSHHHSSHSHHHHHHSSHHHOHHOSOHOOOEEO otal | MAPA DE ATUACAO Bla Niucleos de Assessoria Técnica Social ¢ Ambiental a ria com N°. de Projetos de Assentamento, Pamilias Assentadas e Equipes de Assessoria do INCRA. Dezembro! 2004 arptea| Equpoot Made farsama APA 1 Fea [ Toma we Cage anes deP FB] trcnane ep 1 aoerodagepe da 4 i 5 OBJETIVOS E DIRETRIZES ESTRATEGICAS SOOHHOHHHSHHHSHHHSHHSHSHSHHOSHOHSHSHOHHSHHSHHOHSHHHOOHHSOOBO eeos 4.1 OBJETIVOS DO PRRA 1. Adotar um modelo de reforma agréria flexivel as especificidades dos biomas do Estado do Ceara, que possibilite a democratizagéo do acesso a terra, beneficiando um piblico-alvo diversificado (trabalhadores sem-terra, assentados, minifundisios, posseiros, quilombolas, agricultores em terras indigenas, extrativistas, atingidos por barragens, jovens e mulheres). 02. Implontor uma reforma agraria que promova a viabilidade econémica, a seguranga alimeniar, a universalizagio do acesso a direitos fundamentais, a promogdio de igualdade e a sustentabilidade ambiental, em uma perspectiva de desenvolvimento territorial sustentavel, baseado: na efefiva participacéo dos beneficidrios e beneficidrias, no fortalecimento da agricultura familiar, no estabelecimento de uma matriz agroecolégica de produgéo e em relagées socioecondmicas soliddrias. 03. Promover forte intervengdo do Estado por meio de politicas publicas que garantam crédito, seguro agricola, assessoria técnica, social e ambiental, apoio 4 comercializagdo e agroindustrializagao, e implantagéo de infra-estrutura produtiva e social. 04. Recuperar a capacidade operacional do Estado e das instituigées executoras da reforma agréria, de forma a garantir a implantagéo de um novo modelo de reforma agréria e atender aos passivos soci econémicos e ambientais existentes nos assentamentos rurais id implantados. 05. Desenvolver uma gestéo participativa, envolvendo institvicées pUblicas, movimentos sociais e beneficidrios da reforma agraria. 4.2 DIRETRIZES ESTRATEGICAS 01. Democratizaro acesso a terra. 02. Promover o desenvolvimento territorial sustentével. 03. Promovera paz no campo e a universalizagéo do acesso a direitos fundamentais. 04. Promover aigualdade de género, raga, etnia e geragéo. 05. Assegurarum modelo da gestéo piblice parficipativa e democratica. 06. Fork lecer o INCRA como entidade executora da politica de reforma agraria. ‘THpUULITYST PaIp ap OPVIMINSUOD 9 SwADy Sp BIRO TS ieuIap v ‘SoWWAUIEIUOSsE ap soltioUIESUapE ap oBdeoKNUApI L } ures SouOpeYTUAUN ap somuoureduwoe so :ovSzlxdosdusop “seoriqnd } spay 9p opdeunisoq- sstenpeyso no s1229p 95 song uio9 ogap we sieagum op ogSeudoxdxg- & Seep oramep jad siongum ap opdisinby= . 1908 OS030qU1 somes | seqgeney | sermes | sey aney ay Fehr le oeesouisor 0902] 0002] 0007) 0007) ae ap eranuanuvece ‘sousiuaow, wy tg eq wy [> ‘saa ap OW SOP sagduoIpul 9 wiouy op soyauMued, op — |-sop spree vee eULOJDI 0001 | on0001| 00008 e000» |e o9n'aze aporuoIO | spAEe oBSedosdesap ap sjanssed sopepondord smayyuap] «|e esd seam} 9p o2suo190 | I zooz_| 9002 | sooz | rooz | SEW SIVNOIDVUAO SAZPALTMIG OyoV ad SVANIT | wN “sopopelidaid soipew @ souenbed ep opsisinbo » 8 oupipuny opSnzupinBe1 © ‘sp>1\9Nd so1Je} ep OPSOUYSEp D OWLOD ‘D1I0} B (088800 ap seipjusuia|dwo sojueun.jst! 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Ao longo dos anos passados, o INCRA sofreu uma forte contengao de custos, apesar da demanda continuar crescente. Para a Superintendéncia Regional do Ceard, estes efeitos foram marcantes, comprometendo a missdo da instituicdo © Goveme Lula tem adotado medidas que, embora timidas dada a gravidade da situacéo encontrada no service publico federal, sinalizam positivamente no sentido da recuperagéo. da capacidade do Estado brasileiro responder & elevada demande social existent. O quadro a seguir, sintetiza a forga de trabalho em atividade na Superintendéncia Regional do INCRA-Ce. Quadeo fupcional- do INCRACE Nivel | Nivel Médio Especificacio Médi ‘ivel Superior c/ Formagao Total | édio oo | rece Superior Atividade — meio 7 | 17 *15 | 88 Atividade — fim 46 | 64 *08 110 TOTAL DE SERVIDORES | 198 * Servidores j& computados, na 1° ¢ 2° colunas. Comparando 0 ntimero de familias assentadas (17.836) com o ntimero de profissionais que atuam nas atividades-fim (86) encontra-se a relagéo de um profissional para 207 familias, 87 acima do que é referéncia para a assisténcia técnica. Urge, portanto, para a dinamizagao da politica agraria proposta pelo PRRA, a recomposigdo da forga de trabalho do INCRA, principal executor da reforma agréria. Sobre a qualificagéo dos servidores, dos 75 de formagéo superior, 8 possuem pés-graduacdo, compreendendo especializagdo, mestrado e doutorado. Nestes, conta-se, inclusive, com servidores em nivel de