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Antigo 6.2 Titulo I Parte geral 68 graves incumprimentos perpetrados por multinacionais, sob sociedades de fachada. Mas opera, ainda, em defesa dos credores??, da qualidade de vida* e, em geral, de todas as situa es nas quais a simples condenagio da sociedade no conduza a efeitos priticos e isso em ter ‘mos tais que se atente gravemente contra os valores bisicos do sistema (boa £8). © levantamento da personalidade pode ser invocado em conjunto com outros remédios juridicos™, Todavia, cle vale em ambiéncia de boa f&: no pode um “abusador”, conluiado com outro, invocé-lo contra este%, Artigo 6.° (Capacidade) 1. A capacidade da sociedade compreende 08 direitos ¢ as obrigacies neces- sitios ou convenientes 4 prossecucao do seu fim, exceptuados aqueles que The sejam vedados por lei ou sejam inscpardveis da personalidade singular. 2. As liberalidades que possam ser consideradas usuais, segundo as circuns- tancias da época e as condigdes da prépria sociedade, nao so havidas como con- trdrias a0 fim desta, 3. Considera-se contréria ao fim da sociedade a prestagio de garantias reais ou pessoais a dividas de outras entidades, salvo se existir justificado interesse proprio da sociedade garante ou se se tratar de sociedade em relago de dominio on de grupo. 4, As cldusulas contratuais e as deliberacées sociais que fixem A sociedade determinado objecto ou proibam a pritica de certos actos nio limitam a capaci: dade da sociedade, mas constituem os érgios da sociedade no dever de nao exce- derem esse objecto ou de nao praticarem esses actos. 5. A sociedade responde civilmente pelos actos ou omisses de quem legal- mente a represente, nos termos em que os comitentes respondem pelos actos ou omissdes dos comissirios. Bibliografia: Jorge Coutinho de Abreu (2005), 182 ss3 id, Vinaulardo das sociedades eomentals, Estudos Oliveira Ascensio II (2008), 1213-1239; Pedro de Albuquerque, A vinalagie das soedades comeriais por arantia de divides de tencies, ROA 1995, 689-711; id, Da prstasio de garantias por sociedades comerdais 4 dvds de ones entidades, ROA 1997, 69-147; Carlos Osério de Castro, Da prestazao de gavantias por soi dades a divas de oxrasentdades, ROA 1996, 565-393; id, De novo sobre a prestagio de garantias por sea esa dividas de outras entidades: luzesesombras, ROA 1998, 859-873; Antonio Menezes Cordeiro 1 (2007), 331 ss Luts Brito Correia (1989), 245 ss.; Agostino Cardoso Guedes, A fimitaza dos podere dos adm risradoes das sociedades anénimas operada pelo objeto socal no nove CSC, RDE 1987, 127-159; Joo Lab. reda, Note sobre a prestagio de garantias por sceiedades comercais a dividas de outras entidades, em Dinsito soviet. fo portguts (1998), 167-195; Pedro Romano Martinez/Pedro Fuzeta da Ponte, Garantias de cumprimento, 5.‘ ed. 2006), 105 55; Alexandre Soveral Martins, Da personalidade e capaidade jutdica das sociedades comer. diaiss AAVV (2007), 95-126 (£08 ss.); Luis Serpa Oliveira, Presto de ganantis a dividas de tewtivs, ROA 1999, 389-412; José Horta Osério, Da toma de contolo de cecedades takeovers) por leveraged buy-out e sua hammonizajao com 0 Direto portgués (2001), 144-155; Jolio Elvas Pinheiro, O jusifcadointressepriprio do erante: sobre 0 anigo 6.°, n° 3, do CSC, RFDUL XXXVUI (1997), 485-506; Rad Ventura, Objeco da seviedade ¢ actos ulta vires, ROA 1980, 5-59 © Adaptagio do Dirsto portgus 2 1.* Dieaiva do Consetho da (CRE sobre Ditto das Sociedades, DDC 2 (1980), 89-217 (138 ss). 2 REv 21-Mal-1998 e RPt 13-Jun-2005, ambos ji Ainda que, ma pritica, a jursprudéncia o ute quando citados, nfo aja outras soldas: RPe 25-Oue.-2008 (Henrique 3 Rx 30-Mar-1995 (Almeida Valacs), CJ XX (1995) Arai), Proc. 0524260. 2, 98-100: responsabilidad extracontratnal da sociedade € 3 Rx 24-Jan-2007 (Natalino Bola), Proc. 8454/2006. dos gerentes por violagio de direitos de personalidade de 4 terceiros: funcionamento de um bar. 88 ANTONIO MENEZES CORDEIRO Capitulo I — Personalidade e capactdade Artigo 6.2 indice I~ Origens do preceito ¢ Direito Europea 10, Regrasestatuceias . conn 15 4. Acorigem dispar. 111, Consequéncias 16 2. © Direito earopeu. 2 3. Transposigio 4 IV Os actos gratuitos ¢ as garantias 12, Genersidedes ccc ” I - O principio da especialidade 13, Liberalidades ... vevevenene 18, ¢ 0 sot aleance actual 14, Garantis a terceires ail 4, Nogées bisicas suv 5 15. Actos asstenciis 24 5. Os bens de mio-morta ea doutina wl vies 7 6, © principio da especialidade 9 V-—Capacidade de exereicio 7. Acuperigio 1016, Representacio orginics 26 II - As limitagdes 4 capacidade VL Responsabilidade das sociedades 8, Generalidades; a natureza das cOit6casnseonn WL 17. RegH gel oocsnnmnnrannmeninannnennnn 28 9. Normaslesais 1318, Os comissirios 29 1- Origem do preceito e Dircito curopeu 1. A origem dispar. O 6.° compreende normas distintas, sem equivalente no anteprojecto de Ferrer Correia. O n.° 1 proveio do 160.°, do CC; 05 n.°° 2 e 3 foram elaboragdes auténomas; 0 n° 4 adveio do anteprojecto de Rail Ventura de transposisio da 1.* Directriz!; 0 n.° 5 equi- vale 20 165.° do CC, constando também do 26.° do DI. 49 381, de 15-Nov.-1969. Com uma pequena alteragio formal, o texto da lei surgia j4 no projecto de 1983 (7.°)2 2. O Direito europeu, A 1.* Directriz de Dizeito das sociedades®, fundamentalmente assente no Direito alemao', ocupa-se: (a) da publicidade das sociedades; (b) das obrigagdes contraidas pela sociedade; (c) das sociedades irregulares. Releva, aqui, 0 segundo aspecto, particularmente assente no artigo 9.° da Directriz: 1. A sociedade vincula-se perante terccires pelos actos realizados pelos seus Srgios, mesmo se tas actos, orem alheios a0 seu objecto social, a no ser que esses actos excedam os poderes que ale atibui on per- rite atsbusir «estes Srpos ‘Todavia, os Estados-membros podem prever que a sociedade nfo fique vinculada, quando aqueles actos ‘ltrapasemn os limites do objecto socal, se ela provar que o terceito sabia, ou no © podia ignorar, tendo fem conta 25 circunstincias, que 0 acto ultapassava este objecto; a simples publicagSo dos estautos nio constitu, para este efeito, prova bastante 2. As limitages aos poderes dos Srgios da sociedade que resultem dos estatutos ou de uma resolugio das 6rgios competentes, sio sempre inoponiveis a verceiros, mesmo que tenham sido publicadas. 3. Quando a legislagio macionel preveja que o poder de representar a soviedade seja atribuido por léu- sul estatutéria, derrogatéria da norma legal sobre a matéra, 2 uma s6 pessoa ou a vitias pessoas agindo conjuntamente, esa legislagdo pode prever a oponibilidade de tal clausula a terceitos, desde que ela sea referente ao poder geral de representacdo; a oponibilidade a terceiros de uma tal disposiclo estatutéria é regulada peles disposigdes do artigo 3.°. + Rail Ventura, Adaptasio do Direito ports & 1." Direc iva, 213, 2 BMY 327 (1982), 59-60. 3 JOCE N° 1-65, 8-12, de 14-Mar.-1968; a designagzo oficial € Dinectiva n.° 68/151/CEE, do Constlho, de 9-Mar~1968, tendente a coordenar as garantias que, para proteceio dos interesses dos sBcios ¢ de terceitos, sf0 exi- gidos nos Extdos-Membros as sociedades, na acepeio do segundo parigrafo do artigo 58.° do Tratado, a fim de tor- rar equivalentes esas garantias em toda a Comunidade. A 1.2 Directrz foi alterada pela Directeien.° 2003/58/CEE, de 15 de Julho: JOCE N° L-221, 13-16, de 4-Set2003. (© texto corrigido « actuilizado da 1.* Direciriz pode ser confrontado em Menezes Cordeiro, Difeito ewopew das sexiedades (2008), 127 s. + RaGl Ventura, Adaptao, 140 ss. e Menezes Cordeiro, Direto exmpen das sociedades cit., 164 ss. ANTONIO Menezes CORDEIRO; 89, 10 Antigo 6.° Titulo I Parte geral ‘As regras europeias so: (a) a sociedade fica obrigada pelos seus drgios, mesmo fora do objecto social; (b) ela nio fica obrigada fora dos poderes legais desses drgios; (c) a ultrapassa- gem do objecto social pode, pela legislagio interna, ser opontvel a terceiros de boa f&; (4) as limitagdes estatutirias e deliberativas, mesmo publicadas, sio inoponiveis a terceiros; (e) a legis- lagio interna pode prever a oponibilidade a terceiros de certas cliusulas de representacio. 3. Transposigao®: feita para o CRCom; na parte em causa, 0 5.