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DECLARACAO DE BRASILIA Declaragio de Brasilia Estratégia Nacional de Combate a Cartéis — ENACC Combate a Cartéis: uma prioridade na politica criminal e administrativa ‘Os representantes da Secretaria de Direito Econdmico do Ministério da Justica (“SDE/MS”), da Secretaria de Acompanhamento Econémico do Ministério da Fazenda (“SEAE/MF”), do Conselho Administrative de Defesa Econémica (“CADE”), - em conjunto denominado “Sistema Brasileiro de Defesa da Concorréncia ~ SBDC”, do Ministério Pablico Federal (“MPF”), dos Ministérios Piblicos Estaduais (“MPEs”), do Departamento de Policia Federal (“DPF”), da Secretaria Nacional de Justiga (“SNJ"), da Secretaria Nacional de Seguranga Publi ‘a (“SENASP”), das Secretarias de Seguranga Piblica Estaduais, do Consetho Nacional dos Procuradores-Gerais de Justiga, do Grupo Nacional de Combate as Organizagdes Criminosas (“GNCOC"), da Associagio ‘Nacional do Ministério Piblico Criminal (*MPCrim”), da Controladoria-Geral da Unio (*CGU), por meio da Secretaria de Prevengio da Comupgio e Informagies Estratégicas (“SPCI"), reunidos no dia 08 de outubro de 2009, instituido por Decreto Presidencial como 0 Dia Nacional de Combate a Cariéis, no ambito dos trabalhos do I Encontro da Estratégia Nacional de Combate a Cartéis ~ ENACC realizado nos dias 8 € 9 de outubro, aprovam as seguintes mogdes: 1. Cartel é um acordo entre concorrentes para, principalmente, fixagdo de pregos ou quotas de produsio, diviséo de clientes de mercados de atvagio, Considerada a mais grave lesdo & concorréncia e também crime contra a ordem econdmica, 0 cartel objetiva eliminar a concorréncia, prejudicar os consumidores, com a consequente elevagao de pregos ¢ a restri¢do da oferta, de modo a tomar os bens € servigos mais caros ou indisponiveis. Além de reduzirem o bem-estar dos cidadios, os cartéis prejudicam a inovagdo tecnoldgica, impedindo a entrada de novos produtos e processos no mercado. No longo prazo, ainda observa-se a perda de competitividade da economia como um todo. nv Desde 2003, o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorréncia, em cooperagéio com as autoridades do sistema de persecugao penal, aprimorou seus procedimentos no combate aos cartéis, implementando eficazmente poderosas técnicas de investigagao até entdo inéditas no pais, como Acordo de Le ncia, diligéncias de y th DECLARACAO DE BRASILIA busca © apreensio, forgas-tarefa com 0 Ministério Publico, Policia Federal e Policia Civil e emprego de métodos quantitativos no monitoramento de mercados € produgao de provas. Gracas a essa atuagiio mais eficiente, mudou-se quantitativa € qualitativamente 0 perfil dos casos levados a julgamento pelo CADE. Entre 1994/2002, 80% das condenagées do CADE referiam-se a pritica de uniformizagao de pregos de honordrios médicos (“tabelas”) ou de imposigdio aos cooperados de cldusula de unimilitincia por cooperativas médicas. No- mesmo periodo, apenas dois casos de cartéis hard core haviam sido condenados pelo CADE: cartel do ago (1999) e cartel de postos de combustiveis de Florianépolis (2002). Em contrapartida, entre 2003 e 2009, varios cartéis foram desbaratados em setores estratégicos da economia nacional, sendo que 27 deles jé foram condenados pelo CADE. Por outro lado, o Programa de Leniéncia brasileiro, iniciado em 2003, ja ¢ um dos mais ativos entre os paises em desenvolvimento, havendo aproximadamente 15 acordos firmados. Na avaliago feita pela revista brit combate aos cartéis. ica Global Competition Review (GCR), o Brasil € o pais que mais cresce no Por forga do art. 127 da Constituigio Federal, incumbe a0 Ministério Piblico defender os princi s da ordem constitucional econémica, dentre os quais liberdade de iniciativa, livre concorréncia, defesa dos consumidores e repressio a0 abuso