doutorado compondo 0 quadro de nivel médio. O quadro indica que, dos 115 ocupantes do cargo de nivel médio, 24 destes t8m formagao de nivel superior, ou seja, aproximadamente 21% dos profissionais de nivel médio, podem ser alocados em atividades compativeis com sua nova formacao. Tais fatos demonsiram a necessidade de um plano de cargos ¢ carreira que reconheca o esforgo de funciondrios que desejam melhorar sua ascenséo profissional e motivar aqueles que ainda nGo iniciaram este processo. Sob o enfoque de género observa-se que na instituigéo 62% da forga de trabalho é composta por homens e 38% de mulheres. Com relagGo 4 situagao funcional, existem 52 homens ocupando cargos de nivel superior, predominantemente agrénomos, e 66 ‘em cargos de nivel médio. As mulheres ocupam 23 vagas de cargos de nivel superior e 49 de nivel médio. Aatual gestéo tem reforgado o modelo operacional adotado nos anos anteriores , cujo escopo de atuacao baseia-se na constituiggo de equipes técnicas multidisciplinares com atuagao regionalizada, possibilitando uma melhor adequagéo da institviggo as necessidades de implementagdo da politica de reforma agréria no Ceard. © cenério exposto acima torna urgente a implementagéo das propostas de recuperagéo e fortalecimento do INCRA, de reestruturagéo € reviséo de normas, da nova estrutura organizacional e da recomposicdo da forca de trabalho, dotando © orgao de condigées efetivas para o cumprimento da sua misséo institucional. e00e0e0080 e008 »@ »@e8e0e000 0 @eeeee ee > e Anex + LISTA DE ABREVIACOES CPT ~ Comissdo Pastoral da Terra CEPAL - Comisséo Econémica para a América Latina DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas EMATERCE — - Empresa de Assisténcia Técnica Rural do Esiado do Cearé EMBRAPA _ - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecudria ESPLAR - Centro de Pesquisa e Assessoria FALTAC. - Federagdo das Associagdes de Lavradores e Trabalhadores Agricola do Ceara FETRAECE _ - Federagdo dos Trabalhadores € Trabalhadoras na Agriculiura do Estado do Cearé ; FUNAT - FundagGo Nacional do Indio GTDN - Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste IBGE ~ Instituto Brasileiro de Geogrofia e Estatistica IDACE - Institute do Desenvolvimento Agrério do Cearé IDHM - Indice de Desenvolvimento Humano Municipal INCRA = Instituto Nacional de Colonizagéo e Reforma Agrdria — Ceara IPECE - Instituto de Pesquisas Econémicas Estratégicas do Estado do Ceard MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrario MI - Ministério da Integragao Nacional MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra — Cearé ONG's - Organizagées Nao Governamentais PCB = Partido Comunista Brasileiro PNAD - Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar PNUD - Programa das Nagées Unidas Para o Desenvolvimento PROCEAGRI - Programa Cearense de Agricultura Inrigada PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONERA — - Programa Nacional de Educacéo na Reforma Agréria PROTERRA _ - Programa de Redistribuicéo de Terras e Estimulo & Agroindistria do Norte e Nordeste PRRA - Plano Regional de Reforma Agraria SEAGRI _—_- Secretaria de Agricultura do Governo do Estado do Ceard SEBRAE —_- Servigo Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas SIG = Sistema de Informacdes Geo-referenciadas SIPRA. - Sistema de Informagdo da Reforma Agraria SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservacéo SUDENE —— - Superintendéncia do Desenvolvimento do Nordeste UFC - Universidade Federal do Cearé ULTAC. - Unido dos Lavradores e Trabalhadores Agricolas do Cearé 90200000008 ee SCOHOKHOSHHHHHHOOHHHOHOOE »®@ eeceooese eee + REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ABREU, C. de. Capitulos de Historia Colonial: 1500 a 1800. Rio de Joneiro: Civilizagéo Brasileira — Brasilia , 1976. BARREIRA, C. Parceria na Cultura do Algodao: Sertées de Quixeramobim. Dissertagéio de Mestrado. Brastlia: UNB, 1977 BRASIL, T. B de S. Ensaio Estatistico da Provincia do Cearé Tomos | e Il. Fortoleza: Fundagdo Waldemar Alcdntara, 1997. BRAZIL Poverty Reduction, Growth, and Fiscal Stability in the State of Cearé. Documento do Banco Mundial, 1999. CARVALHO, J. ©. de. © Nordeste semi-drido: quesiées de economia politica e de politica econémica. Campinas. Tese (Doviorado). Sao Paulo: Campinas, 1985. D’ALVA, O. A. © Extrativismo da Camatba no Cearé. Dissertagéo (Mestrado). Fortaleza: Universidede Federal do Cearé, 2004. ESPLAR. Quadro Recente da Agricultura e Trajetéria dos Movimentos Sociais no Campo do Estado do Ceard ~ Primeira Parte. Fortaleza, 1991. FARIAS, J. A. de. Histéria da Sociedade Cearense. Fortaleza: Edigdes Livro Técnico, 2004, GOHN, M. da G. Movimentos Sociais e Educagdo. 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