°/4, Numa interpretacio con~ forme com a Directriz’, cla vai interferir em todo 0 preceito. O Direito europeu privilegia solugdes claras e seguras, que defendam a seguranga no comércio com as sociedades. U- O principio da especialidade e 0 seu alcance actual 4. Nogdes basicas. A capacidade de gozo equivale & medida de direitos e de deveres que pos- sam ser imputados ao sujeito considerado; a capacidade de exercicio equivale & medida de direi~ tos ¢ de deveres que © mesmo sujeito possa exercer pessoal ¢ livremente. Esta itima nogio sé tem alcance dogmitico quando reportada a pessoas singulares. A capacidade nio se confunde com 2 personalidade, essencialmente qualitativa No tocante a pessoas colectivas, nfo faz sentido falar em incapacidades (de exexcicio): elas operam com os competentes Srgios, através de nexos de organicidade, 5. Os bens de mio-morta e a doutrina ultra vires. As instituicdes eclesidsticas medievais, através de doagdes e de legados pios, iam acumulando bens iméveis. Estes ficavam subtraidos 20 comércio juridico ¢ aos impostos do Rei. Por isso, desde D. Dinis (Lei de 10-Jul.-1324) foram tomadas medidas destinadas a evitar esse fendmeno: as leis das desamortizagées ou dos bens de mio-morta?. Daf resultou uma Filosofia de base: as pessoas colectivas s6 poderiam adquiir os direitos que fossem estritamente necessitios para a prossecugio dos seus fins. A san- ¢20 normal seria a perda, para 0 Estado, dos direitos supérfluos. Em. Inglaterra, a personalidade colectiva adquiria-se por lei do Parlamento (sistema de outorga). Tal lei era adoptada dentro de determinada finalidade, considerada conveniente. Caso, no seu funcionamento, a pessoa colectiva considerada praticasse actos que nio se coadu~ assem com os seus fins, eles ultrapassariam as suas Forgas (ultra vires)8, sendo invalidos. 6. O principio da especialidade. Na sequéncia das duas apontadas evolugées, veio a forta~ lecer-se a ideia de que a capacidade das pessoas colectivas nao seria plena, como sucede com as pessoas singulares: ela antes surgiria delimitada pelos seus proprios fins®, Essa tradigio ocasio- nou normas classicas, como a do 6.°/1, 1." parte, retirada do 160.°, do CC. 7. A superagio. Apesar de, pela inércia, ele ainda surgir em obras de doutrina dos nossos tem~ pos €, como vimos, na prépria lei, o principio da especialidade ji nfo apresenta, hoje, alcance pritico, quer na doutrina!®, quer na jurisprudancia!. Ele tem, de resto, sido suptimido nas diversas legislacdes, incluindo a europeia. Com effito, as sociedades constituem-se livremente, de acordo com o figurino que os particulates interessados Ihes queiram imprimir. Podem assu- mir os diversos fins licitos, de acordo com o pacto social ¢ as decises dos seus 6rgios. Qual- quer limitagio de capacidade seria ultrapassada nessc nfvel, mau grado as inevitiveis diividas. 5 Menezes Cordeiro, Direito evnopen dar seciedades cit. 170 6 ders, 81 58, em gerd. 7 Menezes Cordeito 1 (2007), 332 ss, onde podem ser confrontadas outa’ les, que s¢ prolongerata pelo século xix 5 Rad Ventura, Objeto des soiedades¢ ects ultce vier, 23, > Guileeme Morera, Inttuiges de Dinto Cit 1 (1907), 316 € 317 ¢ Manuel de Andrade, Teoria goal da elo juts sda 1 (1972, 3. reimp), 123 ss 3 No ambito do Direito anterior 20 CSC: José Tavares (1924), 170, Ferrer Correia tentou que ele fase retirado do Cédigo Civil, Todavia, cle foi af reintroduride aquando das revisOes ministeriais, sem qualquer justifcario, ‘REx L-Mar-2004 (Caetano Duarte), CJ XXIX (2004) 2, 86-89 (88/1) © STJ 3-Out.-2006 (Paulo $8), Proc, 06/2006. 90 ANTONIO MENEZES CORDEIRO Capltulo 11 Personalidad e capacidade Arrigo 6.° Por outro lado, 0s terceiros que contratem com a sociedade no podem ficar na contingéncia de ir analisar os “fins” estatutérios para, dai, extratrem a validade dos actos. Em rigor: todos os actos podem servir quaisquer fins, Finalmente: 0 Direito comunititio nao admite a invalidagio de actos, mercé de restrig6es internas 3 capacidade das sociedades, Ill ~ As limitagbes 3 capacidade 8. Generalidades; a natureza das coisas. © principio da especialidade cede 0 passo a fac- tores claros de delimitagao da capacidade: (a) natureza das coisas; (b) normas legais; (c) regras estatutérias; (@) deliberagSes sociais. Os regimes sio diferentes, devendo ser ponderados em separado. O final do 6.° /1 exclui, da capacidade, os direitos e deveres inseparaveis da personali- dade singular. Pela positiva, o 12.°/2 da Constituigo determina que as pessoas colectivas gozam dos direitos e esto sujeitas aos deveres compativeis com a sua natureza. Ex rerun natura, rio cabem 3s sociedades situag&es juridicas relativas a estados civis, de familia ou sucessérios, situagdes de personalidade que envolvam o ser biolégico, situagées obrigacionais que impli- quem o scr humano como tal e situages de Direito piblico que contemplem os cidadios, Nao ficam exclufdos os direitos nao-patrimoniais compativeis com as pessoas colectivas; estas detém certos direitos de personalidade!? como o direito ao bom nome! ¢ 0 direito 4 honra!4, 9, Normas legais excluem certas situages do fimbito das pessoas colectivas (6.°/1, in medio). Explicitamente isso sucede com algumas leis fiscais (IRS) ¢ com regras sobre a tutela do con- sumidor's (ainda que, ai, se deva, caso a caso, verificar da hipévese da analogia). Implicitamente, tal ocotre com 0s direitos reais de uso de habitacio (1484. e ss., do CC). Nio se confandem, com estas, as puras proibigdes, isto é, as regras que vedem, a certas sociedades, a pritica de determinados actos; p. ex., 112.°/1 do RGIC, quanto & aquisigo de iméveis por instituiges de crédito, dependente de autorizagao do BP. 10, Regras estatutérias e deliberacSes sociais mio limitam a capacidade da sociedade (6.2/4, em transposigio do 9.° da 1.* Directriz). Por conversio legal, clas obrigam os érgios em causa a no exceder o objecto que fixem ou a nio praticarem os actos que vedem. 11. Consequéncias dos actos que excedam a capacidade de gozo"6: ex rerum natura, si nuulos, por impossibilidade juridica (280.°/1, do CC); ex lege, sio nulos, por violago da lei (280.°/1 € 294.2, do CC), quando outra nio seja a solugio fixada; ex contract ou ex decisione, so vai dos, mas podem ocasionar a responsabilidade civil dos titulares envolvidos!”. Admite-se a sua invalidagio perante terceiros de ma f€: conheciam ou nio podiam ignorar as limitages deri- vadas do objecto social (260.°/2 e 409.°/2, aplicaveis por analogia, a todos os tipos societirios), nio bastando, para isso, a publicidade comum. IV - Os actos gratuitos ¢ as garantias 12. Generalidades. © 6.°/2 ¢ 3 estabelece um regime especial para actos gratuitos ¢ para gatantias. Fé-Jo usando o circunléquio de serem ou nio “contririas ao fim da sociedade”: a lei pretende permitir ou proibir 0s actos em causa. 12 Menezes Cordeito, ‘Trade de Dini civil 1/3, 2. ed. 18 RCb 19-Dez.-2006 (Virgilio Mateus), Pros. (2007), 111. 838/05. 2TBPCV.CI. 13 RPE 28-Mar-1985 (Zeferino Fats), CJ X (1985) 2, 7 Quanto 2 regra da nulidade: ST] 28-Out-2003 229-232 (232) (Moreira Alves), Proc. 0342485, 14ST] 17-Out.-2000 (Azevedo Ramos), Cj/Supremo 7 RPt 19-Dez-i996 (Oliveira Vasconcelos), CJ XT itt (2000) 3, 78-82 {caso Partes) © ST] 27-Set-2007 (1996) 5, 222-226 (224/11) (Alberto Sobrinho), Proc. 0782528. ANTONIO MENEzxS CORDEIRO am i 13 14 15, 16 17 18 19 24 22 23 24 Artigo 6° Titulo 1— Parte gerai 13, Liberalidades. Quando usuais, niio so havidas como doagdes (940.°/2, do CC), sendo permitidas, segundo as circunstincias da época (p. ex., Natal) ¢ as condigdes da propria socie~ dade (p. ex., folgadas) (6.°/2). Quando nio-usuais, clas sio admitidas por poderem servir o interesse da sociedade, tal como definido pelos érgios competentes. Pense-se no mecenato'® ou em doagdes com fins publicitarios, directos ou indirectos"®. ‘Pontualmente, serio nulas caso contundam com normas imperativas (p. ex., proibi¢io de distribuir bens aos sécios, ex 31.°/1). Em suma: a reponderagio do alcance e do papel do fim da sociedade leva a permitir generalizadamente as liberalidades: cabe aos érgios societirios deci- dir, em cada caso, se clas ainda integram o fim da sociedade. 14. Garantias a terceiros. © 6.°/3, pela perifrase da contrariedade ao fim da sociedade, profbe 2 prestagio de garantias a terceiros, salvo em duas circunstincias: (a) justficado interesse proprio da sociedade garante; (b) situagio de dominio ou de grupo. A pritica tem alargado as excepgdes, ao ponto de consumizem a regra20, O interesse proprio justificado, que depende de opcdes da sociedade garante, é ficil de invocar, admitindo a jurisprudéncia que seja “indi recto”, A situagéo de dominio (486.°) e a de grupo (488.° ss.) podem ser alargadas aos gru- pos de facto, A jurispradéncia®? c a pareceristica reduzem ainda a invalidacéo das garantias para proteccio da boa f& de terceiros?3, As restricdes do 6.