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AS RELAÇÕES ESPACIAIS E AS LÍNGUAS DE SINAIS

Excerto de texto “Apostila LIBRAS, EAD-UNISA”

Porfa. Marcia Regina Zemella Luccas

Conforme apontado anteriormente, a LIBRAS é uma língua que


possibilita uma comunicação completa. Porém, sua característica é diversa do
oralismo. A língua de sinais LIBRAS utiliza o espaço para sua comunicação.
Para que haja uma organização desses sinais, ela possui parâmetros para sua
utilização.
As relações espaciais nas línguas de sinais são muito complexas. Na
LIBRAS, assim como verificado na Língua Americana de Sinais-ASL, as
relações gramaticais são especificadas através da manipulação dos sinais no
espaço. As sentenças ocorrem dentro de um espaço definido, na frente do
corpo, em uma área limitada pelo topo da cabeça e que se estende até os
quadris. O final de uma sentença em LIBRAS é indicado por uma pausa. A
figura 1 ilustra o espaço de realização dos sinais na LIBRAS, conforme
Lavegevin e Ferreira Brito (1998).

Figura 1 - Espaço de realização dos sinais na LIBRAS.

Os sinais formados a partir da combinação do movimento das mãos


em um determinado local e de uma determinada forma são chamados de
parâmetros.
O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-
auditivas é denominado sinal nas línguas de sinais. Os sinais são formados a
partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato
em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um
espaço em frente ao corpo. Essas articulações das mãos, que podem ser
comparadas aos fonemas e, às vezes, aos morfemas, são chamados de
parâmetros.
Nas línguas de sinais, de acordo com o MEC, podem ser
encontrados os seguintes parâmetros:
• Configuração das Mãos: são formas das mãos, que
podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou formas
feitas pela mão predominante, ou pelas duas mãos do
sinalizador. A Língua Brasileira de Sinais apresenta 46
configurações de mãos. (MEC/SEESP, 2007) São elas:

Configuração de mãos (são 64


configurações) WWW.ines.br

• Ponto de Articulação: é aquela área no corpo, ou no


espaço de articulação definido pelo corpo, ou perto do
qual o sinal é articulado. Na língua de sinais brasileira, o
espaço onde o sinal é realizado é uma área que contém
todos os pontos dentro do raio de alcance das mãos em
que os sinais são articulados. Dentro desse espaço de
enunciação que seria cabeça e tronco, pode-se
determinar um número limitado de lugares, sendo alguns
mais exatos, como por exemplo, a ponta do nariz, e
outros mais abrangentes, como a frente do tórax. Em
algumas situações, a localização do sinal será
reposicionada, pois o sinal pode estar vindo de outro
interlocutor, por exemplo: B faz sinal para A. Nesse caso,
a localização deve levar em consideração as
localizações dos interlocutores, na enunciação ideal.

• Movimento: os sinais podem ter um movimento ou não.


Ferreira Brito (1990), menciona que o movimento pode
estar nas mãos, pulsos, antebraço, os movimentos
podem ser unidirecionais (para cima, para baixo, para a
direita, para esquerda, para fora, para dentro, para lateral
inferior esquerda ou direita, para lateral superior
esquerda ou direita), bidirecionais (para cima e para
baixo, para esquerda e para direita, para dentro e para
fora, para laterais opostas - superior e inferior direita ou
esquerda).

• Orientação/direcionalidade: os sinais têm uma direção


com relação aos parâmetros acima. Assim, os verbos ir
e vir se opõem em relação à direcionalidade, como os
verbos. Na língua de sinais brasileira temos seis tipos de
orientações da palma da mãos: para cima, para baixo,
para o corpo, para frente, para a direita ou para a
esquerda.

• Expressão facial e ou corporal: muitos sinais, além dos


quatro parâmetros mencionados acima, em sua
configuração têm como traço diferenciador também a
expressão facial e/ou corporal, como os sinais alegre e
triste. Há sinais realizados somente com a bochecha
como ladrão e ato-sexual; sinais feitos com a mão e a
expressão facial, como bala e há ainda sinais em que
sons e expressões faciais complementam os traços
manuais, como os sinais de helicóptero e moto.
(MEC/SEESP, 2007)

Quadros (2004) aponta a importância das expressões não-manuais


(expressão dos olhos, movimento da face, da cabeça ou tronco). Essas
expressões têm como função marcar sentenças interrogativas, relativas,
concordância, foco, entre outros aspectos. Ressaltamos que duas expressões
não-manuais podem acontecer simultaneamente, por exemplo, marcas de
interrogação e negação. Aqui mostramos quadro de possibilidades de
expressões não manuais da língua de sinais brasileira:

Rosto: sobrancelhas franzidas, olhos arregalados, lance de


olhos, sobrancelhas levantadas; bochechas infladas,
bochechas contraídas, lábios contraídos e projetados e
sobrancelhas franzidas, correr da língua contra a parte inferior
interna da bochecha, apenas bochecha direita inflada,
contração do lábio superior, franzir do nariz.
Cabeça: balanceamento para frente e para trás (sim),
balanceamento para os lados (não), inclinação para frente,
inclinação para o lado e inclinação para trás.
Rosto e Cabeça: cabeça projetada para frente, olhos
levemente cerrados, sobrancelhas franzidas, cabeça projetada
para trás e olhos arregalados.
Tronco: para frente, para trás; balanceamento alternado dos
ombros; balanceamento simultâneo dos ombros.
Balanceamento único ombro.
(Quadros, 2004, 61)

Portanto, “falar com as mãos” não é simplesmente fazer mímicas ou


indicar algo, mas é a utilização de uma combinação de elementos que
produzirá sinais, que combinados formarão frases em um contexto. É
importante lembrar, que a LIBRAS vai transmitir todas as informações
necessárias, utilizando os sinais, porém, é preciso que se tenha em mente que:

a) O Português e a LIBRAS são línguas completamente distintas, não


apenas em relação à estrutura (gramática e léxico), mas ao próprio
suporte;

b) A sentença em língua portuguesa possui redundâncias (como a


concordância de número, gênero e pessoa gramatical) que seriam
suprimidas no processo de representação em libras;

c) A sentença em Língua Portuguesa possui informações (como a


ordem dos constituintes) que nem sempre são relevantes para a
representação em libras;

Para conversar em qualquer língua, não basta conhecermos as


palavras, ou vocabulário, é preciso incorporar as regras gramaticais para a
formação das frases.

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