do poder econémico. Como cedigo, & fungio institucional do Ministério Piblico promover o inguérito civil e a ago civil pablica para a defesa do interesse difuso ¢ coletivo a livre iniciativa e a livre concorréncia, obter a cessagdo de praticas que constituam infragdo contra a ordem econémica, bem como promover a reparagio de danos difusos, coletivos e individuais homogéneos delas decorrentes. Compete ainda ao Ministério Publico promover exclusivamente a ago penal piiblica em face dos crimes contra a ordem econémica, nos termos do art. 129, I, da Constituigao Federal. A experiéncia desses tiltimos anos no combate aos cartéis tem revelado que a atuagdo sinérgica de todos os rgios encarregados da repressio as infragdes contra a ordem econdmica € condigdo sine qua non para uma eficiente, permanente capilarizada repressio a tais condutas lesivas & sociedade. Grande parte dos casos de cartéis condenados pelo CADE decorreu de investigagdes empreendidas pela i E YY DECLARACAO DE BRASiLI Secretaria de Direito Econdmico ¢ Secretaria de Acompanhamento Econdmico iniciadas ou compartilhadas com as autoridades do sistema de persecugao penal. Ressalte-se, ainda, o importante papel que o representante do Ministério Puiblico Federal junto a0 CADE vem desempenhando em prol do fortalecimento institucional e da melhor aplicagao da lei. Com relagao & atuago criminal, destaca-se a criagio de unidades especializadas no combate a cartéis, como fez. 0 Ministério Publico do Estado de Sao Paulo em outubro de 2008, com a criagio do GEDEC - Grupo de Atuagéo Especial de Repressio & Formagao de Cartéis e é Lavagem de Dinheiro e de Recuperacdo de Ativos, que permite uma adequada alocagio de recursos para a repressio qualificada & odiosa prética. Igualmente, 0 Grupo Nacional de Combate as Organizagdes Criminosas (GNCOC), na seqiiéncia do primeiro Forum de Combate a Cartéis em conjunto com a Secretaria de Direito Econémico em 2008, vem aprimorando as técnicas de investigagdo de tal pritica, nas mais diferentes unidades da Federagdo. Na mesma esteira, 0 Departamento de Policia Federal também criou area especializada para repressio 4 formagao de cartel, no ambito da Coordenagio-Geral de Policia Fazendéria, assinando acordo de cooperagio para estreitar as relagdes com a Secretaria de Direito Econdmico. Da mesma forma, diante dos enormes prejuizos ao Eririo decorrentes da nefasta pritica de cartéis em licitagdes, também foram celebrados acordos de cooperagao entre a Secretaria de Direito Econémico e a Controladoria-Geral da Unio e 0 Tribunal de Contas da Unido, érgios esses responsaveis por prevenir e reprimir fraudes em compras publicas — materializadas, por exemplo, pela corrupeio, superfaturamento, e pela atuagdo dos cartéis. E certo que uma atuagio coordenada do Estado, por meio da troca de expertise em licitages ¢ compartilhamento de técnicas de investigago resultaré em uma aco mais efetiva do Estado contra tais Praticas ilicitas. Também 0 acordo de cooperagio técnica firmados entre o TCU, a SDE € a SNJ viabilizou a utilizagZo do Laboratorio de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro-LAB-LD para auxiliar as investigagdes sobre cartéis. Ainda nesse sentido, também destaca-se 0 forte compromisso da Secretaria de Logistica e Tecnologia da Informagio no tocante a prevengio de cartéis em 10. DECLARAGAO DE BRASILI licitagdes, corroborado pela edigao da Instrugdo Normativa SLTI-MPOG n° 2, de 16 de setembro de 2009, que estabelece a obrigatoriedade de apresentagio da Declaragdo de Elaboragio Independente de Proposta em procedimentos licitatérios realizados no ambito dos érgios ¢ entidades do govemno federal, autarquias e fundagées. Tal medida, consistente em um atestado de que a empresa ‘ou conséreio elaborou sua proposta de forma independente - nao tendo discutido o