°/3 reportamn-se, apenas, & gerantias gra- tuitas. Celebrada a garantia, cabe & sociedade que invoque a nulidade o énus da prova da ausén~ cia de interesse proprio ou da inexisténcia da relagdo de grupo™. Perante uma garantia prestada, pela sociedade, a terceiros cabe ao garantido um minimo de indagagHo: quer quanto ao interesse proprio, quer quanto 4 relagio de dominio ou de grupo. De outro modo, poderia mesmo haver conciliun fraudis, para efeitos de pauliana. As institaigdes de crédito estio em condigées de pedir os elementos comprovativos necessérios. 15. Actos assistenciais. As sociedades podem assumir pensOes ¢ complementos de reforma, a tcabalhadores, mas com restrigdes. Nao se trata, em rigor, de actos gratuitos: tém wma natureza retributiva?®, Todavia, as inerentes prestagSes, quando isoladas, tém natureza aleatéria, uma vez que dependem da duragio da vida dos beneficidrios. Hi que lidar com descontos, com gran- {8 Decreto-Lei 74/79, de 16-Mat., por iltimo alterado pela Lei 53-A/2006, de 29-Dez.. Quanto a0 mecenato clentifico: Lei 26/2004, de 8-Jul, altecada (11.9-A) pela Lei 67-A/2007, de 31-Dez. 1 Menezes Cordeiro 1 (2007), 397-338, 2 Menezes Cordeiro 1 (2007), 339. Sobre o tema, Pedro de Albuquerque e Oxésio de Castro, escritos sup. cit, 21 p. ex: um extabelecimento comercial garante cextas dividas, dentro de uma politica de boas relagies com os moradores: REx 11-Mar-2004 (Cactano Duarte); C} XXIK 2004) 2, 86-89 (88/1). Contr, invocando 2 necessidade de um interesse objectivamente demonstrivel: ST] 28-Out.-2003 (Moreira Alves), Proc. 032485. 22ST} 22-Abr.-1997 (Lopes Pinto}, Cj/Supremo V (1997) 2, 60-64 = ROA 1997, 677-690 © ST) 3-Out.-2006 (Paulo Si), Proc. 0642006. 29 Luis Carvalho Femandes/Paulo Olavo Cunha, Assum- ode divide atbeia~ capacidade de goxo das soiedades anbri- nas — qualificagio de neghco jurdio, ROA 1997, 693-719, Henrique Mesquita, Parr, ROA. 1997, 721-737 e Luis Brito Conteia, Pareer sobre a capacidade de gozo das soieda- des anbnimas ¢ 08 poder des seus adivistadores, ROA 1997, 739-776; vide, ainda, Joto Labareda, Nou sobre « presto de garatias, 167-195, Luis Serpa Oliveira, Pest fi de goantas por sovedades a dvides de ero, 389-412. JJosé Hora Os6:io, Das tomas de conto de sociedades (uaove), 144 ss, citadas na bibliografia 24 ST} 17-Jun-2004 (Quirino Soares), Proc. 04B1773 ST] 30-Set-2004 (Abshio Vasconcelos), Proc. 0452540; conta: RP: 20-Mai-1999 (Custédio Montes), CJ XXIV (1999) 3, 189-196 (195), RLx 27-Jan-2000 (Sve Sal zat), CJ XXV (2000) 1, 100-103 (102) ¢ RCb 17-Out-2000 (Ferzeta de Barros), CJ XXV 2000} 4, 37-39 (88-39). Mas atenglo: a reget material @ a da val- dade dos actos formalmence corrects; logo 0 facto ger dlor da nulidade deve se provado por quem se quira pre valecer dela % Menezes Cosdeizo 1 2007), 340-341. As pensbcs nfo contundem com a naturees lucativa dat sociedades: RLx 20-fan.-2005 (Tibério Silva), CJ XXX 2008) 1, 78-89 @2/). 92. ANTONIO MENEZES CORDEIRO; Capitulo 11 ~ Personatidade ¢ capacidade Artigo 6.° des niimeros ¢ com todo um cilculo actuério, tipico da indistria seguradora. A lei prevé, para 0 efeito, os fundos de pensdes?®, Quanto a administradores: 0 402.°/1 permite, 8s anénimas, estabelecer um regime de reforma por velhice ow invalidez dos administradores; 0 402.°/2 reporta-se, nesse sentido, aos complementos de reforma. Todavia, essa regra deve constar do pacto social””. A actividade assistencial 6 delicada, reservando-se a entidades apetrechadas, sob a supervisio do ISP. Assim, © preceito nio € aplicavel, por analogia, fora do seu preciso ambito. A atribuicio de beneficios, para além do admitido, quando suportada por descontos, poder manter-se, todavia, sob pena de venire contra factuns propriun®. V - Capacidade de exercicio 16. Representacao organica. © 6.° reporta-se & capacidade de gozo. A capacidade de exer~ cicio coloca-se num paralelo com a personalidade singular’: a sociedade exerce os seus direi- tos pessoal e livremente? Seria um erro considerar as sociedades “incapazes”, submetendo-2s, ‘como os menores, a representacio legal. As sociedades, como pessoas colectivas, so centros de imputagio de normas juridicas, agindo através dos seus érgios. Os actos praticados pelos titu- Jares competentes projectam-se, autornitica ¢ imediatamente, nas sociedades respectivas, a vés de vinculos de organicidade. Aplicam-se regras proprias, hoje de filiagio comunitéxia que reforcam a seguranca do trifego, perante o que resultaria da comum representagio volut thsia © CSC no contém preceitos gerais sobre a representagio. Esta é assegurada, com variantes, pelos seus administradores: 192.°/1, 252.°/1 e 405.°/2, bem como 996.°/1 do CC, VI — Responsabilidade das sociedades 17. Regra geral. As sociedades sio responsiveis pelos actos dos seus representantes orginicos, perante terceiros, nos precisos termos em que isso suceda com quaisquer agentes: quer em ter ‘mos contratuais (798.° ss.), quer em termos aquilianos (483.°, ambos do CC). Qualquer outra solugio iria prejudicar 0 comércio, sendo injusta para as pessoas singulares. 18. Os comissdtios. © 165.° do CC consigna a responsabilidade das sociedades pelos actos ow omissSes dos seus representantes, agentes ou mandatérios nos mesmos termos em que os comitentes respondem pelos actos ou omissSes dos seus comissirios. A regra reaparece no 998.°/1 do CC, quanto 3s sociedades civis puras e no 6.°/5 CSC, com redaccio diversa: limita a referéncia 20s comissérios, Ora uma remissio para a comisséo (500.° do CC) levaria a um regime mais aligeirado, uma vez que, pelo CC, exige um auténomo juiizo de responsabilidade sobre a actuacio do comissirio. H, assim, que recorrer 3 correcgdo interpretativa ja feita a pro- pésito do 165.° do CC; quanto a actos dos titulares dos Srgios, hé responsebilidade directa quando haja actos de representantes (voluntirios, legaltente escolhidos e titulados), de man- datirios ou agentes, a responsabilidade segue o esquema geral da comissio (500.° do CC), por via do 6.°/5. 2% DL. 12/2006, de 20 de Janeiro, alterado pelo DL 180/207, de 9-Mai. pelo DL 357-A/2007, de 31-Out 27 Nao bastando a sua aprovacio pela asemblein gera: ST] 10-Mai-2000 Francisco Lourengo), C}/Supremo VINE (2000) 2, 52-54 (54/1). Quano 3 aplication tempo: ST} 15dJan1991 Brochado Brandio}, Proc. 079574 2% REx 20-Jan-2005 cic, CI XXX, 1, 82, ANTONIO MENEZES CORDEIRO 29 Menezes Cordeiro 1 (2007), 347 ss. 90 8 €9.°/1 2 da 1? Directriz (n.° 68/151, de 9-Mar), 31 Marcello Caetano, Ar pessoa colertivas no novo Cédligo Civil portuguts, © Direieo 99 (1967), 85-110 (104), Mene~ zes Cordeiro, Tiatado de Dircito civil 1/3, 2.* ed. (2007), 654 s, e Rix 17-Nov-2004 (Sarmento Botelo), CJ XIX (2004) 5, 152. 26 28 29 Capitulo IV — Deliberagbes dos sécos Arrigo 56.° Deliberagdes socais invalids, idem, 329: Jorge Pinto Furtado, Deliberjées dos sécos (1993), 241-280, e Deliberagdes comerias (2005), 508-547; Pedro Maia, Deliberagdes dos sécios, AAVV (2007), 243-246; Armando is (2004), 183-189. de soviedades Manuel Triunfante, A eutela das minorias nas socedades anénirnas /Diretos individ Indice 1. A ineficdcia 13, Outs stages 4 3 2, Direitos expeciais 1. A ineficdcia em sentido estrito, aqui consagrada, traduz a deliberagio que, valida em si, é bloqueada nos seus efeitos por algum elemento exterior. Neste caso: a necessidade de um sécio dar o seu consentimento. Caso este sobrevenha, expressa ou tacitamente, a deliberagio recu- pera toda a sua eficécia. ‘A falta do consentimento requerido por um sécio poderia, em abstracto, dar azo 4 nuli- dade (Lobo Xavier)! ow 4 anulabilidade (Carlos Olavo)?. A lei resolveu diividas, fixando, a0 caso, a ineficdcia stricto sensu>. 2, Direitos especiais dio azo 4 situacio em que, paradigmaticamente, se exige 0 consenti- mento do seu titular para, salvo regra legal ou estatutéria em contrétio, poderem ser suprimi~ dos ou coarctados (24.°/5)4 3, Outras situagSes: 133.°/2 (a transformagao que implique responsabilidade ilimitada deve ser aprovada pelos visados), 233.°/2 (a possibilidade de amortizagio de quota que nao figurasse anteriormente no contrato deve ser unanimemente deliberada) ¢ 328.°/3 (as limitagdes a trans- missibilidade das acces sé podem ser introduzidas com 0 consentimento dos visados)’. Enquanto faltar algum consentimento, a deliberacio & vilida, mas ineficaz. Artigo 56.° (Deliberagdes nulas) 1, Sio nulas as deliberagdes dos sécios: a) Tomadas em assembleia geral nfo convocada, salvo se todos os sécios tive~ rem estado presentes ou representados; b) Tomadas mediante voto escrito sem que todos os sécios com direito de voto tenham sido convidados a exercer esse direito, a nfo ser que todos eles tenham dado por escrito o seu voto; 0 Cujo contetido nfo esteja, por natureza, sujeito a deliberagio dos sécios; 4) Cujo conteiido, directamente ou por actos de outros érgios que determine ou permita, seja ofensivo dos bons costumes ou de preceitos legais que nio possam set derrogados, nem sequer por vontade undnime dos sécios. 