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Maíra Cesar Vasconcellos1; José Magno Queiroz Luz2; Érico Marocco Corneta3
RESUMO
Este trabalho foi realizado na Clínica Psiquiátrica Jesus de Nazaré, no período de novembro de 1999
a setembro de 2000, fundada em 1993 através da Juventude Espírita de Uberlândia e já atendeu
mais de 1800 pacientes. Atualmente, são atendidos 180 pacientes com doenças mentais. A filosofia
da Clínica é (re)inserir os doentes mentais na sociedade tirando este grande estigma que rege as
tradicionais formas de tratamentos psiquiátricos onde os pacientes são vistos e tratados como seres
excluídos e isolados da sociedade. Há na Clínica um horto com mais de 100 espécies de plantas
medicinais, que fornece matéria-prima para o laboratório de fitoterápicos da própria clínica, além de
atuar como um local para realização de oficinas terapêuticas - os pacientes participam das atividades
agrícolas. O objetivo deste projeto foi explorar as plantas medicinais como um recurso terapêutico
mais acessível aos doentes mentais, havendo contudo, um suporte técnico no reconhecimento e
identificação botânica, na produção de mudas e nos tratos culturais, em sistema agroecológico, das
espécies de plantas medicinais presentes no Horto da Clínica.
INTRODUÇÃO
As plantas medicinais e/ou aromáticas têm cada vez mais despertado interesse, como um
importante recurso terapêutico alternativo e de grande utilidade nos programas de saúde
primária na medicina social. Isto torna-se mais relevante em função da atual dificuldade
financeira (altos preços dos medicamentos industrializados), em contrapartida, as plantas
medicinais têm baixo custo, fácil acesso e compatibilidade cultural, tornando recomendável o
seu uso na medicina social, principalmente em comunidades de baixa renda, onde a
assistência médica é mais difícil.
Neste contexto a implantação de uma horto de plantas medicinais é bastante viável, pois
estará fornecendo uma fonte natural de medicamentos, além de poder propiciar o
aprendizado e desenvolvimento de práticas agrícolas envolvendo os pacientes nas
atividades realizadas no horto como uma forma de terapia ocupacional.
Este trabalho foi realizado na Clínica Psiquiátrica, localizada em uma propriedade agrícola
onde há um horto com mais de 100 espécies de plantas medicinais, que fornece matéria -
prima para o laboratório de fitoterápicos da própria Clínica. Além disso, as plantas medicinais
1
UNESP,FCA, C. Postal 237, 18603-970, Botucatu – SP, macv@fca.unesp.br.
2
UFU –ICIAG, Uberlândia, MG.
3 3
UNICAMP – Campinas, SP
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MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado, no período compreendido entre novembro de 1999 a setembro de
2000, no Horto de Plantas Medicinais da Clínica Psiquiátrica Jesus de Nazaré, pertencente à
Juventude Espírita de Uberlândia, MG, numa área de aproximadamente 1500 m2.
Foram feitos o reconhecimento e identificação botânica das plantas medicinais presentes no
Horto, assim como o acompanhamento da produção agronômica das mesmas, em sistema
agroecológico, com orientação e auxílio aos técnicos e trabalhadores da Clínica
responsáveis pela área agrícola: obtenção de mudas; tratos culturais (irrigação; desbastes;
podas; controle alternativo de plantas invasoras, pragas e doenças; além de colheita e
secagem do material vegetal para o preparo dos fitoterápicos).
RESULTADOS E DISCUSSÀO
Havia 60 canteiros construídos com dimensões de 10 x 1 m cada. Para culturas que não
eram cultivadas em canteiros foram feitos sulcos de plantio espaçados conforme o indicado
para cada cultura. A irrigação era feita de forma manual através do regador convencional.