seu_contetido.com concorrentes -, foi sugerida pela Secretaria de Direito Econémico e visa a coibir e desestimular a formagio de cartéis em licitagdes, Depreende-se, portanto, que a maior eficiéncia da agio do Estado para a prevengdo e repressio aos cartéis depende intrinsecamente de um elevado grau de cooperagiio e interago entre os diversos érgiios responsdveis pela efetivagio desta politica, Por essas razdes, 0s abaixo-assinados resolveram estabelecer a “Estratégia Nacional de Combate a Cartéis - Enacc”, que visa fomentar a definigo de um plano coordenado e sistemético de atividades entre os diversos drgios estatais responsdveis pela investigagao e repressio as infragdes contra a ordem econémica, em especial as Policias Judiciérias © Ministério Piblico, conferindo sinergia, organicidade e capilaridade em todo territério nacional & politica de combate aos ae Essa rede institucional visa a busca de sinergias entre as autoridades envolvidas, de modo a possibilitar 0 desenvolvimento de mecanismos ¢ instrumentos mais sdlidos e capazes de incrementar a investigaglio das autoridades, 0 que jé foi iniciado pela Secretaria de Direito Econémico, entidade, no ambito do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorréncia, primordialmente voltada a investigagio de condutas anticompetitivas, com a celebragdo de Acordos de Cooperagio Técnica com 0 Departamento da Policia Federal, 0 Ministério Publico Federal e com diversos Ministérios Publicos Estaduais, sendo incentivada a celebragao de acordos de cooperagdo com todos os Ministérios Publicos Estaduais do pais. A implementagio dessa rede permitira significativo incremento na comunicago entre as autoridades e persecugdo das investigagdes futuras. Pretende-se, nesse ye 12. 13. 14, DECLARAGAO DE BRASILIA sentido, organizar uma reuniéio anual para a discusso de metas e avaliagdo dos resultados dessa Estratégia Nacional, assim como criar um sistema de cadastramento ¢ base virtual para os representantes envolvidos no projeto de cada autoridade, Sistema Brasileiro de Defesa da Concorréncia, por intermédio da Secretaria de Direito Econémico, compromete-se a exercer a secretaria executiva da ENACC e a organizar 0 proximo encontro, no ano de 2010, responsabilizando-se pela estrutura logistica do evento. Compromete-se ainda a criar o ambiente virtual, que possibilitaré a constante comunicago e troca de informagies entre os integrantes da Enace. Os demais 6rgios do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorréncia aqui signatérios declaram seu apoio a iniciativa e envidardo todos os esforgos para colaborar com ajuda técnica e financeira possivel Essa declaragdo tem como escopo primeiro informar, a toda a sociedade civil, as politicas publicas que tém sido discutidas e implementadas para a elevagio do bem-estar de todos os cidadaos deste Pais. Brasilia, 08 de outubro de 2009. io\da Justica Gercino Gomes DECLARAGAO DE BRASILIA Endossam essa iniciativa as seguintes autoridades ¢ instituigdes: oC cate de Defesa Kcondmica 7 Baby a fe f Secretaria de Acompanhaménto-Econémico do Ministério da Fazenda & DECLARAGAO DE BRASILIA (ef) tH LZ x eR . ae - Vina aa (CES BCL plgo rALear > Meswemé COD MD { ecwardo Moc shi fa nN deo DECLARAGAO DE BRASILIA LZ ma LAE _— Se Cu — Carlos Emntanuel Joppert Ragazzo Conselheiro do CADE Fernando de Magalhes Furlan Conselheiro do CADE ‘Ang/Paula Martinez Diretordts Departamento de Protecio e Defesa Econdmica/SDE/MJ DECLARAGAO DE BRASILIA E por estarem todos de acordo, fica instituida a Estratégia Nacional de Combate a Cartéis - ENACC, rede institucional que visa a possi far a cooperagio ¢ interagao dos diferentes agentes piblicos responsaveis pela repressdo e investigagio de cartéis no Brasil. Ministro da Justiga Tarso Fernando Herz Genro

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