2, Nao se consideram convocadas as assembleias cujo aviso convocatério seja assinado por quem nao tenba essa competéncia, aquelas de cujo aviso convocaté~ rio nao constem o dia, hora ¢ local da reunitio e as que retinam em dia, hora on local diversos dos constantes do aviso. 1 Vaaco Lobo Xavier, Invade einfcia das deibeapex > Jorge Pinto Furtado, Delibersies dos shios, 242-243, ¢ sodas no Prieto de Céiigo das Soccades (1985), 15-16. Menezes Cordeiro 1 (2007), 715. 2 Carlos Olavo, Jmpugnagio das deliberagSes sociais, CJ XIN + Menezes Cordeiro 1 (2007), 563 ss. (1988) 3, 19-31 (27/1). 5 Pedro Maia, Deliberagdes dos sécios, 245. ANTONIO MENEZES CORDEIRO 219 Argo 56.° Titulo 1 Parte gerat 3. A nulidade de uma deliberagio nos casos previstos nas alineas a) ¢ b) do n.° 1 nfo pode ser invocada quando o$ s6cios ausentes ¢ ndo-representados ou no par- ticipantes na deliberacio por escrito tiverem posteriormente dado por escrito o seu assentimento & deliberagio. Bibliografia: José de Oliveira Ascensio, Invaldades das deliberates dos sicios, AAVV (2002), 371-398 e fs em Homenagem a0 Prof. Douior Rail Ventura, If (2003), 17-44; Ant6nio Menezes Cordeiro 1 ), T17 885 fd, SA: asombleia gerale deiberagies soiis (2007), 183 ss.z Luts Brito Corzeia 3 (1990), 329-345; id., Regime de invalidade dos delberagies sociais, em AAVV, Os quinze anos de vigéncia do CSC (2001), 57-82; Manuel A. Carneiro da Frada, Deliberages soiais iudlidas no novo CSC, em AAVV, Novas perspectivas do Direito comercial (1988), 315-336; Jorge Pinto Furtado, Deliteraes des sécios (1993), 281-346, € Deliberagies de sociedades comeriais (2005), $90-631; Pedro Maia, Jnvalidade de delieragao socal por vio de _procedmento, ROA 2001, 699-748; d., Deliberagdes dos sicos, TeV (2008), 235-276 (258 35): Armando muel Triunfante, A tutla das minorias nas soiedades anSnimas/Diteitas individuais (2004), 180-183; Vasco da Gama Lobo Xavier, Anulacio de dliberagio socal e de dliberarbesconexas (1976), 87-261; id., Invalidade €inefictcia das deliberages soisis no projecto de Cédigo das Soviedades (1985), separata da RL indice I—Nulidade e grapos de casos 10. Rejeicio da incompetén 3 1. A mulidade ormnnenininennmnn th, Orelevo price 1% 2. Procedimento e substincin 2 3. Outros casos de nulidade 3 V—Contrariedade aos bons costumes 12. Origem.. Il- Assembleias no convocadas on defi- 13. Comet. cientemente convocadas 14. Concretieagio 19 4. Assembleiss nfo convocadas ce AB, Casta san 21 5, Deficientemente convocadas.......... u 7 6. Sanaedo e renovacio 9 Vi~Contrariedade © preceitos inderrogé- III=Voto escrito sem proposta dirigida a 16, Origem 2 todos os sécios £7, Delimitagdo cnn 23 7. A deliberagio tomada por voto escFtO.nn 1018, A natureza iMPeRaV veoscnseesnensennee 2b 8. Sanaql0 € FENOWEGEO sowie 1119, Casuisica 2% IV ~ Nao sujeigao, por naturoza, a delibe- racio dos sicios 9. Origem e teorias. 12 1-Nalidade ¢ grupos de casos 1. A nulidade de deliberages sociais correspond aos casos mais graves, sendo expressamente visada pela lei: quando nfo, caimos na mera anulabilidadet. Nesse sentido, os casos de nulidade sio taxativos. O regime da nulidade consta, em parte, do 57.° devendo, no resto, aproximar-se do 286.° do CC. 2. Procedimento ¢ substancia permitem agrupar os casos de nulidade: ha vicio de procedi- mento perante assembleias no convocadas ~ 56.°/1, a) ¢ 56.°/2 ~ ou em face de votos escri- tos sem que todos os sécios tenham recebido a proposta — 56.°/1, #); de substincia quando, por natureza, 0 seu contetido nao esteja sujeito a deliberagio — 56.°/1, ¢) — ou sempre que aja violagio dos bons costumes ou de lei inderrogivel — 56.°/1, 4). Os vicios de procedimento sio sanaveis, a0 contrétio dos de substincia ~ 62.°/1 1 ST) 13-Fev.-2004 (Lopes Pinto), Proc. O4A1519, 220 ANTONIO MENEZES CORDEIRO Copttulo TY ~ Delergies dos sécos Artigo 56.° 4, Outros casos de nulidade surgem no CSC: 27.°/1 (deliberagdes que liberem total ou par- Galmente os s6cios da obtigacio de efectuar entradas estipuladas), 69.°/3 (deliberagdes que vio- Tem os preceitos iegais atinentes A reserva legal, bem como aqueles cuja finalidade, exclusiva ou principal, seja a proteceio de credores ou do interesse piblico) ¢ 282.°/1 (deliberacio de cons Hinuigdo de sociedade e deliberacdes complementares desta). Estes preceitos sio meras conere- tizages do 56.°/1, d). II— Assembleias niio convocadas ou deficientemente convocadas 4, Assembleias no convocadas dio azo a deliberagbes nulas ~ 56.°/1, a). A ressalva legal de todos os sdcios terem estado presentes ou representados deve ser completada com 0 54.°/1. todos devem dar o acordo a que haja assembleia. Sio nulas, pelo mesmo motivo, as deliberagdes tomadas sem que todos os sdcios tenham sido convocados? ou que recaiam sobre pontos ausentes da ordem do dia: sobre eles, no houve convocatéria®, (© 56.°/2 explicita que nao se consideram convocadas as assembleias: (@) cuja convoca- téria no tenha a assinatura competente; (b) ou omita o dia, hora e local da reunido; (¢) ou redima em dia, hora ou local diversos dos do aviso. Em rigor hé, aqui, deficiéncias no rectifi- cdveis da convocatéria, 5. Deficientemente convocadas sio as assembleias cujas convocatorias nfo contenham os elementos essenciais (56.°/2, considerando-as no convocadas), cujos termos scjam puramente genéricost ou niio-claros®, que se reportem & alteracio dos estatutos sem especificar os pontos a modificar® ou que no sejam suficientemente explicitos’. ‘Meras irregularidades quanto 3 forma (que nfo omitam s6cios)® ou a falta de informa bes, como as requeridas pelo 377.°/89, dio azo & anulabilidade ~ 58.°/1, 4 € 4, 6. Sanagio e renovacao. As deliberagdes nulas por auséncia ou vicio na convocacio ficam sanadas com 0 assentimento escrito dado pelos sécios ausentes € no-representados (56.°/3). Podem, ainda, ser renovadas por nova deliberagio sem falhas (62.°/1). Ill — Voto escrito sem proposta dirigida a todos os sécios 7. A deliberagio tomada por voto escrito abrange a undnime por escrito (54.°/1) € @ tomada por voto escrito em sentido proprio (247.°/1): em ambos as casos ha mulidade se nem todos 0s s6cios com direito a voto tiverem sido adequadamente solicitados a pronunciar-se. 8, Sanagdo e renovagio sio possiveis, nos termos aplicéveis as deliberagdes de assembleias nao convocadas (56.°/3 e 62.°/1) 2 ST) 2gJun.-1987 (Gama Prazeres}, BMJ 368 (1987), 534.540 639-540), ST] 25-Mar-1988 (Mério Afonso), BM] 375 (1988), 403-413 (412) ¢ ST] 12-Jul-1994 (Cura Mariana), BMJ 439 (1994), 582-587 (586), Em sigor, a ‘nfo convocagio de um s6cio dé ugar a anulabilidade: cabe 20 sicio atingido decidir se anula, ou aio, 0 gue tenha sido decidido. Repare-se que a deliberacio em jogo pode ser favorivel: para a sociedade © para 0 proprio ansente 0 quul, de todo 0 modo, poderé dar sempre 0 seu acordo. F STp 21-Jul-1979 (Octivio Dias Garcia), BMJ 288 (1979), 437-440. # SIy 17-Fev.-1970 (Rui Guimasies), BMJ 194 (1970), 247-252 250), ANTONIO MENEZ: 5 STJ 29-Jul-1980 (Costa Soares), BMJ 299 (1980), 378-383. & Sty 6-Fev.-1986 (Geis Pinheiro), BMJ 354 (1986), 371-577 (676-577). 7 Vide Joio Calvao da Silva, A cnwocaso da essemblia geal (An, 375.2, n2 2, do CS.C.), em Betudos de Diet comer. cial (Pareces) (1999), 265-274 8 RPe 13-Jan-1994 (Sousa Leite), BMJ 433 (1994), 622. 9 ST) 26-Fev.-2004 (Pires da Rosa), CI/Supremo XT (2008) 1, 80-82 (@2/ID. 40 Ty 13-Mar-2007 (Silva Salaza), Proc. O7ARS. CorpEiRo 10 cr 12 13 14 15 16 7 18 19 Artigo 56.° Titulo I~ Parte geral IV ~ Nao sujeigio, por natureza, a deliberacio dos sécios 9. Origem e teorias. © 56.°/1, 0, muito enigmitico, adveio da lei alemi que, no cortes- pondente, também levanta diividas!?. Trés teorias: (a) 2 da incompeténcia: os actos alheios & assembleia!2; (b) a da impossibilidade: 0s actos fisicamente impossiveis'3; (c) a da incapacidade: 18 actos alheios & capacidade da sociedade (6.°/1)'4, 10. Rejeico da incompeténcia. A assembleia que delibere sobre matéria reservada a outros érgios nio income em nulidade, como corolério do 6.°/4. Trata-se de meras questies estatu- térias internas, que nflo podem prejudicar terceiros. E quando a incomperéncia atingisse, por si, s6cios ou terceiros, cair-se-ia na ineficicia (55.°) ou na nulidade por ilicitude — 56.°/1, d) ‘Jia impossibilidade — que reconduzitiamos a0 56.