Para a produção das mudas de plantas medicinais foi construído um viveiro de 180 m2 (6 x
30 m), onde as mesmas eram obtidas através de sementes, estacas e divisão de
touceiras/estolões, provenientes de matrizes de plantas implantadas na propriedade e isto
dependia da adaptação e constituição fisiológica/morfológica de cada espécie. A adubação
era realizada com restos de decomposição de matéria orgânica (restos de mato peneirado),
areia, esterco de galinha e de gado. As mudas eram transplantadas e cada cultura recebia os
tratos culturais específicos de acordo com as recomendações técnicas. O controle de pragas
e doenças era feito de forma alternativa. Para controlar pragas (as mais comuns eram:
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pulgões, cochonilhas, ácaros, lagartas e percevejos) eram utilizadas folhas secas de losna
(Artemisia absinthium) e água, indicada para controlar lagartas e percevejos (ABREU JR,
1998). Ramos de folhas de arruda (Ruta graveolens) , água e gelatina sem sabor (espalhante
adesivo) e sabão de coco, também eram utilizados no controle de cochonilhas, ácaros e
pulgões. Já no controle de doenças (a mais comuns eram os fungos). Fazia-se uma mistura
de fumo com confrei. Eram utilizadas várias receitas alternativas no controle de pragas e
doenças e isso variava de acordo coma espécie de planta atingida e o grau do ataque de
pragas e severidade das doenças. O controle de plantas daninhas era feito através de
capinas manuais e arranquios (catação manual). A colheita era uma das etapas mais
importantes. Todo cuidado tomado, nessa etapa, resultava num produto com melhor
apresentação e com teores de princípios ativos dentro dos padrões definidos para cada
espécie. As plantas medicinais eram colhidas, em épocas diferentes variando de espécie
para espécie, na parte da manhã ou no final da tarde. Após a colheita, as plantas eram
levadas, o mais rápido possível, para a estufa de secagem e colocadas separadamente nas
bandejas para a secagem com as devidas identificações. As plantas medicinais ficavam na
estufa por um tempo variado que dependia principalmente dos teores de umidade de cada
espécie (plantas que retiam pouca umidade:2 a 3 dias; plantas com média umidade: 3 a 5
dias; plantas com alta umidade: 7 a 10 dias).Vale ressaltar, que algumas plantas eram
utilizadas “in natura”, não precisando passar pelos processos de secagem. As plantas
desidratadas eram transformadas em fitoterápicos (xaropes, chás, antidepressivos,
antisépticos, analgésicos, calmantes, antihelmínticos e pomadas) no laboratório (20 m2) da
Clínica. Das plantas “in natura” eram feitos sabonetes, shampoos e temperos. Havia uma
farmacêutica responsável pela manipulação destes fitoterápicos.Durante a implantação e
condução da horta os doentes mentais acompanhavam as práticas hortícolas ajudando no
processo de plantio, na formação de mudas, nos tratos culturais entre outros. Estas tinham
como objetivo principal ajudar na melhoria psíquica (desenvolvimento da capacidade
psicomotora, valorização emocional, reativação da sensibilidade entre outros) dos doentes
mentais através do contato contínuo com a natureza. A avaliação psicológica era realizada
constantemente por profissionais da Clínica (psicólogas,terapeutas ocupacionais e
psiquiatras).
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Tabela 1: Formas de propagação e usos medicinais das plantas mais utilizadas na Clínica
Nome comum Nome científico Propagação Usos
Alecrim Rosmarinus officinalis Estaquia e semeadura direta Anticaspa e dores de
cabeça
Alfazema Lavandula sp. Estaquia Bronquites, gripes e
depressões
Agrião Naturtium officinale Mudas ou sementes Bronquites e anticaspa
Arruda Ruta graveolens Estaquia e semeadura direta Piolho
Babosa Aloe arborescens Rebentos Antiaspa, seborréias e
dermatites
Babosa Aloe vera Rebentos Anticaspa, seborréias e
dermatites
Bálsamo Cotyledon orbiculata Estaquia de caule e folhas Inflamação de ouvido
Bardana Arctium lappa Semeadura direta Diurético e micose de unhas
e frieiras
Boldo Vernonia condensata Estaquia Diurético e para cólicas
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produção das mesmas, embora fossem simples, se mostraram satisfatórias, resultando numa
produtividade e qualidade finais boas.