°/1, d) '5 — e a incapacidade implicam nuli- dade, raz4o por que subscrevemos a terceira das teorias apontadas. 11. O relevo pratico do preceito, envolvido nas apontadas dificuldades, é escasso, nio tendo sido aplicado. A amplitude do 56.°/1, d), retira-Ihe espaco préprio, V — Contrariedade aos bons costumes 12. Origem. © 56.°/1, d), fere de nulidade os actos directa ou indirectamente (1.6: por actos de outros érgios que determinem ou permitam) ofensives dos (leia-se aos) bons costumes. O preceito no constava do projecto'®, tendo sido introduzido 3 filtima hora!’, por reveréncia para com 0 anteprojecto de Coimbra sobre sociedades por quotas!®8 ¢ sem que os autores desse anteprojecto tenham defendido tal introdugio: antes a criticaram!". A fonte tltina reside na lei alema sobre sociedades anénimas (§ 241/4) 13. Conceito. Os bons costumes referidos so os do 280.°/2 do CC, abrangendo duas éreas (2) regras de conduta sexual ou familiar, que a lei civil nio explicita, mas que todos conhecem e admitem; () regras deontolégicas proprias de cada sector profissional ou do proprio comér- cio em geral No Direito portugués nio ha que inserir, nos bons costumes, os prineipios gerais injun- tivos, que devem ser respeitados pelos contratantes privados: eles integram, antes, a ordem piblica, autonomizada no 280.°/2, do CC?! 14. Concretizagio passa pela sensibilidade pessoal e social do julgador, que determinaré, nas circunstincias coneretas, quais as normas de conduta sexual e familiar a respeitar (p.ex., 1130 pode haver deliberagdes destinadas a favorecer casos amoros0s) ou que deontologias esto em causa (p.ex., deliberagdes que pretendam bulir com o sigilo profissional, pedindo 3 administra~ fo do Banco que revele negécios concretos). Torna-se mais ficil, na pritica, encontrar casos cuja ordenagio, perante os bons costu- mes, suscite acordo generalizado do que fixar fronteiras abstractas. Anote-se, ainda, que 0 334.° CC considera haver abuso do direito na violagao dos bons costumes, Os atentados deliberati- 11 Jorge Coutinho de Abreu, Direito comercial/Govemacio de eiedades (2005), 115 "2 Lobe Xavier, Invade «gia cit, 15-16, Cameiro dks Fada, Delbrarier sci ind, 27-329, Brivo Cor- ria 3 (1990), 296-267, Carlos Olav, Ingato das di- bers saat, 23, Rad Ventura, Alerts do canto de secede (1988), 82 © Beds wie cobescedadesanbimas (1992), 557 e Pedko Maia, Delberacer des sis, 258. Pinto Furtado, Deliteraies dorsi, 319 «6, Caso de Dino corel, 5c. 200%), 450-451, e Deters de sécios (2005), 592-600 e (2007), 83. “Meneses Cordeiro ? (2007), 72; contra: Pinto Put- tado (2007), 83 222, 5 Menezes Cordeiro 1 (2007), 723. 36 BMJ 327 (1983), 98. 17 Pinto Furtado, Delberges dos s6cios, 328. 18 Ferrer Coneia/Lobo Xavier/Angela Coelho/ Antonio Catiro, Sacedades por quotes, 136-137, onde dnha uma redacyio bem mals clegante; vide Menezes Cordeiro 1 (2007), 725. 29 Vasco Labo Xavier, Inlidadee inficid, 18-19, 2 Menezes Cordeito, Tratado de Dire civil cit. U1, 32 ed, 699 ss, 1 (2007), 724 s. 2 Menezes Cordeiro, Tiatado 1/1, 3° ed., 710s, ANTONIO MENEZES CORDEIRO Capltlo IV ~ Deleragies des siios Artign 56.2 vvos aos bons costumes poderiam, assim, dizer-se abusivos. Haveria, contudo, uma indefinigio de institutos que nao beneficia o Dircito das sociedades. 15, Casuistica, Os tribunais tém concretizado os bons costumes sobretudo na area da deon- tologia comercial, que impde um minimo de distribuigo de lucros ¢ de equilibrio nos negé os. Assim, foram considerados contririos aos bons costumes: distribuir huctos por dois fundos € uma conta nova, prosseguindo uma pritica de vinte e cinco anos de nio-distribuigao 20s socio; vender a uma isi de um sécio 0 finico imével da sociedade por um prego muito inferior ao real28; vender por 210.000 c, o estabelecimento ¢ sede da sociedade, quando o sécio minoritétio presente ofereceu 518.000 c., equivalentes a0 valor real”; trespassar um estabele~ cimento e vender terrenos por menos de metade do seu valor real25 VI Contrariedade a preceitos inderrogiveis 16. Origem. O 56.°/1, @), impée nulidade 4s deliberagdes cujo contetido, directa ou indirec- tamente (i.€.: por actos de outros érgios que determinem ou permitam?5), seja ofensivo de pre~ ceitos legais que mio possam ser derrogados nem sequer por vontade uninime dos sécios A formula adveio do projecto Ferrer Correia sobre sociedades por quotas 77. 17. Delimitagao. O preceito que possa ser afastado pela vontade dos sécios @ supletivo. Quando, para o afastamento, se exija unanimidade, mantém-se 2 supletividade: a quebra dessa regia gera, apenas, anulabilidade. A nulidade ocorre perante a injuntividade: nem por unani~ midade se admite 0 afistamento, Os preceitos estatutirios equivalentes a preceitos legais sio havides como legais, para efeitos de nulidade das deliberagdes (58.°/2). 18. A natureza imperativa pode ser explicita ou implicita. Neste caso, a imperatividade pode resultar 28: (a) da pertenga & ordem piiblica; (6) da concretizaga0 de principios ou subsectores injuntivos; (c) da tutela de terceiros. ‘A boa & & injuntiva pelo que as deliberagées que envolvam abuso do dircito sio nulas, por violagio do 334.° do CC. Esta situagZo nao se confiande com a dos chamados votos abu- sivos — 98.°/1, 6) — indutores de mera anulabilidade ??. 19. Casnistica, Ao abrigo deste preceito, @ nula a deliberacio: que limite os poderes repre- sentativos de um gerente de SPQ (260.°/1), pertencentes 4 ordem pablica societéria™; que vise impedir um terceizo de ser representante de uma sociedade associada!; que atente, em geral, contra interesses de terceizos’2; que contunda com a distribuigio de luctos pelos sécios®3; que cric um regime de reforma dos administradores*; que conceda um mandato totalmente geral?® 2% $1) 7Jan-1993 (Ras] Mateus), BM] 423 (1993), 539-553 (552) = CJ/Supremo I (1993) 1, 5-10 (10/1) RDES XXXVIM (1996), 257-268, anot. Evaristo Men des 23 RPt 13-Abr.-1999 (Afonso Comreia), CJ XXIV (1999) 2, 196-202 (200-201). 24 STY 3-Fev.-2000 (Miranda Gusmiio), CJ/Supremo VAI (2000) 1, 59-63 (62) 2 ST} 15-Dez.-2005 (Oliveira Baro), Proc. 05302 2% Menezes Cordeiro 1 (2007), 730-731, quanto 3 con- trariedade indirecta 27 Ferret Comteia/Lobo Kavier/Angela Coelho/Ant6nio Caciro, Socedades por quotas, 139; ertico: Pinto Furtado, Dediteragdes dos sicis, 340s ANTONIO MrNEzts CORDEIRO 28 Pr 19-Out-2006 (Manuel Capelo), Proc. 0635123. 2 Vide, inf, 58°, anotagies 17-24. 30 ST] 15-Out-1996 (Almeida e Silva), CJ/Supremo TV (1996) 3, 62-64 (64/0. 31 Rix 20Jan-1994 (Komé de Carvalho), Gj XIX (1994) 1, 102-103 (103/10. 52 ST] 26-Abe-1995 (Rail Mateus), C]/Supremo Itt (1995) 2, 49-55 (55/0, 53 RCb 11-Mar-1998 (Gil Roguc), BMJ 475 (1958), 787. 3 ST] 10-Mai~-2000 (Francisco Loucengo), CJ/Supremo ‘VIN 000) 2, 52-54 35 ST] 25cJan.-2005 (Lopes Pinto), Proc. 0444490. 223, 24 22 x 26 Antigo 57.8 Titulo I Parte geral Artigo 57.° (Iniciativa do érgio de fiscalizagio quanto a deliberagdes nulas) 1. O Srgio de fiscalizacio da sociedade deve dar a conhecer aos sécios, em assembleia geral, a nulidade de qualquer delibera¢o anterior, a fim de eles a reno- varem, sendo possivel, ou de promoverem, querendo, a respectiva declaragio judi- cial. 2. Se os sécios nfo renovarem a deliberagio ou a sociedade nio for citada para a referida acco dentro do prazo de dois meses, deve o érgio de fiscalizacio pro- mover sem demora a declaracio judicial de nulidade da mesma deliberacio. 3. O Srgio de fiscalizacio que instaurar a referida acgo judicial deve propor logo ao tribunal a nomeagao de um sécio para representar a sociedade. 4. Nas sociedades que nio tenham érgio de fiscalizagéo, o disposto nos nime- ros anteriores aplica-se a qualquer gerente. Bibliografia: Anténio Menezes Cordeito 1 (2007), 731; Jorge Pinto Furtado, Deliberaes dos sécios (1993), 347-358; Pedro Maia, Delibeagbes dos sécios, AAVV (2008), 235-275 (265 ss,). indice 1. Consequéncias gerais da nulidade.. 1 4, Iniciativa judicial do 6rgio de fiscalizagio..... 7 2. Declaracio da molidade wn. sevowins 35, Falta de 6rgio de fsclizagl0.-c-ciourscc, 3. Iniciativa interna do érgio de fiscalizegio..... 5 1. Consequéncias gerais da nulidade nio sio indicadas, expressamente, pelo CSC. Das regras gerais: pode ser invocada a todo 0 tempo e por qualquer interessado! (286.° do CC 59.°/1 € 2 do CSC, a contraria). Faz pairar a incerteza, sobre a sociedade, pelo que sio fixadas algumas adaptacdes. © CSC desvia-se em relagao ao regime geral: (a) restringindo as hipéteses de nulidade e reconduzindo as violacées, por deftito, 3 anulabilidade — 58.°/1, a); (b) prevendo canais socie— tarios proprios, para o rapido esclarecimento da questo — 57.°/1 © 2; (c) ressalvando os ter- ceitos de boa f - 61.°/2. 2, Declaragio de nulidade pode ser feita: (a) pela propria assembleia geral, mediante inicia- tiva de algum sécio, da administracdo ou do érgio de fiscalizac3o; (b) pelo tribunal, a pedido de algum sécio, de um terceiro ou do érgio de fiscalizacio. Ao contrério do que acontece, em geral, com os negécios juridicos, no se afigura aqui possivel (fora o caso da propria assembleia) uma declaragio extrajudicial de nulidade? 3. Iniciativa interna do drgao de fiscalizacdo. Este pode explicar em assembleia geral qual- quer nulidade de uma delibera¢io anterior ~ 57.°/1. A assembleia: (a) ou declara, ela prépria, essa nulidade, suprimindo a deliberacio®; (b) ou a renova, sem o vicio; (c) ou a confirma, altura em que queda aos discordantes a acco judicial; (4) ou nada fez, seguindo-se as vias normais. Orgios de fiscalizacao sio 0 conselho fiscal ou fiscal nico (413.°), a comissio de audi toria (423.°-B) ou 0 conselho geral ¢ de supervisio (434.°): todos para as $A, embora as SPQ possam adoptar um conselho fiscal (262.°/1). Eles tém o dever fancional de tomar as medidas previstas, perante qualquer nulidade de delibecacdes. 2 Tiatado 1/1, 3+ ed., 860-861 c, quanto is sociedades, 2 Tiatado /1, 37 e€., 8628. RP"26-Out-2004 (Lis Antas de Barros), Proc. 0423569 3 Se a asembleia pode renovar deliberaces mulas ou = REv 26-Out-2006 (Gaito das Neves), Proc. 1464/ revogar deliberagdes vilidas poder a onion, constatar 4 106-3. nulidade de detberasSes, 224 ANTONIO MENEZES CORDEIRO Capitulo IV — Deliberates dos sécios Artigo 58.° 4, Iniciativa judicial do Sérgio de fiscalizagdo, Nao sendo renovada (ou constatada mula) ou nio sendo a sociedade citada para uma acco de nulidade no prazo de dois meses, deve 0 Srgio de fiscalizago promover sem demora a declaragio judicial da nulidade. A capacidade judiciitia do drgio de fiscalizacéo parece limitar-se 3 iniciativa processual: ele deve propor logo i nomeagio de um sécio para representar a sociedade (57.°/3). Na pritica, 0 esquema fincionari havendo prévio entendimento com o socio em causat mi gestio processual vir alguém propor uma accio a seguir por outrem, com advogados dife- rentes ¢ estratégias distintas Nio havendo sécio disponivel, cabe ao tribunal indicar um curador ad litem, nio-sécio, seguindo-se 0 1484.°-A, CPC. © Srgio de fiscalizag3o pode intentar acgdes de invalidade: mas no aceSes de confir- maciot, 5, Falta de érgio de fiscalizago: 0 disposto no 57.°, 1, 2 ¢ 3 aplica-se a qualquer gerente (57.°/4); € 0 que sucede nas SNC ¢ nas SPQ, sem conselho fiscal. Axtigo 58.° (Deliberagdes anuléveis) 1. So anuliveis as deliberagdes que: 4) Violem disposigSes quer da lei, quando ao caso no caiba a nulidade, nos termos do artigo 56.°, quer do contrato de sociedade; b) Sejam apropriadas para satisfazer 0 propésito de um dos sécios de conse- guir, através do exercicio do direito de voto, vantagens especiais para si ou Para terceiros, em prejuizo da sociedade ou de outros sécios ou simples- mente de prejudicar aquela ou estes, a menos que se prove que as delibe- rages teriam sido tomadas mesmo sem os votos abusivos; ©) Nao tenham sido precedidas do fornecimento ao sécio de elementos mini- mos de informagio. 2. Quando as estipulacSes contratuais se limitarem a reproduzir preceitos legais, so estes considerados directamente violados, para os efeitos deste artigo ¢ do artigo 56.°. 3. Os sécios que tenham formado maioria em deliberacio abrangida pela ali- nea #) do n.° 1 respondem solidariamente para com a sociedade ou para com os outros sécios pelos prejuizos cansados. 4. Consideram-se, para efeitos deste artigo, elementos minimos de informagio: 4) As mengGes exigidas pelo artigo 377.°, n.° 8; 4) A colocagao de documentos para exame dos sécios no local e durante 0 tempo prescritos pela lei ou pelo contrato. Bibliografia: Anténio Menezes Cotdeiro 1 (2007), 717 sss id, SA: assemblea geal ¢ dlibergies sofas (2007), 183 ss; Luis Brito Correia 3 (1990), 284-289; Antonio Ferrer Correia/Vasco Lobo Xavier/Matia Angela Coelho/Anténio A. Caciro, Socedades por quotas de esponsebildade limitada/Antepojecto deli = 2.* redacao ¢ expositao de motives, RDE 3 (1977), 153-224 e 349-423 ¢ RDE 5 (1979), 111-141 e 142-200 separata, 140 ss. Jorge Pinto Furtado, Delberides das sézios (1993), 359-420; id., Deliberagies de socedades comers (2005), 631-707; Pedro Maia, Invalidade de deliberazo socal por vido de procedimente, ROA 2001, * ST) 19-Jan-2004 (Silva Salaam, Proc, 0344073. ANTONIO MENEZES CORDEIRO 225 a Capliulo IV ~ Deliberaies dos sécios Antigo 64.° Para efeitos de acco de amulacio, bastari que, seguidos certos trimites, a acta seja assi- 23 nada por todos os sécios vorantes no sentido que fez vencimento (59.°/4 ¢ 5). 13. Aprovacio, Nas SA, a assembleia pode determinar que a acta seja submetida 4 sua apro- 24 vagio, antes de assinada (388,°/3): 0 preceito pode ser generalizado. Nao se trata de nova deli~ beracio mas, to-s6, de uma constatagdo ou de um controlo de fidelidade do texto da acta. Na pritica e nas grandes anGnimas, a aprovagio pela assembleia € impossivel!. V -Fungio e natureza 14, Pungo. A acta néo corresponde a uma forma de deliberaco mas, antes, a um meio exclu- 25 sivo de prova'?. Faltando requisitos, o seu poder probatério & livremente apreciado pelo tri- bunel ‘Numa assembleia participam varias (ou muitas) pessoas; mesmo de boa fé, cada uma teré 26 a stia verso dos acontecimentos. A acta visa fixar a verdade juridica do que la se passou, mais do que a verdade histérica, Uma vez lavrada, formalizada e lancada, ela constituir4, salvo impugnacio fundada, 0 suporte de quanto se tenha decidido, para efeitos intemos e externos. ‘A acta constitui a base da confianga para efeitos de protecgio de terceiros de boa f€, 27 perante a invalidacio de deliberacées (61.°/2) 15. Natureza. A acta é uma formalidade ad probationem que completa as deliberagdes, dando- 28 -lhes eficicia. Pode ser afastada por falsidade sem que, para tanto, o Direito limite os meios de prova. ‘As “actas” sem requisitos legais, designadamente as constantes de documentos particula~ 29 res avulsos (63.°/7) constituem (mero) principio de prova. VI Deliberagdes por escrito 16. Estrutura e regime. Nas deliberagSes por escrito, os documentos de que resultem fazem 30 a funcio de acta (63.°/1), Com as devidas adaptacdes, o regime da acta é-Ihes aplicavel CapiruLo V - Administragao e fiscalizagao Artigo 64.° (Deveres fundamentais) 1. Os gerentes ou administradores da sociedade devem observar: 2) Deveres de cuidado, revelando a disponibilidade, a competéncia técnica e o conhecimento da actividade da sociedade adequados as suas fungdes e em- pregando nesse Ambito a diligéncia de um gestor criterioso ¢ ordenado; e b) Deveres de lealdade, no interesse da sociedade, atendendo aos interesses de longo prazo dos sdcios e ponderando os interesses dos outros sujeitos rele~ vantes para a sustentabilidade da sociedade, tais como os seus trabalbado- res, clientes e credores. 2. Os titulares de érgdos sociais com fungdes de fiscalizacio devem observar deveres de cuidado, empregando para o efeito elevados padrées de diligéncia pro- fissional e deveres de lealdade, no interesse da sociedade. 3 Vide 388°, anotacto 3. 1 Jul.-1997 (Rui Dias), BM] 469 (1997), 666-667 e STA 22 RC 31-Mar-1992 (Victor Rocha), CJ XVII (1992) 1-Out.-1997 (Correia de Lima), BMJ 470 (1997), 2, 61-64 (64/1), RCD 16-Mar-1993 (Nuno Pedro 651-652 Cameirs), C] XVI (1993) 2, 19-22 @1/M, RCb ANTONIO MENEZES CORDEIRO- 241 Artigo 64.° Titulo I- Parte geral Bibliografia: J. M. Coutinho de Abseu, Respontabilidade civil des adminisradores das seciedades (2007), 14 ssi id, Deveres de cuidado e de lealdade dos adninistradores ¢interesse social, em Reformas do Céigo das Socie- ddades (2007), 15-47; Paulo Cimara, O goveno des socedadese os deveres fidscidvcs dos adsninistradores, mm Jor~ nnadae/Sociedades abertas, valores mobildras eintermediagio financeire (2007), 163-179; CMVM, Governo das soviedades ancnines: propestas de alters ao Cbdigo das Sodedades Comerciais/Precesso de consulta pblize n.° 1/2006; Anténio Menezes Cordeiro 1 (2007), 799-839; id., Os deveresfandamentais dos administradores des sociedades (argo 64.°/1 do CSC), ROA 66 (2006), 443-488; id, A lealdade no Direte das sociedades, ROA 66 (2006), 1033-1065; Fétima Gomes, Reflexdes em tomo dos deveresfundamentais dos membros dos bg de _gestio (e ficalizajio) das soviedades comercais& luz da nova redagio do artigo 64.° do CSC, em CSC/20 anos, 2 (2007), 551-569; Manuel dos Santos Machado/Joio Carlos Godiaho, Nove regime de scalizego des socie- dates anotado (1970); Pedro Cactano Nunes, Corporate Govemtance (2006); Ana Perestrelo de Oliveira, Os credores e 0 govemto socitério: deveres de lealdade para os credores controladores, RDS 1 (2009), 95-133; ‘Armando Manuel Triunfante, A tutela das minorias nas soiedades anbnimas/dicitos da minovia quaifadal ‘abuso de direito (2004), 224-243 id., (2007), 59-66; Rail Ventara/Luis Brito Correia, Note explicativa do Capitulo TT do Derreto-Lei n.° 49.381, de 15 de Novembro de 1969, BM] 195 (1970), 21-90. indice 1 -Redaceie anterior ¢ origem 10, Enumeragio. 14 4. Redaecio original. 1 2. A reforma de 1969. 3. V—Os deveres de lealdade 3, Preparatérios. sss 411. Nogio ¢ aplicagies «es . 16 4, Objectivo da reforma de 2006. 7 12. Coneretizagiies negativas. ernie 18 5. Componentes non 8 VI- Os deveres de cuidado I~ Os deveres fundamentais 13. Conecretizagées positivas. Pea 6, Gestio € representagiOnrnmsenenn 914, Noghow nun 24 15. Modalidades.. 2 IIl— A bitola da diligéncia 16, Coneretizagio .... 23 7.0 esforgo tequctidO.sesurssunnennnceninns LD 8, O gestor criterioso & ordenado, 12 Vil —Titulares de Srgios sociais com fun- gSes de fiscalizacio TV — Os interesses @ acautelar 17. Sujeitos visados ......... 24 9. Os valotes protegido8nvniuienvoninmnnnnan 13 18, Contetide ee 23 1 —Redacgao anterior e origem 1. Redaceio original. O 64.° tem, hoje, a redacgZo que Ihe foi dada pelo DL 76-A/2006, de 29-Mar., diploma que também alterou a sua epigrafe bem como a do proprio capitulo V. A tedacedo original era': Capitulo V - Administragio: Artigo 64.° Dover de diligtncia (Os gerentes, administradores ou dizectores de uma sociedade devem actaar com a diligéncia de um gestor criterioso € ordenado, no interesse da sociedade, tendo em conta os interesses dos sdcios ¢ dos trabalhadores.. 2, A roforma de 1969. Na origem, temos 0 17.°/1 do DL 49381, de 15-Nov-1969, inspi- rado por Ratil Ventura na base do § 93/1 da lei alemi das sociedades anénimas € que, a abric um capitulo sobre a responsabilidade civil dos administradores, dispunha”: Os administradores da sociedade sio obrigados 2 empregar a dilighncia de um gestor citerioso € ordenado. 1 DRI Série, n.° 201, de 2-See-1986, 2305/11 2 DRI Série, n° 268, de 15-Nov.~1969, 1610/1 282, ANTONIO MENEZES CORDEIRO Capitulo V — Administra e fiscalizagao Attigo 64.° 3, Preparatérios, O projecto? acolheu essa redaccio, apenas substituindo “administradores" por “gerentes, administradores on directores”, como mado de generalizar 0 preceito 2 todos (0s tipos de sociedades. Na revisio final, por indicacio de Brito Correia, inspirado na proposta de 5.' Directriz das sociedades, foi acrescentado “no interesse da sociedade, tendo em conta os interesses dos sécios e dos trabalhadores"+ Esclarega-se que a compatibilizacio dos interesses em presenga visava, na proposta de 5.* Directriz ¢ por influéncia alemi, enfrentar a realidade da co-gestio que pressupunha um con- selho de vigilincia com membros eleitos pelos accionistas e pelos trabalhadores. Em Portugal nunca houve co-gestio, pelo que o preceito perdia o sentido de origem. No primeiro projecto de 2006, da CMVM, discutido publicamente, manteve-se a redac- io original do CSC, como n.° 1, apenas se acrescentando, apés “ordenado”: “e com leal- dade”. A iniciativa foi criticada, Na versio Ginal, hoje lei, surgiu a redaccZo vigente, bastante mais complicada e sem qualquer discussio prévia. 4, Objectivo da reforma de 2006. A actual redaccio do 64.° visou, segundo o preimbulo do DL 76-A/2006, fixar um niicleo minimo de deveres dos administradores ¢ densifici-los, em prol de uma maior transparéncia e eficiéncia das SA portuguesas. 5, Componentes. Na pritica, porém, o preceito resultou muito complexo, agregando: (a) cle mentos tradicionais, como a bitola da diligéncia; (b) elementos alemies, como o dever de leal- dade; (¢) elementos eurapeus, como a referencia aos diversos interesses; (d) elementos anglo-saxénicos, como a mengio ao dever de cuidado, contraposto 4 lealdade; (e) um pano de fundo conectado com © governo das sociedades (corporate govemance). Ha que ordenar tudo isto em fingao do Direito pitrio e por forma a alcangar uma construgio harménica. I Os doveres fundamentais 6. Gestiio ¢ representacio. Os administradores’ das sociedades tém, no essencial, dois deve- res ou poderes-deveres: 0 de gestio e 0 de representacio. O 64.° reporta-se, antes, a0 modo de concretizagio desses dois deveres e, ainda, de todas as restantes obrigagdes que thes adve~ nham da lei ou dos estatatos. © 64.° usa uma linguagem técnica que apenas pela Histéria e pelo Direito comparado, pode ser explicada, Ha, pois, que prevenir entendimentos literais ou imediatistas: trata-se da 4rea mais delicada do actual Direito das sociedades. Os interessados sao remetidos para a biblio grafia acima indicada, onde podem ser confrontadas maiores referéncias Ill ~ A bitola da diligéncia 7. 0 esforco requerido. Na tradigo nacional, a diliggncia traduz a medida de esforco exigt- vel ao devedor, no cumprimento das obrigaces. Tal medida pode ser determinada em con- creto ou em abstracto, remetendo para um bom cidadio comum (bomus pater familias) ow para critérios mais exigentes, 8, O gestor criterioso e ordenado surge como uma bitola mais exigente do que a comum: requer um esforgo acrescido, por se dirigir a especialistas fiducifrios, que gerem bens alheios Apesar de inserida no final do 64.°/1, a), a diligéncia d4 corpo a todos 0 deveres dos admi- nistradores, explicando a intensidade requerida na sua execucio. 3. BMJ 327 (1983), 107. O preceito sargia no entio 92.°/1, § Expressio geral gue abrange os gerentes, os administra- imegrado no preceito capitulo 8 sesponsibilidade dos dores © os administradores execativos; antes de 2006: administadores para com 2 scciedade, hoje correspon- — directores, dente a0 72.*, 4 Luis Brito Correia 1 (1990), 49 ¢ Os edmsnistadres das soiedades abi (1991), 602, nots 17. ANTONIO Menezes CORDEIRO 243 4 5 10 i 12 13 14 16 7 18 19 20 a 22 23 24 Artign 64.° ‘Titulo I~ Parte geral IV - Os interesses a acautelar 9. Os valores protegidos, A nogio de interesse & plurivalenteS. Tomé-lo-emos como expri- mindo um citculo de valores protegidos por determinada norma ou conjunto de normas 10, Enumeragio, No desempenho das suas fungdes, 0s administradores devem ter em conta as normas ou conjuntos de nozmas relativas: (a) A propria sociedade; (b) aos sécios, mas na glo- balidade dos valores que se Ihe reportem ("a longo prazo”); (¢) 20s stakeholders ou pessoas que sustentam a sociedade: trabalhadores, clientes e credores, a titulo exemplificativo. Também os conceitos indeterminados que surjam serio concretizados tendo em conta esses pélos valorativos, procurando-se resolver os conflitos que surjam entre eles & luz dos inte- resses da sociedade, mas scm violar normas imperativas. V—Os deveres de lealdade 11, Nogo e aplicagdes, No Direito das sociedades, a lealdade exprime o conjunto dos valo- res basicos do sistema que, em cada situag3o concreta, devam ser acatados pelos diversos inter venientes. Equivale, de certo modo, ideia civil de boa & ‘A Icaldade aplica-se: (a) nas relagdes dos sécios com a sociedade e entre si, integrando a ideia bésica de status do s6cio; (b) nas relagdes da sociedade para com os sécios, implicando um alargamento ex bona fide da competéncia da assembleia geral; (c) nas relages dos administrado- res com a sociedade e com os préprios s6cios, as quais esto, agora, em causa 12. Coneretizagdes negativas. Por exigéncia da lealdade, & vedado aos administradores: (a) a concorréncia em relagio & propria sociedade; (b) a divulgacio dos segredos societirios. ‘Além disso, podem ainda surgir, com diversas modelagdes, proibi¢des ou restrigées quanto a: (a) aceitar crédito da prépria sociedade (b) aproveitar oportunidades de negécio da sociedade (corporate opportunities); (c) decidir em conflito de interesses proprios e da sociedade; (@) negociar com a prépria sociedade; (¢) discriminar sécios; (6) empatar ilegalmente OPAS com que nio concorde; (g) negociar, sem informar, com os titulos da sociedade; (h) usar infor- maco privilegiada (insider trading). 13. Coneretizacées positivas. Pela positiva, a lealdade obriga a seguir as regras do bom governo das sociedades (corporate governanc), A lei portuguesa, objectivamente tomada, reme- tou essa matéria para os deveres de cuidado VI- Os deveres de cuidado 14, Nogo. No Direito portugués, os deveres de cuidado devem ser tomados como normas de conduta que densificam, 3 Inz dos ditames do born governo das sociedades, os deveres gerais de gestio. Afastam-se dos duties of care, proprios do negligence law, de onde foram retirados, em 2006, configurando-se como normas de procedimento, 15. Modalidades. A lei specifica: (a) disponibilidade; (b) competéncia técnica; (c) conheci- mento da actividade da sociedade: outros tantos deveres, nfo-taxativos, que dio um colorido geral a toda a actuacio, essencialmente fiducisria, dos administradores, 16. Coneretizagio. Opera caso a caso: “adequados as suas fangdes”. Relevam a dimensio da sociedade, a actividade social, 0 pelouro, os abjectivos fixados ¢ os condicionamentos exter- nos, juridicos, econémicos ¢ sociais. VII — Titulares de rgios sociais com fangies de fiscalizagio 17. Sujeitos visados. Sio fandamentalmente os membros do conselho fiscal, da comissio de auditoria ¢ do conselho geral ¢ de supervisio. Os deveres constituem-se com a designacio, © Paulo Mota Pinto, Iniresie contatual negative ¢inteesse contatual positive, 1 (2007), 73 s., 405 ss. € pain, 244 ANTONIO MENEZES CORDERO i a / | i Capltulo VI~ Apreiagto anual da situagao da soviedade Artigas 65.8 « 70.°-A (ntrodugaio intensificam-se com 0 inicio das fungdes e mantém-se, sendo 0 caso, apés a cessagio do vin- culo (pis-eficicia). 18. Contetido. O 64.°/2 seria, em clara remissio para o 64.°/1: (a) diligéncia; (b) interesses a proteger; (c) lealdade; (€) unidade. "A diligéncia é reportada a “elevados padrSes”: traduz a intensidade do esforgo requerido 20s titulares dos 6rgios, no cumprimento dos seus deveres de fiscalizagio (420.°, 423.°-F, 423.°-G e 441.°). E mais cxigente do que a requerida ao profissional comum. Os interesses so limitados & sociedade: abrangem todos os valores que a ela se acolham incluindo, por essa via, os relativos aos sdcios. 'A lealdade exprime os vectores bésicos do ordenamento, patentes no campo da fiscaliza~ cao. Com adaptages, fancionam aqui os subdeveres indicados a propésito da administracio (supra, anotagio 19). (© cuidado apela para as regras do bom governo das sociedades, agora na sua dimensio fiscalizadora. CarituLo VI — Apreciagio anual da situagio da sociedade INTRODUGAO Bibliografia: Anténio Menezes Cordeiro 1 (2007), 131-137 ¢ 943-949; id., Manual de Diseit comercial, 2.* ed. (2007), 353-369; id, Inivadugto eo Direito da prestagio de contas (2008); Maria 8. Ramalho Croca, ‘As contas do exercio ~ penpectiva cvilstce, ROA. 1997, 629-667; Gabricla Figueitedo Dias, Ficalizario das tociedades e responsabilidade civil (apbs « rforma das sociedades comercias), 2006; id, Controlo de conta e respon sobilidade dos ROC, ex Temas societévios (2006), 153-207: id, A ficalizago sotetéria redesenhada: indepen dencia, exclusio da responsabildade ¢ caugio obrigetiria dos ficalizadores, cm ANY, Reforma do Cédige das Sociedades (2007), 277-334; José Ferreira Gomes, A responsabilidade civil dos auditoes, em Cidigo das Soce- dlades Comercias ¢ govemo das sociedades (2008), 343-424; José Carlos Soates Machado, 4 reausa de esina- tune do reletrio anual nas socedades andnimas, ROA 1994, 935-956; id., Sobre a justficagdo da reusa de asi- natura do relatério e contas da saedade, ROA 1996, 353-366; Alberto Pimenta, A presto das eoutas de exencio nas sociedades comers, BM 200 (1970), 11-106, 201 (1970), 5-71, 202 (1971), 5-57, 208 (1971), 5-53, 204 (1971), 5-48, 205 (1971}, 5-58, 207 (1971), 5-46 ¢ 209 (1971), 5-36; Ruy Ulrich, Socedades andnimas ¢ sua fscalizarze, ROA 1941, 14-27. indice 1A prestagio de contas 9, Regulamentos.conn eed 1, © Direito da pressacio de contas. P10, OS TAS aronnnonenninnnvnn 115 2, IMPOR aren 3. 11, OsIERS.... 16 12. As NIC. 18 IL Origem e evolugao histéricas da conta~ 13. Os GAAP. 20 bilidade 3. A contabilidade.... 5 IV-O Direito portugués 4, As pastides dobradas. 6 14, Evolugio. Sc 22 Be AS OES os csesesessessesen 9 15. Codificagao. a 6. A experiéncia anglo-saxénica. 10 16. A fiscalizagio. Pas 17, OCSC.. es) IIL— As regras internacionais (Directrizes, 18. Leis complementares: at IAS/IFRS e NIC) 19. Aplicabilidade das NIC. 35 7. A otigeI on . 1220. Regras fscais.. 36 8. Directrizes 13, ANTONIO MBNEZES CORDEIRO; 245 25 26 27 28 29 Copitilo VIE— Responsabilidede civil pla constiuiao Artigo 72.° 1. Redacg&o actual advém do DL 76-A/2006, de 29 de Margot: visou este diploma supri- mir, nos n.° 1 e 2, a referéncia a “directores’ 2. Os deveres dos fundadores, gerentes ¢ administradores, no dominio da constituigio resultam, indirectamente, do 71.°/1: eles deve efectuar as indicagSes ¢ declaragSes para tanto necessiias com exactidio e sem deficiéncias. Com eféito, na falta de tal regra, terfamos de construir a responsabilidade por informa Ges na base do 485,°/1 do CC, que exige dolo; ora 0 71.°/1, tal como esta formulado, pres- supde (logo: impée) o referido dever de exactidio, violivel com mera negligéncia. Nese sen- tido, vide, ainda, 0 71.°/3, a contrari. [As indicagées relativas & constituicio abrangem, a titulo exemplificativo (71.°/1, 2 arte): entradas (25.°), aquisicio de bens pela sociedade (28.°); vantagens, indemnizagées ¢ retribuigdes (16.°) 3, Natureza e solidariedade. A responsabilidade prevista é obrigacional: advém da violacio de deveres especificos. Cessa quando nio haja culpa (71.°/2), 0 que deve ser provado pelos interessados na exoneragio da responsabilidade (799.°/1, do CC). 4. Extensio & instalago. © 71.°/3 alarga a responsabilidade solidéria dos fundadores a danos causados 4 sociedade antes do registo com as entradas, as aquisigdes de bens e com as despesas de constituigo, Deve entender-se que existem deveres especificos de proceder a todas essas. operacdes, com cuidado. O final do 71.°/3 exige, contudo, que tenba havido dolo ou culpa grave: trata-se de uma distorgao, jf que no Dircito portugués da responsabilidade civil, nio se distingue entre a negli- géncia (culpa) grave e a ligeira. Inferimos, daqui, que na instalagio da sociedade, antes do registo, os visados apenas devem desenvolver um esforgo razodvel Artigo 72.° (Responsabilidade de membros da administra¢ao. para com a sociedade) 1. Os gerentes ou administradores respondem para com a sociedade pelos danos a esta causados por actos ou omissées praticados com pretericio dos deve- res legais ou contratuais, salvo se provarem que procederam sem culpa. 2. A responsabilidade & excluida se alguma das pessoas referidas no nimero anterior provar que actuou em termos informados, livre de qualquer interesse pes- soal e segundo critérios de racionalidade empresarial. 3. Nao so igualmente responsiveis pelos danos resultantes de uma delibera- gio colegial os gerentes ou administradores que nela néo tenham participado ou hajam votado vencidos, podendo neste caso fazer lavrar no prazo de cinco dias a sua declaracaio de voto, quer no respectivo livro de actas, quer em escrito dirigido ao orgio de fiscalizagio, se o houver, quer perante notério ou conservador. 4. O gerente ou administrador que néo tenha exercido o direito de oposi¢io conferido por lei, quando estava em condigées de o exercer, responde solidaria~ mente pelos actos a que poderia ter-se oposto. 5. A responsabilidade dos gerentes ou administradores para com a sociedade nio tem lugar quando 0 acto ou omissio assente em deliberacao dos sécios, ainda que anulavel. 1 DR I Série n° 63 (Supl), de 29-Mar.-2006, 2328-9)/1 ANTONIO Menezes CORDEIRO 265 Antigo 72.2 Titulo 1 — Parte geral 6. Nas sociedades que tenham érgio de fiscalizacSo, o parecer favoravel ou o consentimento deste no exoneram de responsabilidade os membros da admit tracho. Bibliografia: Ant6nio Menezes Cordeiro 1 (2007), 926-929; Ricardo Costa, Responsabilidade dos admi- nistradores ¢ business judgement sule, em Refonnas do Cédigo das Sociedades (2007), 49-86; Manuel Carneiro da Frada, A business judgement rule no quadro dos deveresgeais dos admistradores, em A reforsa do CSC (2006), 61-102 e, com algumas alezages, em AAVV, Jemadas / Sociedades aber, valores mobilivos ¢intermedta- io financta (2007), 201-242; Ant6nio Fernandes de Oliveira, Responsabildade cl dos administredores, em AAVV, CSC e gover des socedades (2008), 257-341 (283 ss); Rail Ventura/Lafs Brito Comreia, Respon- sabilidade civil dos administradores, BMJ 195 (1970), 21-90 (33 ss.). Vide a bibliografia indicada em Artigos 71.° a 84.°/Introdugio. indice 1 Origem e alteragdes 8. Alcance dogmttico. tt Tl 1. Origem einmnnewineeninnmens 29, TTEARSROSIGEO sae 1B 2, Reforma de 2006, IV — Factores de exoneragio ¢ de nfio-exo- II - Responsabilidade obrigacional para com neragio a sociedade 10, Nao-participae20 eo. 15 3. A previsio. 3 LL, Deliberagio dos s6

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